maior do que a ideia do lucro como um fim em si mesmo. É fundamental que se tenha uma concepção de lucro como uma maneira para se recompensar o esforço e o investimento, com a sociedade sempre sendo beneficiada de forma geral. Essa forma deturpada, que muitas vezes ocorre, de se encarar a ativi- dade empresarial, tem um pouco da sua origem na ideia do individualismo atomista, a qual simplesmente aborda o cotidiano nas empresas como uma série de processos onde existe acordo mútuo entre as partes interessadas no negocio, com a mínima ou, se possível, nenhuma interferência do go- verno. Esses conceitos tiveram origem em Adam Smith e na filosofia que reinava na Grã-Bretanha no século XVIII. Individualismo atomista: Ideia segundo a qual os indivíduos independem, para ser o que são, do relacionamento com os demais. 76 Informações Estratégicas SAibA Adam Smith foi um importante filósofo e economista escocês do século XVIII. Nasceu na cidade escocesa de Kirkcaldy, em 5 de junho de 1723, e faleceu em Edimburgo no dia 17 de julho de 1790. Em plena época do Iluminismo, Adam Smith tornou-se um dos principais teóricos do liberalismo econômico. Sua principal teoria baseava-se na ideia de que deveria haver total liberdade econômica para que a iniciativa privada pudesse se desenvolver, sem a intervenção do Estado. A livre concorrência entre os empresários regularia o mercado, provocando a queda de preços e as inovações tecnológicas necessárias para melhorar a qualidade dos produtos e aumentar o ritmo de produção. As ideias de Adam Smith tiveram uma grande influência na burguesia europeia do século XVIII e de fundamental importância para o desenvolvimento do capitalismo nos séculos XIX e XX. Crédito: Wikimedia Commons Porém, tais conceitos são muito defasados quando pensamos no merca- do atual e suas mais variadas inter relações, pois cada vez mais é neces- sário estabelecer regulações a esse mercado, tanto em nível local como mundial, para que o interesse público nunca seja negligenciado nas práti- cas comerciais. Um exemplo de falta de regulação no mercado que levou a conseqüências extremamente danosas até hoje é o que gerou a crise mundial de 2008. Não por acaso a ideia da “cultura empresarial” ganha força atualmen- te, na medida em que estimula a sociabilidade dentro das organizações, bem como entende que o comportamento ético dentro das empresas e fora dela, com seus parceiros, é fator fundamental para compartilhar os valores culturais que cada organização quer estimular. Sustentabilidade empresarial Um dos pontos principais da ética empresarial mais recente é a ideia de responsabilidade social. É também um ponto que ainda provoca controvér- sias, pois a forma como o mercado se acostumou a agir por longo tempo nunca levou em conta os conceitos ligados ao tema. A mesma visão simplis- ta de mercado, orientada apenas para o lucro, aparece aqui, como também a concepção do acionista “vilão”. 77 Ética e responsabilidade social empresarial PALAvRA DE AUTOR A responsabilidade social hoje encara a figura do acionista como apenas um dos interessados nas atividades organizacionais de uma empresa. Os stakeholders de uma organização são todos os que são afetados e que têm direitos e interesses legítimos em relação às atividades organizacionais. Eles são compostos pelos empregados, fornecedores, consumidores, bem como a comunidade que os cerca. Se pensarmos assim, a ideia da responsabilidade social se constitui como parte central em suas preocupações básicas, sendo equilibrada e justa com seus administradores, assim como seus funcionários, compradores, forne- cedores, etc. Enfim, com todos que sofrem alguma influência das ativida- des da empresa. Agora vamos pensar um pouco sobre o lucro. Em sua opinião, o lucro é o único objetivo da atividade empresarial? Explique sua resposta. No contexto da responsabilidade social, a ética trata essencialmente das relações entre pessoas. Cabe ressaltar que há pessoas e grupos dispostos a cobrar essas responsabilidades por meio do ativismo político, da imprensa, da legislação e da atuação dos parlamentates. (Maximiano, 2007, p. 302) Stakeholder: Em português, “parte interessada”. Termo usado em diversas áreas gestão e administração, referente às partes interessadas que devem estar de acordo com as práticas de governança corporativa executadas pela empresa. 78 Informações Estratégicas A empresa em relação aos seus stakeholders As empresas têm obrigações para com os seus acionistas, assim como para com os seus consumidores, funcionários e a sociedade. Se uma empresa polui o ambiente enquanto cumpre suas atividades ob- viamente não está sendo responsável socialmente, assim como se não ga- rante aos seus consumidores que seus produtos e serviços sejam confiáveis e de qualidade. Surgem aqui varias reflexões sobre o papel dos administradores, como por exemplo: até que ponto a empresa deve tomar precauções contra uti- lizações dos seus produtos? Quais os limites que devem ser impostos a pro- dutos que são maléficos (a depender da forma de utilização) para o ser humano como bebidas alcoólicas e cigarros e armas de fogo? Quais os limites para empresas de publicidade que têm o objetivo de criar estratégias para se vender produtos e/ou serviços? Principalmente se pensamos que um dos grandes alvos da publicidade atualmente é o público infantil? Nessa área, somos confrontados com questões éticas muito importantes, pois é cada vez mais comum o uso de artifícios questionáveis como: • Utilização de conotação sexual nos anúncios. • Tentativas de estabelecer relação entre a utilização de determinado produto e uma maior chance de “sucesso” na vida. • Transmissão de conceitos que “rebaixam” a mulher e/ou grupos de minorias. Não se pode esquecer que os consumidores também devem procurar infor- mações e não podem ser tratados como crianças (a não ser quando são, de fato, crianças) sem nenhuma responsabilidade pelas suas escolhas, ou seja, a respon- sabilidade empresarial envolve um conjunto de responsabilidades interligadas. C ré di to : D ev ia nt ar .n et 79 Ética e responsabilidade social empresarial TROCANDO iDEiAS Cada vez mais vemos a responsabilidade social sendo entendida como uma questão de diferenciação e até sobrevivência pelas empresas. Nesse sentido, temos um exemplo muito conhecido de uma rede internacional de fast food. Essa empresa realiza um evento anual em que, em um determinado dia, a renda gerada pela venda de um determinado produto é direcionada para uma instituição que trata de crianças com câncer. A princípio, essa atitude da empresa é muito inspiradora, porém não seria o caso de questionar se o tipo de alimentação que ela comercializa é prejudicial para o público infantil? No Fórum virtual de discussão coloque seus argumentos sobre essa reflexão, se possível com outros exemplos de empresas com comportamentos contraditórios. O indivíduo na empresa: responsabilidades e expectativas A responsabilidade empresarial deve ficar atenta principalmente ao funcionário que trabalha na empresa, pois na visão antiga dos negócios o funcionário era tratado como mais uma peça da organização na busca pelo lucro. Tal fato deve ser combatido no sentido que, como um ser humano, ele possui desejos e aspirações que se constituem na principal preocupação de qualquer responsabilidade “social” Logo, condições de trabalho desfavoráveis, como carga de trabalho de- sumana ou um ambiente profissional estressante são fatores que não são condizentes com uma postura eticamente responsável nas empresas. Nesse sentido, a ética empresarial se interessa pelos direitos dos empregados, pois se uma organização lida com seus empregados como peças de um jogo,