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Voto Obrigatório x Voto Facultativo no Brasil

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INTRODUÇÃO
A cada ano que passa, a insatisfação do cidadão brasileiro com a política nacional aumenta de maneira rápida. O povo vai às ruas pedindo melhorias e buscando o melhor para o país, para seus familiares, para seus filhos e para si. Ocorre que a corrupção e o descaso dos governantes brasileiros não veem de hoje, mas ultrapassa gerações, gerando uma sensação de comodismo na população. 
A cada período político que o Brasil viveu desde sua independência, diversos fatos históricos contribuíram e arruinaram com a luta pela democracia nacional. A exemplo disto temos o período da ditadura militar, que restringiu direitos políticos essenciais à população e a luta pelas eleições diretas, ou as chamadas “Diretas Já”. A cada bom momento vivido pelo país, um momento de inquietude surgia.
Nossa atual constituição garante uma série de direitos políticos ao povo brasileiro, de maneira que sua participação é explicitada, sob a forma de cláusula pétrea, ou seja, não pode ser restringida a participação popular na vigência dessa Carta Magna. 
Porém, dentre todas as características do voto presentes na atual constituição, a obrigatoriedade do voto torna-se alvo de um grande numero de discussões. 	
Tendo em vista que essa característica não se trata de cláusula pétrea, dezenas de Propostas de Emendas à Constituição são apresentadas frente ao Congresso Nacional visando tornar o voto facultativo. 
Nos últimos anos, a participação popular nas eleições cresce, porém, proporcionalmente cresce o número daqueles que votam em branco, anulam o seu voto e daqueles que não comparecem na data da eleição.
Apesar de a multa aplicada àquele que não comparece às urnas ser baixa, as sanções aplicadas àquele não justifica a ausência são gravosas. Para esses, diversos direitos são restringidos, como por exemplo, a expedição de passaporte. 
Enquanto os defensores do voto obrigatório afirmam que essa modalidade é essencial para a plena realização de eleições democráticas, tendo em vista que todos os Estados e Regiões do país tem o total de sua participação sendo exercida, já os defensores do voto facultativo acreditam que a obrigação, além de ferir a característica de direito fundamental do voto, faz com que maus eleitores surjam, escolhendo assim maus candidatos apenas por obrigação. 
 Desta forma, necessário se faz conhecer a evolução histórica do voto no Brasil, as características do voto vigente na atual Constituição Federal, as sanções aplicadas àqueles que não comparecem às eleições e as diversas posições acerca do voto facultativo e do voto obrigatório, para que assim, encontre-se os benefícios do atual sistema e de um possível sistema de voto facultativo.
HISTÓRIA DOS DIREITOS POLÍTICOS NO BRASIL
Tendo em vista que o atual momento político do país é instável, com uma série de discussões acerca da corrupção e do descaso de diversos políticos, ideias novas vão surgindo e outras mais antigas são levantadas como oportunidade de mudanças. 
Uma dessas ideias é a mudança do voto obrigatório para o voto facultativo. Tendo em vista que foi aos poucos que o Brasil formou sua política de eleições, importante é o estudo dessa evolução histórica de maneira breve para entendermos a luta do povo pela conquisto de seus direitos.
DO IMPÉRIO À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Em 25 de março de 1824 foi outorgada a primeira constituição do Brasil. Essa Constituição estabeleceu um governo monárquico que perdurou até 1891 com a chegada da República. Diferentemente de todas as outras constituições nacionais, essa não adotou a tripartição dos poderes. Seguindo a ideia de Benjamin Constant, além dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo, havia no Brasil o poder Moderador.
Nessa época, o voto era o chamado censitário, ou seja, só votavam aqueles com renda igual ou superior à 100-mil réis, restringindo assim aqueles que podiam votar, ficando excluídos os analfabetos, as mulheres e os menores de 25 anos. 
 
DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA AO ESTADO NOVO
Em 1891 foi instituída a República dos Estados Unidos do Brasil por meio do Decreto nº 1 de 15 de novembro daquele ano. 
Nesse momento nasce o voto universal no Brasil. Assim, é deixada de lado a renda como pressuposto do direito ao voto e são eleitores os brasileiros maiores de 21 anos, excluindo-se as mulheres, os analfabetos, os mendigos, os soldados e membros de ordens religiosas. Apesar de excluir a grande maioria da população do direito do voto (mulheres representavam cerca de 50% da população e os analfabetos cerca de 70%), a Constituição de 1881 valorizou o papel das eleições pois tornam-se ali eleitos o Presidente, os deputados e senadores federais, os presidentes dos Estados e os deputados e senadores estaduais.
Em 1932 é convocada eleição para a Assembleia Constituinte. Em 1934 é promulgada a nova Constituição e no dia seguinte, pela maioria de voto dos constituintes, Getúlio Vargas é eleito para Presidente da República.
Essa Constituição de 1934 trouxe algumas mudanças importantes, como por exemplo o direito ao voto feminino, surgem o mandado de segurança e a ação popular, diminuiu a reação antirreligiosa decorrente da Constituição anterior permitindo o ensino religioso nas escolas públicas e permitindo os efeitos civis ao casamento religioso dentre outras modificações importantes. 
DO ESTADO NOVO À VOLTA DA DEMOCRACIA
Em 1937, no dia 10 de novembro de 1937 é instaurado no país o chamado Estado Novo. Após a Câmara dos Deputados e o Senado Federal terem sido dissolvidos, Getúlio Vargas outorga uma Constituição baseada no regime fascista que se espalhava pela Europa, trazendo como consequência traços fortemente autoritários. Assim, a imprensa sofre censura, as eleições são suspensas, os partidos políticos são extintos e a oposição começa a ser perseguida.
Nesse período, o Poder Executivo concentrava quase todos os poderes, embora formalmente ainda existissem o Poder Legislativo e o Judiciário. O Poder do Chefe Supremo do Estado era tamanho, que este podia decretar recesso do Poder Legislativo e então ele assumia todas as funções legislativas. Crimes políticos eram punidos com pena de morte. 
Foi apenas em 1945, que efetivamente novos passos para o retorno à democracia são dados. A censura à imprensa cai, é decretado o ato Adicional nº 9 que fixa prazo de 90 dias para marcação das eleições presidenciais, todos os presos políticos são libertados e podem voltar os exilados. Com muita luta, retorna a liberdade partidária e em 28 de maio é decretado o Novo Código Eleitoral Brasileiro (Decreto-Lei nº 7586).
A Constituição de 1946, promulgada em 18 de setembro trouxe de volta os princípios fundamentais das Cartas de 1891 e 1934. Foi instituído o Estado Democrático, repudiando toda forma de autoritarismo, acompanhando os ideais do Novo Código Eleitoral Brasileiro, as eleições voltaram a ser diretas para a Escolha do Presidente da República. Foi o retorno das duas casas do Poder Legislativo e os partidos políticos foram restaurados pela Carta Magna. Pena de morte também foi algo retirado dessa Constituição.
REGIME MILITAR – 1964 A 1987
Dezoito anos após o retorno da democracia nacional pós-Estado Novo, o Brasil vê novamente os direitos políticos sendo limitados. No dia 1º de abril de 1964, os militares tomam Brasília em um golpe rápido, é o chamado Regime Militar.
Durante cerca de duas décadas, o Brasil passa por um dos períodos mais sombrios de sua história – se não o mais sombrio. O Regime Militar retira do povo o direito ao voto direto, são extintos mais uma vez os partidos políticos, novamente surge a censura à imprensa, milhares de pessoas são presas, torturadas e exiladas. O Poder Legislativo tinha o direito de legislar por meio de Decreto-Lei.
Um dos maiores golpes instituídos por esse regime foi o Ato Institucional nº 5. A partir daquele momento, o Presidente da República tinha o direito de fechar o Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais e as Câmaras dos Vereadores. Caso isso ocorre-se, o Poder Executivo exerceriaas funções dessas Casas Legislativas. Qualquer pessoa poderia perder os direitos políticos por um período de 10 anos, os parlamentares poderiam ter seus mandatos cassados, os magistrados poderiam perder suas garantias assim como os funcionários públicos como a estabilidade. Não havia mais o direito à Habeas Corpus em matéria de crimes políticos e segurança nacional, além do que o Poder Judiciário não tinha qualquer autonomia para decidir em atos com fundamentos no AI-5.
Em 1978, o Pacote de Abril dá inicio a um processo de redemocratização pois revoga o AI-5. Dessa forma, as medidas que cassaram os direitos políticos durante a vigência desse ato são cassadas. O poder Executivo perde o poder de suspender o Congresso Nacional. 
Com o tempo, a força e o sentimento de redemocratização começa a crescer e em 1984 o país vivencia um grande movimento social aonde a população vai às ruas para pedir eleições diretas para presidente. Era o chamado movimento das “Diretas Já”.
Milhões de pessoas abarrotaram as ruas demonstrando o desejo e clamando pelas eleições de maneira direta. Porém, novamente ocorrem as eleições pelo colégio eleitoral.
Tancredo Neves foi o primeiro civil a ser eleito como Presidente da República durante a vigência do Regime Constitucional de 1964. Porém, com sua morte antes de assumir o cargo, seu vice José Sarney assume a presidência e convoca uma Assembleia Nacional Constituinte.
ATUAL CONSTITUIÇÃO FEDERAL – 1988 – atualmente
Apenas em 1988 uma nova Constituição é promulgada. 
COMPOSIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
A República Federativa do Brasil, assim como diz o caput do artigo 1º da Constituição Federal de 1988 é formada pela união indissolúvel, isso é, inseparável e soberana, dos Estados, municípios e Distrito Federal.
Desde a constituição de 1891, o princípio da indissolubilidade foi firmado como regra em todas as Constituições seguintes, formando assim uma diretriz fundamental de nossa nação quando republicana.
Como salientado por Alexandre de Moraes, “inadmissível qualquer pretensão de separação de um estado-membro, do distrito Federal ou de qualquer Município da Federação, inexistindo em nosso ordenamento jurídico o denominado direito de secessão”. [1: MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. Página 126.][2: Esse princípio da indissolubilidade é entendido de tal forma pelo STF: “A Constituição, não poderá ser interpretada de sorte que ameace a organização federal por ela instituída, ou ponha em risco a coexistência harmoniosa e solidária da União, Estados e Municípios”. (RExt. Nº 193.712-2/MG – Rel. Min. Maurício Corrêa, Diário de Justiça, Seção I, 16 de maio de 1996, p. 16.124-16.125).]
DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
O parágrafo 1º da Constituição Federal trás consigo a instituição de um Estado Democrático de Direito, que é contrário à Estados onde o poder é emanado de maneira concentrada em uma só pessoa ou em um só grupo, ou seja, impede que prevaleça nessa nação o surgimento de um governo autoritário e ditador.
Alexandre de Moraes conceitua Estado Democrático de Direito da seguinte maneira: “O Estado Democrático de Direito significa a exigência de reger-se por normas democráticas, com eleições livres, periódicas e pelo povo, bem como o respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias fundamentais”.[3: MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. Página 130 - 131.]
DOS FUNDAMENTOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Sob o título “Princípios Fundamentais”, o artigo 1º da Constituição Federal elenca a alguns princípios necessários para traçar uma meta futura, na qual se atinge o Estado Democrático de Direito:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
SOBERANIA
O artigo 1º, inciso I elenca como fundamento da República Federativa do Brasil a Soberania.
Na definição de Marcelo Caetano, a Soberania consiste em “um poder político supremo e independente, entendendo-se por poder supremo aquele que não está limitado por nenhum outro na ordem interna e por poder independente aquele que, na sociedade internacional não tem de acatar regras que não sejam voluntariamente aceitas e está em pé de igualdade com os poderes supremos dos povos”.[4: CAETANO, Marcelo. Direito Constitucional. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 169.]
Na mesma linha de raciocínio, Luiz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior, a Soberania é a “pedra de toque de toda a organização nacional” e “indica, de um lado a supremacia do Estado brasileiro em relação a toda a ordem interna e, de outro lado, a sua independência no plano internacional, indicando-se, desse modo, sua não subordinação a países ou organismos estrangeiros”.[5: ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. Ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 101.]
Encontramos então, em tais definições de Soberania, o poder do Estado brasileiro de ser autônomo, de tal maneira que, não hajam intervenções de outros Estados internamente. Ou seja, coloca o país em um patamar de homogeneidade com outros Estados Internacionais. Além disso, trazem também o fundamento no qual o poder do Estado brasileiro não é subordinado à nenhum outro de ordem interna.
CIDADANIA
O art. 1º da Constituição Federal, também consagra como fundamento da República Federativa do Brasil a Cidadania. Na concepção de Manoel Gonçalves Ferreira Filho, cidadão é "quem conta com direito a intervir no processo governamental seja num regime democrático, seja num regime oligárquico”. [6: FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 37. ed. Saraiva, 2011, p. 115 e 116.]
O mesmo autor nos traz a ideia de que no Brasil, essa expressão é utilizada para designar todo e qualquer nacional e salienta que a cidadania é o status de nacional acrescido dos direitos políticos, ou seja, poder participar do processo governamental, sobretudo pelo voto. Esse direito a cidadania se divide em duas faces, a ativa e a passiva. Sendo a ativa o direito de escolher os representantes e a passiva o direito de se candidatar à cargos político com a vontade de representar o povo.[7: Ibidem, p. 115 e 116.]
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
O Inciso III do artigo 1º da CF de 1988, trás por fim como fundamento da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana. Alexandre de Moraes conceitua esse princípio da seguinte forma: “A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente a pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria ida e que trás consigo a pretensão de respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar” [8: MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 128-129.]
Esse princípio trás dois sentidos fundamentais para o pleno exercício da democracia. Coloca um limite no poder de intervenção do Estado na vida da população à ele subordinada e estabelece um mínimo necessário à vida dentro do país, o que deve ser proporcionado pelo próprio Estado e produz direitos e deveres entre os próprios indivíduos da nação.
Dessa forma, esse inciso traz à tona a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi assinada pelo Brasil em 10-12-1948, a qual foi proclamada pela resolução nº 217ª (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas.
	“Art. 1º - ParágrafoÚnico: Todo o poder emana do povo, que exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE INICIATIVA
Esse fundamento que se encontra previsto no inciso IV, artigo 1º da CF, protege não apenas o trabalhador, mas também o empregador. É dever do Estado proporcionar maneiras que possibilitem a dignidade de quem busca garantir sua subsistência e seu crescimento profissional e humano para também gerar aceleração no desenvolvimento social e financeiro no país.
PLURALISMO POLÍTICO
Esse fundamento adotado pelo legislador demonstra sua preocupação com a liberdade dos cidadãos de escolherem e serem escolhidos como representantes por meio de grupos ideológicos e políticos com o fim de promover a democracia em seu mais pleno conceito. Está fundamentado no inciso V do art. 1º da Constituição Federal e é claramente uma forma de impedir que brechas constitucionais permitam dificultar a democracia nacional.
ESPÉCIES DE PODER CONSTITUINTE
A doutrina clássica distingue em dois os poderes constituintes. Há o poder constituinte originário e o Poder Constituinte Derivado.
PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO
Por poder constituinte originário, temos o poder ilimitado de criar uma norma. Alexandre de Moraes dá as seguintes características: inicial, ilimitado, autônomo e incondicionado. 
O mesmo autor explica que é inicial por ser a base da ordem jurídica daquela nação, ilimitada, pois nada anterior define seus limites, incondicionado pois não há qualquer procedimento determinado para sua redação.[9: MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 26.]
Essa ideia é baseada no raciocínio de Canotilho que se expressa da seguinte maneira:
“O poder constituinte, na teoria de Sieyé, seria um poder inicial, autônomo e omnipotente. É inicial porque não existe, antes dele, nem de fato nem de direito, qualquer outro poder. É nele que se situa, por excelência, a vontade do soberano (instancia jurídico-política dotada de autoridade suprema). É um poder autônomo: a ele e só a ele compete decidir se, como e quando, deve “dar-se” uma constituição à nação. É um poder omnipotente, incondicionado: o poder constituinte não está subordinado à qualquer regra de forma ou de fundo”.[10: Ibidem, p. 26.]
Na mesma linha de raciocínio, Manoel Gonçalves Ferreira Filho conceitua essas características:
“É ele inicial porque não se funda noutro, mas é dele que derivam os demais poderes. (...) É ilimitado em face do direito positivo (no caso a Constituição vigente até sua última manifestação). (...) Enfim, é ele incondicionado no sentido de que não tem fórmula prefixada nem forma estabelecida para sua manifestação”. [11: FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 37. ed. Saraiva, 2011, p. 52-53.]
Assim, quando uma nova Constituição está para ser escrita, se essa for uma de suas características, nada irá limita-la, mas ela sim limitará todo o ordenamento jurídico que nascerá a partir daquele momento. 
PODER CONSTITUINTE REFORMADOR OU DERIVADO
O Poder Constituinte derivado, ao contrário do originário não é inicial, ilimitado e incondicional, mas secundário, dependente e condicionado.[12: MIRANDA, Henrique Savonitti. Curso de direito constitucional; 3. Ed. Brasília: Senado Federal, 2005, p. 77.]
Conforme conceitua Henrique Savonitt Miranda, é “secundário porque pressupões a existência de uma Constituição vigente, sobre a qual serão realizadas alterações, ou que servirá como parâmetro objetivo à elaboração das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas municipais e distrital (...), dependente, pois tem sua atuação diretamente ligada à Constituição pré-existente. E, finalmente, é condicionado, por encontrar quatro limitações à sua atuação”.[13: Ibidem, p. 77.]
O poder constituinte derivado se divide em três espécies: poder constituinte derivado revisional, poder constituinte derivado reformador e poder constituinte derivado decorrente. [14: Ibidem, p. 77.]
PODER CONSTITUINTE DERIVADO REVISIONAL
Essa espécie de poder constituinte ter caráter temporal, ou seja, só é possível ser exercido dentro de certo tempo estipulado para que a Constituição seja adequada ou revisada. Conforme o artigo 3º do Ato das Disposições Transitórias – ADCT, a partir do quinto ano de promulgação de nossa Constituição, haveria um período em que a mesma poderia sofrer alterações. Essas alterações seriam realizadas pela pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, reunidos em sessão unicameral. Tendo em vista que esse prazo já se extinguiu, 6 emendas à constituição tiveram origem. [15: Ibidem, p.77.]
PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR
	O Poder constituinte derivado reformador é regulamentado pelo artigo 60 da Constituição Federal de 1988. Esse poder tem por característica a alteração da Carta Magna por meio de votação no Congresso Nacional. [16: MIRANDA, Henrique Savonitti. Curso de direito constitucional; 3. ed. Brasília: Senado Federal, 2005, p. 77-78.]
PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE	
Esse poder constituinte consiste na prerrogativa que detém os Estados-membros de elaborarem suas próprias constituições estaduais e os municípios e Distrito Federal de elaborarem suas Leis Orgânicas. [17: Ibidem, p. 78.]
EMENDA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Quando a atual Constituição Federal foi redigida, o legislador escolheu que ela seria rígida, ou seja, não poderia ser modificada sem procedimento especial que ela própria prevê.
Alexandre de Moraes ensina: “Rígidas são as constituições escritas que poderão ser alteradas por um processo legislativo mais solene e dificultoso do que o existente para edição das demais espécies normativas (por exemplo, CF/88 – art. 60); por sua vez, as constituições flexíveis, em regra não escritas, excepcionalmente escritas, poderão ser alteradas pelo processo legislativo ordinário”. Ele ainda vai além nessa classificação de nossa constituição atual e usa o termo super-rígida, pois, apesar de poder ser alterada por um processo legislativo específico, existem cláusulas imutáveis (CF, art. 60, § 4º - Cláusulas Pétreas). [18: MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 9.][19: MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 10]
O art. 59, inciso I da Constituição Federal do Brasil trás a possibilidade de Emendas Constitucionais. Esse poder é o chamado Poder Constituinte Reformador, tendo em vista que as Emendas à Constituição, assim que promulgadas, passam a integral a Constituição com o mesmo poder à ela reservado.
O artigo 60, da Constituição Federal trás a forma pela qual a Emenda à Constituição poderá ocorrer. A proposta da emenda deverá vir de uma das casas legislativas do Congresso Nacional, do Presidente da República ou das Assembleias Legislativas desde que seja proposta por mais da metade de cada unidade Federativa com aval da maioria relativa de seus respectivos membros:
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.
Em seguida, o artigo 60 da Constituição impede a emenda nos casos de Estado de Exceção.
Art.60 - § 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.
Os § 2º e 3º do artigo 60 da Constituição trás o procedimento cabível para análise e promulgação do projeto de emenda à Constituição. 
“Art. 60 - § 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
§ 3º - A emenda à Constituição será promulgadapelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.”
O artigo 60, § 4º (abaixo transcrito), trás as chamadas cláusulas Pétreas, ou seja, cláusulas que não podem ser alteradas na vigência da Constituição Federal de 1988 por meio de emenda à constituição. São elas: a forma federativa do Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais. 
“Art. 60 - § 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
	Nota-se claramente que a obrigatoriedade do voto não está incluído em tal parágrafo, podendo assim, tal dispositivo, previsto no artigo 14, §1º, inciso I da Constituição Federal, ser alterado por meio de Emenda. 
OS DIREITOS POLÍTICOS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988
Alexandre de Moraes define direitos políticos da seguinte forma: “Direitos políticos são o conjunto de regras que disciplina as formas de atuação da soberania popular, conforme preleciona o caput do art. 14 da Constituição Federal. São direitos públicos subjetivos que investem o indivíduo no status activae civitatis, permitindo-lhe o exercício concreto da liberdade de participação nos negócios políticos do Estado, de maneira a conferir os atributos da cidadania”. Ou seja, é todo ordenamento jurídico que trás ao indivíduo o real poder de decisão e escolhas de maneira livre e que realmente influencie nas decisões que serão tomadas pelos governantes.[20: MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 238.]
A Constituição Federal de 1988, trás a forma pela qual a soberania popular será exercida.
“Art. 14 – a Soberania Popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I – Plebiscito;
II- Referendo;
III-Iniciativa popular;
§1º - O Alistamento eleitoral o voto são:
I-Obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II- Facultativos para:
os analfabetos;
Os maiores de setenta anos;
Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
§2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos”.
Maria Helena Diniz conceitua Soberania popular da seguinte maneira: “1. Direito que tem o povo de autogovernar-se, escolhendo seus representantes, seus governantes e o governo. 2 – princípio segundo o qual todo poder emana do povo, e em seu nome é exercido”. 	[21: DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 4, p. 388.]
SUFRÁGIO UNIVERSAL
A primeira parte do caput do art. 14 da Constituição Federal decide como forma de tomada das decisões do cidadão, o sufrágio universal.
Sufrágio é “o direito dever, de índole constitucional, que o indivíduo tem de participar da vida do Estado, seja diretamente (por meio de plebiscito, referendo ou inciativa popular), seja por meios de mecanismos de representação (elegendo ou sendo eleito)”. 	[22: ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. Ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 227.]
VOTO
O voto, como diz o próprio caput do artigo 14, será exercido diretamente e de maneira secreta. 
Para Maria Helena Diniz, essa é a definição de voto: “a) Exercício do sufrágio; b) Modo de manifestar a vontade numa deliberação coletiva; c) ato do eleitorado para escolher aquele que vai ocupar certo cargo ou exercer uma função; d) meio pelo qual os eleitores selecionam, formalmente, os candidatos; e) opinião individual”. [23: DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 4, p. 758.]
Como exercício de sufrágio, o voto se faz essencial para a plenitude dos direitos políticos de cada cidadão. Votar é demonstrar tanto satisfação como insatisfação com o governo daquele período. É exercer um direito de escolha para que as decisões que serão tomadas pelos representantes eleitos espelhem a vontade do povo. Ou seja, cabe ao povo escolher seus representantes, sendo que através do voto, todas as decisões tomadas por eles, são decisões diretas do próprio povo.
O ato de votar faz com que o cidadão participe ativamente da política e dá a ele o direito de exigir de seus representantes as promessas feitas de maneira que beneficie os menos favorecidos e às suas necessidades básicas.
VOTO DIRETO
O voto direto foi uma grande conquista do povo brasileiro, que após longos anos de Regime Militar e votações indiretas foi às ruas lutar pelo direito de escolher seus representantes.
Essa modalidade de voto se dá pelo direito que o eleitor tem de escolher seus representantes diretamente, ou seja, todo cidadão vota na pessoa do candidato escolhido sem que haja uma “terceirização” desse direito de escolha. Diferentemente dos países em que o voto é indireto, onde a escolha desses representantes se dá pelo voto dos que já se encontram no poder sem que o povo participe dessa escolha. O único momento em que esse voto direto pode ser contradito é no caso previsto pelo artigo 81, §1º da Constituição Federal, onde se os cargos de Presidente da República e de vice-presidente ficarem vagos, nos últimos dois anos do período presidencial, o Congresso Nacional escolherá em 30 dias depois da última vaga, o Presidente da República por meio de eleição indireta.
VOTO SECRETO
O voto secreto protege o eleitor de qualquer forma de coação ou pressão de candidatos, partidos ou outros grupos. Ninguém que não seja o próprio eleitor, deve saber sobre sua escolha em uma eleição. Esse direito é fundamental para que ocorram eleições verdadeiramente democráticas tendo em vista que se o voto fosse aberto, seria muito fácil controlar o resultado de uma eleição. 
Para que esse direito seja realmente prestado ao eleitor, o Código Eleitoral define uma série de regras que devem cercar uma eleição. No Brasil, por exemplo, as eleições são feitas por meio de urnas eletrônicas isoladas por uma cabine que impede que qualquer pessoa veja em quem o eleitor votou. 
VOTO OBRIGATÓRIO
Atualmente, o voto é obrigatório segundo o artigo 14, §1º, inciso I da Constituição Federal. Esse tipo de voto “consiste em obrigar o cidadão ao comparecimento às eleições, assinando uma folha de presença e depositando seu voto na urna, havendo inclusive uma sanção (multa) para sua ausência”. Esse inciso não está inserido nas chamadas cláusulas pétreas da Constituição Federal, podendo ser alterado por meio de Emenda à Constituição. [24: MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 542.]
VOTO FACULTATIVO
Os menores de 18 anos e maiores de 16, assim como os maiores de 70 e os analfabetos não possuem a obrigatoriedade de votar, porém, podem, caso queiram, se alistar e votar nas eleições. Não há sanção para quem não comparece às eleições e estão abrangidos pelo inciso II, § 1º do artigo 14 da Constituição Federal.
DIFERENÇAS ENTRE SUFRÁGIO E VOTO
Embora normalmente os conceitos de sufrágio e voto são tidos como sinônimos, a Constituição Federal de 1988 entendeu por bem distingui-los, dando ao Sufrágio o significado do direito propriamente dito e ao voto o real exercício desse direito.
Diversos autores explicam de maneira simples e completa a diferença entre esses dois vocábulos. Nesse sentido, Marcus Costa Vasconcelos e Alexandre Ferraz simplificam essa distinção da seguinte maneira:
“Verifica-se que o sufrágio é diferente de voto, que por sua vez é diferente de escrutínio. Sufrágio é o direito de votar e ser votado. Voto é o ato pelo qual se exercita seu direito. Já o escrutínio refere-se ao processo de apuração dos votos”. [25: VASCONCELLOS, Marcus Costa; FERRAZ, Alexandre. Direito constitucional. São Paulo: Ridell, 2008, p. 171.]
Na definição de José Afonso da Silva “(...) osufrágio é universal e o voto é direto, secreto e tem valor igual. A palavra voto é empregada em outros dispositivos, exprimindo a vontade num processo decisório. (...), expressando: um, o direito (sufrágio), outro, o seu exercício (o voto)”. [26: SILVA, José Afonso da. Curso de direito Constitucional positivo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 309.]
Assim, temos que o sufrágio universal é o direito de participação política do cidadão de maneira ativa ou passiva, elegendo ou sendo eleito. Por outro lado, o voto é a forma pela qual esse direito de participação no Estado é instrumentalizado e efetivamente regulamentado.
SANÇÕES APLICADAS AOS QUE NÃO VOTAM OU NÃO SE ALISTAM DENTRO DO PRAZO
Tendo em vista que cidadania no Brasil é exercida através do voto e o mesmo é obrigatório, cabe conhecer as sanções aplicadas àqueles que não exercem esse direito. 
Acompanhando a história do direito constitucional e eleitoral brasileiro podemos encontrar vestígios de que mesmo em momentos onde o sufrágio era universal, poucos eram os que realmente tinham esse direito garantido e instrumentalizado. 	
Com isso, ao longo dos anos e das constituições democráticas nacionais, o legislador constituinte, com o intuito de integrar a população e trazer toda a população às urnas, instituiu o voto obrigatório. 
Com o tempo, cada vez mais brasileiros vão às urnas a cada novo período de eleições e essa universalidade do sufrágio vai ganhando realmente espaço no país. 
Porém, com o passar dos anos e das eleições, o povo já não vota mais apenas por obrigação, mas sim por ter a possibilidade de exercer seu direito e fazer a diferença no momento da escolha de seus candidatos. Isso faz com que cada vez mais discussões acerca da obrigatoriedade do voto sejam evidenciadas e argumentos de diversas posições surgem como veremos mais adiante.
Para que o voto obrigatório não seja instituído apenas no papel e esse dispositivo se tornasse eficaz, o legislador constituinte optou por aplicar algumas sanções ao cidadão maior de 18 anos e menor de 70 anos que não votasse. 
Atualmente, essas sanções e impedimentos são previstas nos artigos 7º à 11 do Código Eleitoral de 15 de julho de 1965.
O Artigo 7º trás em seu caput um prazo de 30 dias após as eleições para que o eleitor que não comparecer ao colégio eleitoral possa justificar sua ausência. Caso não ocorra essa justificativa, o eleitor terá de pagar uma multa de 3 a 10 por cento sobre o salário-mínimo da região.
“Art. 7º O eleitor que deixar de votar e não se justificar perante o juiz eleitoral até 30 (trinta) dias após a realização da eleição, incorrerá na multa de 3 (três) a 10 (dez) por cento sobre o salário-mínimo da região, imposta pelo juiz eleitoral e cobrada na forma prevista no art. 367.”
O §1º do artigo 7º do Código Eleitoral e seus incisos trazem alguns impedimentos cabíveis àquele que não pagar a multa ou não justificar a ausência no prazo. Dentre esses impedimentos estão: não se inscrever em concursos públicos, receber remunerações provenientes de serviços públicos correspondentes ao segundo mês subsequente ao da eleição, obter passaporte, etc.:
§ 1º Sem a prova de que votou na última eleição, pagou a respectiva multa ou de que se justificou devidamente, não poderá o eleitor:
I - inscrever-se em concurso ou prova para cargo ou função pública, investir-se ou empossar-se neles;
II - receber vencimentos, remuneração, salário ou proventos de função ou emprego público, autárquico ou para estatal, bem como fundações governamentais, empresas, institutos e sociedades de qualquer natureza, mantidas ou subvencionadas pelo governo ou que exerçam serviço público delegado, correspondentes ao segundo mês subsequente ao da eleição;
III - participar de concorrência pública ou administrativa da União, dos Estados, dos Territórios, do Distrito Federal ou dos Municípios, ou das respectivas autarquias;
IV - obter empréstimos nas autarquias, sociedades de economia mista, caixas econômicas federais ou estaduais, nos institutos e caixas de previdência social, bem como em qualquer estabelecimento de crédito mantido pelo governo, ou de cuja administração este participe, e com essas entidades celebrar contratos;
V - obter passaporte ou carteira de identidade;
VI - renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial ou fiscalizado pelo governo;
VII - praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda.
O §2º do mesmo artigo do Código Eleitoral, expande esses impedimentos aos brasileiros natos ou naturalizados maiores de dezoito anos e brasileiros natos maiores de dezenove que não se alistarem dentro do prazo, excluindo dessa obrigação os que sejam analfabetos os que não se exprimirem na língua nacional, os privados de seus direitos políticos, os inválidos, os maiores de setenta anos e os que se encontram fora do país.
“§ 2º Os brasileiros natos ou naturalizados, maiores de 18 anos, salvo os excetuados nos arts. 5º e 6º, nº 1, sem prova de estarem alistados não poderão praticar os atos relacionados no parágrafo anterior.”
Os eleitores que não votarem, não pagarem a multa e não se justificarem nas últimas 3 eleições de maneira consecutiva, terão sua inscrição de eleitor cancelada:
“§ 3º Realizado o alistamento eleitoral pelo processo eletrônico de dados, será cancelada a inscrição do eleitor que não votar em 3 (três) eleições consecutivas, não pagar a multa ou não se justificar no prazo de 6 (seis) meses, a contar da data da última eleição a que deveria ter comparecido.”
	Nota-se que as sanções aplicadas para os que não comparecem às eleições podem ser muito ou pouco prejudiciais, dependendo das pretensões de cada cidadão. O valor da multa para os não votantes nas últimas eleições foi no valor de R$ 3,51 por turno.[27: Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Tira-dúvidas dos Eleitores. Disponível em: <http://www.tre-sp.jus.br/eleitor/tira-duvidas/tira-duvidas-dos-eleitores>. Acesso em 19 mar. 2015.]
VOTO OBRIGATÓRIO E VOTO FACULTATIVO NA AMÉRICA DO SUL
Para compreendermos especificamente a temática acerca do voto obrigatório, importante demonstrar os países de nosso continente e lista-los de maneira separada para verificarmos a quantidade de países que têm por base cada uma dessas espécies de voto.
PAÍSES QUE ADOTAM O VOTO FACULTATIVO
Os países americanos que têm instituído o voto facultativo são: “Canadá, Estados Unidos da América, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Cuba, Haiti, Jamaica, Belize, Bahamas, Trinidad e Tobago, Barbados, Granada, Antígua e Barbuda, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinos, Suriname, Guiana, Colômbia, Paraguai”. [28: SOARES, Paulo Henrique. Vantagens e desvantagens do voto obrigatório e do voto facultativo. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/937>. Acesso em: 18 mar. 2015, p. 17 - 18.]
PAÍSES QUE ADOTAM O VOTO COMPULSÓRIO
No continente americano, a minoria dos países não possui voto obrigatório. São os eles: “México, Guatemala, Costa Rica, Panamá, República Dominicana, Brasil, Venezuela, Equador, Peru, Bolívia, Chile, Argentina, Uruguai”. [29: Ibidem, p. 18.]
DISCUSSÕES: VOTO FACULTATIVO X VOTO OBRIGATÓRIO
Desde a instituição do voto obrigatório no Brasil em 1932 e sua constitucionalização em 1934, diversa são as disputas, sejam políticas ou sociais que abrangem o voto como tema de discussão.
Com a chegada da Constituição de 1988 e a obrigatoriedade do voto estar prevista na Carta Magna, diversas Propostas de Emenda à Constituição foram apresentados e essa questão é debatida ano após ano no Congresso Nacional.
ARGUMENTO À FAVOR DO VOTO FACULTATIVO
Os argumentos a favor da alteração do voto obrigatório, tornando-o facultativo são os mais diversos possíveis. Essa corrente defende que o voto é um direito que deve encontrar sua universalização, ou seja, se tornar efetivamente um direito de todos, podendo esse todo escolher votar ou não. 
A cada eleição que passa, temos um grande aumento de eleitores que se abstêmde votar, votam em branco ou anulam o voto. Isso decorre de momentos de grande decepção do povo com a política do país. Segundo os defensores do voto facultativo, isso apenas demonstra que as sanções aplicáveis pela lei são uma maneira de ‘complicar’ a vida do eleitor que não pode ou não quer votar, pois, uma simples justificativa, ou o pagamento de um valor ínfimo, bastam para que outras sanções não sejam aplicadas.
 Em 2010, o deputado Antônio Carlos Pannuzio (PSDB-SP) afirmou que a plenitude do direito ao voto se dá com a escolha em poder ou não participar do processo eleitoral. "Tínhamos que passar pelo processo da universalização do direito ao voto. Depois desse patamar precisamos ampliá-lo, ou seja, exerce o direito quem quer". [30: MIRANDA, Tiago. Tramitam na Câmara 40 PECs para tornar o voto facultativo. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/150397-TRAMITAM-NA-CAMARA-40-PECS-PARA-TORNAR-O-VOTO-FACULTATIVO.html>. Acesso em 04 mar. 2015.]
O ex-senador José Fogaça, que antes se demonstrava a favor do voto obrigatório, de forma clara opina favoravelmente ao voto facultativo:
"Sempre fui adepto do voto obrigatório e mudei radicalmente a minha posição após o plebiscito que consolidou o presidencialismo no Brasil. Percebi que 95% das pessoas que iam para os locais de votação não tinham clara ideia do que estavam votando. Percebi também que quando um cidadão não tem ideia do que está votando ele prefere manter o conhecido, mesmo que ruim, a votar no desconhecido. O voto obrigatório é uma tendência ao retrocesso, ao atraso, porque podemos obrigar um cidadão a votar, mas não há quem o obrigue a se deter, a estudar, a analisar, a avaliar um assunto complexo, como é o sistema de governo, por exemplo. Certas pessoas se interessam e outras não. Aliás, é um direito institucional do cidadão não se interessar por determinado assunto.  Digo isso, Sr. Presidente, Sr. Relator, porque entendo que o voto facultativo tem outra qualidade que deveria ser ressaltada: quando houver voto facultativo, estados, municípios e o próprio país poderão fazer com muito maior liberalidade, em número muito maior, plebiscitos e referendos. Há países, como a Suíça, que fazem plebiscito para tudo - para criar um imposto há plebiscito, para entrar ou não na União Econômica Européia há plebiscito, ou seja, há plebiscito para tudo na Suíça -, mas o voto não é obrigatório.  Então se pode fazer até dois plebiscitos em um dia porque votarão as pessoas interessadas, as pessoas que estudaram o assunto. Da mesma forma, a experiência vale nos Estados Unidos e em outros países europeus. De modo que o voto facultativo vai aperfeiçoar essa democracia participativa popular, vai permitir que ela seja mais ampla, mais abrangente do que é hoje." [31: Senado Federal. Reforma político-partidária: relatório final da comissão temporária interna encarregada de estudar a reforma político-partidária. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/496336>. Acesso em: 10 fev. 2015, p. 8 e 9.]
Em 1998 foi publicado o relatório final da Comissão Temporária Interna encarregada de estudar a reforma político-partidária (ANEXO – A), que foi criada em 1995 com o intuito de verificar as normas Constitucionais voltadas à esse assunto, trouxe no seu Capítulo IX o tema do voto facultativo. 
“IX - VOTO FACULTATIVO - Com relação ao voto obrigatório ou facultativo, é importante registrar que nas principais democracias representativas o voto é, sempre, facultativo. Constata-se, de fato, uma correlação entre o voto obrigatório e o autoritarismo político. O voto facultativo é, sem dúvida, mais democrático e aufere melhor a vontade do eleitor. Corrobora, ainda, a tese do voto facultativo o fato de que o exercício da cidadania é um direito fundamental do cidadão na democracia representativa. É quando o povo, regularmente, exerce o supremo poder. O poder de escolher os seus representantes. O exercício da cidadania tem levado à maturidade política. Por outro lado, a obrigatoriedade do voto, na prática, não tem ocorrido, visto que após os pleitos eleitorais tem havido a apresentação e aprovação de projetos anistiando os faltosos. Temos convicção de que o voto deve ser encarado como um direito e não como uma obrigação, um dever, passível de punição, por essa razão somos pela instituição do voto facultativo, mantendo, todavia, o alistamento eleitoral obrigatório para os maiores de dezoito e menores de setenta anos. (...)” (Grifei).[32: Senado Federal. Reforma político-partidária: relatório final da comissão temporária interna encarregada de estudar a reforma político-partidária. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/496336>. Acesso em: 10 fev. 2015, p. 67.]
Em reunião realizada em 03/04/97, a Comissão demonstrou ser favorável à extinção do voto obrigatório. Em suma, a opinião final formada nessa reunião foi incluída no relatório final nos seguintes termos:
Naquela ocasião opinamos que: "Em primeiro lugar, o voto no Brasil, há muito tempo, é facultativo: de 47 para cá, tivemos 20 projetos de anistia; de 92 para cá, todas as eleições foram anistiadas. Nenhum de nós conhece alguém que tenha sido punido ou recebido pena por ter deixado de votar. Vivemos, na verdade, uma ficção: estamos nos enganando, pensando que o voto tem que ser obrigatório. Acho que a obrigação do cidadão é ser eleitor - ter o título eleitoral é uma obrigação, um documento; entretanto, o ato de votar é um direito de cidadania que a pessoa exerce, e no seu exercício, na sua participação de cidadania, isso vai se ampliando. Os países nos quais existe o voto obrigatório são aqueles onde mais vezes as constituições foram rasgadas e mais vezes entramos na escuridão do arbítrio. Então, essa questão do voto obrigatório, da obrigação de a pessoa participar, não serviu para promover a educação, ampliar a questão da democracia. A meu ver, o voto facultativo amplia essa questão da democracia, serve para a educação do cidadão e faz com que as pessoas compareçam, votem. No Brasil, em Minas Gerais, por exemplo, há uma abstenção muito elevada, pessoas que não comparecem e não exercem o direito democrático de poder escolher, de poder participar. Temos também um número bastante elevado de votos em branco e votos nulos. Talvez essa proposta de voto facultativo, há alguns anos, não tivesse sentido, mas com o avanço da democracia brasileira, que tem sido demonstrada ao longo dos últimos tempos, em todos os episódios - o impeachment do Presidente da República, em que houve uma discussão, sem tanques nas ruas; uma discussão democrática, a participação na CPI do Orçamento; agora, essa questão dos precatórios -, está havendo um amadurecimento democrático muito grande na escolha nas eleições, na maneira de comportar-se e de julgar por parte da população, vendo o que é certo e o que é errado, e, às vezes, bem à frente da elite, pelo sentimento que tem das coisas.   Essa questão do voto facultativo, do direito do cidadão exercer, é bastante positiva. Mesmo as pesquisas de opinião demonstram que praticamente 70% da população, no Brasil todo, quer o voto facultativo. Isso é um avanço, é uma maneira de garantirmos o direito do cidadão e acabar com a história daquele paternalismo, não de ser obrigado; se for obrigado, o cidadão não vai. Há também outras coisas que não têm servido para avançar na democracia.   Na verdade, o nosso povo, a nossa gente, gosta de participar do processo político por esse Brasil afora e participa dos comícios, das reuniões. Acho que se poderia dar um avanço profundo nessa questão do voto facultativo." (Grifei).[33: Senado Federal. Reforma político-partidária: relatório final da comissão temporária interna encarregada de estudar a reforma político-partidária. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/496336>. Acesso em: 10 fev. 2015, p. 68.]
Como podemos ver, já naquela época, a opinião da população quanto ao voto facultativo era positiva. Essa opinião popular ainda não mudou, pelo contrário, vem aumentando,como demonstrado em pesquisa feita pelo Site do Senado Federal em 2012, onde 85% dos votantes eram a favor do voto facultativo. [34: Senado Federal. 85% dos internautas aprovam o voto facultativo para todos, a partir dos dezesseis anos. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/senado/datasenado/noticia.asp?not=83>. Acesso em: 04 mar. 2015.]
O Deputado Filipe Pereira, em 2012, apresentou Proposta de Emenda à Constituição nº 159/2012 (Anexo - B), a qual tem por objetivo descaracterizar a obrigatoriedade do voto no Brasil, assim, trás a seguinte justificativa: 
É evidente que, em um regime de livre sufrágio, o número de eleitores interessados em participar do processo eleitoral para a escolha dos seus representantes sempre será bem menor do que em um sistema de obrigatoriedade do voto, que inclusive ameaça os que deixam de votar com multas e outras penalidades. Entretanto, o número de votantes será diretamente proporcional ao nível de conscientização política desenvolvido pela população. Serão esses, porém, votos de qualidade e de consciência, e cada candidato terá que convencer as pessoas a nele votarem com argumentos consistentes e programas de governo factíveis de serem realizados. A credibilidade pública do candidato valerá muito e será decisiva. (...) Nessa linha, vale mencionar que, de acordo com a doutrina mais moderna, o voto facultativo é questão pacificada nas principais democracias do mundo contemporâneo. Entende-se que o voto é uma faculdade da pessoa, resultado de sua livre escolha e de sua vontade. E, ato volitivo, para ser amplo e irrestrito, não há que ser obrigatório, visto que a vontade é uma questão de consciência. [35: Texto retirado da Proposta de Emenda à Constituição Federal nº 159/2012.]
Tais argumentos trazem a essa discussão uma visão que busca o exercício do direito apenas por ser direito e não um dever. Para os defensores dessa corrente, ao desobrigar o povo a votar, só votarão aqueles que têm, ao menos, o mínimo de consciência política. O aumento de votos brancos e nulos é muito grande a cada ano de eleição, o que tornaria essa obrigação mera formalidade sem efeito real no exercício da democracia. 
Nesse sentido, o Senador Renato Ferraço em sua PEC nº 55/2012 (ANEXO – C), afirma que, “essa ideologia da obrigatoriedade do voto, levou no Brasil, à transformação de um direito político fundamental em uma obrigação legal. Essa forma de pensar parece ignorar o fato de a ausência do voto revela também um posicionamento político legítimo, e parece algo ofensiva ao princípio da autodeterminação da vontade, ou seja, deve-nos ser permitido ignorar as questões republicanas, quando, por razões diversas, essa sorte de preocupações não satisfaz o indivíduo em sua irrepetibilidade”.
Continuando sua justificativa, o senador Renato Ferraço, usa como argumento que a facultatividade do voto é tendência a nível mundial ao listar alguns países que não possuem o voto obrigatório:
“A experiência em outras democracias, mais consolidadas que a nossa, parece também aconselhar a supressão da obrigatoriedade do voto. O voto é simplesmente um direito em Portugal, Noruega, Suíça, Finlândia, Holanda, Bélgica, Alemanha, Áustria, Canadá, Estados unidos, Japão, Espanha, Grã-Bretanha, dentre outros”. [36: Texto retirado da Proposta de Emenda à Constituição Federal nº 55/2012 do então Senado Renato Ferraço (PMDB). ]
Em 2010, o Senado publicou em seu site oficial, que 40 Propostas de Emenda à Constituição estavam em trâmite no Congresso com o intuito de tornar o voto facultativo. Essa discussão é tão grande que a cada ano, novas PECs com o mesmo teor surgem à medida que as anteriores são recusadas. A exemplo disso estão as PECs 55/2012, 159/2012 e 352/2013.[37: MIRANDA, Tiago. Tramitam na Câmara 40 PECs para tornar o voto facultativo. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/150397-TRAMITAM-NA-CAMARA-40-PECS-PARA-TORNAR-O-VOTO-FACULTATIVO.html>. Acesso em 04 mar. 2015.]
ARGUMENTOS À FAVOR DO VOTO OBRIGATÓRIO
Da mesma maneira que o voto facultativo possui muitos defensores, encontramos diversos estudiosos e políticos que demonstram o entendimento de que o voto obrigatório facilita a divisão do poder do povo tendo em vista a diversidade nacional culturalmente e socialmente. 
Essa corrente crê que o voto, além de um dever positivado, é um dever moral e deveria ser em qualquer país do mundo. Entendem que não obrigar toda a população a votar, permite que classes mais favorecidas expressem sua ideologia política sem atender às necessidades de toda a população, o que traria para o país um índice crescente de desigualdade no que tange à representação política.
Nelson de Souza Sampaio defende o voto obrigatório, pois para ele, o voto é mais que um direito, é uma obrigação por natureza. Em seu ponto de vista, tornar o voto facultativo o torna simplesmente em simples dever cívico ou moral, como podemos ver abaixo:
“Do exposto, conclui-se que o voto tem, primordialmente, o caráter de uma função pública. Como componente do órgão eleitoral, o eleitor concorre para compor outros órgãos do Estado também criados pela constituição. Em geral, porém, as constituições têm deixado o exercício da função de votar a critério do eleitor, não estabelecendo sanções para os que se omitem. Nessa hipótese, as normas jurídicas sobre o voto pertenceriam à categoria das normas imperfeitas, o que redundaria em fazer do sufrágio simples dever cívico ou moral. Somente quando se torna obrigatório, o voto assumiria verdadeiro caráter de dever jurídico. Tal obrigatoriedade foi estabelecida por alguns países, menos pelos argumentos sobre a natureza do voto do que pelo fato da abstenção de muitos eleitores, – fato prenhe de conseqüências políticas, inclusive no sentido de desvirtuar o sistema democrático. Nos pleitos eleitorais com alta percentagem de abstenção, a minoria do eleitorado poderia formar os órgãos dirigentes do Estado, ou seja, Governo e Parlamento.” (Grifei).[38: Eleições e Sistemas Eleitorais, in Revista de Jurisprudência – Arquivos do Tribunal de Alçada do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1º trimestre de 1981, p. 66 apud SOARES, Paulo Henrique. Vantagens e desvantagens do voto obrigatório e do voto facultativo. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/937>. Acesso em: 18 mar. 2015, p. 3.]
Também em defesa do voto obrigatório, argumenta o Professor Titular de Ética e Filosofia Política da USP, Renato Janine Ribeiro:
“Por que o voto, que é direito, seria também obrigação? Porque é a principal expressão de uma sociedade democrática. A democracia é o regime no qual o cidadão tem mais liberdades. Mas essas liberdades não caem do céu. São construídas por nós. "Nós" quer dizer: todos nós. A democracia é o único regime em que todos são iguais em direitos. Ou seja, todos os eleitores são considerados adultos, maiores de idade. O poder é conferido pelos cidadãos. Por isso, a democracia não admite paternalismo, condescendência, clientelismo. Cidadão é quem participa ativamente da construção da cidade - civitas, pólis - isto é, do Estado. É o contrário do súdito, o subdictus, aquele que está debaixo do dizer alheio. Nas monarquias, despotismos e ditaduras, há alguém que supostamente protege ou cuida dos outros. Já os cidadãos, sendo iguais, não podem ser tutelados. Não podemos ser tratados como crianças. O chefe de governo não é pai da pátria nem dos cidadãos. Assim, na democracia, temos responsabilidade. Se não quisermos votar por acharmos a política ruim, corrupta, insatisfatória, estaremos errados. Porque a quem posso responsabilizar, se a política é má? Cabe a "nós" mudá-la. Se ela é assim, é porque a deixamos ser assim. Pode até ser que nossa política esteja mal devido a problemas do passado; mas, mesmo assim, o futuro é nossa responsabilidade. Não escolhi o passado político nem pessoal, porque não escolhi nascer rico ou pobre, bonito ou feio; mas depende de mim o que, de agora em diante, farei com isso. Então, se meu país vai mal, cabea nós mudá-lo para melhor. Daí que votar seja uma obrigação ética. Daí que votar seja apenas um indicador de uma obrigação ética mais abrangente, que é de participar da vida pública o mais possível”. [39: RIBEIRO, Renato Janine. Pelo voto obrigatório. Disponível em: <http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/61/artigo225209-1.asp>. Acesso em: 12 mar. 2015.]
No mesmo sentido, em 2010, José Genuíno, que na época da Constituinte e da Revisão era à favor do voto facultativo, demonstrou que alterou sua posição dizendo que “O voto facultativo não politiza, não organiza e não fortalece a democracia (...)O absenteísmo não é sinônimo de maturidade na minha opinião”.[40: MIRANDA, Tiago. Tramitam na Câmara 40 PECs para tornar o voto facultativo. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/150397-TRAMITAM-NA-CAMARA-40-PECS-PARA-TORNAR-O-VOTO-FACULTATIVO.html>. Acesso em 04 mar. 2015.]
Na opinião do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), o voto facultativo ainda não deveria ser adotado no País. "No contexto atual, liberar o voto significa estimular o desinteresse e a desmotivação política. Precisamos de uma cultura política mais avançada para chegar a esse voto" . Ele avalia que a obrigatoriedade do voto é, hoje em dia, um dos poucos instrumentos para que as pessoas prestem atenção na política.[41: Idem.]
Argumentam também os defensores do voto obrigatório que o povo brasileiro ainda não está apto para o voto facultativo, conforme explica Paulo Henrique Soares:
“A sociedade brasileira ainda é bastante injusta na distribuição da riqueza nacional, o que se reflete no nível de participação política de largos segmentos sociais, que desconhecem quase que inteiramente seus direitos de cidadãos. O voto constitui, nessas circunstâncias, um forte instrumento para que essa coletividade de excluídos manifeste sua vontade política. Por outro lado, com o voto facultativo, os eleitores bem informados e de melhor nível de escolaridade, que constituem, portanto, o público formador de opinião tenderia a não comparecer as urnas, preferindo aproveitar o feriado para viagens de lazer, ausentando-se de seu domicílio eleitoral e, desse modo, favorecendo o êxito de candidatos com vocação clientelista, o que empobreceria a política brasileira”.[42: SOARES, Paulo Henrique. Vantagens e desvantagens do voto obrigatório e do voto facultativo. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/937>. Acesso em: 18 mar. 2015, p. 2.]
Percebe-se que para os defensores do voto obrigatório, torna-lo facultativo é desnecessário, além de perigoso. Deixar para o povo a decisão de votar ou não seria uma forma de favorecer classes sociais. Para a corrente favorável ao voto obrigatório, essa espécie de voto é essencial para que o status de dever jurídico seja efetivamente posto em prática. 
Usam como argumento também, que as sanções aplicadas àqueles que não votam são mínimas, além disso, o povo tem o direito de anular o voto ou votar em branco, o que seria a mesma coisa que torna-lo facultativo. 
CONCLUSÃO
	Vivemos em um país em desenvolvimento que precisa de grandes mudanças políticas, sociais e econômicas. Não é de hoje que a política no país é tratada como sinônimo de corrupção. O povo quer encontrar alguma forma de mudar essa situação, por esse motivo, vai às ruas pedir por mudanças. 
	Tendo em vista que grande parcela da população está insatisfeita e vem demonstrando um crescimento no interesse por mudanças políticas, opções de reforma jurídica deveriam ser tratadas com mais respeito e agilidade. Como diz a própria Constituição Federal de 1988, o poder é emanado do povo através do voto que deve ser universal, secreto e direto, porém a obrigatoriedade trás algumas complicações diretas para aqueles que realmente sonham com mudanças no ordenamento político nacional. 
	Se por um lado a maioria da população quer votar e escolhe seus representantes por motivações políticas, uma parcela que está insatisfeita com a política e não tem mais interesse nessa, vota apenas por obrigação. Isso gera um efeito contrário à democracia, pois a escolha dessa parcela insatisfeita é apenas para que não sofram sanções ou para não ter o trabalho de fazer o pagamento da multa. 
	Essas pessoas que votam apenas por obrigação anulam o voto, ou votam em branco, ou simplesmente votam nos candidatos que outras pessoas dizem ser o correto. Dessa forma, sem que haja um estudo real de quem são os candidatos, a motivação para a escolha dos representantes do povo se dá apenas por formalismo, criando assim um sistema que impede a evolução política ou que as mudanças realmente ocorram. 
	Abraham Lincoln, em seu discurso de Gettysburg em 19/11/1863, define a democracia de maneira irredutível: “Democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo”. Com esse pensamento, cabe à todo o povo ter consciência de que o voto é necessário para toda a população pois é dele que todas as decisões tomadas pelos nossos representantes surgem. Assim, escolher candidatos apenas por formalismos, impede que o povo demonstre sua real insatisfação. 
	Os cidadãos que não possuam interesses em votar, caso tenham o direito apenas e não o dever, não iram impedir que o real valor do voto se perca.
	Mesmo que diminua o número de votantes nas eleições, proporcionalmente, o número de pessoas que possuam consciência política ou ideológica terá maior valor, dando assim, mais qualidade ao voto, fazendo com que a maioria escolha de maneira consciente seus candidatos. 
	Para que a população crie interesse em votar, não basta obrigar. Devem ser criados mecanismos de conscientização, que podem existir desde a formação das crianças, até propagandas sem cunho eleitoral, mas informativo, nos meios de comunicação, para que cada vez mais o povo crie consciência do real valor do voto e vá atrás dos representantes que mais tenham relação com suas necessidades e as necessidades do país. 
Assim, facultando-se o voto, dando à população informações e conhecimentos políticos e até mesmo constitucionais sobre o real poder político que elas possuam, a democracia fluirá de maneira mais clara e mais objetiva, pois aqueles que serão escolhidos, o serão por mérito e por qualidade e não por terem dado sorte de serem os escolhidos por eleitores estranhos à política. 
Muito embora o voto facultativo não seja o grande salvador da política e da democracia nacional por si só, ele, aliado a outras mudanças no ordenamento jurídico e social são um grande avanço rumo a real Justiça que o povo clama quando vai às ruas lutar por seus direitos. 	
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIVROS:
ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. Ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
CAETANO, Marcelo. Direito Constitucional. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987.
DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. 3. ed., v. 4. São Paulo: Saraiva, 1998.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 37. ed. Saraiva, 2011.
MIRANDA, Henrique Savonitti. Curso de direito constitucional; 3. ed. Brasília: Senado Federal, 2005.
MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. 
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito Constitucional positivo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1999
VASCONCELLOS, Marcus Costa; FERRAZ, Alexandre. Direito constitucional. São Paulo: Ridell, 2008.
SITES:
MIRANDA, Tiago. Tramitam na Câmara 40 PECs para tornar o voto facultativo. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/150397-TRAMITAM-NA-CAMARA-40-PECS-PARA-TORNAR-O-VOTO-FACULTATIVO.html>. Acesso em 04 mar. 2015.
RIBEIRO, Renato Janine. Pelo voto obrigatório. Disponível em: <http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/61/artigo225209-1.asp>. Acesso em: 12 mar. 2015.
Senado Federal. 85% dos internautas aprovam o voto facultativo para todos,a partir dos dezesseis anos. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/senado/datasenado/noticia.asp?not=83>. Acesso em: 04 mar. 2015.
Senado Federal. Reforma político-partidária: relatório final da comissão temporária interna encarregada de estudar a reforma político-partidária. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/496336>. Acesso em: 10 fev. 2015.
SOARES, Paulo Henrique. Vantagens e desvantagens do voto obrigatório e do voto facultativo. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/937>. Acesso em: 18 mar. 2015.
Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Tira-dúvidas dos Eleitores. Disponível em: <http://www.tre-sp.jus.br/eleitor/tira-duvidas/tira-duvidas-dos-eleitores>. Acesso em 19 mar. 2015.
ANEXO A
Relatório Final da Comissão Temporária Interna encarregada de estudar a reforma político-partidária.
ANEXO B
Proposta de Emenda à Constituição nº 159/2012.
ANEXO C
Proposta de Emenda à Constituição nº 55/2012.

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