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1 
 Dirofilariose canina: tratamento ou prevenção? 
 
Marcel P. Pereira, MV, MSc 
Assistente Técnico Pets 
Merial Saúde Animal 
Introdução 
 A dirofilariose canina, causada pela Dirofilaria immitis, é uma doença de ocorrência mundial, identificada nas 
regiões de clima temperado, tropical e subtropical1,2. Devido às grandes alterações ambientais provocadas pelo homem 
nos últimos tempos, com grande impacto sobre as condições climáticas e o deslocamento de animais silvestres para fora 
de seu habitat natural, acredita-se que haja um maior potencial de transmissão da doença3. 
Diversos estudos foram realizados sobre a prevalência da dirofilariose canina no Brasil, que já foi diagnosticada 
em todas as regiões do país. Estima-se que a prevalência seja de 1,1% no Rio Grande do Sul; 12,5% em Santa 
Catarina; 12,4% na Paraíba; 12,5% em Alagoas; 9,6% em Cuiabá4; 14% no Rio de Janeiro; 29,7% em Niterói (RJ)5; 
10,7% em Belém (PA)6; 2,3% em Recife (PE)7; 8,8% em São Paulo8 e 3,1% em Alagoas9. 
A partir do lançamento do primeiro medicamento preventivo no Brasil, no início da década de 90, a prevalência 
da dirofilariose canina diminuiu por meio das campanhas de conscientização da população e da classe veterinária. Porém, 
com a diminuição da prevalência da doença, os profissionais e a população deixaram de se preocupar com a prevenção, 
fazendo com que houvesse uma reemergência da dirofilariose nos últimos anos, especialmente na região do Rio de 
Janeiro, onde trabalhos observaram prevalência da doença de até 70%10. 
A enfermidade deve ser considerada de grande importância na rotina veterinária, pois além de causar sérios 
distúrbios cardiovasculares nos animais, é também uma antropozoonose cujo potencial de disseminação tem 
aumentado devido ao modo de transmissão. 
 
Patogenia, sintomas e diagnóstico 
Diversas espécies de mosquitos, principalmente aqueles dos gêneros Culex, Aedes e Anopheles2,5, servem como 
hospedeiros intermediários1-3. Os mosquitos ingerem as microfilárias circulantes (L1) quando se alimentam do sangue de 
animais infestados. A filária realiza 2 mudas (L1→L2 e L2→L3) em 2 a 2,5 semanas nos túbulos de Malpighi do mosquito. 
A forma infectante (L3) é transmitida quando o mosquito se alimenta do sangue de um cão, que é o hospedeiro 
definitivo. Outras duas mudas (L3→L4 e L4→L5) são realizadas no tecido subcutâneo, adiposo e muscular em, 
aproximadamente, 3 meses. A seguir, as formas adultas jovens adentram no sistema vascular, migrando para o coração 
e vasculatura pulmonar para a maturação final e reprodução. Após, aproximadamente, 6-7 meses da infecção, as fêmeas 
começam a liberar as microfilárias (L1)2,3,11,12. 
É possível que a interação entre o parasito e o hospedeiro seja mais importante que o número de vermes no 
desenvolvimento dos sintomas. Quando há pequena carga parasitária, as filarias se alojam, preferencialmente, nas 
artérias pulmonares caudais. Com o aumento da infestação, elas migram para o coração ou mesmo para a veia cava 
caudal, levando ao aparecimento da síndrome da veia cava12. 
As principais alterações nas artérias pulmonares são causadas pela proliferação da camada endotelial provocada 
pelos vermes, inflamação, hipertensão pulmonar, destruição da integridade vascular e fibrose. A obstrução arterial e 
vasoconstrição causada pelos trombos formados pelos fragmentos dos vermes são complicações que podem ocorrer. As 
lesões endoteliais estimulam a proliferação endotelial e ativação e migração de leucócitos e plaquetas. No local das 
lesões, a liberação de fatores tróficos induz a proliferação de células musculares e acúmulo de colágeno. As lesões 
proliferativas levam ao estreitamento ou oclusão luminal dos vasos sanguíneos e aumento de permeabilidade vascular. 
Como resultado final dessas alterações, tem-se hipertensão pulmonar e redução do débito cardíaco1. 
 
 
2 
Os principais sintomas observados são intolerância ao exercício, tosse, dispnéia e síncope. Hemoptise 
pode ser observada no caso de tromboembolia pulmonar. Os sintomas relacionados à insuficiência cardíaca congestiva 
direita, como ascite, congestão de órgãos abdominais, distensão das veias jugulares e pulso jugular, podem ser 
observados em muitos casos. Alterações renais podem ocorrer devido à glomerulonefrite causada pela deposição dos 
imunocomplexos11,12. 
O método diagnóstico atualmente recomendado é a detecção do antígeno (ELISA) – proteína secretada 
pelo trato reprodutivo da fêmea adulta. O teste para detecção de microfilárias (exame microscópico) também é utilizado, 
mas é considerado menos sensível do que a detecção do antígeno – é recomendado como um teste complementar para 
determinar a fase do ciclo em que as filárias estão. No caso de infestações com poucos vermes ou animais com mais de 9 
meses de infestação e em tratamento com lactonas macrocíclicas, podem ocorrer resultados falso-negativos. Uma vez 
que ambos os testes detectam as fases que ocorrem tardiamente na infestação, é recomendável aguardar, no mínimo, 5 
a 6 meses para a realização do diagnóstico3. 
 
Tratamento ou prevenção? 
O tratamento de animais com dirofilariose é complexo devido, principalmente, ao ciclo de vida do parasito, 
manifestações clínicas e complicações do tratamento adulticida1. É de suma importância a realização de um exame 
completo previamente ao tratamento, para avaliar o estado de saúde do animal. A principal complicação pós-
tratamento é o tromboembolismo pulmonar que, geralmente, ocorre nos animais com alta carga parasitária e 
sintomas de obstrução vascular pulmonar grave. O princípio do tratamento é eliminação de todos os estágios do ciclo de 
vida da filária (microfilária, estágios larvares e juvenis e adultos) com a melhora da condição clínica do indivíduo, com o 
mínimo possível de complicações pós-tratamento. A melasormina é o medicamento recomendado para a eliminação das 
formas adultas (protocolo de 2 ou 3 aplicações). A utilização de lactonas macrocíclicas por 2 a 3 meses antes do 
tratamento adulticida é indicado para a eliminação das formas jovens que não serão afetadas pela melasormina3. 
Infelizmente, não há nenhum medicamento para o tratamento adulticida (cloridrato de melarsomina) 
da dirofilariose comercializado no Brasil. Assim, é importante atuar de forma preventiva. Porém, como a doença 
é crônica, deve-se realizar exame diagnóstico antes do início do tratamento profilático e, no mínimo, 6 meses 
após o primeiro, pois é possível que o animal esteja parasitado a ponto de não ser diagnosticado no primeiro exame – 
resultando na percepção de falha do tratamento preventivo3,12. 
Cardomec® é indicado na prevenção da dirofilariose canina, eliminando os estágios tissulares da filaria, até 
30 dias após a infecção – por isso, recomenda-se a administração mensal. Também é eficaz contra ascarídeos (T. 
canis e T. leonina) e ancilóstomas (A. caninum e A. brasiliense). Possui em sua formulação ivermectina e pirantel, 
porém, não há contra-indicação para ser usada em cães da raça collie (entre outros), devido a sua baixa 
concentração de ivermectina. É um medicamento muito seguro, podendo ser administrado para cães acima de 6 
semanas de idade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
Referências 
 Atkins C. Canine heartworm disease. In: Ettinger SJ, Feldman EC. Textbook of veterinary internal medicine. 6th 
ed. St Louis: Elsevier Saunders; 2005. v. 2. p. 1118-1136. 
 
 Kahn CM. The Merck veterinary manual. 9th ed. Disponível em: 
[http://www.merckvetmanual.com/mvm/index.jsp]. Acesso em: 24/08/2010. 
 
 American Heartworm Society. Diagnosis, prevention and management of heartworm (Dirofilaria immitis) 
infection in dogs. Disponível em: [http://www.heartwormsociety.org/veterinary-resources/Guidelines-Can-HW-
Disease.pdf]. Acessoem: 24/08/2010. 
 
 Labarthe NV. Dirofilariose canina: diagnóstico, prevenção e tratamento adulticida (revisão de literatura). Clin 
Vet. 1997; 2:10-16. 
 
 Labarthe N, Almonsy N, Guerrero J, Duque-Araújo AM. Description of the occurrence of canine dirofilariasis in the 
state of Rio de Janeiro, Brazil. 1997. Mem Inst Oswaldo Cruz. 1997; 92:47-51. 
 
 Souza NF, Benigno RNM, Figueiredo SK, Silva D, Gonçalves R, Peixoto PC, Serra-Freire NM. Prevalência de 
Dirofilaria immitis em cães no município de Belém-PA, com base na microfilaremia. Rev Bras Parasitol Vet. 1997; 
6: 83-86. 
 
 Alves LC, Silva LVA, Glória-Faustino MA, McCall JW, Supakonderj P, Labarthe NW, Sanchez M, Caires O. Survey 
of canine heartworm disease in the city of Recife, Pernambuco-Brazil. In: Congresso de la Asosiación Mundial de 
Medicina Veterinaria de Pequenõs Animales, 1998, Buenos Aires, Argentina. Resúmenes. Buenos Aires: AMMVPA, 
1998. p809. 
 
 Larsson MHMA. Prevalência de microfilárias de Dirofilaria immitis em cães do Estado de São Paulo. Braz J Vet Res 
Anim Sci. 1990; 27: 183-186. 
 
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 Labarthe NV, Paiva JP. Verme do coração, Dirofilaria immitis: a reemergência fulminante. Cães e gatoss. 2010; 
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 Calvert CA. Dirofilariose. In: Birchard SJ, Sherding RG. Manual Saunders: clínica de pequenos animais. São 
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