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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ÁGATHA DA SILVA SOUZA ANA RAFAELA ALVES DE OLIVEIRA LIMA HALISSON DA SILVA RODRIGUES ITALO MALINOWSKI DE ARAGÃO MARCELO SILVA DO NASCIMENTO VALESKA MONIQUE CHAVES LEITE YAGO BORICI NARDI CIDADE RENASCENTISTA E COLONIAL BOA VISTA-RR JINHO/2014 2 ÁGATHA DA SILVA SOUZA ANA RAFAELA ALVES DE OLIVEIRA LIMA HALISSON DA SILVA RODRIGUES ITALO MALINOWSKI DE ARAGÃO MARCELO SILVA DO NASCIMENTO VALESKA MONIQUE CHAVES LEITE YAGO BORICI NARDI CIDADE RENASCENTISTA E COLONIAL Trabalho científico apresentado à disciplina de CIV- 33 Arquitetura e Urbanismo, para obtenção de nota do semestre vigente, sob a orientação da professora Karine Jussara. BOA VISTA-RR JUNHO/2014 3 LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Florença (Itália) ..................................................................................................... 07 Figura 02 – Palácio dos Doges (Veneza) .................................................................................. 07 Figura 03 – Basílica de San Marcos (Veneza) ......................................................................... 08 Figura 04 – Museu Correr (Veneza) ........................................................................................ 08 Figura 05 – Ponte dos Suspiros (Veneza) ................................................................................. 08 Figura 06 – Palácio Ducale (Veneza) ....................................................................................... 08 Figura 07 – Veneza .................................................................................................................. 10 Figura 08 – Gênova .................................................................................................................. 10 Figura 09 – Florença ................................................................................................................ 10 Figura 10 – Milão ..................................................................................................................... 11 Figura 11 – Roma ..................................................................................................................... 11 Figura 12 – Sabbioneta (Itália) 1560 ........................................................................................ 18 Figura 13 – Damão e Baçaim (Índia) ........................................................................................ 19 Figura 14 – Salvador (Bahia) .................................................................................................... 20 Figura 15 – Salvador (Bahia) .................................................................................................... 20 Figura 16 – Salvador (Bahia) .................................................................................................... 21 Figura 17 – Salvador (Bahia) .................................................................................................... 21 Figura 18 - Salvador (Bahia) .................................................................................................... 22 Figura 19 – Rio de Janeiro ....................................................................................................... 22 Figura 20 – Rio de Janeiro ........................................................................................................ 23 Figura 21 – Plano de Santo Domingo- Republica Dominicana ............................................... 27 Figura 22 – Plano de Buenos Aires ......................................................................................... 27 Figura 23 – Esquema ideal da praça ........................................................................................ 28 Figura 24 – Plan de San Antonio (Texas EUA) ........................................................................ 28 Figura 25 – Cabildo de Salta (Argentina) ................................................................................. 29 Figura 26 – Cabildo de Buenos Aires (Argentina) ................................................................... 29 Figura 27 – Praça da Constituição (Guadalajara, Cidade do México) ...................................... 29 Figura 28 – Plaça Bolivar (Bogotá, Colômbia) ........................................................................ 30 Figura 29 – Plano de Santiago (Chile) ...................................................................................... 30 Figura 30 – Plan de Quito (Equador) ........................................................................................ 31 Figura 31 – Plano da Cidade do México ................................................................................... 31 Figura 32 – Vista geral de Santiago (Chile) ...............................................................................31 Figura 33 – Plan de Montevideo (Uruguai) .............................................................................. 32 Figura 34 – Buenos Aires (Argentina) ...................................................................................... 32 Figura 35 – Centro de Asunción (Paraguai) ............................................................................. 33 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 5 1 CIDADE RENASCENTISTA ............................................................................................. 6 1.1 BREVE INTRODUÇÃO SOBRE O PERÍODO RENASCENTISTA ........................... 6 1.2 CARACTERÍSTICAS DAS CIDADES RENASCENTISTAS ..................................... 6 1.3 CIDADE TARDO-MEDIEVAL ................................................................................... 9 1.4 CIDADES UTÓPICAS DO RENASCIMENTO ......................................................... 12 1.5 OS PRIMEIROS NÚCLEOS URBANOS DO BRASIL ............................................. 18 1.5.1 Traçado ............................................................................................................... 19 1.5.2 A Escolha dos Sítios ............................................................................................ 20 2 CIDADE COLONIAL ..................................................................................................... 24 2.1 REDE URBANA NA AMÉRICA ESPANHOLA ...................................................... 24 2.1.1 As principais causas do abandono dos assentamentos espanhóis no século XVI ... 25 2.2 DESIGNAÇÕES NORMATIVAS PARA FUNDAÇÃO DAS NOVAS CIDADES COLONIAIS ESPANHOLAS NA AMÉRICA................................................................. 28 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 35 5 INTRODUÇÃO No início da Idade Moderna, as cidades ocidentais renasceram graças ao lento mas progressivo desenvolvimento do comercio, tornando-se importantes centros políticos e econômicos, que levaram à perda do poder dos senhores feudais e à decadência do feudalismo. Além disso, teve inicio a Renascença, período marcado pelo antropocentrismo e pelo grande avança intelectual e artístico de toda a sociedade ocidental, cujas bases eram filosóficas. O conceito do espaço urbano renascentistaabandonou a ideia da Baixa Idade Média de conjunto vivo e orientou-se para um ideal de perfeição. Logo após a Renascença, entre os séculos XV e XVI, tiveram início a Era das Navegações e a consequente expansão mundial da civilização europeia, impulsionada pelo mercantilismo e pela posterior descoberta de metais preciosos nas colônias além-mar. Países como Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda tornaram-se grandes potências marítimas e partiram para o domínio do Novo Mundo, criando várias cidades coloniais em todos os novos continentes. As Cidades Colônias, onde se constituíram nas realizações urbanísticas mais importantes do século XVI, já que demonstraram serem – embora pobres se comparadas aos requintes e ambições da cultura artística europeia, as concretizações dos ideais estéticos almejados pelos mestres europeus da Renascença. 6 1 CIDADE RENASCENTISTA 1.1 BREVE INTRODUÇÃO SOBRE O PERÍODO RENASCENTISTA O Renascimento começou na Itália, no século XIV, e difundiu-se por toda a Europa, durante os séculos XV e XVI com as expedições oceânicas, que por sua vez alargaram a visão do homem europeu. Foi um período da história europeia marcado por um renovado interesse pelo passado greco-romano clássico, especialmente pela sua arte, ou seja, o movimento reviveu a antiga cultura greco-romana, pensamento da época era voltado a filosofia grega e das realizações artísticas. O renascimento deu grande privilégio à matemática e às ciências da natureza. A exatidão do cálculo chegou até mesmo a influenciar o projeto estético dos artistas desse período. Desenvolvendo novas técnicas de proporção e perspectiva, a pintura e a escultura renascentista pretendiam se aproximar ao máximo da realidade. Em consequência disso, a riqueza de detalhes e a reprodução fiel do corpo humano formavam alguns dos elementos correntes nas obras do Renascimento. Surgiu também o ideal humanista, que uma filosofia que coloca os humanos como principais numa escala de importância. 1.2 CARACTERÍSTICAS DAS CIDADES RENASCENTISTAS As principais características das cidades renascentistas eram: traçado regular, muralhas que davam lugar a ruas e avenidas; cidades com função comercial, financeira e artística; construção de grandes praças e jardins públicos; construções de caráter monumental como igrejas e palácios; as igrejas eram construídas isoladamente para dar destaque; os parque e jardins eram decorados com fontes, estátuas, obeliscos, arcos e colunas; grandes avenidas eram abertas com perspectiva em ponto focal de destaque para palácios, fontes, jardins, etc.; e o uso extremo da geometria, simetria e da hierarquia das vias. 7 . Figura 01 – Florença (Itália) Figura 02 – Palácio dos Doges (Veneza) Uma importante cidade renascentista foi Veneza situada no nordeste da Itália, formada em pequenas ilhas com aproximadamente 271009 habitantes, e famosa por sua historia, muitos canais , museus e monumentos. Foi uma das cidades mais importantes graças ao seu poder naval pelo arsenal, com mercado riquissimo e arte sofisticada. Em veneza, se localiza uma das mais famosas praças do mundo, denominada Piazza San Marco, onde pode-se notar exemplos das características de cidades renascentistas, como os monumentos,um deles é a basílica de San marco que traz a arquitetura renascentista, destacando também museus, pontes como atrativos turísticos, palácios. 8 Figura 03 – Basílica de San Marcos (Veneza) Figura 04 – Museu Correr (Veneza) Figura 05 – Ponte dos Suspiros (Veneza) Figura 06 – Palácio Ducale (Veneza) 9 1.3 CIDADE TARDO-MEDIEVAL O conceito do espaço urbano renascentista abandonou a ideia da Baixa Idade Média de conjunto vivo e orientou-se para um ideal de perfeição normal pura. A Cidade Tardo- medieval era caracterizada pelo seu singular equilíbrio formal, com a igreja e a autoridade civil niveladas e contrapostas na forma global e nas articulações internas, onde a arquitetura e os espaços coletivos púbicos compunham-se livremente. Na cidade renascentista os traçados regulares e as ruas irradiadas de uma praça central passaram a predominar a uniformidade, canhões defendiam estrategicamente as entradas das cidades. A busca pelo modelo ideal levou a repetição de alguns motivos geométricos arquetípicos, principalmente o quadrado e o círculo. Os literatos e os pintores descreveram a nova cidade, mas com o objetivo teórico, para a construção de uma cidade ideal. Em toda a centralidade adquirida pelo homem na natureza, a cidade também devia se tornar sob medida para o homem e encerrar em si as qualidades de beleza e funcionalidade. A arte renascentista confundiu-se com a arte de projetar cidades, fazendo com que as leis de perspectiva se tornassem as regras de construção das vias, praças e conjuntos urbanos, segundo princípios universais de simetria e proporção. Na prática o método renascentista não conseguiu produzir grandes transformações nos organismos urbanos e territoriais, pois os governos renascentistas não tinham estabilidade política e os meios financeiros suficientes para realizar programas longos e comprometidos. Deste modo, a arquitetura da Renascença realizou seu ideal de proporção e de regularidade em alguns edifícios isolados, e não esteve em condição de fundar ou transformar uma cidade inteira. As cidades se desenvolveram em resposta à demanda de outros lugares, seja o interior imediato, sejam áreas mais distantes, porque elas prestavam serviços a esses outros lugares. As cidades eram capazes de manter suas posições por meio de suas políticas econômicas, geralmente controlavam o campo em torno delas, seu contado, e podiam, à custa do campo, impor uma política de comida barata para seus habitantes. No caso da Europa pré-industrial, é útil distinguir três tipos de serviços e três tipos de cidades: CIDADE COMERCIAL: Geralmente um porto, como Veneza e sua Rival, Gênova. 10 Figura 07 – Veneza Figura 08 – Gênova A cidade de Gênova possui um terreno bastante acidentado, não possui praticamente nenhuma terra plana, se assemelha a uma montanha-russa de ruas sinuosas e escadarias cortadas por caminhos. Pelas encostas Gênova apresenta edifícios com fachadas que colorem os morros da cidade, além de jardins suspensos, torres de igrejas e ruínas de antigas muralhas da cidade. CIDADE ARTESÃ-INDUSTRIAL: Como Milão e Florença. Figura 09 – Florença 11 Florença era uma cidade industrial por excellence, e o tecido era sua principal indústria. Também era famosa pelo seu vidro, navios e a partir de 1490 por sua indústria de impressão. Figura 10 – Milão CIDADE DE SERVIÇO: Um dos serviços mais lucrativos era o financeiro. Do século XIV ao XVI, os italianos dominaram o movimento bancário europeu. As capitais ofereciam outros tipos de serviços: Nápoles e Roma, por exemplo, eram cidades de funcionários e centros de poder. Figura 11 – Roma As cidades no Renascimento pareciam labirintos. As muralhas nas cidades representavam a prosperidade e ao mesmo tempo o medo. Essas muralhas limitavam o espaço das cidades medievais. Quando a população crescia muito, algumas cidades expandiam suas muralhas, outras simplesmente deixavam as muralhas de pé e construíam novas cidades e vilas ao redor da antiga cidade. A segurança era muito importante para qualquer camada social. As cidades geralmente eram construídas em terrenos montanhosos. 12 A religião refletia nas cidades da época, onde na maioria das vezes, a igrejaestava localizada no centro da cidade, e era a maior, mais alta e a mais cara estrutura. Assim toda a cidade era organizada, de modo hierárquico, em torno da igreja e do palácio papal. Podemos destacar como um ponto importante das cidades o Tratado do Urbanismo. Esse tratado definia não mais importante, que a cidade era formulada a partir de fatores climáticos. Segundo o Tratado as ruas estavam divididas em três categorias: As ruas principais: que se dividem em rurais e urbanas. Onde as ruas rurais deveriam ser largas, retas e o mais curta possível, e as urbanas, por serem nobres e poderosas, eram largas e retas para valorizarem seu entorno. As ruas secundárias: são estreitas, para transmitirem aconchego e proteger as edificações do sol, além de proteger os moradores contra inimigos, eram levemente curvilíneas para aparentar maior largura das vias. As ruas funcionais: são aquelas que exercem funções dentro da cidade, como por exemplo, a rua que conduz ao templo, ou a rua que leva ao trabalho e assim por diante. Algumas recomendações gerais para a cidade era que as ruas deveriam estar bem empedradas e limpas ao extremo. Todos os edifícios tinham que estar alinhados, ter continuidade e mesma altura. Deviam-se prever também espaços públicos. A perspectiva que organizava o espaço em linhas matemáticas dentro de dois planos era apresentada como uma construção geométrica correta, que se transformou em instrumento de retificação e construção dos cenários urbanos. A Perspectiva de uma praça representa em proporções matemáticas da praça, a forma perfeita circular apresentada na igreja central, a regularidade dos pequenos palácios nas margens. 1.4 CIDADES UTÓPICAS DO RENASCIMENTO Thomas Morus, em 1516, criou a ideia de utopia ao descrever uma ilha imaginária com uma sociedade perfeita em todos os sentidos. O surgimento desse gênero literário, tão próximo da história, da filosofia e da política, está ligado ao processo burguês de racionalização da vida. O Renascimento sintetizou um grande experimento de racionalização da vida humana. Para construir a sua sorte e o destino da humanidade, os homens daquela época fixaram normas de conduta e quiseram regulamentar cada aspecto da vida prática. A lógica desta idéia levou à construção de critérios universalmente válidos para cada atividade, com normas, regras e 13 códigos: surgiram assim os tratados sobre o perfeito cortesão, sobre o perfeito ministro, sobre o perfeito homem do mundo. Essa necessidade de impor uma racionalidade à vida individual e coletiva, inevitavelmente, chegou ao urbanismo renascentista. Nos termos renascentistas, a nova cidade é fundada pela necessidade da virtù combater eternamente a fortuna ameaçadora. As cidades medievais haviam se desenvolvido anarquicamente, pelo impulso das iniciativas individuais. Mas essa estrutura comunal foi substituída pelas iniciativas de príncipes desejosos de ampliar seu poder e de instaurar a ordem. Na Itália, surgiram soberanos construtores que sonhavam com novas cidades e, pela oportunidade, arquitetos do Quattrocento planejam cidades num estilo racional e geométrico. Mas não é possível modificar as muralhas sem modificar os homens: a cidade é o espelho e a dimensão do homem. A organização social passa a ser uma preocupação dos urbanistas, colocando o ser humano no centro de suas construções, e sonham em torná-los idênticos: que a uma cidade sã e racional corresponda um novo homem! Aparecem então os teóricos de um urbanismo utópico. Não é fundamental que tais cidades ideais sejam de fato construídas: mesmo sem saírem do papel, servem para a melhor compreensão das limitações de nosso presente, e sugerem cidades melhores do que as nossas. E, se puderam ser pensadas, poderão ser construídas. Aos seus grandiosos projetos de cidades com traçados retilíneos, os urbanistas unem o desejo de regulamentar a vida dos habitantes, de fazer da sociedade um minucioso alvéolo onde cada um possa encontrar o seu lugar e a sua função. A De reaedificatoria de Leon Battista Alberti (1452), testemunha a superação da arquitetura pela noção de construção social. Na sua cidade, as classes são distribuídas em bairros diferentes, as ruas são reservadas para determinados ofícios, são previstos asilos para os pobres. Antonio Avelino, o Filarete (1400-1466), florentino a serviço de Galeazzo Sforza, tem intenções maiores. No seu Trattato desenha uma cidade fantástica chamada Sforzinda, um projeto digno das ambições do duque. Ele a situa numa planície fértil, sobre terras fecundas, onde é possível unir países da Cocanha com o utopismo popular. As muralhas, com um perímetro de 20 km, formam um polígono regular de 16 lados em forma de estrela. Essas muralhas ciclópicas são construídas em 10 dias por 102.000 operários, que a cada jornada assentam 30 milhões de pedras. 16 avenidas principais, retilíneas e com largura de 20 metros, conduzem às oito portas e às oito torres angulares. Ao centro da estrela, uma praça de 200 metros por 100; surgem áreas para joalheiros e banqueiros, edifícios para as corporações e os negócios, banheiros públicos, hospitais, prédios para os médicos e a administração. Filarete pensa nos habitantes de Sforzinda, regulamenta, reparte, administra. As crianças pobres são educadas em colégios especiais, usam uniformes, dormem 7 horas por noite, a disciplina é 14 férrea, a dieta frugal. A cidade é governada por um legislador, Zogalia (anagrama de Galeazzo Sforza) e por quatro magistrados eleitos. O interesse prioritário é o da cidade, severas leis suntuárias ensinam a simplicidade. A febre dos construtores avassala Filarete no seu sonho prometeico: mais que uma cidade, é um novo mundo o que ele deseja construir; o urbanista torna-se demiurgo e, ao transformar a cidade, transforma o homem e lhe indica seu destino terreno. Os tempos estavam maduros para a primeira utopia moderna. Mesmo o modelo urbanístico de Leonardo da Vinci, um desenho de cidade perfeita, detalhava como deveriam ser as ruas, casas, esgotos, etc. Pelas ruas altas não deveriam andar carros nem outras coisas similares, mas apenas gentis-homens; pelas baixas deveriam andar carros e outras coisas somente para uso e comodidade do povo. De uma casa a outra, deixando a rua baixa no meio, por onde chegam vinho, lenha, etc. Pelas ruas subterrâneas estariam as estrebarias e outras coisas fétidas. De um arco a outro devem existir 300 braças, por onde entraria luz, e cada arco deveria ter uma escada em caracol. "Tanto seja larga a rua quanto é a universal altura das casas". Façam-se fontes em cada uma das praças. E assim por diante. A cidade descrita por Leonardo já é, de certa forma, utopia; é uma exigência completamente racional, que espera ser traduzida em prática. Thomas Morus não foi um sonhador, mas brilhante político nomeado, em 1529, grão- chanceler da Inglaterra. O Renascimento foi um período de crises e instabilidades contínuas, e Morus conhecia os problemas de seu tempo: foi pensando neles que publicou em 1516 a sua Utopia. Utopia é minuciosamente descrita, sendo uma ilha com formato de meia lua, circundada de montanhas que oferecem uma boa defesa natural. Houve um tempo, 1760 anos antes, em que o país se chamava Abraxa e era unido ao continente; o rei Utopo o conquistou, e, para separá-lo da terra firme, fez escavar um istmo. Por isso, as relações externas são raras, pois os habitantes dos mundos imaginários se contentam com suas autarquias, e esse isolamento lhes preserva da corrupção externa. Em Utopia existem 54 cidades, perfeitamente idênticas, construídas com base no mesmo projeto e compreendendo edifícios iguais, tanto que é suficiente descreveruma só para conhecer-se todas. Amauroto é a capital da ilha. Circundada de muros, atravessada pelo rio Anidro, é limpa, salubre e alegrada por graciosos jardins. O sistema político é democrático e parlamentar. A célula de base é a família camponesa composta de 40 membros; existindo 6 mil famílias em cada cidade, a população da ilha atingirá 13 milhões de habitantes. A propriedade privada é completamente ausente. Cada cidade é circundada de terras cultivadas pelos cidadãos 15 que têm a obrigação de fornecer à comunidade dois anos de serviço agrícola, independentemente do ofício que pratiquem. Os utopianos são ascéticos e frugais, e vestem hábitos iguais. Preocupam-se com a dignidade do trabalho, a planificação da produção e a frutuosa organização do tempo livre. Morus é sobretudo atento a um desenvolvimento harmônico do indivíduo. A organização social é minuciosa, e o governo se preocupa com o equilíbrio da população: se uma cidade é excessivamente povoada, a população em excesso é mandada para uma cidade com menos habitantes. Cada cidade é dividida em quatro bairros, e possui mercados nos quais os chefes de família se abastecem do necessário sem precisarem recorrer à troca ou ao dinheiro. Os alimentos são consumidos em comum, segundo disposições imutáveis; velhos e jovens sentam-se uns ao lado dos outros, afim de que a severa sabedoria dos anciãos inspire os jovens; a refeição é precedida por uma leitura moral. Isto contribui para formar uma comunidade pacífica e fraterna, da qual foi removida até o mínimo motivo de rivalidade. Nos hospitais, eficientes e abertos a todos, é praticada a eutanásia nos doentes e nos velhos que a requerem. O adultério é punido com a escravidão ou com a morte. Os escravos são aqueles que transgridem as leis, os prisioneiros de guerra e os trabalhadores braçais pobres das regiões vizinhas: esses são bem tratados, mas ficam acorrentados e condenados aos trabalhos forçados; não constituem em realidade uma classe social porque os seus filhos nascem livres. Morus escolheu um tipo de economia fundada essencialmente sobre a agricultura: é uma constante do utopista, fisiocrático inato. A agricultura – simples e natural – é a única atividade a estar em harmonia com um comunismo integral, e a consentir num imediato desfrute dos bens. Dinheiro e comércio são intermediários infernais entre a necessidade e a sua legítima satisfação. A essa economia igualitária corresponde um ordenamento político que elimina as diferenças sociais. Nessa federação democrática de condados autônomos – compromisso entre cidade antiga e Estado moderno – a coesão se apóia sobre consensus omnium: a vontade coletiva é maior que a soma das vontades individuais. Utopia se apresenta definitivamente como um livro da razão; porém, no Paraíso de Utopia existem inquietantes sintomas de opressão. O indivíduo está sempre exposto ao olhar coletivo, e "o estar sob os olhos de todos gera a necessidade de dedicar-se ao trabalho usual ou a lazeres não desonestos": este mito da transparência está eternamente atento ao perigoso desvio individual. O dilema que atormenta Morus é comum a todos os utopistas: para salvaguardar a instituição ideal, criada na sua origem para o indivíduo, ele corre o risco de, ao contrário, oprimi-lo, e como todos os utopistas resolve o problema pressupondo que cada cidadão 16 reconheça a coincidência entre necessidade e liberdade: a opressão não está nas intenções, mas nos fatos. Morus é homem do Renascimento, por sua fé na ciência e no conhecimento como fonte de progresso, inclusive moral. A sua utopia é uma construção do intelecto, mas também uma obra de fé e de confiança na ação no mundo real. Morus deixou claro o aspecto irreal da sua criação: Utopia é um país de nenhum lugar, Amauroto significa cidade fantasma, o Anidro o rio sem água, o príncipe é Ademo, isto é, sem povo. A Utopia é a especulação de um humanista. A perspectiva de Morus não é econômica, mas ética: é aquela de um homem da ordem que quer a felicidade do povo, mas não através do povo, do qual teme a violência. Morus fixou por muito tempo as características ambíguas da utopia. O mundo sábio e louco (1552), do florentino Anton Francesco Doni, foi a primeira obra desse gênero na literatura italiana. Recordando-se da Sforzinda de Filarete – que foi escrita antes mas que não tem um enredo ficcional, é um projeto urbanístico utópico, mas não é uma utopia enquanto gênero literário – Doni imagina uma cidade com a planta em formato de estrela, tendo ao centro uma igreja mais alta que a catedral de Florença; este templo possui cem portas das quais partem cem ruas em direção às cem saídas da cidade. Reencontramos aqui a paixão pelo urbanismo, pela simetria e pelo equilíbrio geométrico, reflexo de uma harmoniosa organização humana. Há ecos de Platão, Morus, Alberti, Leonardo, Guevara. As ruas são ocupadas pelos ofícios complementares: se de um lado estão os médicos, do outro estarão os boticários; aqui os sapateiros, e em frente os comerciantes de peles; e assim por diante. Doni exige uma igualdade rigorosa, um comunismo integral – o mais próximo possível à lei da natureza – que exclua inclusive a família. Duas ruas constituem o bairro das mulheres, comuns a todos: "Deste modo não existiam parentelas e se ignorava de quem alguém era filho". Todos possuem moradias iguais, a mesma comida: "quem não trabalha não come". Os hospitais acolhem os doentes, os velhos e os enfermos, mas se pratica uma severa eugenia (as crianças deformadas são jogadas num poço). Portanto todos os homens do novo mundo são "belos, bons, sãos e frescos". Esta utopia não tem uma forma precisa de governo e não possui leis, nem polícia, nem tribunais, nem exército. As crianças criadas em comum aprendem um ofício e não se preocupam muito com os estudos. A religião é sem ritos, ainda que o povo a cada sete dias reze no templo. Doni não se preocupou muito com problemas religiosos: a sua cidade ideal, essencialmente plebeia, é uma cidade terrena na qual as preocupações políticas e econômicas superam as aspirações espirituais. O transcendente não é esquecido mas relegado a segundo plano, e é apenas a razão que organiza e legisla. Trata-se de um radical nivelamento social. 17 Doni é um caso excepcional no Cinquecento: não crê nem nos valores humanísticos, nem na religião que não se ocupa dos males terrenos. Elementar e igualitário, o comunismo de Doni é, sobretudo, uma reação violenta contra as estruturas sociais existentes: isso é de inspiração plebéia, não humanista. Diferentemente de Morus, Doni não se propõe elevar o espírito do homem, de torná-lo consciente da nobreza de seus deveres. A simples eliminação da nobreza, do clero parasita e das diferenças sociais parece-lhe suficiente para assegurar à maioria uma possibilidade material de vida. A sua iniciativa é essencialmente destrutiva: na sua cidade não existe nem mesmo um governo modelo, porque Doni, que tem pouca confiança na natureza humana, não acredita em qualquer forma de governo. Ao sonho humanista da cidade ideal prefere a segurança de uma existência elementar, conforme a lei da natureza. Doni é um escritor que, diferentemente de outros autores de utopias do Cinquecento, não escreve para príncipes e sábios, mas para o povo, desejoso de soluções simples e diretas. Campanella é o autor que escreveu, depois de Morus, a utopia mais complexa e mais rigidamente estruturada. Sua utopia, (Città del Sole, 1602), foi composta durante os seus 27 anos de vida carcerária, e publicada apenas em 1623. O enredo deve muito à Utopia de Morus. A obra adota a forma de diálogo entre o grande – mestre dos hospitalários e um capitão genovês – anteriormentetimoneiro de Cristóvão Colombo – que, durante uma escala em Taprobana, descobriu a Cidade do Sol, no centro de uma vasta planície. Essa é formada por sete zonas concêntricas, bem fortificadas, em forma circular e com o nome dos sete planetas; no centro se ergue um templo redondo: é o coração da cidade. O regime político recorda o sistema hierocrático: no vértice da hierarquia está Hoh – o Metafísico ou o Sol – acompanhado por um triunvirato, um conselho supremo. Pon, ou a Potência, decide sobre a guerra e a paz. Sob sua vigilância, homens, mulheres e crianças são submetidos a um contínuo adestramento militar, apesar dos Solares serem pacíficos e só empunharem as armas por defesa ou para manter o equilíbrio de poder na região. Sin, ou a Sapiência, dirige as artes e o saber. Por sua decisão, todos os muros da cidade são recobertos de pinturas que representam figuras matemáticas, cartas geográficas, animais, grandes personagens, plantas etc. Esse povo ama, acima de tudo, o saber. Enfim, Mor, ou o Amor, supervisiona o matrimônio e a procriação. Esses governantes supremos são acompanhados por magistrados que levam o nome das virtudes que encarnam: temperança, magnanimidade, justiça, diligência. Na Cidade do Sol existem poucas leis, não existem prisões, e os crimes graves são punidos com a morte. O Estado se ocupa das crianças, que são instruídas desde a idade de um ano, brincando ao longo dos muros da cidade. Não são orientadas a seguir suas inclinações pessoais, mas no 18 sentido da compreensão de todas as áreas do saber; assim, aprendem todos os ofícios, escolhendo uma ocupação definitiva apenas depois de terminada a sua instrução geral. O resultado exemplar dessa educação enciclopédica é Hoh o Metafísico, criatura onisciente, ao mesmo tempo cientista e filósofo. Arregimentado do nascimento até a morte, duramente privado de qualquer vontade anárquica, o Solar deve prestar contas ao Estado até das suas menores ações e pensamentos. Não conhece amor e família, e é anulado na coletividade em confortável anonimato, e é, aparentemente, muito feliz. A questão é saber se uma vida construída exclusivamente por lógica rigorosa, que ignore outras instâncias constitutivas do homem real, não conduzirá, em nome da felicidade e da virtude, a um mundo de campos de concentração, nos quais seus habitantes serão ao mesmo tempo carrascos e vítimas. As cidades utópicas não são fundadas pelo já existente, mas vem do "alto", da Idéia, como contraposições ao já existente, e projetam a vida melhor. Elas não são produtos de um delírio, mas nascem da necessidade de combater o destino, de fundar uma "segunda natureza" para o homem – a História. 1.5 OS PRIMEIROS NÚCLEOS URBANOS DO BRASIL Ao tempo do descobrimento do Brasil, as experiências urbanísticas mais importantes e os principais trabalhos escritos referentes ao assunto tinham por base esquemas ideais, de tendência geometrizante, cujas origens mais remotas chegavam até Vitrúvio. Esses esquemas ligavam-se ainda às experiências das cidades novas dos fins da Idade Média, com suas muralhas e suas plantas retangulares. Os esquemas renascentistas eram em princípio rádio-concêntricos, mas suas aplicações prendiam-se muitas vezes às vantagens do plano em xadrez, como ocorre em Sabbioneta, cidade italiana fundada em 1560. Figura 12 – Sabbioneta (Itália) 1560 19 À época do descobrimento do Brasil, as tendências geometrizantes estavam sendo adotadas em quase todas as experiências urbanísticas européias e seria por seus princípios que se orientaria o urbanismo colonial posto em prática com a expansão européia. A política urbanizadora colonial espanhola seria mesmo codificada com minúcias nas “Leyes de las Índias”, constituindo-se numa das fontes mais perfeitas de informação e orientação sobre o urbanismo formal. As Leis das Índias, de acordo com a estética do Renascimento, aconselham que todas as casas da cidade sejam da mesma forma, isto é, conservem uma grande unidade. Até há pouco eram assim as cidades hispano-americanas grandes e pequenas, um legado de unidade, harmonia e graça que, hoje, só podemos imaginar revendo as velhas litografias. A aplicação desses princípios em termos práticos foi comum, se utilizando não apenas espanhóis como holandeses, franceses, ingleses e portugueses. Na Índia, adotariam esquemas medievos renascentistas, sempre que surgisse a oportunidade de construir centros de maior importância, pois “era preciso caminhar mais depressa e dar monumentalidade aos edifícios públicos, às igrejas e aos conventos”. Figura 13 – Damão e Baçaim (Índia) 1.5.1 Traçado Até 1580 , as vilas como São Paulo, Olinda e Vitória tinham traçados irregulares. Mas Salvador, como “cidade real”, foi criada com características diferentes. Para traça-la, veio de Portugal o mestre de fortificações Luiz Dias, que trouxe diretrizes da Corte sobre o modo de proceder. A cidade teve desde o início ruas retas e seu desenho aproximava-se, nos terrenos planos, do clássico tabuleiro de xadrez. Um esquema semelhante foi adotado em São Luiz do Maranhão e Filipéia (João Pessoa). 20 Figura 14 – Salvador (Bahia) 1.5.2 A Escolha dos Sítios O sítio de uma vila ou cidade é o local onde está sendo assentada. Praticamente todas as cidades ou vilas fundadas antes de 1580 foram assentadas sobre colinas que facilitassem sua defesa pela altura e o controle das vias de acesso, principalmente as marítimas e fluviais. Variavam as alturas das colinas, mas os sítios eram praticamente iguais. Durante o domínio espanhol (1580-1640), estabelecido o controle ibérico sobre todo o litoral, tornaram- se comuns as vilas e cidades com sítios escolhidos em terrenos planos ou quase planos, como Cabo Frio, João Pessoa, Ubatuba, São Sebastião, Parati, Parnaíba e Mogi das Cruzes. Na Bahia, o desenvolvimento do comércio obrigou a criação artificial de uma nova área urbana, na Cidade Baixa. Em locais como Ilhéus e Porto Seguro formaram-se rapidamente novas áreas urbanas, nas baixadas. Figura 15 – Salvador (Bahia) 21 Em 1549 para dar novo impulso à colonização, o governo português promoveu a criação de um governo feral e a fundação da cidade de Salvador na capitania da Bahia como sede da nova administração (Cidade Real). Fundada por Tomé de Souza, é a terceira cidade a ser fundada no Brasil. A primeira foi São Vicente em São Paulo (1532) e a segunda Olinda em Pernambuco (1537). Figura 16 – Salvador (Bahia) Na cidade de Salvador encontramos uma expressão bastante nítida da síntese de algumas das características fundamentais das cidades de origem portuguesa: construção do núcleo urbano primitivo no cume de um monte e a sua organização em dois níveis, a Cidade Alta, sede do poder civil e religioso, das residências dos grandes proprietários rurais e a Cidade Baixa, onde se desenvolvia as atividades marítimas e comerciais. A Coroa Portuguesa tinha preocupação em manter um traçado regular, adaptado á topografia local. Figura 17 – Salvador (Bahia) Até hoje o centro histórico de Salvador preserva a trama urbana original do século XVI. Foi o primeiro núcleo brasileiro concebido com trama regular. É onde se situa o 22 Pelourinho, que é considerado o mais expressivo conjunto urbanístico de casarões coloniais do século XVII e XVIII. Figura 18 - Salvador (Bahia) No Renascimento, as idéias urbanísticas se restringiram quase exclusivamente à ampliação e reconstrução das cidades já existentes, os palácios dos ricos comerciantes, principais expressões arquitetônicas da nova ordem, foram construídos num cenário urbanoainda medieval. Os limites impostos pelos sítios mais antigos obrigaram muito cedo as adaptações importantes, em núcleos cuja população se expandia. O Rio de Janeiro praticamente se transferiu do Morro do Castelo para a praia. Figura 19 – Rio de Janeiro Em 1534, a região está dividida entre duas capitanias: São Vicente, ao sul, e São Tomé, ao norte. Em 1555, os franceses ocupam a área e só em 1567 são expulsos definitivamente. Em 23 1565, Estácio de Sá funda a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que se torna sede do Governo do Sul quando, em 1572, o rei de Portugal divide o Brasil em duas administrações. A pecuária, o cultivo da cana-de-açúcar e a agricultura de subsistência garantem um rápido progresso, que aumenta com a transformação do porto do Rio em escoadouro da riqueza extraída de Minas Gerais. Em 1763, torna-se capital do vicereino. A cidade do Rio de Janeiro, apesar de aparentemente não ter sido objeto de um planejamento urbanístico inicial, antes evoluindo de forma tradicional a partir da ocupação inicial de um morro e de formas de povoamento linear ao longo da costa, acabou contudo por se estruturar também segundo um plano de base ortogonal. Figura 20 – Rio de Janeiro O desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro, justificado pela sua crescente importância estratégica e econômica, contou ao longo do tempo com a contribuição de vários engenheiros militares, portugueses e estrangeiros, que planejaram a expansão ordenada da cidade e mantiveram a coerência do seu plano urbano. Tal como em outras cidades, a regularidade do traçado molda-se sem esforço às particularidades do terreno, às preexistências naturais ou às construídas pelo homem, e à lógica dos percursos de ligação entre pontos do território ou da malha urbana. 24 2 CIDADE COLONIAL No Brasil, a Arquitetura colonial é definida como a arquitetura realizada no atual território brasileiro desde 1500, ano do descobrimento pelos portugueses, até a independência, em 1822. Durante o período colonial, os colonizadores importaram as correntes estilísticas da Europa à colônia, adaptando-as às condições materiais e sócio-econômicas locais. Encontram- se no Brasil edifícios coloniais com traços arquitetônicos renascentistas, maneiristas, barrocos, rococós e neoclássicos, porém a transição entre os estilos se realizou de maneira progressiva ao longo dos séculos e a classificação dos períodos e estilos artistísticos do Brasil colonial é motivo de debate entre os especialistas. A importância do legado arquitetônico e artístico colonial no Brasil é atestada pelos conjuntos e monumentos desta origem que foram declarados Patrimônio Mundial pela UNESCO. Estes são os centros históricos de Salvador, Ouro Preto, Olinda, Diamantina, São Luís do Maranhão, Goiás Velho, o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas do Campo e as ruínas das Missões Jesuíticas Guarani em São Miguel das Missões. 2.1 REDE URBANA NA AMÉRICA ESPANHOLA O processo de exploração conquista e colonização da América Espanhola, entre 1492 a 1567, foi empreendida em duas etapas: na primeira, com um caráter móvel e marítimo, os exploradores ocuparam e percorreram as ilhas do Caribe e a costa norte do continente americano. A segunda etapa, a conquista, caracterizou-se pela ocupação do litoral e do interior, seguida de um ímpeto sem precedentes na fundação de núcleos urbanos. Em 1567, data da fundação de Santiago de Léon, atual Caracas, a América Espanhola já possuía uma rede urbana que, basicamente, permanece até os dias de hoje, com mais de duas centenas de cidades distribuídas por todo o seu território. Colombo, em sua primeira viagem, chegou até a América Central, a uma ilha que chamou La Española, em dezembro de 1492, e com intenções de construir um sítio com caráter permanente, fundou o povoado La Isabela, em janeiro de 1494. Colombo repartiu os solares de La Isabela e ordenou suas ruas e praças. No entanto esse assentamento não teve um traçado regular, pois seu conjunto não obedeceu à nenhuma disposição de ruas cruzadas retangularmente e seus edifícios estavam dispersos e orientados segundo eixos diferentes. 25 Mais tarde, Nicolas de Ovando, nomeado Gobervador y Justicia Sruprema de Las Indias, em 1501, transladou os habitantes de La Isabela para Santo Domingo, fundada em 1502, provocando sua decadência e esvaziamento. E no interior da ilha, fundou onze vilas, cinco no território do atual Haiti e seis no de São Domingos. As viagens de Sebastian Ocampo resultaram na exploração da ilha de Cuba e na fundação de sete núcleos, existentes até os dias de hoje: La Habana (1510), Baracoa (1511),Bayamo (1513), Santiago de Cuba (1514), Sancti Spiriti (1515), Camaguey(1515) e Puerto Príncipe (1515). Ponce de Leon e Diego de Velasquez percorreram a ilha de Porto Rico onde fundaram três povoados, os cacicazgos de Caparra (1508), Higuey (1511) e San Germán (1512); Juan de Esquivei conquistou a ilha de Jamaica e fundou, entre 1500-1510, as vilas de Nueva Sevilla, Oristan e Melila. As fundações desse período resumiram-se a um forte ou a um centro de troca e tiveram uma ocupação provisória, com a finalidade de servir de ponto de partida para as expedições de conquista. Geralmente localizadas em portos naturais ou em áreas de cacicazgos e próximas a explorações de ouro, resultaram na destruição do sistema de produção indígena e de seus produtores. Nombre de Dios (1510), o primeiro assentamento do continente sulamericano, localizado em um porto da costa norte do Panamá, desapareceu com a fundação, no mesmo ano, de Santa Maria la Antigua dei Darien, o primeiro núcleo a ostentar o título de cidade, embora com total dependência de Santo Domingo, que se transformou no maior centro urbano da colônia, entre 1511 e 1519, por concentrar o comércio e a maioria da população. A fundação de Panamá la Vieja (1519), escolhida por seu clima privilegiado e pela madeira abundante, significou também o despovoamento de Santo Domingo. Cabe ressaltar que este fenômeno, fundação de vilas seguida de despovoamento, foi uma constante no século XVI e significou também os pontos de partida para as expedições de conquista como na Venezuela com a fundação de Nueva Cádiz até a atual ilha de Margarita como centro de comércio de pérolas e abastecimento alimentício. 2.1.1 As principais causas do abandono dos assentamentos espanhóis no século XVI Hostilidade da população indígena, decorrente dos maus tratos recebidos por parte dos conquistadores, mediante a captura e a venda dos índios como escravos, e do trabalho compulsório que resultou no aniquilamento de sua cultura e de sua forma de vida. 26 Desastres naturais: terremotos, erupções de vulcões ou inundações. Escolha inadequada do sítio (assentamentos) pelas dificuldades de acesso ao porto e à praia, por se encontrarem em sítios pantanosos, alagadiços, insalubres e sem fontes de abastecimento. Todas essas causas contribuíram para as altas taxa de mortalidade tanto de indígenas como dos espanhóis. A estratégia aplicada de imediato pelos espanhóis foi a ocupação das capitais indígenas e o domínio de seus chefes, a fim de garantir o abastecimento e a mão-de-obra para exploração dos metais preciosos. Embora se tenham apoiado nos assentamentos indígenas, os espanhóis introduziram uma dimensão espacial diferente das antigas culturas urbanas pré-colombianas, evidenciando que a influência indígena não influenciou traçado da cidade e se manifestou apenas na localização. Esses assentamentos urbanos construídos sobre ou ao lado dos pueblos de índios oude cacicazgos constituíram uma espada de dois gumes para os espanhóis: de um lado, a presença do indígena era essencial para a sobrevivência das fundações e, de outro, essa presença foi, em maior ou menor grau, a responsável pela destruição e o posterior abandono dos núcleos urbanos. Nesse cenário de instabilidade, precariedade e abandono, os centros mais povoados foram em primeiro lugar, as cidades mineiras, seguidas das portuárias e, por último, as administrativas. O ouro e a prata já eram conhecidos pelos espanhóis desde as suas primeiras viagens de exploração; entretanto, tratava-se de veios que se esgotaram rapidamente, e nenhum dos centros mineiros foi explorado, de forma organizada, na primeira metade do século XVI. A partir da segunda metade desse século a mineração foi uma das principais razões dos movimentos de população e da fundação de núcleos urbanos até finais do século XVII, quando a crise da mão-de-obra e a baixa tecnologia das minas deram os primeiros sinais de esgotamento. O dinamismo urbano posterior, atestado pelo crescimento demográfico de algumas cidades, foi provocado pelas migrações indígenas, sujeita ao trabalho forçado e voluntários artesãos independentes, bem como as migrações que envolviam o comercio e a indústria: carpinteiros, pedreiros, sapateiros entre outros. Surgiram também as cidades portuárias a partir de portos naturais como no Panamá e centros administrativos e agrícolas, principal atividade econômica do período. Os núcleos portuários apresentaram certa regularidade no traçado, mas, como mostra a figura a seguir, não adquiriram a forma da quadrícula; suas ruas não eram rigidamente paralelas, os quarteirões foram de diferentes tamanhos, e a localização da Plaza Mayor era 27 próxima ao porto, como demonstração do poderio espanhol, e não no meio da malha urbana. No entanto, há exceções: Buenos Aires é um exemplo de cidade portuária que localizou sua praça principal próxima ao porto, mas obedeceu ao desenho do damero. Figura 21 – Plano de Santo Domingo- Republica Dominicana Figura 22 – Plano de Buenos Aires As capitais administrativas obedeceram ao traçado da quadrícula; o espaço das praças era invariavelmente definido antes de sua fundação, e todos os seus lados deveriam ter igual importância; contudo o ponto focai, onde era construída a igreja, acabou por transformar este no lado mais importante. Apesar do aumento demográfico em algumas delas, a verdade é que o crescimento da grande maioria foi extremamente lento e incerto, não sendo raro o caso de cidades que decresceram em número absoluto. Por volta de 1630, as maiores cidades administrativas eram México com 15 mil vecinos e Lima, com 9.500 vecinos. Em segundo lugar Quito, com três mil, seguida de Bogotá (dois mil), La Plata (mil), Santiago do Chile (quinhentos), La Paz e Buenos Aires (duzentos). 28 2.2 DESIGNAÇÕES NORMATIVAS PARA FUNDAÇÃO DAS NOVAS CIDADES COLONIAIS ESPANHOLAS NA AMÉRICA As principais designações normativas para a fundação das novas cidades espanholas na América são: a) Estabelecimento de uma retícula regular de quarteirões iguais, em cujo centro deveria se dispor uma grande praça aberta (plaza mayor), central e de forma oblonga, com o comprimento igual a uma vez e meia a sua largura (festividades); Figura 23 – Esquema ideal da praça b) O tamanho da praça deveria ser proporcional ao número de habitantes, sem esquecer seu possível crescimento (estimava-se de 200 a 500 pés de largura por 300 a 800 pés de comprimento, sendo o tamanho ideal igual a 400 x 600 pés); c) A praça seria acessada por 04 ruas, voltadas aos 04 pontos cardeais e cada uma disposta a partir do ponto médio de cada lado, além de 02 ruas de cada um dos ângulos, que deveriam desembocar sem serem obstruídas pelos pórticos da praça. Sua largura seria definida conforme o clima (se quente, larga; se frio, estreita); Figura 24 – Plan de San Antonio (Texas EUA) 29 d) Na praça deveriam ser dispostos os edifícios mais importantes: a igreja, o paço municipal (cabildo) e as casas dos mercadores e dos colonos mais ricos. No caso da necessidade de conversão dos nativos ao cristianismo, a igreja deveria ser antecedida por um grande pátio (adro) e ao lado da fachada estabelecida uma capela aberta (capela de índios); Figura 25 – Cabildo de Salta (Argentina) Figura 26 – Cabildo de Buenos Aires (Argentina) Figura 27 – Praça da Constituição (Guadalajara, Cidade do México) 30 Figura 28 – Plaça Bolivar (Bogotá, Colômbia) e) Reservados os principais lotes edificáveis ao redor da praça central (plaza mayor), os demais seriam distribuídos ao acaso para aqueles colonos com condições de ali se estabelecerem. Já os lotes não-atribuídos seriam destinados a futuros colonos. Como exemplos da aplicação da retícula espanhola, podem ser citadas as cidades coloniais de Guadalajara e Cholula (México); Quito (Equador), Santiago (Chile), Buenos Aires (Argentina) e Santiago de Leon, hoje Caracas (Venezuela), entre outras. Figura 29 – Centro de Cholula (México) Figura 31 – Plano de Santiago (Chile) 31 Figura 30 – Plan de Quito (Equador) Figura 31– Plano da Cidade do México 1 Catedral 2 Templo Mayor 3 Palácio nacional 4 Suprema Corte 5 Cabildo 6 Nac. Monte Piedad Enquanto o traçado das ruas e praças da cidade colonial espanhola era grandioso, as suas edificações eram baixas e modestas. Figura 32 – Vista geral de Santiago (Chile) 32 Com capacidade de expansão ilimitada, seu contorno externo era quase sempre provisório, sem a necessidade de muros ou fossos – somente as cidades costeiras seriam fortificadas para proteção de piratas –, além de não haver uma distinção muito clara entre campo e cidade. Figura 33 – Plan de Montevideo (Uruguai) Figura 34– Buenos Aires (Argentina) 33 Figura 35 – Centro de Asunción (Paraguai) 34 CONCLUSÃO Renascimento foi o nome dado a um período que se passou na Itália desde o começo do século XV até o final do século XVIII, no qual há um retorno aos valores da antiguidade clássica, com várias fases, entre elas o primeiro Renascimento, o Renascimento tardio, o Barroco, o Rococó e o Neoclássico, que para a arquitetura e para Urbanismo trouxe o equilíbrio, a harmonia e a regularidade geométrica, quando a arquitetura passou a ser vista também como uma ciência, por possuir uma razão e poder ser justificada. Nesse período, desenhos muito importantes foram feitos, representando com fidelidade como eram ou poderiam ser os edifícios na realidade. Dessa forma, propostas de cidades ideais foram desenvolvidas. Porém, como as cidades antigas e medievais já eram muitas e grandes, e não havia motivos para a construção de outras cidades, aquelas já existentes foram sendo modificadas e adaptadas de acordo com os novos conceitos. Praças foram criadas, muros perderam sua função, as ruas deixaram de ser usadas apenas para circulação, antigos monumentos foram renovados e outros tiveram seu uso alterado. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Berriel, C. E. O. "Uma utopia do cinquecento: "Mondo savio e pazzo", de Anton Francesco Doni". In Remate de Males n. 22, IEL-Unicamp, 2002. CIDADE RENASCENTISTA. Disponível em: <http://www.histeo.dec.ufms.br/tabalhos/teoria3_2008/Urbanismo%20do%20Renascimento.p df> Acesso em: 20 de junho de 2014. GÊNOVA. Disponível em: <http://www.donatoviagens.com.br/viagem/piemonte,- lombardia-e-liguria/110/sugestao>.Acesso em: 09 de junho de 2014> Principais Características. Disponível em: http://historiasartesefilosofias.blogspot. com.br/2012/06/principais-caracteristicas-da.html. Acesso em 11 de junho, 2014. Urbanização Colonial: Disponível em <http:/repositorio.unb.br/bitstream/10482/ 11861/1/ARTIGO_UrbanizacaoColonialAmericaLatina.pdf>. Acesso em: 11 de junho de 2014.
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