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Leitura e Produção de Texto Autoria: Kate Mamhy Oliveira Kumada Tema 04 Coerência Textual: um princípio de interpretabilidade seç ões Como citar este material: KUMADA, Kate Mamhy Oliveira. Leitura e Produção de Texto: Coerência Textual: um princípio de interpretabilidade. Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2014. Tema 04 Coerência Textual: um princípio de interpretabilidade SeçõesSeções Tema 04 Coerência Textual: um princípio de interpretabilidade Introdução ao Estudo da Disciplina Caro(a) aluno(a). Este Caderno de Atividades foi elaborado com base no livro Ler e compreender: os sentidos do texto, das autoras Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias, editora Contexto, Livro- Texto 225, 2013. Roteiro de Estudo: Kate Mamhy Oliveira Kumada Leitura e Produção de Texto 5 Conteúdo Nessa aula você estudará: • A importância da coerência textual para produção e compreensão de textos. • A coerência textual como princípio de interpretabilidade. • Os diferentes tipos de coerência textual. CONTEÚDOSEHABILIDADES 6 CONTEÚDOSEHABILIDADES LEITURAOBRIGATÓRIA Habilidades Ao final, você deverá ser capaz de responder as seguintes questões: • Qual a diferença entre coesão textual e coerência textual? • Quais elementos considerar para produzir um texto coerente? • Por que a coerência textual pode ser considerada um princípio de interpretabilidade? • Quais os diferentes tipos de coerência textual? Coerência textual: um princípio de interpretabilidade A coerência de um texto está relacionada à produção de sentido, logo, um texto incoerente é aquele que não possui sentido (SPINILLO; MARTINS, 1997). Essa é uma associação bastante útil para se compreender a coerência textual, uma vez que, conforme Koch e Elias (2013, p. 185), “conceituar a coerência não é tarefa fácil”. De acordo com Savioli e Fiorin (2006, p. 261), um texto coerente pode ser entendido como “um conjunto harmônico, em que todas as partes se encaixam de maneira complementar de modo que não haja nada destoante, nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo”. Para compreender melhor tal representação, observe o exemplo a seguir: Havia um menino muito magro que vendia amendoins numa esquina de uma das avenidas de São Paulo. Ele era tão fraquinho, que mal podia carregar a cesta em que estavam os pacotinhos de amendoim. Um dia, na esquina em que ficava, um motorista, que vinha em alta velocidade, perdeu a direção. O carro capotou e ficou de rodas para o ar. O menino não pensou duas vezes. Correu para o para o carro e tirou de lá o motorista, que era um homem corpulento. Carregou-o até a calçada, parou um carro e levou um homem para o hospital. Assim, salvou-lhe a vida. Fonte: SAVIOLI; FIORIN, 2006, p. 261. 7 LEITURAOBRIGATÓRIA O texto apresentado consiste em um bom exemplo de incoerência textual, afinal em sua leitura você pode verificar a contradição do texto ao se referir ao menino como “tão fraquinho, que mal podia carregar a cesta em que estavam os pacotinhos de amendoim” e, em seguida, afirmar que o menino “tirou de lá [do carro que capotou] o motorista, que era um homem corpulento”. Essas passagens são ilógicas, se contradizem e causam assim estranheza ao leitor atento, pois como seria possível um menino tão fraco carregar um homem corpulento? Apesar disso, nem todos os textos que, à primeira vista, são considerados incoerentes (ou sem sentido) o são de fato. Como você já aprendeu, os sentidos de um texto são determinados a partir da interação autor-texto-leitor, o que pressupõe a participação ativa de cada um também na produção da coerência textual. Em concordância com Koch e Elias (2013), a coerência está no processo de interação do leitor com o autor e o texto, baseados nos conhecimentos sociocognitivos interacionalmente constituídos. Em outras palavras, a identificação da coerência textual exige a ativação dos conhecimentos linguísticos, enciclopédicos, textuais e interacionais do leitor. Para ilustrar essa afirmação, leia o texto a seguir. Oito Anos Por que você é Flamengo E meu pai Botafogo O que significa “Impávido Colosso”? Por que os ossos doem Enquanto a gente dorme Por que os dentes caem Por onde os filhos saem Por que os dedos murcham Quando estou no banho Por que as ruas enchem Quando está chovendo Quanto é mil trilhões Vezes infinito Quem é Jesus Cristo Onde estão meus primos Well, well, well Gabriel... Por que o fogo queima Por que a lua é branca Por que a Terra roda Por que deitar agora Por que as cobras matam Por que o vidro embaça Por que você se pinta Por que o tempo passa Por que que a gente espirra Por que as unhas crescem Por que o sangue corre Por que que a gente morre Do que é feita a nuvem Do que é feita a neve Como é que se escreve Reveillón Fonte: TOLLER, Paula; Dunga. Oito anos. In: TOLLER, Paula. Nosso. Independente, 2008. 1 CD. Faixa 15. 8 LEITURAOBRIGATÓRIA O texto pode ser considerado, a princípio, um conjunto de frases interrogativas sem ligação entre si. A partir dessa leitura superficial, você facilmente o julgaria como um texto incoerente. Contudo, ao refletir sobre o título do texto, Oito anos, e acrescentar as informações de que o texto se refere à canção de Paula Toller sobre as perguntas que seu filho Gabriel (quando tinha oito anos de idade) fazia, o texto passa a ter coerência. Com base nessas informações implícitas no texto é que alguns autores (SPINILLO; MARTINS, 1997; KOCH; ELIAS, 2013) enfatizam a diferença conceitual entre coesão e coerência, salientando que a coesão não é, necessariamente, suficiente para garantir a coerência textual. Para Koch e Elias (2013), a coesão pode ser encontrada no próprio texto de forma explícita, enquanto a coerência pressupõe os conhecimentos ausentes no texto, mas que são construídos a partir de uma série de fatores de ordem semântica, cognitiva, pragmática e interacional. A coesão é responsável pela sequência organizada de enunciados, onde cada parte se conecta harmoniosamente a outra, garantindo uma leitura fluída. Segundo Savioli e Fiorin (2006), a articulação entre palavras e enunciados está especialmente representada por uma categoria de palavras, denominada conectivos ou elementos de coesão. São exemplos de elementos de coesão as preposições (a, de, com, para, por, entre outras), as conjunções (que, para que, quando, embora, mas, entretanto, e, ou, entre outras), os pronomes (ele, ela, seu, sua, este, esse, aquele, que, o qual, entre outras) e os advérbios (aqui, aí, lá, assim, entre outras). A coesão pode contribuir para a coerência do texto, porém a coerência apresenta exigências que ultrapassam o nível da coesão. Como um exemplo disso, verifique o texto a seguir: Seja na hora do banho ou nas aulas de natação, Pedrinho sempre corria para se escon- der. Assim, não demorou muito e todos os seus colegas o apelidaram de Cascão, igual ao das histórias em quadrinhos. 9 No texto supracitado, a coesão pode ser facilmente verificada, através do uso adequado de conectivos, tais como “se”, “seus”, “o”, “assim” (destacados), que tornam o texto coeso. A partir do elemento coesivo “se”, o leitor pode remeter que quem se escondia era Pedrinho. Já o conectivo “assim” é utilizado como sentido de conclusão (poderia ser substituído por “logo”, “nesse sentido” ou “por isso”). Da mesma forma, o uso de “seus” remete aos colegas de Pedrinho, dispensando a repetição do nome do personagem no texto. A repetição também é evitada durante o uso do “o” em “o apelidaram”, que inibe uma frase do tipo “todos os colegas de Pedrinho apelidaram o Pedrinho de Cascão”. Com isso, você pode notar que o uso de conectivos contribui para estabelecerelos em um texto (como no uso de “assim”) e também para evitar a repetição (como foi feito no uso de “seus”). São esses conectivos que garantem a coesão do texto. Apesar disso, para que o texto obtenha sua coerência, é necessário que o leitor ative seus conhecimentos sociocognitivos, pois o texto em si não fornece todas as informações necessárias. Para produzir sentido ao texto o leitor deve considerar a pista dada no apelido “Cascão” e associar ao personagem de história em quadrinhos, conhecido por não gostar de água, personagem que possui uma verdadeira aversão ao banho, à chuva, enfim, a tudo que envolva água. Essa informação propicia o entendimento da razão pela qual Pedrinho corria e se escondia do banho e da aula de natação, ou seja, pelo medo da água, assim como o personagem Cascão. Exatamente por isso, o menino recebeu esse apelido de seus colegas. Diante disso, e em concordância com Koch e Elias (2013), é possível entender que a coerência textual trata-se de um fenômeno externo ao texto, constituída pelo leitor a partir de seus conhecimentos prévios e da materialidade linguística presente no texto. Em virtude da participação ativa do leitor, muitos textos destituídos de elementos coesivos podem se tornar coerentes, tendo em vista seus contextos de produção e de uso. Para Koch e Elias (2013, p. 189), a coerência garante o princípio de interpretabilidade de um texto, pois “sempre que for possível aos interlocutores construir um sentido para o texto, este será, para eles, nessa situação de interação, um texto coerente”. Por isso, lembre-se sempre: a coesão auxilia a coerência, mas a coerência não depende da coesão. Podem existir textos sem coesão (a depender dos objetivos do autor), mas não sem coerência. LEITURAOBRIGATÓRIA 10 Em síntese, a coerência de um texto demanda o trabalho cooperativo entre autor-texto-leitor. Ao autor cabe a tarefa de desenvolver um texto coerente, que será por sua vez interpretado pelo leitor, cujo papel é atribuir-lhe sentido. Para isso, quanto mais informações o leitor tiver, mais ele terá condições de cumprir seu papel (KOCH; ELIAS, 2013). Por outro lado, o autor, no momento da produção textual, deverá considerar todos os elementos necessários para que seu texto seja passível de interpretação, ou seja, para garantir sua coerência. De acordo com Koch e Elias (2013), para a produção de sentidos em um texto, é papel do leitor considerar o vocabulário, a situação de uso do texto, os recursos sintáticos utilizados, os blocos textuais, a associação a fatos históricos, políticos, sociais, culturais, o gênero textual, o propósito comunicacional e a situação comunicativa. Diante do exposto e com base em Koch e Elias (2013), é válido conhecer os diferentes tipos de coerência existentes que, por sua vez, propiciam a coerência global do texto. A coerência sintática está relacionada ao conhecimento linguístico dos usuários, desde as estruturas linguísticas até os recursos coesivos necessários em um texto. Assim, a incoerência sintática se vincula às estruturas sintaticamente ambíguas, como é o caso do título de uma reportagem da Folha de São Paulo (2005 apud KOCH; ELIAS, 2013, p. 195) “Mães estão mais jovens e mais velhas”. O título remete à incoerência sintática, pois, considerando que “jovens” e “velhas” são antônimos, é ambígua a afirmação de que as mães estão mais jovens “e” mais velhas. No que tange a coerência semântica, o princípio regulador é o da não contradição, ou seja, o texto coerente não pode apresentar em sua estrutura (palavras ou expressões) conteúdos contraditórios. A coerência temática pressupõe a seleção de enunciados relevantes para o tema ou tópico discursivo. Um exemplo de incoerência semântica pode ser ilustrado no breve diálogo a seguir: João: Que horas são? Carlos: Acho que não vai chover hoje. LEITURAOBRIGATÓRIA 11 Observe que a resposta de Carlos não corresponde à pergunta de João, ou seja, a resposta de Carlos é irrelevante ao interesse contido na pergunta de João. Segundo Koch e Elias (2013, p. 196), a língua proporciona diversas formas de denotar desvios em nossas falas, tais como o uso de expressões como “antes que eu me esqueça”, “por falar nisso”, “desculpe interromper, mas...”, “abrindo um parêntese”, etc.; e para a retomada do assunto, podem ser utilizadas expressões como “voltando ao assunto”, “fechando o parêntese” ou “retomando o que eu vinha dizendo”, etc. Enquanto isso, a coerência pragmática está relacionada aos atos de fala presentes em um texto. Citando o exemplo de Koch e Elias (2013), pense no caso de uma ordem dada por um locutor que não se encontre em posição hierárquica para tal, logo, o texto apresentaria uma incoerência pragmática. A coerência estilística, por sua vez, está relacionada à adequação da variedade linguística utilizada. Uma situação formal pode exigir uma linguagem mais próxima da norma culta (especialmente em textos escritos), enquanto para situações informais a linguagem poderá se adequar ao grupo social ou local no qual se encontra. Ademais, a coerência estilística pode ser um excelente indicador durante a leitura de textos narrativos que apresentam personagens cuja linguagem utilizada colabora para sua identificação. Ou seja, de acordo com a forma com que se expressam é possível elaborar inferências sobre sua faixa etária, posição social, seu local de origem, etc. Observe os exemplos a seguir: Sujeito 1: “Oxê, tu é doido!” Sujeito 2: “Bah, guri que tri-legal!” Uma breve análise das interjeições “Oxê” e “Bah” já aponta para as variedades linguísticas regionais características, respectivamente, da Bahia e do Rio Grande do Sul, sendo elementos que podem nortear o leitor durante a construção da coerência textual. A coerência genérica, como o próprio nome indica, refere-se ao gênero textual utilizado e às exigências implícitas em sua adequação ao gênero. Para exemplificar a coerência genérica, veja o texto a seguir: LEITURAOBRIGATÓRIA 12 VENDE-SE Apartamento na Praia Grande, com garagem para dois carros, elevador, 2 quartos, 1 suíte. Oportunidade única. R$ 90.000,00. Contato (11) 1234.5678 O texto possui coerência genérica, pois conserva a função do gênero textual classificados. Segundo Koch e Elias (2013), o anúncio de classificados se configura pela função social de anunciar: 1. a venda ou o interesse de compra de bens materiais; 2. a oferta ou a procura de empregos e serviços e 3. o interesse em encontrar uma companhia para relacionamentos. Além da função social, seu formato é geralmente marcado por ser um texto breve (por causa do valor cobrado conforme o número de letras/palavras publicadas), com abreviações e com a descrição do “objeto” anunciado. Apesar disso, as autoras reforçam que, muitas vezes, um gênero textual assume a forma de outro gênero (conforme Imagem 4.1). Em tais situações, o leitor deve sempre considerar o propósito comunicacional para determinar a construção da coerência textual. LEITURAOBRIGATÓRIA 13 4.1 Imagem de um texto que ilustra a coerência genérica a partir do hibridismo de gêneros textuais. Fonte: Pessoal. Essa imagem retrata a coerência genérica a partir do hibridismo dos gêneros textuais notícia e convite de casamento. LEITURAOBRIGATÓRIA 14 LEITURAOBRIGATÓRIA A princípio, o texto da Imagem 4.1 pode confundir o leitor, entretanto, mesmo que esteja apresentado na forma de notícia, trata-se de um convite de casamento, pois sua função textual (convidar para um casamento) reside neste último gênero. Assim, o bom funcionamento de todos os tipos de coerência apresentados, a ativação dos conhecimentos prévios e compartilhados e a produção de inferências consistem em requisitos para a construção do sentido do texto. Como o princípio de interpretabilidade demanda um texto com sentido, porsua vez, coerente, você tem agora alguns indicadores que certamente o conduzirão a boas práticas de leitura e produção de texto. LINKSIMPORTANTES Quer saber mais sobre o assunto? Então: Sites Leia o artigo Uma análise da produção de histórias coerentes por crianças, de Alina Galvão Spinillo e Raul Aragão Martins. Revista Psicol. Reflex. Crit., v. 10 n.2, Porto Alegre, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 79721997000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 14 out. 2013. O artigo aborda o conceito de coerência e sua distinção com relação à coesão. Também apresenta os tipos de coerência e os fatores micro e macrolinguísticos responsáveis pela coerência de um texto. Acesse e explore os textos sobre coerência textual disponíveis no site Domínio Público. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 14 out. 2013. O site disponibiliza vários artigos, teses e dissertações, uma breve pesquisa sob o filtro “Tipo de Mídia: Texto” e “Título: Coerência” lhe apresentará inúmeras opções. 15 Leia os capítulos 29, 30 e 31 do livro Para entender o texto: leitura e redação, de José Luiz Fiorin e Francisco Platão Savioli. São Paulo: Ática, 1998. Disponível em: <http://pt.scribd. com/doc/101355002/Para-entender-o-texto-Leitura-e-Redacao-Platao-e-Fiorin>. Acesso em: 14 out. 2013. O livro apresenta a conceituação de coerência e coesão textual a partir de textos discutidos e exercícios comentados. O livro como um todo é de grande contribuição para o aprendizado sobre leitura e produção de textos. Confira As dicas de língua portuguesa: coesão e coerência textuais, de Sandra Ceraldi Carrasco. JCConcursos. Disponível em: <http://jcconcursos.uol.com.br/Concursos/ Noticiario/artigo-sandra-carrasco-coesao-e-coerencia--51602>. Acesso em: 14 out. 2013. A matéria aborda algumas dicas para se compreender e trabalhar a coesão e a coerência textual, abordando a distinção entre tais conceitos, bem como seus efeitos na prática discursiva. Vídeos Coerência. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=dz6-QI5ActQ>. Acesso em: 14 out. 2013. O vídeo apresenta uma aula sobre coerência textual e discursiva. Durante o vídeo são apresentados exemplos práticos acompanhados de uma reflexão para analisar se o texto é ou não coerente. LINKSIMPORTANTES 16 AGORAÉASUAVEZ Instruções: Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão. Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas ao tema. Questão 1: Considerando seus conhecimentos prévios, explique o que significa ser incoerente? Questão 2: Leia o texto a seguir: Sobrevivência na Selva Carlos Heitor Cony Rio de Janeiro - Vou transcrever uma pequena coluna de um amigo que já morreu, o Leon Eliachar. É sobre violência e funciona como um manual de sobrevivência nas grandes cidades. Foi pensada em forma de mandamento e escrita no Rio. Serve perfeitamente para São Paulo, aliás, com oportunidade maior. O Leon morreu há uns dez anos, e a coluna deve ter outros tantos. Logo, a realidade da violência é bem antiga. Sem tirar nem pôr uma letra, parece ter sido escrita hoje para uma situação de amanhã. Tem como título “Como evitar um assalto”. Vamos a ela: “1) Não sair de casa; 2) não ficar em casa; 3) se sair sozinho, não sair sozinho, nem acompanhado; 4) se sair 17 sozinho ou acompanhado, não sair a pé nem de carro; 5) se sair a pé, não andar devagar, nem depressa, nem parar; 6) se sair de carro, não parar nas esquinas, nem no meio da rua, nem nas calçadas, nem nos sinais. Melhor deixar o carro na garagem e pegar uma condução; 7) se pegar uma condução, não pegar ônibus, nem táxi, nem trem, nem carona; 8) se decidir ficar em casa, não ficar sozinho nem acompanhado; 9) se ficar sozinho ou acompanhado, não deixar a porta aberta nem fechada; 10) como não adianta mudar de cidade ou de país, o único jeito é ficar no ar. Mas não num avião.” Curiosamente o próprio Leon não seguiu os conselhos que deu. Foi assassinado no banheiro de seu apartamento, num prédio do morro da Viúva. O caso dele teria sido passional, ele se apaixonara por uma mulher casada. Chamava-a de “meu amor terminal” - o que foi acima de tudo uma verdade. Nascera no Cairo, era por conseguinte um cairota - segundo ensinam os dicionários. Não me lembre mais como terminaram as investigações sobre o crime que o matou. Parece que o marido da moça foi mandante - não tenho certeza. De qualquer forma, o Leon poderia ter acrescentado um mandamento aos dez que bolou: 11) não amar a mulher do próximo nem a própria. Fonte: CONY, Carlos Heitor. Sobrevivência na Selva. Folha de São Paulo, 23 mar. 1999 apud KOCH; ELIAS, 2013, p.189-190. Justifique por que a análise pautada exclusivamente na coesão é insuficiente para garantir a coerência do texto. Questão 3: Analise o texto a seguir: Uma pequena história sobre aborto “Bem, para esta ocasião eu gostaria de contar uma pequena história. E a história é essa: uma jovem esposa grávida estava hospitalizada devido a uma simples crise de apendicite. Os médicos tiveram que aplicar gelo no estômago dela e quando terminaram o tratamento os médicos sugeriram que ela abortasse a criança. Eles disseram que era a melhor solução, porque o bebê poderia nascer com alguma deficiência. Mas, a jovem e corajosa esposa decidiu não abortar e o seu filho nasceu. Aquela mulher era minha mãe e aquela criança era eu.” Andrea Bocceli Fonte: Vídeo andrea_bocelli.wmv. Disponível em: <https://http://www. youtube.com/watch?v=5vIuzXNG3Gc>. Acesso em: 24 out. 2013. AGORAÉASUAVEZ 18 Andrea Bocceli é um tenor italiano com mais de sete milhões de álbuns vendidos em todo o mundo. O tenor possui glaucoma congênito (doença que acomete a visão) e, aos 12 anos de idade, perdeu completamente a visão. Assim, com base nessas informações, na leitura do texto acima e nos seus aprendizados sobre coerência textual, assinale a alternativa correta: a) O texto apresenta uma incoerência semântica, a partir da contradição dos fatos narrados e da vida do tenor Andrea Bocceli. b) Os problemas de coesão textual na fala do tenor italiano prejudicam a interação autor-texto-leitor. c) A informação de que o bebê não abortado se tornou um tenor mundialmente conhecido favorece a coerência do texto. d) A coesão textual na fala de Andrea Bocceli consiste no princípio de interpretabilidade do texto. e) Há uma incoerência temática entre o tema do texto “aborto” e a história narrada pelo tenor. Questão 4: O texto a seguir foi extraído de uma entrevista realizada durante um projeto de sociolinguística e envolve a entrevistadora (E), uma senhora (S) de origem rural, de 71 anos, e a participação da filha da senhora (FS). (E) A senhora esteve presente nas duas últimas reuniões da novena? (S) Se eu tive? (E) É. (S) Não. (E) A senhora não foi? (FS) E a senhora não foi naquela última novena, não? (S) Tive na novena, mas não tive presente. Fonte: BORTONI-RICARDO, S.M., 1985 apud BORTONI-RICARDO, S.M. Nós cheguemo na escola e agora?: leituras de sociolingüística para professores. São Paulo: Mercado das Letras, 2005. Considerando o texto acima, é possível afirmar que o problema de comunicação entre a entrevistadora (E) e a senhora (S) ocorreu porque: a) Houve incoerência pragmática, pois o texto não respeita a posição hierárquica dos interlocutores. AGORAÉASUAVEZ 19 b) Houve incoerênciasintática, pois foi feito o uso inadequado do elemento coesivo “mas” durante a última fala da senhora. c) Houve incoerência genérica, pois a intergenericidade confundiu a senhora entrevistada. d) Houve um problema de coesão textual na pergunta elaborada pela entrevistadora. e) Houve incoerência estilística entre a variedade de língua utilizada pela entrevistadora e a utilizada pela senhora. Questão 5: Frequentemente, as noções de coerência e coesão se confundem. Para distinguir tais conceitos, Koch e Elias (2013) definem que coesão está _________________ texto, enquanto a coerência se cons- trói _____________ texto, com base nos _____________________ e na materiali- dade linguística do texto. A alternativa que melhor completa as lacu- nas é: a) no próprio; fora do; conhecimentos do leitor. b) fora do; no próprio; conhecimentos do leitor. c) implícita no; de forma explícita; conhecimentos sociocognitivo. d) nos conectivos do; na estrutura do; aspectos gramaticais. e) na produção do; na leitura do; tipos de coerência textual. Questão 6: Leia o texto a seguir: CHOPIS CENTIS Dinho e Júlio Rasec, encarte CD Mamonas Assassinas, 1995. Eu “di” um beijo nela E chamei pra passear. A gente fomos no shopping Pra “mode” a gente lanchar. Comi uns bicho estranho, com um tal de gergelim. Até que “tava” gostoso, mas eu prefiro aipim. Quanta gente, Quanta alegria, A minha felicidade é um crediário nas Casas Bahia. AGORAÉASUAVEZ 20 Esse tal Chopis Centis é muito legalzinho. Pra levar a namorada e dar uns “rolezinho”, Quando eu estou no trabalho, Não vejo a hora de descer dos andaime. Pra pegar um cinema, ver Schwarzneger E também o Van Damme. Fonte: Brasil Escola. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/ gramatica/variacoes-linguisticas.htm>. Acesso em: 14 out. 2013. Com base na análise do texto e em seus conhecimentos sociocognitivos, justifique como, apesar dos erros ortográficos apresentados, ocorre a construção da coerência do referido texto. Questão 7: Refletindo sobre o papel do leitor na cons- trução da coerência textual, assinale a al- ternativa que contém a afirmação correta. a) O leitor não constrói a coerência textual, pois este é o papel do autor do texto. b) A construção da coerência textual cabe exclusivamente ao leitor, pois não há textos incoerentes. c) Quanto mais informações o leitor tiver, mais ele terá condições de construir sentidos para o texto. d) O leitor depende da coesão textual para construir a coerência de um texto. e) A coerência está no texto, cabendo ao leitor competente identificá-la. Questão 8: Analise o texto abaixo e responda qual o tipo de incoerência textual está presente. Justifique sua resposta apresentando o tre- cho em que a incoerência aparece. Aninha estava muito animada, pois acabara de concluir um lindo desenho, foi quando se apressou até a sala para mostrá-lo ao seu pai. Ao encontrá-lo no sofá lendo um jornal, esticou os braços segurando o desenho nas mãos e perguntou: - Papai, o que acha do meu desenho? - Você já terminou sua tarefa da escola? Perguntou o pai. E Aninha responde: - Ainda não, mas... - Então vá fazê-lo! Replicou o pai sem nem olhar para o desenho. A menina ficou desolada com a reação do pai, cabisbaixa retornou ao quarto esquecendo-se da tarefa e também do desenho. AGORAÉASUAVEZ 21 Questão 9: O enunciado a seguir foi escrito pela Prof. Diana Luz Pessoa de Barros em um livro sobre redação no vestibular (FIORIN; SAVIOLI, 2006, p. 262). Analise-o e, em seguida, transcreva os trechos que configuram uma incoerência semântica. Justifique sua resposta. Lá dentro havia uma fumaça formada pela maconha e essa fumaça não deixava que nós víssemos qualquer pessoa, pois ela era muito intensa. Meu colega foi à cozinha me deixando sozinho, fiquei encostado na parede da sala fiquei observando as pessoas que lá estavam. Na festa havia pessoas de todos os tipos: ruiva, brancas, pretas, amarelas, altas, baixas, etc. Fonte: FIORIN; SAVIOLI, 2006, p. 262. Questão 10: Leia o fragmento da crônica de Paulo Men- des de Campos, sobre as características e atitudes de um personagem (Jacinto). Nunca ouvimos de Jacinto uma palavra áspera, uma lamúria, nunca respondeu com irritação às crianças que o insultavam, impiedosas, quando passava embriagado. Bêbedo, sorria beatífico e acima de todas as misérias, e falava de coisas alegres, às vezes numa língua particular, ininteligível. Fonte: Quadrante. 4. ed. Rio de Janeiro, ed. do Autor, 1962, p. 204 apud FIORIN; SAVIOLI, 2006, p. 269. Com base nos elementos apresentados, especialmente nas características de Jacinto, dê continuidade ao texto elaborando, de forma coerente, um enunciado que envolva Jacinto em uma ação. AGORAÉASUAVEZ 22 FINALIZANDO Neste tema você aprendeu que a coerência textual está intrinsecamente relacionada à produção de sentido construída a partir da interação entre autor-texto-leitor. Aprendeu ainda que a coerência ultrapassa os elementos textuais e coesivos, pois exige a ativação dos conhecimentos sociocognitivos do leitor, conhecimentos que estão externos ao texto em si. Para reconhecer a coerência textual como um fenômeno global, você aprendeu alguns tipos de coerência que podem ser aproveitados tanto na leitura quanto na produção de textos. Desse modo, seja como autor ou como leitor, é essencial que se busque a coerência do texto como um princípio de interpretabilidade, condição fulcral para a função comunicativa do texto e/ou do discurso. Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de acessar sua ATPS e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons estudos! REFERÊNCIAS FIORIN, J.L.; SAVIOLI, F.P. Para entender o texto: leitura e redação. 16. ed. São Paulo: Ática, 2006. KOCH, I.V.; ELIAS, V.M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2013. SPINILLO, A.G.; MARTINS, R.A. Uma análise da produção de histórias coerentes por crian- ças. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre , v. 10, n. 2, 1997. Disponível em: <http://www.scie- lo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79721997000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 14 out. 2013. 23 GLOSSÁRIO Conectivos: os conectivos ou elementos de coesão são palavras ou expressões cuja função é estabelecer elos entre orações (parágrafos ou períodos) para criar relações entre segmentos do discurso. Interpretabilidade: nesse contexto, refere-se à forma passível de interpretação de um texto. Materialidade linguística: trata-se da materialização da língua em um texto ou discurso. Pragmática: é a área de estudos que investiga a linguagem no contexto de uso comunicativo. Semântica: envolve o estudo linguístico sobre os significados usados por seres humanos através da linguagem, ou seja, a relação entre significado e significante. 24 GABARITO Questão 1 Resposta: A questão explora os conhecimentos prévios do aluno sobre o conceito de incoerência. O termo pode ser explorado tanto pelo viés textual quanto pessoal. Algumas pessoas são contraditórias em suas falas e, por conseguinte, adquirem a fama de serem incoerentes. Textos incoerentes também estão associados a falta de sentido, de lógica. Questão 2 Resposta: A questão ativa no aluno seu domínio sobre a noção de coesão e coerência textual, em que se deve identificar que uma análise pautada exclusivamente na coesão denunciaria o texto como incoerente, pois os enunciados são contraditórios. A incoerência semântica estaria na redação contraditória para “como evitar um assalto”, seguida de orientações ambíguas do tipo “não sair de casa” e “sair de casa”. Entretanto, o aluno deveconsiderar que a coerência está alheia ao texto, e exige conhecimentos externos. Logo, a contradição se justifica pelo contexto, promovendo assim o sentido do texto, já que a leitura demonstra que não é possível evitar um assalto, pois, retomando o exemplo das orientações 1 e 2, saindo ou não de casa você estará exposto, haja vista que, atualmente, presenciamos inúmeros assaltos dentro e fora de casa. Questão 3 Resposta: Alternativa C Questão 4 Resposta: Alternativa E Questão 5 Resposta: Alternativa A 25 Questão 6 Resposta: A questão incentiva o aluno a buscar a coerência do texto estabelecendo um vínculo entre os conteúdos aprendidos e a prática da leitura com sentido. Para isso, o aluno deve considerar, primeiramente, o contexto do texto, ou seja, ativando seus conhecimentos prévios para considerar que se trata de uma música produzida pela banda Mamonas Assassinas, cujo propósito era causar efeito de humor. Em seguida, o aluno deve se atentar para as pistas do texto “Quando eu estou no trabalho, não vejo a hora de descer dos andaime”, o que possibilita ao aluno inferir que o texto é narrado por um sujeito que trabalha em obras (operário, pedreiro). Levantando esse contexto, a coerência estilística justifica os “erros ortográficos”, cometidos intencionalmente pelo autor da letra da música, sob intuito de representar a variedade linguística de um determinado grupo social. Dito isso, os erros ortográficos são justificados e o texto se torna coerente. Questão 7 Resposta: Alternativa C Questão 8 Resposta: A questão explora o conceito de (in)coerência temática, esperando que o aluno a reconheça no texto. A incoerência temática ocorre quando a resposta do pai não atende a pergunta da filha, ou seja, quando a resposta não é relevante para o tópico em questão. O trecho onde tal incoerência é encontrada está no momento em que Aninha pergunta: “Papai, o que acha do meu desenho?” e o pai, ao invés de comentar sobre o desenho, responde: “Você já terminou sua tarefa da escola?”. Questão 9 Resposta: Novamente o aluno é instigado a analisar criticamente um texto em busca da (in)coerência textual. Para o êxito de sua resposta o aluno deve identificar que a coerência semântica está centrada, especialmente, no principio da não contradição. Diante disso, a incoerência está na contradição do texto, ao apresentar informações como “essa fumaça não deixava que nós víssemos qualquer pessoa, pois ela [a fumaça] era muito intensa” e pouco depois afirmar “fiquei observando as pessoas que lá estavam”. Ora, se a fumaça era tão intensa que não permitira ver “qualquer pessoa”, como poderia o narrador afirmar que conseguia observar as pessoas? Reside nesses excertos então a contradição do texto, ou seja, a incoerência semântica. GABARITO 26 GABARITO Questão 10 Resposta: A questão provoca o aluno a produzir um texto com coerência, ainda que seja na continuidade de outro fragmento de texto. Nessa atividade, o aluno deve considerar o perfil de Jacinto e realizar escolhas sintáticas e semânticas que não desviem da coerência textual ou que contradigam o perfil de Jacinto (alguém pacífico, que bebia com frequência, que falava coisas alegres e, às vezes, ininteligíveis). Do mesmo modo, o aluno deve considerar a coerência temática ao fornecer informações relevantes ao texto, sem desviar do assunto, que é o próprio Jacinto (por exemplo, seria incoerente o aluno mudar de forma abrupta o foco do texto centrado no Jacinto para falar de outro personagem, ou de outro assunto). O aluno deve ainda ponderar as exigências para produzir um texto com coerência pragmática, estilística e genérica, atentando-se aos atos de fala, à variedade linguística que já está sendo utilizada no texto e ao gênero textual “crônica”. Assim, a elaboração de um texto com coerência, apresentado pelo aluno, deve ser positivamente avaliada.
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