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kissinger cap 12

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Universidade Federal de Uberlândia
Instituto de Economia
Graduação em Relações Internacionais
História das Relações Internacionais II
Docente: Erwin Pádua Xavier
Resenha Grupal: KISSINGER, Henry. Diplomacia. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves / UniverCidade Editora, 1999. P(248-274). Cap. 12.
Uberlândia
2016
O fim da ilusão: Hitler e a destruição de Versalhes
Embora não tenha sido grande político ou estrategista, também isolado e não uma mente muito brilhante em comparação com grandes filósofos políticos do século XVIII, a ascensão de Hitler ao governo da Alemanha em 1933 é um marco para aquilo que se veria como uma das maiores “calamidades na história do mundo”. Que o tratado de Versalhes era uma grande ilusão, comparado a um castelo de cartas e passível de ruir a qualquer menor intensidade do soprar do vento, ao mínimo se desconfiava, porém o inesperado era o quão inesperado era a forma com que se daria.
Hitler foi peça fundamental para o cheque mate da ordem existente. Sua retórica, capacidade persuasiva e talento para lidar com as emoções humanas, principalmente com suas fraquezas levaram-no e a Alemanha com ele angariar admiradores de todas as partes do mundo, nos primeiros cinco anos de governo especialmente, foi mestre em administrar o sentimento de culpa das potências vencedoras da Primeira Guerra Mundial, e trabalhou para que suas reais intenções fossem mascaradas com a finalidade de colocar a Alemanha a pé de igualdade com os países da Europa.
Os monólogos que fazia sobre si, sobre o impacto da primeira guerra mundial, e a predestinação alemã para a grandeza já haviam convencido ele próprio e continuaram a convencer muitos até após a Segunda Guerra Mundial. Hitler nunca se achava satisfeito com suas vitórias, era impulsivo, e conforme seus cálculos de saúde, por se esperar uma vida curta, baseou o desencadear da guerra e suas estratégias conforme tais diagnósticos, o que pode ser demonstrado nas táticas militares onde eram esbanjados a montante recurso alemão. Contudo, apesar de sua habilidade demagógica, seu sucesso deveu-se muito por insucessos anteriores, e janelas de oportunidades bem abertas.
Essas janelas, foram as negociações de Versalhes e Locarno que deixaram muitos países do leste enfraquecidos à mercê de uma grande potência, o que, inclusive, poderia levar a uma influência pacífica da Alemanha em tais países, tornou-se em guerra mundial em função de uma desestabilizada personagem. Inicialmente, ninguém sabia as intenções de Hitler, e na verdade, até em 1938, os governos das democracias não desejaram acreditar no desejo dele de derrubar a ordem existente, embora ele tenha mencionado ocasionalmente. Da nomeação de chanceler para ditador foi um prazo curto, e, em 30 de junho de 1934 após assassinar opositores, tomou efetivamente posse da Alemanha.
Isso desencadeou por partes das democracias ocidentais um processo mais acelerado de desarmamento, a Grã-Bretanha estava determinada a tal objetivo, pois, era certa de que se Alemanha rompesse o acordo de desarmamento, haveria como se esperava uma ação conjunta para impedi-la, à margem do canal da mancha a França estava com os mesmos medos de 1921. Com a Alemanha rearmada e a Grã-Bretanha confiando na opinião pública, sua segurança não tinha garantias, o que a França não entendia no entanto era, se a Grã Bretanha está tão confiante no pacto das nações e segurança coletiva, na barreira que se oporia a um Estado violador, por que não se comprometer?
Porém, a garantia de defesa a um Estado em específico era justamente duvidar da solução proposta e indiretamente provocar a Alemanha, e a opinião pública respaldava, se não há motivos, não há ações. Os governos, fora a França, claro, acreditavam que quando a Alemanha alcançasse a paridade, estaria satisfeita, entretanto, Hitler rapidamente demonstra suas intenções, se retira da conferência de desarmamento em 1933 e proclama um rearmamento em 1934. Com tudo isso ainda, não sofreu nenhuma retaliação.
Por Hitler esconder suas reais intenções à medida que propunha limitar o exército, compromissos com a paz, tratados de não agressão e devido à ordem imperante, seja essa, que incentivava a confiança mútua e uma moral coletiva, era inviável uma ação preventiva. A França, no entanto, recusa as ofertas da Alemanha, e a Grã-Bretanha tomando uma decisão oposta à tomada em todos os séculos desde seu surgimento, procura a maior integração dos países e acelerar seu desarmamento, pois isso sob sua perspectiva, mostrava o exemplo à ser seguido, para manter a paz. A paz naquele momento era mais importante e mais eficaz que uma corrida armamentista, ou o contrabalanceamento de poder que frequentemente levava à guerra.
A incerteza era tamanha que a Grã-Bretanha e a França mesmo com medo por sua segurança, deixam prosseguir o rearmamento alemão sem retaliações, esta última, se resigna e contenta com o adiamento da guerra por não a desencadear se Hitler não estivesse sendo sincero. Ambos os países tentavam perscrutar as intenções do dirigente alemão, porém essas não eram aparentes e limitavam suas ações, é usual que a única coisa em que os homens são bons é entender a posteriori o que deveriam ter feito quando todos os fatos estão diante de si.
Porque o princípio de segurança coletiva necessitava de um causus belli, ou uma agressão de fato pela Alemanha, o preço da inação foi grande. Foi claro que se os Estados lembrassem da realpolitik que demonstrava a realidade de ser necessário o contrabalanceamento de poder, especialmente da Alemanha para com os países do leste europeu mais fracos, o resultado poderia ter sido outro. O próprio chefe de propaganda de Hitler considerou o resultado do que a Alemanha se tornara como a hesitação dos aliados ocidentais.
No entanto, mesmo com os movimentos de rearmamento de 1934 e a marcha feita para a militarização da Renânia serem vistos com incerteza, ainda assim, os dirigentes das democracias decidiram enxergarem com olhos de culpa: o desejo da Alemanha é voltar a pé de igualdade com os outros Estados europeus e se integrar à ordem de Versalhes. Churchill, era isoladamente aquele que os lembrava da realpolitik, e que chegou a aconselhar à Grã-Bretanha retaliar o rearmamento alemão com medidas mais intensas, porém foi visto com escárnio. A Grã-Bretanha subestimou a potência militar da Alemanha e o primeiro-ministro britânico chegou a declarar que era incomparável à força de seu país com qualquer outra do continente.
A França tentou garantir sua segurança através de alianças. Os tratados de defesa mútua foram firmados com países tão fracos militarmente e tão longes do território francês estrategicamente que havendo guerra, a força destes combinados não faria diferença. Por outro lado, a ajuda francesa em caso de confrontos seria de grande ajuda para estes. A Polônia, signatária, ainda fez um pacto de não agressão com a Alemanha em caso de guerra com a França, ou seja, eram tratados vazios e patéticos.
O desespero por garantias, fez com que a França fizesse alianças fracas ou/e ambivalentes, assim foi com a União Soviética, em que firmou aliança política, porém rejeitou negociações militares. Os motivos para tal orientação dos governantes franceses eram que uma aliança demasiado integrada com a antiga Rússia fosse enfraquecer sua relação com a Grã-Bretanha, também, os países aliados do leste não autorizavam a entrada do exército soviético em seus territórios por não se considerarem preparados estruturalmente, e em final, o medo que a menor aproximação com a União Soviética significasse uma declaração de guerra à Alemanha.
A oportunidade de uma ação contra o poder alemão partiu de Mussolini e seu medo da anexação do Tirol pela Alemanha. Isso levou que a Itália, França e Grã-Bretanha se reunissem para discutir possíveis ações se hipoteticamente, a Alemanha violasse o tratado de Versalhes, o Duce italiano, uma vez contrário a Versalhes, agora, seu defensor. Quando se reúnem em Stresa, tem-se a última conversa entre vencedoresda Primeira Guerra Mundial, a partir de então a Grã-Bretanha firma aliança com Alemanha, levando a uma atitude total contraditória, conciliando o adversário em detrimento de seus aliados.
Quando Mussolini volta sua ação para a conquista da Abissínia rompe-se a frente de Stresa, devido à ordem ser contra agressões, o que seria tratado como conquista colonial nos anos anteriores a Primeira Guerra Mundial agora seria tratada de forma deliberativa. Um agravante é que a Abissínia fazia parte da Sociedade das Nações, por isso tal agressão foi considerada duplamente incorreta e causou a ruptura da aliança entre a França, Grã-Bretanha e Itália. Essa ruptura não foi vista como grande perda estratégica, pois a verdade é que se a Itália fosse uma força relevante para impedir tanto a anexação da Áustria ou a militarização da Renânia, certamente França e Grã-Bretanha não romperiam sua aliança, contudo, em razão da União Soviética não estar contrabalanceando nada por aqueles dias, a Itália tinha sua significância. 
A alternativa de melhor monta seria a Sociedade das Nações, e para que houvesse credibilidade na instituição era necessário fazer algumas modificações, como a aplicação de fato das sanções econômicas. Mas, as direções tomadas foram erradas, desejava-se impossibilitar a guerra. A Grã-Bretanha, responsável pelo mecanismo das sanções, deveria ter incapacitado a Alemanha de arrecadar recursos, isso não foi feito, ao contrário, aplicaram-se sanções à Itália, que de qualquer forma, não prejudicou a tomada da Abissínia em 1936.
O insucesso da Sociedade das Nações em relação à tomada da Manchúria pelo Japão, Abissínia pela Itália só vinha a desmoralizar a eficiência da instituição. Quando se tem o reconhecimento da conquista da Abissínia duas consequências se têm, a segurança coletiva tem seu fim e abre-se uma janela de oportunidade, com a Itália fora da frente de Stresa e aproximando relações com os germanos, era a fresta da qual Hitler necessitava para dar prosseguimento aos seus planos em relação a Áustria.
Por ter a capacidade como nenhum outro de se aproveitar das fraquezas, não só humanas, mas estratégicas de seus adversários, ocupa a Renânia à tempo conveniente: a Sociedade das Nações estava demasiado desinteressada em resolver outro impasse, a Grã-Bretanha não estava desejosa de se envolver em um confronto onde seus interesses e fronteiras não estavam sendo violados e a França resignada, à espera do destino atrás de sua linha de defesa, Maginot.
Hitler ao enviar o exército para a Renânia, ordenou que à primeira vista de intervenção francesa eles recuassem, porém, a França não entraria em confronto com a Alemanha sozinha. Primeiro, não tinha condições estruturais para sustentar um conflito unilateralmente, segundo e mais importante, ela não começaria uma guerra por uma ação militar preventiva. A questão é que a França não se mobilizou nem internamente para uma possível invasão, a hipótese é que seu estado de espirito estava abalado, isso se expressava nas alianças patéticas e se expressou na interrupção da linha Maginot na fronteira belga, e o que se resultou em péssimo negócio, principalmente por ter gasto durante um tempo considerável. Frequentemente na França, o poder Alemão era superestimado, isso também contribuía para que minasse a confiança francesa.
Diante das circunstâncias, a Grã-Bretanha novamente passou a analisar as relações entre os países por meio da ótica do equilíbrio de poder e permaneceu fiel ao seu tradicional posicionamento de não estabelecer alianças fixas, o que determinantemente perpetuou a apreensão francesa. Dessa forma, a única ação capaz de provocar uma efetiva movimentação britânica era a violação das fronteiras francesas, desconsiderando assim a reocupação da Renânia, na prática considerada desnecessária pelos britânicos, o que explica a explicitação de seu condicionante de mobilização após o fato. Uma outra ressalva determinava que o comprometimento não seria honrado caso a França declarasse guerra à Alemanha para defender a Polônia ou a Checoslováquia.
Ademais, o que estava sendo feito pela Alemanha era considerado apenas uma reocupação de um território nacional de direito pelo princípio de autodeterminação dos povos e cumpria, aparentemente pelo posicionamento do governo de Hitler, parte do acordo de desarmamento, pois apesar de aumentar o número de soldados efetivos, demonstrava não ser uma ameaça à ordem internacional. 
 Tal posicionamento inglês pode ser justificado pelo fato de que a Grã-Bretanha considerava o Tratado de Versalhes injusto demais para com a Alemanha e acreditava que o desarmamento era necessário para a garantia da paz, bem como a reconciliação e a reincorporação dos alemães no sistema.
O que a história mostraria com o passar do tempo é que o cálculo britânico estava errado, pois a Renânia foi fortemente rearmada deixando a Europa Central à mercê alemã e a Itália estava a ponto de oficialmente se tornar uma aliada de Hitler. Esses aspectos fizeram com que a França, em função de acordos anteriormente estabelecidos, possuísse duas frentes para defender, o que foi analisado criteriosamente pela Grã-Bretanha ao propor uma ambígua garantia que constrangia a França a preocupar-se apenas com suas próprias fronteiras, pois caso ela se envolvesse na defesa do leste oriental não receberia ajuda britânica.
Na Europa o apaziguamento era o condutor das ações dos Estados, bem como a correção das injustiças de Versalhes. O ápice dessa política foi demonstrado por Lord Halifax que explicitou que a Grã-Bretanha aceitava ajustamentos em Danzig, Áustria e Checoslováquia dependendo do método pelo qual as mudanças fossem realizadas. Sendo que em realidade o que leva um país à guerra não é um método, mas a mudança em si. Todavia, mesmo com essas políticas, existia um reconhecimento geral da necessidade de tanto a França quanto a Grã-Bretanha cumprirem Locarno para manter saudável o leste oriental, ainda mais após o caso da Renânia.
As atitudes francesas eram guiadas por esse mesmo aspecto de apaziguamento, tendendo a deixar que por vontade própria a Alemanha encobrisse os temores franceses. Entretanto, a situação estratégica da França piorou com a ascensão, na Espanha, de Francisco Franco por meio de um golpe militar em 1936. O governo de Franco rapidamente demonstrou simpatia com os valores e ideais fascistas, sendo abertamente apoiado tanto pela Alemanha quanto pela Itália. A França estava cercada por possíveis governos hostis em todas as frentes e não receberia apoio britânico em caso de guerra.
Enquanto França e Grã-Bretanha procuravam encontrar soluções políticas pacíficas para conter qualquer ameaça de guerra proveniente no sistema europeu, aproximadamente ao mesmo tempo, Hitler apresentou (1937) a sua equipe do Ministério da Guerra, do Estado-Maior e do Ministério dos Negócios Estrangeiros suas intenções de conquistas territoriais na Europa Oriental e na União Soviética. Isso deveria ser realizado de modo praticamente imediato, pois o sucesso era praticamente garantido pela posição superior conseguida pela Alemanha após o rearmamento em relação a França e a Grã-Bretanha. Ou seja, o que era pretendido, ao contrário do que os demais Estados pensavam, era mais do que a recuperação do posicionamento alemão no Pré- Primeira Guerra Mundial.
O início da movimentação alemã foi em 1938 em direção à Áustria, a qual havia sido proibida de se unir à Alemanha pelo Tratado de Versalhes. A união ao mesmo tempo promoveu o cumprimento do princípio da autodeterminação (sendo, de modo geral, bem aceita pela população austríaca) e danificou o equilíbrio de poder. Mesmo com essa consequência, no plano internacional, os pequenos protestos pelo descumprimento de uma das cláusulas do tratado demonstrava mais um preocupação com a moral idealizada do que com a efetivação de medidas concretas, sendo que a Sociedade das Nações foi omissa a respeito desse acontecimento. Mas a esperança dos demais países era de que Hitler parasse com as movimentações ofensivas assim que reunissetodas as etnias alemãs sob o Reich alemão.
Praticamente de modo simultâneo Hitler passou também a ameaçar a Checoslováquia que da mesma forma possuía uma minoria alemã. Primeiramente em prol da concessão de direitos especiais aos germânicos e depois com uma declaração evidente pelo governante de que a intenção era anexar a região dos Sudetas (denominação alemã para o território onde vivia sua minoria) por meio da força.
As potências opositoras relutavam em reagir à situação por temer o risco da guerra. A Grã-Bretanha optou pelo apaziguamento mais uma vez e relembrou os franceses que um envolvimento deles na frente leste oriental não contaria com o apoio britânico. Já os Estados Unidos, um dos principais articuladores da criação da Checoslováquia, dissociaram-se dessa questão sugerindo apenas que fosse mantida uma negociação em solo neutro
A preocupação britânica em relação à possibilidade de guerra fez com que Chamberlain fosse enviado para negociar com Hitler sobre a Checoslováquia. O resultado foi a decisão de desmembrar o território por meio de plebiscitos, ou seja, cada distrito escolheria a qual Estado estaria submetido e aqueles que possuíssem mais de 50% da população composta por alemães seria devolvida a Alemanha. Aparentemente estava tudo devidamente negociado e uma resolução pacífica havia sido alcançada. Entretanto, por causa da demora de tal processo Hitler emitiu uma ordem de evacuação imediata de todo o território dos Sudetas, além de ter declarado abertamente sua intenção de impor uma humilhação à Checoslováquia. Os demais países opuseram-se veementemente a essa atitude que pareceu momentaneamente ter se tornado um casus belli.
Para evitar a eclosão de algum conflito Mussolini, surpreendentemente, sugeriu que os chefes de Estado de França (Dalader) e Grã-Bretanha (Chamberlain) também participassem de uma conferência já agendada entre Alemanha (Hitler) e Itália (Mussolini). Na reunião em Munique Hitler evidenciou que o seu programa definido para a Checoslováquia deveria ser cumprido até o prazo máximo de resposta estabelecido ou então ele seria imposto por meio da força, enquanto os visitantes tentavam evitar essa humilhação a Checoslováquia.
O resultado desse encontro foi a decisão de como seria feita a divisão e representou o ápice de um processo iniciado nos anos de 1920 de desvencilhamento alemão às restrições de Versalhes e do fato de os próprios criadores da paz punitiva terem cooperado para o seu desmantelamento.
Munique significou também o último momento no qual Hitler apelou à culpa sentida pelos países da punição alemã. Prova disso foi o esgotamento da boa vontade da Grã-Bretanha que logo em seguida lançou um grande programa de rearmamento. Depois dela, em 1939, o líder alemão ocupou o resto do território da Checoslováquia demonstrando que seu real interesse era a dominação da Europa, por meio da ofensa ao direito da autodeterminação e outros valores morais wilsonianos.
Apesar da pauta da nova ordem na moral ter feito com que uma resistência fosse tardiamente imposta à Hitler, os seus valores, ou mais especificamente o rompimento deles, fez com que a oposição fosse implacável. Só que antes do momento crucial chegar houve um outro abalo, dessa vez acarretado pela União Soviética de Stálin.
Comentários:
Ao ler o capítulo 12 de Kissinger, a impressão que fica é a de que o medo da ocorrência de outra Primeira Guerra causou a Segunda. A ordem de Versalhes foi construída de uma forma normativa, mas o “q” da questão era que a segurança coletiva deveria ter sido uma ideia comprada por todos os dirigentes. Quando Hitler ascende isso se torna complexo de se arranjar. Vimos que todas as políticas feitas tem o mesmo objetivo, evitar a guerra. Porém, foi a somatória dos elementos de tais políticas, como o isolamento clássico da Grã-Bretanha, a política de alianças Francesa, a não intervenção colocada pela nova ordem que contribuiu para a Segunda Guerra Mundial. Quando Hitler invade a Renânia, por exemplo, o projeto de recrutamento estava apenas no início, não tinha poder, ainda que tivesse potência, para custear uma guerra naquele instante, ou a inação dos países frente à saída de Hitler da conferencia de desarmamento.
As muitas incertezas causadas pela crença nas intenções levaram a completa paralisação dos países frente às ameaças explícitas, o que nos leva a questionar, de forma especulativa: será que se no pós- Primeira Guerra tivesse surgido outro concerto europeu, baseado no equilíbrio de poder, a guerra poderia ter sido evitada? É lógico que não vamos ter ideia do que teria acontecido. Porque o nível de previsibilidade seja em qualquer recorrência de fenômenos pode nos surpreender. 
Algo que também é interessante no capítulo do Kissinger é notar o impacto dos decision makers na política internacional e externa, embora para o autor, seguidor da corrente realista, possa não ter muita relevância, é indiscutível que assim como a ascensão de Guilherme II e a demissão de Bismarck foram cruciais para o desenrolar da Primeira Guerra Mundial assim foi com Hitler. 
Perguntas:
Poderia de alguma forma o Tratado de Versalhes ter conseguido pelo menos 100 anos de paz como o congresso de Viena, em seus mesmos moldes, apenas com a diferença de não ter a ascensão de Hitler em 1933, ou até mesmo a Grande Depressão em 29?
O não cumprimento efetivo do Tratado de Locarno é muitas vezes visto como uma das causas da reascensão alemã (até mesmo para Kinssiger). Entretanto, realmente haveria alguma mudança de curso na história se ele tivesse sido honrado? Ou apenas o que se teria seria uma redução a proporção do conflito, haja vista que o processo de expansão pela Europa Oriental alemão foi feito em um momento no qual a superioridade da Alemanha já era uma realidade?

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