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www.cordioliadvogados.com - Página 1 de 19 - www.cordioliadvogados.com CONTRATOS NA UNIÃO ESTÁVEL E SUA VALIDADE Por Leandro Cordioli em 06/07. SUMÁRIO Considerações introdutórias 1. União Estável e sua configuração a. Afetividade do vínculo b. Intuito de constituir família (affectio maritalis) e outros requisitos c. Desnecessidade de morar sobre o mesmo teto 2. O que deve ser partilhado a. Divisão do patrimônio mesmo se a separação se deu antes da vigência da lei da união estável b. Bens adquiridos onerosamente por ambos o companheiros na constância da união estável c. Verbas rescisórias trabalhistas (fgts, etc) Deferindo Indeferindo d. Venda de imóvel exclusivo de um cônjuge ao outro comunica e. Benfeitoria construída em bem alheio (do pai de um dos companheiros) 3. Bens exclusivos e seus sub-rogados (bens adquiridos com o dinheiro da venda dos bens exclusivos) a. Bem anterior à união estável vendido e a prova indubitável da sub- rogação b. Sub-rogação de bem adquirido com numerário proveniente da venda de bem anterior à união c. Partilha de imóvel pago parcialmente antes da união estável d. Bens anteriores não se partilham 4. Contratos de convivência regulando as disposições patrimoniais a. Contrato por escritura pública (instrumento público por tabelião) b. Escritura pública e sua relativização quanto à data estipulada para o início do relacionamento (parece não ter havido disposição patrimonial, apenas da data que foi derrubada por testemunhas) c. Contratos por escrito particular (instrumento particular por advogado) d. Contrato no Curso da União Estável e posterior casamento e. Acordo patrimonial no fim do relacionamento (a primeira instância deu a invalidade, o Tribunal reformou declarando sua validade) f. Bens particulares NÃO podem ser objeto de disposição particular g. Alimentos podem ser regulados em instrumento particular www.cordioliadvogados.com - Página 2 de 19 - www.cordioliadvogados.com Considerações introdutórias A união estável, antigamente denominada de concubinato, é um fato social inegável na modernidade, assumindo grande relevância para o Direito. E isto ocorre, na medida em que uma grande parcela das famílias em nossa sociedade atual se constitui através deste instituto, ao invés do casamento. Por isso, passou a ter uma grande relevância para o Direito e, aos poucos, passando a ser admitida no ordenamento pátrio, primeiramente pela jurisprudência. Sendo que, posteriormente, veio a ser admitida no texto constitucional, legislação especial e, enfim, com a reforma de nosso Código Civil, passou a integrá-lo definitivamente dentro de seus dispositivos. Esta nova forma de constituição da família brasileira pode ser descrita sumariamente como a união duradoura entre homem e mulher, com o fim de constituição de família (affectio maritalis), com a geração ou não de filhos e de forma pública e contínua. Constitui-se, normalmente, quando os companheiros vivem juntos como se casados fossem. Porém, optaram por não casar formalmente. O relacionamento entre os companheiros, vindo a ser considerado uma união estável, gerará efeitos jurídicos entre os mesmos, ou seja, sua relação passará a ser regulada pelo Direito. No que diz respeito ao regime patrimonial, o mesmo será regulado como se os conviventes tivessem casado pelo regime da comunhão parcial no casamento. Ademais, passarão a ter direito aos alimentos, caso o companheiro ou a companheira tenha necessidade e, o outro, a possibilidade de adimpli-los. Bem como, passarão a figurar como herdeiros (Direito de Sucessão), um do outro, dos bens que foram adquiridos de forma onerosa na constância da união e nos termos do art. 1790, NCCB (neste ponto existe divergência na jurisprudência e doutrina). Outro efeito jurídico de grande relevância é que eles terão direito à partilha patrimonial dos bens adquiridos onerosamente durante a constância da união. Tal direito existe, mesmo que um deles não contribua com o dinheiro propriamente dito para a aquisição do patrimônio. Ao mesmo tempo, ele não alcança os bens adquiridos em sub- rogação de outro bem incomunicável (comprados com a venda ou permuta de outro bem que era exclusivo de um deles). É o que acontece, por exemplo, no caso de alguém que adquiriu um imóvel em 1986 e passou a viver em união estável com outrem em 1996. Tal apartamento não necessitará ser partilhado no caso de uma separação, pois foi adquirido antes de o casal passar a viver em união estável. Ademais, também não se misturam os bens adquiridos gratuitamente, como as doações para um único dos companheiros, ou os bens recebidos através de herança por qualquer um deles. Assim, por exemplo, no caso de o pai efetuar uma doação a seu filho, o qual vive em união estável com uma companheira, sendo esta doação legal e juridicamente documentada, não haverá a obrigatoriedade de tal bem ser partilhado no caso de uma separação. Da mesma forma ocorreria, se a companheira recebesse uma herança de seus familiares. Dissolvido o vinculo afetivo e familiar, mesmo na existência de filhos comuns, não seria necessário dividir tal herança com o antigo companheiro. Ocorre, ainda, outro caso de especial sutileza que acaba refletindo no que tange à regulação dos direitos e obrigações patrimoniais no curso da união estável e que é o caso central desta pesquisa. E ela diz respeito ao que os companheiros dispuseram antes, na constância ou posteriormente à união estável a respeito de seu patrimônio e por sua livre e espontânea vontade através do que vem sendo comumente chamado de contrato de convivência ou disposição de vontades na união estável (similar ao pacto antenupcial no casamento). Este documento, cujo valor jurídico vem sendo reconhecido nos tribunais brasileiros, pode ser lavrado através de um contrato particular ou através de escritura pública redigida por tabelião. E serve para que os companheiros, ao invés de aderirem à regra legal, possam dispor do regime que melhor lhes aprouver a respeito de seus bens e dentro de suas realidades particulares. Ademais, é a melhor forma para se resguardar o patrimônio de um eventual futuro litígio numa ação de dissolução de união estável, como poderemos ver das decisões abaixo compiladas. www.cordioliadvogados.com - Página 3 de 19 - www.cordioliadvogados.com 1. União Estável e sua configuração a. Intuito de constituir família (affectio maritalis) e outros requisitos TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70018152744, PORTO ALEGRE, 26 DE ABRIL DE 2007. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE UNIÃO ESTÁVEL. REQUISITOS PARA CONFIGURAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL. TERMO INICIAL DO RELACIONAMENTO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. A união estável é relação fática, de forma que somente pode produzir efeitos jurídicos com a comprovação, em juízo, dos requisitos necessários para a sua caracterização. Comprovada a affectio maritalis, decorrente da existência de convivência pública, contínua, duradoura estabelecida com objetivo de constituir família, é de ser reconhecida a união estável. Não merece reparo o período fixado como sendo o de vigência da união estável, quando este decorre da prova dos autos, sendo imprescindível a declaração do marco inaugural em virtude dos reflexos na esfera patrimonial. Justifica-se a condenação nas penas da litigância de má-fé se a conduta da parte incidiu em um dos incisos do art. 17 do CPC. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70018507343, PORTO ALEGRE, 12 DE ABRIL DE 2007. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA COM PEDIDO DE ALIMENTOS, GUARDA DE FILHO E PARTILHA DE BENS. REQUISITOS PARA CONFIGURAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL.A união estável é relação fática, de forma que somente pode produzir efeitos jurídicos com a comprovação, em juízo, dos requisitos necessários para a sua caracterização. Comprovada a affectio maritalis, decorrente da existência de convivência pública, contínua, duradoura estabelecida com objetivo de constituir família, é de ser reconhecida a união estável. TERMO INICIAL DO RELACIONAMENTO. www.cordioliadvogados.com - Página 4 de 19 - www.cordioliadvogados.com Não merece reparo o período fixado como sendo o de vigência da união estável, quando este decorre da prova dos autos, sendo imprescindível a declaração do marco inaugural em virtude dos reflexos na esfera patrimonial. ALIMENTOS. FIXAÇÃO. BINÔMIO ALIMENTAR DAS PARTES. Sendo incontestes as necessidades da menor, descabe o pedido de redução de alimentos. Também, não demonstrada alteração na situação econômica do alimentante, correto o quantum fixado na sentença. PARTILHA DOS BENS. INCIDÊNCIA DOS ARTIGOS 1.725 E 1.659, I, AMBOS DO CÓDIGO CIVIL. A Lei nº. 9.278/96 em seu artigo 5º já dispunha que “os bens móveis e imóveis adquiridos por um ou por ambos os conviventes na constância da união estável e a título oneroso são considerados fruto do trabalho e da colaboração comum, passando a pertencer a ambos, em condomínio e em partes iguais, salvo estipulação contrária em contrato escrito.” Referido dispositivo foi recepcionado pelo atual Código Civil, em seu artigo 1.725. Não tendo sido realizado contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais o regime da comunhão parcial de bens. Para ser estabelecida a partilha, deve-se trabalhar com dados concretos e seguros, com o objetivo de afastar a possibilidade de enriquecimento sem causa por uma das partes. Deve-se excluir da partilha o automóvel VW/GOL pertencente ao demandado. Aplicação do artigo 1.659, I, do Código Civil. APELOS NÃO PROVIDOS. b. Afetividade do vínculo TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70015848559, PORTO ALEGRE, 06 DE SETEMBRO DE 2006. UNIÃO ESTÁVEL. REQUISITOS. CARACTERIZAÇÃO. Somente os vínculos afetivos que geram entrelaçamento de vidas podem ser reconhecidos como entidade familiar e ingressar no mundo jurídico, possibilitando a extração de efeitos no âmbito do direito. Inteligência do art. 1.723 do Código Civil. Negado provimento ao apelo. www.cordioliadvogados.com - Página 5 de 19 - www.cordioliadvogados.com c. Desnecessidade de morar sobre o mesmo teto STJ, RECURSO ESPECIAL Nº 474.962 - SP (2002/0095247-6), BRASÍLIA, 23 DE SETEMBRO DE 2003(DATA DO JULGAMENTO). RELATOR : MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA E M E N T A DIREITOS PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. UNIÃO ESTÁVEL. REQUISITOS. CONVIVÊNCIA SOB O MESMO TETO. DISPENSA. CASO CONCRETO. LEI N. 9.728/96. ENUNCIADO N. 382 DA SÚMULA/STF. ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA/STJ. DOUTRINA. PRECEDENTES. RECONVENÇÃO. CAPÍTULO DA SENTENÇA. TANTUM DEVOLUTUM QUANTUM APELLATUM. HONORÁRIOS. INCIDÊNCIA SOBRE A CONDENAÇÃO. ART. 20, § 3º, CPC. RECURSO PROVIDO PARCIALMENTE. I - Não exige a lei específica (Lei n. 9.728/96) a coabitação como requisito essencial para caracterizar a união estável. Na realidade, a convivência sob o mesmo teto pode ser um dos fundamentos a demonstrar a relação comum, mas a sua ausência não afasta, de imediato, a existência da união estável. II - Diante da alteração dos costumes, além das profundas mudanças pelas quais tem passado a sociedade, não é raro encontrar cônjuges ou companheiros residindo em locais diferentes. III - O que se mostra indispensável é que a união se revista de estabilidade, ou seja, que haja aparência de casamento, como no caso entendeu o acórdão impugnado. IV - Seria indispensável nova análise do acervo fático-probatório para concluir que o envolvimento entre os interessados se tratava de mero passatempo, ou namoro, não havendo a intenção de constituir família. V - Na linha da doutrina, “processadas em conjunto, julgam-se as duas ações [ação e reconvenção], em regra, 'na mesma sentença' (art. 318), que necessariamente se desdobra em dois capítulos, valendo cada um por decisão autônoma, em princípio, para fins de recorribilidade e de formação da coisa julgada". VI - Nestes termos, constituindo-se em capítulos diferentes, a apelação interposta apenas contra a parte da sentença que tratou da ação, não devolve ao tribunal o exame da reconvenção, sob pena de violação das regras tantum devolutum quantum apellatum e da proibição da reformatio in peius. VII - Consoante o § 3º do art. 20, CPC, "os honorários serão fixados (...) sobre o valor da condenação". E a condenação, no caso, foi o usufruto sobre a quarta parte dos bens do de cujus. Assim, é sobre essa verba que deve incidir o percentual dos honorários, e não sobre o valor total dos bens. www.cordioliadvogados.com - Página 6 de 19 - www.cordioliadvogados.com 2. O que deve ser partilhado a. Divisão do patrimônio mesmo se a separação se deu antes da vigência da lei da união estável STJ, RECURSO ESPECIAL N°297.910 - SE (2000/0144764-5), BRASÍLIA, 22 DE MAIO DE 2001. RELATOR MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR EMENTA UNIÃO ESTÁVEL. Partilha. Patrimônio comum. União estável de 23 anos confere à concubina o direito à metade do capital acumulado durante a convivência, para cuja formação contribuiu cuidando da casa, criando e educando os filhos. O fato de a união ter sido desfeita antes da vigência do Lei 9278/96 não elimina o direito da mu[her, deferido com base em norma jurisprudencial pacificada nesta Corte. Recurso não conhecido. b. Bens adquiridos onerosamente por ambos o companheiros na constância da união estável TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70 017 255 944, PORTO ALEGRE, 28 DE FEVEREIRO DE 2007. UNIÃO ESTÁVEL. DISSOLUÇÃO. PARTILHA DE BENS. ALIMENTOS. FILHA MENOR. ADEQUAÇÃO DO QUANTUM. 1. Comprovada a união estável, devem ser partilhados de forma igualitária os bens adquiridos na constância da vida em comum, pouco importando qual tenha sido a colaboração prestada individualmente pelos conviventes. Inteligência do art. 1.725 do CCB. 2. O imóvel adquirido durante a convivência marital é partilhável, mas deve ser excluído da partilha o valor gasto pelo varão, no imóvel comum, em sub-rogação de bens que lhe foram doados por seu genitor. 3. Descabe partilhar bens móveis e eletrodomésticos quando não fica comprovada a época de sua aquisição, isto é, se antes ou durante a união estável. 4. Os alimentos devem ser fixados de forma a atender as necessidades da filha, proporcionando-lhe padrão de vida compatível com o do genitor, mas sem sobrecarregá-lo em demasia, sendo que o dever de sustentar a prole comum é tanto do pai quanto da mãe, cada qual na medida da própria disponibilidade. Recursos desprovidos. www.cordioliadvogados.com - Página 7 de 19 - www.cordioliadvogados.com c. Verbas rescisórias e trabalhistas (fgts, etc) Deferindo a comunicação e a partilha STJ, RECURSO ESPECIAL Nº 758.548 - MG (2005/0097055-2), BRASÍLIA (DF), 3 DE OUTUBRO DE 2006(DATA DO JULGAMENTO). RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI Direito civil. Família. Ação de reconhecimento e dissolução de união estável. Partilha de bens. Valores sacados do FGTS.- A presunção de condomínio sobre o patrimônio adquirido por um ou por ambos os companheiros a título oneroso durante a união estável, disposta no art. 5º da Lei n.º 9.278/96 cessa em duas hipóteses: (i) se houver estipulação contrária em contrato escrito (caput, parte final); (ii) se a aquisição ocorrer como produto de bens adquiridos anteriormente ao início da união estável (§1º). - A conta vinculada mantida para depósitos mensais do FGTS pelo empregador, constitui um crédito de evolução contínua, que se prolonga no tempo, isto é, ao longo da vida laboral do empregado o fato gerador da referida verba se protrai, não se evidenciando a sua disponibilidade a qualquer momento, mas tão-somente nas hipóteses em que a lei permitir. - As verbas de natureza trabalhista nascidas e pleiteadas na constância daunião estável comunicam- se entre os companheiros. - Considerando-se que o direito ao depósito mensal do FGTS, na hipótese sob julgamento, teve seu nascedouro em momento anterior à constância da união estável, e que foi sacado durante a convivência por decorrência legal (aposentadoria) e não por mero pleito do recorrido, é de se concluir que apenas o período compreendido entre os anos de 1993 a 1996 é que deve ser contado para fins de partilha. Recurso especial conhecido e provido em parte. TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70 017 175 175, SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, PORTO ALEGRE, 28 DE FEVEREIRO DE 2007. UNIÃO ESTÁVEL. PERÍODO DE VIGÊNCIA. PARTILHA. AQUISIÇÃO DE BENS. 1. Sendo incontroverso o período de vigência da união estável, descabe desconstituir a sentença, cabendo, no entanto, corrigir o equívoco constante na sentença. 2. Se os valores do FGTS foram sacados pelo varão e depositados em conta bancária, passou a integrar o patrimônio do casal, sendo irrelevante o destino dado, isto é, se foi consumido pelo casal ou se serviu para aquisição de bens, não se operando a sub-rogação. 3. Se o automóvel que está em nome da virago foi adquirido durante a convivência do casal, cabível a sua inclusão na partilha. 4. Descabe o pleito de restituição do valor alcançado à virago em razão da partilha anterior, pois o valor recebido pelo varão foi repartido entre os litigantes, não havendo desequilíbrio algum. 5. Considerando que ambas as partes decaíram de parte dos seus pleitos, é cabível a divisão igualitária dos ônus sucumbenciais, devendo ser estabelecida a compensação. Inteligência do art. 21 do CPC e da Súmula nº 306 do STJ. Recurso conhecido em parte e provido em parte. www.cordioliadvogados.com - Página 8 de 19 - www.cordioliadvogados.com TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70018291005, OITAVA CÂMARA CÍVEL, PORTO ALEGRE, 26 DE ABRIL DE 2007. APELAÇÃO. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS. IMÓVEL ADQUIRIDO COM VALORES DO FGTS. Na união estável, em relação aos direitos patrimoniais, no que couber, aplica-se o regime da comunhão parcial de bens (art. 1725, CC), comunicando-se os bens adquiridos na constância do casamento (art. 1658), salvo exceções expressas. Assim, o apartamento adquirido durante o relacionamento deve ser partilhado, pois a companheira não comprovou a sub-rogação, doação ou sucessão. Embora o FGTS constitua provento pessoal do trabalho, uma vez movimentada tal verba, com qualquer investimento decorrente, seja poupança, compra de imóveis, veículos ou outro investimento financeiro, deixa de haver a incomunicabilidade, pois a verba transformou-se em investimento, patrimônio do casal e, portanto, partilhável em caso de separação. A separação de fato extingue o regime de bens, não se comunicando os bens havidos após o término da vida em comum. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Indeferindo a comunicação e a partilha TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70018365759, OITAVA CÂMARA CÍVEL, PORTO ALEGRE, 29 DE MARÇO DE 2007. APELAÇÃO CÍVEL. UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS. fgts E VERBAS TRABALHISTAS oriundas de demandas judiciais recebidas pelo ex-companheiro. INCOMUNICABILIDADE. arts. 269, IV e 263, XIII, do antigo Código Civil, combinados com o art. 2.039 do novo Código Civil. As verbas trabalhistas recebidas em decorrência de demanda judicial e o FGTS, ainda que tenham sido auferidos durante a união estável, cujo regime de bens a ser considerado é o da comunhão parcial de bens, são incomunicáveis e, portanto, não podem ser objeto de partilha, porquanto são “frutos civis” do trabalho do ex-companheiro, ainda que utilizados para a compra da residência da entidade familiar. Precedentes. RECURSO DESPROVIDO. www.cordioliadvogados.com - Página 9 de 19 - www.cordioliadvogados.com TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70019377407, PORTO ALEGRE, 24 DE MAIO DE 2007. FAMÍLIA. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS. OCORRÊNCIA DE UNIÃO ESTÁVEL COMO FATO INCONTROVERSO. INSURGÊNCIA RELATIVA À DIVISÃO DO ACERVO PATRIMONIAL. VALORES UTILIZADOS COMO ENTRADA PARA IMÓVEL E DEPOSITADOS EM CONTA BANCÁRIA DECORRENTES DE INDENIZAÇÕES TRABALHISTAS DO VARÃO, MILITAR EM ATIVIDADES EXTERNAS. INCOMUNICABILIDADE. NÃO INTEGRAÇÃO AO PATRIMÔNIO COMUM (CC/02, ART. 1.659, VI, E CC/16, ARTS. 263, XIII, E 271, VI). PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. DIVISÃO DAS PARCELAS DO FINANCIAMENTO DO IMÓVEL PAGAS DURANTE O VÍNCULO E DOS BENS MÓVEIS ADQUIRIDOS DURANTE O LAPSO. SENTENÇA MANTIDA. APELAÇÃO DESPROVIDA, POR MAIORIA. d. Venda de imóvel exclusivo de um cônjuge ao outro comunica TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70017308982, SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, PORTO ALEGRE, 06 DE DEZEMBRO DE 2006. APELAÇÃO CÍVEL. UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS. VENDA SIMULADA DE IMÓVEL DA MULHER PARA O COMPANHEIRO NA VIGÊNCIA DA RELAÇÃO. COMUNICAÇÃO DE BENS. 1. As relações patrimoniais nas uniões estáveis, salvo contrato escrito, são regidas pelas regras do regime da comunhão parcial de bens. Não pode a parte se beneficiar da própria torpeza se foi simulada venda de imóvel de sua propriedade exclusiva ao companheiro, na vigência da união estável, a fim obter empréstimo. 2. A transferência da titularidade do bem ao varão leva o imóvel para o patrimônio do casal. 3. A sub- rogação, para excepcionar a regra geral da comunicação patrimonial, deve estar contundentemente demonstrada. 4. A separação fática rompe o regime de bens e faz cessar as responsabilidades comuns. A mulher ficou na posse exclusiva do imóvel residencial e é dela o encargo de pagamento de condomínio. CONHECERAM EM PARTE E NEGARAM PROVIMENTO, À UNANIMIDADE. www.cordioliadvogados.com - Página 10 de 19 - www.cordioliadvogados.com e. Benfeitoria construída em bem alheio (do pai de um dos companheiros) TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70008128589, SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, PORTO ALEGRE, 07 DE ABRIL DE 2004. APELAÇÃO CÍVEL. UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS. Resulta do reconhecimento da existência de união estável a partição igualitária de bens pertencentes a ambos, assim sendo considerados aqueles havidos na constância da convivência, a título oneroso, salvo se adquiridos com o produto de bens existentes anteriormente ao início da união ou estipulação contrária em contrato escrito. DIREITO APLICÁVEL. No que tange ao direito aplicável, consoante a jurisprudência já consolidada deste colegiado, desde a Constituição Federal de 1988, independentemente da legislação ordinária posterior, já se encontrava superada a Súmula 380, do STF, presumindo-se, a partir daí, face à natureza de entidade familiar da união estável, a comunhão dos bens adquiridos em sua constância. IMÓVEL CONSTRUIDO SOBRE TERRENO ALHEIO. Não há dúvida de que a casa foi erigida sobre terreno pertencente ao pai do apelante. Logo, por força do art. 547, do Código Civil de 1916 (correspondente ao art. 1.255 do Código Civil de 2002), a edificação incorpora-se ao terreno, passando a pertencer ao proprietário deste. Cabe, portanto, reconhecer à apelada não um direito real sobre o imóvel (como o fez a sentença), mas, sim, a meação sobre os direitos e ações correspondentesa um eventual crédito que (em outra demanda) venha a ser reconhecido contra o dono do terreno (que não é parte neste feito). DERAM PARCIAL PROVIMENTO, POR MAIORIA. www.cordioliadvogados.com - Página 11 de 19 - www.cordioliadvogados.com 3. Bens exclusivos e seus sub-rogados (bens adquiridos com o dinheiro da venda dos bens exclusivos) a. Bens anteriores não se partilham STJ, RECURSO ESPECIAL Nº 801.194 - AM (2005/0199068-9), BRASÍLIA, 16 DE MARÇO DE 2006 (DATA DO JULGAMENTO). RELATOR : MINISTRO ARI PARGENDLER EMENTA CIVIL. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DOS BENS DO CASAL. A dissolução da união estável implica a partilha dos bens que o casal adquiriu no período, salvo aqueles que o homem ou a mulher tenham incorporado ao respectivo patrimônio com recursos que já tinham antes do início do relacionamento. Recurso especial não conhecido. b. Partilha de imóvel pago parcialmente antes da união estável TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70011969888, OITAVA CÂMARA CÍVEL, PORTO ALEGRE, 27 DE OUTUBRO DE 2005. APELAÇÃO CÍVEL. UNIÃO ESTÁVEL. DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE DE FATO. PARTILHA. Não obstante a prova de que o contrato para aquisição do imóvel em litígio foi firmado antes do início da relação more uxorio, houve pagamento de parte do financiamento imobiliário durante a união estável. Assim, o insurgente tem direito à metade dos valores despendidos para pagamento das parcelas compreendidas entre janeiro de 1990 e maio de 2000, direito que lhe é assegurado independentemente de prova de contribuição financeira, conforme prevê o art. 1.725 do atual CCB, e já constava no art. 5º da Lei 9.278/96, vigente ao tempo da relação. DERAM PROVIMENTO EM PARTE À APELAÇÃO. UNÂNIME. www.cordioliadvogados.com - Página 12 de 19 - www.cordioliadvogados.com c. Sub-rogação de bem adquirido com numerário proveniente da venda de bem anterior a união TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70017880741, PORTO ALEGRE, 09 DE MAIO DE 2007. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS E ALIMENTOS. BENS IMÓVEIS ADQUIRIDOS EM SU- ROGAÇÃO. ESTANDO DEMONSTRADO NOS AUTOS QUE OS BENS QUE A APELANTE PRETENDE PARTILHAR FORAM ADQUIRIDOS PELO VARÃO EM SUB-ROGAÇÃO A BENS PARTICULARES, DEVEM SER MANTIDOS EXCLUÍDOS DA PARTILHA. ALIMENTOS. VERBA ALIMENTAR ESTABELECIDA PROVISORIAMENTE EM 25% DOS RENDIMENTOS LÍQUIDOS DO APELADO. MANUTENÇÃO. CABIMENTO, NO CASO CONCRETO. DEMONSTRADAS AS NECESSIDADES DA APELANTE, E CONSIDERANDO QUE, DURANTE TODOS OS ANOS DE CONVIVÊNCIA NA CIDADE DE CACEQUI-RS, PARA ONDE SE MUDOU PARA ACOMPANHAR O ALIMENTANTE, PERMANECEU A AUTORA DEDICANDO-SE EXCLUSIVAMENTE ÀS LIDES DOMÉSTICAS, RAZOÁVEL A MANUTENÇÃO DOS ALIMENTOS PROVISORIAMENTE FIXADOS ATÉ QUE POSSA A DEMANDANTE SE REESTRUTURAR E PODER PROVER O PRÓPRIO SUSTENTO. Recurso parcialmente provido. d. Bem anterior à união estável vendido e a prova indubitável da sub- rogação TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70017006792, SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, PORTO ALEGRE, 29 DE NOVEMBRO DE 2006. APELAÇÃO CÍVEL. UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA. PEDIDO DE EXCLUSÃO DE VEÍCULO ALEGADAMENTE ADQUIRIDO POR SUB-ROGAÇÃO A BEM PARTICULAR. 1. Nas uniões estáveis, salvo contrato escrito, se aplica o regime da comunhão parcial de bens. Todavia, a lei excepciona esta regra no inc. I do art. 1.659 ao dispor que se excluem da comunhão, entre outros, os bens que cada um possuir ao iniciar a relação e os que sobrevierem por sub-rogação. 2. Como circunstância que excepciona a regra geral, a sub- rogação, a fim de favorecer a parte, deve estar demonstrada de forma induvidosa e contundente. Esta prova não há nos autos. NEGARAM PROVIMENTO, À UNANIMIDADE. www.cordioliadvogados.com - Página 13 de 19 - www.cordioliadvogados.com TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70014383954, PORTO ALEGRE, 24 DE MAIO DE 2006. UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS. SUB- ROGAÇÃO. Partilham-se os bens adquiridos na constância do relacionamento, salvo se comprovada hipótese excludente de comunicabilidade. A configuração da sub- rogação legal exige prova cabal de sua ocorrência, competindo o ônus da prova àquele que a alega, pois se presume a comunicabilidade do patrimônio adquirido onerosamente na constância da relação. Inteligência dos artigos 1.725, 1.659 e 1.661 do Código Civil. PLANO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA. Os valores depositados em plano de previdência, face ao seu caráter personalíssimo, não se comunicam com o consorte. Contudo, os rendimentos decorrentes de tais numerários são passíveis de partilha, por força do art. 1.660, V, do Código Civil. Inteligência do art. 1.659, VI e VII, c/c art. 1.725 do Código Civil. VALORES DEPOSITADOS EM CONTA CORRENTE E EM FUNDO DE INVESTIMENTO. Integram a partilha os valores depositados em conta corrente, ainda que em nome de só um dos consortes, bem como os rendimentos oriundos do saldo de FGTS aplicado em fundo de investimento. Inteligência do art. 1.660, V, do Código Civil. Desprovido o agravo retido. Provido em parte o apelo da virago e provido em parte o recurso adesivo do varão. www.cordioliadvogados.com - Página 14 de 19 - www.cordioliadvogados.com 4. Contratos de convivência regulando as disposições patrimoniais a. Contrato por escritura pública (instrumento público por tabelião) TJRS, EMBARGOS INFRINGENTES Nº 70013055413, QUARTO GRUPO CÍVEL, PORTO ALEGRE, 09 DE DEZEMBRO DE 2005. EMBARGOS INFRINGENTES. UNIÃO ESTÁVEL. NÃO- COMUNICAÇÃO DE BENS. ESCRITURA PÚBLICA LAVRADA PELA AUTORA NA QUAL CONSIGNA NÃO TER DIREITOS SOBRE O PATRIMÔNIO ADQUIRIDO NO CURSO DA CONVIVÊNCIA. 1. Estabelece o art. 1.725 do CCB que, como regra, aplica-se às uniões estáveis o regime da comunhão parcial de bens e a mesma norma excepciona a possibilidade de disposição por escrito em sentido diverso. 2. No caso dos autos, a autora, fazendo uso de escritura pública e durante a vigência da união estável, declarou, unilateralmente, que vivia maritalmente com o varão e consignou que não tinha nenhum direito sobre os móveis e imóveis adquiridos até aquela data. 3. Assim, ante a existência de manifestação volitiva que declara destino diverso aos bens eventualmente amealhados por um ou outro, ou por ambos os companheiros, na vigência da relação familiar, não há falar em comunicação patrimonial e, conseqüentemente, inexistirá partilha de bens. 4. O fato de o texto legal adotar a expressão contrato não suprime a validade e eficácia jurídica da declaração unilateral prestada pela mulher com evidente repercussão na esfera de direito pessoais do varão. Ademais, a lei não exige maiores formalidades para a produção do documento que venha a abrigar a manifestação volitiva, cuja estipulação, instrumentalizada em conjunto ou separadamente, pode ou não se revestir de forma solene. Apenas se exige que seja feita sob a forma escrita. PROVERAM, À UNANIMIDADE. TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70 010 210 326, SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, PORTO ALEGRE, 15 DE DEZEMBRO DE 2004. UNIÃO ESTÁVEL. ANULAÇÃO DE AJUSTE CONSTANTE EM ESCRITURA PÚBLICA. ERRO SUBSTANCIAL. PARTILHA DE BENS. PROVA. Prevalece o conteúdo do acordado na escritura pública quando a autora não se desincumbe do ônus de provar o fato constitutivo do seu direito, não demonstrado ter sido induzida a erro, nem que existiam bens a serem partilhados, sendo que a confissão ficta tem valor relativo, cumprindo ter em mira o princípio da livre apreciação da prova pelo juiz. Recurso desprovido. www.cordioliadvogados.com - Página 15 de 19 - www.cordioliadvogados.comb. Escritura pública e sua relativização quanto à data estipulada para o início do relacionamento (parece não ter havido disposição patrimonial, apenas declarou-se falsamente a data que foi derrubada por testemunhas) TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70 018 913 970, PORTO ALEGRE, 25 DE ABRIL DE 2007. UNIÃO ESTÁVEL. RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO. PARTILHA. BENS. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. REVOGAÇÃO. 1. A escritura pública firmada pelos litigantes indicando o termo inicial da relação marital tem valor apenas relativo, cumprindo reconhecer a convivência marital pelo período que ficou bem comprovado pela prova documental e testemunhal produzida durante a fase cognitiva. 2. Comprovada a união estável, os bens adquiridos a título oneroso e na constância da vida em comum devem ser partilhados de forma igualitária, pouco importando qual tenha sido a colaboração prestada individualmente pelos conviventes. Inteligência do art. 1.725 do CCB. 3. O imóvel adquirido pela companheira e quitado antes do início da relação marital não é partilhável. 4. Os bens imóveis adquiridos de forma parcelada, devem ser partilhados apenas na proporção das prestações pagas ao tempo da união estável. 5. Não são partilháveis as empresas constituídas por qualquer dos conviventes antes do início da união estável, quando não comprovado acréscimo de capital social. 6. A concessão da assistência judiciária gratuita tem por pressuposto a efetiva condição de necessitado de quem o postula, a fim de que possa litigar em juízo na defesa dos seus direitos, sem prejuízo do próprio sustento, sendo correta a revogação do benefício quando não demonstrada a situação de hipossuficiência. Recurso desprovido. c. Contratos por escrito particular (instrumento particular por advogado) STJ, RECURSO ESPECIAL Nº 726.822 - SP (2005/0028356-1), Brasília (DF), 6 de outubro de 2005 (data do julgamento). RELATOR : MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO EMENTA União estável. Partilha de bens. Art. 5° da Lei nº. 9.728/96. Alimentos: ausência de violação dos artigos 128, 460, 512 e 515 do Código de Processo Civil. Precedentes da Corte. 1. O art. 5° da lei n° 9.728/96 determina que os bens adquiridos na constância da união estável por um ou por ambos os www.cordioliadvogados.com - Página 16 de 19 - www.cordioliadvogados.com conviventes são considerados fruto do trabalho e da colaboração comum, pertencendo a ambos em condomínio, salvo estipulação contrária por escrito, com o que devem ser partilhados. 2. Postulando o réu, na apelação, reforma integral da sentença, não há falar em violação dos artigos 128, 460, 512 e 515 do Código de Processo Civil no julgado que afasta os alimentos. 3. Recurso especial conhecido e provido, em parte. d. Contrato no Curso da União Estável e posterior casamento TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70017144338, SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, PORTO ALEGRE, 25 DE ABRIL DE 2007. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE SEPARAÇÃO JUDICIAL. RECONVENÇÃO. PARTILHA DE BENS ADQUIRIDOS NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO. CONTRATO PARTICULAR DE CONVIVÊNCIA ESTABELECENDO SEPARAÇÃO TOTAL DE BENS. VALIDADE. O art. 1725, do CCB, exige apenas que o contrato seja escrito, nenhuma outra formalidade é exigida para sua validade. Sendo o Instrumento Particular manifestação de vontade das partes válido e eficaz e, não tendo havido comprovação de que o casal adquiriu bens outros na constância da união, é de ser confirmada a sentença que declarou não haver bens a partilhar. RECURSO DESPROVIDO.1 1 DES. RICARDO RAUPP RUSCHEL (RELATOR): “...Segundo dispõe o art. 1.725 do Código Civil, "na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens" (sem grifo). Conforme se observa, as partes mantiveram união estável, durante o período compreendido entre 2000 e 2001, havendo, inclusive, contrato de convivência, firmado em 27/03/2001, nos seguintes termos {fls. 134/136): "CLÁUSULA PRIMEIRA: o casal está vivendo em união estável aproximadamente há 4 meses, e resolveram entre si contrair as seguintes cláusulas deste acordo extrajudicial, que passa a vigorar a partir da assinatura deste contrato; "CLÁUSULA SEGUNDA: A contratante Gizelma é proprietária de uma empresa de informática, (...) há mais ou menos uns 8 anos, sendo adquirida antes desta união, não se comunicando, assim, com qualquer direito a ser pleiteado pelo contraente (Telmo); “(...) "CLÁUSULA QUINTA: a requerente é proprietária de uma casa situada na Rua Erechim n° 381, em Imbé, RS, de um jet ski, de um carro GM Celta, uma camionete Blazer, e um consórcio com vinte e seis parcelas pagas, sendo que estes dois últimos carros estão em nome da mãe da requerente, e os demais no nome da contratante Gizelma, sendo que todos adquiridos anteriormente a esta última união, não se comunicando com os bens do requerido; "CLÁUSULA SEXTA: dos bens do contratante Telmo - o contratante não possui nenhum bem em seu nome, sendo que, após este contrato, se vier a adquirir algum bem será única e exclusivamente de sua propriedade; "CLÁUSULA SÉTIMA: dos bens a serem adquiridos - os bens a serem adquiridos por ambos deverão estar comprovadamente discriminados através de nota fiscal e propriedade do objeto, ficando para o adquirente. Não se comunicarão os bens adquiridos por cada um dos contratantes. Não haverá bem a ser adquirido por ambos, sendo exclusivamente daquele que adquirir com sua remuneração"; "CLÁUSULA OITAVA: o patrimônio deixado pelo pai da contratante (Gizelma), ou seja, 25% do patrimônio do de cujus, não se comunica com o contrato ora celebrado" (sem grifo). www.cordioliadvogados.com - Página 17 de 19 - www.cordioliadvogados.com e. Acordo patrimonial no fim do relacionamento (a primeira instância deu a invalidade, o Tribunal reformou declarando sua validade) TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70014788822, SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, PORTO ALEGRE, 21 DE JUNHO DE 2006. UNIÃO ESTÁVEL. CONTRATO DE CONVIVÊNCIA. Tratando-se de união estável, descabida a partilha judicial quando as partes, maiores e capazes, solvem as questões patrimoniais mediante acordo particular. ALIMENTOS. Estando a mulher em pleno exercício de atividade laborativa e, indemonstrada a necessidade alimentar, desnecessária a concessão de alimentos. Apelo da virago provido em parte e desprovido o apelo do varão.2 Resta demonstrado, assim, que os litigantes estipularam, através do contrato de convivência, o regime da separação total de bens a vigorar durante o período da união estável, pacto que perdurou até 23/11/2001, data da celebração do casamento, momento em que convencionaram o regime da comunhão parcial de bens (fí. 28). Como bem ensina Arnaldo Rizzardo, "por meio do regime da separação de bens, os cônjuges conservam exclusivamente para si os bens que possuíam quando do casamento e aqueles que adquirem ou vão adquirir na constância do mesmo. Há a completa separação do patrimônio dos cônjuges, nada tornando-se comum, inclusive aquilo que advém do esforço conjunto'* (sem grifo)....” 2 “...DESA. MARIA BERENICE DIAS (PRESIDENTA E RELATORA) Os litigantes viveram em união estável durante o período compreendido entre 7-5-2000 e 23-9-2004, fato este reconhecido em sentença, e, desde o início, incontroverso entre eles. Em 30-12-2004, as partes firmaram acordo extrajudicial de partilha de bens, no qual declararam a existência de uma relação nos moldes de uma entidade familiar, durante o lapso temporal acima referido, e, também, estipularam acerca dosbens comuns, estabelecendo obrigações entre si (fls. 364-9). A sentença de primeiro grau entendeu por desconsiderar o ajuste contratual, tecendo as seguintes considerações: No tocante ao pedido da autora de ver validado o pacto de partilha extrajudicial (fls. 214 e seguintes), tem-se que restou evidenciado nos autos que foram as próprias que inviabilizaram a ultimação da partilha extrajudicial, de maneira que ela não pode ser validade extrajudicialmente. Pelo que se depreende das provas carreadas, a autora teria impedido o acesso do demandado ao local onde era exercida a atividade empresarial de uma das pessoas jurídicas do ex-casal, a qual tocaria ao varão, com exclusividade, nos termos da partilha ajustada. Este,por seu turno, teria suspendido o pagamento das parcelas a título de compensação de meação. Não se sabe, ao certo, o que ocorreu primeiro, se a suspensão dos pagamentos ou o impedimento de acesso ao local de trabalho, mas isto é irrelevante, uma vez que a conseqüência óbvia é que a situação fática que gerou o acordo de divisão de bens foi modificada, não havendo como ser mantida a forma de partilha do patrimônio que havia sido ajustada, devendo ser determinada a divisão eqüitativa dos bens amealhados (fl. 488). Em que pese o entendimento preconizado pelo juízo de primeira instância, não se visualiza, em concreto, qualquer óbice a inviabilizar a partição dos bens na forma estabelecida no pacto celebrado entre os conviventes, pessoas maiores e capazes, em pleno exercício de seus direitos e obrigações. Cabe registrar que o varão, em nenhum momento, alegou qualquer mácula ou vício de consentimento no negócio jurídico entabulado, apenas manifestando inconformidade quanto aos respectivos termos. A união estável constitui uma relação fática que, para sua formação e dissolução independe da chancela estatal e de qualquer formalidade, diversamente do que ocorre com o casamento. No que diz respeito às questões patrimoniais, persiste o mesmo tratamento diferenciado. No casamento, a divisão dos bens necessita de homologação judicial. Na união estável, os companheiros podem, de forma consensual, solver as questões patrimoniais, sendo despicienda a interferência da Justiça, www.cordioliadvogados.com - Página 18 de 19 - www.cordioliadvogados.com f. Bens particulares NÃO podem ser objeto de disposição particular TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70 014 934 384, SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, PORTO ALEGRE, 27 DE SETEMBRO DE 2006. UNIÃO ESTÁVEL. REGIME LEGAL DE BENS. CONTRATO ESCRITO. LIMITAÇÃO. IRRELEVÃNCIA NO CASO, ONDE O RECORRENTE É HERDEIRO DA FALECIDA COMPANHEIRA. INCIDÊNCIA DA LEI VIGENTE AO TEMPO DA ABERTURA DA SUCESSÃO. 1. NO CONTRATO ESCRITO OS COMPANHEIROS PODEM DISPOR ACERCA DO REGIME DE BENS APLICÁVEL AO PATRIMÔNIO QUE VIER A SER ADQUIRIDO NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO; NÃO PODENDO, NO ENTANTO, DISPOR ACERCA DA COMUNICAÇÃO DE BENS PARTICULARES, MORMENTE SE FOREM IMÓVEIS, POIS CONFIGURARIA DOAÇÃO. 2. A DISCUSSÃO TORNA-SE INÓCUA, PORÉM, SE O POSTULANTE É O HERDEIRO DA FALECIDA COMPANHEIRA, QUE NÃO DEIXOU DESCENDENTES NEM ASCENDENTES, HAVENDO INCIDÊNCIA DA LEI VIGENTE AO TEMPO DA ABERTURA DA SUCESSÃO. RECURSO DESPROVIDO. 3 conforme já referido doutrinariamente por esta Relatoria (in Manual de Direito das Famílias. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 187). Dessa forma, constituindo o acordo de partilha um instrumento jurídico hábil e eficaz, mostra-se descabida a partilha judicial levada a efeito pela julgadora monocrática. Ressalte-se que, embora o instrumento tenha sido nominado de “PARTILHA EXTRAJUDICIAL”, em verdade, trata-se de verdadeiro contrato de convivência, o qual pode ser realizado quando do fim do relacionamento e com cláusulas atinentes à partilha de bens....” 3 DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (RELATOR) “...Em segundo lugar, lembro que, através de contrato escrito, os companheiros podem dispor acerca do regime de bens aplicável ao patrimônio que vier a ser adquirido na constância da união estável. Todavia, não podem dispor com a mesma liberdade acerca da comunicação de bens particulares, mormente se forem imóveis, pois nesse caso configuraria doação e não se pode prescindir da forma legal. Nesse sentido, também tem razão a ilustre agente ministerial quando observa que “através do contrato escrito, os conviventes podem dispor acerca dos bens adquiridos apenas no curso da união estável. Quanto aos demais bens, necessário lançar mão do instituto da doação”, sendo pertinente a lição doutrinária invocada no referido parecer. Refere o parecer do Ministério Público que “essa posição é defendida por GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMA (in ‘O Companheirismo: uma espécie de família’, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1998, p. 342)”, lembrando que RODRIGO DA CUNHA PEREIRA, em sua obra COMENTÁRIOS AO NOVO CÓDIGO CIVIL (Rio de Janeiro, Editora Forense, 2.003, p. 179 ) afirma que “os bens particulares devem ser transacionados através do uso do instrumento próprio, que é o instituto da doação. A disponibilidade entre os companheiros, em matéria de regime de bens, somente abrange os bens adquiridos onerosamente durante a união, estando afastados os bens adquiridos no curso do companheirismo, a título gratuito ou por fato eventual”. ...” www.cordioliadvogados.com - Página 19 de 19 - www.cordioliadvogados.com g. Alimentos podem ser regulados em instrumento particular (pode haver divergência, apesar de não termos localizado) TJRS, AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 70014333660, OITAVA CÂMARA CÍVEL, PORTO ALEGRE, 27 DE ABRIL DE 2006. AGRAVO DE INSTRUMENTO. UNIÃO ESTÁVEL. FIXAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISÓRIOS. Tratando-se de pessoa jovem, capaz e que trabalha como estagiária, descabe a fixação de alimentos provisórios pela alegada união estável. No caso dos autos, vigora entre as partes o contrato de convivência, o qual determina que, somente haveria necessidade de prestar alimentos ao outro convivente após desfazimento do vínculo afetivo, se a outra parte não exercesse nenhuma atividade laboral. RECURSO IMPROVIDO.
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