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A PUERICULTURA: UM PROJETO MÉDICO-PEDAGÓGICO DO SÉCULO XIX A partir da Primeira Guerra Mundial a educação sanitária desenvolveu-se e estava intimamente ligada a puericultura. Popularizada no século XX, a educação sanitária passou a ser amplamente assimilada em diversas partes do mundo, sendo vista como importante nas ações preventivas de diversos programas e ações dirigidas ao binômio mãe-filho. Nesse contexto, foi difundindo-se na sociedade a visita de saúde ou visita domiciliar. Inicialmente essa prática era realizada por senhoras das elites, ricas e educadas, pertencentes à Associação das Senhoras para a Reforma Sanitária de Manchester e Salford. Posteriormente, com a popularização da prática e os resultados positivos por ela apresentada, as visitas domiciliares passaram a ser exercidas por visitadoras profissionais e inspetoras sanitárias. Anos depois as atividades desenvolvidas pela Associação das Senhoras para a Reforma Sanitária de Manchester e Salford, anteciparam a criação do que veio a ser conhecida como Escola para Mães. Nesta instituição eram administradas aulas de economia doméstica, além de palestras de saúde, cuidados especiais com bebês, com a limpeza das roupas, bem como orientações culinárias. Com o estabelecimento desta prática, os avanços observados no campo da saúde da criança e a criação da Organização da Saúde da Criança da América, a promoção da saúde através da educação ganhou força. As obras relacionadas a puericultura tratariam de ensinar às mãe a única maneira considerada adequada de proceder a cada ato exigido pela criação de um bebê sadio. Portanto, a forma legitimada de cuidar dos bebês era aquela ditada pela medicina. Percebe-se que essas intervenções médicas na relação mãe-filho são mais uma forma de entrar no espaço privado do lar e disciplinar as ações dentro de uma família. A partir disto o médico passou a intervir ainda mais no núcleo familiar, principalmente no sujeito considerado o salvador da “barbárie”: a mãe. A mulher dócil e frágil deveria ser educadora em seu lar e porta-voz na classe social a que pertencia. Caberia a ela transmitir valores superiores que desencadeariam o processo de mobilidade social. Nesse contexto, a produção dos cuidados médicos necessitou organizar-se em bases racionais, padronizadas e previsíveis, para expandir-se, vulgarizar-se. Entretanto evitar a banalização de certas técnicas médicas a fim de não provocar a substituição do próprio médico. Com a revolução pasteuriana, acreditava-se que a higiene da infância ia purificar-se da barbárie, dessa forma libertando-se das crendices e preconceitos referentes à alimentação infantil. A autoridade médica passou a se expandir, indo além da doença e passando a ser exercida também na saúde. O discurso médico passou de simples conselhos a ordens, manipulando consciências e trazendo para seu interior uma infinidade de atos privados que a mulher exerce no cotidiano da maternidade. Na França, a elevada mortalidade infantil e o medo do despovoamento criaram condições muito favoráveis para a imposição de regras severas de comportamento, além de que propiciaram a difusão de um projeto médico-pedagógico que centralizava suas ações na criança pequena com o fim de reduzir a mortalidade infantil.
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