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Apostila Regional - UFAM

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Fábio Heleno Mourão da Costa: Possui Graduação em 
Ciências Econômicas e Mestrado em Desenvolvimento 
Regional. Atualmente é Professor Assistente I do 
Departamento de Economia e Análise da Universidade 
Federal do Amazonas. Tem experiência na área de 
Economia Regional e Urbana e Métodos Quantitativos em 
Economia, atuando principalmente nos seguintes temas: 
concentração espacial, crescimento e dinamismo regional. 
 
 
Anderson Litaiff Feitosa da Costa: Possui graduação 
em Filosofia – Licenciatura (2005), graduação em 
Ciências Econômicas e mestrado em Desenvolvimento 
Regional (2009), todos pela Universidade Federal do 
Amazonas. Atualmente é Professor Assistente I da 
Universidade Federal do Amazonas. Tem experiência 
na área de Economia, com ênfase em Métodos 
Quantitativos em Economia. 
 
Nota dos professores: 
 
Este material foi desenvolvido a partir da seleção de vários textos e/ou parte destes, na 
grande maioria das vezes, utilizando na íntegra o texto original. Com isto, os autores 
deste material, não possuem nenhuma pretensão de originalidade acerca do conteúdo 
que expõem nas próximas páginas deste trabalho. O objetivo foi, tão somente, 
disponibilizar aquilo que há de melhor em termos didáticos sobre o assunto tratado 
aqui. Esperamos que os alunos possam tirar o máximo proveito deste material e que 
possam sugerir o aperfeiçoamento do mesmo. As referências dos textos originais 
encontram-se no plano de ensino, próxima página. 
Abraços, 
 
Prof. Fábio Costa e Prof. Anderson Costa 
 
 
Plano de Ensino 
 
I. IDENTIFICAÇÃO 
CURSO: Ciências Econômicas PERÍODO: 8° 
DISCIPLINA: Economia Regional e Urbana SIGLA: 
CARGA HORÁRIA: 60h Nº DE CRÉDITOS: 04 
PROFESSORES: Fábio Heleno Mourão da Costa 
Anderson Litaiff Feitosa da Costa 
II. EMENTA 
 
Economia regional no contexto da ciência econômica e da ciência regional. Configuração do 
espaço e conceituação de região. Desigualdades regionais: teorias sobre a origem das 
desigualdades regionais. Teorias e modelos de crescimento regional e urbano. A questão regional 
no Brasil. Teoria da localização e sua aplicação nos estudos regionais e urbanos. Os primórdios da 
urbanização brasileira. Teorias contemporâneas de urbanização. Redes Urbanas. Análise intra-
urbana. Funções urbanas. Crescimento das cidades: custos e controle. Crescimento das cidades: 
custos e controle. Planejamento Urbano. Globalização e Desenvolvimento Regional. 
III. OBJETIVOS 
 
 Apresentar os principais aspectos teóricos da economia regional regional e urbana; 
 Apresentar os principais métodos de análise regional; 
 Avaliar dados econômicos regionais a partir de softwares estatísticos livres (GretL, 
IpeaGeo, bem como a planilha eletrônica Excel). 
 
 
IV. METODOLOGIA 
 
As aulas serão realizadas pelo Sistema Presencial Mediado, no qual o conteúdo programático 
será desenvolvido com apoio de equipamentos de multimídia. No que diz estratégia de ensino 
serão aplicados exercícios conceituais ao longo das dinâmicas locais, enquanto que exercícios 
teóricos e questões de revisão serão aplicados na aula de revisão a partir de um banco de dados 
de questões respondidas que estarão disponíveis com a apostila. Além disso, os discentes se 
depararão com as principais bases de microdados existentes no Brasil, para que os mesmos 
possam manipular e desenvolver trabalhos científicos. 
 
 
V. AVALIAÇÃO 
 
 Avaliação Parcial 1 e 2: 
 Avaliação Formal Individual (8,0 pontos) 
 DL (Dinâmica Local). Compreende atividades diversas, tais como realização de 
Seminários, trabalhos individuais ou em grupo, dentre outros. (2,0 pontos) 
 Avaliação Final: artigo científico baseado nos aspecto teóricos e, principalmente, 
métodos de análise regionais aplicados à realidade dos 15 municípios participantes do 
curso. O artigo deverá ser entregue na forma escrita, bem como apresentado aos 
professores locais. (10,0 pontos). As normas do artigo será explicado em aula. 
 
VI. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
 
I. Economia regional no contexto da ciência econômica e da ciência regional: Evolução 
da análise econômica regional; 
 
II. Configuração do espaço e conceituação de região: Espaço, regiões e economia 
regional; 
 
III. Desigualdades regionais - teorias sobre a origem das desigualdades regionais: 
Desigualdades regionais no processo de desenvolvimento; 
 
IV. A questão regional no Brasil: Questão regional no Brasil; 
 
V. Teorias e modelos de crescimento regional e urbano: Crescimento econômico, 
convergência de renda e elementos espaciais; 
 
VI. Teoria da localização e sua aplicação nos estudos regionais e urbanos: i) Localização 
da atividade econômica; e, ii) Métodos de análise regional. 
 
 
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
COSTA, A. L. F & SÁ, M. T. V. Educação e Desenvolvimento Regional: evidências para a 
região Norte. Manaus: CBE, 2013. 
COSTA, A. L. F. & SÁ, M. T. V. Crescimento Econômico e Educação: explorando análises 
cross-section para as unidades da federação e municípios amazonenses. Manaus: CBE, 
2013. 
COSTA, F. H. M. & COSTA, A. L. F. Apostila de Economia Regional e Urbana: Textos 
Selecionados. 2014. 
COSTA, F. H. M. Concentração, Especialização e Dinamismo da Indústria Petroquímica 
Brasileira no período de 1995 a 2005. Dissertação de mestrado: UFAM, 2009. 
CRUZ, Bruno de Oliveita et al. (Orgs.). Economia regional e urbana: teorias e métodos com 
ênfase no Brasil. Brasília: Ipea, 2011. 
GUJARATI, Damodar N.; PORTER, Dawn C. Econometria Básica. Tradução Denise Durante, 
Mônica Rosemberg, Maria Lúcia G. L. Rosa. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. 
HADDAD, Paulo Roberto (Org.). Economia regional: teorias e métodos de análise. Fortaleza: 
Banco do Nordeste do Brasil, 1989. 
SOUZA, Nali de Jesus de. Desenvolvimento regional. São Paulo: Atlas, 2009. 
 
 
 
 
Sumário 
Capítulo 1 Economia regional no contexto da ciência econômica e da ciência 
regional ................................................................................................................................................ 7 
EVOLUÇÃO DA ANÁLISE ECONÔMICA REGIONAL .................................................................. 8 
ELEMENTOS REGIONAIS NA TEORIA ECONÔMICA TRADICIONAL ............................................. 9 
Os precursores e os clássicos .......................................................................................................................... 10 
Alfred Marshall e as economias externas ................................................................................................... 13 
CRISE URBANA E DESEQUILÍBRIOS REGIONAIS ............................................................................. 15 
Problemas regionais na Europa ..................................................................................................................... 17 
Surgimento de novas teorias ........................................................................................................................... 19 
NOÇÕES DE ESPAÇO E DE REGIÃO ....................................................................................................... 21 
Noção de espaço ................................................................................................................................................... 22 
Diferentes concepções de região ...................................................................................................................24 
Dificuldades do conceito de região ............................................................................................................... 25 
Hierarquia e tamanho dos centros urbanos .............................................................................................. 27 
Visão de Walter Isard ......................................................................................................................................... 28 
Noções de região e o desenvolvimento regional ..................................................................................... 30 
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO ...................................................................................... 31 
LEITURAS SUGERIDAS ............................................................................................................................. 32 
Capítulo 2 Configuração do espaço e conceituação de região .................................................. 33 
ESPAÇO, REGIÕES E ECONOMIA REGIONAL .......................................................................... 34 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 34 
CONCEITOS .................................................................................................................................................. 36 
Economia Espacial ............................................................................................................................................... 36 
Economia Regional .............................................................................................................................................. 37 
Região ........................................................................................................................................................................ 38 
O DESCASO PELO FENÔMENO ESPACIAL .......................................................................................... 43 
AS DESIGUALDADES DA DISTRIBUIÇÃO DAS ATIVIDADES ........................................................ 48 
O Fenômeno da Concentração ........................................................................................................................ 48 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 52 
Capítulo 3 Desigualdades regionais: teorias sobre a origem das desigualdades 
regionais ........................................................................................................................................... 55 
DESIGUALDADES REGIONAIS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ................................... 56 
VISÕES DAS DESIGUALDADES REGIONAIS ....................................................................................... 56 
Origem das desigualdades na troca desigual ............................................................................................ 57 
Causação circular e acumulativa .................................................................................................................... 61 
Hipótese de Kuznets-Williamson .................................................................................................................. 67 
MOBILIDADE ESPACIAL DOS FATORES DE PRODUÇÃO .............................................................. 71 
Migração da mão de obra .................................................................................................................................. 73 
Mobilidade do capital ......................................................................................................................................... 75 
Difusão espacial das inovações e divisão do trabalho .......................................................................... 77 
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO ...................................................................................... 79 
LEITURAS SUGERIDAS ............................................................................................................................. 79 
Capítulo 4 Teorias e modelos de crescimento regional e urbano ................................ 81 
CRESCIMENTO ECONÔMICO, CONVERGÊNCIA DE RENDA E ELEMENTOS ESPACIAIS ........... 82 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 82 
0 legado .................................................................................................................................................................... 83 
ALGUNS MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO ..................................................................... 88 
Modelo neoclássico .............................................................................................................................................. 88 
Nova teoria do crescimento econômico ...................................................................................................... 92 
CONVERGÊNCIA DE RENDA: MÉTODO E MENSURAÇÃO .............................................................. 95 
Abordagem por modelos de regressão ....................................................................................................... 96 
Abordagem com uso da função de distribuição de probabilidade das rendas ........................... 99 
Qualificações de Durlauf, Johnson e Temple (2005) .......................................................................... 100 
ALGUMAS ANÁLISES EMPÍRICAS ...................................................................................................... 105 
Estudos aplicados com ênfase no caso brasileiro ................................................................................ 105 
EFEITOS ESPACIAIS E CONVERGÊNCIA DE RENDA ..................................................................... 108 
Efeito do movimento de fatores .................................................................................................................. 108 
Dependência espacial ...................................................................................................................................... 109 
MODELOS DE CRESCIMENTO COM EXPLICITAÇÃO DE ELEMENTOS ESPACIAIS .............. 111 
Modelo de Ramsey-Cass-Koopmans espacial ........................................................................................ 112 
Modelo de crescimento endógeno espacial ............................................................................................ 115 
Modelo de Solow-Romer espacial .............................................................................................................. 115 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................................... 117 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 118 
EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: EVIDÊNCIAS PARA A REGIÃO NORTE
 ............................................................................................................................................................ 127 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 128 
EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO REGIONAL: EXPLORANDO ANÁLISES DE 
REGRESSÃO COM DADOS DE PAINEL .............................................................................................. 130 
Método de análise ............................................................................................................................................... 131 
Resultados e Discussão ...........................................................................................................................135 
CONCLUSÃO.............................................................................................................................................. 143 
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................... 145 
CRESCIMENTO ECONÔMICO E EDUCAÇÃO: EXPLORANDO ANÁLISES CROSS-
SECTION PARA AS UNIDADES DA FEDERAÇÃO E MUNICÍPIOS AMAZONENSES ..... 147 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 148 
EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS ...................................................................................................................... 149 
METODOLOGIA ....................................................................................................................................... 152 
Especificação dos modelos ............................................................................................................................ 152 
Especificação da metodologia econométrica ......................................................................................... 154 
Especificação das variáveis e base de dados .......................................................................................... 154 
RESULTADOS E DISCUSSÃO: O COMPORTAMENTO DO PRODUTO E RENDA E OS 
FATORES DE CRESCIMENTO............................................................................................................... 156 
Os modelos para as Unidades da Federação .......................................................................................... 156 
Os modelos para os municípios amazonenses ...................................................................................... 160 
CONCLUSÃO.............................................................................................................................................. 162 
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................... 165 
Capítulo 5 A questão regional no Brasil ...................................................................................... 167 
QUESTÃO REGIONAL NO BRASIL .................................................................................................. 168 
TENDÊNCIA À CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA NO BRASIL ........................................................ 168 
Origens do crescimento polarizado no Brasil........................................................................................ 169 
Positivismo no Rio Grande do Sul .............................................................................................................. 172 
Situação das desigualdades regionais no Brasil ................................................................................... 174 
POLÍTICAS REGIONAIS NO BRASIL: O CASO DO NORDESTE .................................................... 185 
Montagem do quadro institucional para o Nordeste.......................................................................... 186 
Polos de crescimento no Nordeste ............................................................................................................. 194 
TENDÊNCIAS DO CRESCIMENTO REGIONAL NO BRASIL .......................................................... 197 
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO ................................................................................... 199 
LEITURAS SUGERIDAS .......................................................................................................................... 200 
Capítulo 6 Teoria da localização e sua aplicação nos estudos regionais e urbanos ............ 201 
LOCALIZAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA ............................................................................... 202 
VON THÜNEN E A CONCORRÊNCIA PELO USO DA TERRA ........................................................ 203 
Derivação das áreas de cultivo .................................................................................................................... 204 
Aplicação do modelo de Von Thünen ........................................................................................................ 209 
ALFRED WEBER E A LOCALIZAÇÃO ÓTIMA DA EMPRESA INDUSTRIAL ............................. 211 
Minimização dos custos de transporte ..................................................................................................... 212 
Minimização dos custos de produção ....................................................................................................... 217 
OUTRAS CONTRIBUIÇÕES À TEORIA DA LOCALIZAÇÃO .......................................................... 220 
Christaller, Lösch e seguidores .................................................................................................................... 220 
Predöhl, Hotelling e Palander ...................................................................................................................... 227 
Tendências modernas da análise locacional .......................................................................................... 233 
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO ................................................................................... 239 
LEITURAS SUGERIDAS .......................................................................................................................... 239 
MÉTODOS DE ANÁLISE REGIONAL ......................................................................................... 241 
MEDIDAS DE ESPECIALIZAÇÃO E CONCENTRAÇÃO ................................................................... 241 
Quociente locacional e a curva de localização ....................................................................................... 242 
Índice de concentração normalizado (ICn) ............................................................................................. 244 
Método estrutural-diferencial .......................................................................................................... 245 
Formulação original do método .................................................................................................................. 246 
Reformulações de Stilwell ............................................................................................................................. 249 
O efeito alocação de Esteban-Marquillas e Herzog & Olsen ............................................................ 249 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 251 
 
 
7 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
7 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
Capítulo 1 Economia regional no contexto da ciência econômica e 
da ciência regional 
 
8 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
8 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
EVOLUÇÃO DA ANÁLISE ECONÔMICA REGIONAL 
Nali de Jesus de Souza1 
Neste capítulo, estuda-se a evolução da análise econômica regional e suas relações com a 
teoria econômica tradicional. Em seguida, arrolam-se os principais eventos responsáveis 
pelo surgimento dos estudos regionais; e, finalmente, apresentam-se as noções de 
espaço e de região. Tradicionalmente, o elemento espaço não tem recebido muita 
atenção na teoria econômica, sendo relegado a um plano secundário. As disciplinas 
Economia Regional e Economia Urbana somente emergiram no final dos anos de 1940, 
tendo como origem teórica os postulados da teoria da localização, desenvolvida desde o 
século XIX pelos pioneiros Von Thünen, Weber, Christaller e Lôsch2. 
A série de artigos publicados por Richard Andrews na revista Land Economics, entre 
1953 e 1956, contribuiupara a sistematização da disciplina Desenvolvimento Regional 
ao tratar dos postulados da base econômica urbana, aplicados, mais tarde, à Economia 
Regional. Em 1960, Walter Isard publicou o seu livro Métodos de análise regional, 
fornecendo os principais instrumentos do Planejamento Regional: projeções 
demográficas, estimativa de migrações, renda regional e fluxos inter-regionais, 
multiplicadores, localização, modelos gravitacionais e de insumo-produto. Ele abordou 
também a análise dos complexos industriais, programação linear, além de técnicas de 
projeções demográficas e econômicas (ISARD, 1972). 
Ainda em 1960, surgiu a obra Regiões, recursos e crescimento econômico, de autoria de 
Perloff, Dunn, Lampard e Muth. O livro trata do crescimento regional dos EUA, entre 
1870 e 1950, da distribuição regional das atividades econômicas nesse país e das 
variações regionais da taxa de crescimento econômico e da renda per capita entre os 
Estados norte-americanos (PERLOFF et al., 1960). Como abordagem teórica, enfoca os 
fatores internos e externos da expansão regional, a teoria da base exportação, a teoria 
do crescimento regional por etapas, os fatores locacionais e multiplicadores de 
emprego3. 
 
1 Extraído de: SOUZA, Nali de Jesus.de. Desenvolvimento Regional. São Paulo: Atlas, 2009. (Capítulo 1). 
2 As disciplinas Economia Regional, Economia Urbana, Desenvolvimento Local, Planejamento Regional serão sintetizadas em uma 
única, que iremos denominar Desenvolvimento Regional. 
3 Foi nesse capítulo que Harvey Perloff desenvolveu um instrumental de análise, denominado método estrutural-diferencial, que 
passou a ser muito utilizado na análise regional e que será estudado no Capítulo 5 deste livro. 
9 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
9 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
Outra obra clássica foi Desenvolvimento regional e planejamento: uma leitura, de 
Friedmann e Alonso. Nessa obra, eles salientam que, sem considerar o território, a 
análise econômica seria incompleta e que a decisão de onde localizar um novo projeto é 
tão importante quanto o próprio projeto; que as questões relativas à distribuição dos 
frutos do crescimento econômico são tão relevantes do ponto de vista regional como 
entre as classes sociais (FRIEDMANN; ALONSO, 1964, p. 1). Essa coletânea contém uma 
seleção de artigos sobre: localização, organização do território, crescimento regional, 
papel da cidade na formação das regiões, migrações, políticas de industrialização de 
áreas atrasadas e planejamento regional. Ela forneceu elementos para a sistematização 
do pensamento econômico, em relação ao desenvolvimento regional, até então dispersos 
na literatura especializada. 
A demora do Desenvolvimento Regional se constituir como especialidade independente 
do conhecimento econômico se deve ao predomínio dos postulados neoclássicos na 
teoria econômica. Essa abordagem sempre concedeu lugar de destaque ao fator tempo 
na análise, por suas relações com a História e porque se presta melhor à análise 
matemática rigorosa (RICHARDSON, 1975, p.16). Ademais, as suposições da análise 
neoclássica ficam "de difícil aplicação aos fenômenos econômicos espaciais e, além do 
mais, a hipótese de concorrência perfeita se mostra insustentável" (FERREIRA, in 
HADDAD et al., 1989, p. 54). O fator espaço implica em descontinuidades e em elementos 
de monopólio, o que perturba a análise neoclássica. Apesar disso, considerações 
regionais são bastante antigas na análise econômica e são anteriores aos próprios 
economistas clássicos. 
ELEMENTOS REGIONAIS NA TEORIA ECONÔMICA TRADICIONAL 
As atividades econômicas não se encontram em todas as partes do território. A 
concentração econômica, as descontinuidades espaciais e as desigualdades regionais são 
inevitáveis, pelo menos nas fases iniciais do processo de crescimento e de ocupação do 
território regional. Apesar disso, os custos da mobilidade espacial têm sido 
negligenciados. A não consideração do elemento espaço na análise econômica se deve 
muito à influência inglesa na formulação da teoria econômica. A Inglaterra situa-se em 
uma ilha relativamente pequena, com acesso fácil e barato por todos os lados, 
10 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
10 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
particularmente ao se considerar a via costeira. Desse modo, é natural que pouca 
importância tenha sido atribuída à variável distância (SMOLKA, 1983, p. 705). 
Os precursores e os clássicos 
Apesar da negligência do elemento espaço na análise econômica tradicional, referências 
à questão espacial nos textos econômicos são bastante antigas, remontando à época 
mercantilista (1450/1750). Nessa escola, a preocupação com balança comercial 
favorável levou à formulação de políticas econômicas intervencionistas e protecionistas. 
A obstinação em conquistar novos mercados externos implicava a consideração do fator 
distância e dos mecanismos da circulação de bens e serviços entre dois espaços: a 
metrópole e a colônia. Superávits comerciais necessitavam da expansão das exportações 
e da substituição de importações, via desenvolvimento do setor de mercado interno. Isso 
levava os mercantilistas a defenderem o crescimento demográfico interno, a expansão 
das cidades e a proteção à indústria e ao comércio, setores considerados superiores à 
agricultura. 
O inglês William Petty (1623-1687), precursor da escola clássica, enfatizou o papel da 
divisão do trabalho na geração da riqueza um século antes de Adam Smith. Com esse 
objetivo, via com bons olhos o desenvolvimento das grandes cidades e o crescimento 
demográfico, uma vez que expande os mercados e facilita a divisão do trabalho 
(AYDALOT, 1985, p. 10). Além disso, afirmava que uma distribuição espacial mais 
racional das paróquias no Reino Unido, em função da densidade demo gráfica, além de 
melhorar o atendimento da população, reduziria o número de templos, padres e bispos. 
Isso representaria economia de tempo e de recursos (PETTY, 1996, p. 40). No mesmo 
sentido, afirmava que os rendimentos são decrescentes, não em função da redução da 
fertilidade do solo, como iria supor mais tarde Ricardo (RICARDO, 1982), mas em razão 
da situação locacional das terras em relação aos mercados. A renda de situação tornava-
se um elemento crucial e mais relevante do que uma possível renda de diferenciais de 
produtividade do solo. 
Petty considerava também que: (a) salários altos estimulam a indolência; (b) excesso de 
moeda em circulação eleva os preços; (c) seria preferível queimar o excesso da 
produção de tecidos não exportados, para não gerar desemprego; (d) população 
numerosa gera riqueza para a nação. Segundo ele, o "Estado, ao matar; mutilar e 
11 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
11 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
aprisionar seus membros pune também a si próprio, razão pela qual tais punições 
deveriam, tanto quanto possível, serem evitadas e comutadas por penas pecuniárias, 
que fariam crescer o trabalho e a riqueza pública" (PETTY, 1996, p. 84)4. 
Para o francês Richard Cantillon (1680-1734), o problema do território consiste na 
articulação entre as cidades e o campo, no estudo das grandes cidades e de suas 
vantagens. Segundo ele, a terra é a única fonte de riqueza, por produzir um excedente 
acima dos custos de produção, sendo o trabalho a força geradora dessa riqueza. Rendas 
criadas no meio rural são gastas nas cidades, onde residem os proprietários e onde se 
formam os grandes mercados (AYDALOT, 1985, p. 10). Ele desenvolveu uma teoria 
sobre a origem das aldeias e das divisões administrativas. Elas derivam de mercados 
periódicos e, depois, de mercados permanentes.Posteriormente, transformam-se em 
cidades e em capitais regionais, exercendo uma influência sobre centros urbanos 
menores, dentro de determinado raio de ação (SCHUMPETER, 1964, v. 1, p. 273). 
Na análise de Cantillon, a organização espacial efetua-se em função de centros urbanos 
hierarquizáveis com suas respectivas áreas de influência. Assim, tem-se um centro 
maior, a metrópole regional, descendo-se na hierarquia para centros de tamanho médio 
e pequeno. O número de centros aumenta em direção da periferia (área rural). "As áreas 
de influência dos centros menores ficam contidas nas áreas de influência dos de ordem 
mais elevada" (LOPES, 1979, v. 1, p. 159). 
Existem fluxos de bens e serviços hierarquizados no território na ordem ascendente, 
campo-aldeia-cidade-metrópole, bem como no sentido descendente, metrópole-cidade-
aldeia-campo. A riqueza de uma cidade reside na pujança de seu interior, da 
disponibilidade de terras férteis, recursos naturais, rios navegáveis, portos e 
infraestrutura de base, facilitando a circulação de bens e serviços no território. 
Adam Smith (1723-1790) levou em conta, explicitamente, o fator espaço em sua obra 
capital, A riqueza das nações (1776), ao afirmar que a extensão dos mercados 
proporciona maior divisão do trabalho, aumentando a produtividade e a riqueza 
nacional, e que várias ocupações só podem ser executadas em grandes cidades (SMITH, 
1983, v. 1, capo 3). O crescimento econômico concentra as atividades em função da 
 
4 Como meio de aumentar a riqueza nacional, ele defendia o livre comércio, a construção de estradas, pontes e aterros, assim como o 
desenvolvimento da navegação fluvial e marítima (PETTY, 1996, p. 45). 
 
12 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
12 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
localização da mão de obra e dos consumidores. O isolamento do produtor dificulta a 
divisão do trabalho e a especialização. A pequena dimensão do mercado local impede a 
produção em larga escala, o que eleva os custos médios. O produtor precisa escoar sua 
produção para áreas mais distantes, o que exige meios de transporte baratos e 
eficientes. 
A agricultura e a indústria surgiram próximas dos transportes fluviais ou marítimos, 
porque eles reduzem os custos de comercialização e ampliam os mercados. As 
populações e as atividades econômicas tendem a surgir nas margens dos rios navegáveis 
ou junto aos portos marítimos. Pelo contrário, no interior das regiões, longe das vias 
naturais de transporte e de penetração, sem a presença de jazidas minerais ou outras 
fontes de riqueza, a população tende a ser rarefeita, os mercados estreitos, resultando, 
por conseguinte, em pouco ou nenhum desenvolvimento. Smith evoca a prosperidade da 
bacia do Nilo, no Egito, e do Ganges, na Índia, contrapondo a pobreza no interior da 
África (SMITH, 1983, p. 55). ° desenvolvimento da Inglaterra, do Canadá e dos EUA foi 
impulsionado pela abertura de canais e construção de ferrovias interligando mercados 
em diversas regiões de cada um desses países (SOUZA, 2005, cap. 2). 
David Ricardo (1772-1823), em seus Princípios (1817), refere-se ao elemento espaço 
indiretamente ao analisar a renda da terra. As melhores terras são ocupadas em 
primeiro lugar; a seguir, pelo crescimento demográfico, os agricultores vão se 
deslocando para áreas com fertilidade decrescente e mais distantes dos mercados. Esse 
deslocamento será rápido na ausência de importações e de progresso técnico que 
aumente a produção nas áreas tradicionais e mais próximas dos mercados. 
As rendas surgem em terras melhores, em função da ocupação de terras piores e do 
diferencial de produtividade. Se as terras fossem "abundantes e uniformes em 
qualidade, seu uso nada custaria, a não ser que possuíssem particulares vantagens 
locacionais", ou proximidade dos mercados (RICARDO, 1982, p. 66). Os produtores que 
se localizam mais próximos do mercado auferem uma renda locacional, ou renda de 
situação, uma vez que os preços são determinados nas terras piores e mais distantes dos 
centros urbanos (ver adiante, seção 2.1, Figura 2.1). 
Ao discorrer sobre a teoria das vantagens comparativas do comércio exterior, Ricardo 
reduz as diferentes nações a pontos, abstraindo o elemento espaço ao desconsiderar os 
13 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
13 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
custos de transporte. Toda a ênfase de sua análise recai sobre o custo do fator trabalho. 
Cada país importa o produto que produziria internamente com o maior custo de 
trabalho, exportando aquele de menor custo, independentemente da distância a ser 
percorrida e dos custos de transferência dos produtos entre os países envolvidos no 
comércio internacional (RICARD0, 1982, p. 104). 
Para os economistas clássicos, a mão de obra constitui o fator de produção mais 
importante, junto com o capital. Desse modo, sua localização e a variação espacial dos 
salários afetam a localização ótima da empresa. John Stuart Mill (1806-1873) 
reconheceu, em 1848, que o custo total de produção fica acrescido dos custos de 
transporte, que variam com a distância aos mercados. Ao custo de produção, disse ele, 
"se devem acrescentar os salários dos transportadores, que transportam quaisquer 
objetos e utensílios de produção ao local em que tinham que ser utilizados, e o próprio 
produto ao local em que este deve ser vendido" (MILL, 1983, v. 2, p. 23). No caso da 
transformação de produtos minerais, ou da pesca, o custo total dependerá do 
rendimento da pior mina, ou do pior pesqueiro, e de sua localização (MILL, 1983, v. 2, p. 
37). 
Alfred Marshall e as economias externas 
Alfred Marshall (1842-1924) deu grande destaque ao elemento espaço na análise 
econômica. Lembrou que, historicamente, a atividade econômica tende a se localizar em 
alguns sítios e que as civilizações se desenvolvem com a produção para a exportação 
para os mais distantes centros consumidores: Ele cunhou o termo economias externas 
para designar os benefícios que se originam da concentração da atividade econômica em 
alguns centros (MARSHALL, 1982, v. 1, cap. 10). 
Diferenciou economias externas de economias internas. Estas, sendo as mais típicas as 
economias de escala, decorrem do aumento das quantidades produzidas, da melhoria da 
eficiência produtiva, da melhor organização da produção no nível da empresa. As 
economias externas dependem do desenvolvimento geral da indústria, da concentração 
de empresas interdependentes em uma dada localização. Elas surgem fora da empresa e 
independem de sua ação; constituem vantagens gratuitas que atraem outras atividades, 
promovendo crescimento diferencial em relação a outras localidades (MARSHALL, 1982, 
14 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
14 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
V. 1, p. 231). Essas vantagens podem ser a proximidade de porto ou rio navegável, 
jazidas minerais, terras férteis, disponibilidade de alguma matéria-prima. 
Scitovski (1969) distinguiu as economias externas tecnológicas, que decorrem da 
interdependência entre as atividades econômicas, e as economias externas pecuniárias, 
constituídas por fatores gratuitos e internalizadas pela empresa i. Elas se originam da 
existência prévia de concentração demo gráfica e econômica, representando maior 
disponibilidade de insumos e mão de obra especializada, assim como por infraestrutura, 
podendo levar à concentração industrial. 
A dimensão do mercado local é importante, mas não crucial, quando as economias 
externas são importantes e se o custo de transporte não tiver peso significativo no preço 
final do produto. As indústrias se concentram em torno de vantagens físicas (comoclima, solo, minas, pedreiras, portos), acesso à mão de obra e aos mercados. No passado, 
algumas aldeias se especializaram na produção de rodas para carroças, carrocerias, 
tecidos de lã ou linho, sabão etc. Os flamengos levaram a indústria para a Inglaterra e os 
ofícios originaram-se da Arábia e do Egito. A concentração das empresas facilita a 
difusão do conhecimento técnico e a concentração da mão de obra atrai atividades 
interligadas. A diversificação industrial reduz o custo da mão de obra e eleva a renda 
familiar pelo aumento do emprego e dos salários. Deseconomias externas podem surgir 
pela elevação dos salários e dos aluguéis nas aglomerações urbanas. A expansão da 
demanda de terrenos para habitação, por parte dos trabalhadores, leva as fábricas a se 
instalarem nos "subúrbios das grandes cidades, ou em seus distritos industriais, e nunca 
nas próprias cidades" (MARSHALL, 1982, v. 1, p. 235). 
A concentração das indústrias atrai a mão de obra, além das empresas. As pessoas 
encontram maior flexibilidade de emprego em áreas densamente industrializadas. Maior 
oferta de trabalhadores reduz os salários médios. Porém, à medida que sua demanda 
aumenta, ocorre o contrário. A presença de sindicatos fortes eleva os salários e as 
empresas tendem a procurar áreas novas, não congestionadas, para se implantarem. A 
concorrência entre as empresas também eleva o custo da terra e do trabalho. Há 
concorrência também entre demandantes de terrenos para construção de moradia para 
a classe média e instalação de fábricas e casas comerciais. 
15 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
15 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
As pessoas e as atividades econômicas são induzidas a emigrar para as periferias 
urbanas ou para distritos industriais planejados. O crescimento tende a difundir-se no 
território pelo surgimento de deseconomias nas grandes cidades ou por restrições 
criadas pela legislação antipoluição, que elevam os custos e criam barreiras ao 
crescimento da empresa nos antigos sítios. O desenvolvimento dos meios de 
comunicação e de transporte altera as forças aglomerativas. A abertura de canais e a 
construção de ferrovias, o barateamento dos fretes e a redução do preço de matérias-
primas importadas têm modificado substancialmente as vantagens locacionais nas 
diferentes regiões. 
Novas tecnologias, ao baratear os custos de transporte, alteram os padrões locacionais e 
a distribuição geográfica das atividades econômicas (MARSHALL, 1982, p. 236). Tarifas 
alfandegárias mais brandas de matérias-primas e componentes industrializados 
estimulam a produção industrial em regiões exportadoras. Porém, a liberalização 
abrupta de importações pode arruinar a produção agrícola e industrial de muitas áreas e 
destruir rapidamente o artesanato e atividades mais tradicionais, embora possa 
estimular a modernização da indústria5." Inovações repentinas destroem precocemente 
parte da economia de regiões em desenvolvimento. O desaparecimento de indústrias e a 
redução do nível de emprego, afetando as diferentes regiões e agravando as 
disparidades regionais, têm estimulado os estudos regionais. 
CRISE URBANA E DESEQUILÍBRIOS REGIONAIS 
A partir da década de 1920, multiplicaram-se, nos EUA, trabalhos teóricos e empíricos 
enfatizando o elemento espaço na análise econômica. A razão foi o rápido crescimento 
econômico daquela década e a crise econômica da década seguinte. Os problemas se 
manifestaram de diferentes maneiras, tendo em vista a grande dimensão territorial 
desse país e a rápida expansão da área de influência das grandes indústrias, que trazia a 
necessidade de integração dos mercados. As populações se deslocaram do Leste para o 
Oeste, em direção do Oceano Pacífico, em busca de novas terras para serem colonizadas. 
O desemprego das grandes cidades, a busca do ouro e o espírito aventureiro 
determinaram a ocupação do Oeste americano. As produções agrícolas demandavam 
 
5 No final do século XIX, a política livre-cambista inglesa levou a importações crescentes de alimentos e matérias-primas mais 
baratas, que afetaram a produção agrícola das áreas menos férteis e menos desenvolvidas, liberando mão de obra para as cidades e 
as colônias britânicas, o que alterou os padrões locacionais e a distribuição geográfica das indústrias em toda a Inglaterra. 
16 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
16 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
escoamento para os mercados e grandes distâncias precisavam ser vencidas. O espírito 
capitalista e o estoque de conhecimentos determinavam o que produzir; a tecnologia 
ensinava como produzir, mas onde produzir dependia tanto das oportunidades 
oferecidas, como de estudos regionais específicos. 
Porém, as questões o que produzir, como produzir e onde produzir estão intimamente 
associadas e, portanto, ligadas a uma dada localização, ao estoque de recursos 
produtivos e aos custos de produção e de comercialização. Uma atividade pode ter 
sucesso em uma região, mas não em outras. Conhecer as razões que levam uma 
atividade ao sucesso ou ao fracasso em determinada área é fundamental para a 
elaboração de políticas regionais de desenvolvimento. Foi o que estimulou as pesquisas 
regionais nos EUA. Em 1927, publicou-se amplo diagnóstico econômico sobre a região 
de New York, no qual um tipo de emprego seria básico (mais tarde identificado como 
setor exportador), por exercer efeito multiplicador sobre o emprego não básico (setor 
de mercado interno) (LANE, 1977, p. 242). 
Em 1944, realizou-se, novamente amplo estudo sobre as condições econômicas da 
região metropolitana de New York. Algumas técnicas de análise regional foram 
desenvolvidas, sobretudo para sanar as dificuldades de obtenção de dados, como o 
quociente de localização (QL), de Homer Hoyt. O QL foi utilizado para estimar as 
exportações regionais por setor. O método consiste em supor que, do ponto de vista da 
demanda local, a participação do emprego da indústria i, no conjunto da indústria 
regional 
( / )i ie e
, é a mesma em relação ao emprego da mesma indústria i do país, no 
conjunto da indústria nacional 
( / )i iE E
. Se a primeira relação for superior à segunda, 
a região será especializada na produção do bem i. O que exceder a relação nacional é 
considerado emprego do setor de exportação. Por exemplo, se [
( / )i ie e
 / 
( / )i iE E
] 
= 1.2, 20% do emprego da indústria i regional está alocado no seu setor exportador; se a 
relação for inferior [
( / )i ie e
 < 
( / )i iE E
], a região será importadora do produto i 
(ANDREWS, 1953). 
A série de 12 artigos publicados por Richard Andrews na revista Land Economics foi 
uma importante resenha dos trabalhos efetuados até então no domínio do 
desenvolvimento regional, sobretudo nos EUA. Nesse país, os problemas raciais e a 
17 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
17 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
marginalidade urbana levaram à expansão dos estudos regionais e urbanos por órgãos 
da administração pública e por diferentes universidades. Observou-se que o centro 
urbano das grandes cidades se deteriorava à medida que as pessoas de mais alta renda e 
as atividades econômicas deslocavam-se para as periferias urbanas, em busca de mais 
espaço e de aluguel mais barato. 
Expandia-se a demanda por meios de transporte mais eficientes (automóveis, grandes 
estradas de fácil acesso) e por construções residenciais em novas áreas. Centros 
comerciais e de serviços foram construídos nessas periferias, contribuindo para o 
declínio do centro tradicional de negócios (CBD - Central Business District). Enquanto 
isso, a população pobre, sobretudo a negra, emigravapara esse centro, aumentando os 
gastos públicos nessas áreas. Ao mesmo tempo, o declínio da arrecadação pública no 
CBD degradava ainda mais a situação econômica e o meio ambiente em tais centros. A 
necessidade de reestruturação das cidades norte-americanas gerou novos estudos de 
natureza espacial, desta vez relacionados com a Economia Urbana. 
Problemas regionais na Europa 
Na Europa, o problema colocava-se de maneira diferente, no sentido da reconstrução 
urbana e industrial das cidades e regiões devastadas pela Segunda Guerra Mundial. Isso 
constituiu um marco importante para o desenvolvimento dos estudos regionais. No 
contexto do Plano Marshall para a reconstrução e o desenvolvimento, emergiram planos 
e estudos sobre desenvolvimento regional. Citam-se os de Rosenstein-Rodan, de 1943, 
para o Sul da Europa, de François Perroux e Jacques Boudeville para a França, de Davin e 
Paelinck para a Bélgica etc (ver SOUZA, 2005)6. 
Em 1950, alguns países europeus ainda permaneciam subdesenvolvidos, como Espanha, 
Portugal, Itália e Grécia. A França caracterizava-se por uma dualidade espacial 
importante, a ponto de surgir, em 1958, o livro Paris e o deserto francês, de J. F. Gravier. 
Detendo 20% da população nacional e a maior parte da atividade industrial, a 
concentração econômica e demográfica em Paris acelerou-se desde a época napoleônica, 
que promoveu a centralização administrativa e política na França (MONOD; 
CASTELBAJAC, 1973, p. 28). 
 
6 Sobre a experiência internacional de planejamento regional, veja CEDEPLAR (2009). 
18 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
18 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
Do mesmo modo, toda a malha rodoviária e ferroviária francesa converge para Paris, 
fato que contribuiu para o gigantismo da região parisiense, com o debilitamento das 
demais regiões. Ao mesmo tempo, após os anos de 1960, havia na França o desejo de 
tornar Paris a capital do Mercado Comum Europeu, o que contribuiu para acelerar a 
concentração demográfica e econômica na capital. Ainda na França, até os anos de 1950, 
havia problemas típicos de subdesenvolvimento, como fraca industrialização e 
subemprego em algumas regiões, como na Bretanha (oeste). Essa debilidade econômica 
resultava, em parte, da pobreza energética e mineral do subsolo e do distanciamento e 
isolamento em relação à metrópole nacional. Exceto Rennes, com alguma 
industrialização junto ao complexo portuário, as demais cidades da Bretanha com mais 
de 30 mil habitantes até há pouco tempo ainda viviam da pesca, da cultura de trigo e da 
pecuária extensiva. 
Na Alemanha, o vale do Ruhr, com sua rica bacia carbonifera, que gerou um dos maiores 
polos industriais do mundo, apresentava, nos anos de 1950 um desenvolvimento 
bastante superior ao das demais regiões do país, como de toda a Europa. 
Na Itália, a pobreza do Mezzogiorno (sul) demandava uma ação efetiva das autoridades 
governamentais para reduzir o desemprego. Em 1951, o Mezzogiorno tinha uma renda 
per capita de US$ 200, contra US$ 500 para o nordeste, sendo US$ 320 a média nacional 
italiana. Sua economia era composta, basicamente, por uma agricultura de baixa 
produtividade e uma indústria incipiente e atrasada (têxtil, metalurgia, papel e minerais 
não metálicos) (CHENERY, 1969, p. 671). Em função disso, foi criada, em 1950 a Cassa 
per il Mezzogiomo, que, durante o Plano Vanoni (1955/65), gastou US$ 6,5 bilhões para 
criar novos empregos na região, tanto na agricultura (aquedutos, irrigação, drenagem) e 
infraestrutura (estradas, petróleo, gás, energia elétrica), como em indústrias modernas 
(petroquímica, através de incentivos fiscais), educação e turismo (MONOD; 
CASTELBAJAC, 1973, p. 8). 
Para os economistas e planejadores regionais europeus, estava bem viva a experiência 
norte-americana bem-sucedida de planejamento regional no vale do rio Tennessee, 
através da Tennessee Valley Authority (TVA). Essa agência foi criada após a crise de 
1929, com o fim específico de desenvolver a região. Em 1933, sua tarefa consistia em 
aproveitar melhor os recursos hidráulicos do rio Tennessee e atender melhor a 
19 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
19 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
população de suas margens. Foram implantados grandes projetos de irrigação e de 
combate à erosão do solo; novas indústrias surgiram em todo o vale do rio Tennessee, 
utilizando a energia hidráulica gerada na própria região (MCKINLEY, 1969, p. 555). 
Surgimento de novas teorias 
A concentração industrial em Paris e no vale do Ruhr e o aumento das desigualdades 
regionais inspiravam os economistas. Em um artigo de 1955, François Perroux mostrou 
que o crescimento econômico não aparece em toda a parte ao mesmo tempo, mas surge 
em alguns pontos ou polos de crescimento, para difundir-se posteriormente por toda a 
economia. A partir dessa interpretação espacial do crescimento econômico, surgiram 
inúmeros trabalhos na França e na Bélgica sobre estratégias de industrialização de 
regiões. A abordagem teórica subjacente é a do modelo de relações intersetoriais de 
Leontief, que fornece a noção derivada de polarização técnica, onde predomina uma 
indústria motriz, exercendo relações de dominação em relação às atividades satélites ou 
subcontratadas. A aplicação dos investimentos nas indústrias-chave maximiza os efeitos 
de encadeamento do crescimento em toda a economia; eles se difundem no território 
sobre outras indústrias através das relações interindustriais. Desse modo, o crescimento 
do mercado no interior de um país ocorre por concentração econômica em pontos de 
crescimento, de onde se irradiam fluxos de bens e serviços em todo o território nacional 
(PERROUX, 1977, p. 155). 
Boudeville (1972) e Paelinck, entre outros, seguiram essa linha de pesquisa, estudando 
particularmente as regiões da França e da Bélgica. A região belga de Liege, área de antiga 
industrialização, baseada no carvão e na metalurgia, prestou-se ao desenvolvimento da 
teoria dos polos de crescimento por apresentar problemas de debilidade estrutural de 
longo prazo. Ela precisou ser reconvertida à medida que surgiam indústrias mais 
modernas em outras regiões (PAELINCK, 1977, p. 159). 
Nos EUA, destacaram-se, ainda, os trabalhos de Walter Isard relacionados com a 
economia dos transportes, a análise inter-regional de insumo-produto e os estudos do 
impacto regional da indústria siderúrgica (HOOVER, 1955, p. 239). Em sua obra 
Localização e espaço econômico, Isard segue a tradição weberiana que enfatiza a 
importância dos custos de transporte na localização industrial. Sua contribuição foi ter 
20 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
20 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
considerado o transporte como um insumo, definido "como o movimento de uma unidade 
de peso por unidade de distância" (ISARD, 1956a, p. 79). 
Embora tenham sido criadas agências de desenvolvimento regional, como a Tennessee 
Valley Authority, nos EUA, a Cassa per il Mezzogiorno, na Itália, e a Superintendência do 
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) no Brasil, com a concessão de incentivos 
fiscais para a implantação de novas atividades nas regiões deprimidas respectivas, além 
dos investimentos diretos efetuados pelos governos nessas áreas, o crescimento 
regional ainda continua efetuando-se de forma desigual, persistindo, portanto, os 
desequilíbrios regionais da renda per capita, com fortes fluxos migratórios para as 
regiões mais ricas. 
Apesar das análises de grandes economistas como Adam Smith e Marshall, como de 
economistas da linha espacial, como Von Thünen, Weber e Lôsch, a análise econômica 
tradicional, de modo geral, prescindiudo fator espaço. Os modelos econômicos têm sido 
elaborados a partir de suposições como localização ótima da população e da atividade 
econômica, custos de transporte negligenciáveis e distâncias nulas. A região é 
considerada como um ponto abstrato e só existe o mercado nacional. As nações 
comercializam entre si e no interior de cada uma delas somente há um mercado onde 
interagem a oferta e a demanda, determinando o preço de equilíbrio para um produto 
específico, o qual irá competir no mercado internacional com os preços dos mesmos 
produtos, formados no contexto de outras economias nacionais, igualmente 
consideradas como pontos. 
A análise territorial começou a ganhar espaço com o agravamento dos desequilíbrios 
regionais. As crises produzem efeitos diferenciados no território. Em algumas regiões, o 
desemprego pode ser muito maior do que em outras, demandando intervenção 
governamental diferenciada. Na Grã-Bretanha, nos anos de 1930, o desemprego foi de 
32% nas regiões de Liverpool e de Manchester e de 38% nas de Newcastle e de Glasgow. 
Após a recuperação, o crescimento do emprego industrial foi bastante desigual, com 
alguns centros se consolidando como polos, enquanto, em outras regiões, a indústria 
tornava-se obsoleta, necessitando de reconversão. Entre 1931 e 1951, o emprego 
industrial se expandiu 15% na região de Birmingham e 40% na Região Metropolitana de 
Londres (PERRIN, 1974, p. 128). 
21 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
21 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
O desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicações e da informática, assim 
como a descoberta de novos materiais, tem tornado a localização industrial mais livre. A 
globalização da economia tem levado à industrialização de novos países e de regiões no 
interior das nações em desenvolvimento. Em regiões tradicionalmente mais pobres, 
como o Nordeste brasileiro, a expansão das atividades turísticas, da fruticultura, da 
agricultura irrigada e de agroindústrias tem lançado novas esperanças no sentido de 
melhorar as condições de vida das populações dessas áreas. 
Intensos fluxos migratórios ainda persistem em direção do Sudeste do Brasil. 
Diferenciais de salários e melhores condições de vida nessa região, assim como as secas 
frequentes e o desemprego no Nordeste, explicam essa mobilidade inter-regional do 
fator trabalho. A emergência de novos centros dinâmicos de crescimento no interior das 
regiões brasileiras tem aumentado o interesse pela análise regional no Brasil. 
NOÇÕES DE ESPAÇO E DE REGIÃO 
Uma região forma uma identidade, apresentando características semelhantes; ela se 
apresenta como um campo de forças, atraindo unidades econômicas e organizando todo 
o território à sua proximidade. Definida provisoriamente como um subespaço do 
território nacional, a região se relaciona com outras regiões, incluindo o exterior do país 
em que está inserida. Existem forças internas explicando a dinâmica regional e forças 
externas, tais como afluxos de renda provenientes de suas exportações, investimentos 
do exterior, gastos do governo central, dispêndios de turistas etc. 
Segundo Isard (1956b), a região não pode ser estudada apenas do ponto de vista 
econômico; é preciso englobarem também aspectos demográficos, sociais e tecnológicos. 
Ele propõe abordar a região sob um enfoque multidisciplinar (pela Ciência Regional) e 
por sua base espacial, onde interagem vários elementos. Para ele, cada região tem 
"essência própria"; para ser apreendida, necessita-se de abordagem eclética. Ela não 
pode ser definida isoladamente, mas levando-se em conta sua inserção no país e no 
mundo, além de sua estrutura interna. Fica implícita a ideia de hierarquia, polarização, 
funcionalidade e dinâmica: as fronteiras regionais mudam com o tempo, ao se alterarem 
a estrutura interna e a ordem hierárquica. 
O conceito de região é o mais flexível possível, dentro de dois extremos. De um lado, a 
noção de região desaparece, para ceder lugar à noção de organização espacial; e, de 
22 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
22 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
outro, a região fica definida em termos de um problema específico a ser tratado, em um 
dado momento. Como os problemas estão interligados, a análise precisa considerar o 
conjunto de regiões, voltando-se à ideia de hierarquia e de funcionalidade (ISARD, 
1956b, p. 21). 
Noção de espaço 
A ideia de espaço se diferencia da noção de região pela restrição de contiguidade. A 
região, necessariamente, precisa ser constituída por um território contínuo, delimitado 
por uma fronteira. O espaço econômico pode ter descontinuidades. O espaço econômico 
de um centro urbano-industrial, por exemplo, ultrapassa as fronteiras político-
administrativas daquilo que se poderia denominar de região do referido centro. Da 
mesma forma, o espaço econômico da metrópole paulistana ultrapassa as fronteiras do 
Estado de São Paulo, atingindo outras regiões e países. Esse território apresenta-se 
descontínuo porque intercala a área de influência de outros polos urbano-industriais, 
como os do Rio de Janeiro, Belo Horizonte ou Curitiba. 
O espaço pode ser visto através de três noções: geográfico, matemático e econômico 
(BOUDEVILLE, 1972, p. 15). O espaço geográfico diz respeito às condições naturais de 
solo, clima e de acessibilidade aos homens, sem considerações técnicas ou econômicas. O 
espaço matemático compreende as relações técnicas de variáveis econômicas, 
independentes de considerações geográficas. Constituem exemplos as relações técnicas 
entre indústrias, no interior de uma matriz de insumo-produto. Elas formam complexos 
interligados, direta e indiretamente, com uma ou mais indústrias intermediárias, 
compradoras ou vendedoras, como se observa na Figura 1. 
Figura 1 
 
Figura 1 Matriz de acessibilidade técnica e o dígrafo associado. 
23 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
23 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
 
Nessa figura, tem-se um dígrafo associado a uma matriz de acessibilidade técnica entre 
seis setores de atividade. O algarismo 1 indica a existência de ligação ou acessibilidade 
técnica entre os dois setores envolvidos. Nessa matriz, o setor A mantém relações de 
insumo-produto com os setores B e C, tanto pelas compras de insumos (ligação em 
coluna, ou para trás), como pelas vendas (ligação em linha, ou para frente). Por 
definição, todo setor é acessível a si próprio (a diagonal principal é unitária). O zero 
indica que os setores não possuem ligações significativas (acima de um valor 
considerado mínimo), ou nenhum relacionamento de insumo-produto. 
O espaço econômico, por seu turno, diz respeito à localização de tais relações técnicas em 
uma área geográfica, compreendendo também as relações de comportamento de 
produtores e consumidores (BOUDEVILLE, 1972, p. 17). Na Figura 1, a matriz de 
acessibilidade técnica, constituindo um espaço matemático, informa apenas a 
possibilidade de existirem relações entre os setores, sem qualquer referência a uma área 
geográfica. Haverá espaço econômico quando tais relações de insumo-produto forem 
concretizadas em um dado espaço geográfico. 
Do ponto de vista geográfico, "o espaço é percebido como uma distância, logo, como um 
elemento de custo" (MORAN, in PONSARD, 1966, p. 63). O espaço como distância tem 
sido tratado no quadro da teoria da localização da atividade econômica. No 
Desenvolvimento Regional, o elemento espaço vem sendo considerado mais como 
superfície do que como distância, porque sua abordagem ultrapassa o aporte da teoria 
da localização. 
A superfície espacial nem sempre se apresenta de forma homogênea e contínua. Seus 
elementos constitutivos possuem descontinuidades(terra/água, zona agrícola/zona 
imprópria para a agricultura, área urbana/área rural). Desse modo, o território pode ser 
concebido também como um conjunto de lugares, ou pontos, como centros de produção 
diferenciados, onde se materializam custos e preços. Como resultado, cada lugar 
apresentará vantagens locacionais específicas para determinada atividade. O progresso 
técnico, a legislação e modificações no estoque de recursos podem alterar as localizações 
ótimas em cada ponto do território (MORAN, in PONSARD, 1966, p. 69). 
24 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
24 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
Diferentes concepções de região 
Os economistas não chegaram a uma definição precisa de região, mas a noções, 
centradas na restrição de contiguidade e na existência de um espaço geográfico básico, 
que é o território nacional. Boudeville (1972, p. 30) estabeleceu as noções de região 
homogênea, região polarizada e de região-plano. A região homogênea caracteriza-se pela 
semelhança de suas unidades componentes, como topografia, relevo, tipo de solo, clima 
ou características econômicas, como uniformidade da renda per capita ou tipo de 
atividade econômica predominante. Sua delimitação centra-se também na questão do 
tamanho desejado para a unidade de análise. O território nacional pode, portanto, ser 
decomposto em uma ou muitas regiões, segundo sua homogeneidade. 
A região polarizada determina-se a partir de um polo urbano-industrial que organiza 
sua área de influência. Está implícita a noção de hierarquia entre o polo principal, sede 
da região, e os centros ou polos secundários subordinados, de dimensões variadas. Ela 
constitui "um espaço heterogêneo, cujas diversas partes possuem um caráter 
complementar e mantém de maneira principal, com um polo dominante, volume maior de 
trocas do que com qualquer outro polo de mesma ordem dominando uma região vizinha" 
(BOUDEVILLE, 1972, p. 31). 
Um tipo particular de região polarizada é o de região metropolitana, com características 
e problemas específicos. As atividades industriais tendem a emigrar para a periferia da 
região urbana e os serviços especializados concentram-se no centro urbano tradicional7. 
A acessibilidade declina do centro para a periferia, assim como o valor dos aluguéis e o 
preço dos terrenos. Exceções ficam por conta da degradação do centro urbano 
tradicional de negócios e do surgimento de centros secundários de atividades (shopping 
centers) e de zonas residenciais com elevada densidade demográfica em determinados 
bairros. A região metropolitana pode ser formada, portanto, por núcleos demográficos e 
econômicos secundários, definindo subáreas de influência8. 
A região-plano pode ser homogênea ou polarizada e está afetada a um problema 
específico, como secas ou nível de pobreza. Como exemplo, têm-se as regiões: Nordeste, 
 
7 Na literatura, CBD (Central Business District), onde são máximos os aluguéis e os preços dos terrenos, bem como a acessibilidade 
aos bens, serviços e empregos por parte dos consumidores, empresas e trabalhadores. 
8 Os problemas específicos do interior da região-cidade, como localização das atividades econômicas, localização residencial, 
renovação urbana etc., são tratados pela Economia Urbana. A Economia Regional ocupa-se das relações entre os centros urbanos-
industriais, com sua área de influência, e as demais regiões do sistema nacional. 
25 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
25 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
no Brasil, vale do Tennessee, nos EUA, Bretanha, no oeste da França, e Mezzogiorno, no 
sul da Itália. A característica fundamental da região-plano é ser objeto de políticas 
regionais de desenvolvimento, visando reduzir a disparidade de sua renda em relação a 
outras regiões do país, criar novos empregos, aproveitar melhor a disponibilidade local 
de recursos naturais, melhorar os indicadores sociais, atacar diretamente bolsões de 
pobreza etc. Para atingir esses objetivos, no conjunto do país, o governo pode 
estabelecer uma política de regionalização do gasto público, conceder incentivos fiscais 
e criar mecanismos de planejamento, financiamento e execução de programas regionais 
de desenvolvimento. 
Dificuldades do conceito de região 
A primeira dificuldade do conceito de região reside na delimitação precisa das fronteiras 
regionais, que não coincidem, necessariamente, com as fronteiras administrativas 
adotadas pelo setor público. Independentemente disso, uma ambiguidade importante 
em relação à delimitação de uma região decorre do fato de seu tamanho ser variável de 
uma zona com um pequeno núcleo populacional, incluindo sua área de influência, a um 
vasto território envolvendo vários países no interior de um mesmo continente. Como 
exemplo, tem-se a região amazônica (homogênea por suas características), que engloba 
vários países, e a região de Palomas, em Livramento, no Rio Grande do Sul, caracterizada 
por um microclima europeu, propício à produção de vinhos finos. 
Fica claro, em muitos casos, que o conceito de região depende da escala e do tipo de 
questão a ser estudada. De outra parte, o tamanho da região, no interior de um país, vai 
definir o número de regiões de estudo ou de planejamento. Conforme o objetivo, pode 
ser mais conveniente trabalhar com um número limitado de regiões; em outros casos, há 
necessidade de diminuir a área, o que implica o aumento do número de regiões. No 
Brasil, utilizam-se os conceitos de macrorregião (Sudeste, Nordeste, Norte, Sul e Centro-
Oeste), mesorregião e microrregião, esta composta por certo número de Municípios. 
Uma mesorregião se constitui por um conjunto de microrregiões, definidas segundo sua 
homogeneidade ou estrutura produtiva. Entre as mesorregiões e as macrorregiões, têm-
se as Unidades da Federação, que são os Estados brasileiros. 
Uma segunda dificuldade do conceito de região é a restrição da contiguidade: o território 
regional deve ser contínuo e não intercalado pelo território de outras regiões. Desse 
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26 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
modo, seguindo determinadas características homogêneas ou de subordinação, uma 
área será alo cada a uma dada região desde que seu território seja contíguo a tal região. 
Uma terceira dificuldade na determinação das fronteiras regionais diz respeito à sua 
dinâmica. As rendas per capita das regiões mudam; cada território geralmente apresenta 
crescimento diferenciado; a estrutura urbana e os meios de transporte modificam-se no 
processo de desenvolvimento, enfraquecendo a importância do conceito de região. 
Por causa dessas dificuldades, a noção de região vem perdendo importância na 
literatura; os autores têm preferido a noção mais neutra de espaço. O espaço econômico 
de um determinado polo urbano-industrial normalmente ultrapassa as fronteiras 
regionais, constituindo, portanto, uma noção com uma conotação dinâmica. O território 
polarizado por determinado polo varia de extensão em função de sua taxa de 
crescimento econômico e nível de desenvolvimento. A redução das distâncias pelo 
desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicações tende a expandir o espaço 
econômico das regiões. O aumento da área de influência do polo urbano-industrial 
uniformiza os espaços no longo prazo, quando se reduzem as disparidades regionais. 
Uma força de expansão regional é a base exportadora que aumenta a integração entre 
áreas, pelas trocas inter-regionais. Nesse sentido, a região pode ser definida em função 
de sua base de exportação, ou estrutura produtiva característica, que introduz um 
elemento de uniformidade para a área em questão. Isso foi propostopor Vining (1949, p. 
90), pois "uma comunidade parece ser organizada em torno de sua indústria de 
exportação". Ele sugere que as indústrias exportadoras determinam tanto a estrutura 
econômica e demo gráfica, como o crescimento regional. A ênfase nessas indústrias 
baseia-se nas ligações interindustriais no território, que afetam as estruturas 
econômicas e as concentrações demográficas. A economia nacional integra-se 
espacialmente por intermédio de um conjunto de empresas interdependentes, que 
movimentam bens e serviços no território. 
Em suma, toda a região organiza-se em torno de um ou mais artigos que produz e 
"exporta" para outras regiões do sistema nacional e para o exterior. Com a renda gerada, 
a população gastará suas rendas nos centros urbanos, gerando emprego e renda nas 
atividades de mercado local, comércio e serviços. Na ausência de um produto dinâmico 
27 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
27 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
de "exportação", a região será sem dinamismo e vitalidade, apresentando um marasmo 
vegetativo secular. 
Hierarquia e tamanho dos centros urbanos 
Não se pode falar de região sem considerar os centros urbanos, sua população e 
atividades econômicas vinculadas a uma dada localização. No que diz respeito aos 
diferentes centros urbanos de um dado país, haveria uma relação empírica, segundo a 
qual o tamanho de uma dada cidade guardaria uma relação com o tamanho da maior 
cidade do país, de sorte que: 
1 /
n
rr P P
, 
Onde: r seria a ordem da cidade na hierarquia urbana, P1 a população da principal 
cidade do país, Pr a população da cidade de classe r e n uma constante. Para os Estados 
Unidos, a constante n calculada aproxima-se de 1, de sorte que a população da segunda 
cidade (Chicago, r = 2) aproxima-se da metade da população de New York, a maior 
cidade; a terceira cidade (Los Angeles), a um terço; a quarta (Filadélfia), a um quarto; a 
quinta (Detroit), a um quinto; a sexta (Boston), a um sexto e assim por diante. A cidade 
da classe m da hierarquia urbana teria uma população correspondente a 1/m da 
população da maior cidade do país, de sorte que a população urbana nacional total (Pu) 
seria igual a (DERICKE, 1970, p. 70): 
1 1 1 1( / 2) ( / 3) ... ( / )uP P P P P m    
 
O tamanho de uma dada cidade não é inteiramente independente da rede urbana total e 
cada região engloba uma cidade ou um grupo de cidades, com suas respectivas áreas 
rurais de influência. A noção de região aparece vinculada à noção de fluxos comerciais 
no território. Os habitantes das áreas rurais depositam suas rendas nos bancos 
localizados na cidade próxima, os quais distribuem os depósitos junto às matrizes 
localizadas nos centros urbanos superiores da hierarquia urbana. 
Da mesma forma, as pessoas das áreas rurais e das pequenas cidades do interior gastam 
suas rendas na aquisição de bens e serviços seguindo a hierarquia urbana: bens de 
primeira necessidade, ferramentas e máquinas agrícolas junto ao povoado; bens de 
consumo duráveis nas cidades maiores e assim por diante. 
28 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
28 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
Visão de Walter Isard 
Os fatores que levam as pessoas e as atividades econômicas a se concentrarem em 
determinados lugares ou a se dispersarem com o tempo são variados, englobando 
disponibilidade de recursos naturais, mudanças no meio ambiente, como erosão dos 
solos, crescimento demográfico e fatos econômicos provocados por flutuações de 
demanda e inovações tecnológicas. Segundo Isard (1956a, cap. 1), a sociedade estaria 
em um processo contínuo de ajustamento, procurando chegar a uma condição de ótimo 
global. Os núcleos urbanos crescem por forças centrípetas, gerando retornos crescentes 
à escala, pelas economias de aglomeração; no longo prazo, surgem forças centrífugas, 
retornos decrescentes no uso da terra e deseconomias externas. 
Esses deslocamentos de populações e das atividades econômicas ocorrem segundo os 
meios de transporte, a dotação de recursos naturais e a distribuição da população já 
existente nas áreas periféricas. Quando se torna econômica a exploração de recursos, 
como uma mina de carvão, ou uma jazida de cobre, a infraestrutura de transportes 
procura se adaptar, com a abertura de novas estradas, construção de pontes, melhorias 
de portos etc. A estrutura regional então se altera, assim como os fatores locacionais, o 
que provocará novas mudanças no futuro próximo (ISARD, 1956a, cap. 1). 
Além desses processos básicos de desenvolvimento regional, Isard aponta algumas 
questões fundamentais da formação econômica de uma região. No início desse processo, 
a produção agrícola regional ocorre segundo o modelo de Thünen, isto é, por círculos 
concêntricos em relação ao mercado central e levando em conta a distância e os custos 
de transporte dos produtos agrícolas. A região exporta produtos agrícolas, minérios, 
recursos florestais e produtos da pesca; ao mesmo tempo, ela importa bens 
manufaturados. A conjugação de fatores naturais e de natureza cultural levam a região a 
iniciar um processo de industrialização, principalmente junto a portos ou centros de 
exportação. O processo se expande para outras áreas da região, segundo os meios de 
transporte, como hidrovias, ferrovias, rodovias e segundo a densidade demográfica 
existente (ISARD, 1956b, p. 9). 
O prosseguimento da industrialização e o atendimento das necessidades que ela cria 
engendram novos fatores locacionais, o que atrai novas indústrias para a área. A 
disponibilidade de mão de obra feminina e jovem atrai a indústria têxtil. 
29 Economia Regional e Urbana: textos selecionados 
 
29 Fábio Costa e Anderson Costa 
 
Posteriormente, inovações tecnológicas, como mecanização e desmembramento do 
processo produtivo, bem como economias e deseconomias externas, alteram o padrão 
locacional das indústrias. 
Surge o problema da relocalização da atividade econômica à medida que se altera a 
estrutura hierárquica dos centros urbanos regionais. Economias externas surgem em 
centros intermediários pela implantação de infraestrutura e crescimento demográfico, 
enquanto o centro urbano principal da região especializa-se em atividades comerciais e 
de prestação de serviços. Novas indústrias continuam concentrando-se no centro 
principal enquanto não emergirem as questões relativas a poluição, congestionamento e 
elevação dos preços dos terrenos e da mão de obra. Com o tempo, o surgimento de 
centros comerciais e de serviços nos núcleos menores da periferia tende a ser 
acompanhado por indústrias, gerando forças desaglomerativas em relação à área 
central. Nesse estágio, a região tende a apresentar um crescimento polinuclear e 
despolarizado. 
Nesse contexto, Isard salienta três abordagens teóricas possíveis de análise regional. A 
primeira envolve uma teoria mais geral dos estoques de recursos, onde a teoria de Von 
Thünen se enquadra em um primeiro estágio de desenvolvimento. Têm-se um mercado 
central e uma área rural circundante, de fertilidade uniforme, usando as mesmas 
técnicas, com fácil acesso em todas as direções, ligando as áreas produtoras agrícolas ao 
núcleo populacional (ISARD, 1956b, p. 15). 
A segunda abordagem segue as abstrações puras de Lösch. Podem ser relaxadas as 
hipóteses de dispersão uniforme da população, igualdade na distribuição espacial dos 
recursos e a existência de um número infinito de rotas de transporte. Havendo 
diferenças na distribuição da população e dos recursos, surgirão economias de escala e 
de aglomeração em algumas áreas. 
Uma terceira abordagem combinaria os esquemas de Thünen-Lösch-Weber. Para 
exemplificar, Isard (1956b, p. 16) imagina

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