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PROTEÍNAS As proteínas, além de funcionarem como enzimas, funcionam como componentes estruturais das células e dos organismos complexos. Sua diversidade funcional é devido a sua composição química. As proteínas são polímeros complexos, compostos por 21 aminoácidos (AA). Os componentes são ligados por meio de ligações de amidas substituídas. As proteínas alimentares são definidas como aquelas que apresentam fácil digestão, são atóxicas, adequadas no aspecto nutricional, funcionalmente utilizáveis em produtos alimentícios, disponíveis em abundancia e cultiváveis por agricultura sustentável. O leite, as carnes (incluindo aves e peixes), os ovos, os cereais, as leguminosas e as oleaginosas têm sido a principal fonte de proteínas alimentares utilizadas. 1. Aminoácidos Classificação Os AA são as unidades fundamentais da proteína. Alguns AA “especiais” irão aparecer somente em alguns tipos de proteínas – como a hidroxiprolina e a hidroxilisina, que ocorrem no colágeno e na gelatina. Nas proteínas, os AA presentes serão todos L- aminoácidos. No C-α está ligado uma carboxila, um hidrogênio, uma amina e um radical R. Este radical irá definir as características dos AAs, como polaridade, grau de ionização e outros. Ainda, irá definir o papel que os AAs desempenham nas proteínas, já que está relacionado às propriedades químicas dos resíduos. Os AA serão classificados de acordo com: o número de grupos amino e carboxil presentes na molécula, com a cadeia lateral R, podendo ser apolares (alifáticos e aromáticos) ou polares, com a reação em solução (AA neutros, ácidos e básicos) e com a polaridade do grupo R. Ainda, como a classificação é realizada de acordo com o grupo R, ela é dita arbitrária, já que um AA pode ter um grupo R apolar e mesmo assim se apresentar solúvel em água. Os AA irão se diferenciar, como já dito, pela estrutura do grupo R. Assim, as propriedades destas – principalmente o fato de algumas não terem afinidade com a água – são importantes para a conformação das proteínas e, portanto, para a sua função. Aminoácidos Apolares (Hidrofóbicos) Nestes, os grupos R são constituídos de hidrocarbonetos que não interagem com a água e, desta maneira, terão uma localização mais interna na molécula – quando esta apresentar forma globular. São AA incapazes de receber ou doar prótons, de formar ligações iônicas ou pontes de hidrogênio. Aminoácidos Carregados Positivamente Estes AA serão básicos e o seu grupo amina será do tipo NH3. No grupo R as cadeias laterais dos aminoácidos básicos serão aceptoras de prótons. Aminoácidos Carregados Negativamente Estes AA serão ácidos e o seu grupo carboxila será do tipo COO- no grupo R. As cadeias laterais dos aminoácidos ácidos serão doadoras de prótons. Ainda, podem existir aminoácidos incomuns, que são criados por modificações dos AAs correspondentes. Os AA podem se dividir, ainda, em dois grupos: aminoácidos essenciais e aminoácidos não essenciais. Os essenciais são aqueles que o organismo não é capaz de sintetizar mas é necessário para o funcionamento do mesmo, sendo ingeridos através da dieta (lisina, leucina, isoleucina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano, valina e histidina). Os não essenciais podem ser sintetizados pelos animais ou humanos. Propriedades e Estrutura Os AA contêm um grupo carboxílico (ácido – doa prótons) e um grupo amino (básico – recebe prótons), eles se comportam tanto como ácidos quanto como bases, ou seja, são anfolitos ou zwitterion. O comportamento dos mesmos, portanto, irá depender do meio (pH) que ele se encontra. A carga elétrica total de uma proteína é dada pelo somatório das cargas dos R dos AA, as quais dependem dos pkas e pH do meio. O ponto isoelétrico (pI) de uma proteína irá corresponder ao valor de pH em que a molécula se encontre eletricamente neutra, ou seja, quando o número de cargas positivas for igual ao número de cargas negativas. Portanto, em soluções fortemente ácidas, os AA estarão presentes principalmente como cátions, enquanto em soluções fortemente básicas, eles estarão presentes como ânions. A hidropatia, medida pelo índice hidropático, reflete a tendência que as suas cadeias laterais têm para interagir com o meio aquoso. Um índice elevado (+) indica uma região hidrofóbica (apolar) do polipeptídeo, e um índice baixo (-) indica uma região hidrofílica (polar). O conhecimento do ponto isoelétrico (pI) é importante, já que as cargas elétricas influenciam na solubilidade da molécula. A presença de cargas negativas ou positivas determina a interação das moléculas com o meio aquoso e a repulsão entre as mesmas. No pI, as forças de repulsão entre as moléculas e as de interação com o meio aquoso são mínimas, ocorrendo a formação de aglomerados que tendem a precipitar. Ou seja, diminui muito a solubilidade. Aminoácidos e Reações Químicas As reações químicas de aminoácidos são comumente utilizadas na caracterização dos mesmos e das proteínas, já que irão levar a reações coradas. Ainda, as reações, podem ser usadas também para alterar as propriedades hidrofílicas e hidrofóbicas e as propriedades funcionais de proteínas e peptídeos. Nas reações dos aminoácidos, estão envolvidos seus grupamentos funcionais, grupo alfa-carboxílico, alfa-amino e os grupos presentes nas cadeias laterais. Já para as proteínas, as reações irão depender dos diferentes aminoácidos que as constituem. As reações gerais, portanto, estarão relacionadas com os grupos de qualquer AA. As reações específicas estão relacionadas com os grupos funcionais das cadeias laterais; são, portanto, positivas unicamente na presença do grupo funcional que caracteriza o aminoácido. As seguintes reações são realizadas: Reações com nin-hidrina: é utilizada na quantificação de aminoácidos livres e para se determinar a composição de AA de proteínas, podendo ser empregada a partir de uma amostra desconhecida. Quando AA são aquecidos em solução contento excesso de nindrina, todos aqueles que têm grupamento amino livre produzem um composto púrpura, conhecido como Púrpura de Ruehmann. Essa reação pode ser utilizada também na detecção de peptídeos e proteínas, assim, em condições apropriadas, a intensidade da cor produzida é proporcional à concentração de espécies presentes. Se houver presença de iminoácidos (AA com amina secundária – prolina e hidroxiprolina) o composto formado é amarelo. Ainda, para quantificações e determinações, é possível realizar reações com O-ftaldialdeído ou com fluorescência. Reação com FDNB: também utilizada na caracterização de aminoácidos e proteínas, em solução levemente alcalina, o FDNB reage com os alfa-AA e produz um derivado de cor amarela. Reação com ìons metálicos: também é realizada afim de caracterizar AA e proteínas. Em solução, os íons metálicos interagem com proteínas por ligações de coordenação. Há afinidade destes íons por certos grupamentos expostos na superfície de uma molécula em solução. É realizada em aplicações analíticas, preparativas e industriais, separação e purificação de diferentes biomoléculas (peptídeos, proteínas e estudos de estrutura-função de proteínas). A leitura é feita através da cromatografia de afinidade com íons metálicos imobilizados – IMAC. Resumidamente, as reações químicas envolvendo aminoácidos são aplicadas afim de: identificação e análise dos mesmos, identificação e sequenciamentode AA em proteínas, identificação de resíduos específicos, necessários para a atividade biológica de proteínas nativas, modificações químicas de resíduos de AA capazes e alterar a atividade biológica da proteína e síntese química de peptídeos. Ligações Peptídicas As ligações peptídicas são responsáveis pelas estruturas primárias das proteínas. Elas são formadas pela condensação de dois ou mais aminoácidos pelo sistema alfa-aminocarboxila, onde há eliminação de uma molécula de água para cada condensação. O grupo COOH de um aminoácido irá se ligar ao grupo NH2 de outro aminoácido, formando um di, tri ou polipeptídeo. As estruturas primárias referem-se à sequencia linear na qual os aminoácidos constituintes são covalentemente ligados por meio de ligações de amidas – também chamadas de ligações peptídicas. Os peptídeos terão um número menor de AA, entre 80 a 100 (n – comprimento da cadeia), enquanto as proteínas terão um n maior. Este comprimento n irá indicar as propriedades físico-químicas, estruturais, biológicas e as funções de uma proteína. Na hora da nomenclatura, as cadeias são nomeadas da extremidade do amino terminal (N- terminal) para a extremidade da carboxila terminal (C- terminal). Não existe a possibilidade de ionização do grupamento que faz parte da ligação peptídica, os grupos ionizáveis serão os grupos amina e carboxila terminal e as cadeias laterais R, sendo está responsável pelas propriedades ácido básicas dos peptídeos. Em resumo, numa proteína ou numa cadeia peptídica, a cadeia principal será aquela que irá se repetir regularmente, enquanto as cadeias laterais representam a parte variável – R. 2. Proteínas As proteínas são compostos orgânicos de elevada massa molecular, formados pelo encadeamento de aminoácidos. Representam cerca de 50 a 80% do peso seco da célula sendo, portanto, o composto orgânico mais abundante de matéria viva. Cada proteína irá apresentar uma função biológica específica. Ainda, a maior parte da informação genética é expressa pelas proteínas. Todas as proteínas irão conter C, H, O e N, e quase todas vão conter S. Ainda, algumas podem conter elementos adicionais, como P, Fe, Zn e Cu. As proteínas podem interagir entre si e com outras macromoléculas biológicas, formando estruturas complexas. Elas irão se diferenciar através da: quantidade de AA do polipeptídeo, tipo de AA presente e a sequencia destes AA. Desta maneira, podemos classifica-las: quanto à composição, quanto ao número de cadeias polipeptídicas, quanto à forma e de acordo com o seu modo de interação com a membrana. Classificação das Proteínas Quanto à composição Considerando a composição das proteínas, elas podem se classificar como proteínas simples, que são aquelas que liberam apenas aminoácidos quando hidrolisadas (classificadas como: albuminas, globulinas, gluteinas, prolaminas, protaminas, histonas e proteínas fibrosas), proteínas conjugadas ou heteroproteínas, que liberam aminoácidos durante a hidrólise e mais um radical não peptídico, denominado grupo prostético (são elas: metaloproteínas, hemeproteínas, lipoproteínas, entre outros) e proteínas derivadas, que são compostos não encontrados na natureza, obtidos pela degradação de maior ou menor intensidade das proteínas simples ou conjugadas pela ação de ácidos, bases ou enzimas (são classificadas em: proteínas derivadas primárias, onde há mudanças leves e proteínas derivadas secundárias, onde já digestão hidrolítica – como proteoses e peptonas formadas durante a digestão). Quanto ao número de cadeias polipeptídicas Elas podem ser proteínas monoméricas, formadas por uma única cadeia polipeptídica, ou proteínas oligoméricas, onde há formação por duas ou mais cadeias polipeptídica, sendo estas as proteínas de estrutura e função mais complexa. Quanto à forma Irão se classificar em proteínas fibrosas, sendo insolúveis nos solventes aquosos de alta massa molecular, formadas geralmente por longas moléculas relativamente retilíneas e paralelas ao eixo da fibra, e proteínas globulares, que possuem estrutura espacial mais complexa, sendo mais ou menos esféricas e geralmente solúveis em solventes aquosos. De acordo com o modo de interação com a membrana Elas podem ser proteínas integrais, onde interagem diretamente com a membrana, proteínas periféricas, onde associam-se às membranas ligando-se a superfície delas e proteínas ligadas a lipídeos. Organização Estrutural das Proteínas As proteínas irão se organizar nas seguintes estruturas: primárias, secundárias, terciárias e quaternárias. Como já citado, a estrutura primária é o nível mais simples e mais importante, pois irão definir conformação e as propriedades físico-químicas da proteína. Em geral, as proteínas apresentam de 100 a 500 resíduos de AA. A estrutura secundária irá se referir ao arranjo espacial periódico dos resíduos de AA, é onde ocorre o enovelamento de partes da cadeia polipeptídica, irão apresentar estruturas de alfa-hélice e folhas beta. Nas estruturas terciárias há o enovelamento de uma cadeia polipeptídica como um todo, ocorrem ligações entre os átomos dos radicais R de todos os AA da célula. Por fim, na estrutura quaternária ocorre a associação de mais de uma cadeia polipeptídica. Desnaturação das Proteínas A estrutura nativa (forma ativa de uma proteína) de uma proteína é o resultado líquido de várias interações atrativas e repulsivas que emanam de forças intramoleculares variadas, bem como da interação de vários grupos proteicos com a água como solvente circundante. O estado nativo é termodinamicamente o mais estável, com a energia livre o mais baixo possível. Qualquer mudança em seu ambiente, tal como pH, força iônica, temperatura, composição do solvente e outros, forçará a molécula a assumir uma nova estrutura de equilíbrio. Essas mudanças, quando “drásticas”, agem nas estruturas secundária, terciária e quaternária, sendo considerada desnaturação. A desnaturação é um fenômeno no qual o estado inicial bem definido de uma proteína formada sob condições fisiológicas é transformado em uma estrutura final mal definida sob condições não fisiológicas, usando- se um agente desnaturante. A desnaturação, como consequência, tem uma conotação negativa, pois indica perda de algumas propriedades. Muitas proteínas biologicamente ativas perdem sua atividade após a desnaturação. No caso das proteínas alimentares a desnaturação costuma causar perda da solubilidade e de algumas propriedades funcionais. Todavia, do ponto de vista da aplicação do alimento, a desnaturação proteica durante o processamento não é sempre indesejável. Por exemplo, a desnaturação parcial de proteínas na interface ar-água e óleo-água melhora as propriedades emulsificantes e de formação de espuma, enquanto a desnaturação térmica excessiva das proteínas de soja diminui suas propriedades emulsificantes e de formação de espuma. Por outro lado, a desnaturação térmica melhora acentuadamente a digestibilidade das proteínas leguminosas, o que resulta da inativação de inibidores de tripsina. Em geral, as proteínas parcialmente desnaturadas são mais digeríveis do que as naturais. Em bebidas proteicas, nas quais a alta solubilidade e dispersibilidade das proteínas é necessária, até mesmo desnaturações parciais da proteína, durante o processamento, podem causar floculaçãoe precipitação durante o armazenamento, podendo, assim, afetar de modo adverso os atributos sensoriais do produto. Logo, é necessário um entendimento básico sobre os fatores ambientais e sobre outros fatores que afetam a estabilidade estrutural das proteínas em sistemas alimentícios. Definindo, a desnaturação é um fenômeno que envolve a transformação de uma estrutura dobrada e bem definida de uma proteína, formada sob condições fisiológicas, em um estado desordenado, sob condições não fisiológicas. A desnaturação proteica pode ser reversível, em especial para proteínas monoméricas pequenas. Quando o desnaturante é removido da solução proteica (ou a amostra é resfriada), a maioria das proteínas monoméricas (na ausência de agregação) se reorganiza para atingir sua conformação nativa sob condições de solução apropriada, como pH, força iônica, potencial redox e concentração proteica. Em resumo, os seguintes agentes irão provocar desnaturação: variações extremas de temperatura, radiações ultravioletas e ionizantes, variações de pH, detergentes, solventes orgânicos, soluções de ureia ou guanidina, pressão ou agitação, reagentes alcaloides, sais de metais pesados e soluções concentradas de sais. Temperatura O calor é o agente desnaturante mais utilizado no processamento e na preservação de alimentos. Podemos entender a desnaturação causada pela temperatura da seguinte maneira: Aumento de temperatura aumento da velocidade de vibração molecular interações mais fracas como as PH rompem-se alteração da conformação das proteínas desnaturação Ou seja, a temperatura irá “agir” na estabilidade das interações não-covalentes, desnaturando-as e fazendo com que a proteína perca a sua forma nativa. Ainda, quanto maior for a massa molecular desta proteína, mais fácil ocorrerá esta desnaturação. Para alguns casos, temperaturas muito baixas também podem levar a desnaturação. A desnaturação será afetada pela composição de aminoácidos também, quanto maior a quantidade de aminoácidos hidrofóbicos, menor será o efeito da desnaturação. Por fim, a presença de aditivos como sais e açúcares afetam a termoestabilidade das proteínas em solução aquosa. Açúcares como sacarose, lactose, glicose e glicerol estabilizam as proteínas contra a desnaturação térmica. Variações de pH As proteínas são mais estáveis à desnaturação em seus pontos isoelétricos do que em qualquer outro pH. Em valores extremos de pH, ocorre a expansão e desdobramento da molécula proteica. O grau de desdobramento é maior em valores extremos de pH alcalino do que em valores extremos de pH ácido. A desnaturação induzida pelo pH é, em sua maioria, reversível. Porém, em alguns casos, hidrólises parciais de ligações peptídicas, desamidação de Asn e Gln, destruição de grupos sulfidril em pH alcalino ou agregação podem resultar na desnaturação irreversível das proteínas. A desnaturação por variação de pH, portanto, irá ocorrer da seguinte maneira: meios mais ácidos ou mais básicos alteração do estado de ionização das cadeias laterais dos aminoácidos rompimento de atrações elétricas que ajudam a mandar a configuração espacial (PH e ligações iônicas) desnaturação Solventes orgânicos e detergentes Os solventes orgânicos afetam a estabilidade das interações hidrofóbicas da proteína, das pontes de hidrogênio e das interações eletroestáticas. Todavia, em baixas concentrações, alguns solventes orgânicos podem estabilizar várias enzimas contra a desnaturação. Em altas concentrações, contudo, os solventes orgânicos geram a desnaturação de proteínas, em decorrência de seu efeito solubilizante sobre as cadeias laterais não polares. Os detergentes, por sua vez, como o SDS são poderosos agentes desnaturantes de proteínas. Os detergentes ligam-se fortemente a proteína desnaturada, sendo essa a razão para a desnaturação completa. Em virtude dessa forte ligação, a desnaturação induzida pelo detergente é irreversível. Ou seja, eles irão agir fazendo a ruptura das ligações hidrofóbicas, interferindo assim com as cadeias laterais dos aminoácidos. Sais de metais pesados Os cátions dos sais pesados (cloreto de mercúrio, acetato de chumbo) são capazes de se combinar com as proteínas que possuam resíduos de aminoácidos na forma de aniôns, formando complexos insolúveis, que irão precipitar e, caracterizar assim a desnaturação. Reagentes alcaloides Os aniôns de reagentes alcaloides são capazes de se combinar com as proteínas que possuam resíduos de aminoácidos na forma de cátions, formando complexos insolúveis, que irão precipitar e, caracterizar assim a desnaturação. Desta maneira, podemos assim reforçar os efeitos da desnaturação proteica, que pode ser reversível ou irreversível: redução da solubilidade devido ao aumento da exposição de grupos hidrofóbicos, mudança na capacidade de se ligar com a água, perda da atividade biológica, aumento da susceptibilidade ao ataque de proteases devido a maior exposição das ligações peptídicas e aumento da viscosidade. A renaturação proteica, no caso da desnaturação reversível, irá ocorrer com a retirada do agente desnaturante, levando a recuperação da forma nativa da proteína. Propriedades das Proteínas Os atributos sensoriais de um alimento são o efeito líquido de interações complexas entre vários componentes de menor ou maior porte do alimento. As proteínas têm uma grande influência sobre os atributos sensoriais dos alimentos. Por exemplo, as propriedades sensoriais dos produtos de padaria estão relacionadas às propriedades viscoelásticas e de formação da massa do glúten do trigo; as características texturais e de suculência de produtos cárneos dependem muito das proteínas e do músculo; as propriedades texturais e de formação do coágulo dos produtos lácteos são frutos da estrutura coloidal das micelas de caseína. As propriedades funcionais das proteínas irão se dividir em: hidratação proteica (interação entre a água e a proteína – absorção, molhabilidade, formação de gel, solubilidade e viscosidade), interação proteína-proteína (formação de gel, coagulação, glúten) e superfície (emulsificação, formação de espuma). Hidratação das proteínas As propriedades reológicas e texturais dos alimentos dependem da interação da água com outros constituintes do alimento, em especial com as macromoléculas como as proteínas e polissacarídeos. Propriedades como a dispersibilidade, umectabilidade, expansão, solubilidade, espessamento/viscosidade, capacidade de retenção de água, gelificação, coagulação, emulsificação e formação de espuma dependem das interações da água com a proteína. A hidratação das proteínas irá consistir na formação de uma ligação entre dipolos da água e os íons ou grupos iônicos e polares das proteínas formando complexos estáveis dependendo do composto e modificando as suas propriedades físico-químicas. Os fatores intrínsecos e extrínsecos influenciam diretamente na hidratação. As proteínas são menos hidratadas no seu pH isoelétrico. Acima e abaixo do pH isoelétrico, as proteínas incham e ligam mais a água. Na maioria das proteínas, a capacidade de ligação é maior em um pH de 9-10. Em baixas concentrações, os sais aumentam a capacidade de ligação das proteínas com a água, já que os íons fixam-se nas proteínas diminuindo a atração eletroestática entre estas, abre-se assim a rede proteica deixando-amais exposta à água – efeito salting-in. Todavia, em concentrações elevadas de sal, grande parte da água existente está ligada a íons salinos, resultando em uma desidratação da proteína., ocorre a concorrência entre as proteínas para captar água, diminuindo as interações água-proteína, o que pode provocar a precipitação – efeito salting-out. A capacidade das proteínas de ligar água costuma diminuir à medida que a temperatura sobe, por causa da redução das pontes de hidrogênio e da diminuição da hidratação dos grupos iônicos. A capacidade de uma proteína desnaturada se ligar com a água costuma ser 10% maior do que a de uma proteína nativa. As proteínas alimentares desnaturadas geralmente mostram baixa solubilidade em água. Dessa forma, a capacidade de ligar água não pode ser usada para se prever as características de solubilidade da proteína. Em aplicações alimentares, a capacidade de reter água é mais importante do que a de se ligar à água. Reter água significa que a proteína irá embeber água e retê-la contra a força gravitacional. Solubilidade As propriedades funcionais costumam ser afetadas pela solubilidade da proteína, sendo que as mais afetadas são: espessamento, formação de espuma, emulsificação e gelificação. As proteínas insolúveis têm usos muito limitados em alimentos. A solubilidade de uma proteína é uma manifestação termodinâmica do equilíbrio entre interações proteína-proteína e proteína-solvente. A solubilidade é importante no preparo de sopas, molhos, bebidas e outras. Ela irá permitir a dispersão rápida e completa das moléculas formando um sistema coloidal (sistemas heterogêneos) disperso com estrutura homogênea. Viscosidade A viscosidade de um fluido é a medida de sua resistência ao fluir ou à romper-se. A viscosidade dos fluidos proteicos está diretamente relacionada ao diâmetro das moléculas dispersas. Este diâmetro, por sua vez, irá depender da massa, volume, estrutura, carga elétricas das proteínas e interação proteína-água e proteína-proteína. Em geral, quando menor o diâmetro, menor a viscosidade do fluido. Irá depender da concentração das soluções e da estrutura molecular da proteína. O aumento da viscosidade é causado principalmente pela interação eletroestática entre diferentes moléculas de proteínas e pela interação entre as cadeias peptídicas de uma mesma molécula. Ainda, será influenciada pelo pH, temperatura e concentração de sais. Geleificação A geleificação consiste na formação de uma rede proteica ordenada a partir de proteínas previamente desnaturadas. O gel formado se caracteriza por ser uma rede capaz de aprisionar a água, bem como outras substâncias de baixo peso molecular. Os passos para a obtenção do gel podem ser descritos da seguinte maneira: Desnaturação proteica separação das moléculas protéicas: na ptn nativa os grupos hidrofóbicos estão voltados para o interior da molécula que ficam descobertos durante a separação, favorecendo a interação entre ptn-ptn interação ptn-ptn (ligação hidrofóbica, cátions divalentes, ligações de hidrogênio e pontes dissulfeto) agregação A geleificação (gelificação) pode ser caracterizada quando, após a desnaturação proteica – que ocorre através do aumento da temperatura – e as posteriores agregações, a solução é levada ao abaixamento da temperatura, onde irá ocorrer a diminuição da energia cinética, facilitando a formação de ligações não covalentes estáveis entre grupos funcionais expostos das diversas moléculas. Como as interações hidrofóbicas são fortes em temperaturas elevadas, as redes de gel formadas por interações hidrofóbicas são termicamente irreversíveis e, desta forma, são bastante aplicadas na indústria de alimentos. Um exemplo desta, por sua vez, são as proteínas presentes da clara de ovo. As proteínas miofibrilares são amplamente aplicadas na geleificação térmica, já que são essenciais na textura de produtos cárneos, tais como salsichas. As micelas de caseína, devido a sua capacidade de geleificar e provocar coagulação, são utilizadas na preparação de coalhadas e elaboração de queijos, leites fermentados e sobremesas lácteas. Por fim, as proteínas do soro do leite também apresentam boas propriedades geleificantes a temperaturas de 70-80 °C. Sendo assim, estas são utilizadas na elaboração de sobremesas lácteas, iogurtes e requeijão. Texturização A texturização significa a transformação de uma proteína do estado globular para uma estrutura física fibrosa que tem características sensoriais semelhantes a carne. As propriedades funcionais esperadas de produtos proteicos texturizados são: mastigabilidade, elasticidade, maciez e suculência. As proteínas vegetais costumam ser a fonte proteica preferida para a texturização. Elas são fabricadas usando-se dois processos diferentes: texturização por formação de fibra (spun-fiber) e texturização por extrusão. Na texturização ocorre a separação de cadeias polipeptídicas das proteínas globulares e a estabilização dessas cadeias estiradas mediante a criação de ligações intermoleculares. Formação de Massas Proteícas A principal proteína de armazenamento do trigo é o glúten. Este é uma mistura heterogênea de proteínas, principalmente as gliadinas e as gluteninas, com solubilidade limitada em água. Quando misturado com água, o glúten forma uma massa viscoelástica capaz de aprisionar o gás durante a fermentação. Os resíduos de AA presentes no glúten contribuem muito para sua capacidade de formar agregados proteicos por meio de interações hidrofóbicas e de se ligar a lipídeos e outras substâncias não polares. Sob aplicação das forças de tensão e cisalhamento, as proteínas do glúten absorvem a água, sendo parcialmente desdobradas. Esse desdobramento parcial facilita as interações hidrofóbicas, assim como as reações de sulfidril-dissulfeto, resultando na formação de polímeros em forma de fio. Esses polímeros, que se combinam através de ligações hidrofóbicas, pontes de hidrogênio e outros, é o que torna possível a capacidade de reter o gás. As diferenças na qualidade de produção de pães a partir de diferentes cultivos de trigo podem estar relacionadas a diferenças na composição do próprio glúten. A suplementação da farinha de trigo com albumina e proteínas do tipo globulina, proteínas do soro e da soja, irá afetar a viscoelasticidade da massa, bem como a qualidade de cocção da massa. Irá ocorrer a diminuição do volume do pão, interferindo na formação da rede do glúten. A adição de fosfolipídeos ou outros surfactantes a massa, irá neutralizar esses efeitos – por compensação (surfactante-proteína película de glúten danificada). Todavia, apesar de corrigir o volume da massa, as qualidades sensoriais e de textura são menos desejáveis que o normal. Por fim, o glúten isolado pode ser utilizado em outros produtos não ligados a panificação. Suas propriedades de coesão-adesão o tornam um ligante efetivo nos produtos cárneos triturados e do tipo surimi. Propriedades Emulsificantes Emulsões são definidas como sistemas dispersos de dois líquidos pouco solúveis ou insolúveis entre si. As proteínas agem como emulsificantes, “facilitando” a existência deste sistema. No leite nativo, a membrana composta de lipoproteínas estabiliza os glóbulos de gordura. Quando o leite é homogeneizado a película de proteína formada de micelas de caseínas e de proteínas do soro substitui amembrana lipoprotéica. O leite homogeneizado é mais estável à formação de nata em comparação com o leite, pois a película proteica de micelas soro-caseína é mais resistente do que a membrana lipoproteica nativa. Propriedades Surfactantes (Espumantes) As emulsões e as espumas alimentícias são sistemas de duas fases imiscíveis – uma fase contínua aquosa e uma fase dispersa gasosa (ar). Como exemplo, podemos citar: cremes batidos, sorvetes, bolos, merengue, suflês, entre outros. Na maioria desses produtos, as proteínas são os principais agentes ativos de superfície que ajudam na formação e na estabilização da fase dispersa gasosa. A propriedade de uma proteína de formar espuma refere-se a sua capacidade de formar uma película fina e resistente na interface gás-líquido, de modo que grandes quantidades de bolha de gás possam ser incorporadas e estabilizadas. A medida utilizada para avaliar a capacidade espumante de uma proteína é o overrun ou o poder espumante (FP). Podemos citar alguns fatores ambientais que irão contribuir na formação e na estabilidade das espumas, tais como: pH (ideal pI), presença de sais (para algumas, na presença de NaCl, aumenta), lipídeos (irá diminuir) e a concentração proteica (quanto maior, mais firme a espuma). Por fim, para que uma proteína tenhas boas características espumantes e/ou emulsificantes, ela deve satisfazer os requisitos básicos: deve ser capaz de adsorver-se com rapidez a interface ar-água, deve desdobrar-se prontamente e rearranjar-se na interface e deve ser capaz de formar película coesiva viscosa por meio de interações intermoleculares. Assim, as propriedades moleculares que afetam as propriedades de formação de espuma são: a flexibilidade molecular, densidade e distribuição da carga de hidrofobicidade de superfície (deve ser boa). LIPÍDEOS Os lipídeos podem ser caracterizados por substâncias de baixa solubilidade em água e alta solubilidade em solventes orgânicos. Suas propriedades físicas refletem a natureza hidrofóbica das suas estruturas químicas. Irão desempenhar um papel importante na qualidade dos alimentos, pois contribuem com atributos como textura, sabor, nutrição e densidade calórica. Assim, estudos são feitos a fim de alterar a composição de lipídeos, modificando a textura, alterando a composição de ácidos graxos e colesterol, diminuindo o conteúdo total de gordura, alterando a biodisponibilidade e tornando os lipídeos mais estáveis durante a oxidação. Ainda, a estabilidade física destes é importante para a qualidade do alimento, já que muitos lipídeos existem como dispersões/emulsões, sendo termodinamicamente instáveis. Em resumo, os lipídeos são importantes já que: atuam em emulsões e como em estabilizantes, são responsáveis por características como sabor, nutrição e densidade calórica, estão diretamente ligados a deterioração de alimentos (rancificação/lipólise), atuam também como texturizantes, aromatizantes, umectantes, no auxílio da transferência de calor em elevadas temperaturas, entre outros. Funções dos Lipídeos Podemos listar, de maneira resumida, as funções que os lipídeos possuem. São elas: nutricional (relacionado a energia que estes são capazes de fornecer e o transporte de vitaminas lipossolúveis), isolamento térmico, permeabilidade das paredes celulares, sabor e palatabilidade dos alimentos, maciez em produtos de panificação, sensação de saciedade após a alimentação e atuar como agentes emulsificantes (monoglicerídeos, diglicerídeos e fosfolipídeos). Classificação dos Lipídeos 1. Quanto à forma física Os lipídeos irão se caracterizar quanto a sua forma física em óleos e gorduras, onde óleos são aqueles que se apresentam no estado líquido (ou PF < 20 °C) e gordura quando se apresentam no estado sólido (ou PF > 20 °C). 2. Quanto à polaridade Os lipídeos irão se dividir em: apolares (glicerídeos, ceras, carotenoides, terpenóides e esteroides), polares (fosfolipídeos, cerebrosídeos e lipídeos complexos). Os lipídeos surfactantes são aqueles que podem alterar as propriedades dos alimentos por meio de uma série de mecanismos físico-químicos, incluindo absorção de interfaces, estabilização de partículas, interação com biopolímeros e modificação de nucleação, do crescimento da estrutura do gelo. 3. Quanto a natureza química Os lipídeos podem se caracterizar como ácidos graxos (AG) alifáticos, saturados ou insaturados, com forte polaridade dos grupos carboxílicos, sendo capazes de formar ligações de hidrogênio com o álcool e com o PF e de ebulição aumentando de acordo com o aumento da cadeia, devido a presença de insaturações. Ainda, os AG de menos MM irão apresentar solubilidade em água devido as ligações de hidrogênio e os AG pouco solúveis tem capacidade de promover separação de fases. As gorduras com cadeias de AG mais curtas ou com mais ligações duplas são líquidas em temperatura ambiente, enquanto as gorduras saturadas, especialmente aquelas com cadeias longas, serão sólidas em temperatura ambiente. Os AG com ligações duplas são mais vulneráveis à rancidez oxidativa. Os AG saturados mais frequentes são: láurico, mirístico, palmítico e o esteárico. Já os insaturados mais frequentes são: oleico, palmitoléico, erúcico, linoleico, linolênico e araquidônico. Os lipídeos simples são os AG, as gorduras neutras (mono-, di-, e tri- glicerídeos) e as ceras. Os lipídeos compostos são os fosfolipídeos, os glicolipideos, os esfingolipideos, os plasmógenos e as lipoproteínas e, por fim, os lipídeos derivados são os álcoois (incluindo esteróis e hidrocarbonetos). O resto da classificação dos lipídeos estará descrita na resposta (1) do estudo dirigido. Lipídeos Simples 1. Ácidos Graxos (AG) Os ácidos graxos são lipídeos simples, sendo os principais componentes dos mesmos. Irão possuir uma cadeia alifática e um grupo ácido carboxílico. Podem ser saturados ou insaturados, na maioria das vezes na configuração cis e podem apresentar cadeia ramificada. Quando na configuração cis, as ligações duplas da membrana formam curvas e permitem que os AG se agrupem de modo menos linear, menos empacotado, um arranjo que torna a biomembrana menos dura e rígida e reduz as interações por forças de van der Waals. Desta forma, os AG com essas ligações serão líquidos a temperatura ambiente e possuirão PF e temperatura de solidificação baixa. Os trans, por sua vez, são AG lineares, onde ocorre um empacotamento mais forte. Como resultado, eles irão possuir PF mais elevado. 2. Acilgliceróis São AG esterificados com glicerol – logo, são ésteres. O mais comum nos alimentos são os triacigliceróis. 3. Ceras As ceras são ésteres de AG e álcool, tendo alto peso molecular. As ceras industriais e alimentares são uma combinação de classes químicas, incluindo ceras ésteres, ésteres de esteróis, cetonas, aldeídos e outros. Elas irão se classificar de acordo com sua origem (animal e vegetal). As ceras costumam ser adicionadas à superfície de frutas para retardar sua desidratação durante o armazenamento. Composição de Gorduras Os lipídeos alimentares possuem uma ampla variedade de composição de ácidos graxos. Desta forma, diversas tendências podem ser observadas nos mesmos. Por exemplo, a maioria dos óleos vegetais é bastante insaturada, todavia há TAG de origem vegetal com elevada concentraçãode AG saturados (como manteiga de cacau, óleo de coco, óleo de palma). Sobre o grau de saturação das gorduras e dos óleos, podemos definir: gordura do leite > ovelha > boi > frango > peru > peixes marinhos. E, ainda, estará diretamente relacionado com a dieta do animal (para não ruminantes é parcialmente). Como exemplo da relação parcial com a dieta, os produtos suínos, como o presunto ibérico, em que os regimes dietéticos são manipulados para que se produza banha com conteúdo elevado de ácido oleico. Em ovelhas e vacas, os ácidos graxos da dieta são sujeitos à biohidrogenação por enzimas microbianas no rúmem, isso resulta na conversão de ácidos graxos insaturados em saturados, podendo, ainda, produzir ácidos graxos com ligações duplas conjugadas, como o ácido linoleico conjugado (ALC). O produto final da rota da biohidrogenação é o ácido esteárico. Portanto, a manteiga e a gordura de carnes bovina e ovina contêm maior conteúdo de ácido esteárico que a gordura de não ruminantes. Lipídeos Compostos 1. Fosfolipídeos A presença do grupo fosfato altamente polar nos fosfolipídeos os torna compostos surfactantes. 2. Esfingolipídeos No geral, eles não são compostos majoritários dos lipídeos alimentares. Lipídeos Derivados 1. Esteróis São derivados dos esteroides, são álcoois de elevado PF e de estrutura bastante complexa. Irão se classificar em zoosteróis (origem animal), fitoesteróis (origem vegetal) e micosteróis (produzidos por MO). O principal esterol de origem animal é o colesterol, possuindo 3 anéis de seis carbonos e um anel de cinco carbonos. É o percursor para a síntese de sais biliares e vitamina D, é associado ao aumento do risco de doenças cardiovasculares e, ainda, os fitoesterois diminuem a adsorção de colesterol no intesrino. Sâo aplicados como surfactantes. Lipídeos Diversos Nessa categoria iremos citar os Pigmentos Liposssolúveis, que irão conferir coloração aos óleos e gorduras, os carotenoides são os principais responsáveis pela coloração amarelo/vermelho na maioria dos óleos e gorduras, e as Vitaminas Lipossolúveis, que são a A, D, E e a K, o tocoferol, substância com atividade de vitamina E, contribui muito para a estabilidade de óleos e gordura devido à sua função antioxidante. Propriedades Físicas dos Lipídeos A estrutura molecular e a organização dos lipídeos determinam suas propriedades funcionais como, por exemplo, as características de fusão, morfologia de cristal e interações, e como essas propriedades funcionais determinam as propriedades físico-químicas e sensoriais dos produtos alimentícios, como textura, estabilidade, aparência e sabor. O principal lipídeo presente nos alimentos, como já mencionado por ser o mais abundante, são os triacilgliceróis, compostos por três ácidos graxos (AG) esterificados com uma molécula de glicerol. Os triacilgliceróis são moléculas predominantemente apolares e, portanto, os tipos de interações moleculares mais importantes, responsável por sua organização estrutural, são as atrações de van der Waals e impedimento espacial. As moléculas podem apresentar diversos tipos de organização estrutural, tanto no estado líquido quanto no estado sólido – depende de suas características moleculares exatas (extensão da cadeia, grau de instauração, polaridade). No estado sólido, a organização depende do ângulo de inclinação das moléculas dentro da estrutura do cristal e empacotamento das cadeias de hidrocarbonetos. Ainda, os cristais de gorduras podem existir de diversas formas cristalinas polimórficas, com propriedades físicas e comportamentos de fusão diferentes. Já no estado líquido, a orientação molecular permite a auto-organização das moléculas lipídicas em entidades estruturais (lamelares). O tamanho e o número dessas entidades diminuem conforme a temperatura aumenta. Propriedades Reológicas A maioria das “gorduras sólidas” consistem de uma mistura de cristais de gordura dispersos em uma matriz de óleo (líquido). As propriedades reológicas irão depender de concentração, morfologia, interações e organização dos cristais de gordura presentes no sistema. As gorduras sólidas costumam exibir um tipo de comportamento reológico conhecido como plasticidade, ou seja, irão se comportar como sólidos sob tensão de cisalhamento e como líquidos quando acima da tensão de cisalhamento. Ou seja, se a tensão de cisalhamento é ultrapassada (comportamento de estado líquido), as ligações fracas são rompidas e os cristais de gordura deslizam um sobre o outro conduzindo a fluidez da amostra. Já quando a tensão de cisalhamento é reduzida, o fluxo é interrompido e formam-se ligações entre a vizinhança (comportamento de estado sólido). Por fim, a taxa em que esse processo ocorre apresenta efeito econômico para a funcionalidade de um produto, relacionadas às ccts sensoriais apresentadas a seguir. 1. Densidade A densidade é definida como a massa de material requerida para a ocupação de um determinado volume. Essa informação é importante para o delineamento de operações de processamento de alimentos, já que irá determinar a quantidade de material que pode ser armazenado em um tanque ou fluir ao longo de uma tubulação de volume determinado. Ainda, será importante, por exemplo, na taxa de coalescência de gotas de óleo em emulsões de óleo em água (O/W), já que esta depende da diferença de densidade entre o óleo e a fase aquosa. As gorduras são mais densas no estado sólido do que no estado líquido, mostrando maior contração no volume durante a solidificação e maior expansão na fusão. Em geral, a densidade irá diminuir com o aumento da temperatura. Ainda, em muitos alimentos, a gordura é parcialmente cristalina, desse modo, a densidade depende do SFC (fração de gordura total solidificada) assim, quanto maior o SFC, maior será a densidade. A densidade de um lipídeo irá depender da eficiência do empacotamento de suas moléculas de tria gliceróis, quanto mais eficiente, maior a densidade. Assim, AG com cadeias lineares irão empacotar melhor e ter uma maior densidade quando comparados com AG de cadeias ramificadas ou insaturadas, que irão ter uma menor densidade devido a uma eficiência menor de empacotamento. 2. Propriedades Térmicas As propriedades térmicas mais importantes, do ponto de vista prático, são: o calor específico (Cp), a condutividade térmica (κ), o ponto de fusão e a entalpia de fusão (ΔHf). Essas ccts térmicas irão determinar o conteúdo total de calor que deve ser fornecido (ou removido) de um sistema lipídico, a fim de alterar a sua temperatura de um valor para outro, bem como a taxa na qual esse processo será alcançado. O ponto de fusão (S L) e o calor de fusão irão depender do empacotamento das moléculas de triacilglicerol dentro dos cristais formados: quanto mais efetivo o empacotamento, maiores os pontos de fusão e a entalpia de fusão. Logo, quando puros, quanto maiores as cadeias, maiores essas temperaturas. O conhecimento da temperatura em que um lipídeo inicia a sua decomposição devido à degradação térmica é um fator importante (p. ex., frituras ou cozimento). A estabilidade térmica dos lipídeos pode ser caracterizada por seus pontos de fumaça, ignição e chama. O ponto de fumaça é a temperatura na qual a amostra começa a liberar fumaça. O ponto de ignição é a temperatura na qual os produtos voláteis gerados pelo lipídeo estãosendo produzidos a uma taxa na qual podem ser temporariamente inflamados, caso haja a aplicação de uma chama, porém não podem sustentar a combustão. O ponto de chama é a temperatura na qual a evolução de voláteis produzidos na decomposição térmica ocorre em velocidade elevada e a combustão se mantém após exposição à chama. As medições dessas temperaturas são particularmente importantes ao se selecionar lipídeos para serem usados em temperaturas elevadas. A estabilidade térmica de TG é muito maior que a dos AG, logo a propensão de lipídeos à degradação durante o aquecimento é, em grande parte, determinada pela quantidade de material orgânico volátil que eles contêm, incluindo ácidos graxos livres. 3. Polimorfismo É a capacidade que um material apresenta de existir sob a forma de diversas estruturas cristalinas com diferentes empacotamentos moleculares. Os três tipos de empacotamentos mais comuns dos TAG são: hexagonal (α), ortorrômbico (β’) e triclínico (β). O tipo de forma cristalina adotada depende da estrutura molecular e da composição dos lipídeos, assim como das condições ambientais durante a cristalização (taxa de resfriamento, temperatura de retenção e força de cisalhamento). Por fim, a estabilidade termodinâmica e, por conseguinte, o PF das três formas diminui na ordem: β > β’ > α. A forma β’ irá possuir cristais mais delicados, empregados em margarinas, gerando um produto macio e com brilho e, a forma β é característica das gorduras de panificação, banhas modificadas, sebos, óleo e palme e de algodão parcialmente modificado, criando flocosidade. 4. Viscosidade A viscosidade irá aumentar de acordo com o aumento do comprimento da cadeia de AG e irá diminuir de acordo com o aumento do grau de insaturações da cadeia de AG. 5. Solubilidade Os TG são totalmente miscíveis em solventes apolares, são parcialmente insolúveis em solventes de polaridade intermediária e insolúveis em água. Reações Químicas dos Lipídeos 1. Saponificação É qualquer reação de um éster com uma base para produzir um álcool e o sal alcalino de um ácido carboxílico. Neste caso, a reação consiste na desesterificação do TG, na presença de solução concentrada de álcali forte sob aquecimento, liberando sais de ácidos graxos e glicerol. É comumente aplicada na produção de sabão e em determinações analíticas. 2. Hidrogenação Esta reação consiste na adição de hidrogênio às duplas ligações dos ácidos graxos insaturados em presença de catalisadores (Paládio, Platina e Níquel). Esse processo é usado para alterar lipídeos, fazendo com que sejam mais sólidos em temperaturas ambiente, exibam comportamento diferente de cristalização (tomando a composição de TG mais homogênea) e/ou sejam mais estáveis oxidativamente. Esses objetivos são alcançados pela remoção de duplas ligações, obtendo-se AG mais saturados. A hidrogenação também é utilizada para o branqueamento de óleos, uma vez que a destruição das ligações duplas em compostos como carotenoides causará perda de cor. Os produtos produzidos por hidrogenação incluem margarinas, shortenings e óleos parcialmente hidrogenados que apresentam estabilidade oxidativa aumentada. Esta reação necessita de um catalisador para aumentar a velocidade da reação, gás hidrogênio para fornecer substrato, e controle de T para aquecer e liquefazer o óleo e depois refrigerá-lo assim que a reação exotérmica começar. O óleo utilizado deve ser previamente refinado, pois os contaminantes reduzirão a eficiência ou “envenenarão” o catalisador. Na hidrogenação, além da saturação das ligações duplas, ocorre uma isomerização, isto é, uma reorganização da estrutura moléculas dos AG iniciais, nos quais modifica a configuração cis para a trans, o que é muito preocupante, já que estes estão associados ao aumento do risco de doenças cardiovasculares. Ainda, a isomerização está associada as seguintes condições durante a reação: baixa pressão, baixa agitação e temperatura elevada. Além disso, os isômeros trans são metabolizados de forma mais lenta e fixam-se preferencialmente no tecido adiposo, provocando aumento de 50% dos níveis de LDL em comparação com o aumento sofrido com uma dieta de gordura saturada. A taxa de hidrogenação de AG poli-insaturados é mais rápida que a de monossaturados. A hidrogenação preferencial dos AG mais insaturados é especialmente prevalente quando a concentração de hidrogênio do catalisador é baixa. Do ponto de vista da estabilidade, a hidrogenação preferencial de AG mais insaturados costuma ser desejada, por aumentar a estabilidade oxidativa do óleo com formação mínima de TG saturados de temperatura de fusão alta, os quais causariam problemas de cristalização e textura. Porém, baixas concentrações de hidrogênio também podem levar à produção elevada de isômeros geométricos e posicionais, o que significa que o lipídeo pode conter grandes quantidades de AG trans, indesejáveis nutricionalmente. Por fim, alimentos produzidos com gordura hidrogenada, possuem uma vida de prateleira muito maior do que aqueles que não a possuem. 3. Interesterificação É uma reação que consiste em modificar a posição dos ácidos graxos entre diferentes posições na hidroxila, seja no mesmo triglicerídeo (intramolecular) ou em triglicerídeos diferentes (intermolecular), na presença de catalisadores. Irá culminar em alterações nos perfis de fusão dos ácidos graxos sem que haja mudanças significativas na composição dos ácidos graxos. Também irá alterar o comportamento de cristalização da gordura por dificultar os lipídeos de formarem o tipo de cristal mais estável (β). Nessa reação não aparecem isômeros trans, como no processo de hidrogenação, mas a mudança de posição dos AG pode alterar a digestibilidade do triglicerídeo e, portanto, a absorção de cada um dos AG. Nas indústrias é utilizada para modificar o comportamento cristalino de uma gordura e suas propriedades físicas e na elaboração de shortening a partir de banha. Por fim, irá culminar na mudança dos pontos de fusão desses óleos e gorduras, podendo aumentar ou diminuí-lo. Funcionalidade dos TAG em Alimentos 1. Textura A influência dos lipídeos na textura é fortemente determinada pelo estado físico do lipídeo e pela natureza da matriz alimentar (p. ex., gordura a granel, gordura emulsificada ou gordura estrutural). Para óleos puros utilizados em salada, a textura é determinada pela viscosidade do óleo no intervalo da T utilizada, já em chocolates, produtos assados, manteigas e margarinas, a textura é determinada pela concentração, morfologia e interações dos cristais de gordura O perfil de fusão dos cristais irá determinar, assim, propriedades como textura, estabilidade, espalhabilidade e sensação bucal. A cct de textura cremosa de muitas emulsões alimentares O/W é determinada pela presença de gotículas de gordura, como em cremes, sobremesas, molhos de salada e outros. A concentração da emulsão é mais preponderante sobre a viscosidade do produto que a viscosidade do óleo em questão. A reologia será então determinada pela reologia da fase oleosa. Em emulsões alimentares W/O, como margarinas, manteigas e spreads, a fase oleosa é parcialmente cristalina, apresentando propriedades plásticas. Portanto, a reologia desses produtos é determinada pelo SFC, bem como pela morfologia e interações de cristais de gordura presentes, o que, por sua vez, é governado pelas condiçõesde cristalização e armazenamento. A formação de uma rede tridimensional de cristais agregados em fase contínua é o que dará a espalhabilidade ao produto. Em alimentos em que os lipídeos compõem a matriz sólida, há a interferência na textura devido a formação da rede de cristais: irá ocorrer interações com outros componentes que proporcionam a firmeza ou a crocância, como em chocolates, biscoitos, queijos e tortas. 2. Aparência É bastante influenciada pela presença de lipídeos. A cor de óleos puros, por exemplo, é determinada pela presença de pigmentos que absorvem luz, como clorofilas e carotenoides. A opacidade das gorduras depende de concentração, tamanho e forma dos cristais de gordura. Aparências turvas, opacas ou nebulosas em emulsões alimentares são resultado direto da imiscibilidade do óleo e da água. As emulsões alimentares costumam ser opticamente opacas, pois a luz que passa através delas é espalhada pelas gotículas. A intensidade do espalhamento irá depender de concentração, tamanho e índice de refração das gotículas presentes, de forma que tanto a cor como a opacidade da emulsão são muito influenciadas pela presença da fase lipídica. A razão pela qual o leite integral tem uma aparência muito mais branca que o desnatado se deve à presença dos glóbulos de gordura no leite integral, os quais espalham a luz de forma intensa. Um exemplo importante sobre a cristalização na aparência de produtos alimentícios é a “migração de gordura” (bloom), que se trata de um defeito de qualidade observado em chocolates e gorduras – grandes manchas brancas ou acinzentadas na superfície do produto. A causa desse defeito está relacionada a estabilidade da cristalização de gorduras (p. ex., tempera pobre, incompatibilidade de gorduras misturadas, migração de gorduras e recristalização de gorduras). Em chocolates, esse defeito pode ocorrer devido a variações de temperaturas, visto que isso causa fusão e recristalização da fase de gordura, há a mudança da morfologia dos cristais que antes apresentavam-se achatados e uniformes para pontiagudos. Em geral, a migração pode ser retardada ou evitada pela utilização de surfactantes que limitam a transição de cristais ou controlam a temperatura de armazenamento, a fim de evitar transições polimórficas de fase da gordura. Deterioração Química de Lipídeos 1. Reações Hidrolíticas Os ácidos graxos livres (AGL) causam problemas aos alimentos, pois produzem odores indesejados, reduzem a estabilidade oxidativa, causam formação de espuma e reduzem o ponto de fumaça (T em que o óleo começa a formar fumaça). Quando a liberação de AGL, a partir de um esqueleto de glicerol, resulta no desenvolvimento de sabor desagradável (ou aroma), ocorre o que chamamos de rancidez hidrolítica. Ainda assim, os AG de cadeia curta são desejados em produtos como queijos, nos quais contribuem para perfis de sabor. Os AGL podem ser liberados a partir de TG por enzimas chamadas lipases. Durante o processamento e armazenamento de tecidos biológicos usados como matéria-prima para alimentos, estruturas celulares e mecanismos de controle bioquímico podem ser destruídos e as lipases podem tornar-se ativas. Um exemplo disso é o que acontece na produção de azeite de oliva, em que o óleo de primeira prensagem apresenta baixa concentração de AGL. Os óleos provenientes das próximas prensagem apresentam conteúdo elevado de AGL, pois a matriz celular é rompida e as lipases têm tempo de hidrolisar os TAG. A hidrólise de TAG também pode ocorrer na fritura de óleos em razão das temperaturas elevadas de processamento e da introdução de água do alimento frito. Conforme a [AGL] aumenta, o ponto de fumaça e a estabilidade oxidativa diminuem, fazendo com que a tendência para a formação de espuma aumente. Óleos de frituras comerciais são filtrados sobre uma base regular, com absorventes que são capazes de ligar e remover os AGL, aumentando a shelf life do óleo. Ainda, a hidrólise dos TAG também pode ocorrer em valores extremos de pH. 2. Reações Oxidativas (Oxidação Lipídica) Irá descrever o conjunto de reações complexas resultante da interação de lipídeos com oxigênio. Os TAG e os fosfolipídeos têm pouca volatilidade e assim, não contribuem de forma direta para o aroma. Durante as reações oxidativa, os AG esterificados em TAG e fosfolipídeos decompõem-se, formando moléculas pequenas e voláteis (aldeídos, cetonas, ácidos, álcoois e peróxidos) que produzem os aromadas indesejáveis, conhecidos como rancidez oxidativa. Em geral, esses compostos voláteis são indesejados, porém para cereais desidratados e queijos eles irão constituir componentes positivos do sabor. A peça central destas reações são os radicais livres (RL). Os RL são moléculas ou átomos que apresentam elétrons não pareados. Radicais, como o hidroxil (OH), apresentam energia muito elevada e podem oxidar qualquer molécula, causando abstração de hidrogênio. Outros radicais, como o α-tocoferol, podem formar radicais livres com baixa energia que têm menos capacidade de atacar moléculas como os ácidos graxos insaturados. A cinética da oxidação dos lipídeos nos alimentos, apresenta uma fase lag seguida pelo aumento exponencial da taxa de oxidação. O tamanho da fase lag é importante para processadores de alimentos, já que esse é o período em que a rancidez não é detectada e a qualidade do alimento é elevada. Quando a fase exponencial é alcançada, a oxidação de lipídeos e o desenvolvimento de aromas indesejáveis acontece com rapidez. A extensão da fase lag aumenta com a diminuição da temperatura, a redução de [O2], a diminuição do grau de instauração dos AG, com a diminuição da atividade pró-oxidante e com o aumento de oxidantes. Os produtos resultantes da decomposição do peróxido formado na oxidação dos AG insaturados são os responsáveis pela deterioração das gorduras (lipídeos), alterando odor, sabor, cor, viscosidade e composição das mesmas. 3. Reações de auto-oxidação Irá descrever a geração por perpetuação própria de radicais livres a partir de AG insaturados na presença de O2 ocorrente durante a oxidação lipídica. Diferentemente da oxidação lipídica, na auto-oxidação, o aumento de radicais livres é linear a partir do tempo zero. Entretanto, em muitos alimentos, a fase lag é seguida por rápido aumento exponencial da oxidação. Indicando, assim, que existem outras reações de oxidação lipídica que produzem RL adicionais. Pró-oxidantes Os pró-oxidantes são compostos ou fatores encontrados em todos os sistemas alimentares que causam ou aceleram a oxidação de lipídeos. Nem sempre, eles são catalisadores verdadeiros, pois são alterados durante a reação (p. ex., oxigênio é convertido em hidroperóxido e íon ferroso é convertido em íon férrico). Os pró-oxidantes podem acelerar a oxidação de lipídeos por interação direta com AG insaturados para a formação de hidroperóxidos lipídicos ou para a promoção da formação de radicais livres. É importante notar que os hidroperóxidos não contribuem para aromas indesejáveis e, portanto, não causam rancidez de forma direta. Porém, eles são substratos importantes na rancidez, pois sua decomposição costuma resultar em cisões nos AG que produzem compostos voláteis de baixa massa molecular, os quais são responsáveis por aromas indesejáveis. Os hidroperóxidos podem ainda ser produzidos quando há o emprego de enzima na produção dos alimentos (p. ex., superóxido dismutase e lipase).A decomposição dos hidroperóxidos irá aumentar junto com o aumento de temperatura ou a presença de pró-oxidantes pode ser responsável pelo aumento exponencial da oxidação após a fase lag ou período de indução. 1. Oxigênio Singlete Promovem a formação de hidroperóxidos lipídicos. A formação mais comum de produção de oxigênio singlete é por fotossensitização. Clorofila, riboflavina mioglobina são os fotossensores de alimentos que podem absorver energia da luz, formando um estado singlete excitado, o qual é convertido a triplete excitado. O oxigênio triplete interage com os AG insaturados, ocorrendo a abstração de H e a formação de hidroperóxidos lipídicos. 2. Lipoxigenases (LOXs) São enzimas presentes em tecidos vegetais e animais que catalisam a abstração de H e terminam por produzirem hidroperóxidos. 3. Radiações Ionizantes Por vezes, os alimentos são submetidos a radiações ionizantes para a destruição de patógenos e o aumento da shelf life. Porém, as radiações ionizantes podem converter moléculas a estados excitados, que produzem radicais livres. Haverá produção de radicais hidroxil a partir da água, que será capaz de abstrair hidrogênio de lipídeos e moléculas como proteínas, e DNA. Assim, não é surpreendente que a irradiação de alimentos, em especial alimentos cárneos, ricos em lipídeos e pro-oxidantes, possam sofrer o aumento da rancidez oxidativa. 4. Metais de Transição São encontrados em todos os alimentos, pois são constituintes comuns de material biológico, água, ingredientes e material de embalagem. São um dos principais pró-oxidantes dos alimentos, diminuindo a estabilidade oxidativa de alimentos e tecidos biológicos por sua capacidade de decompor hidroperóxido em RL. A concentração, o tipo de metal e o estado químico irão influenciar na velocidade de decomposição do hidroperóxido. 5. Ácido Ascórbico Em baixas concentrações irá agir como pró- oxidante (Reação de Haber-Weiss) e, em elevadas concentrações, a atividade antioxidante predomina sobre sua capacidade de acelerar oxidações promovidas por metais. 6. Luz e Temperatura A UV e a luz visível podem promover a decomposição de hidroperóxidos para produzir RL. Assim, embalagens que diminuem a exposição à luz podem atenuar a velocidade da oxidação lipídica. Ainda, temperaturas elevadas promoverão a decomposição de hidroperóxidos lipídicos. Porém, há pouca percepção quanto a presença destes, pois ocorre ruptura logo após a sua formação. Antioxidantes O estresse oxidativo ocorre em todos os organismos expostos a ambientes oxigenados. Assim, os sistemas biológicos desenvolveram diversas defesas antioxidantes a fim de se proteger da oxidação. Os mecanismos de atuação de antioxidantes são muito variados, o que dificulta definir o exato mecanismo químico, pelo qual a oxidação é inibida. Infelizmente, as operações de processamento de alimentos podem remover antioxidantes ou causar estresse oxidativo. Assim, é comum que se incorpore proteção antioxidante adicional a alimentos processados. Os mecanismos antioxidantes dos compostos que são usados para aumentar a estabilidade oxidativa de alimentos incluem o controle de RL, pró-oxidantes e intermediários da oxidação. Os principais antioxidantes alimentares são: selênio, licopeno, flavonoides, betacaroteno, zinco e a vitamina E. 1. Controle de RL Muitos antioxidantes retardam a oxidação de lipídeos pela remoção de RL, inibindo, portanto, a iniciação, propagação e reações de β-clivagem. Eles irão reagir mais rapidamente com os RL pela doação de hidrogênio para um RL. Qualquer composto que tenha um potencial de redução menor que de um RL (espécie oxidada) é capaz de doar seu hidrogênio para esse RL. Os principais sequesquestradores de RL são: tocoferóis, compostos fenólicos sintéticos com substituintes ao anel fenólico (redução do uso – busca por produtos naturais), fenólicos vegetais e ácidos ascórbicos (bloqueiam e eliminam RL, formam radicais de baixa energia, contribuindo para estabilidade oxidativa de produtos de origem vegetal e animal) e tióis. Como os metais promovem a decomposição de hidroperóxidos, eles podem ser removidos através de: prevenção do ciclo redox de metais, ocupação de todos os sítios de coordenação dos metais, formação de complexos metálicos insolúveis e impedimento espacial das interações entre metais-lipídeos ou metais-intermediários de oxidação, através de aditivos como: ác. cítrico, EDTA, polifosfatos e proteínas ligantes de metais. No caso do oxigênio singlete, para evitar a sua ação, é possível empregar os carotenoides que irão agir da seguinte maneira: irá ocorrer a extinção física do oxigênio singlete, mas pode ocorrer a extinção química em paralelo da seguinte maneira. (1) Carotenoides bloqueiam o oxigênio singlete fisicamente, por meio de transferência de energia de um oxigênio singlete para o carotenoide; (2) Carotenoide excitado + oxigênio triplete (mais estável); (3) Perda da cor, indicativo da ação antioxidante do carotenoide. No controle de LOXs, se faz através da inativação térmica e do melhoramento genético. E, no caso de compostos intermediários, o ânion superóxido é convertido em peróxido: inativa-se o produto intermediário final (peróxido) por uso da catalase. Os fatores que interferem na velocidade de oxidação lipídica são: a concentração de oxigênio, que deve ser reduzida ou removida do sistema (vácuo ou gás inerte – nitrogênio) e temperatura que, sob condições de uso alimentício, o aquecimento favorece a oxidação, devido a aeração do óleo pelo alimento ser frito, além de degradar e volatilizar antioxidantes. Quantificação de Oxidação de Lipídeos A quantificação pode ser realizada através de análise sensorial, que requer pessoal submetido a treinamento intenso, sendo esta uma técnica demorada e dispendiosa ou através da análise de produtos primários e secundários, que consiste em uma técnica difícil por serem difíceis de serem detectados, por serem instáveis, são facilmente volatilizados, tendo uma elevada taxa de decomposição – a cromatografia gasosa: para os produtos secundários. Lipídeos x Saúde Alguns lipídeos são importantes para os humanos já irão auxiliar na prevenção de doenças: ώ-3 e ώ-6 e carotenoides. Miméticos de Gordura A preocupação da ingestão dos TAG vem do fato destes possuírem alta densidade calórica. Estudos são constantemente realizados a fim de se produzir alimentos mais saudáveis e com baixo teor de gordura que reproduzam os mesmos atributos sensoriais através de miméticos de gordura. Miméticos de gordura são compostos não- lipídicos, como proteínas ou CHO, que podem produzir propriedades semelhantes às da gordura, mas com baixos valores calóricos. Uma abordagem similar tem sido adotada para a produção de componentes lipídicos sem calorias ou com baixo conteúdo calórico. O primeiro lipídeo não calórico comercial foi um éter de ácidos graxos de sacarose – Olestra. Ele é não calórico pois a presença de menos de seis ácidos graxos esterificados na sacarose impede espacialmente que a lipase hidrolise as ligações de éster para liberar ácidos graxos livres que podem ser absorvidos pelo sangue. A falta dessa digestibilidade, faz com que eles passem pelo trato gastrintestinal e sejam excretados nas fezes. Todavia, pode causar diarreia.