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DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS | MÓDULO COMPLEMENTAR – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 1 OS: 0132/9/17-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS Profa. Malu Aragão CARREIRAS TRIBUNAIS www.concurseiroprime.com.br DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 2 OS: 0132/9/17-Gil CONCURSO: CARREIRAS TRIBUNAIS ASSUNTO: 1 – CONSTITUCIONALISMO...................................................................................................................02 2 – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE.........................................................................................20 1 – CONSTITUCIONALISMO 1.0. CONCEITO Para André Ramos Tavares o termo "Constitucionalismo" pode ter as seguintes acepções: limitação do poder arbitrário; imposição de que haja Cartas Constitucionais escritas; indicação dos propósitos mais latentes e atuais da função e posição das Constituições nas mais diversas sociedades e referência a uma evolução histórico Constitucional de um determinado Estado. Segundo José Joaquim Gomes Canotilho o Constitucionalismo é a teoria ou ideologia que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político- social de uma comunidade. Para ele, o Constitucionalismo é uma teoria normativa da política, tal como a teoria da democracia ou a teoria do liberalismo. O professor Kildare Gonçalves Carvalho assevera que o "Constitucionalismo consiste na divisão do poder, para que se evite o arbítrio e a prepotência, e representa o governo das leis e não dos homens, da racionalidade do Direito e não do mero poder." E Walber de Moura Agra afirma que “o Constitucionalismo significa que as condutas sociais devem ser determinadas por normas, e o ápice da escala normativa reside nas normas constitucionais. ” Dentre vários conceitos desenvolvidos, destaca-se o que decorre do Constitucionalismo Moderno, qual seja, um movimento político, social e jurídico que culminou na organização do Estado, por intermédio da previsão de direitos e garantias fundamentais, em uma Constituição, tendo por finalidade a limitação do poder estatal arbitrário e absolutista que reinava no final do século XVIII, de forma irrestrita pelos monarcas. 2.0. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO Embora as discussões doutrinárias acerca do tema Constitucionalismo sejam atuais, considerando que referem-se ao movimento moderno que se iniciou no século XVIII, há movimentos constitucionalistas desde os tempos antigos, das manifestações religiosas do Estado teocrático Hebreu até a sua previsão nas Constituições contemporâneas. 2.1. Constitucionalismo na Idade Antiga Karl Loewenstein identifica os primeiros sinais da limitação de poder político na Antiguidade Clássica, no Estado Hebreu (por volta do ano 1.200 a.C), com as seguintes características: teocracia e organização baseada em leis não escritas, costumes e religião. Os chefes familiares e os líderes dos clãs eram que definiam as leis que a sociedade deveria seguir, os quais representavam o poder divino na terra. Os profetas eram quem limitavam o poder das autoridades, por meio da fiscalização e punição, quando elas extrapolavam o Direito religioso, o qual era baseado na Bíblia e que era passado de geração para geração. Predominava a chamada “Lei do Senhor”. Empós, surge o Constitucionalismo grego fundamentado em pontos centrais como a pacificação social e política. Inicia-se uma forma de racionalização do poder. Nas cidades-estados gregas ocorreram as primeiras manifestações reais de uma Democracia Constitucional (séculos V a III a. C). A Democracia era direta e os cargos públicos da época eram acessíveis a todos os cidadãos, por meio de sorteio e por tempo limitado. Karl Loewenstein assinala que esta Democracia “era o único exemplo conhecido de sistema político com plena identidade entre governantes e governados, no qual o poder político está igualmente distribuído entre todos os cidadãos ativos. ” O Ministro Luis Roberto Barroso afirma que em Atenas se praticaram ideias e institutos que se conservam até hoje “como a divisão das funções estatais por órgãos diversos, a separação entre o poder secular e a religião, a existência de um sistema judicial e, sobretudo, a supremacia da lei, criada por um processo formal adequado e válida para todos. A experiência ocorrida na República Romana (séculos V a II a.C), posterior à grega, porém muito similar a esta, baseava- se no direito à liberdade como um objetivo estatal e não simplesmente como direito individual. O limita ao poder arbitrário era proveniente de normas, emitidas pelos imperadores romanos, as quais possuíam força de lei e garantiam os direitos individuais das pessoas. O ilustre José Afonso da Silva apresenta as formas de limitação do poder, expondo que alguns antecedentes formais das declarações de direitos foram sendo elaborados, como o veto do tribuno da plebe contra ações injustas dos patrícios em Roma, a Lei de Valério Publícola proibindo penas corporais contra cidadãos em certas situações até culminar com o Interdicto in Homine Libero Exhibendo, remoto antecedente do Habeas Corpus moderno, que o Direito Romano instituiu como proteção jurídica da liberdade. 2.2. Constitucionalismo na Idade Média Na Idade Média, após alguns séculos de regimes absolutistas, surgiram normas garantidoras de direitos individuais bem como uma função judiciária bastante atuante e independente. DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 3 OS: 0132/9/17-Gil A mais importante manifestação deste período foi a Magna Charta Libertatum, de 15 de junho de 1215, tornada definitiva em 1225, outorgada pelo Rei João, mais conhecido como João Sem Terra, na Inglaterra. Ela marcou o ressurgimento do Constitucionalismo, reconhecendo diversos direitos limitadores do poder estatal, dentre eles citam-se o habeas corpus, a limitação ao direito de tributar, o direito de petição, a instituição do júri, o devido processo legal, o princípio do livre acesso à justiça, a liberdade de religião, a aplicação proporcional das penas, direito de propriedade, entre outras. Uadi Lammêgo Bulos indica as seguintes características deste Constitucionalismo: necessidade de afirmar a igualdade dos cidadãos perante o Estado, excluindo todo o poder arbitrário; primado da função judiciária; concepção jusnaturalista de constituição, lastreada no pensamento de que as leis preexistem aos próprios homens; existência de documentos garantidores de liberdades públicas e florescimento da ideia de que a autoridade dos governantes se fundava num contrato com os súditos. 2.3. Constitucionalismo na Idade Moderna Neste período, observa-se uma transição lenta e paulatina das fontes de poder das mãos do monarca para os textos normativos que podem ser comparados aos constitucionais,os quais estabeleciam uma série de direitos individuais. É a continuidade do chamado Constitucionalismo Inglês, o qual consagra o Princípio Rule of Law (governo das leis), com o surgimento da Petition of Right, de 1628, do Habeas Corpus Act, de 1679, da Bill of Right, de 1689 e da Act of Settlement, de 1701 e marca o início da cultura de elaboração de declarações de direitos, limitando o poder, dando garantias aos governados e preparando as condições para a implantação de um Estado de Direito. A independência que possuíam os juízes, a declaração de direitos e a possibilidade de julgar de acordo com os precedentes judiciais e com os princípios, que são características do sistema common law, são fatores que mais contribuíram para a concretização da limitação de poder e garantia de direitos no Constitucionalismo Inglês. 2.4. Constitucionalismo na Idade Contemporânea (Pós- Moderna) Conhecido como Constitucionalismo clássico, moderno ou liberal e se desenvolve no final do século XVIII. O Constitucionalismo Liberal caracteriza-se pelo surgimento de Constituições modernas, escritas, rígidas, dotadas de supremacia constitucional, com destaque para as Constituições norte-americana, de 14 de setembro de 1787, e a francesa, de 3 de setembro de 1791, as quais consagraram-se como diplomas que traziam em seu bojo o ideário de liberdade, a ausência de interferência estatal e os direitos individuais, influências típicas do iluminismo e que, por sua vez, acabaram por influenciar a maioria da Cartas Constitucionais ocidentais, dentre elas, as Constituições brasileiras de 1824 e 1891. Um Constitucionalismo jurídico, político e cultural, tinha como uma de suas finalidades limitar o poder estatal, previsto nas Constituições com o intuito de romper com o regime absolutista até então vigente, onde o povo a ser o titular das decisões. Esta limitação somente foi possível com a separação dos poderes e com a declaração de direitos. Surgem, nesta época, os chamados direitos de 1ª dimensão. Kildare Gonçalves Carvalho caracteriza este Constitucionalismo de fins dos século XVIII “pela ocorrência da ideia de separação de poderes, garantia dos direitos dos cidadãos, crença na democracia representativa, demarcação entre a sociedade civil e o Estado, e ausência do Estado no domínio econômico (Estado absenteísta). 2.5. Constitucionalismo Norte-Americano O Constitucionalismo norte-americano surgiu da seguinte forma: as treze colônias romperam com o governo central inglês, declarando sua independência, por meio da publicação da Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia (Virginia Bill of Rights), de 12 de junho de 1776, considerada a primeira declaração de direitos fundamentais em sentido moderno, e da Constituição da Virgínia (Constitution of Virgínia), em 29 de junho de 1776. Após, os Articles of Confederation and Perpetual Union, de 1777, foram ratificados, documento que representava a união dos treze estados independentes, num Estado Federal, os Estados Unidos da América. Posteriormente, estes artigos foram substituídos pela Constituição Norte-Americana, aprovada pela Convenção da Filadélfia, em 17 de setembro de 1787, que tinha como preocupação central a adoção de um governo democrático e a limitação de poderes, diferentemente do ocorrido na Inglaterra, na qual a centralidade dos documentos se concentravam na supremacia do parlamento e na proteção do indivíduo contra o rei. Marcelo Novelino cita como principais características deste constitucionalismo as seguintes: criação da primeira constituição escrita e dotada de rigidez; idéia de supremacia da Constituição, distinção entre poder constituinte e poderes constituídos; instituição do controle judicial de constitucionalidade; forma federativa de Estado; sistema presidencialista; forma republicana de governo; regime político democrático; rígida separação e o equilíbrio entre os poderes estatais; fortalecimento do Poder Judiciário e a declaração de direitos da pessoa humana. 2.6. Constitucionalismo Francês O Constitucionalismo francês, influenciado pelos Constitucionalismos inglês e norte-americano, inaugura-se com a promulgação da Constituição da França, em 3 de setembro de 1791, elaborada por uma Assembléia Nacional Constituinte, criada dois anos antes, em 27 de agosto de DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 4 OS: 0132/9/17-Gil 1789. Esta Constituição, que contém em seu preâmbulo a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, foi a primeira Carta escrita da França e, a partir dela, várias Constituições foram surgindo pela Europa e pelo mundo, salvo o caso da Inglaterra, que já possuía seu conjunto de Atos, Leis e Declarações, e a dos Estados Teocráticos, os quais adotavam princípios estritamente religiosos. Com relação à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, José Afonso da Silva indica as características dessa dita declaração, com fundamento na doutrina de Jacques Robert, quais sejam a) intelectualismo, porque a afirmação de direitos imprescritíveis do homem e a restauração de um poder legítimo, baseado no consentimento popular, foi uma operação de ordem puramente intelectual que se desenrolaria no plano unicamente das ideias; é que, para os homens de 1789, a declaração de direitos era antes de tudo um documento filosófico e jurídico que devia anunciar a chegada de uma sociedade ideal; b) mundialismo, no sentido de que os princípios enunciados no texto da Declaração pretendem um valor geral que ultrapassa os indivíduos do país, para alcançar valor universal; c) individualismo, porque só as liberdades dos indivíduos, não menciona a liberdade de associação nem a liberdade de reunião; preocupa-se com defender o indivíduo contra o Estado. Ressalte-se que a Revolução Francesa de 1789 foi o movimento reacionário à organização política do Estado feudal vigente, a qual possibilitou o Constitucionalismo na França, trazendo consigo os seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. 2.7. Constitucionalismo Social Este movimento constitucional nasceu após a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), como consequência dos problemas de ordem estrutural como a concentração de renda, a exploração da mão de obra, a desigualdade social, o desemprego, a miséria das massas proletárias, a falência de muitas empresas, dando ensejo a movimentos sociais, entre os quais pode-se mencionar a Revolução Mexicana de 1910 e a Revolução Russa de 1917. Surge, então, uma inevitável intervenção estatal, principalmente no campo das relações trabalhistas, das previdenciárias e das econômicas (direitos fundamentais de segunda dimensão). As principais Cartas Constitucionais desta época são a Constituição Mexicana, de 1917, a Constituição alemã de Weimar, de 1919, a Constituição Austríaca, de 1920 e a Constituição Brasileira de 1934. 3.0. NEOCONSTITUCIONALISMO 3.1. Caracterização O Neoconstitucionalismo, fundado na filosofia neopositivista (pós-positivista) foi um movimento de transformação do Estado e do Direito, em especial da Constituição, que surge, na Europa, na segunda metade do século XX, tendo como um dos principais marcos o julgamento ocorrido na cidade de Nüremberg, Alemanha, no período compreendido entre 1945 e 1949. Nesse julgamento, o Tribunal Alemão trouxe uma inovação, pois deconsiderou o postulado de que a lei se confundia com o Direito e proferiu sua decisão fundamentada nos valores essenciais da sociedade (positivismo moderado). Passa a existir interrelação entre o direito e a moral, na sua forma deinterpretação e aplicação e consequentemente a reorganização dos ordenamentos jurídicos vigentes à época, objetivando a supremacia Constitucional, onde a Constituição é centro e a norma mais importante do ordenamento, a proteção do homem, por meio do resguardo jurídico de sua dignidade e de seus direitos fundamentais (tendência axiológica) e a inclusão, nos documentos normativos, de princípios e conceitos jurídicos indeterminados, que possibilita uma maior interpretação jurídica e aplicador do Direito, criando-se uma nova dogmática de hermenêutica constitucional. Neste contexto, surgem os direitos chamados de 3ª dimensão, difusos, quais sejam, que segundo Paulo Bonavides são: defesa do meio ambiente e proteção do consumidor, incluídos nas Cartas Constitucionais elaboradas após o fim da 2ª Guerra Mundial. Alex Muniz Barreto citando Gilmar Mendes, Inocêncio Coelho e Paulo Branco mencionam que o Neoconstitucionalismo tem as seguintes características: “a) mais Constituição do que leis; b)mais juízes do que legisladores; c) mais princípios do que regras; d) mais ponderação do que subsunção; e)mais concretização do que interpretação. ” Pode-se dizer que o Neoconstitucionalismo marca uma transição de um Estado Legislativo de Direito, influenciados pela doutrina inglesa de supremacia do Parlamento e da francesa com enfoque na lei, como expressão do povo, para um Estado Constitucional de Direito, influenciado pela supremacia da Constituição do modelo americano, tendo como referências européias a Constituição da Itália (1947), da Alemanha (1949), de Portugal (1976) e da Espanha (1978) e na América do Sul, a Constituição Brasileira de 1988. Com o nascimento da Supremacia das Cartas Constitucionais veio a criação de Tribunais Constitucionais, os quais teriam a função de guardiões das normas previstas nas referidas Cartas. No Brasil, o movimento neoconstitucionalista chegou algumas décadas após o seu início na Europa e teve como marco a promulgação da Constituição da República de 1988, que segundo o professor Kildare, sofreu fortes influências do jurista português Gomes Canotilho e do jusfilósofo socialista espanhol Elias Diaz. A Constituição Brasileira de 1988 consagrou a transição entre o Estado autoritário existente à época da ditadura militar e o Estado Democrático de Direito. Nos artigos DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS | – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 5 OS: 0132/9/17-Gil iniciais consagra os fundamentos e os objetivos da República, a separação dos poderes estatais, o princípios aplicáveis nos âmbitos internos e externos do Estado, os direitos e garantias fundamentais e estabelece o Supremo Tribunal Federal como o Órgão de jurisdição constitucional, aderindo à corrente neoconstitucionalista. 3.2. Princípios e Regras Constitucionais No Neoconstitucionalismo, os princípios passaram ao patamar de normas e adquiriram força normativa. Segundo Robert Alexy, “Princípios são, tanto quanto regras, razões para juízos concretos de dever-ser, ainda que de espécies muito diferentes. ” A norma é gênero da qual são espécies princípios e regras. Kildare Gonçalves Carvalho, citando Canotilho, apresenta os seguintes critérios distintivos: a) Grau de abstração: os princípios são normas com um grau de abstração relativamente elevado; as regras possuem um abstração relativamente reduzida. b) Grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto: os princípios, por serem vagos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras, enquanto as regras são suscetíveis de aplicação direta. 3.3. Força Normativa da Constituição A Força normativa da Constituição é a imperatividade que as normas constitucionais (princípios e regras) têm para produzirem os seus efeitos, considerando que são expressão de um dever ser. Segundo Konrad Hesse, a força normativa está vinculada à eficácia da Constituição, que somente será concretizada se as normas da Constituição forem elaboradas em consonância com a história, com os anseios, com os aspectos políticos, econômicos, sociais, culturais e com as tendências dominantes da sociedade, se houver uma vontade das pessoas em cumprir os seus comandos (vontade de Constituição) e, principalmente, se ela incorporar o estado espiritual de seu tempo (geistige Situation). Diz o autor que esses elementos dar capacidade da Constituição de se adaptar a novas situações, evitando o engessamento da Carta. Aduz, também, que a Constituição não deve ter como pilar uma estrutura unilateral, devendo prever parte da estrutura contrária, ou seja, aos direitos fundamentais deve se contrapor os deveres, à divisão de poderes deve se contrapor uma dose de concentração de poder. Como exemplo dessa efetividade, destaca-se o sistema de judicialização das políticas públicas, iniciado após 1988, no qual o Poder Judiciário tem um papel fundamental na concretização dos valores previstos na Constituição, por intermédio de seus julgamentos, demonstrando assim a força de suas normas. 3.4. Hermenêutica Constitucional Surge o Neoconstitucionalismo e uma nova forma de se interpretar a Constituição apresenta-se a partir da segunda metade do século XX, em decorrência da força normativa adquirida pelas normas constitucionais, pela supremacia da Carta Constitucional em relação ao ordenamento jurídico e pela positivação dos princípios na Constituição. A supremacia da Constituição pressupõe que todas as normas infraconstitucionais devem ser compatíveis com as normas constitucionais. Os princípios constitucionais trazem uma grande alteração na hermenêutica constitucional, haja vista que o aplicador do direito tem a possibilidade de várias formas de interpretação do direito, quando estiver diante de situações concretas. Luis Roberto Barroso afirma que no método da ponderação o intérprete “(i) fará concessões recíprocas, procurando preservar o máximo possível de cada um dos interesses em disputa ou, no limite, (ii) procederá à escolha do direito que irá prevalecer, em concreto, por realizar mais adequadamente a vontade constitucional.” Dito autor assevera que o intérprete deve redobrar o cuidado com relação à argumentação, à razão prática e ao controle da racionalidade das decisões proferidas. Para Barroso, "as decisões que envolvem a atividade criativa do juiz potencializam o dever de fundamentação, por não estarem inteiramente legitimadas pela lógica da separação de poderes – por esta última, o juiz limita-se a aplicar, no caso concreto, a decisão abstrata tomada pelo legislador”. Afirma, ainda, que “para assegurar a legitimidade e a racionalidade de sua interpretação nessas situações, o intérprete deverá, em meio a outras considerações: (i) reconduzi-la sempre ao sistema jurídico, a uma norma constitucional ou legal que lhe sirva de fundamento – a legitimidade de uma decisão judicial decorre de sua vinculação a uma deliberação majoritária, seja do constituinte, seja do legislador; (ii) utilizar-se de um fundamento jurídico que possa ser generalizado aos casos equiparáveis, que tenha pretensão de universalidade: decisões judiciais não devem ser casuísticas; (iii) levar em conta as consequências práticas que sua decisão produzirá no mundo dos fatos." 5.0. CONSTITUCIONALISMO DO FUTURO Constitucionalismo do por vir, que se manifesta como um aperfeiçoamento dos movimentos constitucionais anteriores, corrigindo suas mazelas e se pautando por princípios e valores que resguardem a dignidade do indivíduo, a dignidade da sociedade e que, ao mesmo tempo, promovam um desenvolvimento econômico globalsustentável. É o movimento de globalização política, econômica, social e cultural dos países, com a formação dos grandes blocos e das grandes comunidades internacionais, que darão ensejo a uma integração total, a qual inclui a livre movimentação de pessoas, a adoção de uma mesma DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS | – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 6 OS: 0132/9/17-Gil moeda, a facilitação do comércio internacional e a criação de legislações unificadas. Pedro Lenza destaca os seguintes valores, delineados pelo Jurista José Roberto Dromi, que comporão este novo Constitucionalismo: Verdade: a Constituição não pode mais gerar falsas expectativas; o constituinte só poderá “prometer” o que for viável cumprir, devendo ser transparente e ético; Solidariedade: trata-se de nova perspectiva de igualdade, sedimentada na solidariedade dos povos, na dignidade da pessoa humana e na justiça social; Consenso: a Constituição do futuro deverá ser fruto de consenso democrático; Continuidade: ao se reformar a Constituição, a ruptura não pode deixar de levar em conta os avanços já conquistados; Participação: refere-se à efetiva participação dos “corpos intermediários da sociedade”, consagrando-se a noção de democracia participativa e de Estado de Direito Democrático; Integração: trata-se da previsão de órgãos supranacionais para a implementação de uma integração espiritual, moral, ética e institucional entre os povos; Universalização: refere-se à consagração dos direitos fundamentais internacionais nas Constituições futuras, fazendo prevalecer o princípio da dignidade da pessoa humana de maneira universal e afastando, assim, qualquer forma de desumanização. CONSTITUIÇÃO: CONCEITO, ORIGENS, CONTEÚDO, ESTRUTURA E CLASSIFICAÇÃO. BREVE HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES DO BRASIL. SUPREMACIA CONSTITUCIONAL. 1.0. CONSTITUIÇÃO. “Direito Constitucional é o ramo do direito público que estuda os princípios e normas estruturadoras do Estado e garantidoras dos direitos e liberdades constitucionais”. (Paulino Jacques). Ressalte-se que a doutrina tece grandes comentários sobre a distinção entre Direito Público e Direito Privado, mas atualmente cresce o entendimento de que o Direito é Uno. Desta espécie de direito, surge o documento necessário a sua concretização, a Constituição. 2.0. CONCEITO E ORIGENS. A Constituição em sentido amplo representa o ato de constituir, de estabelecer, de firmar. Dentre outros conceitos, é a lei maior do Estado, conjunto de normas que determinam de maneira fundamental o ordenamento estrutural do Estado, lei fundamental, norma básica de um Estado. Entretanto alguns conceitos indicados pelos doutrinadores das diversas ciências de base social são destaque entre várias concepções. A visão sociológica (1862) afirma que a Constituição é concebida como fato social, já que o texto normativo é fruto da realidade social do País, em determinado momento histórico. Assim dita o sociólogo Ferdinand Lassalle em seu livro “¿Qué es una Constitución?”, dizendo que “A Constituição é a soma dos fatores reais de poder” e se assim não for, não passará de uma folha de papel. Tese defendida também por Karl Marx. Já a conceituação de Constituição política (1929), indicada por Carl Schimitt, diz: “A Constituição é a unidade política de um povo”, uma vez que a Constituição surge de um ato constituinte, concebida de uma vontade política fundamental. Para o mencionado doutrinador há distinção entre Constituição e leis constitucionais. A primeira abrange as matérias essenciais, de grande relevância jurídica. As segundas seriam as demais normas integrantes do texto constitucional. Segundo a concepção jurídica (final da 2ª Guerra Mundial), baseada em uma visão estritamente formal, a Constituição é um sistema de normas jurídicas. Tal visão tem como defensor o austríaco Hans Kelsen, que demonstrou sua tese através da Teoria Pura do Direito. Para Kelsen, a Constituição é norma pura, sem qualquer influência sociológica, política ou filosófica, embora reconheça a relevância dos fatores sociais. Alocou a Constituição no mundo do dever ser. Hans Kelsen indicou dois sentidos para a palavra Constituição. O lógico-jurídico, onde a constituição é a norma fundamental hipotética, que dar validade a constituição em sentido jurídico-positivo. Neste a Constituição é a norma fundamental positiva, que serve de parâmetro de validade para as demais normas do Estado, surgindo assim a pirâmide de “Kelsen”, um verdadeiro escalonamento de normas. Na concepção Jurídica de Konrad Hesse (1959), a Constituição Federal, apesar de sucumbir muitas vezes à realidade, possui uma força normativa capaz de conformar esta mesma realidade, bastando para isso que exista “vontade de constituição”, e não apenas “vontade de poder”. Surge assim a Força Normativa da Constituição Federal que se contrapõe a tese sociológica. Importante destacar o conceito Ideal de Constituição, desenvolvido a partir do século XIX. Como preleciona J. J. Gomes Canotilho, “este conceito ideal identifica-se fundamentalmente com os postulados político-liberais, considerando-os como elementos materiais caracterizadores e distintivos os seguintes: a) a constituição deve consagrar um sistema de garantias da liberdade (esta essencialmente concebida no sentido do reconhecimento de direitos individuais e da participação dos cidadãos nos DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS | – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 7 OS: 0132/9/17-Gil atos do poder legislativo através do parlamento); b) a constituição contém o princípio da divisão dos poderes, no sentido de garantia orgânica contra os abusos dos poderes estatais; c) a constituição deve ser escrita”. O conceito desenvolvido pelo Professor Paulo Bonavides, divide-se em conceito material, que é o conjunto de normas pertinentes à organização do poder, à distribuição da competência, ao exercício da autoridade, à forma de governo, aos direitos da pessoa humana, tanto individuais como sociais”. É o conteúdo básico referente à composição e ao funcionamento da ordem política. “Não há Estado sem Constituição”. Em seu aspecto material a Constituição expressa o conteúdo das determinações mais importantes; aquelas que, em uma determinada sociedade, efetivamente mereçam ser designadas de matéria constitucional. E conceito formal, que diz respeito às normas constitucionais que, embora revestidas da mesma rigidez das materialmente constitucionais, não são materialmente constitucionais, pois não se referem aos pontos cardeais da existência política, já mencionados (v. objeto da Constituição). São matérias que apenas tem a aparência de constitucionalidade (em sentido material), apesar de gozarem da mesma garantia e superioridade. Ex.: Art. 242, § 2º, sobre o Colégio Pedro II. Do ponto de vista material, a matéria não traz elementos essenciais, mas do ponto de vista formal, a norma será tão constitucional quanto o princípio da igualdade, por exemplo. Conforme J. H. Meirelles Teixeira, no sentido culturalista, trata-se de “... uma formação objetiva de cultura que encerra ao mesmo tempo, elementos históricos, sociais e racionais, aí intervindo, portanto, não apenas fatores reais (natureza humana, necessidades individuais e sociais concretas, raça, geografia, uso, costumes, tradições, economia, técnicas), mas tambémespirituais (sentimentos, ideias morais, políticas e religiosas, valores), ou ainda elementos puramente racionais (técnicas jurídicas, formas políticas, instituições, formas e conceitos jurídicos a priori), e finalmente elementos voluntaristas, pois não é possível negar-se o papel de vontade humana, da livre adesão, da vontade política das comunidades sociais na adoção desta ou daquela forma de convivência política e social, e de organização do Direito e do Estado”. Doutrinadores publicistas, vêm disseminando a ideia de “Constituição Aberta”, tendo como percussores Peter Häberle e Carlos Alberto Siqueira Castro, que leva em consideração que a Constituição tem objeto dinâmico e aberto, para que se adapte às novas expectativas e necessidades do sociedade. Por está repleta de princípios e conceitos jurídicos, admite mutações constitucionais, além das emendas constitucionais formais. Dita concepção recusa a ideia de que a interpretação deve ser monopolizada exclusivamente pelos juristas. Para que a Constituição se concretize é necessário que todos os cidadãos se envolvam num processo de interpretação e aplicação da constituição, uma vez que o titular o poder constituinte é o povo, devendo participar do processo hermenêutico de materialização da constituição. Outra novidade da doutrina contemporânea, idealizada por Marcelo Neves, é a Constitucionalização Simbólica, onde a norma não passa de um mero símbolo para dar satisfação aos anseios sociais, pois o legislador não a teria criado para ser concretizada na vida prática. Foi na Inglaterra que surgiu os primeiros indícios das liberdades públicas com o intuito de limitar o poder Estatal. O Rei João Sem Terra foi vencido em 1215 e obrigado a assinar a Magna Carta, que trouxe as garantias e a limitação à autoridade real, reclamadas pelos nobres e os religiosos. Em 1688, o Parlamento aprovou o Bill of Rights - Declaração de Direitos ou Projetos de Direitos. A maioria do autores constitucionalistas apontam a Constituição dos Estados Unidos da América, promulgada na Convenção da Filadélfia, 1787, como sendo a primeira Constituição escrita, apesar de Anna Mucci Pelúzio afirmar que a primeira constituição escrita é a da Suécia, de 1722 - Constituição do Rei Gustavo. 3.0. CONTEÚDO E OBJETO. O Prof. José Afonso da Silva diz que o objetivo da Constituição Federal é “estabelecer a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos, o modo de aquisição do poder e a forma de seu exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos e garantias dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins socioeconômicos do Estado, bem como os fundamentos dos direitos econômicos, sociais e culturais”. E depois acrescenta que “a Constituição é algo que tem como forma: um complexo de normas (escritas ou costumeiras); conteúdo: conduta humana motivada pelas relações sociais (econômicas, políticas, religiosas etc.); fim: realização de valores que apontam para o existir da comunidade; causa criadora e recriadora: o poder que emana do povo. 4.0. ESTRUTURA. Estruturalmente a constituição atual contém um preâmbulo, nove títulos (corpo) e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que tendo natureza de norma constitucional, pode trazer exceções às regras gerais previstas no corpo da constituição. Preâmbulo – apesar de não fazer parte do texto constitucional, uma vez que não possui valor normativo, seu conteúdo traça diretrizes políticas, filosóficas e ideológicas da Constituição, sendo assim um vetor de interpretação. Parte dogmática – texto normativo constitucional que compreende do artigo 1º. ao art. 250. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) – estabelece as regras de transição entre a Constituição anterior e a nova Constituição. Possui natureza de norma constitucional, podendo inclusive ser objeto de emendas constitucionais. Alguns dispositivos são regras de exceção da parte dogmática da Constituição Federal. DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS | – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 8 OS: 0132/9/17-Gil 5.0. CLASSIFICAÇÃO. 5.1. Quanto à ORIGEM, pode ser: Constituição promulgada (democrática, popular ou votada) – nasce da vontade popular. Constituição outorgada – imposta de maneira unilateral pelo agente revolucionário que não recebeu do povo legitimidade para em nome dele atuar. A doutrina cita ainda a constituição cesarista (bonapartista ou plebiscitária), formada por plebiscito popular sobre um projeto elaborado pelo Imperador ou um Ditador e a pactuada (mista ou dualista), sendo aquela que exprime um compromisso instável de duas forças políticas rivais: a realeza de um lado e a burguesia e a nobreza do outro. OBS: Doutrinadores defendem a tese de que a Constituição é a lei fundamental promulgada e Carta a lei outorgada. 5.2. Quanto à FORMA, pode ser: Constituição escrita (instrumental) - que se consubstancia em um único documento solene e se origina de um Poder Constituinte. Subdivide-se em: codificada, sistematizada em um único documento ou legal (escrita não formal), contida em mais de um documento legal. Constituição não-escrita (histórica ou consuetudinária) – formada por textos esparsos, convenções constitucionais, na jurisprudência e nos costumes. 5.3. Quanto à MUTABILIDADE (estabilidade ou alterabilidade ou plasticidade), pode ser: Constituição imutável (permanente ou intocáveis) - constituição inalterável, verdadeira relíquia histórica. Código de Hamurabi. Constituição fixa (silenciosa) – constituição alterável somente pelo mesmo poder que lhe deu origem, ou seja, por obra do próprio poder constituinte originário, haja vista que não estabelece expressamente o processo de reforma de suas normas. Constituição da França na época de Napoleão. Constituição rígida – aquela que exige um procedimento legislativo especial para mudar o texto constitucional. Constituição flexível – a que permite a modificação do texto constitucional por um processo legislativo comum, simples. Constituição semirrígida ou semiflexível – que exige um procedimento legislativo especial para parte do texto constitucional, sendo a outra parte modificada por um processo legislativo comum. Constituição Brasileira de 1824. Constituição transitoriamente flexível – constituição suscetível de reforma, com base no mesmo rito das leis comuns, mas apenas por determinado período, que ultrapassado, passa a ser rígido. Constituição superrígida – constituição que além de possuir um procedimento de reforma diferenciado, traz em seu bojo matérias que não podem ser abolidas (cláusulas pétreas). Classificação defendida por Alexandre de Morais. Por fim, tem-se a Constituição moldura, onde o legislador só pode atuar dentro de determinado espaço estabelecido pelo constituinte, ou seja, dentro de um limite. 5.4. Quanto ao MODO DE ELABORAÇÃO, pode ser: Constituição dogmática – a que consubstancia os dogmas estruturais e fundamentais do Estado, sempre escritas. Constituição histórica – constitui-se através de um lento e contínuo processo de formação, reunindo a história e as tradições de um povo. 5.5. - Quanto ao CONTEÚDO, pode ser: Constituição material – aquela cujo texto é essencialmente norma constitucional. Constituição formal – aquela que elege como critério o processo de sua formação e não o conteúdo de suas normas. 5.6. Quanto a EXPANSÃO, pode ser: Constituição analítica – ampla, prolixa, complexa, que aborda assuntos que os representantes do povo entendem como fundamentais.Constituição sintética – seria aquela sumária, concisa, veiculadora apenas dos princípios fundamentais e estruturais do Estado. Segundo Raul Horta Machado assevera que a Constituição Federal de 1988 é expansiva em função dos temas novos e da ampliação conferida a temas permanentes, podendo ser aferida em três planos distintos: conteúdo anatômico e estrutural da Constituição; comparação constitucional interna e comparação constitucional externa. 5.7. Quanto à FINALIDADE (função ou estrutura), pode ser: Constituição – Garantia: visa a garantir a liberdade, limitando o poder. Constituição – Balanço: descreve e registra determinado momento político, uma constituição real. Constituição – Dirigente: é a que traz um projeto de Estado, caracterizando-se pela presença de normas programáticas, uma constituição ideal. 5.8. Quanto à DOGMÁTICA (critério ideológico), pode ser: Constituição ortodoxa – formada por uma só ideologia. DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS | – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 9 OS: 0132/9/17-Gil Constituição eclética (compromissória) - formada por várias ideologias. 5.9. Quanto à CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE (critério ontológico) - pode ser: Constituição normativa – a pretendida limitação ao poder se implementa na prática. Constituição nominalista – busca a pretendida limitação ao poder, porém sem sucesso. Constituição semântica – não pretende limitar o poder, busca somente legitimar formalmente os detentores do poder, em seu próprio benefício. 5.10. Quanto ao OBJETO, pode ser: Constituição liberal (negativas) – limita-se a consubstanciar os direitos civis e políticos, de primeira dimensão. Constituição social (dirigentes) – consubstancia os direitos sociais, culturais e econômicos, de segunda dimensão. 5.11. Quanto à SISTEMÁTICA (critério sistêmico), pode ser: Constituição Reduzida (Unitária) – único código, sistematizada. Constituição Variada – textos esparsos. 5.12. Quanto ao SISTEMA, pode ser: Constituição Principiológica – constituição onde predominam os princípios. Constituição Preceitual – constituição onde predominam as regras. 5.13. Quanto à FUNÇÃO, pode ser: Constituição Provisória (pré-Constituição ou Constituição Revolucionária) – com dupla finalidade de definição do regime de elaboração e aprovação da Constituição Formal e de estruturação do poder político no interregno constitucional, a que se acrescenta a função de eliminação ou erradicação de resquícios do antigo regime. Constituição Definitiva (de duração indefinida para o futuro) – produto final do processo constituinte. 5.14. Quanto à ORIGEM DE SUA DECRETAÇÃO, pode ser: Constituição Heterônomas (Heteroconstituições) – que foram decretadas de fora do Estado por outro (ou outros) Estado(s) ou por organizações internacionais. Constituição Autônomas (Autoconstituições ou Homoconstituições) – elaborada e decretada dentro do próprio Estado que irá reger. Importante!!! A Constituição atual é promulgada, escrita, codificada, rígida, dogmática, formal, analítica, expansiva, dirigente, eclética, normativa, social, reduzida, principiológica, definitiva e autônoma. 6.0. BREVE HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS Constituição de 1824 – Constituição Monárquica, outorgada, caracterizou-se pela sua semirrigidez, pela instituição de um Poder Moderador, que pertencia ao Imperador e que era hierarquicamente superior aos outros poderes constituídos. Forma de Estado Unitário. A religião oficial era o catolicismo. Instituição do parlamentarismo monárquico durante o Segundo Reinado. Continha importante rol dos direitos civis e políticos, por forte influência das Revoluções Americana, de 1776 e Francesa, de 1824. Constituição de 1891 – Fruto da proclamação da República em 15 de novembro de 1889, por isso republicana. Federalista. Consagrou o sistema de governo presidencialista. Rígida, tendo sofrido uma única revisão em 1926. Promulgada, apesar de alguma controvérsia histórica. Não definiu nenhuma religião como oficial. O órgão máximo do poder judiciário passou a ser chamado de Supremo Tribunal Federal. Constituição de 1934 – Rígida e promulgada. Manteve a divisão de poderes no federalismo, promoveu uma centralização legislativa em favor da União e uma ampliação do intervencionismo estatal, elevou o país a condição de Estado Social de Direito, estruturou a Justiça Eleitoral e a Justiça Militar e criou a instituição do Mandado de Segurança e da ação popular. Constitucionalizou-se o voto feminino. Constituição de 1937 (constituição do Estado Novo ou Polaca) – Outorgada pelo Presidente Getúlio Vargas, tendo como características principais a supressão do Congresso Nacional e dos partidos políticos, a convergência de todo o poder para o Executivo, restrições ao Poder Judiciário, limitação à autonomia dos Estados-membros e restauração da pena de morte. A greve e o lock out foram proibidos. O mandado de segurança e a ação popular deixaram de constar no documento constitucional. Constituição de 1946 – Promulgada, simbolizou o retorno ao regime democrático, o bicameralismo foi restabelecido, expansão dos poderes da União em detrimento dos poderes dos Estados e foram previstas a Justiça do Trabalho e o Tribunal Federal de Recursos. O mandado de segurança e a ação popular foram restabelecidos no texto constitucional. Vedou-se a pena de morte, a de banimento e a de caráter perpétuo. Foi DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS | – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 10 OS: 0132/9/17-Gil reconhecido o direito de greve. Instituição do parlamentarismo, de 1961 a 1963. Constituição de 1967 – Carta Política outorgada que ampliou a competência da Justiça Militar para processar e julgar civis pela prática de crimes contra as instituições militares e a segurança nacional, com recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal. Constituição de 1969 – Grande parte da doutrina não a considera como mera Emenda, mas sim como uma nova Constituição, rígida e outorgada. Modificou o nome jurídico do Estado Brasileiro para República Federativa do Brasil e consolidou o regime militar imposto. Surgimento das eleições diretas para Presidente e Vice- presidente. Constituição de 1988 – Coroou o processo de redemocratização do país, elevou o Brasil à categoria de Estado Democrático de Direito, inaugurando o regime político da democracia participativa ou semidireta, expandiu o rol dos direitos fundamentais, prevendo o mandado de segurança coletivo, mandado de injunção e habeas data, reduziu a competência do Poder Executivo, aumentando proporcionalmente as do Poder Legislativo e Judiciário, promoveu uma valorização sem precedentes na autonomia dos Estados e Municípios da Federação, reorganizou o Sistema Tributário Nacional, disciplinou os princípios basilares da administração pública e unificou o regime de vinculação dos servidores. O pluripartidarismo foi ampliado. Criou-se o Superior Tribunal de Justiça. Advocacia Pública e Defensoria Pública assumiram o status de funções essenciais à Justiça. 7.0. SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO. A supremacia da Constituição decorre da sua rigidez, independentemente de seu conteúdo. Como asseverou Dirley da Cunha Júnior, "todas as normas constitucionais .... têm estrutura e natureza de normas jurídicas,ou seja, são normas providas de juridicidade, que encerram um imperativo, vale dizer, uma obrigatoriedade de um comportamento. São, pois, verdadeiras normas jurídicas. Sucede que, além de imperativas, as normas constitucionais são dotadas de supremacia, ostentando posição de proeminência em relação às demais normas, que as elas deverão se conformar, seja quanto ao modo de sua elaboração (conformação formal), seja quanto à matéria de que tratam (conformação material)". INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL. PRINCÍPIOS E REGRAS. APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 1.0. INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL. Interpretar as leis é desvendar o real significado da norma, buscar o que o legislador desejou efetivamente dizer e a hermenêutica jurídica é a ciência que fornece a técnica e os princípios com os quais o intérprete poderá interpretar o sentido social e jurídico da norma jurídica em questão. A interpretação da Constituição Federal deverá levar em conta todo o sistema, pois no caso de haver um conflito aparente de normas, buscar-se-á uma interpretação sistemática, orientada pelos princípios constitucionais e as regras de interpretação. 2.0. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS São vários os princípios apontados pelos estudiosos do Direito, entre os quais se destacam os seguintes: Princípio da supremacia constitucional - por esse princípio a constituição está no ápice do ordenamento jurídico nacional e nenhuma norma jurídica pode contrariá-la material ou formalmente sob pena de advir uma inconstitucionalidade. A dogmática constitucional atual entende que não há hierarquia entre as normas constitucionais originárias. A supremacia material existe em toda constituição, mas a supremacia formal somente nas constituições rígidas. Princípio da imperatividade da norma constitucional - a norma constitucional é imperativa, de ordem pública e emana da vontade popular. Na interpretação de um dispositivo constitucional é essencial que o intérprete sempre lhe confira a mais ampla extensão possível. Princípio da unidade da constituição - na tarefa de interpretar o texto constitucional, deve-se considerar que a constituição forma um todo monolítico, uma totalidade, procurando harmonizar todos os seus dispositivos. O intérprete deve partir do princípio de que há um conjunto harmônico de ideias. A interpretação constitucional deve ser realizada de maneira a evitar contradições entre suas normas. Princípio do efeito integrador - na resolução dos problemas jurídico-constitucionais, deverá ser dada maior primazia aos critérios favorecedores da integração política e social, bem como ao reforço da unidade política, ou seja, que na resolução das questões sobre a constituição é preciso optar pelos caminhos de interpretação que favoreçam a integração e unidade política e social. Princípio da máxima efetividade ou da eficiência - a uma norma constitucional deve ser atribuído o sentido que maior eficácia lhe conceda. Este princípio pretende interpretar a constituição no sentido de atribuir à norma constitucional a maior efetividade possível. Princípio da conformidade funcional ou da justeza - de acordo com esse princípio é inadmissível qualquer interpretação que atente contra a divisão de funções e atribuições feitas pela constituição, ou seja, se a constituição acolhe uma forma de funcionamento de nosso sistema, não pode o intérprete aceitar outro caminho. DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS | – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 11 OS: 0132/9/17-Gil Princípio da concordância prática ou da harmonização (ponderação de valores ou axiomas) - exige-se a coordenação e combinação dos bens jurídicos em conflito de forma a evitar o sacrifício total de uns em relação aos outros, ou seja, procura criar limites entre os diversos direitos a fim de que seja possível harmonizá-los. Princípio da simetria constitucional - é o princípio federativo que exige uma relação simétrica entre os institutos jurídicos da constituição federal e as constituições dos estados-membros (art. 125, § 2º., CF/88). Princípio da presunção da constitucionalidade das normas infraconstitucionais - há uma presunção relativa (juris tantum) de que toda lei é constitucional até prova em contrário, ou seja, até que o poder judiciário, por exemplo, exercendo o controle típico de constitucionalidade, a declare expressamente inconstitucional. Princípio da Força Normativa das Normas Constitucionais – deve-se analisar a vontade da Constituição, sem desprezar os valores sociais, culturais e políticos. No dizer de Gilmar Mendes, “sem desprezar o significado dos fatores históricos, políticos e sociais para a força normativa da Constituição, confere Hesse peculiar realce à chamada vontade da Constituição (Willw zur Verfassung). A Constituição, ensina Hesse, transforma-se em força ativa se existir a disposição de orientar a própria conduta segundo a ordem nela estabelecida, se fizerem presentes, na consciência geral – particularmente, na consciência dos princípios responsáveis pela ordem constitucional -, não só a vontade de poder (Wille zur Macht), mas também a vontade de Constituição (Wille zur Verfassung)”. Princípio da interpretação conforme a Constituição - Tendo em vista a supremacia das normas constitucionais no ordenamento jurídico e a presunção de constitucionalidade das leis e atos normativos editados pelo Poder Público competente, destaca-se a ideia de “interpretação conforme a Constituição”. Essa técnica de interpretação conforme a Constituição somente será possível quando a norma interpretada apresentar vários significados, um ou uns compatíveis com as normas constitucionais e outro ou outros não, conforme inclusive entendimento do Supremo Tribunal Federal, que se pronunciou nos seguintes termos: “a técnica da denominada interpretação conforme só é utilizável quando a norma impugnada admite, dentre as várias interpretações possíveis, uma que a compatibilize com a Carta Magna, e não quando o sentido da norma é unívoco. A regra da interpretação conforme a Constituição pode ser realizada das seguintes maneiras: Interpretação conforme com redução do texto: ocorrerá quando for possível, em virtude da redação do texto impugnado, declarar a inconstitucionalidade de determinada expressão, possibilitando, a partir dessa exclusão de texto, uma interpretação compatível com a constituição federal; Interpretação conforme sem redução do texto, conferindo à norma impugnada uma determinada interpretação que lhe preserve a constitucionalidade; e Interpretação conforme sem redução do texto, excluindo da norma impugnada uma interpretação que lhe acarretaria a inconstitucionalidade. Observa-se que o Supremo Tribunal Federal utiliza-se da declaração de inconstitucionalidade sem redução do texto como princípio da Interpretação Conforme à Constituição, instrumento decisório para atingir-se uma interpretação conforme a Constituição, de maneira a salvar a constitucionalidade da lei ou do ato normativo, sem contudo alterar seu texto. Já a declaração de inconstitucionalidade com redução de texto total ou parcial corresponde a uma declaração de nulidade. Princípio da proporcionalidade ou da razoabilidade - pressupõe a existência de três requisitos: necessidade (indispensável e insubstituível), adequação (o meio eleito deve atingir o objetivo pretendido) e proporcionalidade em sentido estrito (máxima eficiência e mínima restrição). 3.0. REGRAS CONSTITUCIONAIS. Os princípios são perfeitamente completados por algumas regras propostas por Jorge Miranda,quais sejam: 1) A contradição dos princípios deve ser superada, ou por meio da redução proporcional do âmbito de alcance de cada um deles, ou, em alguns casos, mediante a preferência ou a prioridade de certos princípios; 2) Deve ser fixada a premissa de que todas as normas constitucionais desempenham uma função útil no ordenamento, sendo vedada a interpretação que lhe suprima ou diminua a finalidade; 3) Os preceitos constitucionais deverão ser interpretados tanto explicitamente quanto implicitamente, a fim de colher-se seu verdadeiro significado. 4.0. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL: Jurídico ou hermenêutico-clássico: parte da premissa de que a Constituição é uma lei, devendo ser interpretada como tal (tese da identidade entre a interpretação constitucional e interpretação legal), dispondo o intérprete dos seguintes elementos tradicionais ou clássicos da hermenêutica jurídica, que remontam à Escola Histórica do Direito de Savigny, de 1840: a) gramatical (ou literal); b) histórico; c) sistemático (ou lógico); d) teleológico (ou racional); e e) genético. Integrativo ou científico-espiritual: entende que tudo na Constituição faz parte de um todo, de um conjunto. Caracteriza-se pelo modo crítico de interpretação ao conteúdo. O intérprete deve integrar o sentido da norma a partir da “captação espiritual”. Tem natureza sociológica. A DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS | – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 12 OS: 0132/9/17-Gil Constituição tornar-se mais política que jurídica. Idealizado por Rudolf Smend. Hermenêutico-concretizador: exige que o intérprete encontre o sentido do texto normativo e compare o resultado com a realidade a que ele deve ser aplicado. É um movimento de ir e vir. Há uma pré-compreensão do texto para extrair do mesmo um determinado conteúdo, que deve ser comparado com a realidade existente. A interpretação parte da norma para o problema. Defendido por Konrad Hesse. Tópico-problemático: embora seja considerado moderno, desde Aristóteles o pensamento tópico já era “pensado” no sentido da evidência da verdade, ou seja, o que a todos, ou a grande maioria ou aos doutos se lhes afigurava verdadeiro. O cerne da tópica: pensar o problema, ou seja, a solução adequada sairia a cada caso, diferente do sistêmico que via como um todo. A interpretação parte do problema para a norma. Tenta-se adequar a norma ao problema. A Constituição é um sistema aberto de regras e princípios. Criado por Theodor Viehweg, que, em 1953, publicou a sua obra Tópica e Jurisprudência. Normativo-estruturante: um método concretista de inspiração tópico que busca o que há de adequado em um e outro sistema e une. A interpretação se qualifica como concretização e vice-versa. Friedrich Muller compreende que a norma jurídica é algo mais que o texto de uma regra normativa, daí o entendimento de que a interpretação ou concretização de uma norma transcende a interpretação de um texto, possuindo um raio de abrangência maior, em que se leva em conta a jurisprudência, o caso concreto e o contexto histórico, realizando assim o direito. O texto normativo positivado é apenas a “ponta do iceberg”. 5.0. APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS Partindo da premissa de que esse assunto é doutrinário, vamos mais uma vez usar o texto constitucional apenas para exemplificar. Toda norma constitucional tem EFICÁCIA direta, imediata e vinculante, uma vez que produz efeitos jurídicos, entre os quais, o de revogar a norma constitucional anterior e não recepcionar as normas infraconstitucionais promulgadas antes e que são materialmente incompatíveis com a nova ordem. Seguindo o ilustre José Afonso da Silva, quanto à aplicabilidade, as normas constitucionais classificam– se em: As Normas constitucionais de eficácia plena são aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem, ou tem possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, legais e sociais. Não dependem de atuação do Poder Constituinte Derivado para sua regulamentação. São normas de aplicabilidade direta, imediata e integral. Como exemplo, o mestre cita os seguintes incisos do artigo 5º: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...); II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; (...); LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; LXXII - conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; (...). Outros exemplos: arts. 2º; 14, §2º; 17, §4º; 19; 20; 21; 22; 24; 28, caput; 30; 37, III; 44, parágrafo único; 45, caput; 46, §1º; ; 51; 52; 60, §3º; 69; 70; 76; 145, §2º; 155; 156; 201, §§5º e 6º; 226, §1º; 230, § 2º, todos da CF/88. As Normas constitucionais de eficácia contida (prospectiva) são aquelas que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos à determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do poder público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados, como bem conceituou a doutrina pátria. São normas de aplicabilidade direta, imediata, mas possivelmente não integral. DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS | – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 13 OS: 0132/9/17-Gil Os exemplos indicados pelo doutrinador são: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...); XIII- é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; (...); Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...); VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; (...). No primeiro exemplo, a liberdade de exercício de profissão já tem total aplicabilidade, porém essa liberdade poderá ser restringida pela existência de uma lei infraconstitucional. No segundo exemplo, a norma originária garante a irredutibilidade do salário, que possivelmente poderá ter sua aplicabilidade reduzida pela existência de um acordo ou uma convenção coletiva de trabalho. Outros exemplos: 5º, VII, VIII, XV, XVI, XXIV, XXV, XXVII, XXXIII e LVIII; 15, IV; 37, I; 170, parágrafo único, todos da CF/88. As Normas constitucionais de eficácia limitada são aquelas que apresentam aplicabilidade indireta, mediata e reduzida (diferida), porque somente incidem totalmente sobre esses interesses, após uma regulamentação posterior. A norma constitucional só terá total aplicabilidade se existir a norma infraconstitucional. O professor José Afonso da Silva ainda destaca que as normas de eficácia limitada se classificam em normas de eficácia limitada definidora de princípio institutivo ou organizativo, as quais traçam esquemas gerias de estruturação e atribuições e a norma de eficácia limitada definidora de princípio programático, que instituem programas destinados ao cumprimento das finalidades sociais do Estado. Os dispositivos mencionados pelo referido doutrinador são: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...); XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; (...); Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...); XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; (...). Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública. Nos dois primeiros artigos, a lei infraconstitucional, quando promulgada e publicada, regulará o direito declarado pela norma constitucional, com o intuito de cumprir as promessas de cunho social do Poder Público (norma de eficácia limitada definidora de princípio programático). No último artigo, a norma infraconstitucional teria como objetivo a instituição de órgãos e ministérios, em obediência ao comando constitucional (norma de eficácia limitada definidora de princípio institutivo). Outros exemplos: 6º (direito à alimentação); 7º, XI e XXVII; 18, §2º; 22, parágrafo único; 25, §3º; 33; 37, VII e XI; 88; 90, §2º; 91, §2º; 102, §1º; 107, §1º, 109, VI e § 3º; 113; 121; 125, §3º; 128; §5º; 131; 146; 161, I; 173, §4º; 192, §3º; 196; 205; 215; 216, §3º; 218, caput e §4º; 224 7º; 227, XX e XXVII, 33, 88 e 113, todos da CF/88. Em outra vertente, o Constitucionalista Jorge Miranda destaca a existência das chamadas normas programáticas, que são de aplicação diferida, e não de aplicação ou execução imediata; mais do que comandos-regras, explicitam comandos-valores, conferem elasticidade ao ordenamento constitucional; tem como destinatário primacial – embora não único – o legislador, a cuja opção fica a ponderação do tempo e dos meios em que vem a ser revestidas de plena eficácia (e nisso consiste a discricionariedade); não consentem que os cidadãos ou quaisquer cidadãos as invoquem já (ou imediatamente após a entrada em vigor da Constituição), pedindo aos Tribunais o seu cumprimento só por si, pelo que pode haver quem afirme que os direitos que delas constam, máxime os direitos sociais, tem mais natureza de expectativas de que de verdadeiros direitos subjetivos; muitas vezes, acompanhadas de conceitos indeterminados ou parcialmente indeterminados”. A doutrina em referência apresenta como exemplos de normas programáticas, entre outras, os artigos 4º, parágrafo único, 23,170, 205, 211, 215 e 218, todos da Constituição Federal de 1988. Já Maria Helena Diniz propõe uma nova espécie de classificação nas normas constitucionais, tendo por critério a intangibilidade e a produção dos efeitos concretos, senão vejamos: Normas constitucionais de eficácia absoluta: aquelas que possuem efeito imediato e não podem ser emendadas (as chamadas cláusulas pétreas: art. 60, § 4º). São intangíveis, contra elas não há nem mesmo o poder de emendar. DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS | – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 14 OS: 0132/9/17-Gil Normas constitucionais de eficácia plena: aquelas que possuem efeito imediato, podem ser imediatamente aplicadas e, em tese, podem vir a ser emendadas. Normas constitucionais de eficácia relativa restringível: aquelas que correspondem às normas de eficácia contida, ou seja, que possuem efeito imediato, mas cujo alcance pode vir a ser limitado ou reduzido pela legislação regulamentadora. Normas constitucionais de eficácia relativa complementável ou dependentes de complementação: aquelas que para terem eficácia dependem de atividade legislativa. Celso Ribeiro Bastos e Carlos Ayres Britto classificam as normas constitucionais em normas de aplicação irregulamentáveis e regulamentáveis e normas de integração. As primeiras já estão aptas a produzir todos os efeitos, dispensando regulamentação ou permitindo-a, mas sem qualquer restrição do conteúdo constitucional. As segundas são integradas pela legislação infraconstitucional, ora complementáveis, ou restringíveis. Existe ainda a norma constitucional de eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada, sugerida por Uadi Lammêgo Bulos. São normas que já cumpriram seu papel, encargo ou tarefa para o qual foram criadas. Ex: artigos 1º, 2º, 3º, 14, 20, 25, 48 e vários outros do ADCT. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA: (…). O direito de resposta, que se manifesta como ação de replicar ou de retificar matéria publicada é exercitável por parte daquele que se vê ofendido em sua honra objetiva, ou então subjetiva, conforme estampado no inciso V do art. 5º da CF. Norma, essa, "de eficácia plena e de aplicabilidade imediata", conforme classificação de José Afonso da Silva. "Norma de pronta aplicação", na linguagem de Celso Ribeiro Bastos e Carlos Ayres Britto, em obra doutrinária conjunta. (STF ADI 4.451 MC-REF, rel. min. Ayres Britto, j. 2-9-2010, P, DJE de 24-8-2012). EMENTA: (...). O art. 5º, XIII, da Constituição da República é norma de aplicação imediata e eficácia contida que pode ser restringida pela legislação infraconstitucional. Inexistindo lei regulamentando o exercício da atividade profissional dos substituídos, é livre o seu exercício. (STF MI 6.113 AgR, rel. min. Cármen Lúcia, j. 22-5-2014, P, DJE de 13-6-2014). EMENTA: (...) A norma inserta no art. 5º, LI, da Constituição do Brasil não é regra de eficácia plena, nem de aplicabilidade imediata. Afigura-se imprescindível a implementação de legislação ordinária regulamentar. Precedente. Ausência de prova cabal de que o extraditando esteja envolvido em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins. Possibilidade de renovação, no futuro, do pedido de extradição, com base em sentença definitiva, se apurado e comprovado o efetivo envolvimento na práticado referido delito. (STF Ext 934 QO, rel. min. Eros Grau, j. 9-9-2004, P, DJ de 12-11-2004). EMENTA: Servidor público. Adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei. Art. 7º, XXIII, da CF. O art. 39, § 2º, da CF apenas estendeu aos servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios alguns dos direitos sociais por meio de remissão, para não ser necessária a repetição de seus enunciados, mas com isso não quis significar que, quando algum deles dependesse de legislação infraconstitucional para ter eficácia, essa seria, no âmbito federal, estadual ou municipal, a trabalhista. Com efeito, por força da Carta Magna Federal, esses direitos sociais integrarão necessariamente o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mas, quando dependem de lei que os regulamente para dar eficácia plena aos dispositivos constitucionais de que deles decorrem, essa legislação infraconstitucional terá de ser, conforme o âmbito a que pertence o servidor público, da competência dos mencionados entes públicos que constituem a federação. (STF RE 169.173, rel. min. Moreira Alves, j. 10-5-1996, 1ª T, DJ de 16-5-1997.) (RE 637.282, rel. min. Dias Toffoli, dec. monocrática, j. 23-8-2012, DJE de 31-8-2012). EMENTA: Sindicato: contribuição confederativa instituída pela assembleia geral: eficácia plena e aplicabilidade imediata da regra constitucional que a previu (CF, art. 8º, IV). Coerente com a sua jurisprudência no sentido do caráter não tributário da contribuição confederativa, o STF tem afirmado a eficácia plena e imediata da norma constitucional que a previu (CF, art. 8º, IV) (...). (STF RE 161.547, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 24-3-1998, 1ª T, DJ de 8-5-1998.) EMENTA: Norma constitucional de eficácia limitada, porque dependente de complementação infraconstitucional, tem, não obstante, em linha de princípio e sempre que possível, a imediata eficácia negativa de revogar as regras preexistentes que sejam contrárias. Município: criação: EC 15/1996: plausibilidade da arguição de inconstitucionalidade da criação de Municípios desde a sua promulgação e até que lei complementar venha a implementar sua eficácia plena, sem prejuízo, no entanto, da imediata revogação do sistema anterior. É certo que o novo processo de desmembramento de Municípios, conforme a EC 15/1996, ficou com a sua implementação sujeita à disciplina por lei complementar, pelo menos no que diz com o Estudo de viabilidade municipal, que passou a reclamar, e com a forma de sua divulgação anterior ao plebiscito. (STF ADI 2.381 MC, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 20-6-2001, P, DJ de 14-12-2001.) EMENTA: (...). O Supremo Tribunal Federal fixou entendimento no sentido de que o art. 37, I, da Constituição do Brasil [redação após a EC 19/1998], consubstancia, relativamente ao acesso aos cargos públicos por estrangeiros, preceito constitucional dotado de eficácia limitada, dependendo de regulamentação para produzir efeitos, sendo assim, não autoaplicável. (STF RE 544.655 AgR, rel. min. Eros Grau, j. 9-9-2008, 2ª T, DJE de 10-10-2008.) DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS | – Profa. Malu Aragão CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 15 OS: 0132/9/17-Gil EMENTA: (...). Cargos em comissão a serem preenchidos por servidores efetivos. A norma inscrita no art. 37, V, da Carta da República é de eficácia contida, pendente de regulamentação por lei ordinária. (STF RMS 24.287, rel. min. Maurício Corrêa, j. 26-11-2002, 2ª T, DJ de 1º-8-2003.) 6.0. APLICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS NO TEMPO (DIREITO INTERTEMPORAL LATO SENSU). No momento em que surge uma nova Constituição, a situação das espécies normativas já existentes no ordenamento jurídico é regulada de acordo com teorias que estabeleceram regras, senão vejamos: 6.1. Teoria da Revogação: quando surge uma nova constituição originária, as normas originárias e derivadas da antiga constituição são revogadas totalmente, assim como as normas infraconstitucionais que forem incompatíveis materialmente com a nova carta constitucional, por ausência de recepção. Frise-se que no novo ordenamento jurídico uma lei só pode ser revogada por outra lei da mesma espécie ou por outra de hierarquia superior, como uma emenda constitucional. 6.2. Teoria da Recepção: por um princípio de economia legislativa, a nova ordem constitucional recebe as leis e atos normativos preexistentes a ela desde que materialmente compatíveis com ela. Com o advento da nova Constituição, a ordem normativa anterior, comum, perde seu antigo fundamento de validade para, em face da recepção, ganhar novo suporte. Essa teoria é amplamente adotada pelo Direito Brasileiro, embora haja controvérsia doutrinária. É um fenômeno tácito. Ao realizar a análise da recepção material, o intérprete judiciário deverá verificar também se a norma vigente no antigo ordenamento jurídico era com ele compatível material e formalmente. Caso não seja formalmente compatível, sendo, portanto, maculada por possuir vício congênito, não poderá ser sanável pelo fenômeno da recepção. É importante salientar que o posicionamento do STF e da doutrina majoritária de não admitir a teoria da inconstitucionalidade superveniente de ato normativo produzido antes da nova Constituição, no qual vigora o princípio da contemporaneidade, onde se diz revogada a norma não compatível com a nova ordem e recepcionada a norma compatível, esbarra-se com o entendimento minoritário da doutrina que defende a tese da inconstitucionalidade superveniente, ou seja, as normas anteriores conflitantes com a nova ordem constitucional não seriam revogadas, mas sim inconstitucionais. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - IMPUGNAÇÃO DE ATO ESTATAL EDITADO ANTERIORMENTE A VIGENCIA DA CF/88 - INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE - INOCORRENCIA - HIPÓTESE DE REVOGAÇÃO DO ATO HIERARQUICAMENTE INFERIOR POR AUSÊNCIA DE RECEPÇÃO - IMPOSSIBILIDADE DE INSTAURAÇÃO DO CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO - AÇÃO DIRETA NÃO CONHECIDA. - A ação direta de inconstitucionalidade não se revela instrumento juridicamente idôneo ao exame da legitimidade constitucional de atos normativos do poder público que tenham sido editados em momento anterior ao da vigência da constituição sob cuja égide foi instaurado o controle normativo abstrato. A fiscalização concentrada de constitucionalidade supõe a necessária existência de uma relação de contemporaneidade entre o ato estatal impugnado e a carta politica sob cujo domínio normativo veio ele a ser editado. O entendimento de que leis pré- constitucionais não se predispõem, vigente uma nova constituição, a tutela jurisdicional de constitucionalidade in abstracto - orientação jurisprudencial já consagrada no regime anterior (RTJ 95/980 - 95/993 - 99/544) - foi reafirmado por esta corte, em recentes pronunciamentos, na perspectiva da carta federal de 1988. - a incompatibilidade vertical superveniente de atos do poder público, em face de um novo ordenamento constitucional, traduz hipótese de pura e simples revogação dessas espécies jurídicas, posto que lhe são hierarquicamente inferiores. O exame da revogação de leis ou atos normativos do poder público constitui matéria absolutamente estranha a função jurídico-processual da ação direta de inconstitucionalidade. (STF ADI QO 7/DF, rel. Min. Celso de Mello, DJ 04.09.1992). 6.3. Teoria da Repristinação: é a restauração da eficácia, da vigência e da validade de normas que já estavam
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