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INTRODUÇÃO Os cultivos tradicionais de monocultura podem trazer consideráveis riscos ecológicos, econômicos e ambientais. A preocupação crescente com a sustentabilidade chamou a atenção para o positivo da presença de árvores na agricultura e resultou, em 1977, na criação do Conselho Internacional para a Pesquisa Agroflorestal (ICRAF) e no surgimento de um novo assunto de pesquisa que, em pouco tempo, se tornou uma nova ciência aplicada, a agrossilvicultura ou ciência agroflorestal. Os sistemas agroflorestais (SAF's) surgiram nas regiões tropicais da África com o tradicional Sistema Taungya, onde plantios florestais eram associados com culturas anuais. No Brasil, ainda que ações isoladas tenham ocorrido anteriormente, os sistemas agroflorestais foram difundidos no início da década de 60, com os trabalhos de Jean C. L. Dubois, inicialmente na Amazônia e, posteriormente, no Rio de Janeiro, com a criação da Rede Brasileira Agroflorestal (REBRAF). Os SAF's com eucalipto no Brasil foram relatados pela primeira vez em 1918 por meio de um experimento em pastagem com floresta para criação de ovinos e uso apícola no estado de São Paulo. Os trabalhos científicos iniciaram-se em 1962 com a cultura de Eucayptus alba, consorciado com milho, também no estado de São Paulo. A nova ciência da agrossilvicultura definiu seu objeto de estudo da seguinte maneira: os sistemas agroflorestais diferem das demais formas de uso da terra por meio de duas características: (1) a combinação, na mesma unidade de terreno, de plantas perenes e lenhosas com culturas agrícolas e/ou animais, usando alguma forma de mistura espacial ou sequencial; (2) a existência de uma significativa interação ecológica ou econômica entre os componentes lenhosos e os não-lenhosos do sistema. Os SAF's são uma importante alternativa para a agricultura familiar, para aumentar, de forma sustentável, a renda familiar e tirar proveito das suas vantagens potenciais quanto à segurança alimentar, saúde, qualidade de vida, maior envolvimento dos filhos na roça e a sua própria permanência na propriedade rural. A maior variedade de espécies cultivadas no SAF melhora a qualidade da dieta alimentar e aumenta a renda gerada pela comercialização dos produtos. Um sistema de produção agrícola ou agroflorestal apoiado no uso de agrotóxicos, adubos minerais e industrializados e herbicidas pode gerar renda para o agricultor, porém ele apresenta riscos a saúde tanto dos produtores quanto dos consumidores, além dos danos ambientais. Portanto é preciso promover a adoção de SAFs sucessionais, biodiversificados e manejados sem o uso de agroquímicos nocivos e sem o uso da queima. Para isso é importante incorporar espécies de valor econômico, gerando renda a médio e longo prazo, principalmente com espécies florestais comerciais; frutíferas de fácil comercialização in natura, frutos beneficiados ou subprodutos. CONCEITOS Agrossilvicultura→ Agrossilvicultura é a ciência que estuda os sistemas agroflorestais. Sendo assim, os sistemas agroflorestais passam a ser objetos de estudos dessa ciência, ou seja, fazem parte do conjunto de atividades racionais e sistemáticas do conhecimento gerado pela ciência Agrossilvicultura. • Sistemas Agroflorestais→ Para o termo sistemas agroflorestais existem várias definições, porém a mais completa e objetiva delas pode ser a seguinte: são sistemas de uso da terra e dos recursos naturais que combinam a utilização de espécies florestais, agrícolas e/ou, criação de animais, numa mesma área, de maneira simultânea e, ou, escalonada no tempo, gerando benefícios resultantes de interações econômicas e ecológicas entre esses componentes. • Aula 2. Histórico, definição e classificação dos SAF's terça-feira, 11 de março de 2014 16:00 Página 1 de AGROS36 Na definição, o objeto central é o “sistema” que combina diferentes espécies em uma “unidade de terreno", um pedaço de terra agrícola. Esse interesse em “combinar espécies” foi uma importante ruptura com a agricultura moderna, baseada na monocultura. Com base na definição dada acima, surgiu a busca da metodologia para construir a melhor combinação de espécies (o melhor Sistema Agroflorestal - SAF). • Os sistemas agroflorestais são considerados como uma das alternativas de uso dos recursos naturais que normalmente causam pouca ou nenhuma degradação ao meio ambiente, principalmente por respeitarem os princípios básicos de manejo sustentável dos agroecossistemas. • A parte "florestal" da palavra agroflorestal não quer dizer que a espécie arbórea do sistema deva ser uma espécie da floresta ou madeireira. Na amazônia, por exemplo, muitos sistemas têm apenas árvores frutíferas e cultivos perenes. • Um sistema agroflorestal é composto por duas ou mais espécies, das quais ao menos uma é lenhosa e perene (árvore, arbusto, palmeira, bambu), não sendo necessário que a outra espécie seja herbácea; uma plantação de cacau com árvores de sombra é considerada um sistema agroflorestal. • Recentemente o World Agroforestry Centre adotou a seguinte definição para Sistema Agroflorestal: é a integração de árvores em paisagens rurais produtivas. • Assim um SAF é mais complexo que uma monocultura e, geralmente, contém mais de uma espécie de interesse econômico, o que diminui os riscos do empreendimento. Quando uma espécie não produz ou está sem mercado, a outra pode continuar oferecendo renda. • PRINCÍPIOS DE SUSTENTABILIDADE DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS O termo sistema pode ser definido como um conjunto de componentes relacionados de tal maneira que formam uma unidade, um todo. Estruturalmente um SAF é um desenho físico de cultivos e animais distribuído no espaço e no tempo. Funcionalmente é uma unidade que processa ingressos como radiação solar, água, nutrientes e produz egressos tais como alimentos, lenha e fibras. A sustentabilidade é uma característica inerente aos SAF's, pois estão alicerçados em princípios básicos que envolvem aspectos ecológicos, econômicos e sociais: Princípio ecológico→ Os SAFs baseiam-se no princípio ecológico denominado "Biodinâmica da Sobrevivência", que otimiza o máximo aproveitamento da energia solar vital, por meio da multiestratificação diferenciada de uma grande diversidade de espécies de usos múltiplos, que exploram os perfis vertical e horizontal da paisagem, visando à recirculação dos potenciais produtivos dos ecossistemas. • A sustentabilidade resulta da diversidade biológica, promovida pela presença de diferentes espécies vegetais e/ou animais, que exploram nichos diversificados dentro do sistema. A diversidade de espécies vegetais utilizadas forma uma estratificação diferenciada do dossel de copas e do sistema radicular das plantas no solo • As espécies arbóreas, normalmente por possuírem raízes mais longas que exploram maior volume de solo, são capazes de absorver nutrientes e água que os cultivos agrícolas não conseguiriam. Dessa forma, a competição entre os indivíduos diminui e a eficiência na retirada de nutrientes e água do solo pelas plantas é diferenciada e aumentada. • O dossel de copas formado pela diversidade de espécie vegetais proporciona cobertura do solo pela deposição de camada densa de material orgânico, gerada continuamente pela queda de folhas e ramos das diferentes culturas, aumentando a quantidade de matéria orgânica e consequentemente melhorando as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo. • A estratificação do dossel e a camada de material orgânico depositado sobre a superfície do solo reduzem a incidência direta de radiação solar, diminuindo a ocorrência de plantas invasoras que são extremamente exigentes em luz. O cultivo consorciado também tem a vantagem de retirar nutrientes das camadas mais profundas do solo e devolve-los à superfície pela quedade folhas e ramos das espécies arbóreas. • Página 2 de AGROS36 Princípio social→ Os SAF's possuem uma importante função social, a de fixação do homem no campo em consequência, principalmente, do aumento de mão-de obra e sua distribuição ser, normalmente, mais uniforme durante o ano, e da melhoria das condições de vida, promovida pela diversidade de produção. • Os SAF's, quando comparados aos monocultivos, normalmente produzem maior números de serviços e produtos para o consumo humano, conferido principalmente pela utilização de grande diversidade de espécies florestais arbóreas e arbustivas e pelas diferentes alternativas de consorciação com espécies agrícolas e/ou animais, a partir de uma mesma área de terra. • Princípio econômico→ O princípio econômico que rege os sistemas agroflorestais é atribuído à sustentabilidade econômica proporcionada pela alternância e diversificação de produção e produtos ao longo do ano. A diversidade de produtos gera mecanismos de compensação (produtos diversificados em várias épocas do ano) capazes de colocar no mercado produtos de acordo com a demanda. • Neste caso, a escolha das espécies nos SAF's deve apoiar-se em um estudo que vise detectar produtos de maior aceitação e venda no mercado em determinadas épocas do ano. Dessa forma o agricultor fica protegido contra as quedas do mercado, as quais nunca atingem todos os produtos ao mesmo tempo. • O caráter perene dos SAF's diminui investimentos anuais pesados, principalmente com preparo do solo, adubações e controle de plantas invasoras. • A diversidade de culturas gera maiores oportunidades de emprego no meio rural, pois necessita para o seu manejo uma gama variada de mão-de-obra. Essa disponibilidade de emprego é reforçada pela necessidade dos SAF's manterem estreita relação com a agroindústria. A maioria das culturas perenes em uso nesses sistemas são produtoras de madeira ou alimentos que podem demandar industrialização imediata. • OBJETIVO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS Os sistemas agroflorestais têm por objetivo otimizar a produção por unidade de superfície, respeitando sempre o princípio de rendimento contínuo, principalmente pela conservação/manutenção do potencial produtivo dos recursos naturais renováveis. Para que este objetivo possa ser atingido é necessário que os sistemas agroflorestais promovam a concretização dos seguintes pré-requisitos: - manter-se sustentável; - conferir sustentabilidade aos sistemas agrícolas; - aumentar a produtividade vegetal e animal; - direcionar técnicas para uso racional do solo e água; - diversificar a produção de alimentos; - estimular a utilização de espécies para usos múltiplos; - diminuir os riscos do agricultor; - minimizar os processos erosivos; e - combinar a experiência rural dos agricultores com o conhecimento científico. CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS A classificação tem como objetivo básico facilitar a análise dos sistemas agroflorestais. Para tanto, agrupam-se os sistemas que apresentam características semelhantes, para serem avaliados entre si e para permitir a generalização dos seus resultados, bem como determinar o estabelecimento de regras que possam nortear as atividades do setor. As classificação mais importantes e frequentes são quanto ao arranjo temporal (sequenciais e simultâneos) e quanto à composição (silviagrícola, silvipastoril e agrossilvipastoril). Sistemas agroflorestais sequenciais→ Nos sistemas agroflorestais sequenciais existe uma relação cronológica entre os componentes, eles não estão na mesma área de forma simultânea, ou seja, eles se sucedem no tempo. • A agricultura migratória, também chamada de itinerante, ou ainda de corte e queima, compreende sistemas • Página 3 de AGROS36 A agricultura migratória, também chamada de itinerante, ou ainda de corte e queima, compreende sistemas de subsistência orientados para satisfazer as necessidades básicas de alimentos, combustíveis e habitação e só ocasionalmente chegam a constituir uma fonte de recursos pela venda de excedentes de alguns produtos. Um exemplo deste sistema consiste no corte e queima da mata e cultivo da terra por poucos anos. Após um período de cultivo, segue-se uma fase de descanso e manutenção o que permite o restabelecimento da vegetação de forma espontânea e a recuperação da fertilidade dos solos por um período bem mais longo. • Outro exemplo é o Sistema Taungya, que consiste num plantio simultâneo de cultura agrícola e florestal inicialmente, mas que depois será apenas florestal • A característica essencial deste uso transitório da terra é a rotação de parcelas. Vale lembrar que a agricultura migratória pode ser considerada adequada se a demanda pela terra não for muito alta, caso contrário, não haverá tempo para a recuperação dos solos, os quais se degradarão devido à erosão e à diminuição do estoque de nutrientes e matéria orgânica. Estes efeitos podem ser minimizados com a adoção de sistemas agroflorestais simultâneos. • Sistemas agroflorestais simultâneos→ Nos SAF's simultâneos há uma associação, no mesmo período de tempo, entre os componentes na área considerada. • Sistemas silviagrícolas (agrossilvícolas ou agrossilviculturais)→ Combinação de cultivos florestais e cultivos agrícolas numa mesma área. Ex: consórcio café + ingá + louro.• São também denominados de sistemas agrossilvícolas ou agrossilviculturais e correspondem a sistemas de manejo do solo para a produção de culturas agrícolas e florestais. • O componente florestal poderá ter como função principal a produção e/ou proteção e serviços. Os principais sistemas silvículas que tem como função principal a produção são: Sistema Taungya, Sistema Alley Cropping e Sistema de Policultivos Multiestratificados. Quando a função principal do componente florestal é de proteção e de serviços, destacam-se as principais práticas silviagrícolas: cercas vivas, quebra-ventos, árvores para sombreamento de cultivos e árvores para conservação e melhoramento do solo. • Sistema Taungya O sistema Taungya consitui um sistema silviagrícola de substituição florestal ou de reflorestamento baseado em dois componentes: um florestal (principal e permanente) e outro agrícola (secundário e temporário). O componente florestal compõe-se de espécies florestais adaptadas às condições edafoclimáticas da região, com finalidades de obtenção de madeira, fibra, carvão, lenha, entre outros. O componente agrícola constitui-se de culturas agrícolas de subsistência, que são cultivadas durante os 2 a 3 primeiros anos do reflorestamento. ▫ Esse sistema foi desenvolvido com a finalidade de diminuir o custo do estabelecimento de florestas plantadas destinadas para produzir madeira. As espécies florestais se aproveitam das capinas, limpezas e de uma eventual aplicação de adubos em benefício desses cultivos agrícolas e, quando concluída a última safra agrícola, a espécie madeireira já alcança uma boa altura. O lucro gerado pela venda dos produtos agrícolas paga grande parte do custo de plantio das espécies madeireiras. Havendo tal prática, os cuidados regulares e a colheita das culturas agrícolas são benéficos para as árvores pois livram-nas das ervas invasoras desde cedo e não há “inputs” com trabalho adicional. Depois de dois ou três anos, o aumento da sombra põe fim à associação. Na Ásia e África, essa técnica é muito usada em plantios de teca (Tectona grandis), pinus e cipreste. ▫ Seu uso no Brasil teve início a partir do trabalho realizado por Gurgel Filho em 1962, que consorciou Eucalyptus alba com milho. Em muitos locais, o fomento florestal se desenvolveu com base em plantios agroflorestais utilizando esse sistema, como feito pela Michelin no MT (seringueira + arroz, soja ou milho), RIPASA em SP (eucalipto + arroz), Grupo Votorantim em MG (eucalipto +arroz + soja + milho), Giacomet- Marodin no PR (erva-mate + araucária + pinus + arroz + milho). Pains Florestal S.A. em MG (eucalipto +arroz + feijão + milho + abóbora + mandioca). Nos programas de fomento florestal geralmente as empresas fornecem os insumos, a supervisão e a assistência técnica permanente aos produtores rurais. ▫ Página 4 de AGROS36 Sistema Alley Cropping Esse sistema também é conhecido como sistema agroflorestal de cultivos em alamedas, em aleias, em avenidas ou em renques. É uma modalidade de sistema agrossilvicultural em que espécies agrícolas são consorciadas nas ruas entre as linhas plantadas com espécies florestais arbóreas ou arbustivas. Geralmente nessas linhas utilizam-se espécies leguminosas fixadoras de nitrogênio e/ou espécies com potencial para produzir grande quantidade de biomassa. Essas espécies são podadas ou rebaixadas periodicamente, antes e durante a época do cultivo agrícola, como o objetivo principal de fornecer adubo orgânico ao solo nas ruas com cultivos agrícolas. ▫ Os espaçamentos comumente utilizados nesse sistema são de 4 a 8m entre linhas e de 25cm a 2m entre árvores nas linhas. Espaçamentos menores são recomendados quando se pretende produzir maior quantidade de biomassa para a adubação orgânica do solo. Essas linhas de árvores impedem a erosão superficial, aumentam a infiltração e retenção de água no solo e também podem fornecer lenha. ▫ Sistema de Policultivos Multiestratificados Também conhecido como consórcios agroflorestais comerciais ou policultivos multiestratificados, são uma mistura de um número limitado de espécies perenes, em geral menos de dez, manejadas para fins de comercialização. Caracterizam-se pela associação de espécies vegetais, normalmente de valor comercial, que formam diversos estratos verticais. ▫ Esse modelo de sistema tende a otimizar o uso dos recursos e aumentar a produtividade por unidade de área. Esse sistema pode combinar espécies madeireiras com frutíferas com produções em ciclos de médio a longo prazo, com culturas perenes ou semi-perenes de grande valor comercial (pimenta-do-reino, cacau, café, guaraná, etc.). A espécie arbórea desenvolve um papel de planta sombreadora dos cultivos. Em geral a densidade arbórea é baixa, entre 100 a 200 árvores/ha. ▫ Em função da diversificação e estratificação das espécies cultivadas, o sistema agroflorestal torna-se mais parecido com a natureza, onde prevalece a heterogeneidade dos seus componentes. Daí pode advir um maior equilíbrio ecológico com possibilidade de redução dos problemas fitossanitários pelas barreiras entre as plantas, mudanças de microclimas e aumento de inimigos naturais de patógenos e pragas, favorecendo o seu controle natural. ▫ Cercas vivas As cercas vivas, além de sua finalidade imediata, podem atuar como abrigos para aves e com efeito benéfico sobre o controle biológico de insetos. Cercas vivas adensadas podem diminuir os efeitos nocivos do vento, além de impedir a passagem de animais e pessoas. ▫ Na hora da escolha das espécies a serem colocadas para o estabelecimento de cercas vivas é extremamente importante a identificação se essas espécies são possíveis hospedeiras de pragas que possam danificar as culturas comerciais. Por exemplo, o sabiá pode hospedar a cochonilha-pardinha que ataca os cítricos ▫ Segue no quadro abaixo exemplo de espécies utilizadas como cercas vivas▫ Página 5 de AGROS36 Quebra-vento O vento é uma importante variável que afeta a produtividade das culturas por aumentar as perdas de água por evaporação e transpiração. Também é um fator de disseminação de vetores patológicos. No caso do cafeeiro, que é uma planta de baixa tolerância aos ventos, a produtividade começa a cair com ventos acima de 2m/s, o mesmo acontece com as bananeiras. ▫ Os quebra-ventos devem ser alinhados perpendicularmente aos ventos dominantes da região e não formar uma barreira muito fechada ou muito densa. Para permitir a sua funcionalidade, um bom quebra-vento deve ser permeável, ou seja, é indicado que parte do vento passe entre as árvores. ▫ Na sua implantação convém utilizar plantas flexíveis, como por exemplo a casuaria (Casuarina equisetifolia), os ciprestes (Cupressus spp.) e os bambus. Os bambus e árvores com copa flexível absorvem melhor a força do vento. Árvores de copa rígida favorecem a formação de redemoinhos imediatamente depois do quebra-vento. ▫ O quebra-vento é formado por algumas fileiras de árvores. Do lado que recebe o vento dominante, uma primeira linha é plantada com arbustos ou árvores de porte médio (pode-se utilizar aroeira-pimeinteira, araticum-do-mato, etc.). A segunda e terceira linhas podem ser ocupadas com árvores nativas mais altas (como a araucária, por exemplo) ou exóticas (ciprestes, eucaliptos, etc.). A última linha do lado da área cultivada é plantada com arbustos ou árvores de porte médio. ▫ As espécies utilizadas devem ser perenifólias e eventualmente misturadas com algumas árvores decíduas. Para manter um grau adequado de permeabilidade do quebra-vento é necessário podar periodicamente as árvores das segundas e terceiras linhas, eliminando os ramos na parte inferior dos fustes. ▫ A distância entre os quebra-ventos deve ser igual ou no máximo a 20 vezes a altura média das árvores de maior crescimento existentes no quebra-vento. Quando existir ventos secundários, capazes de afetar o rendimento da agricultura ou pecuária, convém estabelecer quebra-ventos adicionais, com orientação apropriada, formando-se nesse caso uma rede mais ou menos quadriculada. ▫ A largura ocupada por um quebra-vento raramente é superior a 15 a 20 metros. O quebra-vento que recebe o primeiro impacto do vento dominante deve ter uma largura de no mínimo 15 metros e possuir cinco fileiras. Os quebra-ventos secundários, localizados mais para dentro da área cultivada, podem ser estreitos, compostos por 3 fileiras arborizadas e largura de 6 a 8 metros. ▫ Sistemas silvipastoris→ Combinação de cultivos florestais e criação de animais numa mesma área, de forma simultânea ou escalonada no tempo. Ex: consórcio de eucalipto + pastagem. • Preconizam a associação de árvores dentro da atividade pecuária ou a criação de animais dentro de povoamentos florestais. A introdução de espécies arborescentes e arbustivas em áreas de pastagens pode contribuir para a recuperação de pastagens degradadas. • Manejo silvipastoril temporário Corresponde ao plantio comercial, denso, ou relativamente denso, com árvores de valor econômico, consorciado a forrageiras herbáceas rasteiras. O estrato forrageiro é utilizado pelo gado até que o pasto desapareça em consequência do fechamento das copas das árvores. Nessa alternativa a atividade pecuária é secundária. ▫ Manejo silvipastoril permanente Nessa alternativa, a atividade prioritária é a produção animal. As árvores são plantadas em espaçamentos mais abertos. A quantidade de árvores mantida não pode ser exagerada, para não prejudicar o bom desempenho das gramíneas e outras forrageiras herbáceas. ▫ O plantio das árvores pode ser feito de maneira uniforme na área, ou concentrada em um pequeno bosque no interior da área de pastagem. O objetivo principal é dar abrigo ao gado durante as horas mais quentes ou mais frias do dia. As espécies arbóreas devem ser perenifólias ou semicaducifólias. ▫ Página 6 de AGROS36 Sistemas agrossilvipastoris→ Combinação de cultivos florestais, cultivos agrícolas e criação de animais numa mesma área, de forma simultânea ou escalonada no tempo. Ex: criação de porcos em agrofloresta; quintal com frutíferas, hortaliças e galinhas. • Os mais comuns são os quintais agroflorestais associado com criação de animais, como galinhas, porco, gado, etc, normalmente utilizado em pequenas propriedades, com altadiversificação de produtos. • VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS Vantagens→ A prática de sistemas agroflorestais em todo o mundo permite evidenciar algumas vantagens biológicas em relação às outras modalidades de uso da terra, sendo algumas citadas a seguir: • - melhor ocupação do sítio ecológico; - aumento da matéria orgânica; - melhoria das propriedades físico-químicas e biológicas do solo; - retenção e conservação de água no solo; - controle da erosão; - aumento da produtividade por unidade de superfície; - redução das variáveis microclimáticas; - diminuição dos riscos de perdas de produção; - tutor ou suporte para plantas trepadeiras; - uso adequado do sombreamento; e - agrega valores. A melhor ocupação espacial do sítio ecológico se dá quando existe uma maior diversidade de espécies vegetais ocupando os vários extratos, tanto acima quanto abaixo do solo, pois as diferentes necessidades por nutrientes, água e radiação solar, permitem um uso mais eficiente dos recursos ambientais. • O aumento ou a manutenção da matéria orgânica ao solo ocorre por meio da queda de folhas, galhos e frutos que serão decompostos por microrganismos do solo, assim como da degeneração contínua ou apodrecimento das raízes. O processo de decomposição libera gradativamente nutrientes que serão incorporados ao solo e absorvidos novamente pelas plantas. • A ciclagem e a reciclagem de nutrientes, promovidas pelas espécies florestais, aumentam a fertilidade do solo pela translocação dos nutrientes das camadas mais profundas do solo para as superficiais, bem como pela queda e deposição do litter. • Os diferentes estratos de copa reduzem o impacto das gotas de chuva no solo, permitindo maior infiltração, retenção e conservação da água. A cobertura das copas reduz a temperatura do solo, diminuindo assim a evaporação e, consequentemente, a perda de água. • A redução do impacto das gotas de chuva no solo, pela presença de vários estratos de copas (consórcios), bem como pela deposição de resíduos orgânicos, são fatores que contribuem para a diminuição dos riscos de erosão e perdas de solo. • O aumento da utilização subsuperficial e superficial do solo, decorrente de vários estratos de raízes, deve resultar em um aumento no potencial de produção de biomassa, consequentemente com um aumento na produtividade total do sistema. • O dossel de copas dos componentes do sistema agroflorestal funciona como protetor do solo à radiação solar direta durante o dia, e à noite impede a perda de energia, diminuindo a amplitude de variação de temperatura e de umidade. • A biodiversidade da produção dos sistemas agroflorestais pode reduzir os riscos de perdas totais na produção devido aos fatores climáticos e biológicos. O consórcio de diferentes culturas gera um fator de segurança, onde a produção de uma cultura pode compensar a perda de outra. • As árvores, nos sistemas agroflorestais, podem servir como tutores ou suportes para espécies trepadeiras de valor econômico, como: chuchu, maracujá, pimenta-do-reino, baunilha, cará etc. • Página 7 de AGROS36 de valor econômico, como: chuchu, maracujá, pimenta-do-reino, baunilha, cará etc. O sombreamento proporcionado pelo dossel de copas pode favorecer determinados cultivos como: cacau, café, palmito, inhame etc. Isso ocorre principalmente quando as condições locais de solo, temperatura e pluviosidade são desfavoráveis. • As características econômicas e sociais dos sistemas agroflorestais são mais fácil de se entender pelos produtores rurais, uma vez que eles trabalham diretamente com sementes, adubos, defensivos, máquinas e implementos agrícolas, trabalhadores rurais etc. • - aumento da renda do produtor rural; - maior variedade de produtos e, ou, serviços; - melhoria da alimentação do homem do campo; - redução do risco de perdas totais; - redução do custo de plantio; - redução da necessidade de capinas. - melhoria da distribuição da mão-de-obra rural; e Esses sistemas permitem evidenciar algumas vantagens tanto econômicas quanto sociais em relação às outras modalidades de uso da terra, como: • A diversidade de culturas ocupando mesmo espaço físico traz oportunidade de obtenção de diferentes produtos colhidos em diferentes épocas, podendo gerar maior renda distribuída ao longo do ano. Esses diferentes produtos, oriundos dos sistemas agroflorestais, podem ser: lenha, madeira, postes, forragem, alimentos, produtos medicinais, óleos essenciais, taninos entre outros. • A maior diversidade de culturas proporciona um aumento da quantidade de alimentos disponíveis ao longo do ano, com a vantagem nutricional de fornecer grande quantidade da necessidade calorífica de uma família rural. • Desvantagens→ A ocupação do mesmo espaço físico pelos diferentes componentes (arbustivo-arbóreo e culturas agrícolas) pode gerar aumento na competição pelos recursos do meio. Essa competição por nutrientes, espaço de crescimento, luminosidade e umidade, pode reduzir a produtividade dos cultivos. • Pode ocorrer riscos de influências alelopáticas entre os componentes.• Os conhecimentos dos agricultores e até dos técnicos e pesquisadores sobre SAF's são ainda muito limitados. Existe a necessidade de informações básicas a respeito do espaçamento ou de espécies a serem utilizadas, efeitos alelopáticos, manejo, etc. • A falta de tradição dos agricultores pode tornar difícil a extensão e implantação desse sistema na maioria das regiões. • O manejo é mais complexo que o de cultivos anuais ou de ciclo curto, os tratos culturais são mais diversificados e exigem técnicas apropriadas que muitos produtores ainda não utilizam. • O custo de implantação pode ser mais elevado dependendo das espécies a serem utilizadas e se o produtor irá adquirir ou produzir as mudas. • O emprego da mecanização torna-se mais difícil porque o arranjo dos indivíduos na área engloba espécies de portes diferentes. • A exploração de árvores para madeira ou lenha pode causar danos às outras culturas associadas e a realização dos tratos culturais e colheita mecanizada da espécie agrícola pode causar danos ao componente florestal. • A recuperação econômica dos investimentos pode demorar mais tempo.• Página 8 de AGROS36
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