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Título II 
Do Crime 
 
Relação de causalidade 
Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, 
somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a 
ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
 
Superveniência de causa independente 
§ 1º A superveniência de causa relativamente independente exclui 
a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos 
anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. 
 
Relevância da omissão 
§ 2º A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e 
podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a 
quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o 
resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência 
do resultado. 
 
Notícia — O artigo 11 da anterior Parte Geral do Código Penal 
foi aproveitado pela Lei nº 7.209/84 como artigo 13. Alterou-se 
a redação do então parágrafo único, acrescentando-lhe a palavra 
relativamente, passando o mesmo a receber o numero 1º. Um novo 
parágrafo, o 2º, contendo três alíneas, foi introduzido por fim. 
 
Tema — O primeiro elemento a ser observado a partir da rubrica 
do Titulo II é a noção de crime. O nosso Código Penal não chega 
a definir textualmente o que se deva entender como tal. A noção 
sobre o tema advém-nos do teor do artigo 1º, do Decreto-Lei nº 
3.914, de 9 de dezembro de 1941 (Lei de Introdução ao Código 
Penal e à Lei de Contravenções Penais), ao estabelecer que crime 
e contravenção são espécies do gênero delito. O primeiro é “a 
infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de 
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente 
com a pena de multa”. Por outro lado, o segundo tipo de ilícito 
penal, a contravenção, é “a infração penal a que a lei comina, 
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, 
alternativa ou cumulativamente.” Sem dúvida o critério utilizado 
mostra-se impreciso e insuficiente, notadamente em nossa atual 
normatização criminal, porquanto crimes existem a que são 
cominados somente pena de multa. De qualquer sorte, podemos ter 
em mente que as contravenções penais são sempre consideradas 
como delitos de menor poder ofensivo, são os chamados delitos 
anões (delitti nani), no dizer dos italianos. Modernamente a 
nossa legislação admite como crimes de menor potencial ofensivo 
todos aqueles cuja pena máxima não ultrapasse dois anos de 
privação de liberdade, a teor do estabelecido pelas leis nº 
9.099, de 26 de setembro de 1995 e nº 10.259, de 12 de julho de 
2001. 
Do ponto de vista material, pode conceituar-se o ilícito como a 
violação dum bem protegido pelo ordenamento jurídico. Do ângulo 
formal, tê-lo-emos como o comportamento humano conforme descrito 
em lei (tipicidade), comissivo ou omissivo, que se venha 
apresentar contrariamente ao interesse do Estado 
(antijuridicidade) e perpetrado livre e conscientemente por 
alguém culpável (culpabilidade). 
Várias são as formas pelas quais se podem classificar os 
delitos, partido elas de duas óticas básicas: a legal e a 
doutrinária. 
A classificação legal decorre da norma em si, em razão do bem 
jurídico afetado pela conduta delituosa e da sua inclusão num 
dos Títulos que compõem a Parte Especial do Código Penal. Desta 
forma, na classificação legal observa-se o nomem iuris 
específico e o genérico. É o caso, por exemplo, do homicídio 
(nomem iuris específico), onde o objeto jurídico protegido é a 
vida humana; incluindo-se ele dentre os crimes contra a pessoa 
(nomem iuris genérico). 
Por seu turno, as classificações doutrinárias decorrem da 
observação criteriosa de elementos comuns a determinados tipos, 
permitindo uma abordagem didática, teórica e analítica acerca do 
conteúdo, da forma ou do modo de execução de cada uma das 
figuras penais. Desta maneira os doutrinadores criam suas 
próprias classificações a partir da maneira como abordam os 
diversos crimes descritos na legislação criminal. 
Temos, assim, crimes que são classificados, considerando o 
diploma legal em que se encontram inseridos, como comum ou 
especial. A primeira aplica-se aos ilícitos contidos no Código 
Penal; a segunda é reservada para os delitos estabelecidos por 
leis criminais específicas, e têm natureza própria, a exemplo 
daqueles do Código Penal Militar, do Código de Trânsito 
Brasileiro, da lei antitóxico, etc. 
Partindo-se da perspectiva do sujeito ativo (também válido em 
relação ao sujeito passivo) classifica-se o crime como comum, 
quando pode ser praticado por qualquer pessoa, desnecessitando 
ela de condição ou qualidade especial, a exemplo do homicídio, 
do furto, do roubo, do estelionato; próprio, se decorre de 
qualidade ou condição especial exigida pelo tipo em relação ao 
autor, como no caso do funcionário público, exercentes de cargos 
eletivos, etc; e de mão-própria, hipótese em que a execução 
somente pode ser realizada por determinado sujeito em razão de 
qualidade ou condição especialíssima e cuja ação não pode ser 
realizada por terceiros, não se admitindo sequer a co-autoria. 
Do ponto de vista da ação desenvolvida, poderá ser o crime 
classificado como comissivo, na hipótese dum atuar positivo 
(comportamento de fazer) por parte do agente. Dito de outra 
forma, no crime comissivo exige-se um comportamento positivo do 
agente descrito na figura penal decorrendo daí um resultado 
naturalístico. 
Ainda tomando por base a ação praticada o crime poderá ser 
omissivo, quando o sujeito ativo deixa de agir (inação), isto é, 
não faz aquilo que o Estado espera seja feito. Em tal crime a 
conduta descrita é negativa, vale dizer, importa em um não fazer 
daquilo que a lei espera seja realizado, implicando em 
transgressão da norma jurídica. É o caso de deixar o médico de 
comunicar doença (art. 269 do CP), não sendo necessário qualquer 
resultado naturalístico; da mesma forma que a omissão de socorro 
(art. 135 do CP), porquanto temos a previsão legal duma omissão 
pura, vale dizer, a simples abstenção da realização dum ato, não 
interessando o resultado da omissão; ela, em si mesma, é 
suficiente para a configuração do delito. Estamos a falar aqui 
do crime omissivo próprio. 
Pode, ainda, o crime omissivo apresentar-se como impróprio 
(comissivo por omissão), o qual se nos apresenta como omissão na 
transgressão do dever jurídico, na qualidade de garante, de 
impedir o resultado. Isto é, a lei descreve uma conduta de fazer 
e o sujeito ativo nega-se a cumprir com o seu dever. Significa 
dizer que a obrigação jurídica de agir necessariamente existe na 
previsão legal, devendo a inação produzir um resultado 
naturalístico. É o caso da mãe que deixa de alimentar o filho 
(comissivo por omissão), ação essa que implica em crime de 
evento, produz resultado naturalístico. Serve, também, como 
exemplo o salva-vidas que assiste, inerte, ao afogamento de 
alguém, vez que daí pode decorrer a prática de homicídio ou 
lesões corporais por omissão. Observe-se que o artigo 13, caput, 
do CP é claro ao considerar como causa a ação ou omissão sem a 
qual o resultado não teria ocorrido. Some-se a isso o disposto 
no § 2º do mesmo mandamento ao estabelecer que a omissão é 
penalmente relevante quando o omitente devia agir e 
estabelecendo quem tem o dever legal de assim proceder. Conclui-
se, portanto, que na comissão por omissão temos o dever legal de 
impedir um determinado resultado e somente sendo possível a 
conseqüência pela inação do sujeito; ou seja, comete-se o delito 
por praticar-se uma omissão, onde a lei equipara o nom facere a 
um facere.Tendo em vista o momento do efeito do ato delituoso pode-se 
classificar o crime como instantâneo, quando encerra-se ele com 
a própria consumação, a exemplo do homicídio, o qual se exaure 
com a morte da vítima; e permanente, se a consumação prolonga-se 
no tempo, perdurando com a ação ou a omissão do sujeito ativo, o 
que se verifica no cárcere privado e no seqüestro. Alguns 
autores falam, também, em crime instantâneo de efeito 
permanente, referindo-se àquele que, uma vez consumado, seus 
efeitos não podem ser anulados ou minorados, perdurando eles 
independentemente da vontade do agente. 
Atentando para a singularidade ou pluralidade de agentes exigida 
pelo tipo temos que o crime poderá ser unissubjetivo ou 
plurissubjetivo. Aquele poderá ser cometido solitariamente por 
uma só pessoa, nada impedindo que venha a ser praticado por 
pluralidade de agentes (homicídio, calúnia, furto). O último tem 
na lei a exigência de dois ou mais sujeitos ativos (quadrilha, 
rixa). 
São também classificados os crimes como unissubsistentes, quando 
perpetrado num só ato e, por via de conseqüência, não admite a 
forma tentada (é o caso dos crimes de mera conduta), como a 
invasão de domicílio; e plurissubsistente, aquele que se perfaz 
por atos identificáveis, isto é, fazes que podem ser separadas 
e, em decorrência, admitem a forma tentada, a exemplo do aborto, 
do furto e do estelionato. 
Naquilo que respeita à atuação contida na figura penal a maioria 
dos autores classifica o crime como de ação única ou de ação 
múltipla (ação alternativa ou de conduta variada). Diz-se de 
ação única quando o tipo contém um só núcleo verbal (matar, 
expor, abandonar, constranger, etc). Se o recorte criminal prevê 
mais duma conduta, expressa por verbos, estamos diante de crime 
de ação múltipla (induzir ou instigar; destruir, inutilizar ou 
deteriorar; comprar, vender, ter em depósito, etc). Em que pese 
tal classificação ser aceitável ela deixa brechas, razão porque 
propomos uma outra mais pormenorizada. Em sendo assim temos que 
o crime pode ser de ação e resultado únicos; de ação alternativa 
e resultado único; de ação única e resultado variado; e de ação 
alternativa e resultado variado. O crime de ação e resultado 
únicos distingue-se pelo núcleo constituído de um só verbo e 
somente sendo possível resultado único, a exemplo do homicídio 
(art. 121, caput, do Código Penal). Por sua vez o crime ação 
alternativa e resultado único caracteriza-se pelo núcleo 
composto de verbos diversos, representativos duma unidade de 
desígnio em relação à finalidade, e que sempre resultam em um 
único delito, a exemplo do tráfico de entorpecentes, o qual 
configura-se pela venda, armazenando, depósito, transporte, etc. 
da substância tóxica não permitida (art. 33 da Lei nº 
11.343/2006). São também exemplos os artigos 122 (induzir, 
instigar, prestar auxílio), 150 (entrar, permanecer), 163 
(destruir, inutilizar, deteriorar), 164 (introduzir, deixar), 
202 (invadir, ocupar), 291 (fabricar, adquirir, fornecer), todos 
do Código Penal. Em casos tais os verbos constituem fases do 
mesmo delito, não se falando em concurso de crimes apenas pela 
incidência de mais que uma das ações listadas no núcleo. Torna-
se indiferente o agente praticar todas as ações ou uma só, 
sempre restará cometido apenas um só ilícito. Já o crime de ação 
única e resultado variado, particulariza-se por núcleo verbal 
único, porém com distintos elementos constitutivos de 
finalidades, implicando em resultados possíveis diversos, 
permitindo continuidade delitiva nos termos do artigo 71 do 
Código Penal. É o caso do artigo 213 do CP, com a redação dada 
pela Lei nº 12.015/2009. Por fim, o crime de ação alternativa e 
resultado variado prevê comportamentos expressos por verbos 
diferentes, indicando-se, para cada um resultados distintos, 
resolvendo-se o concurso pelas regras da continuidade delitiva. 
Serve como exemplo o atual artigo 215 do Código Penal. 
Considerando-se o resultado classifica-se o crime como de dano 
ou de perigo. Aquele é assim tido quando a figura típica 
contempla o efetivo prejuízo, isto é, somente se consuma com a 
lesão concreta do bem jurídico protegido (lesão corporal, 
homicídio, estelionato, etc). Este último consuma-se com a 
simples possibilidade do dano, vale dizer, com a criação do 
perigo para o bem jurídico (perigo de contágio venéreo, rixa, 
incêndio, dentre outros). 
Ainda do ponto de vista naturalístico e normativista podemos ter 
o crime como material, formal ou de mera conduta. Discorrendo 
sobre tal distinção, aliás, o douto Damásio Evangelista de 
Jesus, ensina haver “crimes em que o tipo descreve a conduta do 
agente e a modificação do mundo exterior causado por ela 
(resultado). Outros descrevem apenas o comportamento do sujeito, 
não fazendo referência a qualquer mudança no mundo externo 
produzida por ela. De observar-se que a modificação no mundo 
externo (resultado) não se contém na ação, i. e., a ação é uma 
modificação do mundo externo, mas a mudança que constitui o 
evento não é a da ação, mas a causada por ela. Como diz 
Petrocelli, o resultado é ‘una modificazione del mondo esterno 
che segue a quell’altra modificazione del mondo che è l’azione’ 
(Principii di diritto penale, 1944, v. 1, p. 326). No homicídio 
há a ação (p. ex., desfechar tiros de revólver) e o resultado 
(morte). O fato se compõe do comportamento humano e da 
modificação do mundo externo operada por ele. Na violação de 
domicílio, porém, o tipo só contém a descrição da conduta, sem 
referência a qualquer modificação do mundo exterior. É um crime 
sem resultado naturalístico. Às vezes, não obstante a ação se 
dirigir à produção de um resultado, a impaciência do legislador 
o leva a antecipar o momento consumativo do crime. É o que 
ocorre na ameaça (art. 147), que se consuma quando o sujeito 
passivo toma conhecimento do mal pronunciado pelo agente, 
independentemente da produção do evento a que a ação se dirige, 
que é a intimidação. Em face do exposto, entendemos que há 
crimes: a) de mera conduta (sem resultado naturalístico); b) 
formais (de evento naturalístico cortado ou de consumação 
antecipada); c) materiais (de resultado). Distinguimos os crimes 
formais dos de mera conduta. Estes são sem resultado; aqueles 
possuem resultado, mas o legislador antecipa a consumação à sua 
produção. No crime de mera conduta o legislador só descreve o 
comportamento do agente. Exs.: violação do domicílio (art. 150), 
desobediência (art. 330) e reingresso de estrangeiro expulso 
(art. 338). No crime formal o tipo menciona o comportamento e o 
resultado, mas não exige a sua produção para a consumação. Exs.: 
crimes contra a honra, ameaça, divulgação de segredo, violação 
de segredo profissional etc. No Crime material o tipo menciona a 
conduta e o evento, exigindo a sua produção para a consumação. 
Exs.: homicídio, infanticídio, aborto, participação em suicídio, 
lesão corporal, furto, roubo etc.”1 
Reza o caput do artigo 13, em sua parte final, que a causa dum 
evento criminoso é o agir humano, de forma positiva (comissiva) 
ou negativa (omissiva), o qual se encontra necessariamente 
ligado de forma naturalística ao resultado ocorrido. Em resumo, 
como ensina a Lógica, inexiste fato incausado. Os elementos 
anteriores que possibilitaram a produção do resultado são tidos, 
assim, como suas causas eficientes naturais e, conseqüentemente, 
legais. O Código Penal pátrio, destarte, adota o princípio da 
conditio sine qua non (condição sem a qual não), ou seja, a 
teoria da equivalência do resultado, enaltecida pelo sempre 
festejado Mestre Nelson Hungria, assentando ser ela “a 
preferíveldentre todas as fórmulas sobre a causalidade física, 
pois serve a uma solução simples e prática do problema. A 
pergunta — quando a ação ou omissão é causa do resultado?, ela 
responde de modo preciso e categórico: a ação ou omissão é 
sempre causa quando, sumprimida in mente (‘processo de 
eliminação hipotética’, na frase de Thiren), o resultado in 
concreto não teria ocorrido. Mas a causalidade física não é, nem 
podia ser o único pressuposto da punibilidade; acha-se esta, 
igualmente, subordinada à culpabilidade do agente. Após a 
averiguação de um evento penalmente típico na sua objetividade, 
tem-se de apurar, não somente se foi causado por alguém, mas, 
também, se o agente procedeu dolosa ou culposamente. O requisito 
da culpabilidade é, sob o prisma jurídico-penal, um corretivo à 
excessiva amplitude do conceito de causa (no sentido puramente 
lógico). Assim, no exemplo acima figurado, o fabricante da arma 
1 Damásio E. de Jesus, Direito Penal (Parte Geral), São Paulo, Saraiva, 18ª 
ed., 1994, 1º vol., pp. 167-168. 
ofensiva não é penalmente chamado a contas pelo resultado 
‘morte’, pois este não lhe pode ser psiquicamente imputado a 
título de dolo ou culpa.”2 
Temos, assim, que além dos elementos diretamente causais dum 
ilícito, encontramos alguns outros que se lhes seguem 
posteriormente e de forma autônoma, isto é, são supervenientes 
ao primeiro evento e conduzem a um resultado não diretamente 
conseqüente do primeiro. Trata destes o parágrafo 1º do artigo 
em tela. Como decorrência da inteligência do preceito, temos 
aquilo que sobrevém ao fato danoso, produzindo resultado por si 
só e de forma relativamente independente, como eliminante da 
atribuição de culpabilidade. Ainda segundo a lição do insigne 
Nelson Hungria, “Se a causa superveniens se incumbe sozinha do 
resultado, e não tem ligação alguma, nem mesmo ideológica, com a 
ação ou omissão, esta passa a ser, no tocante ao resultado uma 
‘não-causa’. Tomemos o exemplo formulado por Von Liszt: A fere 
mortalmente o barqueiro B, mas este, antes que sobrevenha a 
morte em conseqüência do ferimento, perece afogado, porque um 
tufão fez soçobrar o barco. Em face do art. 11,
3
 caput, é claro 
que a A não pode ser imputada a morte de B, pois, ainda que 
suposta inexistente a sua ação, tal resultado teria igualmente 
ocorrido.”4 
Os fatos anteriores ao evento último, entretanto, seguindo a 
regra geral da cabeça do artigo 13, imputam-se a quem os 
praticou. 
O parágrafo segundo preenche uma lacuna, porquanto trata dos 
crimes omissivos (já analisados anteriormente), estabelecendo 
uma relação normativa entre uma abstenção no agir e um resultado 
danoso. Sobre isso o douto Magalhães Noronha ensina que a “ação 
negativa ou omissão, entra no conceito de ação (genus) de que é 
espécie. É também um comportamento ou conduta e, 
conseqüentemente, manifestação externa, que, embora não se 
concretize na materialidade de um movimento corpóreo — antes é 
abstenção desse movimento — por nós é percebida como 
realidade, como sucedido ou realizado.”5 
É com fulcro nessa idéia do comportamento de não fazer e que 
produz resultado, que o Código Penal criminaliza certas omissões 
consideradas relevantes. Conforme já explanamos ut retro, para 
que se caracterize uma omissão como criminalmente importante 
necessário se faz a presença de dois fatores: o dever legal de 
agir e a possibilidade concreta de praticar a ação. Temos, em 
resumo, que a imposição de agir comissivamente para evitar 
resultado danoso decorre de três situações: a) obrigação legal 
de cuidado, proteção ou vigilância; b) responsabilidade pessoal 
de impedir o evento; c) comportamento originador da criação do 
risco. Como já afirmamos anteriormente o crime é tido como 
omissivo, quando o sujeito ativo deixa de agir (inação), isto é, 
não faz o que o Estado espera seja feito. O crime omissivo pode 
2 Nelson Hungria, Comentários ao Código Penal, Rio de Janeiro, Forense, 1958, 
4ª ed., Vol. I, Tomo II, pp. 66-67. 
3 O autor está referindo-se ao Código Penal, antes da reforma advinda da Lei 
nº 7.209/84. 
4 Nelson Hungria, Comentários ao Código Penal, Rio de Janeiro, Forense, 1958, 
4ª ed., Vol. I, Tomo II, pp. 67-68. 
5 Edgard Magalhães Noronha, Direito Penal, São Paulo, Saraiva, 30ª ed., 1993 
(atualizada por Adalberto José Q. T. de Camargo Aranha), vol. 1, p. 95. 
ser tido como próprio ou impróprio. Diz-se próprio quando temos 
a previsão legal duma omissão pura, vale dizer, a simples 
abstenção da realização dum ato, não interessando o resultado da 
omissão; ela, em si mesma, é suficiente para a configuração do 
delito, como no caso da omissão de socorro, previsto no artigo 
135 do Código Penal. Já o impróprio é aquele em que existe o 
dever legal de impedir um determinado resultado e somente 
possível tal conseqüência pela inação do sujeito; ou seja, 
comete-se o delito por praticar-se uma omissão, a lei equipara o 
nom facere a um facere. 
 
Jurisprudência 
 
Concurso de Agentes – Teoria da Equivalência Causal. “Conforme a 
teoria da equivalência causal, albergada no art. 13 do Código Penal, 
respondem pelo delito todos que nele colaboraram, agindo ou se 
omitindo, indiferentemente do grau de participação que somente é 
relevante para fins de fixação de pena.”6 
 
Causa Superveniente – Princípio da Personalidade – Nexo de 
Causalidade. “A relação de causalidade cuidada pelo art. 13 e seus 
parágrafos do CP encontra limitações. Não pode conduzir a absurdos com 
conclusões aberrantes com a realidade. ‘Considera-se causa a ação ou 
omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido’, é o que estabelece 
o art. 13 do CP. Evidentemente, a lei não se refere a qualquer causa, 
cabendo ao julgador estabelecer, com critério e de maneira lógica, 
qual a causa que conduziu a ação havida como delituosa. Já alertara o 
eminente Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, à época em que pontificava no 
TJDF, que ‘o princípio da personalidade impede que a infração cometida 
por uma pessoa seja, em suas conseqüências suportadas por um outra’ 
(DJU 17.3.80, p. 1.394), mesmo porque, como anotara o eminente Des. 
Acácio Rebouças, ‘não se podendo afirmar o nexo de causalidade 
existente entre a morte da vítima e o ato do acusado, não há de 
responsabilizá-lo pelas severas sanções do art. 129, § 3º, do CP’ (RT 
380/68). Não se podendo afirmar o nexo de causalidade entre o suicídio 
da vítima e o ato de autoridade policial determinando seu recolhimento 
devido ao estado de embriaguez, não há de responsabilizá-la por 
homicídio doloso.”7 
 
Causa Superveniente – Relação de Causalidade – Hipótese de Não 
Caracterização. “Não há vedação de os crimes comissivos por omissão, 
em casos especiais, contemplarem forma culposa, o que vem de encontro 
com a doutrina. H. H. Jescheck, ao comentar os delitos de omissão 
imprópria na modalidade culposa, assevera “Los delitos de omissión 
impropria no regulados em la ley puedem cometerse por imprudência 
sempre que el corresponiente tipo de comissón considere suficiente la 
culpa’, in Tratado de Derecho Penal, Parte Generale, vol. II, 
Barcelona, Bosch, 1981, p. 868. Tal posição é acompanhada pela 
doutrina brasileira. Desta forma, tem-se que a imputação contida na 
denúncia e aceita pela sentença está correta, eis que, em tese, 
qualquer delito culposo comporta a ocorrência da modalidade omissiva 
imprópria. No entanto, é de se ponderar que nos crimes comissivos por 
omissão, mais fortemente na modalidade culposa, o ‘especial dever 
jurídico de atuar’ é característica do tipo, resultando a sua não 
observância por parte da denúncia em atipicidade da denúncia e 
conseqüentemente nulidadeda sentença que a acolhe (cf. Heleno Cláudio 
6 TAMG, 1ª CCrim, v. u., publ. em 22/out/92 – ApCrim 119219-0 – Rel. Juiz 
Carlos Biasutti — COAD 60867. 
7 TJSP, Rel. Des. Cunha Bueno — RT 700/322. 
Fragoso, in Lições de Direito Penal, José Bushatsky, 1978, p. 262 e 
ss.). O especial dever jurídico de atuar nos delitos de omissão 
imprópria se dá em razão do dever de garante ou dever objetivo de 
cuidado. ‘Para los delitos de omissión impropria deve añadir-se la 
especialidad de que em los hechos imprudentes, en parte, coincide el 
deber de garante y el deber objetivo de cuidado, aunque deben 
diferenciarse conceptualmente para que pueda medirse correctamente el 
alcance que les corresponde. Ejemplos: el constructor tiene, para 
assegurar el tráfico (apertura de una fuente de peligro al abrir una 
zanja de obras) el dever de adoptar las usuales precauciones de 
cierre, pero aquí termina también su deber de cuidado. Quien, por 
ejemplo, abre un ferrocarril de montana para esquiadores, em caso de 
una helada extrema debe cierrar a tiempo las zonas de partida (BGHNJW, 
1973, 379). Finalmente, la imprudência también puede referirse aquí a 
la posición de garante. Ejemplo: La maestra que ve desde el aula cómo 
juegan pelogrosamente a trepar unos niños uno de los cuales sufriria 
un accidente mortal, actúa imprudentemente si no comprueba si se trata 
de niños de sua propria escuela a los que deberia prohibir el juego’ 
(Tratado de Derecho Penal — Parte General, Bosch, vol. II. H. H. 
Jescheck, p. 869). É de se observar que o art. 13, do diploma 
repressivo, é que fixa estes parâmetros, ou seja, só há 
responsabilidade penal quando o agente deveria (atuando) evitar o 
resultado, pois, encontrava-se como garante da situação ou tinha em 
relação à situação fática um dever objetivo de cuidado. Assevera 
Heleno Cláudio Fragoso: ‘em face da definição da nossa lei, podemos 
dizer que ela equipara o não impedimento à causação, considerando como 
causa a omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido, ou seja, 
quando através de um juízo hipotético, for possível afirmar que a ação 
esperada, possível e devida, com segurança, teria impedido o 
resultado’ (in Lições de Direito Penal, José Bushatsky, 1978, p. 
226/67). No entanto, tem-se que a conduta do paciente não se encontra 
inserida naquelas hipóteses previstas na Lei (alíneas ‘a’ a ‘c’, do § 
2º, do art. 13, do CP). Em primeiro lugar inexiste norma que imponha 
ao paciente como sócio-gerente de firma construtora obrigação de 
cuidado, proteção ou vigilância quanto aos serviços ordinários de sua 
firma e, sim, de que este deve garantir materialmente a execução dos 
serviços, o que foi feito, pois a denúncia e sentença colocam bem que 
o evento delituoso deu-se em razão da operação de montagem e 
desmontagem do balancim e não em decorrência de causa material direta. 
Em segundo lugar, não há nada que aponte tenha o paciente assumido a 
qualquer modo condição de garante que lhe possibilitasse impedir 
próxima ou remotamente o evento. Por derradeiro, não se pode falar em 
comportamento anterior imputável ao paciente que tenha criado o risco, 
a não ser, se se considerasse de forma absurda a contratação de obra e 
dos empregados como fato gerador do risco. No nosso entender, na 
espécie, não se vislumbra base que possibilite a apuração de 
responsabilidade criminal, pois em assim entendendo-se estar-se-ia 
transplantando para o Direito Penal a responsabilidade objetiva em 
razão de fato acarretado por preposto (mestre de obra) que tem 
ressonância no âmbito do direito civil para efeitos de indenização, 
mas foge ao âmbito do penal, onde a responsabilidade, salvo casos 
expressos e que guardam entre si nexo de causalidade entre o evento e 
o resultado, funda-se de modo pessoal. Exemplificando: a prosperar a 
tese esposada na denúncia, todo e qualquer sócio de rima seria em 
princípio co-autor dos eventuais atos cometidos por seus empregados 
quando em serviço, tão-só em face da possível omissão de não Ter 
verificado previamente as condições operativas de trabalho de seus 
empregados, embora estes — empregados — fossem técnicos abalizados. A 
responsabilidade decorrente de péssimas condições de trabalho, omissão 
em fornecer equipamentos apropriados para a segurança do serviço, 
imposição de executar trabalhos perigosos, são hipóteses que podem 
recair no âmbito penal, mais especificamente dentro da relação causa-
efeito decorrente de evento específico e, nunca, fundada em base tão-
só objetiva. Ora, o não impedimento (omissão), no caso, in concreto, 
não poderia ser atribuída ao ou aos donos da construtora que tinham 
como dever de garantia, tão-só, já que estes não executavam 
concomitantemente, conforme a peça acusatória, atos próprios da 
construção, a qualidade dos serviços postos à sua disposição, no caso, 
a contratação de um mestre de obras, no que foi feito. A peça 
acusatória, no que foi acompanhada pela sentença tão-só alude a 
responsabilidade objetiva — dever de responder por preposto habilitado 
— incompatível com a ação penal. A conduta descrita na denúncia é 
atípica, pois não descrita a ‘inobservância do dever jurídico de 
cuidado com a que estava adstrito o agente’ (cf. Heleno Fragoso, ob. 
cit., 269), nem sua posição de garante.”8 
 
Homicídio Culposo – Erro Médico – Responsabilidade Por Omissão. “O 
erro de diagnóstico e terapia, provocado pela omissão de procedimentos 
recomendados ante os sintomas exibidos pelo paciente, acarreta 
responsabilidade médica, nos termos do art. 13, § 2º, ‘b’, do CP, e só 
pode ser excluído da cadeia causal se houver prova plena de que não 
comprometeu as chances de vida e integridade da vítima.”9 
 
Homicídio e Lesão Corporal Culposos – Omissão Como Causa. “O resultado 
de que depende a existência do crime somente é imputável a quem lhe 
deu causa, entendida esta como a ação ou omissão sem a qual o 
resultado não teria ocorrido. A omissão é penalmente relevante quando 
o omitente devia e podia agir para evitar o resultado, seja por força 
de lei, seja por ter criado o risco da sua ocorrência (art. 13 e § 2º, 
CP). É responsável penalmente, a título de crime culposo, o 
profissional (médico e físico hospitalar) que, atuando no ramo da 
medicina nuclear, e ciente dos riscos dos equipamentos operados nessa 
atividade (clínica de radioterapia), resolve deixar equipamento 
radiológico em prédio abandonado, sem comunicação aos órgãos 
competentes, com isso ensejando a sua manipulação por pessoas do povo 
(comerciantes de ferro velho) e a sua contaminação por material 
radioativo (Césio-137), causando-lhes graves danos — mortes e lesões 
corporais.”10 
 
Homicídio – Concausa Superveniente. “A concausa superveniente é aquela 
que derivando-se de um fato de outrem ou de um acontecimento estranho 
ao agente, se intercala na cadeia causal por este inaugurada. Ora, não 
fosse a ação do réu do que resultaram as lesões corporais, a 
septicemia não se instalaria no corpo da vítima, pois, como concluíram 
os técnicos, a infecção derivou daquelas lesões.”11 
 
Latrocínio – Concausa Superveniente – Caracterização. “No cometimento 
de roubo a mão armada, já anoitecendo e em acostamento de movimentada 
rodovia, a eventualidade de precipitar-se uma das vítimas em fuga na 
direção das autopistas desdobra-se em significância previsível ao 
agente.”12 
 
8 STF, 2ª T, julg. em 31/mar/89 – RHC 67.286-8 – SP – Rel. Min. Carlos Madeira 
— RT 644/354. 
9 TARS, 3ª CCrim, v. u., em 17/ago/93 – ApCrim 293102406 – Rel. Juiz Fernando 
Mottola — COAD 63474. 
10 TRF da 1ª R, 3ª T, publ. em 17/ago/95 – ApCrim 93.01.03115.9 – GO – Rel. 
Juiz Olindo Menezes — Síntese 500048. 
11 TJSP,5ª CCrim, v. u. em 15/abr/93 – ApCrim 114.382-3/10 – Rel. Des. Celso 
Limongi — RT 697/280. 
12 TJSP, 3ª CCrim, julg. em 9/mai/94 – ApCrim 156.893-3 – Rel. Des. Gonçalves 
Nogueira — RJ 213/132. 
Atentado Violento ao Pudor – Corrupção de Menor – Delito Formal. “Se o 
delito de corrupção de menores só pode ser praticado contra menor de 
18 anos e maior de 14 anos, daí resulta que o menor de 14 anos não 
pode ser sujeito passivo desse crime. Por não ser um delito meramente 
formal, para que se configure o crime de corrupção de menores, deve 
ser adequadamente provado que os menores ficaram corrompidos. É de se 
considerar presente a figura do crime continuado na prática do 
atentado violento ao pudor, se o réu, por diversas vezes e por mais de 
um ano, constrangeu a menor a com ele manter ato libidinoso diverso da 
conjunção carnal.”13 
 
Art. 14. Diz-se o crime 
Crime consumado 
I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua 
definição legal; 
Tentativa 
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por 
circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Pena de tentativa 
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, pune-se a 
tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, 
diminuída de um a dois terços. 
 
Notícia — O artigo 12 da anterior Parte Geral do Código Penal, 
sem qualquer alteração quanto ao texto, passa a ser numerado 
como 14, pela Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984. Como ficou 
explicitado na Exposição de Motivos, (item 14) da nova Parte 
Geral, ficaram “mantidas, nos arts. 14, 15, 17 e 18, as mesmas 
regras do Código atual, constantes, respectivamente, dos arts. 
12, 13, 14 e 15, relativas aos conceitos de crime consumado e 
tentado, de desistência voluntária e arrependimento eficaz, de 
crime impossível, de dolo e culpa stricto sensu.” 
 
Tema — Entende-se como crime aquele comportamento humano 
descrito em lei (tipicidade), praticado comissiva ou 
omissivamente, que contraria interesse do Estado 
(antijuridicidade), realizado livre e conscientemente por alguém 
culpável (culpabilidade). 
A prática do ilícito penal às vezes (no caso de crime 
doutrinariamente classificado como plurissubsistente) pode ser 
dividida em fases que se alongam no tempo (iter criminis). São 
elas: a) cogitação, espaço temporal inicial em que o agente 
apenas imagina e projeta a ação delituosa; b) preparação, fase 
posterior onde já se operam fatos concretos visando a prática 
delituosa, tais como aquisição ou preparo de arma, escolha do 
local mais adequado, variáveis de fuga, etc; c) execução, o 
momento da efetivação do comportamento descrito no recorte 
criminal, onde ressai a prática indicada no núcleo (verbo); e d) 
consumação, que se perfaz com o preenchimento de todos os 
requisitos descritos no preceito legal, fechando-se assim, o 
ciclo danoso. As duas fases iniciais (a e b), regra geral e 
salvo disposição específica, são criminalmente impuníveis, pois 
que atípicas, a teor do inscrito no artigo 14, do Código Penal, 
que aqui adota o critério objetivo. Observe-se que elas preparam 
caminho e podem possibilitar o crime, ainda não iniciado 
13 TJMG, 3ª CCrim, v. u. publ. em 14/out/95 – ApCrim 42648/6 – Rel. Juiz 
Kelsen Carneiro — COAD 71691. 
legalmente, encontrando-se tão-só no plano subjetivo. Não se 
confundem, portanto, com as duas últimas (c e d), onde já foi 
deflagrada a ação descrita no tipo e a partir de quando a quebra 
de continuidade somente é ocasionada por arrependimento eficaz 
ou por uma interferência externa impeditiva. 
Fica, por via de conseqüência, fácil de entender o enunciado no 
inciso I, referindo-se a crime consumado, pois que este implica 
na presença da totalidade dos elementos contidos na definição 
legal, vale dizer, foram inteiramente percorridas todas as fases 
do crime. 
De outra banda, a tentativa, de que cuida o inciso II, implica 
na ausência de plenificação do último momento do iter criminis 
(a consumação). Isto é, o agente não alcança o resultado pleno 
objetivado, em razão de força alheia à sua vontade, durante a 
execução (tentativa imperfeita), ou após a realização de toda a 
execução (tentativa perfeita ou crime falho). 
Outra hipótese, a que nos referimos, de não complementação dos 
atos executórios seria a livre decisão do agente em retroceder 
no seu intento ilícito, dando lugar, então, à aplicação do 
preceito contido no artigo 15, em sua parte inicial. 
A tentativa é tão condenável quanto o próprio ilícito consumado 
e, decorrentemente, é também punível. Considerando, entretanto, 
que os resultados, na tentativa, são de menor monta a lei manda 
que se lhe aplique a pena do delito objetivado, diminuída de um 
e dois terços, se de outra maneira já não estiver regulada. 
Exemplo desta exceção é o artigo 352, prevendo “Evadir-se ou 
tentar evadir-se”. 
 
Jurisprudência 
 
Cogitação. “A mera cogitatio não basta para configurar o conatus.”14 
 
Atos Preparatórios – Homicídio Mediante Pagamento. “Se a ré tencionava 
matar o ex-exposo, mas quando das prévias tratativas com o agente 
policial, que se fazia ardilosamente passar por matador de aluguel, 
surpreendida vem de ser por ele presa em flagrante — deixa este de 
prevalecer — porquanto não indo o proceder incriminado além de simples 
atos preparatórios, a tentativa de homicídio não se tipificou, ademais 
de se ter para a hipótese verdadeiro crime impossível.”15 
 
Atos Preparatórios – Impunibilidade. “Em vista do critério do art. 14, 
II, do CP, nem a cogitação do crime, nem os atos preparatórios são 
puníveis. O inciso fala em : ‘iniciada a execução’.”16 
 
Atos Preparatórios – Início de Execução. “Desde que os agentes, de 
conformidade com o plano criminoso, adrede cogitado, se encontram 
preparados para um assalto e prestes a consumá-lo, iniciam sua 
execução, ainda que não desenvolvendo atividade típica, por 
circunstâncias alheias às suas vontades, tem-se como configurada mera 
tentativa.”17 
 
Momento Consumativo – Apropriação Indébita. “O momento consumativo do 
crime de apropriação indébita e, pois, de aperfeiçoamento do tipo, 
14 TJSP, Rel. Des. Marino Falcão — RT 605/287. 
15 TJSP, Rel. Des. Gonçalves Nogueira — RT 703/279. 
16 TAPR, 2ª CCrim, v. u. em 21/mar/90 – HC 36.137-5 – Rel. Juiz Idevam Lopes — 
RT 669/356. 
17 TACrim/SP – Rel.: Juiz Gonzaga Franceschini — RT 601/351. 
coincide com aquele em que o agente, por ato voluntário e querido, 
inverte o título da posse exercida sobre a coisa, passando dela a 
dispor como proprietário, e o crime, uma vez operada a inversão, está 
perfeito e acabado.”18 
 
Tentativa – Homicídio. “Incomprovado o animus necandi19 e emergente da 
prova a desistência voluntária de prosseguimento na agressão, impõe-se 
a desclassificação para tentativa de homicídio.”20 
 
Tentativa – Roubo. “Sem que ocorra a efetiva subtração, mostra-se 
improvável a aceitação do roubo como consumado. E por efetiva 
subtração há que se entender aquela que afasta significativamente o 
bem da esfera de vigilância e disponibilidade do seu titular, 
assegurando ao agente posse tranqüila, desvigiada e incontestável 
dela.”21 
 
Tentativa – Estupro. “Revelando o auto de exame de corpo de delito que 
as vítimas são virgens e nada informando sobre a circunstância de 
serem possuidoras de hímen complacente ou tolerável, não há que se 
falar em crime de estupro consumado. Se não há introdução do membro 
viril ou se ocorre simples contato superficial dos órgãos genitais, 
deverá ser reconhecida a tentativa de estupro.”22 
 
Tentativa – Tóxico – Tráfico Internacional. “Não se consumou o tráfico 
internacional se a res não ultrapassoua fronteira, nem o agente teve 
a posse tranqüila da coisa em território brasileiro. Está 
caracterizada, neste caso, uma tentativa, um início de execução de um 
crime de tráfico, para o qual o legislador previu pena menor, a ser 
calculada mediante o auxílio da regra amplificadora da tipicidade, que 
pune a tentativa. Se o réu importou, na forma tentada, uma das 
condutas permutáveis da enumeração legal, excluído ficou o transporte, 
na forma consumada, até mesmo porque solução mais favorável ao réu, 
que limita a discricionariedade judicial.”23 
 
Tentativa – Redução da Pena – Fundamentação. “Da mesma forma que se 
exige fundamentação para a aplicação da pena acima do mínimo legal, 
idêntica exigência se faz em relação à redução da reprimenda pela 
tentativa. Assim, se o magistrado não justifica a redução mínima, em 
razão do delito tentado, deve-se aplicar a redução máxima, ou seja, 
dois terços.”24 
 
Tentativa – Crime Culposo – Inadmissibilidade. “Tentativa e culpa são 
noções antitéticas, pois o agente, na tentativa, fica aquém do que 
queria e, na culpa, vai além do que desejara. Assim, impossível 
submeter ao Júri o quesito do excesso culposo nos delitos de tentativa 
de homicídio, dada a inexistência, em nosso sistema penal, da figura 
da ‘tentativa de homicídio culposo’.”25 
18 TACrim/SP, 14ª C, v. u. em 24/out/95 – ApCrim 952959/7 – Rel. Juiz Oldemar 
Azevedo — COAD 72706. 
19 Animus Necandi: expressão latina (idêntica a animus occidendi) significando 
intenção de matar, figuras previstas nos artigos 121 a 128 do Código Penal. 
20 TJTO, UCCrim, 3ª Tj, v. u., em 08/jun/94 – RSE 111/93 – Rel. Des. Antônio 
Félix — DJTO 241, pp. 22/3. 
21 TJSP, 1ª CCrim, julg. em 19/set/94 – ApCrim nº 165.879-3 – Rel. Des. David 
Haddad — Síntese 500057. 
22 TJRJ, 2ª CCrim, julg. em 3/mai/94 – ApCrim nº 1.179/92 – Rel. Des. José 
Lucas Alves de Brito — Síntese 500050. 
23 TRF da 4ª R, 2ª T – ApCrim 95.04.09512.7 – PR – Rel. Juiz Dória Furquim — 
DJU de 25/out/95. 
24 TACrim/SP – Rel. Juiz Albano Nogueira — RT 563/348. 
25 TJMG – Rel. Des. Monteiro de Barros — RT 620/336. 
 
Desistência voluntária e arrependimento eficaz 
Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na 
execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos 
atos já praticados. 
 
Notícia — A Lei nº 7.209/84 numera, como 15, o artigo 13 da 
primitiva Parte Geral do Código Penal, substituindo-lhe a 
expressão desiste da consumação do crime por desiste de 
prosseguir na execução. 
 
Tema — O desistir de prosseguir na execução implica 
necessariamente em renunciar à consumação do crime, 
independentemente do motivo. Quebra-se, por essa via, o iter 
criminis no que respeita às suas duas últimas fases (execução e 
consumação). 
Forçoso é fazer a distinção entre a desistência voluntária e o 
arrependimento eficaz. Na primeira, o agente, conscientemente, 
cessa a prática dos atos executórios, não mais procurando a 
obtenção do resultado inicialmente desejado. No segundo, o 
agente, mesmo depois de praticados todos os atos de execução, 
busca voluntária, espontânea e eficazmente impedir o resultado. 
Em ambos os casos a renúncia ao ilícito é voluntária, mas não 
necessariamente espontânea. Nesta voluntariedade, aliás, reside 
a distinção que se faz entre estes e a tentativa, onde a quebra 
do iter criminis verifica-se por força estranha e superior à do 
agente. 
Tanto na desistência voluntária quanto no arrependimento eficaz 
o autor somente será responsabilizado pelos atos até então 
praticados. 
Doutrinariamente procura-se verificar se a desistência 
voluntária e o arrependimento eficaz seriam causa de exclusão da 
punibilidade ou de atipicidade da conduta. Admitir a exclusão da 
punibilidade por motivos de política criminal é a posição 
albergada pelo saudoso Celso Delmanto e a quem seguimos neste 
ponto. 
 
Exemplos: 
a) Desistência voluntária, furto — A ingressa sorrateiramente na 
casa de B com o intuito de subtrair pequenos objetos. Após 
colocar vários deles em uma caixa e já à porta de saída, resolve 
voluntariamente (por medo de ser descoberto posteriormente, puro 
arrependimento, etc.) repor tudo nos devidos lugares, 
procurando, em seguida, abandonar o local. 
b) Tentativa de furto — A ingressa sorrateiramente na casa de B 
com a intenção de subtrair pequenos objetos. Após colocar vários 
deles em uma caixa e já à porta de saída é surpreendido por C. 
Assustado, abandona a caixa com os objetos e procura fugir do 
local. 
c) Arrependimento eficaz, homicídio — A pretendendo assassinar B 
desfere-lhe dois golpes de faca. Vendo a vítima caída e 
inteiramente à sua mercê, ao invés de continuar investindo 
contra a mesma, coloca-a em um veículo e busca um médico para 
que preste os socorros necessários para salvar a vida da vítima. 
 
Jurisprudência 
 
Desistência Voluntária – Caracterização. “Quando a não consumação do 
delito ocorrer por ato voluntário de quem iniciou o processo 
executivo, inexistirá crime tentado. Só responderá o agente, pelos 
atos já praticados.”26 
 
Desistência Voluntária – Configuração. “A desistência voluntária só 
pode ser reconhecida quando demonstrada por atos objetivos e que 
permitam identificar o retrocesso da intenção até então manifestada no 
desejo, ou dolo, de obter a realização do evento.”27 
 
Desistência Voluntária – Espontaneidade e Voluntariedade – Não 
Configuração. “Não há falar em arrependimento eficaz ou em desistência 
voluntária se o iter criminis foi interrompido por circunstâncias 
alheias à vontade do acusado. Não há confundir espontaneidade com 
voluntariedade.”28 
 
Desistência Voluntária – Não exigência da Espontaneidade. “Para a 
caracterização da desistência voluntária não se exige eu a renúncia do 
propósito criminoso seja espontânea, bastando que seja voluntária. 
Qualquer que seja a motivação do agente, é suficiente que não tenha 
sido obstado por causas exteriores, independentes de sua vontade. É 
indiferente a razão interna do arrependimento ou da mudança de 
propósito: a recompensa da impunidade (parcial, no caso) é 
condicionada exclusivamente à efetividade da voluntária não consumação 
do crime.”29 
 
Desistência – Requisito da Voluntariedade – Tentativa. “A desistência 
voluntária somente se configura se a renúncia ao resultado da ação 
criminosa decorre de circunstâncias internas à pessoa do agente como o 
medo, a piedade, o receio de ser descoberto, a decepção com a vantagem 
do crime, o remorso, a repugnância pela conduta, etc. Mas se a 
circunstância for alheia à vontade do agente a hipótese é de 
tentativa.”30 
 
Desistência Voluntária e Tentativa. “A desistência voluntária somente 
ocorre quando não forçada por elementos circunstanciais, hipótese em 
que deve ser reconhecida a figura da tentativa.”31 
 
Desistência e Arrependimento Eficaz – Causas de Extinção da 
Punibilidade. “Trata-se de um benefício concedido por razões de 
política criminal; um prêmio pelo afastamento do desistente ou do 
arrependido de seu projeto criminoso. Se o poder estatal cominasse, 
nessas situações, sanção punitiva, correr-se-ia o risco mais sério de 
incentivar o agente a complementar a ação delituosa, impelindo-o à 
fase consumativa. Mas, se o próprio agente se incumbe, por vontade 
própria, de suspender a execução do delito ou de obstar, de forma 
ativa, à concretização do resultado criminoso, atende a um interesse 
político do Estado que seja ele recompensado com a impunidade, 
26 TJSP, 5ª CCrim, julg. em 8/abri/92 – ApCrim 118.308-3/2 – Rel. Des. Celso 
Limongi — RT 682/312. 
27 TJSP, 3ª CCrim, v. u. em 18/jul/90 – ApCrim 73.025-3– Rel. Des. Silva Leme 
— RT 664/256. 
28 TJSP – Rel. Des. Dirceu de Mello — RT 599/325. 
29 TJSC, 3ª CCrim, v. u. em 29/jun/89 – RCrim 8647 – Rel. Des. Reynaldo Alves 
— RT 649/305. 
30 TACrim/SP – Rel. Juiz Ralpho Waldo — RT 586/321. 
31 TACrim/SP, 1ª C, v. u., em 21/mai/92 – ApCrim 697.337-1 – Rel. Juiz Silva 
Rico — RT 688/326. 
respondendo exclusivamente pelos atos já realizados, desde que 
corporifiquem crimes ou contravenções, menos graves, já consumados.”32 
 
Denunciação Caluniosa – Retratação – Arrependimento Eficaz. “Válida a 
retratação do agente de denunciação caluniosa feita poucas horas após 
a imputação, não permitindo nem mesmo o início das investigações 
contra a vítima, eis que não consumado, portanto, o crime, 
caracterizando o arrependimento eficaz. Ademais, feita a atribuição 
falsa em autodefesa quando interrogado o agente na polícia, não se 
configura o crime do art. 339 do CP.”33 
 
Tóxico – Arrependimento Eficaz – Hipótese de Não Configuração. “Não há 
falar em arrependimento eficaz face à apresentação espontânea do 
tóxico à Polícia, feita pelo acusado, uma vez que, com a aquisição e 
guarda do mesmo, já consumara o delito.”34 
 
Atos Preparatórios – Desistência Voluntária – Co-autoria. “Não há 
falar-se em co-autoria quando se dá a desistência voluntária do 
agente, ou seja, inocorre o vínculo psicológico inserindo a vontade 
individual na coletiva, antes que o iter criminis haja ultrapassado a 
fase dos atos preparatórios.”35 
 
Desistência, Arrependimento e Exaurimento. “Tratando-se de delito 
consumado, não há, na hipótese, falar em desistência voluntária ou 
arrependimento eficaz. Essas figuras tipificam-se quando o agente 
desiste de prosseguir na execução do delito voluntariamente. somente 
se pode desistir de prosseguir na execução de um delito quando este 
não se consumou. Se já ocorreu a consumação, qualquer desistência ou 
arrependimento é inócuo. Não se pode desistir de algo que já foi 
concretizado.”36 
 
Arrependimento posterior 
Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à 
pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento 
da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena 
será reduzida de um a dois terços. 
 
Notícia — O dispositivo é inteiramente novo, fruto da Lei nº 
7.209/84. 
 
Tema — O presente dispositivo é decorrente de política criminal 
visando objetivos específicos: a) o arrependimento e a emenda do 
agente delituoso; e b) o rápido e eficaz ressarcimento 
patrimonial sofrido pela vítima. 
A teor do insculpido no mandamento são requisitos para a redução 
da reprimenda: a) reparação do dano ou restituição da coisa; b) 
voluntariedade do agente; c) observância do limite temporal 
(denúncia ou queixa) para a prática do ato voluntário. Uma vez 
preenchidos tais requisitos, obrigatória passa a ser a redução 
da pena, nos limites indicados, e não devendo ser confundida com 
a atenuante prevista no artigo 65, inciso III, alínea b. 
32 TACrim/SP – Rel. Juiz Paulo Franco — RT 632/325. 
33 TJSP, 1ª CFer, julg., em 30/jan/91 – HC 102.517-3 – Rel. Des. Nélson 
Fonseca — RT 669/309. 
34 TACrim/SP – Rel. Juiz Dínio Garcia — RT 468/363. 
35 TAMG, CCReun, v. u. em 26/nov/89 – RevCrim 659 – Rel.: Juiz Edelberto 
Santiago — RT 640/338. 
36 TACrim/SP, 6ª C, v. u. em 7/jun/89 – ApCrim 570.703-1 – Rel. Juiz Almeida 
Braga — RT 644/302. 
 
Exemplos: 
a) Arrependimento posterior, abigeato — A furta quinze bezerros 
pertencentes a B. Instaura-se o devido inquérito policial e se 
chega ao autor do fato. Tendo noticia das conclusões policiais, 
imediatamente A procura B e lhe restitui todos os animais. 
b) Arrependimento posterior, estelionato — A compra um aparelho 
de TV à firma B, utilizando, como pagamento, um cheque pessoal 
que sabe não ter a devida provisão de saldo. Após saber que a 
ordem de pagamento à vista foi devolvida pelo banco, A procura a 
empresa com valor em dinheiro correspondente ao cheque e 
concretiza o pagamento. 
 
Jurisprudência 
 
Arrependimento Posterior – Amenização da Pena. “O arrependimento 
posterior (CP, art. 16) introduzido pela Reforma Penal, de 1984, é 
causa especial de diminuição de pena. Não exclui a criminalidade. 
Ameniza, em homenagem à conduta do réu, o rigor penal.”37 
 
Arrependimento Posterior – Lesão Corporal – Ressarcimento de Danos 
Materiais. “Faz jus à diminuição de pena prevista pelo art. 16 do CP o 
agente que antes do recebimento da denúncia ressarciu os danos 
materiais causados pelo crime mas não reparou os danos físicos porque 
a vítima a estes renunciou alegando, no contraditório, a inexistência 
de quaisquer despesas relacionadas às lesões a ela culposamente 
causadas.”38 
 
Arrependimento Posterior – Reparação de Danos – Extensão aos Co-
autores. “A reparação do dano é um dado do mundo da realidade, 
portanto circunstância objetiva, que não se restringe à esfera pessoal 
de quem a realiza, tanto que extingue a obrigação erga omnes. Estende-
se, portanto, aos co-autores e partícipes, condenados pelo mesmo 
fato.”39 
 
Arrependimento Posterior – Cheque Sem Fundos – Ressarcimento – 
Súmulas 246 e 554 do STF. “Validade dos verbetes sumulados e sua 
compatibilização com o art. 16 da nova Parte Geral do Código Penal. 
Havendo fraude na emissão do cheque sem fundos, o pagamento deste 
caracteriza o arrependimento posterior (art. 16 do CP). Não havendo 
fraude — situação que muitas vezes se revela pelo pagamento antes da 
denúncia — não há crime a punir.”40 
 
Arrependimento Posterior Alegado – Não Comprovação. “Se não se acha 
demonstrado, nos autos, o alegado ressarcimento do prejuízo causado à 
Fazenda Pública, não há falar-se em redução de pena por efeito de 
arrependimento posterior.”41 
 
Arrependimento posterior – Peculato. “Restituição do valor apropriado 
aos cofres públicos, ainda que com alguma pressão procedimental, antes 
37 STJ, 6ª T, publ. em 29/mar/93 – RHC 2.020-2 – SP – Rel. Min. Vicente 
Cernicchiaro — Síntese 500067. 
38 TACrim/SP, 9ª C, v. u. em 18/jul/90 – ApCrim 593.875-2 – Rel. Juiz Haroldo 
Luz — RT 664/285. 
39 STJ, 5ª T, publ. em 6/fev/95 – RHC 4.147-1 – SP – Rel.: Min. Assis Toledo — 
Síntese 500068. 
40 STJ, 5ª T, publ. em 11/dez/89 – RHC 381 – DF – Rel. Min. Assis Toledo — 
Síntese 500071. 
41 STF, Pleno, julg. em 28/jun/91 – HC 68.742-3 – DF – Rel. Min. Ilmar Galvão 
– RT 698/448. 
do recebimento da denúncia. Circunstância que, aliada à primariedade 
do agente, possibilita a diminuição da reprimenda no grau máximo. 
Inteligência e aplicação do art. 16 do CP.”42 
 
Arrependimento Posterior – Reparação de Danos Por Familiares. 
“Sutilezas de detalhes como a presença do réu no momento do pagamento, 
ou a providência por terceiro, em seu nome, no caso, seu irmão, não 
podem militar em desfavor da aplicação da redução da pena reclamada.”43 
 
Crime impossível 
Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia do meio 
ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-
se o crime. 
 
Notícia — A rubrica de crime impossível já constava da anterior 
Parte Geral do Diploma Penal, como artigo 14. A Lei nº 7.209/84 
numerou-o como 17 e manteve intacta a sua redação, excluído 
apenas a remissão ali constante, referente à aplicação da medida 
de segurança (hoje, artigo 96). 
 
Tema — Duas hipóteses distintas de crime impossível se nos 
apresentam no preceito comentado. A primeira quando se procura 
praticar um delito utilizando-se de meio totalmente ineficaz. É 
o caso de tentar matar alguém com disparo de arma de fogo e 
usando como recurso um revólver desmuniciado. Ou, procurarcomprar algo utilizando-se de moeda visível e grosseiramente 
falsificada e elaborada inclusive em papel comum. Ou, ainda, 
exemplo clássico, envenenar alguém utilizando-se de substância 
inócua. A segunda, refere-se ao objeto material do delito ser 
absolutamente impróprio para a caracterização da figura 
criminal. Seria, verbi gratia, o caso de transportar ou vender 
leite em pó imaginando tratar-se de cocaína. Ou, o agente tentar 
furtar um veículo de sua propriedade. Ou, mais uma referência 
clássica, esfaquear um cadáver pretendendo assassinar alguém. 
É de lembrar-se, neste ponto, que se enquadra na categoria de 
crime impossível, salvo melhor juízo, o chamado flagrante 
preparado, porquanto os meios utilizados serão sempre 
necessariamente ineficazes. 
Alfim, é de gizar-se que a presente rubrica não se confunde com 
o crime putativo, isto é, o crime imaginário. Neste caso, o 
agente acredita praticar um delito que, em verdade, não se 
encontra descrito em lei. Temos, nesta última hipótese, um fato 
atípico simplesmente. 
 
Exemplos: 
a) Crime imaginário, sedução — A, sendo virgem e contando com 20 
anos de idade, é persuadida por B a manter relações sexuais com 
o mesmo. B acredita ter praticado sedução, crime inclusive não 
mais existente em nossa legislação. 
b) Crime imaginário, furto — A subtrai, sem qualquer violência, 
um relógio do seu pai e posteriormente o vende para conseguir 
dinheiro, acreditando ter comedido um furto. 
42 TJSP, 2ª CCrim, julg. em 3/set/90 – ApCrim 82.134-3 – Rel. Des. Ângelo 
Gallucci — RT 671/302. 
43 TACrim/SP, 4ª C, julg. em 6/ago/91 – EmbInf 605.483-3 – Rel. Juiz Walter 
Theodósio — RT 685/325. 
 
Jurisprudência 
 
Crime Impossível – Ineficácia Absoluta do Meio. “Não se caracteriza 
tentativa de furto, por ineficácia absoluta do meio, se o agente que 
pretendia adentrar em estabelecimento comercial pelo telhado, não 
dispunha das ferramentas necessárias para perfurar a laje 
respectiva.”44 
 
Crime Impossível – Ineficácia do Meio Utilizado. “Pratica crime 
impossível o agente que não ignora a absoluta ineficácia do meio 
utilizado, ante o rígido controle exercido sobre os marcadores 
acumulativos, destinados ao registro da retirada dos combustíveis e da 
entrada de dinheiro. Com a adoção integral da teoria objetiva pela 
Lei nº 7.209/84, o autor do crime impossível fica isento de pena e de 
qualquer medida de segurança, uma vez abolida a figura do ‘quase-
crime’.”45 
 
Crime Impossível – Ineficácia Absoluta do Meio Empregado. “Se desde o 
início a vítima percebeu a fraude, inidôneo, portanto, o meio 
iludente, empregado, não há tentativa de estelionato punível, mas 
crime impossível.”46 
 
Crime Impossível – Homicídio – Ineficácia Absoluta do Meio Utilizado. 
“Estando o revólver empunhado pelo réu desmuniciado, com todas as 
balas já deflagradas, absolutamente ineficaz o seu uso para a prática 
do homicídio. Tem-se, na espécie, pois, autêntica tentativa 
impossível.”47 
 
Crime Impossível – Flagrante Preparado. “Ré que é induzida a contratar 
falso pistoleiro. Prisão em flagrante quando do pagamento de parte do 
dinheiro exigido pelo agente provocador. Atos meramente 
preparatórios. Hipótese de crime impossível. Trancamento da ação 
penal por falta de justa causa. HC concedido. Inteligência dos arts. 
14, II, e 17 do CP.”48 
 
Crime Impossível – Flagrante Preparado – Tráfico de Tóxico. “Entende-
se por agente provocador aquele que, por iniciativa própria ou por 
iniciativa da autoridade policial, induz outrem à prática de infração 
penal com o fito de vê-lo devidamente sancionado ou, como define 
Cavaleiro de Ferreira, é aquele que pretende ou instiga o executor a 
cometer uma tentativa de crime, com o fim de evitar a consumação ou 
obter prova de um crime ideado ou em vias de realização pelo executor. 
Trata-se, no caso, do chamado crime de experiência ou de ensaio. Tem-
se entendido, tanto do ponto de vista doutrinário, como do prisma 
jurisprudencial, que se cuida, na espécie, de crime putativo, porque 
embora a inidoneidade não exista no meio ou no objeto, existe no 
conjunto de circunstâncias, adrede preparadas, que eliminam a 
possibilidade de constituir-se em crime. Há apenas um simulacro de 
ação que concretiza o tipo. Somente na aparência é que ocorre um crime 
exteriormente perfeito. Na realidade o seu autor é apenas um 
protagonista inconsciente de uma comédia. O elemento subjetivo do 
crime existe, é certo, em toda a sua plenitude; mas, sob o aspecto 
44 TACrim/SP, 8ª C, v. u. em 20/ago/92 - ApCrim 668.893-7 – Rel. Juiz Silva 
Pinto — RT 692/286. 
45 TJDF, 2ª T, publ. em 13/mai/92 – ApCrim 11.922 – DF – Rel. Des. Lécio 
Resende — Síntese 500076. 
46 TAPR, Rel. Juiz Idevan Lopes — RT 669/356. 
47 TJSP – Rel. Des. Camargo Sampaio — RT 514/336. 
48 TJSP, 3ª CCrim, julg. em 4/out/93 – HC 153.111-3/0 – Rel. Des. Gonçalves 
Nogueira — RJ 206/123. 
objetivo, não há violação da lei penal, senão uma insciente cooperação 
para a ardilosa averiguação da autoria de crimes anteriores, ou uma 
simulação, embora ignorada do agente, da exterioridade do crime.”49 
 
Crime Impossível – Furto – Cheque Sem Preenchimento. “Não configura 
crime de furto a subtração de cheque em branco, em razão da ausência 
de seu valor econômico, incapaz de representar, por si só, perigo ao 
bem jurídico tutelado, não havendo tampouco de se cogitar de 
tentativa, por enquadrar-se tal ato na figura jurídica do crime 
impossível (art. 17 do CP).”50 
 
Crime Impossível – Apropriação Indébita – Impropriedade do Objeto. 
“Sendo o crédito do réu maior que o débito, existe até mesmo absoluta 
impropriedade do objeto material do crime de apropriação indébita, de 
sorte que impossibilitada a consumação. Em casos tais, o que se 
vislumbra é o crime imaginário ou impossível, não punido pela 
sistemática penal em vigor.”51 
 
Crime Impossível – Impropriedade do Objeto. “Ocorre crime falho ou 
impossível se, não obstante realizados os atos de execução do roubo, 
este, porém, não se consuma, por não trazer a vítima qualquer valor 
consigo. Trata-se, pois, de inidoneidade absoluta do objeto.”52 
 
Crime Impossível – Impropriedade Relativa – Crime Tentado. “Em tema de 
roubo não há que se falar em crime impossível, mas, sim, em delito 
tentado, na conduta do agente que, praticando atos idôneos de começo 
de execução, vê frustrados seus objetivos pelo fato de encontrar-se a 
vítima desprovida de qualquer bem. Em tal caso, é relativa, e não 
absoluta, a impropriedade do objeto.”53 
 
Crime Impossível – Furto Tentado – Bagatela. “Tentativa de subtração 
de lata de leite condensado e de lanterna em supermercado. Fato 
penalmente irrelevante pela insignificância do valor da res furtiva 
insuscetível de lesionar o interesse protegido, aliado à ausência de 
perigosidade social da conduta incriminada, não justifica o 
reconhecimento do crime nem a imposição de pena. Inidoneidade absoluta 
do meio empregado. iter criminis executado sob a observação atenta da 
segurança da empresa que somente atua quando possibilitada a 
configuração do ilícito tentado. Denúncia rejeitada.”54 
 
Crime Impossível x Furto Tentado. “Respondem por furto tentado as 
agentes que, após ocultarem sob as vestes mercadorias expostas à venda 
em supermercado, saíram do estabelecimento sem nada pagar, mas 
acabaram detidas por funcionário de segurança que presenciou a 
subtração e as seguiu até o estacionamento da loja. A hipótese não 
caracteriza crime impossível, porque essa conduta, valorada de acordo 
com o plano concreto do fato, no momento do começo da execução, 
colocou em perigo o patrimônio da vítima,pois, além de suficiente ao 
apoderamento da coisa alheia, mostrou-se apta ao desapossamento, 
49 TJSC, 2ª CCrim, v. u. publ. em 9/jun/95 – HC 12138 – Rel. Des. Álvaro 
Wandelli — COAD 71686. 
50 TAMG, 1ª CCrim, julg. em 26/nov/91 – ApCrim 118.579-7 – Rel. Juiz Caio de 
Castro — RT 693/390. 
51 TACrim/SP – Rel. Juiz Silva Pinto — RT 631/315. 
52 TACrim/SP – Rel. Juiz Ercílio Sampaio — RT 517/363. 
53 TACrim/SP – Rel. Juiz Manoel Carlos — RT 595/378. 
54 TARS, 1ª CCrim, julg. em 14/ago/91 – RSE 291.063.840 – Rel. Juiz Léo Afonso 
Enloft Pereira — Síntese 500080. 
afinal não consumado por contingências alheias à vontade das 
autoras.”55 
 
Art. 18. Diz-se o crime: 
Crime doloso 
I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco 
de produzi-lo; 
Crime culposo 
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por 
imprudência, negligência ou imperícia. 
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode 
ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica 
dolosamente. 
 
Notícia — O artigo 15, do Decreto-Lei nº 2.848/40, foi 
renumerado como 18 na nova Parte Geral do Código Penal, ex vi da 
Lei nº 7.209/84, não se produzindo alteração no texto, apesar de 
ser dividida a rubrica. 
 
Tema — Já conceituamos crime como o comportamento humano 
descrito em lei (tipicidade), praticado comissiva ou 
omissivamente, que contraria interesse do Estado 
(antijuridicidade), realizado de forma livre e consciente por 
alguém culpável (culpabilidade). 
Temos, portanto, que a tipicidade, a antijuridicidade e a 
culpabilidade são elementos constitutivos essenciais da conduta 
humana tida como delituosa. Vale dizer: uma conduta pode ser 
prevista em lei (típica) e contrária ao Direito (antijurídica), 
porém não sendo culpável não constitui crime, como no caso 
daquela cometida por inimputável; a ação poderá ser cometida de 
forma livre e consciente (culpável) e encontrar-se prevista em 
lei (típica), mas se não for oposta ao interesse do Estado 
(antijurídica) não será delituosa, a exemplo do homicídio 
praticado em legítima defesa; o comportamento poderá apresentar-
se como livre e consciente (culpável) e contrariar de alguma 
forma o interesse do Estado, contudo se não estiver descrita em 
lei criminal (tipicidade) também não constituirá ilícito penal. 
Em resumo, somente estaremos diante dum crime quando, numa 
relação lógica necessária, a conduta for típica, antijurídica e 
culpável e é nessa ordem que deve ser analisada. Inicialmente 
constatar-se a tipicidade da ação; e, em existindo, procura-se 
verificar a antijuridicidade; ocorrendo os dois primeiros 
pressupostos, e somente aí, procura-se verificar a 
culpabilidade. Esta, por via de conseqüência, é o terceiro e 
último elemento constitutivo e caracterizador do fenômeno 
criminoso. A culpabilidade resume-se na potencial consciência da 
ilicitude em relação à conduta, na liberdade da sua prática e na 
exigibilidade de conduta diversa (culpa), apresentando-se, 
portanto, como o nexo psicológico interligando o sujeito ativo 
do delito e o evento danoso. Tal culpabilidade poderá 
apresentar-se na forma de dolo ou de culpa stricto sensu. 
Reforçando, sem dolo e sem culpa não existe crime. 
O nosso Código Penal, com a reforma introduzida pela Lei nº 
7.209, de 11 de julho de 1984, não alterou seu posicionamento 
55 TACrim/SP, 2ª C, v. u. em 23/ago/90 – ApCrim 615.609-5 – Rel. Juiz Haroldo 
Luz — RT 664/292. 
acerca da matéria agora tratada. Três teorias (a da vontade, a 
da representação e a do consentimento) procuram explicar o que 
seja dolo. Tais hipóteses representam uma evolução no pensamento 
da Ciência Criminal. Segundo a teoria da vontade, o dolo implica 
em comportamento conscientemente dirigido para a prática de ato 
que se sabe ser contrário à lei. Já a teoria da representação 
entende o dolo como a previsibilidade do resultado, 
independentemente da vontade de produzi-lo. Por sua vez, a 
teoria do consentimento (ou do assentimento) diz ser dolosa a 
conduta do agente que, apesar de não desejar o resultado, prevê 
a sua possibilidade e dá o seu assentimento à ocorrência 
eventual. 
Como se vê, a teor do inciso I, do artigo ora gizado, adota-se, 
entre nós, tanto a teoria da vontade quanto a teoria do 
assentimento, fazendo-se referência às duas formas de dolo: 1) o 
direto, aquele em que o agente deseja um determinado resultado 
bastante preciso; e 2) o indireto, onde o agente não determinou 
de forma precisa seu objetivo. O dolo indireto, por seu turno, 
poderá ser: a) eventual, quando o sujeito não o quer, porém 
conscientemente assume o risco de produzir um resultado 
criminalmente reprovável; e b) alternativo, em que a vontade do 
agente é dirigida para dois ou mais resultados, 
indiferentemente. 
No que respeita à culpa, tratada no item II, do presente 
mandamento, fica clara a adoção do critério da previsibilidade 
como limite de distinção entre a culpa e o caso fortuito, como 
ensina Nelson Hungria.56 Identificam-se, assim, três modalidades 
de culpa: a) imprudência, ao praticar-se ato sabidamente 
perigoso, agindo-se com desleixo comissivo, num ato de afoiteza 
(culpa in comittendo); b) negligência, pela qual se deixa de 
observar cuidados necessários de precaução, cuidando-se de ação 
omissiva (culpa in omittendo); e c) imperícia, que se 
caracteriza por falta de capacidade técnica, teórica ou prática, 
para a realização dum determinado ato. Neste último caso, 
concordando com Celso Delmanto, entendemos somente ser aplicável 
às pessoas no exercício de arte, ofício ou profissão.
57
 
O parágrafo único deste artigo 18 estabelece que somente se pune 
alguém por fato previsto como crime se a pratica resultar de 
dolo. Em se tratando de conduta culposa a reprimenda somente 
pode ser imposta se expressamente assim o dispuser a lei. Tal 
mandamento coaduna-se perfeitamente com o princípio da reserva 
legal, expresso no artigo 1º, do Código Penal, e no inciso 
XXXIX, do artigo 5º, da Constituição Federal de 5 de outubro de 
1988. 
 
Exemplos: 
a) Crime doloso, homicídio — A discute com B em público e por 
questão de pouca monta. B, sentindo-se ofendido, procura A, no 
dia seguinte, em sua residência, e sem qualquer aviso, desfere-
lhe 6 tiros de revólver, em conseqüência dos quais A vem a 
falecer. 
56 Nelson Hungria, Comentários ao Código Penal, Rio de Janeiro, Forense, 1958, 
4ª ed., Vol. I, Tomo II, p. 184. 
57 Celso Delmanto, Código Penal Comentado, Rio de Janeiro, Renovar, 3ª ed. 
(atualizada e ampliada por Roberto Delmanto), 1991, p. 31. 
b) Crime culposo, imprudência — A, tem sérios problemas de visão 
que o obrigam a usar óculos corretivos. Durante uma viagem em 
seu automóvel tem as lentes dos óculos quebradas e, em 
decorrência, não mais consegue enxergar com precisão. Apesar 
deste fato, ele resolve continuar dirigindo o veículo e finda 
por chocar-se com a traseira de outro veículo, provocando lesões 
corporais em passageiro. 
c) Crime culposo, negligência — A, fazendeiro, manipula 
constantemente substâncias agrotóxicas. O depósito em que as 
armazena é de fácil acesso a qualquer pessoa, inclusive 
crianças. B e C, filhos menores de um dos empregados da fazenda, 
resolvem brincar com as substâncias tóxicas e findam por 
intoxicarem-se gravemente. 
d) Crime culposo, imperícia — A, motorista amador, resolve 
dirigir um caminhão-carreta de sua propriedade, totalmente 
carregado, em auto-estrada movimentada. Em conseqüência, provoca 
acidente danificando um outro veículo e causando lesões em 
terceiros. 
e) Crime culposo, imperícia — A, médico veterinário, resolve 
ministrarmedicamentos a B, visando curar-lhe uma determinada 
enfermidade. B vem a sofrer graves lesões com a ingestão dos 
remédios prescritos. 
f) Crime culposo, culpa consciente — A, exímio atirador, pede a 
B que segure um cigarro entre os dedos para que o possa cortar 
ao meio com um tiro de revólver. A tem consciência de que pode 
ocorrer uma lesão em B, caso haja um erro de pontaria, mas 
confia inteiramente na sua habilidade. Apesar disto, termina por 
atingir B, causando-lhe lesão corporal. 
g) Dolo eventual — A, piloto profissional, resolve testar a 
velocidade máxima de um veículo de passeio em uma estrada 
vicinal. Ele tem consciência de que um pedestre ou animal pode 
cruzar aquela via, ocasionando um acidente. Apesar disto ele 
concretiza seu intento, não se preocupando com qualquer 
resultado danoso que possa acontecer. Como decorrência, finda 
por atropelar uma criança. 
 
Jurisprudência 
 
Culpabilidade – Inexigibilidade de Conduta Diversa. “Culpabilidade e 
responsabilidade são conceitos que não se confundem, conforme vimos. 
Exprime, contudo, aspectos distintos da mesma realidade, já que 
culpabilidade implica (acarreta) sempre responsabilidade. Quem é 
culpado é responsável e quem é responsável pode ser chamado a prestar 
contas pelo fato a que deu causa. Como, entretanto, em Direito Penal a 
responsabilidade é pessoal e intransferível (ninguém pode ser punido 
por um comportamento que não seja seu), torna-se indispensável, antes 
da aplicação da pena, fixar-se, de uma vez por todas, a quem pertence 
verdadeiramente a ação que se quer punir. E isso precisa ser feito não 
com um significado puramente processual (que também é importante, na 
determinação da autoria), mas em sentido penalístico, mais profundo, 
ou seja: há que se estabelecer se a ação que se quer punir pode ser 
atribuída à pessoa do acusado, como algo realmente seu, ou seja, 
derivado diretamente de uma ação (ou omissão) que poderia ter sido por 
ele de algum modo evitada. Essa possibilidade de evitar, no momento da 
ação ou da omissão, a conduta reputada criminosa é decisiva para a 
fixação da responsabilidade penal, pois, inexistindo tal 
possibilidade, será forçosa a conclusão de que o agente não agiu por 
conta própria, mas teve seus músculos acionados, ou paralisados, por 
forças não submetidas ao domínio de sua inteligência e/ou vontade. Há, 
pois, que se distinguir a mera causa física do comportamento humano 
‘responsável’. Em outras palavras: o que é impossível de ser evitado 
só pode ser reconduzido ao mundo físico, puramente causal, não à 
pessoa humana, entendida esta como sujeito responsável, isto é, 
dotado, no mundo das relações inter-humanas, da faculdade de dizer 
‘sim’ ou ‘não’, dentro de determinadas circunstâncias e, é claro, de 
certos limites. Ora, essa fixação de responsabilidade pessoal pelo 
fato-crime, que antecede a aplicação da pena criminal e que não se 
confunde com o anterior — é também necessário — ‘acertamento’ da 
autoria, é feita no âmbito do juízo de culpabilidade, mediante a 
constatação de que o agente, no momento da ação ou da omissão, embora 
dotado de capacidade, comportou-se como se comportou, realizando um 
fato típico penal, quando dele seria exigível, nas circunstâncias, 
conduta diversa. A contrario sensu, chega-se à conclusão de que não 
age culpavelmente — nem deve ser, portanto, penalmente 
responsabilizado pelo fato — aquele que, no momento da ação ou da 
omissão, não poderia, nas circunstâncias, ter agido de outro modo, 
porque, dentro do que nos é comumente revelado pela humana 
experiência, não lhe era exigível comportamento diverso. A 
inexigibilidade de outra conduta é, pois, a primeira e mais importante 
causa de exclusão da culpabilidade. E constitui um verdadeiro 
princípio de Direito Penal. Quando aflora em preceitos legislados, é 
uma causa legal da exclusão. Se não, deve ser reputada causa 
supralegal, erigindo-se em princípio fundamental que está intimamente 
ligado com o problema da responsabilidade pessoal e que, portanto, 
dispensa a existência de normas expressas a respeito.”58 
 
Culpabilidade – Inexigibilidade de Conduta Diversa – Norma Jurídica e 
Realidade Histórica. “Se o Direito reflete a vida, obviamente, na 
interpretação da norma penal, o aplicador há de recorrer também a 
elementos de ordem histórica, de sorte que não poderá ignorar a 
situação em que se encontrava a sociedade no momento em que, 
aparentemente, alguém veio a transgredi-la. Há de meditar sobre o 
‘porquê’ dessa transgressão; há de apurar, acuradamente, a finalidade 
com que o agente praticou o fato, para averiguar se era razoável 
exigir-lhe conduta diversa; há, enfim, de sopesar as imposições e 
pressões criadas por uma terrível crise econômica, geradora de certas 
distorções e anormalidades incontornáveis. Relevante insistir que o 
conceito de certos valores pode ser diferentemente sopesado de acordo 
com as épocas ou os locais em que são invocados. Com os pés no chão, 
sentido as generalizadas dificuldades de um nefasto momento histórico, 
deve o juiz aplicar o Direito sem ignorar a palpitante realidade do 
momento em que o fato foi cometido. Por sinal, Guiseppe Berttiol 
preleciona que ‘cabe ao juiz, que exprime o juízo de reprovação, 
avaliar a gravidade e a seriedade da situação histórica na qual o 
sujeito age, dentro do espírito do sistema penal, globalmente 
considerado: sistema que jamais pretende prescindir de um vínculo com 
a realidade histórica na qual o indivíduo age e de cuja influência 
sobre a exigibilidade da ação conforme ao Direito o único juiz deve 
ser o magistrado (Diritto Penale, 7ª ed., pp. 466 e 467).”59 
 
Culpabilidade – Inexigibilidade de Conduta Diversa – Causa Supralegal 
– Inadmissibilidade. “O entendimento de que a inexigibilidade de 
conduta diversa deve ser aceita como causa supralegal de exculpação, 
com o suprimento de suposta lacuna no ordenamento jurídico positivo 
58 STJ, 5ª T, v. u. em 23/mai/90 – REsp 2.492 – RS – Rel. Min. Assis Toledo — 
RT 660/358. 
59 TACrim/SP, 8ª C, v. u. em 20/abr/89 – ApCrim 535.181-9 – Rel. Silva Pinto — 
RT 642/318. 
pela analogia in bonam partem, nunca foi dominante entre nós e não 
merece consagrado, agora, após reforma legislativa que ensejou a 
modernização do sistema penal em matéria de dirimentes e no momento em 
que essa proposta de extensão analógica vem sendo francamente 
repudiada pela doutrina dos povos cultos. Nelson Hungria — maestro di 
color che sanno — já se insurgia contra a pretendida extensão à luz 
do Código Penal de 1940, lembrando que os preceitos relativos à 
exclusão da culpabilidade ‘são de caráter excepcional e as exceções às 
regras da lei são rigorosamente limitadas aos casos a que se referem. 
Exceptiones sunt strictissimi juris. Os preceitos sobre causas 
descriminantes, excludentes ou atenuantes de culpabilidade, constituem 
jus singulare em relação aos preceitos incriminadores ou sancionadores 
e, assim, não admitem extensão além dos casos taxativamente 
enumerados’ (Comentários ao Código Penal, vol. 1º, t. 1/85 e 86, 2ª 
ed., Forense, 1953 — destaques do original). Que a inexigibilidade de 
conduta diversa não deveria ir além, como dirimente, de hipóteses 
expressamente previstas reafirmou-o o insigne penalista ao prever, no 
Código Penal de 1969, a par da coação moral irresistível e da 
obediência hierárquica (art. 24, ‘a’ e ‘b’), o estado de necessidade 
exculpante, filiando o malogrado diploma à teoria diferenciadora do 
estado de necessidade: ‘Art. 25. Não é igualmente culpado quem, para 
proteger direito próprio ou de pessoa a quem está ligado por estreitas 
relações de parentesco ou afeição, contra perigo certo

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