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Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica em Crimes Ambientais

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RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA 
NOS CRIMES AMBIENTAIS 
 
 
Tatiana Tucunduva Philippi(*) 
Advogada formada na UNIFMU - Centro Universitário. Especialista em Direito Ambiental pela Universidade 
de São Paulo. Mestranda em Saúde Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São 
Paulo. Experiência profissional: Pinheiro Pedro Advogados e Trench, Rossi e Watanabe Advogados 
associado a Baker & McKenzie. Participação no livro "Meio Ambiente, Direito e Cidadania" como apoio 
técnico. Membro colaborador do Instituto 'O Direito por um Planeta Verde'. 
Daniella Mac-Dowell Leite de Castro 
Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da Universidade de São Paulo. 
 
(*)Núcleo de Informações em Saúde Ambiental – NISAM 
Faculdade de Saúde Pública / Universidade de São Paulo 
Avenida Doutor Arnaldo, 715 CEP 01246-904 – São Paulo – SP – Brasil 
Fone/fax: (11) 30818762 
E-mail: tucunduv@usp.br 
 
RESUMO 
 
Por ser um assunto relativamente novo e muito discutido na área de Direito Ambiental, toda contribuição 
torna-se extremamente importante para subsidiar documentos e colaborar no entendimento da forma de 
implementação deste mecanismo no Brasil. O presente trabalho visa, portanto, diagnosticar o estado da arte 
da responsabilidade penal ambiental da pessoa jurídica no ordenamento jurídico brasileiro, no tocante à 
reparação dos danos ambientais. 
O presente trabalho foi desenvolvido com base em pesquisas bibliográficas e discussão dos resultados 
obtidos. Com o avanço das pesquisas, agregaram-se as experiências práticas encontradas de modo a 
apresentar o documento que se segue. 
 
XI – Philippi – Brasil – 1 
Modalidade de apresentação: oral 
PALAVRAS-CHAVE: responsabilidade penal; crimes ambientais; pessoa jurídica; meio ambiente. 
 
INTRODUÇÃO 
 
O crescimento das atividades industriais e o conseqüente aumento da degradação ambiental tornou necessária 
a criação de mecanismos de controle. Considerando a magnitude dos danos ambientais e a dificuldade em 
sanear o meio ambiente, a Lei n. 9605/98 (Lei dos Crimes Ambientais), seguindo o disposto na Constituição 
Federal, prevê a responsabilidade penal da pessoa jurídica que incorra em crimes ambientais. Com efeito, sem 
tal responsabilização, a punição no máximo se restringiria a alcançar uma ou mais pessoas físicas, com pouca 
ou nenhuma conseqüência para a empresa, quando a verdade é que, em geral, as ações da(s) pessoa(s) 
física(s) envolvida(s) decorrem de instruções de seus superiores na empresa. Assim sendo, embora a punição 
continue alcançando pessoas físicas, por sua condição de agente, é importante que se estenda à pessoa 
jurídica, através de multas e/ou outras penalidades, tais como perda de acesso a financiamentos, proibição 
temporária ou definitiva de participar em licitações, e até a interdição temporária do estabelecimento, obra ou 
atividade. 
 
DANO AMBIENTAL 
 
Para a correta compreensão deste assunto, é necessário uma definição de dano para que, a partir daí, se defina 
o dano ambiental. A toda evidência que não se pode definir qual o ressarcimento devido se o dano a ser 
reparado não estiver suficientemente classificado, especificado e quantificado. Com efeito, sem a existência 
do dano, inexiste responsabilidade. 
O dano é o prejuízo causado a alguém por um terceiro que se vê obrigado ao ressarcimento. É juridicamente 
irrelevante o prejuízo que tenha por origem um ato ou uma omissão imputável ao próprio prejudicado. A ação 
ou omissão de um terceiro é essencial. Decorre daí que dano implica em alteração de uma situação jurídica, 
material ou moral, cuja titularidade não possa ser atribuída àquele que, voluntária ou involuntariamente, tenha 
dado origem à mencionada alteração. 
A noção de dano, originariamente, tinha um conteúdo eminentemente patrimonial, na medida em que não se 
considerava prejuízo o menoscabo de um valor de ordem íntima, vez que esta não tem conteúdo econômico 
imediato. 
A ressarcibilidade do dano não é, contudo, uma matéria tranqüila. A doutrina civilista tem entendido, por 
maioria, que só é ressarcível o dano que preencha três requisitos, a saber: certeza, atualidade e subsistência. 
Este conceito não é suficiente para a apuração e qualificação do dano ambiental, pois as características deste 
não são apropriáveis pelo Direito Comum, em especial pelo Direito Privado (ANTUNES 2000). 
Segundo Édis Milaré (2001) dano ambiental é a lesão aos recursos ambientais (segundo o artigo 3º, inciso V 
da Lei n.6938/81, recursos ambientais são: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os 
estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora), com conseqüente 
degradação do equilíbrio ecológico. 
A degradação da qualidade ambiental é a alteração adversa das características do meio ambiente e de acordo 
com o artigo 3º, inciso III, da Lei n.6938/81, poluição é “a degradação da qualidade ambiental resultante de 
atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) 
criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem 
as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os 
padrões ambientais estabelecidos”. 
 
A LEI 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998 
 
Esta lei nasceu de projeto enviado pelo Poder Executivo Federal e trata especialmente de crimes contra o 
meio ambiente e de infrações administrativas ambientais. Dispõe também sobre processo penal e cooperação 
internacional para a preservação do meio ambiente. As contravenções penais relativas à proteção da flora em 
sua maioria foram transformadas em crimes. 
A Lei 9.605/98 tem como inovações marcantes a não utilização do encarceramento como norma geral para as 
pessoas físicas criminosas, a responsabilização penal das pessoas jurídicas e a valorização da intervenção da 
Administração Pública, através de autorizações, licenças e permissões (MACHADO 2000). 
A r. lei assim dispõe acerca da responsabilidade penal da pessoa jurídica, in verbis: 
Art. 3º - As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o 
disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal 
ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. 
Parágrafo único - A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, 
autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. 
 
Art. 4º - Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao 
ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. 
 
Art. 18 - A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se se revelar ineficaz, ainda 
que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da 
vantagem econômica auferida. 
 
Art. 20 - A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo para reparação 
dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio 
ambiente. 
Parágrafo único - Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá 
efetuar-se pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação para apuração 
do dano efetivamente sofrido. 
 
Art. 21 - As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo 
com o disposto no art. 3º, são: 
I - multa; 
II - restritivas de direitos; 
III - prestação de serviços à comunidade. 
 
Art. 22 - As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são: 
I - suspensão parcial ou total de atividades; 
II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; 
III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou 
doações. 
§ 1º - A suspensãode atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às 
disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente. 
§ 2º - A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver 
funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação 
de disposição legal ou regulamentar. 
§ 3º - A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou 
doações não poderá exceder o prazo de dez anos. 
 
Art. 23 - A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em: 
I - custeio de programas e de projetos ambientais; 
II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas; 
III - manutenção de espaços públicos; 
IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas. 
 
Art. 24 - A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderadamente, com o fim de permitir, 
facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada, seu 
patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo 
Penitenciário Nacional. 
 
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA 
 
A crescente preocupação com a proteção do meio ambiente encontrou, no Direito Penal, um grande aliado. É 
o que observa Jair Leonardo Lopes ao dizer que “sempre que determinado comportamento torna-se objeto de 
maior reprovação social, por ofender ou ameaçar bens ou valores aos quais a sociedade passe a atribuir maior 
importância, tal comportamento, em regra, vem a ser proibido, também, sob a ameaça de pena, como a mais 
eficaz técnica de proteção”. De fato, a sanção penal se faz necessária em determinados casos, não só em 
função da relevância do bem ambiental protegido, mas também por sua maior eficácia dissuasória. 
Historicamente, a questão da responsabilização penal de entes coletivos vem se consolidando ao longo do 
tempo. O primeiro Congresso promovido pela Associação Internacional de Direito Penal, no ano de 1926, em 
Bruxelas, fala em responsabilidade penal dos Estados por violações de normas internacionais e submissão 
deles às penas e medidas de segurança. Alguns anos mais tarde, no VI Congresso Internacional de Direito 
Penal de Roma, em 1953, uma das conclusões quanto à criminalidade econômica é que “a repressão a estas 
infrações requer uma certa extensão da noção de autor e das formas de participação, bem como a faculdade de 
aplicar sanções penais às pessoas jurídicas”. Em 1979, no Congresso em Messina sobre Responsabilidade 
Penal das Pessoas Jurídicas em Direito Comunitário, o documento final foi taxativo em recomendar a 
responsabilização das pessoas jurídicas, especialmente se a infração penal violar dispositivo de um Estado–
membro da Comunidade Econômica Européia; no tópico final do documento aprovado afirma-se que a pena 
deve ser adaptada à natureza da pessoa jurídica, podendo ser multa, a privação de benefícios, o fechamento da 
empresa por tempo determinado ou mesmo seu encerramento definitivo. 
Ressalte-se, ainda, que a própria Organização das Nações Unidas, em seu VI Congresso para Prevenção do 
Delito e Tratamento do Delinqüente, reunido em Nova York, em 1979, quando analisa o tema do delito e do 
abuso do poder, recomenda o estabelecimento do princípio da responsabilidade penal das sociedades. Isto 
significa que qualquer sociedade ou ente coletivo, privada ou estatal, será responsável pelas ações delitivas ou 
danosas, sem prejuízo da responsabilidade individual de seus diretores. 
Mais recentemente, no XV Congresso Internacional de Direito Penal, realizado em setembro de 1994, no Rio 
de Janeiro, a comunidade jurídica internacional aprovou, por ampla maioria de votos, algumas recomendações 
concernentes aos delitos cometidos contra o meio ambiente, reconhecendo a responsabilidade criminal das 
empresas. 
Atualmente, observamos três principais sistemas relativos à responsabilização penal da pessoa jurídica em 
todo o mundo. Os países do Common Law (Inglaterra e Estados Unidos) reconhecem plenamente a 
responsabilidade penal das pessoas jurídicas, corrente esta que cada vez mais recebe adesão de outros países. 
Já a maioria dos países da Europa continental adota um sistema que refuta completamente tal 
responsabilidade. Um terceiro sistema, adotado pela Alemanha, entre outros, segue um posicionamento 
intermediário, impondo às pessoas jurídicas sanções pelo direito penal administrativo, ou seja, sua sanção não 
caracteriza multa penal, mas sim administrativa, visando punir as infrações econômicas. 
No Brasil, antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, algumas leis especiais, por imprecisão 
técnica, dispuseram sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica, embora contrariassem, à época, o 
princípio societas delinquere non potest. Com a promulgação da referida Constituição, consagrou-se a 
imputabilidade penal das pessoas jurídicas na esfera das lesões ao meio ambiente, bem como nos crimes 
contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular. Após longa tramitação legislativa foi 
publicada, em 13 de fevereiro de 1998, a lei n.9605 (Lei de Crimes Ambientais), que adotou a 
responsabilidade penal objetiva para as pessoas jurídicas, semelhante ao sistema da Common Law. 
O acolhimento da responsabilidade penal da pessoa jurídica mostra que houve uma percepção atualizada do 
papel das empresas no mundo contemporâneo. A experiência brasileira mostra uma omissão enorme da 
Administração Pública na imposição de sanções administrativas diante das agressões ambientais. A 
possibilidade de serem responsabilizadas penalmente as pessoas jurídicas não irá desencadear uma frenética 
persecução penal contra as empresas criminosas. Tentar-se-á, contudo, impor um mínimo de corretivo, para 
que a nossa descendência possa encontrar um planeta habitável (MACHADO, 2000). 
 
ARGUMENTOS NÃO-FAVORÁVEIS À RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA 
 
René Ariel DOTTI, contrário à responsabilidade penal da pessoa jurídica, no artigo intitulado “A 
incapacidade criminal da pessoa jurídica” discorre detalhadamente acerca dos argumentos que sustentam os 
seguidores deste entendimento. Neste ponto, segue uma síntese destes argumentos, pois o autor 
supramencionado realizou um exame minucioso de cada um deles. 
- A dificuldade em investigar e individualizar as condutas nos crimes de autoria coletiva situa-se na esfera 
processual, não na material; 
- O princípio da isonomia seria violado porque a partir da identificação da pessoa jurídica como autora 
responsável, os partícipes, ou seja, os instigadores ou cúmplices, poderiam ser beneficiados com o 
relaxamento dos trabalhos de investigação. 
- O princípio da humanização das sanções seria violado, pois que a Constituição Federal trata da aplicação da 
pena. Refere-se sempre às pessoas, e também quando veda as penas cruéis. 
- O princípio da personalização da pena seria violado porque referir-se-ia à pessoa, à conduta humana de cada 
pessoa. 
- Direito de regresso. In verbis: 
"A se aceitar a esdrúxula proposta da imputabilidade penal da pessoa jurídica, não poderia ela promover a 
ação de ressarcimento contra o preposto causador do dano, posto ser a co-responsável" pelo crime gerador do 
dever de indenizar. Faltar-lhe-ia legitimidade, pois um réu não pode promover contra o co-réu a ação de 
reparação de danos oriunda do fato típico, ilícito e culpável que ambos cometeram. Corolário dessa conclusão 
é a regra do art. 270 do CPP: “O co-réu no mesmo processo não poderá intervir como assistente do Ministério 
Público”. (p.189, DOTTI) 
- O tempo do crime - quando o legislador definiu o momento do crime com base em uma ação humana, ou 
seja, uma atividade final peculiar às pessoas naturais. 
- Nas formas concursais, quadrilha, os participantes se reúnem com este fim ilícito. Questiona se seria 
diferente na sociedade. 
- O lugar do crime - não é possível estabelecero local da atividade em relação às pessoas jurídicas que tem 
diretoria e administração em várias partes do território pátrio. Ainda que se pretendesse adotar a teoria da 
ubiqüidade, lugar do crime é o do dano. Haverá ainda intransponível dificuldade em definir onde foram 
praticados os atos de execução. 
- Ofensa a princípios relativos à teoria do crime. 
 
ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA 
 
Segundo JOÃO MARCELO DE ARAÚJO JR (p.75, 1995), a responsabilidade penal das pessoas jurídicas 
não pode ser entendida à luz da responsabilidade penal tradicional baseada na culpa, na responsabilidade 
individual, subjetiva, mas sim deve ser entendida à luz de uma responsabilidade social. 
A pessoa jurídica age e reage através de seus órgãos "cujas ações e omissões são consideradas como da 
própria pessoa jurídica" (p.74, 1995). Assim, não é necessário refutar um por um dos argumentos 
desenvolvidos pelos que entendem não ser possível a responsabilização penal da pessoa jurídica, pois que o 
ponto de partida é distinto. 
O esboço do Código Penal, parte especial, em curso, não introduziu a responsabilidade penal da pessoa 
jurídica ao nível da legislação infraconstitucional, in verbis: 
"Fiel à tradição legislativa brasileira, o esboço não instituiu a capacidade penal da pessoa jurídica. E poderiam 
fazê-lo posto que a Comissão tinha poderes para propor a revisão, a revogação ou a criação de disposições ou 
setores da Parte Geral a fim de compartilhar o sistema proposto para a Parte Especial”. 
 
 
CASOS PRÁTICOS 
 
Diversas ocorrências de fatos já foram registradas, em tese constituindo crimes tipificados pela mencionada 
lei de proteção penal do meio ambiente, a respeito dos quais as pessoas jurídicas, aceitando a atribuição da 
autoria, têm efetuado transação penal, nos termos da Lei dos Juizados Especiais, a Lei n.9099/95, aceitando a 
imposição imediata de medida alternativa (restritiva de direitos ou multa) não havendo, em contrapartida, 
instauração de processo criminal com juízo de condenação e aplicação de pena. Dita transação é possível para 
determinadas infrações, consideradas de menor potencial ofensivo. Também se registram fatos tipificados 
como crimes contra o ambiente, em que as pessoas jurídicas têm acordado a suspensão do processo, trazida 
para o direito brasileiro pela Lei dos Juizados Especiais, em seu artigo 89 (possível para os crimes a que 
cominada a pena mínima não superior a um ano). Em tal situação, oferecida denúncia, fica o processo 
suspenso, mediante condições avençadas, transcorrido o prazo da suspensão, cumpridas as condições, 
constatada por laudo a reparação do dano ao meio ambiente, é declarada extinta a punibilidade. (Anais do 6º 
Congresso Internacional de Direito Ambiental – artigo do Dr. Eladio Lecey – p. 128) 
No entanto, registram-se casos de instauração de processo criminal contra pessoas jurídicas, principalmente 
decorrentes do juízo de não suficiência daquelas alternativas (a transação penal e a suspensão do processo 
também são submetidas a outros requisitos). 
Alguns casos já chegaram aos tribunais de segundo grau, dentre os quais, registra-se o Recurso Criminal 
00.020968-6, julgado pela Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, sendo relator 
o Desembargador Sólon D’Eça Neves que, dando provimento ao recurso interposto pelo Ministério Público, 
determinou o recebimento de denúncia contra a empresa Agropastoril Bandeirante Ltda. pelos crimes de 
poluição previstos nos artigos 54, § 2º, V e 60 da Lei n.9605/98. Haviam sido denunciados tanto a empresa 
quanto as pessoas físicas seus sócios, tendo o juiz de primeiro grau rejeitado a denúncia relativamente à 
pessoa jurídica, a recebendo tão somente quanto às pessoas físicas. Por unanimidade, a Câmara acatou o 
recurso, admitindo expressamente a responsabilidade penal da pessoa jurídica, com a seguinte ementa: 
“Completamente cabível a pessoa jurídica figurar no pólo passivo da ação penal que tenta apurar a 
responsabilidade criminal por ela praticada contra o meio ambiente”. 
Recentemente, foi proferida sentença, talvez a primeira em nosso país, condenando pessoa jurídica por crimes 
contra o meio ambiente. Trata-se de decisão do magistrado Luiz Antonio Bonat, Juiz Federal, da 1ª Vara em 
Criciúma, Santa Catarina, no processo 2001.72.04.002225-0, datada de 18 de abril de 2002, que condenou a 
empresa A.J. Bez Batti Engenharia Ltda. e seu diretor pelos crimes previstos nos artigos 48 (impedimento de 
regeneração de vegetação) e 55 (extração indevida de recursos minerais) da Lei n.9605/98, em concurso 
formal. 
 
CONCLUSÃO 
 
Embora tenha a Lei de Crimes Ambientais um caráter inovador, o legislador, ao descrever as normas penais 
incriminadoras, não indicou sobre qual delas poderia recair a responsabilidade da pessoa jurídica, nem qual a 
pena a ser aplicada em cada caso. A maneira como tal dispositivo legal foi redigido resulta, portanto, na sua 
difícil aplicação, razão pela qual o presente estudo analisa os casos práticos relativos a tal lei. 
Assim, conclui-se que o instituto da responsabilidade penal da pessoa jurídica é aplicado dentro do 
ordenamento jurídico brasileiro. Contudo, faz-se necessário uma melhor regulamentação da aplicação de tal 
mecanismo, de forma a garantir a adequada recomposição ambiental, devendo toda a sociedade jurídica 
atentar-se a esses desajustes técnicos, buscando o aprimoramento da lei para a plenitude de sua eficácia. 
 
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