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\MARIANA PEREIRA BONINI ANÁLISE DO IMPACTO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA PROVOCADO NAS FAMÍLIAS DO MUNICÍPIO DE CAMPO MOURÃO NO PERÍODO DE 2013, 2015 E 2017 CAMPO MOURÃO 2018 MARIANA PEREIRA BONINI ANÁLISE DO IMPACTO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA PROVOCADO NAS FAMÍLIAS DO MUNICÍPIO DE CAMPO MOURÃO NO PERÍODO DE 2013, 2015 E 2017 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado de Ciências Econômicas, da Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas. Orientador: Prof. Dr. Tito J. Adalberto Alfaro Serrano CAMPO MOURÃO 2018 MARIANA PEREIRA BONINI ANÁLISE DO IMPACTO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA PROVOCADO NAS FAMÍLIAS DO MUNICÍPIO DE CAMPO MOURÃO NO PERÍODO DE 2013, 2015 E 2017 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado de Ciências Econômicas, da Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas. COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Dr.ª Luciana Aparecida Bastos Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão Presidente da Banca Prof. Me. Leandro Nunes Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão Membro da Banca Prof. Dr. Tito J. Adalberto Alfaro Serrano Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão Orientador Campo Mourão 2018. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar gostaria de agradecer ao Luigi, por todo apoio dedicado durante o tempo em que elaborei este trabalho. Em segundo lugar, a minhas amigas Aline, Wanessa, Raíssa e Géssica pelas palavras de incentivo e pela ajuda efetiva para que esse trabalho se concretizasse. Não posso esquecer de agradecer minha querida amiga Horrana, pelo notebook emprestado (acredite, seu gesto de generosidade foi significativo para mim). E por último, mas de forma alguma menos importante, gostaria de agradecer ao meu orientador, professor Tito. Muito obrigada por entender meu emaranhado de ideias desconexas e me ajudar a transformar em um trabalho real. Sua função como orientador foi vital e com certeza esse é um aprendizado que levarei comigo. Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota. Madre Teresa de Calcutá. RESUMO O Programa Bolsa Família (PBF) surge como política pública originada no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sendo um programa de transferência de renda do Governo Federal, instituído pela Medida Provisória 132, de 20 de outubro de 2003, convertida em lei em 9 de janeiro de 2004, pela Lei Federal n. 10.836, que unificou e ampliou programas anteriores de transferência de renda criados (implantados) por governos anteriores. Este trabalho tem como objetivo analisar o impacto provocado nos beneficiários, observando o número de famílias atendidas pelo programa e também o cumprimento das condicionalidades para se manter no PBF no município de Campo Mourão, estado do Paraná. Para tanto, será realizado um estudo sobre a dinâmica participativa das famílias como beneficiárias do Programa, no período de 2013, 2015 e 2017, sendo utilizado como método do trabalho uma pesquisa quali- quantitativa e os dados analisado foram disponibilizados em sua maioria pelo Portal da Transparência do governo federal e os resultados obtidos demonstram que no município de Campo Mourão o PBF cumpre com sua função social enquanto política pública de combate à pobreza e extrema pobreza e ainda colabora para a inserção e participação social das famílias no que se refere a direitos básicos fundamentais, como educação e saúde. Palavras-chave: Programa Bolsa Família; Transferência de Renda; bem-estar. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Curva de Kuznets...................................................................................... 16 Figura 2 - Benefícios do Programa Bolsa Família ..................................................... 25 Figura 3 - Repercussões das condicionalidades. ...................................................... 45 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Valores pagos pelo PBF em Reais no ano de 2013 em Campo Mourão. 34 Tabela 2 - Valores pagos pelo PBF em Reais no ano de 2015 em Campo Mourão. 37 Tabela 3 - Valores pagos pelo PBF em Reais no ano de 2017 em Campo Mourão. 39 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Estudos de Kuznets sobre desigualdade de renda ................................ 17 Quadro 2 - Condicionalidades do PBF: ..................................................................... 26 LISTA DE SIGLAS CF – Constituição Federal IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IGD-M – Índice de Gestão Descentralizada Municipal MDS – Ministério do Desenvolvimento Social ODM – Objetivos do Milênio ONG’S – Organizações não governamentais ONU – Organização das Nações Unidas PBF – Programa Bolsa Família PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 11 SUMARIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 12 2 OS PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO .................................................................... 15 2.1 Surgimento das políticas públicas .................................................................................. 15 2.2 As Políticas sociais ......................................................................................................... 21 2.3 A efetividade – eficiência e eficácia dos programas sociais .......................................... 22 3 O PROGRAMA BOLSA FAMILIA ..................................................................................... 24 3.1. Caracterização do PBF .................................................................................................. 24 3.2. Repercussão dos benefícios do programa ...................................................................... 25 3.3 Aspectos positivos e negativos do PBF .......................................................................... 27 4 ASPECTOS METODOLÓGICOS ........................................................................................ 29 5 AVALIAÇÃO DO PBF NAS FAMILIAS DO MUNICÍPIO DE CAMPO Mourão ........... 33 5.1 Total das Famílias beneficiadas pelo PBF no Município de Campo Mourão ................ 33 5.2 Efeitos provocados pelo benefício do PBF no Município de Campo Mourão ............... 34 5.3 Impactos do PBF ............................................................................................................ 40 5.4 Repercussões em relação ao descumprimento de condicionalidades ............................. 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................47 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 48 12 1 INTRODUÇÃO O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência de renda condicionada no Brasil, e no município de Campo Mourão/Paraná e atendia 3.737 famílias em janeiro de 2018. Criado em outubro de 2003, pelo então presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva, o programa é previsto pela Lei nº 10.836 de 09 de janeiro de 2004, e regulamentado pelo decreto nº 5.209 de 17 de setembro de 2004, e outras normas. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) o programa Bolsa Família se pauta em três fundamentos principais: 1. Complemento da renda; 2. Acesso a Direitos; e 3. Articulações com outras ações Portanto, esse trabalho terá como objeto de estudo o impacto que o PBF provocou nas famílias de Campo Mourão, nos anos de 2013, 2015 e 2017. Em se tratando de um trabalho cuja área de pesquisa é a ciência econômica, a pesquisa que dará base a esse trabalho tem como objetivo principal analisar o impacto socioeconômico causado nas famílias beneficiadas do município de Campo Mourão, além de observar as dinâmicas participativas dessas famílias. Procura-se discutir e investigar se existe uma relação positiva para os beneficiários, tendo-se em vista que este é um programa de proteção para assegurar as famílias hipossuficientes uma situação de vantagem, como forma de combater a extrema pobreza. Dessa forma, a realização desta pesquisa se justifica por entender-se que o Programa Bolsa Família é relevante dada a intensidade do impacto que provoca para essas famílias e por outro lado, investigar que, enquanto algumas famílias têm por única fonte de renda o benefício do PBF, essa transferência pode representar apenas um acréscimo percentual do orçamento familiar, portanto, a intensidade desse impacto do PBF sobre a renda domiciliar, poderá ter efeitos diferenciados. Os efeitos provenientes da concessão da Bolsa Família têm sua abrangência positiva e negativa, podendo ser avaliados do ponto socioeconômico, por meio de indicadores que mostrem índices de pobreza, distribuição de renda, trabalho infantil e frequência escolar, portanto, procura-se saber de que forma a contribuição do PBF tem impactado as famílias do município de Campo Mourão, Estado do Paraná, e assim na promoção do bem-estar social. 13 Este trabalho também se justifica pela necessidade de conhecer como as políticas públicas podem beneficiar a sociedade, combatendo as distorções sociais que caracterizam os índices de pobreza e discriminação social. Dessa forma a pesquisa que relaciona o PBF com os indicadores acima mencionados, permitirá a pesquisadora verificar a importância que os programas sociais têm para a comunidade, e assim, poder apresentar conclusões acadêmicas que venham a ser divulgadas e, portanto, utilizadas para outras pesquisas que tratem do assunto em tela. Diante do exposto, a pesquisa poderá revelar os efeitos que no decorrer de sua implantação e continuidade mostrem a sensibilidade do efeito para dessa forma avaliar o programa na medida em que o alcance do estudo permita identificar o impacto do PBF, e de igual forma a efetividade do programa. A metodologia para o desenvolvimento do presente trabalho monográfico foi utilizada de maneira a atender a necessidade de identificação de busca e de interpretação dos indicadores básicos, sendo eles: efeito renda, índices de pobreza, efeito escola e principalmente, a intensidade do efeito PBF no orçamento das famílias do município de Campo Mourão no período de 2013, 2015 e 2017, necessários para responder aos objetivos e problema de pesquisa deste estudo monográfico. Entende-se, assim, que o enfrentamento das desigualdades nos níveis regional e do País exige tratar o problema de forma generalizada, e não apenas as menos desenvolvidas. Por isso, é necessária a construção de políticas que busquem respostas aos problemas regionais, ativando e promovendo a inserção social produtiva da população, a capacitação dos recursos humanos e a melhoria da qualidade de vida da população, dessa forma formulamos o seguinte problema de pesquisa: como o PBF tem contribuído para que as famílias campo-mourenses beneficiadas alcancem os efeitos dos indicadores propostos com vistas a melhoria das condições sociais? Para alcançar o objetivo desse trabalho serão investigados os efeitos provenientes do PBF, avaliando os indicadores que afetam esses benefícios de forma ampla, de acordo com instrumentos metodológicos como a pesquisa bibliográfica documental para embasamento teórico do texto. Assim, verificaremos os efeitos do benefício nas famílias de Campo Mourão no período de 2013, 2015 e 2017, analisando as repercussões tanto positivas como 14 negativas provenientes da concessão do benefício e finalmente avaliaremos a intensidade do impacto. Portanto, a metodologia do estudo consistirá em uma pesquisa quali- quantitativa, efetuada por meio de pesquisas de documentos e bibliografia sobre o assunto. Os dados obtidos do Programa serão da população (famílias beneficiadas utilizando os registros nos órgãos de controle, com amostragem do número de famílias), utilizando a análise estatística descritiva para o tratamento dos dados. Espera-se com os resultados obtidos e tratados, verificar qual foi o impacto provocado sobre os beneficiários no período analisado. Diante disso, propõe-se no estudo avaliar os aspectos positivos relevantes no âmbito social, como também aspectos negativos no sentido de abrangência do Programa, levando-se em conta que o PBF é um programa de política pública permanente no Brasil. A divisão do presente trabalho ocorreu da seguinte forma: no capítulo 2 será exposto uma revisão bibliográfica sobre o governo e o surgimento dos programas sociais, o capítulo 3 se dedica ao contexto do surgimento do Programa Bolsa Família com explicações sobre como funciona o programa atualmente. O capítulo 4 trata sobre a metodologia utilizada no trabalho. O capítulo 5 explana de que forma o Programa Bolsa Família se configura no município de Campo Mourão, com demonstração dos dados e resultados, e o capítulo 6 trata sobre as conclusões do trabalho. 15 2 OS PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO Esta monografia tem por finalidade estudar os programas sociais existentes no Brasil com o propósito de apresentar uma revisão dos principais programas de transferência de renda em andamento, discutindo sua cobertura parcial e sua grandeza de seu impacto potencial sobre o município de Campo Mourão no período de 2013, 2015 e 2017. O trabalho se desenvolve a partir da visão sobre a expansão dos programas de cunho social, mensurando a consecução das metas propostas, principalmente a de reduzir a pobreza e exclusão social, seguida consequentemente de outras que harmonicamente identificam os objetivos sociais e de instâncias maiores em consonância com os Objetivos de Milênio (ODM). 2.1 Surgimento das políticas públicas Os programas de governo de cunho social têm aumentado consideravelmente e com propósitos diferentes, buscando assim, resolver necessidades e criar mecanismos que possam melhorar as condições de vida priorizando serviços públicos de interesse coletivo, contribuindo dessa forma na promoção do desenvolvimento, combatendo as desigualdades sociais e melhorando o acesso a serviços públicos. A preocupação por estudos sobre as necessidades que a sociedade apresenta nos paísestanto desenvolvidos como subdesenvolvidos, tem sido uma preocupação constante tanto dos governantes ou dirigentes, como também de organizações internacionais tais como a Organização das nações Unidas - ONU, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, e de organizações não governamentais (ONGs) denominadas do terceiro setor, atuando como entidades sem fins lucrativos. (CEDEPLAR E SCIENCE, 2005) Convém relatar que esse conjunto de necessidades identificadas faltante nas sociedades mais necessitadas, são decorrentes do descaso por esta classe social, algumas vezes atribuídas a corrente de pensamento neoliberal, no entanto, os movimentos que vem marcando cobranças de combate para esses desníveis já marcam a Revolução Industrial, como ponto de partida para um conjunto de mudanças que iniciam na Europa nos séculos XVIII e XIX, com particularidades como a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado com 16 o uso das máquinas, sendo que até o final do século XVIII a população vivia no campo e produzia o que consumia, caracterizada pela forma artesanal que o produtor dominava em todo o processo produtivo. Com o advento dessa nova forma de produção, surge a ambição do lucro dos proprietários e dos meios de produção, o que deu lugar a mudanças ou transformações socioeconômicas, tecnológicas, políticas e sociais. A partir daí, surgem os movimentos operários, conflitos, e a criação do sindicalismo, que resultou na legislação trabalhista. (CEDEPLAR E SCIENCE, 2005) Associando as consequências de luta da Revolução Industrial ao conceito de exclusão social, associado a pobreza, que indica a privação das condições necessárias para termos acesso a uma vida digna, esta não poderia ser vista como um acontecimento normal, regulada pelo mercado, como salienta Chang. Chang (2015) descreve estudos sob os diversos aspectos das teorias econômicas, demonstrando como a pobreza já foi enxergada como algo natural e por isso seria naturalmente regulada pelo mercado, sendo essa uma teoria defendida pelo economista Milton Friedman (1962), defensor da teoria do livre mercado. Entretanto, as etapas que corrigem as desigualdades podem ser superadas, na medida em que o desenvolvimento se faz presente, e os programas sociais são duradouros. Em Kuznets (1955), entende-se que no seu modelo de mensurar o desenvolvimento ele demonstra que num primeiro estágio de desenvolvimento de um país haverá uma grande desigualdade de renda, e a medida que o desenvolvimento avança a desigualdade de renda diminui, visualizado a seguir com a curva formando um “u” invertido. Figura 1 - Curva de Kuznets Fonte: Elaborado pela autora 17 Na Figura 1, a desigualdade é crescente nos primeiros estágios de desenvolvimento até um ponto de inflexão, a partir daí a mesma passa a cair à medida que ocorre crescimento econômico. Porém, vale acrescentar que em diversos testes realizados, por diferentes autores, não foi possível corroborar totalmente essa hipótese, pois houve vários casos de países em que ela não se aplicou, pois se verificou que embora o crescimento econômico provoque sim uma maior distribuição da renda, por si só não é capaz de reduzir ou eliminar as desigualdades de renda, sendo necessários outros meios de combatê-la. (LIMA E MOREIRA, 2014) Santos et al (2011) em seu trabalho, compila os resultados desses diversos testes sobre a curva de Kuznets, que podem ser observados a seguir: Quadro 1 – Estudos de Kuznets sobre desigualdade de renda Referência Âmbito do estudo Método Conclusões Ahluwalia (1976) Amostra de 60 países: 40 considerados subdesenvolvidos, 6 socialistas e 14 desenvolvidos. Cross-section para desigualdade em função da renda per capita e uma dummy para países socialistas. Os resultados apóiam a hipóteses de U invertido. Braulke (1983) Amostra de 33 países com renda homogênea. Modelo não linear para o Índice de Gini na função de razões de renda e população. Quando é considerada a convergência entre as rendas setoriais o U invertido apresenta uma redução em sua fase inicial. Ram ( 1989) Amostra com 115 países para o período 1960-80. Cross-section para um modelo quadrático do Índice de Theil em função do PIB per capita. Os resultados apóiam a hipótese do U invertido. Anand e Kanbur (1993b) Amostra de 60 países (dados de Ahluwalia) (1976) Cross-section para as funcionais derivadas para 6 índices de desigualdade em função do PIB per capita. Os resultados não apoiam a hipótese do U invertido. Fields e Jakubson (1994) Amostra de 20 países. Pooled cross- section e dados de painel para o modelo quadrático do ìndice de Gini como função da renda per capita. Os resultados do pooled cross-section apoiam a existência do U invertido. Porém , as estimações com efeitos contradizem essa hipótese. 18 Referência Âmbito do estudo Método Conclusões Hsing e Smyth (1994) Séries de tempo para economia americana no período 1948-87. Estimação de um SUR para o Índice de Gini, considerando separadamente as raças brancas e negras. Os resultados apoiam a hipótese do U invertido para as duas raças e o turning point coincide. Dawson (1997) Amostra dos 20 países menos desenvolvidos de RAM (1989) Corss-section com modelos quadráticos e semi log para o coeficiente de Gini com respeito à renda per capita. Os resultados apóiam a hipótese do U invertido. Deininger e Squire (1998) Amostra de 108 países para o período de 1960-90. Corss-section para o crescimento em função da renda, inverso da desigualdade e educação. Dados em painel do nível de desigualdade em função da renda média e do sistema político do país. A desigualdade reduz o crescimento econômico nos países pobres, mas não nos ricos. Os dados de séries de tempo apoiam a hipótese do U invertido. Ogwang (2000) Amostra de 175 países com dados das Nações Unidas para 1994. Corss-section da desigualdade entre países cpar PIB per capita e vários índices de desenvolvimento humano. A relação entre desigualdade e PIB per capita é maior do que com relação aos índices de desenvolvimento humano. Sylvester (2000) Amostra de 54 países (dadso de Barro e Lee (1994)) Cross-section de crescimento em função dos gastos em educação e desigualdade de renda (Índice de Gini) Os gastos em educação afetam o crescimento no longo prazo e a desigualdade condiciona o crescimento. (curto prazo). Trornton (2001) Amostra de 96 países (dados de Deininger e Squire (1998)). Dados em painel do modelo quadráticos da desigualdade em função do PIB per capita. OS resultados apoiam a hipótese do U invertido. Fonte: Santos et al (2011). Visto os resultados dos testes demonstrados acima, SANTOS et al (2011), concluem que: As conclusões apresentadas nos diversos trabalhos estão longe de estabelecer um consenso entre a existência ou não de evidências desta relação. Para executar essas investigações, costuma-se fazer uso de diversos índices de concentração e de desigualdade aliados à utilização de uma grande variedade de 19 formas funcionais específicas e de métodos de estimação. Assim, na presente literatura encontram-se trabalhos que confirmam e outros que refutam a referida hipótese. De uma forma geral, até o momento, as principais contribuições da referida literatura se dão em torno das discussões relacionadas à especificação de modelos, utilização de base de dados e métodos empregados para estimara curva de Kuznets. (SANTOS et al, 2011, p. 12) Além disso, estudos recentes demonstram que onde há maior desigualdade, existe uma piora nos índices de desenvolvimento humano, nos indicadores de saúde, expectativa de vida, entre outros mensuradores dos índices de bem-estar social. (CHANG, 2015) Sob essa ótica, Lima (2015) afirma que a missão do governo é de proteger os mais fracos, e evitar que os mais fortes façam valer somente sua vontade, como acontece no meio ambiente, in natura. Assim sendo, cabe ao governo esquematizar um sistema que funcione plenamente, para que possa exercer suas funções corretamente. O Estado exerce três funções básicas através da política fiscal: a função alocativa, que trata do provimento dos bens públicos; a função distributiva, que trata sobre a distribuição de renda e a função estabilizadora, que trata sobre a estabilização do mercado, visando o crescimento econômico (GIAMBI, 2011) A distribuição de renda como função distributiva é a que mais impacta sobre a sociedade diante dos ganhos econômicos, discussão que se faz sobre a exposição de Lima, (2015): A função distributiva decorre do reconhecimento de que o mercado é geralmente eficiente para produzir, mas não para distribuí-lo. Pelas leis de mercado, os mais aptos, os mais bem sucedidos, os que assumiram riscos e obtiveram lucros ficam com a maior parte dos ganhos econômicos [...] Não se concebe que os governos não tenham nenhuma política para erradicar a miséria absoluta, para contrabalançar a falta de oportunidade de emprego, para dar atendimento médico mínimo a quem não tem como pagar pelo serviço e oferecer escola gratuita para as crianças pobres. (LIMA, 2015, p.37) Assim, através da função distributiva, o governo pode colocar em prática ações que visam influenciar algum setor ou camada da sociedade, tanto de forma positiva ou negativa, através das chamadas políticas públicas. As políticas públicas surgem a partir de ideias de 4 principais autores: H. Laswell, H. Simon, C. Lindblom e D. Easton. 20 Laswel (1936) é o responsável pela expressão policy analisis (análise de políticas públicas) e acreditava que era possível que a produção científica fosse utilizada pelo governo no sentido de aprimorar suas políticas públicas e assim atingir os anseios da sociedade. Simon (1957) cria o conceito de racionalidade limitada e em sua teoria demonstra que mesmo que não seja possível prever todas as situações é possível atingir objetivos com metas bem planejadas e objetivos definidos de forma sistemática. Lindblom (1959, 1979) introduz com suas obras o questionamento das teorias de Laswel e Simom, pois para ele não era possível apenas planejar racionalmente, mas também as políticas públicas estão sujeitas a “relações de poder” do governo no poder naquele período. Easton (1965) faz sua contribuição ao observar que as políticas públicas estão à mercê dos políticos, e que seguem tendências de acordo com a orientação política do partido no poder no momento. Apud Souza (2006) Por consequência, as políticas públicas são alvo de diversos estudos, sendo conceituadas de formas distintas, mas o que existe de comum entre muitos autores é a percepção de que as políticas públicas tomam o caminho de implantar soluções para um determinado problema da sociedade, através da ação do governo. Assim, as políticas públicas podem ser definidas como “Estado em Ação” (GOBERT, 1987 apud HÖFLING, 2001) Baseado em tais considerações, é importante fazer a diferenciação entre Estado e governo. Para Höfling (2001), “o Estado é o conjunto de instituições permanentes [...] que possibilitam a ação do governo” sendo o governo “o conjunto de programas e projetos que parte da sociedade propõe para a sociedade como um todo”. Bresser-Pereira (2004), observa que dentro do Estado existe um mecanismo que constitui as leis e políticas públicas, e que o próprio Estado é um aparelho, de modo que seus métodos para regular a vida social de seus cidadãos é algo “puramente normativo”, Já Boneti (2007) apresenta as políticas públicas como relações de poder argumentando que é: O resultado da dinâmica do jogo de forças que se estabelece no âmbito das relações de poder, relações essas constituídas pelos 21 grupos econômicos e políticos, classes sociais e demais organizações da sociedade civil. Tais relações determinam um conjunto de ações atribuídas à instituição estatal, que provocam o direcionamento (e/ou o redirecionamento) dos rumos de ações de intervenção administrativa do Estado na realidade social e/ou de investimentos. (BONETI, 2007, p.74) Nesse sentido, as políticas públicas podem também ser uma manifestação de poder do governo vigente. Teixeira (2002) observa que essa é uma forma de manifestação do poder governamental, que ao delinear uma política pública estabelece quem são os beneficiados, em que período e como essa política será mantida. Além disso, as políticas públicas precisam ter em sua essência a participação da sociedade civil, com amplo debate em torno de sua eficácia. 2.2 As Políticas sociais A partir da década de 80 as políticas públicas foram alavancadas nos países e não só isso, como também surgiu um novo modo de elaborar essas políticas para que houvesse uma maior abrangência das mesmas para a população. Souza (2006) Apesar de muitas vezes as políticas públicas serem tratadas como sinônimos de políticas sociais é preciso entender a diferenciação entre estes dois termos. Souza (2006) defende que “estudos sobre políticas públicas buscam explicar a natureza da política analisada e seus processos” enquanto as políticas sociais estão ligadas ao conceito do Estado de Bem-Estar Social, ou Welfare State. Nesse mesmo sentido Höfling, (2001), salienta que: Políticas sociais se referem a ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico. As políticas sociais têm suas raízes nos movimentos populares do século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, no desenvolvimento das primeiras revoluções industriais. (HÖFLING, 2001, p.31) Aqui, vale ressaltar que o termo bem-estar social ou Welfare State é definido por Esping-Andersen, 1991 apud Taveira 2016, como a incumbência do governo de prover para seus cidadãos uma condição de mínimo bem-estar para sua sobrevivência. 22 De forma semelhante, Wilenski apud Draibe (1993), define o Estado de Bem-Estar Social como a garantia do Estado de que haverá condições, ainda que mínimas, de acesso a “alimentação, saúde, alojamento e instrução, garantido como um direito político e não como beneficência” Como eixo central, existem diversas formas de realizar essas políticas, mas isso dependerá da linha de pensamento que o governo segue, podendo ser liberal ou conservador, mas em qualquer uma das linhas adotadas, o foco será sempre o indivíduo, de forma a garantir o atendimento das necessidades básicas mínimas. A diferença é que enquanto para visão liberal é a ação (ou não) do cidadão que o torna responsável por viver em uma situação de desigualdade, não cabendo ao Estado o papel de intervenção para modificar a situação, na visão socialdemocrata são concedidos benefícios sociais como forma de corrigir ou amenizar a situação. (TEIXEIRA, 2002) Na América Latina, segundo Draibe (1997), foi a partir da década de 80 que se intensificou o uso de políticas sociais. Diversos países estavam saindo de regimes autoritários e buscavam formasde alcançar o bem-estar social. FLEURY, (1994) expõe seu pensamento assim: Compreendemos as políticas sociais como uma relação social que se estabelece entre o estado e as classes sociais, em relação à reprodução das classes dominadas, que se traduz em uma relação de cidadania, isto é, um conjunto de direitos positivos que vincula o cidadão a seu Estado. (FLEURY,1994. p.59) De modo geral, nota-se que as políticas sociais são normalmente alvos de polêmica, uma vez que existem inúmeros grupos na sociedade, onde alguns questionam seus efeitos enquanto outros grupos enaltecem seus benefícios. Dessa forma, é preciso criar mecanismos que corroborem os dados e apontem na direção correta em que eles caminham, para avaliar o impacto positivo ou negativo, e também ser capaz de analisar qual é o melhor caminho a ser seguido. 2.3 A efetividade – eficiência e eficácia dos programas sociais Uma vez que o governo opte por implantar políticas sociais que visem combater a desigualdade, é necessário também verificar se estas políticas sociais possuem eficiência e eficácia, para assim justificar tal intervenção estatal. 23 Dessa forma, com relação aos programas sociais voltados para o combate à fome e a pobreza no Brasil, estes surgem principalmente após os anos 1980, quando o país passa pelo processo de redemocratização. (JACCOUND, 2013). Sobre isso, Villatoro (2010) apud Bichir (2015) discorre: No âmbito das reformas de políticas sociais ocorridas em meados da década de 1990 surgem os primeiros programas de transferência condicionada de renda no Brasil, no nível municipal. Constituíam-se, então, de programas de garantia de renda mínima ou do tipo “bolsa escola”, sendo rapidamente difundidos do nível municipal para os estados e depois para o nível federal. Em 2001, quando surge o primeiro programa nacional de transferência de renda, havia sete estados e mais de duzentos municípios com intervenções do tipo bolsa-escola. (Villatoro, 2010 apud BICHIR, 2015, p. 27) Assim, a partir de observações tanto nacionais como de instituições internacionais, como o PNUD, os programas sociais vêm de encontro à necessidade da intervenção governamental, que visa trazer mais igualdade nas relações sociais, em todos os seus âmbitos e se a princípio, os objetivos dos programas sociais parecem um tanto intangíveis, é principalmente após a publicação dos Objetivos do Milênio, formulado pela PNUD, que os programas sociais tomam corpo e passam a se desenvolver de forma mais sistemática. 24 3 O PROGRAMA BOLSA FAMILIA 3.1. Caracterização do PBF Desde a época do Brasil Colônia, datando de 1792, já existiam tentativas pontuais do governo para o auxílio de pessoas em situações vulneráveis e para o combate da miséria. Dom Pedro II criou em 1888 a Comissão de Açudes de Irrigação e em 1909 o presidente Nilo Peçanha criou o Instituto de Obras conta as Secas, ambos, com o intuito de auxiliar o Nordeste que sofria com a seca. (SANTOS, 2013) No entanto esses são programas que não tiveram continuidade e também não eram de grande abrangência. Assim, Januzzi (2011) relata que é a partir da Constituição Federal de 1988 - CF/88 - que começaram a crescer os esforços para o início de políticas públicas para programas sociais mais efetivos e de abrangência nacional. O primeiro programa para combate a fome no Brasil surge ano de 1991, numa proposta do senador Eduardo Suplicy que buscava alcançar um valor de renda mínima para todo cidadão do país e foi esse o projeto que inspirou a criação de novos planos de ação para prevenir e erradicar a fome e a pobreza no Brasil. Então, a partir do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, “há uma mudança de orientação, de modo que as políticas de segurança alimentar adquiriram relevância explícita”. (ZIMMERMANN, 2006). Nesse período são implantados diversos programas de combate a fome a pobreza, tais como: • Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI (1996) • Programa Bolsa Escola (2001) • Programa Agente Jovem e Bolsa Alimentação (2001) • Programa Auxílio Gás (2002) Em 2003, esses programas são unificados no Programa Bolsa Família (PBF), e o Cadastro único também é implementado para que haja uma maior eficácia e eficiência no cadastro e controle dos beneficiários. 25 3.2. Repercussão dos benefícios do programa O PBF é um programa de amplitude nacional, e em maio de 2018 atendia 13,9 milhões de famílias brasileiras. Segundo o MDS; “o valor que a família recebe por mês é a soma de vários tipos de benefícios previstos no Programa Bolsa Família. Os tipos e as quantidades de benefícios que cada família recebe dependem da composição (número de pessoas, idades, presença de gestantes etc.) e da renda da família beneficiária.” (MDS, 2018) São benefícios do PBF: Figura 2 - Benefícios do Programa Bolsa Família Fonte: Elaborado pela autora, com informações do MDS, 2018. No ano de 20181, de acordo com o MDS, os valores pagos para os beneficiários foram de R$ 89,00 para quem recebeu benefício básico. Já para os benefícios variáveis o valor pago foi de R$ 41,00 para cada benefício recebido, sendo que, para receber o benefício variável Vinculado à Criança ou Adolescente de 0 a 15 anos é necessário ter pessoas na família que se enquadrem nessa faixa etária e também só recebem este benefício as famílias com renda mensal de até R$ 178,00 por pessoa e é exigido 85% de frequência escolar das crianças. O benefício variável Vincula à Gestante é pago para famílias com grávidas na composição familiar e que também tenham renda de até R$ 178,00 por pessoa. Vale salientar que a gravidez precisa ser de conhecimento da Saúde Pública, que é responsável por inserir os dados no sistema e que são pagas até 9 parcelas para este benefício. 1 Valores vigentes em setembro/2018. Benefício Básico Benefícios Variáveis Vinculado a Criança ou Adolescente de 0 a 15anos Vinculado à Gestante Vinculado à Nutriz Vinculado ao Adolescente de 16 a 17 anos. Benefício para Superaçao da Extrema Pobreza 26 O benefício Vinculado à Nutriz é pago a famílias com crianças de 0 a 6 meses em sua composição familiar, cuja renda seja de até R$ 178,00 por pessoa. Este benefício é pago mesmo que a criança não more com a mãe, e são repassadas até 6 parcelas, desde que seja efetuado o cadastro da criança no Cadastro Único até o sexto mês de vida da mesma. O benefício Vinculado ao Adolescente é pago a famílias com adolescentes de 16 a 17 anos em sua composição familiar, com frequência escolar mínima de 75% e com renda de até R$ 178,00 por pessoa. Por último, o benefício para Superação da Extrema Pobreza é pago para famílias com renda mensal inferior a R$ 89,00, mesmo após receber os outros tipos de benefícios. O valor é calculado individualmente para cada família, com o objetivo de garantir que a família supere o teto de R$ 89,00 por pessoa. Em tempo, é necessário salientar que o PBF é um programa que exige condicionalidades para que o beneficiário se mantenha no programa. Assim as famílias beneficiadas precisam cumprir essas condicionalidades, que podem ser entendidas como um compromisso firmado junto ao MDS, para permanecer no programa. Quadro 2 - Condicionalidades do PBF: Área Condicionalidade Educação — Os responsáveis devem matricular as crianças e os adolescentes de 6 a 17 anos na escola; A frequência escolar deve ser de, pelo menos, 85% das aulas para criançase adolescentes de 6 a 15 anos e de 75% para jovens de 16 e 17 anos, todo mês. — Para as situações em que as crianças ou os adolescentes tenham que faltar às aulas, é importante que a família informe o motivo na escola, que o marcará no sistema onde se registra o acompanhamento da frequência escolar, o Sistema Presença/MEC. Para isso, são disponibilizados 88 motivos no Sistema. Saúde — Os responsáveis devem levar as crianças menores de 7 anos para tomar as vacinas recomendadas pelas equipes de saúde e para pesar, medir e fazer o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento; As gestantes devem fazer o pré-natal e ir às consultas na Unidade de Saúde. Fonte: MDS, 2018. Esse acompanhamento das famílias beneficiárias é importante, pois possibilita que os poderes de governo tenham acesso atualizado aos dados dos participantes, o que acarreta em uma melhor visão sobre como gerenciar os recursos. 27 Isso garante que haverá melhor atendimento às famílias, o que possibilita um combate efetivo e pontual sobre a extrema pobreza. Por outro lado, o descumprimento das condicionalidades acarreta em sanções as famílias, que vão desde a advertência (o que não bloqueia o benefício) passando pelo bloqueio (a partir do segundo descumprimento) até o cancelamento do benefício. 3.3 Aspectos positivos e negativos do PBF O principal mecanismo que possibilita que o PBF atenda famílias em todo país, foi a unificação dos cadastros, resultando no Cadastro Único. Conforme observado por Bartholo et al, (2018) “o Cadastro Único tem sido considerado um exemplo internacional de integração das intervenções voltadas aos mais vulneráveis – sua base contém informações de 40% da população brasileira e é atualmente utilizada por mais de vinte programas sociais do país.” Entretanto, conforme também foi salientado por Bartholo et al (2017), o PBF é um programa social “pró-criança” cujo foco é combater a extrema pobreza em famílias com crianças de 0 a 17 anos, haja visto que famílias extremamente pobres, mas sem crianças, não recebem os benefícios direcionados para essa faixa etária, porém qualquer família, independente da composição familiar pode ser beneficiária do programa. No momento da implantação do programa foram levantadas críticas sob as quais, Campello (2013) relata que entre umas das críticas era que se alegava que ao fornecer um benefício de transferência de renda direta para as pessoas, elas não saberiam como lidar com o dinheiro e fariam “compras erradas”, assim como foi levantado a hipótese de que as pessoas beneficiadas seriam incentivadas a ter mais filhos, para receberem aumento no benefício. Além disso, também foi amplamente debatido a preocupação de que os beneficiários do programa se acomodariam e deixariam seus postos de trabalho, ou parariam de procurar emprego para viver à custa dos valores concedidos pelo benefício. Entretanto, o que se notou foi justamente o contrário: constatou-se evidente aumento nos níveis de comércio e de serviços bancários, principalmente nas regiões mais carentes, além do benefício provocar impacto 28 direto sobre a autonomia da mulher no lar, que são por maioria titulares dos cartões do benefício. A partir de 2012 o PBF insere um novo tipo de benefício: o benefício variável, para combater a extrema pobreza em famílias com crianças e adolescentes. Em 2013 o benefício variável se estende ainda mais, para alcançar todas as famílias em situação de extrema pobreza, independente da composição familiar. A principal função do PBF é combater a pobreza e extrema pobreza no Brasil. Em 2013 haviam 23 milhões de pessoas no Brasil com perfil de renda familiar per capita de até meio salário mínimo, estando entre estas 13, 9 milhões de pessoas que recebia o bolsa família. (PAIVA et al, 2013) Entretanto, programa custa ao país em torno de 0,5% de seu PIB anual, o que representa uma quantia pequena se comparada a amplitude do programa e em como essa renda transferida aos beneficiários é utilizada, logo, pode-se dizer que o PBF possui expressivo efeito multiplicador no PIB e na renda familiar total além de reduzir desigualdades regionais. (PAIVA et al, 2013). 29 4 ASPECTOS METODOLÓGICOS Para elaboração do presente trabalho optou-se por analisar os dados de forma quali-quantitativa, utilizando os métodos descritos na estatística para compilar os dados para uma melhor análise dos mesmos. Dessa forma, buscou-se identificar como se comportam não só como as pessoas beneficiadas pelo programa, mas a sociedade no geral, visto que o PBF é um programa de alcance nacional e que é oriundo de verbas públicas. Para entender essa dinâmica, as publicações disponibilizadas pelo MDS foram essenciais, pois nelas é possível encontrar diversos estudos, como análises pontuais sobre um tema tão importante. Este estudo teve início com uma pesquisa bibliográfica, que foi desenvolvida a partir de diversas publicações em revistas e livros, dos mais variados pesquisadores, tais como Fleury, Campello, Höffling, Chang, entre outros. Na pesquisa quantitativa, buscou-se uma direção que mostrasse como funciona o PBF no município de Campo Mourão. Desta forma, os dados principais, que se referem aos valores pagos foram coletados junto ao Portal da Transparência do governo federal. Esses dados são fornecidos mediante filtros de pesquisa, e nesse trabalho, optou-se pela busca de todos os beneficiários do município, no período de 2013, 2015 e 2017. Optou-se por essa data devido o Portal da Transparência fornecer dados de até 5 anos anteriores para o PBF. Após a coleta inicial dos dados, devido ao número extenso de dados (são mais de 40 mil por ano), optou-se pelo tratamento estatístico dos mesmos. Com o propósito de facilitar a análise e interpretação, foi utilizado o método estatístico de agrupamento em classes, já que acordo com Karmel e Polasek (1972, p.63) “ o propósito da construção de uma distribuição de frequência é tornar evidente o que há de essencial nos dados e permitir o uso de técnicas analíticas para a sua descrição”. Para construção de uma tabela de frequência de classes, o primeiro passo é determinar a amplitude total dos dados (A), que pode ser encontrado da seguinte maneira: 30 𝐴 = 𝑋𝑚á𝑥 − 𝑋𝑚í𝑛 Onde, A= amplitude Xmáx = Maior valor dos dados Xmín = Menor valor dos dados. Para encontrar o número de classes (k), nesse trabalho foi utilizado o método de Struges, que é definido por: 𝑘 = 1 + 3,33 . log 𝑛 Onde, k = número de classes n = número total de dados. Após isso, é necessário encontrar a amplitude de classe dos dados (h), que é determinada pela seguinte fórmula: ℎ = 𝐴 𝑘 Onde, h = amplitude da classe de dados, A = Amplitude total k = número de classes encontrado Dado que o presente trabalho foi elaborado utilizando softwares de cálculo, para inserir o número de frequência (fi) de dados em cada intervalo estimado, utilizou-se a fórmula FREQUENCIA disponibilizada no aplicativo MS Excel. Para a frequência acumulada, que determina em percentual o quanto cada classe significa dentro da amostra, utilizou-se a seguinte fórmula: 𝐹𝑟 = 𝐹𝑖 𝑛 Onde, Fi = frequência n = número total de dados. 31 Também foram explorados nos dados os valores médios de recebimentos, que é expresso pela seguinte fórmula: 𝜒 = ∑ 𝑥 𝑛 Onde,X = média, ∑x = somatório dos elementos, n = número de elementos. Para compreender como se comportaram os valores discrepantes, utilizou-se o recurso visual do boxplot, que de acordo com Morettin e Bussab (2002): O boxplot dá uma ideia da posição, dispersão, assimetria, caudas e dados discrepantes. A posição central é dada pela mediana e a dispersão por dq. As posições relativas de q1, 12, q3 dão uma noção da assimetria da distribuição. Os comprimentos das caudas são dados pelas linhas que vão do retângulo aos valores remotos e pelos valores atípicos. ( MORETTIN e BUSSAB, 2002, P.48). Após o tratamento estatístico dos dados, optou-se por uma análise descritiva dos resultados, observando também os aspectos qualitativos dos dados recolhidos. O aspecto qualitativo é capaz de demonstrar principalmente como as pessoas se comportam e se relacionam, e nesse sentido Minayo (2012) defende: A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes (MINAYO, 2012, p.21). Além disso, de acordo com Marconi e Lakatos (2010), os métodos utilizados para compreensão e análise do trabalho, formam um misto, entre os métodos específicos para as ciências sociais, e entre eles, neste trabalho, se destacam o método histórico e o método monográfico. O método histórico consiste numa análise que investiga como nasceram os fenômenos, e como compreender melhor seus agentes e o método 32 monográfico “consiste no exame de aspectos particulares” de eventos ou situações que ocorrem na sociedade. (MARCONI e LAKATOS, 2010). 33 5 AVALIAÇÃO DO PBF NAS FAMILIAS DO MUNICÍPIO DE CAMPO MOURÃO Este trabalho tem por objetivo analisar o impacto do PBF no município de Campo Mourão e os dados e resultados apresentados se referem aos anos de 2013, 2015 e 2017 e foram coletados no Portal da Transparência do governo federal. 5.1 Total das Famílias beneficiadas pelo PBF no Município de Campo Mourão O município de Campo Mourão fica localizado no estado Paraná, na região geográfica Centro Ocidental Paranaense, com população estimada de 94.153 (noventa e quatro mil, cento e cinquenta e três) habitantes.2 No ano de 2013, o PBF atendeu no município de Campo Mourão, três mil setecentos e sessenta e cinco famílias no mês de dezembro, totalizando R$ 6.281.156,00 (seis milhões, duzentos e oitenta e um mil, cento e cinquenta e seis reais) em valores repassados aos beneficiários durante o ano, sendo o valor médio pago para os beneficiários R$ 133,80 (cento e trinta e três reais e oitenta centavos), conforme informa o Portal da Transparência do governo federal. Nesse mesmo período o valor do salário mínimo era de R$ 678,00, e o PIB do município, segundo o IBGE foi de R$ 2.541.139 3. Portanto, ao observarmos o montante repassado aos beneficiários do programa, pode-se perceber que o valor total anual do PBF em Campo Mourão em 2013 correspondeu a 0, 002% do PIB Municipal. Em 2015, ocorre um ligeiro aumento em relação ao número de famílias atendidas durante o ano, passando para três mil oitocentas e noventa e seis famílias atendidas no mês de dezembro, com o repasse anual totalizando R$ 7.156.959,00 (sete milhões, cento e cinquenta e seis mil e novecentos e cinquenta e nove reais), com um valor médio de recebimento do benefício no valor de R$ 153,66 (cento e cinquenta e três reais e sessenta e seis centavos). O salário mínimo do ano de 2015 foi de R$ 788,00, e o PIB do município foi de R$ 3.083.696,34. Já em 2017, nota-se uma diminuição no número de famílias atendidas, sendo três mil trezentos e trinta e sete famílias no mês de dezembro. O valor do repasse anual foi de R$ 6.990.823,00 (seis milhões, 2 Fonte: IBGE. Dados estimados pela fonte em 2017. 3 Fonte IPARDES. PIB a preços correntes (R$ 1.000,00) 34 novecentos e noventa mil, oitocentos e vinte e três reais), sendo a média do valor recebido por família R$ 162,98 (cento e sessenta e dois reais e noventa e oito centavos). Nesse ano, o salário mínimo foi estipulado em R$ 937,00. Para esse ano ainda não foi disponibilizado o PIB do município pelos órgãos responsáveis. 5.2 Efeitos provocados pelo benefício do PBF no Município de Campo Mourão Quando da coleta dos dados pode-se observar que os valores pagos pelo PBF são variados, e em 2013 o valor do benefício básico era de R$ 70,00, no ano de 2015 e 2017 o benefício básico era R$ 77,00 e R$ 85,00 respectivamente, mas, como algumas famílias vivem em situação de maior vulnerabilidade, o valor do pagamento também é variável, podendo inclusive ser menor que o valor estipulado no teto, tendo em vista que algumas famílias não recebem o benefício básico, apenas o variável. Nota-se na tabela 1 a seguir que dentre as famílias beneficiadas, a maior parte dos beneficiários, recebeu valores consideravelmente baixos, sendo a primeira faixa de classificação a que alcançou a escala de praticamente 50% de todos os pagamentos, em todos os anos analisados, fato que poderá ser observado nas tabelas referentes aos próximos períodos. Tabela 1 - Valores pagos pelo PBF em Reais no ano de 2013 em Campo Mourão. Faixas de valores pagos pelo BF em R$ Total de Pagamentos % 32 - 120 21851 46,547 121-209 19664 41,888 210-298 4277 9,111 299-387 755 1,608 388-476 304 0,648 477-565 57 0,121 566-654 19 0,040 655-743 11 0,023 744-832 4 0,009 833-921 1 0,002 922-1010 0 0,000 1011-1099 0 0,000 1100-1188 0 0,000 1189-1277 0 0,000 1278-1366 0 0,000 1367-1456 1 0,002 Total geral 46944 100 Fonte: Elaborado pela autora com dados do MDS. 35 No ano de 2013, pode-se notar que as famílias que receberam de R$ 32,00 a R$ 120,00 compõem aproximadamente 47% dos beneficiários totais do município. A faixa de benefícios entre R$ 121,00 e R$ 209,00 ocupa a segunda posição, com aproximadamente 42% dos beneficiários. Os 11% restantes são referentes aos demais valores de benefício, acima de R$ 209,00. O MDS fornece a média do valor do benefício pago como sendo de R$ 133,80, e de acordo com os dados coletados, de 46.944 pagamentos durante o ano, 22.257 pagamentos foram com valores de até R$ 133,80, o que representa aproximadamente 48% de todos os benefícios pagos. Observando o valor do salário mínimo vigente naquele ano, o valor médio de pagamento do benefício correspondeu a aproximadamente 20% do valor do salário, porém nem todas as famílias receberam o benefício básico, pois estas não se enquadraram na faixa de extrema pobreza, portanto estas receberam somente o benefício variável no valor R$ 32,00, que corresponde a 6% do valor do salário mínimo e para este valor foram realizados 3.040 pagamentos durante o ano. Vale ressaltar, que dentre os 11% dos pagamentos que se enquadram numa faixa de valores maior que R$ 209,00, totalizam 5.429 pagamentos, onde, existe um valor altamente discrepante, no valor de R$ 1.444,00, que pode ser observado no gráfico 2,cuja representação visual é em formato de boxplot, que visa demonstrar de forma estatística como os valores da amostra estão distribuídos. O ponto em vermelho demonstra onde se localiza o valor discrepante e o quão distante ele se encontra dos valores médios, que no gráfico é representado pelo quadrado: 36 Gráfico 1 - Boxplot – Valores Discrepantes para o ano de 2013 em Campo Mourão. Fonte: Elaborado pela autora, com dados do MDS. Em consulta a Secretaria de Ação Social de Campo Mourão, a assistente social encarregada do Cadastro Único informou que esses valores são anormais e que podem ocorrer devido ao bloqueio preventivo para comprovar dados ou verificar descumprimento de condicionalidades, e que após 90 dias a pessoa beneficiária efetuou um saque maior, referente aos meses em que permaneceu bloqueada. Também foi possível verificar que dentre as famílias atendidas, destas, 2.962 famílias efetuaram doze saques do benefício e 383 famílias receberam somente uma parcela do benefício durante o ano todo. Em 2015, o valor do benefício básico foi reajustado para R$ 77,00 (setenta e sete reais) e conforme demonstrado na tabela 2, se verifica que, diferente do ano de 2013, a maior concentração de pagamentos ocorreu na segunda faixa de valor do benefício que vai de R$ 137,00 a R$ 238,00, sendo realizados 22.947 pagamentos para essa faixa, o que correspondeu a aproximadamente 50% dos pagamentos realizados no ano. Já na primeira faixa de pagamentos que vai de R$ 35,00 a 136,00 foram realizados 19.354 pagamentos, o que correspondeu a 41% do total de pagamentos do ano. Os 9% de pagamentos restantes estão distribuídos entre as demais faixas de pagamento, com valor maior que R$ 238,00. Como valor médio para os pagamentos, temos valor de R$ 153,66 (cento e cinquenta e três reais e sessenta e seis centavos) e foram realizados 27.213 pagamentos até o valor médio. 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 Valores BF 37 Comparado ao salário mínimo vigente no ano de 2015, o valor médio do benefício correspondia aproximadamente a 19% do salário mínimo. Entretanto, deve-se observar também, que embora o valor do benefício básico fosse de R$ 70,00, algumas famílias receberam somente benefício variável no valor de R$ 35,00, portanto, houve 1.586 pagamentos durante o ano cujo valor do benefício correspondeu a 4% do valor do salário mínimo. Tabela 2 - Valores pagos pelo PBF em Reais no ano de 2015 em Campo Mourão. Valores pagos pelo BF em R$ Totais de pagamentos % 35-136 19354 41,554 137-238 22947 49,268 239-340 3207 6,886 341-442 700 1,503 443-544 314 0,674 545-646 29 0,062 647-748 15 0,032 749-850 3 0,006 851-952 4 0,009 953-1054 1 0,002 1055-1156 0 0,000 1157-1258 0 0,000 1259-1360 0 0,000 1361-1462 0 0,000 1463-1564 0 0,000 1565-1667 2 0,004 Total geral 46576 100 Fonte: Elaborado pela autora, com dados do MDS. Assim como em 2013 também houve valores discrepantes, inclusive superiores ao valor do salário mínimo, entretanto conforme também explicado para o ano de 2013, esses valores são decorrentes devido ao bloqueio de benefícios por descumprimento de condicionalidades ou para apuração de informações e são sacados posteriormente, acumulados por até 90 dias. Podemos observar na representação visual do boxplot, no gráfico 4, que o ponto vermelho indica o valor dos valores discrepantes e também a distância desse valor em relação aos valores médios recebidos pelos beneficiários. 38 Gráfico 2 - Boxplot – Valores Discrepantes para o ano de 2015 em Campo Mourão. Fonte: Elaborado pela autora, com dados do MDS. Além desses comparativos, também se pode observar que, em 2015, houve 2.929 famílias que receberam o benefício durante os 12 meses, enquanto 305 famílias receberam somente uma parcela do benefício durante o ano. Em 2017, conforme pode-se observar na tabela houve uma redução no número de famílias atendidas e consequentemente se reduziu o número de pagamentos totais no ano, para 42.893 pagamentos. Destes, 19.352 pagamentos foram para benefícios na primeira faixa de valores, de R$ 39,00 até 126,00, o que representou 45% de todos os pagamentos realizados durante o ano. Lembrando que o valor do benefício básico em 2017 passa a ser de R$ 85,00, entretanto nem todas as famílias recebem esse valor, pois algumas não se encaixam no perfil de extremamente pobres, ou não atingem os critérios necessários para receber o benefício básico e variável juntos. A segunda faixa de pagamentos representou aproximadamente 33% dos valores totais pagos durante o ano, e os pagamentos variaram de R$ 127,00 a R$ 214,00. Diferente dos outros anos, a terceira faixa de pagamentos passou a ter uma expressividade maior, e em 2017 aproximadamente 13% dos benefícios pagos integraram essa faixa de pagamento, que foi de R$ 215,00 a R$ 302,00, 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 Valores BF 39 o que correspondeu a 5.620 pagamentos realizados durante o ano. As demais faixas de pagamento corresponderam a 9% dos pagamentos realizados durante o ano. O valor médio dos pagamentos, para o ano de 2017, foi de R$ 162,98 (cento e sessenta e dois reais e noventa e oito centavos) e nesse ano foram realizados 20.920 pagamentos com valores até a média global. Se comparado com o valor do salário mínimo vigente no ano de 2017, o valor médio do benefício correspondeu a aproximadamente 17% do valor do salário mínimo. Entretanto, vale salientar que durante o ano, 3.989 pagamentos foram feitos com o valor mínimo, que foi de R$ 39,00, portanto, para essas famílias, o benefício correspondeu a aproximadamente 3% do valor do salário mínimo. Tabela 3 - Valores pagos pelo PBF em Reais no ano de 2017 em Campo Mourão. Valores pagos pelo BF em R$ Total de pagamentos % 39-126 19352 45,117 127-214 14339 33,430 215-302 5620 13,102 303-390 2233 5,206 391-478 866 2,019 479-566 307 0,716 567-654 149 0,347 655-742 15 0,035 743-830 3 0,007 831-918 1 0,002 919-1006 1 0,002 1007-1094 2 0,005 1095-1182 2 0,005 1183-1270 1 0,002 1271-1358 0 0,000 1359-1447 2 0,005 Total geral 42893 100 Fonte: Elaborado pela autora, com dados do MDS. Em 2017, também se observam alguns valores discrepantes, com pagamentos realizados em faixas acima de R$ 1.000,00, como pode ser observado no gráfico a seguir: 40 Gráfico 3 - Boxplot – Valores discrepantes para o ano de 2017 em Campo Mourão. Fonte: Elaborado pela autora, com dados do MDS. Também vale a pena demonstrar que no ano de 2017, houveram 2.561 famílias que receberam 12 benefícios durante o ano, enquanto 227 famílias receberam efetuaram apenas 1 saque do benefício durante todo o ano. 5.3 Impactos do PBF Como forma de medir a eficácia das ações executadas pelo município no que diz respeito ao PBF, o MDS utiliza o Índice de Gestão Descentralizada para os Municípios (IGD-M), que varia de 0 a 1 e quanto mais próximo de 1, melhor é a gestão realizada pelo município. O MDS define o IGD-M como um índice que: mede a qualidade das ações realizadas pelo município nas ações de cadastramento, de atualização cadastral e de acompanhamento das condicionalidades de educação e saúde. Também verifica se o município aderiu ao Sistema Único de Assistência Social (Suas) e se as gestões e os Conselhos municipais registraram, no Sistema SuasWeb, as informações relativas à prestação de contas.No cálculo do índice, são consideradas ainda a quantidade de registros de Acompanhamento Familiar realizados pelo município no Sistema de Condicionalidades (Sicon) e a data da última atualização dos dados referentes à gestão municipal realizada no Sistema de Gestão do Programa Bolsa Família (SIGPBF). (MDS, 2018) 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 Valores BF 41 Pode-se considerar que o município de Campo Mourão teve um bom desempenho nas avaliações do MDS, pois teve IGD-M de 0,85 no ano de 2013, 0,80 no ano de 2015 e 0,85 no ano de 2017. Assim, para que a família beneficiária do PBF se mantenha no programa é necessário atender diversas condicionalidades na área da saúde e da educação e o MDS justifica essa “imposição” do cumprimento das condicionalidades para que o beneficiário tenha reforçado o acesso a esses direitos básicos. Como exposto anteriormente, as condicionalidades consistem basicamente em que as crianças e jovens da família beneficiada frequentem a escola e estejam com vacinação em dia. No município de Campo Mourão, no que diz respeito a condicionalidade Educação, em 2013, de 4.197 crianças cujas famílias correspondiam a esse perfil, foram acompanhadas 3.942 crianças com idade de 06 a 15 anos (93%). Destas, 3.781 crianças estiveram acima da média de 85% de frequência escolar, 161 crianças ficaram abaixo dessa média de frequência e 255 crianças não foram acompanhadas, conforme pode-se observar no gráfico 4, uma representação em gráfico de pizza com os números de acompanhamentos para melhor visualização do leitor. Gráfico 4 - Acompanhamento da condicionalidade frequência escolar no ano de 2013 em Campo Mourão. Fonte: Elaborado pela autora, com dados do MDS. Total de beneficiários acompanhados com frequência acima da exigida ( 6 a 15 anos - 85%)-2013 Total de beneficiários acompanhados com frequência abaixo da exigida ( 6 a 15 anos- 85%)-2013 Total de beneficiários sem informação de frequência escolar (6 a 15 anos)-2013 42 No ano de 2015 houve redução no número de crianças, passando a 3.465 crianças com perfil de acompanhamento escolar e o município acompanhou 3.241, o que correspondeu a 93% do total, assim como em 2013. Destas, 3.110 crianças com idade escolar de 06 a 15 anos tiveram frequência escolar acima da média de 85% e 131 crianças tiveram frequência escolar abaixo da média de 85% e 224 crianças não foram acompanhadas, que também pode ser visualizado no gráfico 5, em formato de pizza com dados dos acompanhamentos efetuados durante o ano de 2015. Gráfico 5 - Acompanhamento da condicionalidade frequência escolar no ano de 2015 em Campo Mourão. Fonte: Elaborado pela autora, com dados do MDS. Já no ano de 2017 houve uma redução ainda maior no número de crianças com perfil de acompanhamento escolar, passando a ser 2.863 crianças e foram acompanhadas 2.727 destas, o que correspondeu a 95% do total, um número maior que nos períodos anteriores. Destas, 2.669 crianças com idade escolar de 06 a 15 anos tiveram frequência escolar acima da média de 85%, 58 crianças tiveram frequência escolar abaixo da média de 85% e 136 crianças não foram acompanhadas, conforme demonstrado no gráfico 6 a seguir, para melhor visualização dos dados. Total de beneficiários acompanhados com frequência acima da exigida ( 6 a 15 anos - 85%)-2015 Total de beneficiários acompanhados com frequência abaixo da exigida ( 6 a 15 anos- 85%)-2015 Total de beneficiários sem informação de frequência escolar (6 a 15 anos)-2015 43 Gráfico 6 - Acompanhamento da condicionalidade frequência escolar no ano de 2017 em Campo Mourão. Fonte: Elaborado pela autora, com dados do MDS. No que concerne a condicionalidade de Saúde, o MDS também fornece os dados de acompanhamento das famílias beneficiadas pelo PBF. No ano de 2013 haviam 3.670 famílias com perfil para acompanhamento na área na saúde, e destas foram acompanhadas 3.428 famílias, o que correspondeu a aproximadamente a 93,4% do total. Neste ano foram acompanhadas 33 gestantes, todas com pré-natal em dia, houve 2.021 crianças vacinadas e somente uma criança não estava com vacinação em dia durante o ano. Também, houve o registro de informações nutricionais de 1.121 crianças. Neste período, 152 famílias não foram acompanhadas. Em 2015 houve uma redução de 1% no número de famílias, passando para 3.651 famílias com perfil para acompanhamento na área na saúde, entretanto a taxa de acompanhamento aumentou para 97% do total, sendo acompanhadas 3.541 famílias. Em 2015 também ocorre um aumento no número de gestante acompanhadas: são registrados 88 acompanhamentos de gestantes e 87 com pré-natal completo, o que resultou em uma variação percentual de mais de 160% de acompanhamentos de gestantes nessa ano, em relação a 2013. São acompanhadas 2.399 crianças, todas estas com registros das informações nutricionais, sendo que 2.397 estiveram com a vacinação em dia Total de beneficiários acompanhados com frequência acima da exigida ( 6 a 15 anos - 85%)-2017 Total de beneficiários acompanhados com frequência abaixo da exigida ( 6 a 15 anos- 85%)-2017 Total de beneficiários sem informação de frequência escolar (6 a 15 anos)-2017 44 nesse ano, o que apresentou um crescimento de 109% no que diz respeito a crianças acompanhadas e 19% para as crianças vacinadas Não foram acompanhadas 110 famílias nesse ano, sendo houve uma diminuição de 28% no número de famílias que não foram acompanhadas. O que se nota é que no ano de 2015, embora haja uma diminuição no número de famílias com perfil para acompanhamentos de condicionalidades saúde, foi efetuado um trabalho mais eficiente que ampliou a extensão de acompanhamento, vide as variações percentuais se comparadas com o ano de 2013. Em 2017, ocorre uma diminuição ainda mais expressiva em relação ao número de famílias com perfil para acompanhamento, passando para 3.164 famílias, aproximadamente 13% menos famílias em relação a 2015. Entretanto também há uma queda de 16% no número de famílias acompanhadas, passando para 2.967 famílias acompanhadas. Em relação a 2015 houve um aumento de 89% no número de gestante acompanhada, sendo que todas as 167 gestantes também fizeram pré-natal completo. Foram acompanhadas 2.112 crianças, o que demonstra uma diminuição de 11,96% em relação ao ano de 2015, destas todas tiveram vacinação em dia, e 2.109 crianças tiveram seus registros nutricionais acompanhados. Neste ano, 190 famílias não foram acompanhadas, o que representou um aumento de 72% em relação a 2015. Vale ressaltar também o acompanhamento em relação às crianças em situação de trabalho infantil. Em 2015 haviam 19 famílias com crianças em situação de trabalho infantil, e em 2017 esse número caiu para 16 famílias. Para o ano de 2013 não houve foram encontrados dados com registros desse tipo de acompanhamento. 5.4 Repercussões em relação ao descumprimento de condicionalidades O acompanhamento do cumprimento das condicionalidades de educação ocorre cinco vezes ao ano, de forma bimestral, sem contar dezembro e janeiro que são os meses de férias. Para a área de saúde são recolhidos dados a cada seis meses. 45 Quando do acompanhamento das famílias, é observado que algumas não cumprem as exigências necessárias para se manter no programa e com isso são impostas sanções à essas famílias, que podem ir desde advertências até o cancelamento do benefício. O MDS explica como funciona a questão de aplicação das sanções: Para a progressão de um efeito para o seguinte, considera-seo intervalo de seis meses. Por exemplo, caso uma família tenha sido advertida, em março de 2014, e venha a incorrer em um novo descumprimento, em período inferior ou igual a seis meses (ou seja, até setembro de 2014), o efeito progride para bloqueio. Mas, se o novo descumprimento ocorrer em prazo superior a seis meses, o efeito será a advertência, isto é, reinicia-se a aplicação gradativa dos efeitos. O prazo de seis meses, no entanto, não vale para a progressão da suspensão para o cancelamento, que obedece a regras específicas. (MDS, 2018). Todavia, é possível recorrer das sanções quando couberem justificativas para o descumprimento das condicionalidades e o beneficiário pode entrar com recursos para reverter a penalidade. Também são revistos os casos em que houve erro por parte do órgão fiscalizador, e as famílias tem seus benefícios devolvidos. Conforme observado na figura 3, são cumpridos diversos passos quando ocorrem descumprimentos de condicionalidades, que vão da advertência até o cancelamento do benefício. Portanto, a família beneficiária tem a chance de corrigir o problema e comunicar os órgãos responsáveis, antes de ocorrer o cancelamento. Figura 3 - Repercussões das condicionalidades. Fonte: MDS, 2018. 46 No ano de 2013 houveram 144 repercussões por descumprimento das condicionalidades de saúde e educação, sendo compostas por 72 advertências, 41 bloqueios e 31 com 1ª suspensão. Todos os 31 casos de bloqueios resultaram em cancelamento do benefício. Além dos impactos no benefício como um todo, para as famílias que recebem o Benefício Variável Jovem também é preciso cumprir a condicionalidade de frequência escolar. Em 2013, houveram 75 casos de descumprimento da condicionalidade de frequência escolar, entretanto nenhum bloqueio foi ocasionado por descumprimento nessa modalidade do benefício. No ano de 2015 ocorrem 171 repercussões por descumprimento das condicionalidades de saúde e educação, sendo que destas, 106 foram advertências, 43 bloqueios e 22 tiveram a 1ª suspensão. Todavia, não houve nenhum cancelamento de benefício nesse ano. Para as famílias com Benefício Variável Jovem, foram registrados 110 casos de repercussões por descumprimento da condicionalidade de frequência escolar, e destes, somente 1 cancelamento. Em 2017 ocorreram 72 repercussões por descumprimento das condicionalidades saúde e educação, que foram: 30 advertências, 23 bloqueios 19 com 1ª suspensão. Assim como em 2015 também não houve cancelamentos. Já sobre o benefício variável jovem, ocorreram 82 repercussões sobre descumprimento da condicionalidade de frequência escolar, entretanto não houve cancelamentos. 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após analisar os dados e observar qual a dinâmica das famílias beneficiadas no município de Campo Mourão, pode-se concluir que de forma geral, o PBF tem cumprido com sua função social proposta, que é o combate a pobreza e a extrema pobreza no Brasil. Um ponto que merece destaque se relaciona ao fato da transparência com que o programa é tratado, sendo possível para qualquer cidadão efetuar consultas sobre os valores pagos e diversos outros aspectos que englobam o programa. Uma outra coisa interessante se relaciona com a questão da gestão do programa, onde o governo federal busca cada vez mais alternativas para coibir fraudes, assim, o programa beneficia famílias que realmente necessitem. Para além disso, os dados analisados demonstram que para a maioria dos beneficiários do PBF, o valor do benefício recebido atua muito mais como um complemento de renda, haja visto que a maioria das famílias do município de Campo Mourão recebem valores substancialmente menores que o valor do salário mínimo vigente, para todos os anos analisados, além disso muitas famílias receberam somente o valor mínimo do benefício. Uma vez observado o número de famílias beneficiadas versus o número de ocorrências de descumprimento de condicionalidades, pode-se concluir que há, no geral, o cumprimento por parte dos beneficiários, e que a determinação de cumprimento de condicionalidades colabora para que as famílias pobres e extremamente pobres tenham acesso a saúde e educação, o que pode prevenir doenças e promover o acesso a tratamento médico e em caso de doenças, aumenta a chance de diagnóstico precoce, e por consequência, o tratamento precoce destas. Também ocorre a melhoria e o incentivo no acesso à educação de crianças cujas famílias são de baixa renda. Essas ações previnem e coíbem os casos de trabalho infantil e evasão escolar. Assim, nota-se que no geral, o PBF tem cumprido sua função social no município de Campo Mourão, que é o de combater a pobreza e a extrema pobreza e ao mesmo tempo promover um acesso maior de cidadania aos beneficiários do programa. 48 REFERÊNCIAS BARTHOLO, L. et al. Bolsa Família, Autonomia Feminina e Equidade de Gênero: o que indicam as pesquisas nacionais? In: ______ Texto para discussão 2331. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, 2017. Disponivel em: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8051/1/td_2331.PDF>. Acesso em: mai 2018. BARTHOLO, L. et al. Integração de registros Administrativos para Políticas de Proteção Social: Contribuições a partir da experiência brasileira. In: ______ Texto para dicussão 2376. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, 2018. Disponivel em: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8297/1/TD_2376.PDF>. Acesso em: mai 2018. BONETI, L. W. Políticas públicas por dentro. Ijuí: Unijuí, 2007. BRASIL. DECRETO Nº 5.209 DE 17 DE SETEMBRO DE 2004. Regulamenta a Lei no 10.836, de 9 de janeiro de 2004, que cria o Programa Bolsa Família, e dá outras providências., Brasília, DF, set 2004. Disponivel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5209.htm>. Acesso em: fev 2018. BRASIL. LEI No 10.836, DE 9 DE JANEIRO DE 2004. Cria o Programa Bolsa Família e dá outras providências., Brasília, DF, jan 2004. Disponivel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.836.htm>. Acesso em: abr 2018. BRASIL. DECRETO Nº 7.872, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2012. Regulamenta a Lei nº 12.382, de 25 de fevereiro de 2011, que dispõe sobre o valor do salário mínimo e a sua política de valorização de longo prazo., Brasília, DF, dez 2012. Disponivel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011- 2014/2012/Decreto/D7872.htm>. Acesso em: ago 2018. BRASIL. DECRETO Nº 8.381, DE 29 DE DEZEMBRO DE 2014. Regulamenta a Lei nº 12.382, de 25 de fevereiro de 2011, que dispõe sobre o valor do salário mínimo e a sua política de valorização de longo prazo., Brasília, DF, dez 2014. Disponivel em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVil_03/_Ato2011- 2014/2014/Decreto/D8381.htm>. Acesso em: ago 2018. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social - MDS. Disponivel em: <http://mds.gov.br/>. Acesso em: 2018. BRASIL. Portal da Transparência. MINISTÉRIO DA TRANSPARÊNCIA E CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO. Disponivel em: <http://www.portaltransparencia.gov.br/beneficios>. Acesso em: 2018. 49 BRASIL. Relatório de Informações Sociais. Ministério do Desenvolvimento Social - MDS. Disponivel em: <https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/index.php>. Acesso em: 2018. BRESSER-PEREIRA, L. C. Instituições, bom estado em reforma da gestão pública. In: CIRO BIERDMAM, P. A. Economia do setor público no Brasil. 10ª reimpressão. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Cap. 1. BRICHIR, R. M. Capacidades estatais para a implementação de programas de transferência de renda: os casos de Brasil, Argentina
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