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Microscopia da Medula Espinhal

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Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2
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MED RESUMOS 2012
NETTO, Arlindo Ugulino.
NEUROANATOMIA
ESTRUTURA DA MEDULA ESPINHAL - MICROSCOPIA
(Professor Stênio A. Sarmento)
O estudo da estrutura microsc€pica do sistema nervoso central  uma das 
partes mais importantes da neuroanatomia, uma vez que, no sistema nervoso, 
estrutura e fun‚ƒo estƒo intimamente ligadas. Por outro lado, o conhecimento da 
microscopia do SNC  fundamental para a compreensƒo dos diversos quadros cl„nicos 
que resultam das les…es e processos patol€gicos que podemacomet†-lo. 
Antes de iniciarmos o estudo mais detalhado da medula espinhal, deverƒo ser 
conceituados alguns termos que serƒo largamente utilizados nos cap„tulos que se 
relacionam com as estruturas microsc€picas do SN.
 Substância cinzenta: refere-se ao tecido nervoso que contm fibras do tipo 
amiel„nicas, corpos de neur‡nios, etc. Tem, na medula espinhal, o formato da 
letra H (o chamado “H medular”). Sua localiza‚ƒo  mais interna em rela‚ƒo a 
substŠncia branca. Na pr‹tica, seria definida como o acŒmulo de corpos de 
neur‡nios.
 Substância branca: tecido nervoso formado por neuroglia e fibras predominantemente miel„nicas.
 Núcleo: massa de substŠncia cinzenta imersa em substŠncia branca, ou grupo delimitado de neur‡nios com 
aproximadamente a mesma estrutura e mesma fun‚ƒo. Geralmente, formam ou recebem fibras de nervos cranianos.
 Córtex: Pode ser do tipo cerebelar e cerebral.  uma fina pel„cula de substŠncia cinzenta que recobre tais estruturas.
 Tracto: Seria um agrupamento de fibras nervosas, que tem a mesma origem, mesmo destino e mesma fun‚ƒo. Na 
denomina‚ƒo de um tracto, usam-se dois termos ligados por h„fen: o primeiro indicando a origem e o segundo a termina‚ƒo 
das fibras.
 Fascículo: seria uma forma‚ƒo an‹loga aos tractos, mas com formato mais compacto ou robusto.
 Lemnisco: sƒo tractos de natureza geralmente sensitiva, mas que apresentam forma de fita. Os principais lemniscos estƒo 
localizados no tronco encef‹lico, e sƒo eles: lemnisco lateral (relacionado com a via auditiva), lemnisco trigeminal, lemnisco
espinhal (formado pelos tractos espino-talŠmico lateral e anterior: dor, temperatura, tato e pressƒo) e lemnisco medial
(continua‚ƒo das fibras arqueadas internas, que sƒo oriundas dos nŒcleos gr‹cil e cuneiforme: propriocep‚ƒo consciente, 
tato epicr„tico, sensibilidade vibrat€ria).
 Funículo:  a regiƒo da substŠncia branca da medula onde se encontram os tractos, fasc„culos, etc.
 Decussação: forma‚ƒo anat‡mica constitu„da por fibras nervosas que cruzam obliquamente o plano mediano e que t†m 
aproximadamente a mesma dire‚ƒo.
 Comissura: regiƒo anat‡mica onde fibras cruzam de um lado para o outro paralelamente.
 Fibras de associação: sƒo fibras que associam pontos mais ou menos distintos de uma determinada ‹rea ou €rgƒo, sem, 
entretanto, abandon‹-lo.
 Fibras de projeção: sƒo fibras que saem dos limites da ‹rea ou do €rgƒo de onde surgem.
ASPECTOS DA ORGANIZA‚O MACROSCƒPICA E MICROSCƒPICA DA MEDULA
Como j‹ foi visto anteriormente, na superf„cie da medula existem os sulcos lateral 
anterior, lateral posterior, intermdio posterior (na regiƒo cervical), sulco mediano posterior e 
a fissura mediana anterior. A substŠncia cinzenta  circundada pela branca, constituindo, de 
cada lado, os fun„culos anterior, lateral e posterior, este ultimo compreende os fasc„culos 
gr‹cil e cuneiforme. Entre a fissura mediana anterior e a substŠncia cinzenta, localiza-se a 
comissura branca (local de cruzamento de fibras principalmente sensitivas). Na substŠncia 
cinzenta, notam-se colunas (cornos) anterior, lateral e posterior.
Vale lembrar tambm que a quantidade de substŠncia branca em rela‚ƒo Ž cinzenta 
 tanto maior quanto mais alto o n„vel considerado. Ao n„vel dos intumescimentos lombares e 
cervicais, a coluna anterior  mais dilatada; a coluna lateral s€ existe de T1 a L2 (por estar 
relacionada a inerva‚ƒo visceral).
SUBST„NCIA CINZENTA DA MEDULA
A substŠncia cinzenta, como foi dito, tem forma de borboleta ou de um H. Essa 
regiƒo cinzenta da medula pode ser dividida, considerando duas linhas que tangenciam os 
contornos anterior e posterior do ramo horizontal do “H”, o que divide a substŠncia cinzenta 
em coluna (corno) anterior, coluna posterior e substância cinzenta intermédia. Por sua 
vez, a substŠncia cinzenta intermdia pode ser dividida em: substância cinzenta intermédia
central e substância cinzenta intermédia lateral por duas linhas Šntero-posteriores. 
De acordo com esse critrio, a coluna lateral faz parte da substŠncia cinzenta 
intermdia lateral. Na coluna posterior observa-se de diante para tr‹s uma base, um pesco‚o 
e um ‹pice (este Œltimo compreende uma ‹rea de tecido nervoso translŒcido, rico em clulas 
neurogliais e pequenos neur‡nios, a substância gelatinosa ou portão da dor).
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CLASSIFICAÇÃO DOS NEURÔNIOS MEDULARES
Os elementos mais importantes da substância cinzenta da medula são seus neurônios. Esses neurônios podem ser 
classificados da seguinte maneira:
1. Neurônios de axônio longo (tipo I de Golgi)
 Neurônios Radiculares: apresentam axônio muito longo e saem da medula para constituir a raiz ventral.
o Neurônios radiculares viscerais: são neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso autônomo, cujos corpos 
localizam-se na substância cinzenta intermédia lateral (na coluna lateral, ao nível de T1 a L2). Destinam-se a 
inervação de músculos lisos, cardíaco ou glândulas.
o Neurônios radiculares somáticos (neurônios motores primários/neurônios motores inferiores): destinam-
se a inervação de músculos estriados esqueléticos e tem seu corpo localizado na coluna anterior. Costuma-se 
distinguir na medula dos mamíferos dois tipos de neurônios radiculares somáticos: alfa e gama. Os neurônios 
alfa (fibras extrafusais, ou seja, localizam-se fora dos fusos neuromusculares) são muito grandes e seu axônio, 
bastante grosso, destina-se a inervação de fibras musculares que contribuem efetivamente para a contração 
muscular. Cada neurônio alfa, juntamente com as fibras musculares que ele inerva, constitui uma unidade 
motora. Já os neurônios gama são menores e possuem axônios mais finos (fibras eferentes gama), 
responsáveis pela inervação motora das fibras intrafusais. Tem papel fundamental na regulação da 
sensibilidade dos fusos neuromusculares. Para a execução de um movimento voluntário, eles são ativados 
simultaneamente com os motoneurônios alfa (coativação alfa-gama). Isso permite que os fusos 
neuromusculares continuem a enviar informações proprioceptivas ao sistema nervoso central, mesmo durante a 
contração muscular desencadeada pela atividade dos neurônios alfa.
 Neurônios Cordonais: são aqueles cujos axônios ganham a substância branca da medula, onde tomam direção 
ascendente ou descendente, passando a constituir as fibras que formam os funículos da medula.
o Neurônios cordonais de projeção: possuem um axônio ascendente longo que termina fora da medula 
(tálamo, cérebro, etc.), integrando as vias ascendentes da medula.
o Neurônios cordonais de associação: possuem axônio que, ao chegar à substância branca, se bifurca em um 
ramo ascendente e outro descendente, ambos terminando na substância cinzenta da própria medula. Assim, 
constituem um mecanismo de integração de segmentos medulares, situados em níveis diferentes, 
permitindo a realização de reflexos intersegmentares na medula. As fibras nervosas formadas por estes 
neurônios dispõem-se em torno da substância cinzenta, onde formam os chamados fascículos próprios, 
existentes nos três funículos da medula.
2. Neurônios de Axônio Curto (ou Internunciais): em razão de seu pequeno tamanho, o axônio destes neurônios permanece 
sempre na substância cinzenta. Seus prolongamentos ramificam-se próximo ao corpo celular e estabelecemconexão entre 
as fibras aferentes, que penetram pelas raízes dorsais e os neurônios motores, interpondo-se, assim, em vários arcos-
reflexos medulares. Além disso, muitas fibras que chegam à medula trazendo impulsos do encéfalo terminam em neurônios 
internunciais. Um tipo especial de neurônio de axônio curto encontrado na medula, por exemplo, á a célula de Renshaw, 
localizada na porção medial da coluna anterior. Os impulsos nervosos provenientes da célula de Renshaw inibem neurônios 
motores. Adimite-se, pois, que neurônios motores, antes de deixarem a medula, emitam um ramo colateral recorrente que 
volta e termina estabelecendo sinapse com uma célula de Renshaw. Esta, por sua vez, faz sinapse com o próprio neurônio 
motor que emitiu o sinal. Assim, os impulsos nervosos que saem pelos neurônios motores são capazes de inibir o próprio 
neurônio através do ramo recorrente e da célula de Renshaw.
OBS1: As informações que chegam à medula por meio de neurônios aferentes podem ser processadas de duas maneiras: podem 
tomar uma trajetória ascendente e serem processadas no encéfalo ou podem ser, de modo instantâneo, avaliadas na própria medula. 
Esta ultima opção é chamada de reflexo. Os reflexos representam uma vantagem evolutiva muito importante para a manutenção da 
integridade do corpo. Ao se discutir a atividade reflexa do músculo esquelético, é importante se compreender a lei da inervação 
recíproca (de Sherrington), a qual afirma que a musculatura flexora e extensora de um mesmo membro envolvido em um reflexo não 
pode contrair ao mesmo tempo. Para que esta lei funcione, é necessário que as fibras nervosas aferentes responsáveis pela ação 
muscular flexora reflexa, tenham ramos que façam sinapses com neurônios motores extensores do mesmo membro, fazendo com que 
sejam inibidos (e, obviamente, vice-versa). Outra propriedade interessante dos reflexos medulares é o fato de que a evocação de um 
reflexo, em um dos lados do corpo, causa efeito oposto sobre o membro no outro lado do corpo. Esse efeito é dito reflexo de 
extensão cruzada. A partir dessas duas propriedades, temos os seguintes mecanismos reflexos:
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 Arco reflexo cruzado (Reflexo flexor e extensor cruzado): Quando receptores de dor sƒo estimulados (como quando se pisa 
subitamente em um prego ou outra superf„cie cortante), esse est„mulo  transformado em um impulso nervoso que chega Ž 
medula pela raiz aferente (dorsal), at a regiƒo do corno posterior. Isso faz com que esse est„mulo tambm se propague para 
o corno anterior por meio de interneur‡nios (internunciais) que fazem conex…es entre o neur‡nio sensitivo que chega Ž 
coluna posterior e o neur‡nio motor alfa, ou seja, aquele que se origina na coluna anterior e segue destinado Ž inerva‚ƒo das
fibras musculares. Esse est„mulo faz com que mŒsculos da coxa, no caso do exemplo, se contraiam para que a perna seja 
retirada do local. Porm, s€ essa contra‚ƒo nƒo  o suficiente e nunca acontece sozinha: por um ato reflexo, ao retirar o p 
da superf„cie cortante, automaticamente, a perna de apoio contrai seus mŒsculos para nƒo cairmos. Pra isso, h‹ um 
prolongamento do interneur‡nio para o lado contralateral de onde o est„mulo chegou. Esse prolongamento, da mesma forma, 
faz sinapse com um neur‡nio motor alfa para “avisar” Ž musculatura a necessidade de sua contra‚ƒo.
 Arco reflexo simples (Reflexo Patelar): quando se percute o tendƒo da patela, o estiramento de suas fibras gera um 
est„mulo de fibras intra-fusais que converte esta estimula‚ƒo em um impulso nervoso, que viaja at a medula por meio da 
fibra aferente do nervo espinhal, chegando, pois, Ž coluna posterior da medula. Chegando nesse n„vel, essa fibra aferente faz 
sinapse com dois tipos de neur‡nios: (1) os pr€prios neur‡nios motores alfa, que fazem contrair a musculatura extensora da 
perna e (2) neur‡nios inibit€rios (internunciais) de segmentos diferentes da medula (se for o caso), respons‹veis por inibir a 
contra‚ƒo da musculatura antagonista (promovendo o relaxamento dos flexores), para que a extensƒo seja poss„vel. Essas 
interliga‚…es se dƒo por meio dos fasc„culos pr€prios da medula (neur‡nios cordonais de associa‚ƒo). Este tipo de reflexo  
importante para diagnosticar compress…es na medula (como em casos de hrnias de disco) verificando se a simetria do 
reflexo de um lado e de outro  realmente verdadeira. 
N…CLEOS E L„MINAS DA SUBST„NCIA CINZENTA
Os neur‡nios medulares nƒo se distribuem de maneira uniforme na substŠncia cinzenta, mas agrupam-se em nŒcleos ora 
mais, ora menos definidos. Isso mostra que a medula nƒo  inteiramente homog†nea quanto Žs suas fun‚…es.
 Coluna Anterior: A coluna anterior da substŠncia cinzenta divide-se em dois grupos de neur‡nios: grupo medial e grupo 
lateral. A principal diferen‚a entre tais grupos vai alm de suas fun‚…es, mas tambm a sua localiza‚ƒo em n„vel medular: o
grupo medial de neur‡nios se localiza em toda extensƒo da medula, diferentemente do grupo lateral que s€ faz-se presente 
na regiƒo das intumesc†ncias.
o Grupo medial de neurônios: Estƒo em todos os n„veis medulares, e inervam a musculatura axial atravs das fibras 
que emergem a partir das divis…es dorsais dos nervos espinhais.
o Grupo lateral de neurônios: Sƒo as fibras que inervam a musculatura apendicular superior e inferior. Localizam-se
somente nas regi…es das intumesc†ncias lombar e cervical. Ainda no grupo lateral, ocorre uma subdivisƒo, de tal 
modo que os neur‡nios mais mediais inervam a musculatura proximal, enquanto que os mais laterais t†m fun‚ƒo 
inervat€ria para a musculatura distal.
 Coluna Posterior: sƒo mais evidentes dois nŒcleos: o nŒcleo tor‹cico (=nŒcleo dorsal) e a substŠncia gelatinosa
o Substância gelatinosa:  a chamada “portƒo da dor” (pois recebe fibras sensitivas e regula a entrada no sistema nervoso 
de impulsos dolorosos). Nesse local, h‹ libera‚ƒo da substŠncia P, sendo tambm o local onde atua a maioria dos 
analgsicos. Para o funcionamento do portƒo da dor sƒo importantes fibras serotoninrgicas que chegam Ž substŠncia 
gelatinosa vindas do tronco encef‹lico.
o Núcleo torácico: Est‹ anterior a substŠncia gelatinosa, e se relaciona com a propriocep‚ƒo inconsciente, contendo 
neur‡nios que se projetam at o cerebelo (na forma do tracto espino-cerebelar posterior).
SUBST„NCIA BRANCA DA MEDULA
As fibras da substŠncia branca da medula agrupam-se em tractos e fasc„culos que formam verdadeiros caminhos, ou vias, 
por onde passam os impulsos nervosos que sobem e descem. Convm notar, entretanto que, na substŠncia branca, nƒo existem 
septos delimitando os diversos tractos e fasc„culo, e as fibras da periferia de um tracto se disp…em lado a lado com as do tracto 
vizinho. 
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Temos, assim, tractos e fascículos descendentes e ascendentes, que constituem as vias descendentes e vias ascendentes 
da medula. Estas vias são formadas pelos prolongamentos dos neurônios cordonais de projeção. A seguir, serão estudadas as 
principais vias ascendentes e descendentes da medula.
TRACTOS E FASC†CULOS DA MEDULA
VIAS DESCENDENTES DA MEDULA
São formadas por fibras que saem do córtex cerebral ou de algumas regiões do tronco encefálico, e terminam fazendo 
sinapses com neurônios medulares. Podem ser do tipo viscerais/somáticos. Quando terminam em neurônios pré-ganglionares são 
classificadas como viscerais. Quando terminam nos neurônios somáticos, classificam-se como somáticos. Quando terminam nesta 
segunda ordem, podem ser divididos em vias piramidais (recebem este nome pois, antes de penetrar na medula, passam pelas 
pirâmides bulbares) ou extrapiramidais. As vias somáticas serão descritas abaixo:
1. Vias descendentes Piramidais
As vias piramidais na medula compreendem dois 
tractos: córtico-espinhal anterior e córtico-espinhal lateral. 
Tais tractossão classificados como piramidais pela intima 
relação com as pirâmides bulbares. De inicio, sabe-se que 
tracto seria um conjunto de fibras nervosas que possuem a 
mesma origem e a mesma função, consequentemente o mesmo 
destino. Logo, os tractos córtico-espinais, como o próprio nome 
sugere, saem do córtex cerebral e vão em direção à medula 
espinhal. Tais fibras possuem caráter motor, conferindo a 
motricidade voluntaria da musculatura axial e apendicular 
superior e inferior.
As fibras do tracto córtico-espinhal seguem o seguinte 
trajeto até a medula: área 4 de Brodmann (córtex motor do 
telencéfalo), coroa radiada, perna posterior da cápsula interna, 
base do pedúnculo cerebral, base da ponte e pirâmide bulbar. 
No trajeto do córtex ao bulbo as fibras dos tractos córtico-
espinhal lateral e córtico-espinhal anterior constituem um só 
feixe. Ao nível da decussação das pirâmides, uma parte das 
fibras continua ventralmente, constituindo o tracto córtico-
espinhal anterior (10-25% das fibras). Outra parte cruza na 
decussação das pirâmides para constituir o tracto córtico-
espinhal lateral (75-90% das fibras). As fibras do tracto cortico-
espinhal anterior ocupam o funículo anterior da medula, 
enquanto que o córtico-espinhal lateral ocupa o funículo lateral 
da medula. Tradicionalmente, se afirma que o tracto córtico-
espinhal anterior termina ao nível da medula torácica média.
O tracto córtico-espinhal lateral é denominado também de piramidal cruzado e o córtico-espinhal anterior, piramidal direto. 
Entretanto, as fibras do tracto córtico-espinhal anterior, pouco antes de terminar, cruzam o plano mediano e terminam em neurônios 
situados no lado oposto àquele no qual entraram na medula. Portanto, em ultima análise, como os dois tractos cruzam o plano 
mediano, o córtex de um hemisfério cerebral comanda os neurônios motores situados na medula do lado oposto, visando à realização 
de movimentos voluntários.
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É fácil entender, assim, que uma lesão do tracto córtico-espinhal acima da decussação das pirâmides causa paralisia da 
metade oposta (contralateral) do corpo. O tracto córtico-espinhal anterior é muito menor que o lateral, sendo menos importante do 
ponto de vista clínico (pois termina ao nível da medula torácica). Já o tracto córtico-espinhal lateral atinge até a medula sacral e, como 
suas fibras vão pouco a pouco terminando na substância cinzenta, quanto mais baixo, menor o número delas.
2. Vias descendentes Extrapiramidais
São os seguintes os tractos extrapiramidais da medula: tecto-espinhal, vestíbulo-espinhal, rubro-espinhal e retículo-
espinhal. Os nomes referem-se aos locais de onde se originam, e todos seguem até a medula em neurônios internunciais, através 
dos quais eles se ligam aos neurônios motores da coluna anterior e assim exercem sua função motora.
O tracto tecto-espinhal, retículo-espinhal e vestíbulo-espinhal originam-se, respectivamente, no tecto do mesencéfalo 
(colículo superior), na formação reticular (estrutura que ocupa uma grande extensão no tronco encefálico) e na área vestibular do IV 
ventrículo. Eles ligam-se aos neurônios motores situados na parte medial da coluna anterior e, deste modo, controlam a musculatura 
axial, ou seja, do tronco, assim como a musculatura proximal dos membros. Os tractos vestíbulo-espinhal e retículo-espinhal são 
importantes para a manutenção do equilíbrio e da postura básica, sendo que este último controla também a motricidade voluntária da 
musculatura axial e proximal. Já o tecto-espinhal parece ter funções mais limitadas, relacionadas em certos reflexos em que a 
movimentação decorre de estímulos visuais. O tracto rubro-espinhal: origina-se no núcleo rubro do mesencéfalo e termina na 
medula, onde se liga com neurônios motores situados na região lateral da coluna anterior, os quais controlam os músculos 
responsáveis pela motricidade da parte distal dos membros (movimentos finos).
 Tracto tecto-espinhal: origina-se no tecto do mesencéfalo (colículo superior) e termina na medula espinhal em neurônios 
internunciais, através dos quais se ligam aos neurônios motores situados medialmente na coluna anterior, controlando a 
musculatura axial, ou seja, do tronco, assim como a musculatura proximal dos membros.
 Tracto rubro-espinhal: originam-se no núcleo rubro (situado no mesencéfalo) e se dirigem à medula espinhal alcançando 
neurônios internunciais, através dos quais se ligam aos neurônios motores localizados lateralmente na coluna anterior. Estes 
controlam os músculos responsáveis pela motricidade da parte distal dos membros (músculos intrínsecos e extrínsecos da 
mão e do pé).
 Tractos vestíbulo-espinhal medial e lateral: originam-se nos núcleos vestibulares, situados na área vestibular do quarto 
ventrículo, e irão ligar-se aos neurônios motores situados na parte medial da coluna anterior da medula espinhal, controlando 
a musculatura axial, ou seja, o tronco, assim como a musculatura proximal dos membros.
 Tracto retículo-espinhal anterior e lateral: aquele, de origem pontina e situa-se no funículo anterior da medula espinhal; e 
este, de origem bulbar, no funículo lateral. Suas fibras originam-se na formação reticular e terminam nos neurônios motores 
situados na parte medial da coluna anterior da medula espinhal, com funções semelhantes ao tracto vestíbulo-espinhal.
VIAS ASCENDENTES DA MEDULA
As fibras que formam as vias ascendentes da medula relacionam-se direta ou indiretamente com as fibras que penetram pela 
raiz dorsal, trazendo impulsos aferentes de várias partes do corpo. Cada filamento radicular da raiz dorsal, ao ganhar o sulco lateral 
posterior, divide-se em dois grupos de fibras: um grupo lateral e outro medial. 
Antes de penetrar na coluna posterior, cada uma dessas fibras se bifurca, dando um ramo ascendente e outro descendente 
sempre mais curto. Todos esses ramos terminam na coluna posterior da medula, exceto um grande contingente de fibras do grupo 
medial, cujos ramos ascendentes muito longos terminam no bulbo. Estes ramos constituem as fibras dos fascículos grácil e 
cuneiforme, que ocupam os funículos posteriores da medula e terminam fazendo sinapse nos núcleos grácil e cuneiforme, nos 
tubérculos grácil e cuneiforme do bulbo.
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A seguir, estão relacionadas as diversas 
possibilidades de sinapse que podem fazer as fibras e 
os colaterais da raiz dorsal ao penetrar na substância 
cinzenta da medula:
 Sinapse com neurônios motores, na coluna 
anterior: para realizar arcos reflexos 
monossinápticos (como os reflexos de 
estiramento ou miotáticos, que o reflexo 
patelar é exemplo);
 Sinapse com neurônios ineternunciais: para 
realização de arcos-reflexos polissinápticos, 
que envolvem pelo menos um neurônio 
internuncial, cujo axônio se liga ao neurônio 
motor (como o que ocorre no reflexo de flexão 
ou retirada);
 Sinapse com neurônios cordonais de 
associação: para realização de arcos-reflexos 
intersegmentares;
 Sinapse com os neurônios pré-ganglionares
 Sinapse com neurônios cordonais de 
projeção, cujos axônios vão constituir as vias 
ascendentes da medula.
1. Vias Ascendentes do Funículo Posterior
No funículo posterior existem dois fascículos: o fascículo grácil (mais medial, relacionado com a sensibilidade do membro 
inferior) e o fascículo cuneiforme (mais lateral, relacionado com a sensibilidade do membro superior), separados pelo septo 
intermédio posterior. Estes fascículos são formados pelos ramos ascendentes longos das fibras do grupo medial da raiz dorsal, que 
sobem no funículo para terminar no bulbo. Na realidade, estas fibras nada mais são que os prolongamentos centrais de parte dos
neurônios sensitivos situados nos gânglios das raízes dorsais dos nervos espinhais.
O fascículo grácil inicia-se no limite caudalda medula e é formado por fibras que penetram na medula pelas raízes coccígea, 
sacrais, lombares e torácicas baixas, terminando no núcleo grácil, situado no tubérculo do núcleo grácil do bulbo. Conduz, portanto, 
impulsos provenientes dos membros inferiores, da metade inferior do tronco e pode se identificado em toda a extensão da medula.
O fascículo cuneiforme, evidente apenas a partir da medula torácica alta, é formado por fibras que penetram pelas raízes 
cervicais e torácicas superiores, terminando no núcleo cuneiforme, situado no tubérculo do núcleo cuneiforme do bulbo. Conduz, 
portanto, impulsos originados nos membros superiores e na metade superior do tronco.
Quando as fibras das raízes dorsais penetram na medula para constituir esses fascículos, elas ocupam inicialmente a parte 
lateral do funículo posterior; mas, no seu trajeto ascendente, elas são pouco a pouco deslocadas medialmente por fibras que 
penetram por raízes situadas cada vez mais acima. Entende-se, assim, porque as fibras do fascículo cuneiforme, que penetram nos 
segmentos mais altos, ocupam ainda a metade lateral do funículo posterior, enquanto as do fascículo grácil, que penetram na metade 
inferior da medula, ocupam a metade medial desse funículo. As fibras desses fascículos continuam até seus respectivos núcleos 
homônimos no bulbo e, a partir deles, por meio das chamadas fibras arqueadas internas, formam o lemnisco medial, que se 
continua até o tálamo.
O funículo posterior da medula, do ponto de vista funcional, é homogêneo, conduzindo impulsos nervosos relacionados com:
 Propriocepção consciente ou sentido de posição de movimento (cinestesia): permite, sem o auxilio da visão, situar uma parte 
do corpo ou perceber o seu movimento.
 Tato discriminativo (epicrítico): permite localizar e descrever as características táteis de um objeto.
 Sensibilidade vibratória: percepção de estímulos mecânicos repetitivos.
 Estereognosia: capacidade de perceber com as mãos a forma e tamanho de um objeto.
Portanto, lesão ou compressão no funículo posterior trará prejuízos à percepção de todos esses estímulos, quadro conhecido 
como hipoestesia.
2. Vias Ascendentes do Funículo Anterior
No funículo anterior localiza-se o tracto espino-talâmico anterior, formado por axônios de neurônios cordonais de projeção 
situados na coluna posterior. Esses axônios cruzam o plano mediano e fletem-se cranialmente para formar o tracto espino-talâmico 
anterior cujas fibras nervosas terminam no tálamo e levam impulsos de pressão e tato leve (tato protopático). A sensibilidade tátil 
tem, pois, duas vias na medula, uma direta (que segue no funículo posterior) e outra cruzada (no funículo anterior). Por isso, 
dificilmente se perde toda a sensibilidade tátil nas lesões medulares, exceto, é obvio, naquelas em que há transecção total do órgão.
3. Vias Ascendentes do Funículo Lateral
a) Tracto espino-talâmico lateral: neurônios cordonais de projeção situados na coluna posterior emitem axônios que cruzam o 
plano mediano na comissura branca, ganham o funículo lateral da medula donde fletem cranialmente para constituir o tracto 
espino-talâmico lateral, cujas fibras terminam no tálamo e daí, para o córtex. O tracto espino-talâmico lateral (que cresce à 
medida que sobe na medula pela constante adição de novas fibras) conduz impulsos de temperatura e dor (representando 
dores agudas e bem localizadas na superfície corporal). Por isso, em certos casos de dor decorrente principalmente de 
câncer, aconselha-se o tratamento cirúrgico por secção do tracto espino-talâmico lateral, técnica denominada de cordotomia. 
Como a comissura branca é uma região situada entre a substância cinzenta central intermédia e a fissura mediana anterior, 
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em casos de dilata‚ƒo do canal central da medula, esse tracto pode ser comprimido, e o paciente sentir‹ anestesia dos dois 
lados da regiƒo abaixo do segmento acometido pela compressƒo. 
b) Tracto espino-reticular: O tracto espino-talŠmico lateral constitui a principal via atravs da qual os impulsos de temperatura 
e dor chegam ao crebro. Junto dele, seguem tambm as fibras espino-reticulares, que tambm conduzem impulsos 
dolorosos. Essas fibras fazem sinapse na chamada forma‚ƒo reticular do tronco encef‹lico, onde se originam as fibras 
ret„culos-talŠmicas, constituindo-se assim na via espino-ret„culo-talŠmicas. Essa via conduz impulsos relacionados com dor
do tipo crônica e difusa (“dor em queima‚ƒo”).
c) Tracto espino-cerebelar posterior: neur‡nios cordonais de proje‚ƒo situados no nŒcleo tor‹cico da coluna posterior emitem 
ax‡nios que ganham o fun„culo lateral do mesmo lado, fletindo-se cranialmente para formar o tracto espino-cerebelar 
posterior. As fibras deste tracto penetram no cerebelo pelo pedúnculo cerebelar inferior, levando impulsos de 
propriocepção inconsciente originados em fusos neuromusculares e €rgƒos neurotendinosos.
d) Tracto espino-cerebelar anterior: neur‡nios cordonais de proje‚ƒo situados na base da coluna posterior e na substŠncia 
cinzenta intermdia emitem ax‡nios que ganham o fun„culo lateral do mesmo lado ou do lado oposto, fletindo-se 
cranialmente para formar o tracto espino-cerebelar anterior. As fibras deste tracto penetram no cerebelo, principalmente pelo 
pedúnculo cerebelar superior. Admite-se que as fibras cruzadas na medula tornam a se cruzar ao entrar no cerebelo, de tal 
modo que o impulso nervoso termina no hemisfrio cerebelar situado do mesmo lado em que se originou, ou seja, o fato de 
tracto espino-cerebelar anterior cruzar na medula e descruzar no cerebelo, faz com que uma lesƒo no hemisfrio de um lado 
cerebelar, trar‹ incoordena‚ƒo para o mesmo lado da lesƒo.  importante tomar conhecimento que as fibras do tracto espino-
cerebelar anterior informam tambm eventos que ocorrem dentro da pr€pria medula relacionados com a atividade eltrica do 
tracto c€rtico-espinhal. Assim, atravs do tracto espino-cerebelar anterior, o cerebelo  informado de quando os impulsos 
motores chegam Ž medula e qual sua intensidade; logo, o tracto espino-cereblar anterior  capaz de realizar a detec‚ƒo dos
n„veis de atividade do tracto c€rtico-espinhal. Essa informa‚ƒo  utilizada pelo cerebelo para controle e modula‚ƒo da 
motricidade som‹tica. 
CORRELA‡ES CL†NICAS
Para o estudo das principais correla‚…es cl„nicas que abordam os principais componentes do sistema nervoso, deveremos 
antes conceituar alguns termos at entƒo desconhecidos por muitos. Estes conceitos servirƒo para um melhor entendimento nƒo s€ 
deste assunto, mas de v‹rios outros cap„tulos que sucedem a este.
ALTERAÇÕES DA MOTRICIDADE
 A diminui‚ƒo da for‚a muscular recebe o nome de paresia, e pode ser causada, por exemplo, por uma simples compressƒo 
nervosa ou lesƒo de apenas um nervo cuja a‚ƒo  mimetizada por outros. A aus†ncia total de movimento  denominada de 
paralisia (plegia). Quando estes sintomas atingem toda a metade do corpo, diz-se hemiparesia e hemiplegia. Quando 
apenas os membros inferiores sƒo acometidos de paralisia (por uma sec‚ƒo completa da medula lombar, por exemplo), tem-
se paraplegia. Quando a lesƒo  mais alta, em n„vel cervical, por exemplo, tem-se tetraplegia, ou seja, paralisia de todos os 
membros.
 Tônus significa um estado constante e de relativa tensƒo em que se encontra um mŒsculo em repouso. As altera‚…es do 
t‡nus podem ser de aumento (hipertonia), diminui‚ƒo (hipotonia) ou aus†ncia completa (atonia).
 Arco-reflexo  qualquer a‚ƒo decorrente de um est„mulo nervoso que nƒo foi processado, necessariamente, em centros 
nervosos superiores, mas sim, na pr€pria medula. Les…es do sistema nervoso podem gerar aus†ncia (arreflexia), diminui‚ƒo 
(hiporreflexia) ou aumento (hiper-reflexia) dos reflexos mŒsculo-tendinosos. Algumas les…es ainda geram 
o aparecimento de reflexos patológicos: quando se estimula a pele da regiƒoplantar com um movimento 
ascendente em forma de interroga‚ƒo (?), a resposta reflexa normal consiste na flexƒo plantar do h‹lux. 
Porm, existem casos de lesƒo dos tractos c€rtico-espinhais que, ao se percutir este reflexo, ocorre uma 
flexƒo dorsal do h‹lux, que consiste no sinal de Babinski.
 Síndrome do neurônio motor inferior (SNMI): resulta de lesƒo dos neur‡nios motores da coluna anterior da medula (ou dos 
nŒcleos de nervos cranianos, se for o caso). Este tipo de lesƒo  caracterizado por hiporreflexia e hipotonia, caracterizando 
esta s„ndrome como uma paralisia flácida. Neste caso, ocorre ainda atrofia da musculatura inervada por perda da a‚ƒo 
tr€fica dos nervos sobre o mŒsculo; perda dos reflexos; fascicula‚ƒo muscular; rea‚ƒo de degenera‚ƒo. Na SNMI, o sinal de 
Babinski nƒo est‹ presente.
Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2
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 Síndrome do neurônio motor superior (SNMS): resulta em lesões de centros mais superiores do sistema nervoso 
envolvidos com a motricidade, como o caso do córtex motor ou de vias motoras descendentes (como por exemplo, o tracto 
córtico-espinhal). A SNMS é caracterizada como sendo uma paralisia espástica, pois apresenta sinais como hiper-reflexia e 
hipertonia. A atrofia muscular não é presente, uma vez que os músculos continuam inervados por neurônios motores 
inferiores. O sinal de Babinski está presente nesta síndrome.
LESÕES DOS TRACTOS CORTICOESPINHAIS (TRATOS PIRAMIDAIS)
As lesões restritas aos tractos cortico-espinhais produzem os seguintes sinais clínicos:
 O sinal de Babinski está presente. O hálux fica dorsiflexionado e os outros artelhos se 
abrem em leque, em resposta ao atrito da pele, ao longo da borda lateral da sola do pé. 
A resposta normal seria uma flexão plantar de todos os artelhos, com exceção para 
pacientes com menos de um ano de vida, em que o sinal é normal em virtude de que o 
tracto corticoespinhal ainda não está devidamente mielinizado. A explicação para este 
sinal é a seguinte: normalmente, os tractos cortico-espinhais íntegros provocam a 
flexão plantar dos artelhos, em resposta à estimulação sensorial da pele do pé. Quando 
os tractos córticoespinhais não estão funcionantes, a influência dos demais tractos 
descendentes sobre os artelhos passa a ser aparente, com um tipo de reflexo de 
retirada, ocorrendo, em resposta à estimulação da sola do pé, com o hálux sendo 
dorsiflexionado e os outros artelhos abrindo em abano.
 Os reflexos abdominais superficiais estão ausentes. Os músculos abdominais deixam de se contrair quando é atritada a 
pele do abdome. Esse reflexo é dependente da intregridade os tractos corticoespinhais, que exercem influência tônica 
excitatória sobre os neurônios internunciais.
 O reflexo cremastérico está ausente. O músculo cremáster deixa de se contrair quando a pele na face medial da coxa é 
estimulada. Esse arco-reflexo passa pelo primeiro segmento lombar da medula espinhal. Esse reflexo é dependente da 
integridade dos tractos corticoespinhais, que exercem influência tônica excitatória sobre os neurônios internunciais.
 Ocorre perda do desempenho dos movimentos voluntários dependentes de habilidade. Isso ocorre, principalmente, nas 
extremidades distais dos membros.
OBS: Principais reflexos medulares e seus respectivos segmentos envolvidos:
 Reflexo biccipital: C5 e C6, sendo mediado pelo N. Mediano.
 Reflexo tricipital: C6 e C7, sendo mediado pelo N. Radial.
 Reflexo patelar: L3 e L4, sendo mediado pelo N. Femural.
 Reflexo aquileu: S1 e S2, sendo mediado pelo N. Tibial.
 Reflexo cremastérico: L1 e L2, sendo mediado pelos Nn. Ilioinguinal e Genitofemural.
 Reflexo anal: S2 a S4, sendo mediado pelo N. Hemorroidário inferior.
LESÕES DOS DEMAIS TRACTOS DESCENDENTES (EXTRAPIRAMIDAIS)
Os seguintes sinais clínicos estão presentes nas lesões restritas a outros tractos descendentes:
 Paralisia severa, com pouca ou nenhuma atrofia muscular (exceto a secundária à falta de uso).
 Espasticidade ou hipertonia dos músculos. O membro inferior é mantido em extensão e o membro inferior é mantido em 
flexão. Na verdade, admite-se que os tractos piramidais normais tendem a aumentar o tônus muscular (por isso, em tese, sua 
lesão causa parasia flácida), ao passo em que os tractos extrapiramidais tendem a diminuí-lo (o que faz com que suas 
afecções gerem paralisia espástica).
 Reflexos musculares profundos exagerados (hiperreflexia) e clônus podem estar presentes nos músculos flexores dos 
dedos, no quadríceps femoral e na panturrilha.
 Reação do canivete. Quando é tentada a movimentação passiva de uma articulação, nota-se reistência, devida à 
espasticidade dos músculos. 
ALTERAÇÕES DA SENSIBILIDADE
 Anestesia: ausência total de uma ou mais modalidade sensitiva.
 Analgesia: perda da sensibilidade dolorosa.
 Hipoestesia: diminuição da sensibilidade no geral (propriocepção, dor, vibração, tato, etc.).
 Hiperestesia: aumento da sensibilidade
 Parestesias: surgimento de sensações espontâneas, sem que haja estimulação.
 Algias: dores, em geral.
RESUMO DE LESÕES MEDULARES
Lesão da Coluna Anterior
Ocorre mais frequentemente na poliomielite (paralisia infantil), patologia em que o 
vírus ataca os neurônios motores da coluna anterior, caracterizando uma SNMI no território 
muscular correspondente à área da medula que foi lesada. Quando ocorre a destruição de 
neurônios responsáveis pela inervação de músculos que realizam o movimento respiratório, 
pode haver morte por insuficiência respiratória.
Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2
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Hemissecção da medula (sˆndrome de Brown-S‰rquad)
A hemissecção da medula, quase sempre 
traumática, produz no paciente um conjunto de 
sintomas conhecido como Síndrome de Brown-
Sérquad. Os sintomas são decorrentes da interrupção 
dos principais tractos, que percorrem uma metade da 
medula. A lesão dos tractos que não cruzam na 
medula gera sinais do mesmo lado da lesão; já a lesão 
dos tractos que cruzam na medula, manifesta sinais do 
lado oposto. Todos os sintomas aparecem somente 
abaixo do nível da lesão.
Os sintomas que se manifestam do mesmo 
lado da lesão, ou seja, oriundos da lesão de tractos 
não cruzados na medula, são:
 Paralisia espástica com aparecimento de sinal 
de Babinski devido à lesão do tracto córtico-
espinhal lateral (que não cruza na medula, 
mas sim, no bulbo);
 Perda da propriocepção consciente e do tato 
epicrítico devido à lesão de fibras dos 
fascículos grácil e cuneiforme.
Os sintomas que se manifestam do lado 
oposto ao lesado, ou seja, oriundos da lesão de tractos 
cruzados na medula, são:
 Perda da sensibilidade térmica e dolorosa a partir de um ou dois dermátomos abaixo do nível da lesão em virtude do 
acometimento de fibras do tracto espino-talâmico lateral (que cruza na comissura branca).
 Ligeira diminuição do tato protopático e da pressão por comprometimento do tracto espino-talâmico anterior. O 
comprometimento é muito pequeno pois os axônios deste tracto, ao penetrar na medula, enviam ramos ascendentes 
colaterais que desviam do nível da lesão para só então fazer sinapse com a coluna posterior e cruzar para o lado oposto.
Siringomielia
Doença caracterizada pela formação progressiva de uma cavidade no canal central da 
medula, levando a gradativa destruição da substância intermédia central e da comissura branca. 
Por isso, esta destruição interrompe as fibras que formam os dois tractos espino-talâmicos 
laterais. Ocorre, assim, uma perda da sensibilidade térmica e dolorosa de ambos os lados abaixo 
do nível da lesão. Contudo, não há nestas áreas qualquer perturbação da propriocepção (função 
dos tracto espino-cerebelar e fascículos grácil e cuneiforme, cujas fibras não cruzam ou 
transitam pela região acometida).
A perda da sensibilidade térmica e dolorosa com a persistência da sensibilidade tátil e proprioceptivaé denominada 
dissociação sensitiva. A seringomielia acomete mais frequentemente a intumescência cervical, resultando no aparecimento de 
sintomas na extremidade superior dos dois lados.
Transecção da medula
A secção completa da medula pode ser decorrente de um traumatismo direto na coluna. 
Com esta lesão, o paciente entra em estado de choque espinhal (ou choque medular), 
caracterizado pela perda da sensibilidade, dos movimentos e do tônus nos músculos inervados 
pelos segmentos medulares situados abaixo da lesão. Há ainda retenção de urina e de fezes. 
Após um período variado, reaparecem os reflexos (com hiper-reflexia) e aparece o sinal 
de Babinski (caracterizando uma SNMS). Geralmente, nos casos de secção completa, não há 
recuperação da motricidade voluntária ou da sensibilidade. Entretanto, uma recuperação reflexa do 
mecanismo de esvaziamento vesical pode ocorrer.
Compressão da medula por tumor
Tumores na região do canal vertebral podem comprimir a medula de fora para dentro, resultando em uma sintomatologia 
variável conforme a região comprimida por esta formação neoplásica. Com o progredir da doença, aparecem sintomas de 
comprometimento de tractos medulares.
Um tumor que se desenvolve dentro da medula, comprime-a de dentro para fora, causando perturbações motoras por lesão 
do tracto córtico-espinhal lateral. Pode haver também perda da sensibilidade térmica e dolorosa por compressão do tracto espino-
talâmico lateral. Este sintoma aparece nos dermátomos mais próximos ao nível da lesão, progredindo para dermátomos cada vez 
mais baixos, e geralmente, poupando os dermátomos sacrais. A este fato, os neurologistas dão o nome de preservação sacral. Isso 
se deve ao fato em que as fibras oriundas de segmentos sacrais estão localizadas mais lateralmente no tracto espino-talâmico lateral, 
ao passo em que as originadas em segmentos mais altos, ocupam regiões mais mediais deste tracto. Desta forma, quando tumor 
cresce de dentro para fora, o último componente atingido (ou que nem sempre chega a ser atingido) é o componente sacral. Já 
quando o tumor comprime de fora para dentro, as fibras originadas nos segmentos sacrais são lesadas em primeiro lugar.
Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2
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Tabes dorsalis
Consequência da neurossífilis, na tabes dorsalis ocorre lesão das raízes dorsais, especialmente da divisão medial destas 
raízes. Como estas divisões contêm fibras que formam os fascículos grácil e cuneiforme, estes também são destruídos, o que leva 
aos seguintes sinais:
 Perda da propriocepção consciente: quando os olhos estão fechados, o paciente é incapaz de dizer em que posição encontra 
seus membros. Por esta razão, a marcha também se torna defeituosa, especialmente em ambientes escuros.
 Perda do tato epicrítico: o paciente torna-se incapaz de saber quais são as características táteis de um objeto que toca.
 Perda da sensibilidade vibratória e da estereognosia.
Cordotomias
As cordotomiais consistem na secção cirúrgica dos tractos espino-talâmicos laterais para o tratamento de dor crônica 
resistente aos medicamentos, como o que ocorre nos casos de tumores malignos. O processo consiste na remoção cirúrgica do tracto 
espino-talâmico lateral, acima e do lado oposto ao processo doloroso. Neste caso, haverá perda de dor e de temperatura do lado 
oposto, a partir de um dermátomo abaixo do nível da secção. Em caso de tratamento de dores viscerais, é imprescindível a cirurgia 
bilateral, uma vez que é grande o número de fibras não cruzadas que se relacionam com este tipo de dor (tracto espino-reticular).
Polirradiculoneurite aguda (Síndrome de Guillain-Barré)
A síndrome de Guillain-Barré ou polirradiculoneurite aguda é caracterizada por uma
poliradiculoneuropatia de instalação rápida, gerada por inflamação aguda com perda da mielina dos 
nervos periféricos e às vezes de raízes nervosas proximais e de nervos cranianos. 
A síndrome de Guillain Barré tem caráter autoimune. Acredita-se que sua patogênese seja 
relacionada a uma reação imunológica celular dirigida aos nervos periféricos: o indivíduo produz 
auto-anticorpos contra sua própria mielina devido a uma reação cruzada com antígenos de outras 
infecções. Na maioria dos indivíduos, o início da doença é precedido por infecção de vias 
respiratórias altas ou de gastroenterite aguda, embora outras infecções (CMV, EBV, Campylobacter 
jejuni), cirurgias, transfusões e vacinações também sejam descritas como agentes deflagradores.
Os sintomas se caracterizam por parestesias e fraqueza de caráter ascendente, acometendo, primeiramente, os membros 
inferiores, depois os superiores, para só então acometer a face, podendo evoluir para uma insuficiência respiratória. Há, na maioria 
dos casos, retenção urinária devido ao comprometimento da inervação parassimpática (sacral) da bexiga (caracterizando o 
acometimento autonômico). O exame físico revela tetraparesia flácida, com diminuição ou abolição de reflexos profundos e diminuição 
de sensibilidade distalmente. Quando acomete a face, ocorre diplegia ou diparesia facial periférica.
É descrito, também, acometimento autonômico na síndrome de Guillain-Barré: taquicardia sinusal e variações de pressão 
arterial são presentes em cerca de 75% dos pacientes e retenção urinária em 15%. Pode haver ainda sudorese profusa.
O exame de líquido cefalorraquidiano demonstra dissociação proteína-célula (elevação da proteína sem elevação da 
celularidade) a partir da primeira ou segunda semana. Nas infecções do sistema nervoso central (meningoencefalites), um dos 
diagnósticos diferenciais, a proteína é elevada e o número de células também. Líquido cefalorraquidiano normal não exclui o 
diagnóstico quando este é feito na primeira semana. O aumento máximo de proteínas no líquido cefalorraquidiano acontece após 
quatro a seis semanas de início dos sintomas da doença. Dentre outros exames laboratoriais, nota-se um grande aumento de CPk, 
que pode acontecer em casos de instalação muito rápida devido a desnervação muscular. Nos dias seguintes, os níveis de CPk 
retornam aos valores normais. A eletrofisiologia ou eletroneuromiografia (exame que mede a atividade elétrica dos músculos e a 
velocidade de condução dos nervos) demonstra diminuição da velocidade de condução nervosa (sugestiva de perda de mielina) 
podendo levar várias semanas para as alterações serem definidas. 
Na fase aguda (primeiras quatro semanas de início dos sintomas) o tratamento de escolha é a plasmaferese ou a 
administração intravenosa de imunoglobulinas. Altas doses de imunoglobulinas (anticorpos), administradas por via intra-venosa 
podem diminuir o ataque imunológico ao sistema nervoso. O tratamento com imunoglobulinas pode ser utilizado em substituição à 
plasmaferese com a vantagem de sua administração ser mais fácil. Não se conhece muito bem o mecanismo de ação deste método. 
Havendo insuficiência respiratória (10 -30% dos casos), o paciente deve permanecer em Unidade de Terapia Intensiva submetido à 
respiração mecânica artificial. 
Esclerose múltipla
A esclerose múltipla (EM) é uma doença 
comum, mas restrita ao sistema nervoso central, 
caracterizada pela desmielinização auto-imune 
dos tractos ascendentes e descendentes. É mais 
incidente em adultos jovens. 
A perda da bainha de mileina resulta na 
degradação do isolamento em torno dos axônios, 
com a consequente redução da velocidade de 
condução dos potenciais de ação que, com o 
decorrer da doença, são bloqueados. A 
desmielinização resulta em diferentes quadros 
clínicos, dependendo da área do SNC mais 
afetada (o cérebro, tronco cerebral, medula 
espinhal, nervo óptico). A EM acomete mais as 
mulheres e vários fatores, entre eles hormonais, 
ambientais e genéticos, estão envolvidos. Trata-
se de um processo de hipersensibilidade tardia, 
mediada por linfócitos Th1. 
Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA– MEDICINA P3 – 2008.2
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A estrutura alvo na EM  prote„na b‹sica de mielina.  poss„vel que muta‚…es na estrutura desta prote„na possam ocorrer, 
caso em que seriam respons‹veis por algumas formas heredit‹rias de desmieliniza‚ƒo. O adenov„rus tipo 2 tem uma sequ†ncia de 
amino‹cidos similar Žquela presente na MPB que ativam linf€citos T auxiliares que ultrapassam a barreira hematoencef‹lica. A 
polimerase do v„rus da hepatite B tambm compartilha seis amino‹cidos com uma regiƒo da MBP. O tratamento da EM  feito por 
meio do IFN-β justamente por ser um fator antiviral e anti-proliferativo.
Esclerose lateral amiotrófica (ELA ou Síndrome de Lou Gehrig)
A ELA  uma doen‚a restrita aos tratos c€rtico-espinhais e aos neur‡nios motores 
das colunas cinzentas anteriores da medula espinhal.  uma doen‚a progressiva, de etiologia 
desconhecida. S€ raramente apresenta padrƒo familiar, sendo herdada em apenas 10% dos 
pacientes. De modo t„pico, ocorre ao fim da meia-idade, sendo inevitavelmente fatal dentro de 
2 a 6 anos.
Os sinais de s„ndrome do neur‡nio motor inferior, de atrofia muscular progressiva, 
paresia e fascicula‚…es sƒo sobrepostos aos sinais e sintomas da doen‚a do neur‡nio motor 
superior, com paresia, espasticidade e resposta de Babinski. Os nŒcleos motores de alguns 
nervos cranianos podem ainda ser afetados.

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