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Direito Civil sem estresse Marco Evangelista 3a Ed 2013 1

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Prévia do material em texto

1 
 
 
2 
 
 
Marco Evangelista 
 
 
Direito 
CIVIL 
sem 
estresse! 
3.a edição 
 
Manaus 
2013 
 
 
 
 
3 
 
 
Copyright 2013 © ArkiUltra 
 
O conteúdo desta obra é de responsabilidade do autor, 
proprietário do direito autoral. 
Capa: Sérgio Bemfica 
Ilustrações: Marco Evangelista 
_______________________________________________ 
Evangelista, Marco 
Direito Civil sem estresse! – 3.a edição 
Evangelista – Manaus: 2013 
ISBN 
1. Direito civil 2. Direito civil – Brasil 
I. Título 
CDD-347 
______________________________________________ 
 
Índice para catálogo sistemático: 
1. Direito civil 347 
2. Direito privado 347 
 
www.EvangeBlog.com 
www.ArkiUltra.com 
www.marcoevangelista.com.br 
 
 
4 
 
Aos Evangelistas: 
Antonio 
Zená 
Marcus 
Mariana 
Marcus Filho 
Marina 
Manuela 
 
Sou grato a 
João Freire da Cunha Filho (i.m.) 
Paulo Ferraz (i.m) e Regina Ferraz 
 
Pelo apoio dado ao meu início de carreira na advocacia, em 1998. 
 
 
“Ele não sabia que era impossível, 
foi lá e fez”. 
(anônimo) 
 
5 
 
 
APRESENTAÇÃO DA TERCEIRA EDIÇÃO 
Desde a segunda edição, muitas mudanças ocorreram; algumas drásticas e 
quase inimagináveis, como a possibilidade do divórcio imediato. 
Não houve um só dia sequer sem que eu fosse perguntado sobre quando 
haveria uma nova edição desta obra. 
Soube que o “Sem estresse!” figurava dentre os livros mais emprestados nas 
bibliotecas, incluindo as faculdades onde eu nem ministro aulas. Tudo isso me deu 
a certeza de que eu acertei o alvo: escrever um livro de direito livre de “frescuras 
retóricas”. 
Não temos nem nunca tivemos a pretensão de sermos o melhor ou maior livro 
de direito civil; de saída, temos consciência de nossas limitações cognitivas quanto 
à matéria, mas, já que não tenho o maior ou o melhor livro, teria que ter um 
diferente; foi o que fiz. 
Nesta obra o leitor terá a impressão de que está sentado comigo em uma mesa 
de bar, conversando informalmente sobre os assuntos aqui tratados, sem firulas ou 
sem demonstrações desnecessárias de erudição. 
Costumo dizer aos meus alunos nas faculdades para nunca se prenderem a um 
autor só. Um doutrinador, seja quem for, não tem a verdade; muito menos no 
direito. 
Digo aos alunos para lerem no mínimo três livros sobre cada matéria e que 
formem seu conhecimento pela média do que leem; só assim o direito mantém-se 
em movimento. Todo conhecimento “macaqueado” é burro. 
Atualizei alguns capítulos, reescrevi outros e elaborei alguns novos. 
A forma dos capítulos mudou; todavia, quanto ao conteúdo, a maior mudança 
está no direito de família, que inclusive triplicou de tamanho na nova edição. Ao 
final da obra colocamos uma lista com todos os prazos do Código Civil, compilada 
por nós, para estudo. 
Agora temos um blog (www.EvangeBlog.com) onde podemos postar 
atualizações imediatas; e esta edição é a primeira a ser publicada em formato 
eletrônico, esperando ver no mundo virtual a grande aceitação que teve nas 
livrarias físicas. 
 
APRESENTAÇÃO DA PRIMEIRA EDIÇÃO (2006) 
 
 Esta obra nasceu em sala de aula. 
 Os gráficos que se encontram nesta obra são repetições daqueles criados e 
utilizados por mim ao longo de aulas em cursos superiores e em cursinhos 
preparatórios. 
6 
 
 Os textos são "transcrições" de aulas e dicas que ministrei, igualmente, nas 
classes. 
 Despojados de maiores pretensões, nosso desejo é levar ao leitor o 
conhecimento básico do direito civil brasileiro, o qual esquematizamos e 
explicamos com macetes, gráficos e desenhos elaborados por nós. 
 Esperamos que o leitor assimile o conhecimento aqui transmitido ou fixe 
os que já possui, pois, se "recordar é viver", na área jurídica "recordar é 
sobreviver"! 
Resolvemos quebrar a sisudez tão normalmente vista nos textos jurídicos, 
tornando o direito civil simplificado até onde se faça possível. 
Elucidaremos o texto frio da lei, tornando-o dinâmico para melhor 
compreensão. Não temos pretensão de deitar doutrina ou impor institutos, embora 
não nos olvidemos de marcar nossa opinião em matérias polêmicas que, com o 
advento do Novo Código Civil Brasileiro, apenas começaram. 
Esta obra já nasce sob o espírito do Novo Código Civil, razão pela qual não 
nos prendemos a institutos do código revogado, exceto quando ainda vigentes por 
disposição expressa no novel codex. 
 Estamos abertos a críticas e a sugestões; e desde já agrademos aos alunos 
que, por meio de questionamentos sempre pertinentes, apresentados em sala de 
aula, forçaram-nos, também, a melhorar mais e mais. Aliás, esse é o objetivo deste 
livro: ajudá-lo a melhorar. 
Recomendamos ao leitor manter o código civil à mão durante a leitura da 
obra; e lembramos que dados adicionais podem ser encontramos em nosso site: 
www.marcoevangelista.com.br 
 Boa leitura! 
 
 
7 
 
Sumário 
0 TÓPICOS INICIAIS .............................................................................................. 15 
0.1 DIREITO ............................................................................................... 15 
0.1.1 DIVISÃO DIDÁTICA DO DIREITO .................................................... 16 
0.2 CONCEITO E CONTEÚDO DO DIREITO CIVIL ....................................... 18 
0.3 DIREITO CIVIL E RELAÇÕES JURÍDICAS .............................................. 19 
0.4 PRINCÍPIOS DO DIREITO CIVIL ............................................................ 19 
0.5 FONTES DO DIREITO CIVIL .................................................................. 21 
0.6 LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB) . 23 
0.6.1 A LEI .............................................................................................. 24 
0.6.2 EFICÁCIA DA LEI NO TEMPO ........................................................ 27 
0.6.3 EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO ...................................................... 28 
0.6.4 CONFLITOS DE LEI ...................................................................... 28 
0.6.5 ESTRUTURA DA LEI ..................................................................... 29 
0.6.6 O CÓDIGO CIVIL – SUA HISTÓRIA E CRÍTICAS .............................. 30 
0.7 RELAÇÕES JURÍDICAS......................................................................... 31 
0.8 “ESQUEMA” DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO ....................................... 32 
1 TEORIA GERAL ................................................................................................. 35 
1.1 PESSOAS ............................................................................................. 35 
1.1.2 CONCEITO DE “PESSOA” .............................................................. 35 
1.1.3 PESSOA NATURAL ........................................................................ 35 
1.1.4 PESSOA JURÍDICA .................................................................. 68 
1.2 BENS ................................................................................................. 82 
1.2.1 NOÇÃO DE PATRIMÔNIO ..................................................... 82 
1.2.2 CONCEITO DE “BENS” .......................................................... 82 
1.2.3 CLASSIFICAÇÃO .................................................................... 83 
1.2.4 BEM DE FAMÍLIA .......................................................................... 94 
1.2.5 REGISTRO CIVIL .......................................................................... 95 
1.3 FATOS JURÍDICOS ............................................................................... 96 
1.3.1 ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS ...................................................100 
8 
 
1.3.2 O TEMPO COMO FATO JURÍDICO .............................................. 123 
1.3.3 PROVAS DOS FATOS JURÍDICOS .............................................. 129 
2 OBRIGAÇÕES ................................................................................................... 145 
2.1 TEORIA GERAL .................................................................................. 145 
2.2 ELEMENTOS DAS OBRIGAÇÕES ........................................................ 146 
2.2.1 OBRIGAÇÃO CIVIL E OBRIGAÇÃO NATURAL ............................... 148 
2.3 FONTES DE OBRIGAÇÕES ................................................................. 149 
2.4 CLASSIFICAÇÃO ................................................................................ 149 
2.4.1 CLASSIFICAÇÃO BÁSICA ............................................................. 150 
2.4.2 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ATIVIDADE ..................................... 150 
2.4.3 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO OBJETO ....................................... 153 
2.4.4 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS SUJEITOS .................................. 154 
2.4.5 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO ELEMENTO ACIDENTAL ............... 162 
2.4.6 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À FINALIDADE ................................... 162 
2.4.7 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TEMPO DE CUMPRIMENTO ......... 162 
2.5 TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES .................................................... 163 
2.5.1 CESSÃO DE CRÉDITO ................................................................. 163 
2.5.2 ASSUNÇÃO DE DÍVIDA ................................................................ 165 
2.6 EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES ........................................................... 166 
2.6.1 EXTINÇÃO DIRETA (PAGAMENTO) .............................................. 167 
2.6.2 EXTINÇÃO INDIRETA DAS OBRIGAÇÕES .................................... 174 
2.7 INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES ............................................. 182 
2.7.1 INADIMPLEMENTO RELATIVO (MORA) ....................................... 182 
2.7.3 INADIMPLEMENTO ABSOLUTO .................................................. 185 
2.8 CLÁUSULA PENAL ............................................................................ 187 
2.9 ARRAS (OU SINAL) ........................................................................... 187 
2.10 PAGAMENTO INDEVIDO .................................................................. 188 
2.11 CONCURSO DE CREDORES ........................................................... 189 
2.12 ENRIQUECIMENTO ILÍCITO ............................................................. 189 
3 CONTRATOS ................................................................................................... 192 
9 
 
3.1 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS ................................................... 192 
3.1.2 PRINCÍPIOS CONTRATUAIS ....................................................... 193 
3.1.3 ELEMENTOS DOS CONTRATOS ................................................. 197 
3.1.4 FORMAÇÃO DOS CONTRATOS .................................................. 197 
3.1.5 LUGAR DO CONTRATO .............................................................. 199 
3.1.6 CONTRATOS ENVOLVENDO TERCEIROS .................................. 200 
3.1.7 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS ........................................... 201 
3.1.8 EXTINÇÃO DOS CONTRATOS .................................................... 205 
3.1.9 EVICÇÃO .................................................................................... 206 
3.1.10 VÍCIOS REDIBITÓRIOS ............................................................. 208 
3.1.11 ELABORAÇÃO DE INSTRUMENTOS CONTRATUAIS ................. 210 
3.1.12 INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS ....................................... 210 
3.2 CONTRATOS EM ESPÉCIE ................................................................ 212 
3.2.1 COMPRA E VENDA ..................................................................... 212 
3.2.2 TROCA OU PERMUTA ................................................................ 215 
3.2.3 CONTRATO ESTIMATÓRIO ........................................................ 217 
3.2.4 DOAÇÃO .................................................................................... 217 
3.2.5 LOCAÇÃO .................................................................................. 221 
3.2.6 MÚTUO ...................................................................................... 226 
3.2.7 COMODATO ............................................................................... 226 
3.2.8 PRESTAÇÃO DE SERVIÇO ......................................................... 227 
3.2.9 EMPREITADA ............................................................................. 229 
3.2.10 DEPÓSITO ................................................................................ 230 
3.2.11 MANDATO ................................................................................ 232 
3.2.12 COMISSÃO ............................................................................... 236 
3.2.13 AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO ...................................................... 237 
3.2.14 CORRETAGEM ......................................................................... 237 
3.2.15 TRANSPORTE .......................................................................... 238 
3.2.16 SEGURO .................................................................................. 241 
3.2.17 CONSTITUIÇÃO DE RENDA ...................................................... 245 
3.2.18 JOGO E APOSTA ...................................................................... 246 
3.2.19 FIANÇA..................................................................................... 247 
3.2.20 TRANSAÇÃO ............................................................................ 249 
3.2.21 ARBITRAGEM ........................................................................... 249 
3.3 ATOS UNILATERAIS .......................................................................... 250 
3.3.1 PROMESSA DE RECOMPENSA .................................................. 250 
10 
 
3.3.2 GESTÃO DE NEGÓCIO ............................................................... 250 
3.3.3 TÍTULO AO PORTADOR .............................................................. 251 
4 RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................................................. 253 
4.1 TEORIA GERAL .................................................................................. 253 
4.1.1 FUNÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................... 253 
4.1.2 FONTES GERADORAS DO DEVER DE INDENIZAR ....................... 254 
4.1.3 CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL ....................... 255 
4.1.4 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ............................. 256 
4.2 DEFESAS DE RESPONSABILIDADE CIVIL ......................................... 264 
4.2.1 DEFESAS DIRETAS .................................................................... 264 
4.2.2 DEFESAS INDIRETAS (EXCLUDENTES) ..................................... 265 
4.3 ALGUMAS RESPONSABILIZAÇÕES CIVIS ......................................... 275 
4.3.1 RESPONSABILIDADE DECORRENTE DAS RELAÇÕES DE 
CONSUMO ........................................................................................... 275 
4.3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO .................................... 277 
4.3.3 DANO ESTÉTICO ........................................................................ 280 
4.3.4 RESPONSABILIDADE CIVIL PROFISSIONAL ............................... 281 
4.3.5 RESPONSABILIDADE CIVIL MÉDICA .......................................... 281 
4.3.6 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL ..................................... 282 
4.3.7 DANO NUCLEAR ........................................................................ 284 
4.3.8 RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATOS TERRORISTAS.............. 285 
4.4 RESPONSABILIDADE POR ATO DE TERCEIRO OU FATO DA COISA . 286 
4.4.1 DIREITO DE REGRESSO ............................................................ 288 
4.5 AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS ................................................... 288 
4.6 LIQUIDAÇÃO DO DANO ..................................................................... 288 
4.6.1 ALGUMAS TARIFAÇÕES E PARÂMETROS LEGAIS PARA A 
RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL ................................................................ 289 
4.7 EXECUÇÃO DA REPONSABILIDADE CIVIL ........................................ 292 
4.8 REPARAÇÃO CIVIL PARA PLURALIDADE DE VÍTIMAS ...................... 293 
4.9 AÇÃO CIVIL EX DELICTO .................................................................. 295 
4.10 RESPONSABILIDADE CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS................... 296 
11 
 
4.11 RESPONSABILIDADE CIVIL EM LEIS ESPECIAIS ............................. 297 
5 DIREITOS REAIS (coisas) ................................................................................ 299 
5.1 TEORIA GERAL ................................................................................. 300 
5.2 POSSE .............................................................................................. 300 
5.2.1 TEORIAS DA POSSE .................................................................. 301 
5.2.2 CLASSIFICAÇÃO DA POSSE ...................................................... 302 
5.2.3 AQUISIÇÃO DA POSSE .............................................................. 303 
5.2.4 EFEITOS DA POSSE ................................................................... 303 
5.2.5 PROTEÇÃO DA POSSE .............................................................. 304 
5.2.6 PERDA DA POSSE ..................................................................... 305 
5.3 DIREITOS REAIS ............................................................................... 306 
5.3.1 CLASSIFICAÇÃO ........................................................................ 307 
5.3.2 PRINCÍPIOS DOS DIREITOS REAIS ............................................ 308 
5.3.3 PROPRIEDADE........................................................................... 309 
5.3.3 ENFITEUSE ................................................................................ 330 
5.3.4 SUPERFÍCIE ............................................................................... 331 
5.3.5 USUFRUTO ................................................................................ 332 
5.3.6 USO ............................................................................................. 334 
5.3.7 HABITAÇÃO ................................................................................. 335 
5.3.8 CONCESSÃO (de uso e de moradia) ............................................ 335 
5.3.9 SERVIDÃO ................................................................................. 336 
5.3.10 DIREITOS REAIS DE GARANTIA ............................................... 337 
5.3.11 PROMESSA DE COMPRA E VENDA .......................................... 351 
5.4 DIREITOS DE VIZINHANÇA ............................................................... 351 
5.5 CONDOMÍNIO ................................................................................... 354 
5.5.1 CONDOMÍNIO ORDINÁRIO ......................................................... 355 
5.5.2 CONDOMÍNIO EDILÍCIO .............................................................. 356 
5.6 TUTELA JUDICIAL DOS DIREITOS DAS COISAS ................................ 360 
6 FAMÍLIA ............................................................................................................. 363 
6.1 TEORIA GERAL .................................................................................. 364 
6.1.1 ASPECTOS INICIAIS .................................................................... 364 
6.1.2 TIPOS DE FAMÍLIA ....................................................................... 365 
12 
 
6.2 DIREITO CONVIVENCIAL .................................................................. 366 
6.2.1 CASAMENTO ............................................................................... 366 
6.2.2 UNIÃO ESTÁVEL ........................................................................ 388 
6.2.3 OUTRAS ESPÉCIES DE UNIÃO ................................................... 396 
6.3 DIREITO PARENTAL .......................................................................... 398 
6.3.1 PARENTESCO ............................................................................ 398 
6.3.2 FILIAÇÃO ................................................................................... 402 
6.3.3 PODER FAMILIAR ....................................................................... 413 
6.4 DIREITO ASSISTENCIAL ................................................................... 416 
6.4.1 ALIMENTOS ............................................................................... 416 
6.4.2 TUTELA ...................................................................................... 421 
6.4.3 CURATELA ................................................................................. 422 
6.4.4 GUARDA .................................................................................... 423 
7 SUCESSÕES ..................................................................................................... 425 
7.1 ABERTURA DA SUCESSÃO ................................................................ 426 
7.2 HERDEIROS NECESSÁRIOS............................................................... 426 
7.3 ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA ................................................. 427 
7.3.1 SUCESSÃO DOS DESCENDENTES .............................................. 428 
7.3.2 SUCESSÃO DOS ASCENDENTES ................................................ 429 
7.3.3 SUCESSÃO DO CÔNJUGE ........................................................... 429 
7.3.4 SUCESSÃO DOS COLATERAIS .................................................... 431 
7.4 DIREITO DE REPRESENTAÇÃO .......................................................... 431 
7.5 OS EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO ......................................................... 432 
7.5.1 INDIGNIDADE .............................................................................. 433 
7.5.2 DESERDAÇÃO ............................................................................. 434 
7.6 SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA ............................................................ 435 
7.6.1 QUEM PODE TESTAR .................................................................. 435 
7.6.2 FORMAS DE TESTAMENTO ......................................................... 436 
7.6.3 SUBSTITUIÇÃO TESTAMENTÁRIA ............................................... 437 
7.6.4 QUEM NÃO RECEBE POR TESTAMENTO ................................... 439 
7.6.5 ELABORAÇÃO DO TESTAMENTO ............................................... 439 
7.6.6 REVOGAÇÃO E ROMPIMENTO DO TESTAMENTO ..................... 440 
13 
 
7.7 SUCESSÃO DO COMPANHEIRO ......................................................... 441 
7.8 INVENTÁRIO ....................................................................................... 442 
7.8.1 SONEGADOS ................................................................................... 442 
7.9 PARTILHA ........................................................................................... 443 
7.10 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA .......................................... 445 
7.11 LEGADO ........................................................................................... 445 
7.12 HERANÇA JACENTE E VACANTE ..................................................... 448 
7.13 EXECUÇÃO DO TESTAMENTO ......................................................... 449 
BIBLIOGRAFIA .....................................................................................................451 
ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................. 453 
“Making Of” ............................................................................................................ 455 
O AUTOR: ....................................................................................................... 456 
Apêndice - PRAZOS DO CÓDIGO CIVIL .............................................................. 458 
 
 
14 
 
0 
Tópicos 
Iniciais 
 
Sim! É um capítulo “zero” mesmo! Qual é o problema? ☺ 
15 
 
 
0 TÓPICOS INICIAIS 
Podemos ir diretamente ao assunto e mergulhar nos meandros do Direito Civil, 
certo? Errado! Algum conhecimento prévio se faz necessário antes chegarmos à 
zona-alvo. É por isso que esse capítulo é o “zero”; é quase um resumão de 
“Introdução ao Estudo do Direito”; acredite: o estudo dos institutos formadores da 
ciência jurídica é realmente necessário. 
 
0.1 DIREITO 
O direito, como tudo o que emana da sociedade, muda sempre, o que o torna 
impossível de ser totalmente aprendido por qualquer pessoa, o que não significa 
dizer que não possamos aprendê-lo o suficiente para o que desejamos (para nossa 
vida, para advocacia, para concurso público etc.). 
Em sua conceituação, “direito” é uma das palavras com maior número de 
acepções que se conhece. Você certamente já ouviu: “Tenho direito à liberdade!"; 
“Vou procurar meus direitos!”; “Isso fere o direito!”; “Vou cursar Faculdade de 
Direito!”. Assim, o direito pode significar conjunto de normas, ou o poder de fazer 
algo, ou a faculdade de exigir algo, ou a denominação da ciência jurídica. Um 
conceito simples, que deve ser guardado como carta na manga, é “Direito é o 
conjunto de regras que regulam a vida em sociedade”. Embora esteja incompleto, 
tal conceito não pode ser enquadrado como incorreto, seja por qualquer ângulo que 
se tome a acepção da palavra. 
Portanto direito é conjunto de regras, quer escrita, quer não. Em verdade, tudo 
é regulado por regras. O universo tem suas próprias regras, as “leis físicas” (como a 
lei da gravidade). As regras que nos interessam são as que regulam a vida, mas 
apenas a vida em sociedade, ou seja, a vida em que, no local onde ela se 
desenvolve, existe mais de um indivíduo. Por isso se costuma dizer que onde há 
sociedade, existe o direito. 
O homem tem, sabe-se lá por quê, a estranha vontade de submeter seu 
semelhante a algo; a vontade – oculta ou não – de colocar seus próprios interesses 
acima dos interesses de seu par. Logo já imaginou o inferno que haveria caso não 
existisse um conjunto de regras que colocasse “cada um no seu lugar”? A vida seria 
um inferno! Justamente para que não ocorra tal caos, é que existe o direito, assim 
cada um sabe até onde pode ir; e sabe que, ao menos em tese, está protegido dessa 
“vontade predatória” do seu semelhante. 
No que toca à etimologia, a palavra direito vem do latim directum, que também 
deu origem ao português "directo". Directum, por sua vez, era o particípio passado 
do verbo dirigere, que significa "dirigir" ou "alinhar". Em todas as línguas 
ocidentais, a palavra que designa o direito tem conexão com uma dessas duas 
16 
 
etimologias: right, em inglês, recht, em alemão, diritto, em italiano, derecho, em 
espanhol e droit, em francês; e, em russo, pravo.1 
Essas regras, em que se baseia o direito, são sinônimos de normas. 
Norma é um preceito de conduta (faça/não faça) seguido de sanção (que é um 
castigo, uma reprimenda, expressa na forma “sob pena de...”, “senão...”, “caso 
contrário....”). É a sanção que diferencia uma norma de um mandamento comum. É 
a sanção que nos faz cumprir a norma; serve para incutir no destinatário um medo 
quanto ao não cumprimento da norma; e, quando tal sanção é aplicada, serve de 
exemplo aos súditos para que não incorram em igual comportamento. 
A palavra origina-se do latim norma, que significa “régua”, “esquadro”. Logo 
denota algo que guia uma exatidão. Uma norma é dita jurídica quando a sanção 
contida na norma pode ser imposta pelo Poder Judiciário. Quando a sanção, grave 
ou não, for imposta por outros entes que não provenientes exclusivamente do Poder 
Judiciário, temos uma norma não jurídica. 
Certa vez fui entrevistado em um programa de TV e me perguntaram o que é 
direito; além de responder o que escrevi acima, também reproduzi o dogma de 
Miguel Reale: “É a união de fato, valor e norma.”; misturando filosofia e história 
do direito, poderia também ter respondido o mantra do direito romano, consolidado 
por Ulpiano: “Direito é viver honestamente; não causar dano a outrem; e dar a cada 
um o que lhe é devido.” (honeste vivere; neminem laedere; suum cuique tribuere). 
 
0.1.1 DIVISÃO DIDÁTICA DO DIREITO 
O Direito é um todo unitário. É um instituto uno. Os termos “direito civil”, 
“direito penal” e outros existem apenas para fins de estudo. Para tal finalidade, 
didática, o direito se divide em vários ramos, que se dividem em vários sub-ramos, 
e assim por diante. 
A primeira grande divisão didática do direito é a que divide este em ramo do 
direito público e do direito privado. 
 
1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito ; neste site encontramos que o termo "direito" foi introduzido com 
o sentido atual já na Idade Média, aproximadamente no século IV. A palavra usada pelos romanos 
era ius. Quanto a esta, os filólogos não se entendem. Para alguns, ius se relacionaria com iussum, 
particípio passado do verbo iubere, que quer dizer mandar, ordenar. Para outros, ius estaria ligado a 
iustum, aquilo que é justo, tendo seu radical no védico yos, significando aquilo que é bom. 
17 
 
 
Figura 1 - Direito Público e Privado 
O direito público trata das relações jurídicas em que um dos polos da relação é 
o Estado, no uso de seu poder de império2. É uma relação vertical, com superior e 
subalterno, na qual o superior é o Estado, e o subalterno é o administrado, o 
particular, o súdito do Estado. Como exemplo de ramos do direito público, 
podemos citar o Direito Constitucional, Direito Penal, Direito Tributário, Direito 
Previdenciário, dentre outros. O direito privado trata das relações entre iguais, 
entre pessoas que não apresentam nenhuma ascensão sobre a outra, daí dizermos 
que no direito privado as relações são horizontais, pois todos os sujeitos são 
tratados em pé de igualdade. Nas relações de direito privado, o Estado pode 
participar, mas com igualdade em relação ao polo oposto. Como exemplo de ramos 
do direito privado, citamos o Direito do Trabalho, Direito Empresarial e, como 
exemplo clássico do direito privado, o Direito Civil. 
 
Figura 2 - Estado (para fins didáticos, aqui) 
A um conjunto determinado de regras, chamamos “regime”; assim, podemos 
dizer que tal caso está enquadrado no regime público, no regime de direito privado 
etc. 
Fico incomodado quando, ao ler qualquer livro “moderno” de direito, deparo 
com a new wave de que “não mais existe direito público e privado”, que todo o 
direito privado está permeado de regras públicas e tal. Ora, isso é óbvio! O que não 
 
2 “Poder de império” é a prerrogativa do Estado de fazer valer o interesse público sobre os interesses 
privados, podendo inclusive causar danos aos particulares em nome do interesse público. 
18 
 
fica óbvio é o erro de tais autores: não diferem a divisão de aplicação da 
divisão didática. 
Quanto à aplicação, não existe qualquer divisão entre direito público e privado 
NEM entre qualquer ramo de direito. Por isso o direito tributário precisa do direito 
civil para qualificar alguns fatos geradores; o direito civil precisa do direito 
empresarial,e assim por diante. Nessa acepção, definitivamente, o direito é um 
uno, um todo indivisível. 
Mas, no quesito didático, como explicamos no início do tópico, a divisão não 
só existe, mas também é necessária. Costumo comparar ao estudo do corpo 
humano na faculdade de medicina. Como a “aplicação” é uma só, mas, para ser 
estudada, existe Anatomia I (cabeça), Anatomia II (membros), Anatomia III (tórax) 
e Anatomia III (abdômen). Ah, e dizemos “direito público/privado” para diminuir 
palavras, mas o correto é dizermos RAMO do direito público, RAMO do direito 
privado. 
 
0.2 CONCEITO E CONTEÚDO DO DIREITO CIVIL 
Em algum momento em que se começou a se dividir didaticamente o direito, 
este era apenas “público” e “privado”. Nada mais. O direito privado, portanto, era o 
que regia as relações dentre iguais. Com o tempo, o direito privado foi se 
especializando, gerando outros ramos específicos a partir dele. Assim, do direito 
privado surgiu o direito comercial (depois tendo o nome trocado para empresarial), 
o direito do trabalho e o direito do consumidor – restando ao direito civil, portanto, 
tratar do direito privado não regulado em outros ramos de direito. 
Assim, em sala, conceituamos o direito civil como “o ramo do direito privado 
que regula as relações jurídicas privadas não reguladas por outros ramos do 
direito”. 
Sim, o direito civil é residual mesmo; trata de tudo o que for direito privado, 
e não for estudado por outro ramo. Isso não significa que é um “resto”; ao 
contrário, é bastante abrangente, o que aumenta ainda mais sua importância. 
Penso que a discussão sobre patrimonialização/despatrimonialização, 
constituição ou não do direito civil é pertinente, mas em um momento no qual já se 
conhece a matéria, podendo-se navegar nela com desenvoltura. Acho atécnico e 
cruel tratar de tal assunto quando o aluno ou o leitor ainda está se iniciando na 
matéria. Assim, a título de melhor didática, é sim necessária a divisão entre ramo 
de direito público e privado. O fato é que, como na economia e na história, digo 
que também vige a teoria dos ciclos: acham o direito civil muito patrimonial, então 
gritam para constitucionalizá-lo, até que décadas depois alguém vai achá-lo 
constitucional demais, e bradarão para patrimonializá-lo. 
O direito civil é o mais presente e importante em nossa vida, sem qualquer 
resquício de tendência. Desde as aulas de Civil I, já escuto perguntas sobre família 
19 
 
e sucessões; quando toco em casamento e união estável, então, um terço da sala 
tem perguntas sobre! É a prova de que não se pode separar o direito civil da própria 
vida; já se disse (Miguel Reale) que o Código Civil é a “Constituição das pessoas 
comuns”. Então, seja como estudante, seja como “simples” ser humano, aprenda-o! 
 
Figura 3 - O Código Civil regula toda a sua existência 
 
0.3 DIREITO CIVIL E RELAÇÕES JURÍDICAS 
Tudo no direito civil gira em torno das relações jurídicas. O conceito de 
“relação jurídica” não é difícil. Quando queremos colher uma vantagem ou uma 
utilidade de algo ou de alguém, temos um “interesse”. Quando duas (ou mais) 
pessoas entregam algum sacrifício, abstenção (algo ruim) em troca da satisfação de 
algum interesse (algo bom), temos o conceito de relação. 
“Relação”, portanto, significa “troca de interesses”. Desde que temos a 
cognição formada, lá pela primeira infância, vivemos em relação, com a família, 
com a comunidade, com a escola etc. 
Existem dois tipos de relação, a jurídica e a não jurídica. A “relação não 
jurídica” (também chamada de comum) é aquela em que, se um componente 
descumprir sua parte do acordo, o Poder Judiciário nada poderá fazer para forçar o 
cumprimento ou para punir essa pessoa. Exemplo de relação comum: amizade, 
coleguismo e namoro. Note que, se um amigo trair a confiança do outro, não existe 
ação judicial apta a punir esse mau amigo ou forçá-lo a manter-se confiável. 
Mas pense em uma compra e venda, aluguel, contrato de trabalho: são relações. 
Mas aqui o componente que descumprir sua parte no acordo será forçado ou 
sancionado pelo Poder Judiciário. Assim, uma relação é chamada de “jurídica” 
quando o Poder Judiciário possui algum meio (mediante ação) para forçar o 
cumprimento ou para punir quem descumpriu. 
 
0.4 PRINCÍPIOS DO DIREITO CIVIL 
Princípios são as bases fundamentais sobre as quais se erguem todos os 
conceitos e normas de um instituto. São as diretrizes básicas de uma ciência. Os 
princípios se direcionam ao legislador, orientando a elaboração da norma; ao 
20 
 
julgador, facilitando a hermenêutica das normas; à administração e ao povo em 
geral, como parâmetros de melhor aplicação das normas. O Direito Civil possui 
Princípios Fundamentais; todos os outros princípios eventualmente indicados por 
outros autores decorrem destes. São eles: Princípio da “Circulação de Riquezas”, 
da “Boa-Fé”, da “Função Social”, do “Equilíbrio” e da “Autonomia da Vontade”. 
Princípio da Circulação de Riquezas – O Estado Brasileiro dá a todos os seus 
habitantes a possibilidade de auferir riquezas. Desde que o faça licitamente, não 
existe limite ao montante de riqueza que um indivíduo possa amealhar em nosso 
país. A riqueza (no sentido de patrimônio economicamente valorado), quando em 
circulação, faz nascerem outras riquezas, razão pela qual o ordenamento jurídico 
prestigia a troca de riquezas de mão em mão. Daí o dirigismo legal em simplificar a 
abertura de empresas, a locação de bens e os contratos em geral – passa a ser uma 
garantia ao cidadão de que o Estado interferirá o mínimo necessário para manter a 
justiça social no giro econômico. 
Princípio da Boa-Fé – Não é dado a nenhum sujeito enganar seu semelhante. 
A boa-fé pode ser subjetiva (ou seja, estado de inocência, estado de desconhecer a 
existência de qualquer mácula nas relações jurídicas) ou objetiva (situação em que 
o sujeito deve atuar no sentido de informar, colaborar e diligenciar diretamente 
para a manutenção da transparência nas relações jurídicas). A boa-fé subjetiva deve 
ser inerente a todas as relações jurídicas e sempre se a presume3. E a boa-fé 
objetiva informa os deveres das partes quanto à interpretação dos negócios, quanto 
à contratação e quanto à execução dos negócios. A boa-fé traz deveres principais e 
deveres anexos, o que significa a imposição de conduta honesta e leal nas 
negociações. O código nos traz várias aplicações obrigatórias do dever de boa-fé, a 
saber: boa-fé nos negócios (113), em todos os atos civis (187), na escolha da coisa 
incerta (243), nos contratos (422), na ilicitude que representa sua inobservância 
(927). 
Princípio da Função Social – O individualismo é limitado pelo interesse de 
toda a sociedade. Uma vez que o homem é um animal gregário, ou seja, não vive 
isolado, deve abrir mão de uma parcela de seus interesses particulares para 
prestigiar o interesse do todo, da sociedade. A essa observância do interesse de 
outros indivíduos da sociedade chamamos de Função Social. Nenhuma – 
absolutamente nenhuma – relação jurídica pode existir se trouxer prejuízo à 
sociedade em que está inserida. Logo o todo limita o particular. 
Princípio do Equilíbrio – Todos devem ganhar em uma relação jurídica. Não 
é dado a nenhuma pessoa enriquecer-se em detrimento de outra, ainda que esta 
“vítima” consinta em tal fato, visto que existe um princípio do equilíbrio 
informando a vida civil. 
 
3 Trataremos sobre “presunção” ao estudar as provas no direito civil, em tópico próprio nesta obra. 
21 
 
Princípio da Autonomia da Vontade – O Estado deve interferir nas 
transações privadas o mínimo necessário para a garantia dos demais princípios. Os 
particulares têm a liberdade de fazer e de transacionartudo o que não é proibido. 
Estabeleçamos aqui uma diferença entre o justo, o princípio e a regra. 
O justo nasce da própria consciência. O simples fato da existência da razão, o 
“sapiens”, já faz nascer a ideia de certo e de errado. Essa ideia do justo, quando 
segmentada, nos traz a ideia de princípio; um modo de se comportar para se atingir 
esse princípio chama-se regra. 
Assim... 
▪ O sentimento inato de que viver é bom, importante e valioso para o 
outro tanto quanto o é para você é um instituto justo. 
▪ Admitir, portanto, que todos têm direito à vida é um princípio. 
▪ E obedecer ao mandamento de “não matar” é seguir uma regra. 
 
0.5 FONTES DO DIREITO CIVIL 
“Fonte” é origem; não há muito o que conceituar aqui. Como “do nada, nada 
surge”, o que origina o direito civil? 
Os locais e os pontos que geram direito são chamados de fontes materiais: O 
Estado (mormente o Poder Legislativo), o povo, a história etc... ; os canais 
reconhecidos pelo direito como aptos a gerarem regras são chamados de fontes 
formais. Costumo dizer em sala que “fonte material é de onde; e fonte formal é do 
que”. 
São fontes formais a lei, os princípios, a doutrina etc. Tais fontes se dividem 
em fontes diretas e indiretas. 
A fonte direta (ou principal, ou imediata) é a lei, sendo todas as outras tratadas 
como fontes indiretas (ou secundárias, mediatas etc.). 
Em países onde vige a civil law (países de colonização europeia, exceto países 
colonizados pela Grã-Bretanha), a lei é a principal fonte normativa. Em países de 
common law (Grã-Bretanha e países por ela majoritariamente colonizados), o 
costume e a jurisprudência são as fontes diretas. 
No Brasil (tudo tem que ser mais complicado aqui?), temos um sistema misto 
(civil e common law), visto que jurisprudência, agora, desde que seja súmula 
vinculante, é norma. Trataremos do estudo da lei em capítulo próprio e deixaremos 
o estudo da súmula vinculante para os professores de direito constitucional. 
Tratemos sobre as fontes indiretas – que são usadas, segundo a teoria clássica, 
para suprir a lacuna da lei, para que não haja sentença non liquet, ou seja, que não 
decida o caso, quando o mérito o exigir. 
Costumes são preceitos de conduta seguidos por todos com consciência de 
obrigatoriedade (opinio necessitatis). Logo costume tem um elemento objetivo, que 
é o comportamento; e um elemento subjetivo, que é a consciência de 
22 
 
obrigatoriedade daquele comportamento. O exemplo clássico de costume é a 
“fila” (embora existam leis sobre tempo máximo de fila e sobre atendimento 
prioritário nela, não existe lei determinando que, onde há um servidor para atender 
a mais de um servido, um deva esperar depois do outro!); experimente furar uma 
fila, e a “sanção” virá. O que diferencia costume de hábito é que, neste, não há 
consciência de obrigatoriedade, não há “medo” de alguma sanção social. Um 
costume pode ser secundum legem quando acompanha a lei; pode ser contra legem 
quando contraria a própria lei (por exemplo: ultrapassar sinal vermelho de 
madrugada, com medo de assalto) ou praeter legem quando não existe lei 
normatizando o fato. Um exemplo de costume sendo protegido pela norma é 
encontrado no Artigo 326 do Código, o qual determina que os pesos e as medidas 
praticados em um lugar serão o parâmetro para os pagamentos de obrigações. O 
termo “bons costumes” indica padrões médios de moralidade de uma sociedade. 
Em verdade, o advento de positivar em lei os usos e os costumes não é novo; o 
Código Comercial (Lei n.º 556, de 25 de junho de 1850!), que ainda se encontra em 
vigor quanto à parte do seu comércio marítimo, já trazia: “Art. 750 – Todos os 
casos de abalroação serão decididos, na menor dilação possível, por peritos, que 
julgarão qual dos navios foi o causador do dano, conformando-se com as 
disposições do regulamento do porto e com os usos e as práticas do lugar. No caso 
dos árbitros declararem que não podem julgar com segurança qual navio foi 
culpado, sofrerá cada um o dano que tiver recebido”. 
Princípios Gerais do Direito são institutos que alicerçam o ordenamento 
jurídico. Os princípios informam o legislador, quando da elaboração das leis; 
informam o juiz, quando do julgamento; e devem informar qualquer aplicador ou 
destinatário da lei, quando existe qualquer dúvida quanto à prática desta. 
A Analogia, segundo a LINDB (Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro), seria fonte de direito, mas não o é; é método de integração de norma, 
ou seja, é forma de “tapar buraco” do ordenamento no qual não existe norma para 
tal. Dá-se a analogia quando o caso a ser julgado (sem lei para tal) guarda 
similitude com caso normatizado; nesse caso, utiliza-se a lei do caso normatizado 
para o caso semelhante, não normatizado. Elencamos analogia aqui porque não é 
raro ser considerado correto enquadrar “analogia” como fonte, em algumas provas. 
A analogia diferencia-se da interpretação analógica porque, nesta, a própria lei 
manda ao intérprete completá-la segundo uma orientação da própria lei. No direito 
civil pode existir analogia, em tese, para qualquer situação; no direito penal não se 
aplica analogia para prejudicar o réu. No direito administrativo e no tributário, a 
analogia também encontra suas limitações de uso. Assim, o Artigo 128 do Código 
Penal permite o aborto em caso de estupro. Mas costumo colocar a seguinte 
hipótese, criada por mim, em sala: “E se a mulher for imobilizada, vestida, e 
alguém, mediante uma seringa, injetar material genético em seu ovário?”. Houve 
23 
 
estupro? Não! Mas haverá uma gravidez consentida? Não! – É o caso típico, 
pensamos, de aplicação da analogia para se realizar o “aborto permitido”, praticado 
por médico. 
Doutrina é o conjunto de estudos desenvolvidos por jurisconsultos e 
publicados; tem a grande virtude de deitar soluções para situações nem de longe 
enfrentadas sequer pelo Judiciário, ainda. Entendemos só haver doutrina com 
publicação do texto; ao contrário do que possam pensar, não se precisa ter título ou 
ter nome de peso para ser doutrinador; basta resolver um problema jurídico 
segundo a lógica do direito e tornar tal solução acessível à consulta do público. A 
doutrina se torna especialmente importante pela sua rapidez de elaboração (em 
comparação às outras fontes). Uma ótima fonte de doutrina são os enunciados das 
jornadas de Direito Civil, eventos promovidos pelo Conselho da Justiça Federal, 
com o intuito de, mediante discussões de estudiosos, resolver lacunas e 
anacronismos do “novo” Código. Já ocorreram cinco. Concordamos com quase 
todos os enunciados; alguns dizem alguns absurdos que me pergunto como 
chegaram a conclusões tão malucas! Leia, por exemplo, essa monstruosidade: 
“Enunciado 286 – Art. 52: Os direitos da personalidade são direitos inerentes e 
essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas 
jurídicas titulares de tais direitos”. Aqui e ali encontramos esses delírios, mas 99% 
dos enunciados são dignos de estudo e de aplicação. 
Jurisprudência é o conjunto de julgamentos reiterados por órgãos legitimados 
para tal. Existe uma polêmica sobre ser necessária certa estabilidade nas 
orientações dos julgamentos para que “surja” uma jurisprudência. Somos de 
opinião de que, onde não há julgamento, UM julgamento já é jurisprudência; e, 
com o nascimento, por meio da EC 45 da súmula vinculante, pôs-se pá de cal nessa 
discussão, visto que basta uma súmula vinculante para gerar efeitos em todo o País, 
quando gerada segundo os preceitos daquela emenda. Lembramos que a 
jurisprudência na forma de súmula vinculante já é norma primária, desde a Emenda 
Constitucional 45/2004. 
Brocardos são ditados e máximas tradicionais do mundo jurídico que,se não 
obrigam, orientam algumas situações em que não existe nenhuma das outras fontes 
tratando. Exemplo de brocardos: “O que abunda não prejudica”; “in dubio pro 
reo”; “quem pode o mais pode o menos”, “primeiro no tempo, melhor no direito” 
etc. 
 
0.6 LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB) 
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (“LINDB”, Decreto-Lei 
4.657, de 4 de setembro de 1942) nos ensina sobre obrigatoriedade, integração e 
ciclo de existência da lei. Costumo dizer em sala de aula que o primeiro artigo do 
texto da LINDB deveria ser o seu terceiro, que trata da obrigatoriedade do 
24 
 
conhecimento das leis4; é um enunciado utópico que alega que ninguém pode 
alegar ignorância da lei para deixar de cumpri-la; é o que chamamos de “presunção 
absoluta do conhecimento das leis”. O artigo quarto trata de “tapagem de buracos” 
no ordenamento jurídico quando da aplicação concreta da lei, a saber, mandando o 
juiz aplicar a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito5. É óbvio que 
não existe ordenamento legal perfeito. Ele sempre estará atrasado em relação aos 
fatos. Existem países onde o juiz pode deixar de julgar por não existir lei; são 
sentenças chamadas non liquet; no Brasil, tal não ocorre, pois o juiz deve julgar o 
caso existindo lei ou não. É o artigo quarto que determina os meios de integração 
(suprimento de lacunas) da lei. O artigo quinto da LINDB normatiza sobre 
hermenêutica, temperando a aplicação da lei. Manda que o juiz, em última análise, 
deve adequar a interpretação da lei ao caso concreto, e jamais o contrário, visto que 
enuncia que o julgador deve atender aos fins sociais aos quais a lei se destina. 
A interpretação da lei pode ser gramatical (sentido literal da escrita), 
sistemática (contextual), histórica (de acordo com o momento do nascimento da 
norma) ou teleológica (leva em conta a finalidade da norma). De acordo com a 
extensão da interpretação, esta pode ser declarativa (quando se prende aos exatos 
termos da norma), extensiva (quando a norma disse menos do que desejava o 
legislador) ou restritiva (quando o legislador em verdade quis dizer menos do que 
expressou na norma). 
O sexto artigo da LINDB trata da intocabilidade de alguns efeitos de leis 
revogadas. Esses casos serão tratados nesta obra ao estudarmos sobre o ciclo de 
existência das leis. 
A partir do artigo sétimo, a LINDB traz regras de Direito Internacional, matéria 
fora do objeto de estudo desta obra. 
 
0.6.1 A LEI 
“Lei” é um conceito que possui várias acepções. Enquanto instrumento formal, 
significa norma geral e abstrata oriunda do órgão competente para emiti-la; nessa 
acepção, “lei” incorpora todas as espécies normativas originadas pelo Estado, a 
saber, Constituição, Lei Complementar, Lei Ordinária, Decreto-Lei, Decreto 
Legislativo, Lei Delegada etc. Outra acepção, que não será utilizada nesta obra, 
mas igualmente correta, considera o sentido estritamente técnico da palavra “lei” 
(“lei em sentido estrito”) e considera como tal somente Lei Complementar, Lei 
Ordinária e Lei Delegada. Para uma resposta simples, afirme que “lei” é norma 
jurídica geral e abstrata emanada do Estado”. 
 
4 Em sala de aula, costumamos, ao explicar este artigo, repetir o bordão: “Se ignorância de lei alegar 
/ No Judiciário você vai se ferrar!” 
5 Trataremos sobre tais institutos ao estudar as fontes do direito civil. 
25 
 
Discorrendo um pouco sobre a diferença entre “lei” e “norma”, temos que a lei 
se origina do Estado; origina-se positivamente, ou seja, é posta, é expressa na 
forma escrita, após um procedimento. “Norma”, como já conceituado, é preceito de 
conduta seguido de sanção, seja ou não emanada do Estado. A lei pode ou não 
conter uma norma (já que existem leis meramente explicativas). Os costumes são 
normas jurídicas, mas não são leis. 
Teçamos algo sobre a tríade “codificação/consolidação/estatutos”: A forma 
mais rudimentar de se organizar determinada legislação é por meio de 
consolidação, que nada mais é do que a justaposição das leis, mudando-se somente 
a numeração dos artigos, para que fiquem em sequência. Quando no conjunto de 
normas uma passa a se relacionar com as outras, fazendo nascer um sistema, temos 
um código – um conjunto sistematizado de normas. Leis codificadas são mais 
fáceis de serem aplicadas, ensinadas e aprendidas, pois pertencem a um mesmo 
sistema, o do referido código. Mas, como nem todas as normas são codificadas, tais 
textos extracódigos chamamos de leis esparsas, que formam a legislação esparsa. 
As leis esparsas que tratam de assuntos constantes nos códigos são chamadas de 
leis extravagantes. As leis esparsas que tratam de assuntos não regulados pelos 
códigos são chamadas de leis especiais. O sistema não codificado é formado 
apenas por leis especiais, sem códigos; tem a vantagem de, em sendo menos 
engessado, haver mais normas escritas para maior número de situações, já que leis 
menores tramitam, em tese, mais rapidamente; e um sistema assim está mais 
sintonizado com seu tempo, já que os dogmas se prendem a leis menores. 
Modernamente observamos a profusão de “estatutos”, que são, como costumo dizer 
em sala de aula, “microcódigos”, pois tratam de determinado assunto, agregando 
um caráter principiológico e axiológico (leia-se valorativo) sobre tal assunto. 
0.6.1.1 CICLO DE EXISTÊNCIA DA LEI 
A lei possui um ciclo que, no direito civil, inicia-se com a publicação. 
Lembramos que, para outros ramos do direito, a lei não se inicia necessariamente 
na publicação, visto que o Direito Constitucional, ao estudar o processo 
legislativo6, entende que essa é uma fase da vida da lei anterior à publicação; e 
reconhece a existência da lei a partir da promulgação. 
A publicação é ato pelo qual se dá ao povo o conhecimento da existência de 
uma nova lei. 
 
6 O Processo Legislativo, objeto de estudo do Direito Constitucional, é um procedimento com as 
seguintes fases: alguém legitimado para tal apresenta um Projeto de Lei, que será discutido e votado 
no Congresso Nacional (nas duas casas, chamadas aqui de “casa iniciadora” e “casa revisora”, o 
Projeto de Lei é submetido à sanção ou ao veto do Presidente da República; caso seja sancionado, 
o projeto seguirá para a publicação; caso seja vetado, o projeto voltará ao Poder Legislativo para 
apreciação do veto que, se mantido, implicará o arquivamento do projeto; e, se derrubado, fará o 
projeto seguir para a publicação. 
26 
 
Pode a lei obrigar imediatamente ou não. A obrigatoriedade da lei chama-se 
“vigência” ou “vigor”. A obrigatoriedade será imediata se constar em seu texto 
“esta lei entrará em vigor na data de sua publicação” ou algo parecido. 
Mas pode acontecer de seguir-se à publicação um período e um tempo em que 
a lei ainda não obriga, embora já exista. Tal período é utilizado para que se estude a 
lei e para que o próprio Estado operacionalize a aplicação da lei. Esse período 
chama-se vacatio legis, “vacância da lei”, “vacância legal” ou “período de 
vacância”. Só ao fim desse período tal lei obrigará. Um exemplo é o do próprio 
Código Civil, a Lei n.o 10.406, de 10 de janeiro de 2002, publicada em 11/1/2002, 
que traz em seu Artigo 2.044: “Este Código entrará em vigor 1 (um) ano após a sua 
publicação”. Esse artigo, que descreve a vacatio legis, chamado de “Cláusula de 
vigência”, fez que o novo código civil entrasse em vigor em 11 de janeiro de 2003. 
Pode ser que não conste no texto legal uma cláusula de vigência, nem 
estipulando algum tempo, nem afirmando que vigerá imediatamente. Nesse caso, 
usa-se a “cláusula geral de vigência”, prevista no Artigo primeiro da LINDB,que 
determina que o texto será obrigatório após 45 dias de publicado e, em três meses, 
devrá estar vigente. 
Assim, é importante saber que só se recorre ao Artigo primeiro da LINDB se 
uma lei tiver vacatio legis e se tal vacatio não constar no texto. Além disso, a Lei 
Complementar 95/98 (Lei que trata sobre redação de leis) determina que nenhuma 
lei deve ser redigida sem cláusula de vigência expressa. 
 
0.6.1.2 REVOGAÇÃO 
Uma lei não obriga para sempre. Uma lei, um dia, “morre”. A “morte” da lei 
chama-se “revogação”. Revogação é o término da vigência de uma lei. No Brasil, 
uma lei perde vigência por um dos dois motivos: a própria lei determina seu 
término (são as chamadas leis autorrevogáveis) ou, o que é mais comum, outra lei a 
revoga. A lei revogadora, para que opere tal efeito, precisa ser de hierarquia igual 
ou superior à lei revogada. Essa revogação operada por outra lei pode ocorrer de 
forma expressa ou tácita. 
Na revogação expressa, um dispositivo da norma (“cláusula revocatória”) 
expressamente enuncia que tal lei, ou parte dela, está revogada a partir do início da 
vigência da nova lei. A LC 95/987, em seu Artigo nono, determina que “quando 
necessária a cláusula de revogação, esta deverá indicar expressamente as leis ou 
disposições legais revogadas”. Ora, imagine uma lei, como o Novo Código Civil, 
que revogou total ou parcialmente mais de 20 leis diferentes. Qual legislador se 
dará o trabalho de nomear uma a uma as normas revogadas? Nenhum! Tanto que o 
próprio código novo não o fez! 
 
7 Esta lei trata sobre técnica de elaboração de leis. 
27 
 
A revogação é tácita quando a lei nova não contempla, em seu texto, 
dispositivo revogando a lei anterior, mas regula a mesma matéria de lei anterior, 
porém de forma diversa; ou, por haver incompatibilidade entre a lei nova e a lei 
antiga, esta última “morre”. 
A revogação pode ser ainda total ou parcial (a lei inteira ou apenas dispositivos 
dela); a revogação total chama-se ab-rogação, e a revogação parcial chama-se 
derrogação8. O Novo Código Civil Brasileiro ab-rogou o antigo e derrogou o 
Código Comercial, como se nota pela redação do Artigo 2.045 do codex: 
“Revogam-se a Lei n.o 3.071, de 1.o de janeiro de 1916; o Código Civil e a Parte 
Primeira do Código Comercial, Lei n.o 556, de 25 de junho de 1850”. 
 
0.6.2 EFICÁCIA DA LEI NO TEMPO 
Uma lei, enquanto vige, produz efeitos. Uma vez que a lei é revogada, o que 
ocorre com os efeitos produzidos pela lei revogada? “Morre tudo”? Não. Até para 
que se preserve a estabilidade das relações jurídicas (chamamos a isso “segurança 
jurídica”), uma lei nova mantém incólumes três institutos: ato jurídico perfeito, 
direito adquirido e coisa julgada. 
Ato jurídico perfeito é o ato praticado e de acordo com a lei de seu tempo. Se 
era legal no tempo em que foi praticado, tal ato continuará a ser legal, ainda que lei 
futura mude as condições iniciais para que tal ato seja, agora, praticado. Ou seja, é 
a manutenção da legalidade dos efeitos de um ato cuja prática era legal quando foi 
praticado. 
Direito adquirido é uma opção já possível de ser exercida conforme 
determinada condição exigida em lei. Então o “direito adquirido”, em verdade, é a 
possibilidade de exercer uma opção já adquirida segundo determinada lei. Difere-
se da “expectativa de direito”, uma vez que esta não pode ser exigida, visto que não 
se incorporou ao conjunto de direitos do indivíduo. 
Coisa julgada é a causa judicial da qual não caiba mais recurso. Por três 
motivos: porque a parte se resignou, aceitando a decisão, decidindo não recorrer; 
porque já se esgotaram todos os recursos possíveis para o caso; porque tais 
recursos não foram ajuizados (perda de prazo) ou conhecidos para julgamento 
(falta de regularidade formal, como o não pagamento das custas devidas para o 
recurso, por exemplo); ou ainda porque a parte sucumbente (“a que perdeu”) 
simplesmente resignou-se, ou seja, decidiu não mais recorrer, conformando-se com 
a decisão. 
 
 
8 Memorize o mnemônico TOAPADE , onde: TOtal = Ab-rogação e PArcial = DErrogação 
28 
 
0.6.2.1 REPRISTINAÇÃO 
Muita atenção a esta palavra: “repristinação”. É que se torna comum confundir-
se “repristinação” e “efeito repristinatório”. O parágrafo terceiro do Artigo 
segundo da LINDB determina que “Salvo disposição em contrário, a lei 
revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.” A 
questão é: existe ou não a repristinação no Brasil? O instituto significa “retorno à 
vigência de uma lei revogada, pela revogação da lei revogadora". Mas a LINDB é 
dúbia quanto à existência ou não do instituto no Brasil. Bem, o que não existe no 
Brasil é a repristinação automática (ou implícita, ou tácita), podendo, sim, haver 
o “efeito repristinatório”, também chamado de repristinação expressa ou 
explícita. 
O efeito repristinatório ocorre em duas situações: quando uma lei nova 
expressamente determina que lei antiga, ou parte dela, volte a viger; e, quando uma 
lei é declarada inconstitucional, pode o STF determinar que a lei atingida pela 
recém-inconstitucional lei volte ou não a viger. O problema fica grave quando a 
doutrina começa a se debater. Para parte da doutrina, sequer existe efeito 
repristinatório do Brasil, pois, se uma lei volta a viger por lei nova, se estão tão 
somente cumprindo uma lei nova, a lei antiga continua revogada; o seu conteúdo é 
que voltou à vigência; e, se lei é inconstitucional, não chegou, validamente, a 
existir, nunca tendo revogado, portanto, de fato, alguma outra lei (o que o STF 
modula são os efeitos da vigência da lei inconstitucional; não sua existência ou 
validade). Mas a pergunta permanece: há ou não repristinação no Brasil? Como 
entendemos que repristinação é a volta automática (e não provocada) de lei já 
revogada, simplesmente NÃO existe tal instituto em nosso país. 
 
0.6.3 EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO 
Em regra, a lei brasileira vige no território brasileiro; é a regra da 
territorialidade. Por exceção temos a ultraterritorialidade e intraterritorialidade. 
Ultraterritorialidade (ou extraterritorialidade) é o fenômeno em que a lei brasileira 
tem vigência em território estrangeiro. Intraterritorialidade é a situação na qual lei 
estrangeira vige no território brasileiro. Alguns exemplos de intraterritorialidade 
são encontrados na LINDB, como a sucessão de estrangeiros no Brasil, institutos 
de direito de família e regência de obrigações constituídas em território estrangeiro. 
 
0.6.4 CONFLITOS DE LEI 
O sistema jurídico é um todo unitário, no qual suas peças devem funcionar 
perfeitamente; ainda assim, nada impede que haja conflito pelo fato de existir mais 
de uma norma a regular o mesmo aspecto de um mesmo fato. Norma surge a partir 
de nomos, reta. “Antinomia” é a existência de mais de uma lei regulando um 
mesmo fato. Os casos de antinomia são resolvidos pelos seguintes critérios: 
29 
 
“critério hierárquico”, em que a lei superior prevalece sobre a lei inferior; o critério 
da “especialidade” (ou da “amplitude”), em que a lei especial prevalece sobre a lei 
geral. E o critério “cronológico”, em que a lei posterior prevalece sobre a lei 
anterior. Ainda assim a resolução da antinomia não é pacífica. Quando se chocam 
os princípios da especialização e os cronológicos, há doutrinador que sustente que 
um e outro método devem preponderar sobre o outro. Entendemos que o critério da 
especialidade deve sempre preponderar. Em tempo: a falta de lei chama-se 
“anomia”. 
 
0.6.5 ESTRUTURA DA LEI 
Existe uma regra para a redação das leis. A grafia da lei inicia-se pela epígrafe, 
que indica a espécie normativa,o número e a data da lei; logo depois haverá a 
ementa, que é a indicação do que será tratado na lei. O preâmbulo indica a origem 
da lei e o fundamento do poder para a emissão daquela norma. Segundo a Lei 
Complementar 95, de 26 de fevereiro de 1998 (é esta a norma que regulamenta a 
redação das leis), cada lei deve ter um único objeto. São comuns armadilhas de 
esconder normas em leis que não tratam daquele assunto específico; é a famosa “... 
e dá outras disposições”. Embora o Art. 9.º da LC 95/98 enuncie que “a cláusula de 
revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou as disposições legais 
revogadas”, às vezes isso é impossível, principalmente em leis tributárias, nas quais 
uma lei se refere a dezenas; quando não a centenas de outras leis. 
A estrutura do texto geral da lei é: Parte Livro  Título  Capítulo Seção 
 Subseção. Deixamos claro que o leitor só encontrará todas essas divisões em 
grandes leis, e tal sequência só é fielmente seguida em leis pós-1998. São as 
divisões da lei. 
Temos, então, as unidades normativas. Inicialmente em artigos9, que se 
desdobrarão em parágrafos ou em incisos; os parágrafos em incisos, os incisos em 
alíneas, e as alíneas em itens. Os artigos são enumerados em ordinais até o nono, e 
em cardinais do dez adiante. 
Os parágrafos são representados pelo sinal gráfico “§”, seguido de numeração 
ordinal até o nono; e cardinal a partir de dez. Aliás, outra leseira tipicamente 
brasileira: O símbolo “§” se chama section; isso mesmo! “Seção” em inglês! (o 
símbolo é a junção de duas letrinhas “S”, uma em cima da outra). É um símbolo 
anglo-saxônico para indicar “seção” de uma lei; e aqui é usado como... 
“parágrafo”! Aliás, quando só existe um parágrafo em um artigo, o correto é usar a 
expressão “parágrafo único" (por extenso, e não como usamos até 
inadvertidamente no cotidiano: “§ ún.”). 
 
9 O artigo segue ordinal até o nono; e cardinal a partir deste. 
30 
 
A lei é estruturada em disposições preliminares, em disposições gerais e em 
disposições finais e/ou transitórias; essas últimas disposições são necessárias para 
reger os fatos cujos efeitos transitam entre uma lei antiga e uma nova. 
 
0.6.6 O CÓDIGO CIVIL – SUA HISTÓRIA E CRÍTICAS 
Nossa legislação civil foi, inicialmente, portuguesa, óbvio; até depois da 
Independência, continuou a sê-lo, já que internalizamos, na emancipação, 
arcabouço normativo naquele momento existente. E não tínhamos código, já que a 
legislação civil portuguesa estava espalhada em vários diplomas (Ordenações 
Afonsinas, Manuelinas e Filipinas). Continuamos a não ter, no Império, um código 
civil, mas não faltaram tentativas, a saber: Projetos de Teixeira de Freitas (1859), 
Nabuco de Araújo (1872), Felício dos Santos (1881) e Coelho Rodrigues (1893); 
mas o que vingou foi o Projeto de Clóvis Beviláqua, entregue para discussão em 
1899, sendo aprovado e publicado em 1916, para entrar em vigência a partir de 1.º 
de janeiro de 1917, só então ocorrendo a revogação da lei civil vigente 
(Ordenações Filipinas). O nosso primeiro código, portanto, já nascia “velho” até 
para a sua época; tanto que já a Lei 3.274, de 25/1/1919, fez diversas modificações 
no Código, seguidas por tantas outras. E, logo na metade do século XX, 
reconheceu-se a necessidade de um novo código, visto que o Código de 1916 foi 
escrito sob a influência do ambiente do século anterior, não contemplando muitas 
das novas situações de fato existentes. Em 1963 tivemos o primeiro projeto de um 
novo código, apresentado por Orlando Gomes e Caio Mário. 
Em 1969, sob a coordenação de Miguel Reale, começou a ser escrito o projeto 
do nosso atual código, juntamente com os juristas Arruda Alvim, Sílvio 
Marcondes, Herbert Chamon, Clóvis do Couto e Silva e Torquato Castro. O projeto 
foi concluído em 1972, seguindo para votação na Câmara dos Deputados em 1975, 
ficando lá até 1984, quando então foi encaminhado ao Senado, onde permaneceu 
até 1998; retornou à Câmara, sendo aprovado definitivamente em 2001. Foi 
promulgado em 10 de janeiro de 2002, sendo publicado no dia seguinte, entrando 
em vigor 11 de janeiro de 2003. 
Talvez pelo fato de ser fruto do trabalho de muitas pessoas (Miguel Reale foi o 
relator, mas não o único autor!), entendo que o Código Civil Brasileiro sofre com 
quatro grandes defeitos: 
É anacrônico – Nosso CCB revela uma sociedade que não mais existe; uma 
sociedade dos anos 60. Talvez a extensão do texto tenha gerado preguiça em sua 
atualização durante sua tramitação no Legislativo (26 anos!); a impressão que se 
tem é que um terço do texto está fora do tempo. 
É lacunoso – Ok! Toda a lei o é... mas precisava ser tanto?! Biodireito? 
Nascituro? União homoafetiva? Sucessão na união estável (que não gere dúvidas)? 
Esqueça! A doutrina e a jurisprudência que se virem para regular... 
31 
 
É copiado – É chamado de “novo” em contraposição ao “antigo”, mas, de 
novo tem quase nada; o pecado maior é que, ao invés de o legislador escrever um 
Código realmente novo, simplesmente tomou o texto do Código de 1916 e saiu 
“atualizando” o texto aqui e ali; resultado: já não basta o primeiro defeito (ser 
anacrônico), ainda é uma cópia reciclada do que já existia. 
É enrolado – Responsabilidade civil é tratada lá pelo Artigo 186, depois lá 
pelo 402, depois voa lá para o 927. Pow, legislador! Não dava para ser menos 
complicado, não? E os livros dos “Fatos jurídicos” (Arts. 104 a 232) então? 
Existem livros e livros só para tentar “explicar” aquilo ali. A coisa é tão maluca 
que o CCB trata sobre validade dos negócios jurídicos (ao tratar dos defeitos); 
depois trata sobre eficácia; e depois.... volta a tratar sobre validade novamente! 
Dava para ser mais linear, não? 
Ah! Lembre-se de que, embora ele seja nominado de “Código de 2002”, em 
verdade só vigeu a partir de 2003, pois tivemos um ano de vacatio legis. Assim, em 
2002, tínhamos dois CCBs! Um ainda vigendo e outro já publicado, esperando 
viger. 
 
0.7 RELAÇÕES JURÍDICAS 
O conceito de relação jurídica não é difícil; apenas precisamos construir um 
raciocínio até seu entendimento, partindo da noção de “interesse”, que é o que 
temos quando queremos colher uma vantagem ou uma utilidade de algo ou de 
alguém. Quando duas ou mais pessoas entregam algum sacrifício, abstenção (algo 
ruim) em troca da satisfação de algum interesse (algo bom), temos o conceito 
de relação. “Relação”, portanto, significa “troca de interesses”. Desde que temos a 
cognição formada, lá pela primeira infância, vivemos em relação. Com a família, 
com a comunidade, com a escola etc. 
Na etimologia, a palavra “relação” vem de relatio, cuja origem é relatus, 
particípio passado de referre, formado este verbo de ferre, levar ou trazer, mais a 
partícula re (significando repetição), o que dá ao verbo referre o sentido de levar 
ou trazer de novo; e à palavra “relação” o sentido de ida e volta, de reciprocidade.10 
Existem dois tipos de relação, a jurídica e a não jurídica. A relação não 
jurídica (também chamada de comum) é aquela em que, se um componente 
descumprir sua parte do acordo, o Poder Judiciário nada poderá fazer para forçar o 
cumprimento ou para punir essa pessoa; exemplo de relação comum: amizade, 
coleguismo e namoro. Note que, se um amigo trair a confiança do outro, não existe 
ação judicial apta a punir esse mau amigo ou forçá-lo a manter-se confiável. 
 
10 BERMUDES, Sergio. Introdução ao processo civil. 2.a ed. revisada e atualizada. Rio de Janeiro: 
Ed. Forense. 1996. p. 75. 
 
32 
 
Mas pense em uma compra e venda, aluguel, contrato de trabalho: são relações. 
Mas aqui o componente que descumprir sua parte no acordo seráforçado ou 
sancionado pelo Poder Judiciário. 
Assim, uma relação é chamada de jurídica quando o Poder Judiciário possui 
algum meio (mediante ação) para forçar o cumprimento ou para punir quem 
descumpriu. 
As relações jurídicas são formadas por sujeitos e objetos. Sujeitos são os seres 
que atuam na relação jurídica existente. Objetos representam aquilo sobre o que 
recai a relação jurídica. 
 
0.8 “ESQUEMA” DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO 
Já aprendemos o que é uma “relação jurídica” e que é formada por sujeito e 
objeto. Os sujeitos das relações jurídicas são as pessoas. Os objetos, direta ou 
indiretamente, são bens (pois, mesmo quando o objeto é atividade, se descumprida, 
termina em perdas e em danos, o que resultará em bem). 
Mas, para que haja as relações jurídicas, precisamos de um método, de uma 
maneira, um modus-operandi. Pois bem! A maneira como se são as relações 
jurídicas são os “Fatos Jurídicos”. 
Temos, pois, sinteticamente: QUEM desenvolve as relações jurídicas – são as 
PESSOAS; O QUE é objeto das relações jurídicas – são os BENS; COMO se dão 
as relações jurídicas – são os FATOS JURÍDICOS. 
 
Figura 4 - Quem, o que, como? 
As pessoas e os bens são chamados de elementos estáticos das relações 
jurídicas, pois, por si sós, nada fazem acontecer no mundo jurídico. Já o elemento 
“Fatos Jurídicos” é dinâmico, pois são tais fatos fazem que as relações ocorram, 
fazem que as pessoas se relacionem e movimentem os bens; daí por que dizemos 
que são os fatos que movimentam as pessoas e os bens. A propósito, a parte geral 
do nosso Código Civil é justamente dividida em... Pessoas, Bens e Fatos Jurídicos! 
33 
 
O Código contém, em seus diversos livros, os mandamentos que regem a nossa 
vida desde antes do nosso nascimento; e continua regulando os atos existentes após 
a nossa morte, senão vejamos: desde a concepção o Código Civil já tutela os 
direitos da personalidade. Do nascimento com vida à morte, o Código regula os 
negócios jurídicos por nós praticados, com as obrigações, os contratos; regula 
também nossas relações com as coisas. Em algum momento de nossas vidas, 
normalmente, casamo-nos. Este ato é regulado pelo direito de família. E, após a 
nossa morte, as relações jurídicas envolvendo os sucessores de nosso patrimônio 
serão reguladas pelo direito das sucessões. 
O Código Civil possui duas partes: na Parte Geral, trata dos elementos das 
relações jurídicas (pessoas, bens e fatos jurídicos). Na Parte Especial, encontramos 
algumas relações jurídicas específicas. 
Assim foi montado o nosso Código Civil: na Parte Geral, Livro das Pessoas, 
dos Bens e dos Fatos Jurídicos. 
A Parte Geral é de importância primordial no estudo do direito civil brasileiro, 
visto que todos os demais assuntos jurídicos, nessa esfera, necessariamente 
dependem do conhecimento da teoria geral do direito civil: Pessoas, Bens e Fatos 
Jurídicos; isso é básico para o entendimento da Parte Especial do Código Civil 
Brasileiro, fruto da labuta de vários juristas, sob a coordenação de Miguel Reale11, 
que começou a ser escrito em 1969, entrando em votação em 1976, arrastando-se 
pelo Poder Legislativo até 2002. 
Na Parte Especial, temos o Livro do Direito das Obrigações, da Empresa, das 
Coisas, de Família, das Sucessões e um último, chamado Livro Complementar. 
Temos uma peculiaridade em nosso Código; se formalmente temos um único 
Código, materialmente temos dois: um Código Civil e um Código Empresarial. 
Este último fora enxertado no Livro II da Parte Especial (“Da Empresa”); bem 
poderia estar em lei própria, mas, seguindo inspiração italiana, o legislador optou 
por deixá-lo inserido no Código Civil. 
O Código Civil se alinha ao Direito Romano-Germânico, com influências ainda 
das Ordenações Filipinas, Encíclicas Papais, Código Alemão (chamado de “BGB”) 
e até dogmas religiosos. 
Deixamos claro que o direito civil é composto pelo Código Civil e pelas leis 
extravagantes (que se referem às normas já codificadas) e pelas leis especiais (que 
tratam de temas civis, mas não inseridos no Código), além das regras 
constitucionais que, em verdade, são as primeiras e mais importantes a nortear o 
direito civil. 
 
 
11 Miguel Reale, um dos papas do direito brasileiro, nasceu em São Bento do Sapucaí, em 6 de 
novembro de 1910, e faleceu em São Paulo, em 14 de abril de 2006 (Fonte: http://pt.wikipedia.org) 
34 
 
1 
Teoria 
Geral 
 
35 
 
 
 
1 TEORIA GERAL 
Após estudarmos a localização do direito civil entre os ramos (didáticos!) do 
direito, adentremo-nos agora no estudo da nossa matéria-objeto: o Direito Civil; e 
vamos fazê-lo seguindo a sua principal lei infraconstitucional: o Código Civil (Lei 
10.406, de 10 de janeiro de 2002). 
Demos o nome de “Teoria Geral” ao capítulo que tratará sobre a Parte Geral do 
Código. 
A Parte Geral é de importância primordial no estudo do direito civil brasileiro, 
visto que todos os demais assuntos jurídicos, nessa esfera, necessariamente 
dependem do conhecimento da teoria geral do direito civil: Pessoas, Bens e Fatos 
Jurídicos; isso é básico para o entendimento da Parte Especial do Código. 
 
1.1 PESSOAS 
Embora o ser humano esteja localizado no centro do direito, descobriremos 
que, no direito civil, os humanos são “apenas” uma das duas espécies de pessoas. 
Passemos ao estudo dos atores do mundo jurídico. 
 
1.1.2 CONCEITO DE “PESSOA” 
Tudo o que existe no universo é chamado de “ente”. Quando um ente pode ter 
direitos e/ou obrigações, passa a se chamar “pessoa”. Pessoas são, portanto, os 
sujeitos de direitos e de obrigações. São os elementos ativos das relações jurídicas; 
são os atores. A essa característica (ter aptidão para ter direitos e obrigações) 
chamamos “personalidade”. 
As pessoas, no direito brasileiro, se dividem em pessoas naturais e pessoas 
jurídicas. Pessoas naturais são as existentes a partir de gametas humanos, e as 
pessoas jurídicas são entes não humanos, criados pela mente humana. Estudaremos 
cada uma a seguir. 
 
1.1.3 PESSOA NATURAL 
É a pessoa gerada, concebida a partir de gametas humanos masculino e 
feminino, daí o nome de “natural”. É chamada de “pessoa física” por outros ramos 
do direito, já que possui existência tangível, corpórea. Ao estudarmos a “pessoa 
natural”, aproveitaremos o ensejo de desenvolver o estudo sobre personalidade e 
seus institutos afins. Vários são os elementos de identificação da pessoa natural: 
nome, estado civil, domicílio. Como já estudamos, é o atributo da “personalidade” 
que torna um ser humano uma pessoa. O próximo capítulo trata sobre a 
personalidade da pessoa natural. 
 
36 
 
1.1.3.1 PERSONALIDADE 
É a personalidade que distingue as pessoas dos demais entes. Ocorre que a 
palavra “personalidade” no direito não é utilizada como o é nos termos do 
dicionário ou na psicologia. Para o direito, personalidade é a aptidão para se ter 
direitos e obrigações. Para o direito, o que nos distingue dos animais irracionais é a 
personalidade. Não é a razão ou a capacidade de pensar. 
É de triste memória que, até quase fim do século retrasado, os escravos não 
eram dotados de personalidade. Um dos requisitos até 1888 para que um ser 
humano tivesse personalidade era ser “livre”. Ou seja, personalidade é um atributo 
dado pelo direito, por meio de lei, não pela natureza. Então, isso significa que, se 
uma lei brasileira atribuir personalidade aos animais irracionais (incluindo insetos e 
vegetais), estes passarão a ser pessoa? Exato! 
A personalidade possui vários atributos: atributos visuais, auditivos e 
imateriais. Tais atributos são tutelados pelos direitos da personalidade, que serão 
estudados

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