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Trabalho Cidades Renascentistas e coloniais

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA 
CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA 
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL 
 
ÁGATHA DA SILVA SOUZA 
ANA RAFAELA ALVES DE OLIVEIRA LIMA 
HALISSON DA SILVA RODRIGUES 
ITALO MALINOWSKI DE ARAGÃO 
MARCELO SILVA DO NASCIMENTO 
VALESKA MONIQUE CHAVES LEITE 
YAGO BORICI NARDI 
 
 
 
 
CIDADE RENASCENTISTA E COLONIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BOA VISTA-RR 
JINHO/2014 
2 
 
 ÁGATHA DA SILVA SOUZA 
ANA RAFAELA ALVES DE OLIVEIRA LIMA 
HALISSON DA SILVA RODRIGUES 
ITALO MALINOWSKI DE ARAGÃO 
MARCELO SILVA DO NASCIMENTO 
VALESKA MONIQUE CHAVES LEITE 
YAGO BORICI NARDI 
 
 
 
 
 
 
 
 
CIDADE RENASCENTISTA E COLONIAL 
 
 
 
Trabalho científico apresentado à disciplina de CIV-
33 Arquitetura e Urbanismo, para obtenção de nota 
do semestre vigente, sob a orientação da professora 
Karine Jussara. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BOA VISTA-RR 
JUNHO/2014 
3 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 01 – Florença (Itália) ..................................................................................................... 07 
Figura 02 – Palácio dos Doges (Veneza) .................................................................................. 07 
Figura 03 – Basílica de San Marcos (Veneza) ......................................................................... 08 
Figura 04 – Museu Correr (Veneza) ........................................................................................ 08 
Figura 05 – Ponte dos Suspiros (Veneza) ................................................................................. 08 
Figura 06 – Palácio Ducale (Veneza) ....................................................................................... 08 
Figura 07 – Veneza .................................................................................................................. 10 
Figura 08 – Gênova .................................................................................................................. 10 
Figura 09 – Florença ................................................................................................................ 10 
Figura 10 – Milão ..................................................................................................................... 11 
Figura 11 – Roma ..................................................................................................................... 11 
Figura 12 – Sabbioneta (Itália) 1560 ........................................................................................ 18 
Figura 13 – Damão e Baçaim (Índia) ........................................................................................ 19 
Figura 14 – Salvador (Bahia) .................................................................................................... 20 
Figura 15 – Salvador (Bahia) .................................................................................................... 20 
Figura 16 – Salvador (Bahia) .................................................................................................... 21 
Figura 17 – Salvador (Bahia) .................................................................................................... 21 
Figura 18 - Salvador (Bahia) .................................................................................................... 22 
Figura 19 – Rio de Janeiro ....................................................................................................... 22 
Figura 20 – Rio de Janeiro ........................................................................................................ 23 
Figura 21 – Plano de Santo Domingo- Republica Dominicana ............................................... 27 
Figura 22 – Plano de Buenos Aires ......................................................................................... 27 
Figura 23 – Esquema ideal da praça ........................................................................................ 28 
Figura 24 – Plan de San Antonio (Texas EUA) ........................................................................ 28 
Figura 25 – Cabildo de Salta (Argentina) ................................................................................. 29 
Figura 26 – Cabildo de Buenos Aires (Argentina) ................................................................... 29 
Figura 27 – Praça da Constituição (Guadalajara, Cidade do México) ...................................... 29 
Figura 28 – Plaça Bolivar (Bogotá, Colômbia) ........................................................................ 30 
Figura 29 – Plano de Santiago (Chile) ...................................................................................... 30 
Figura 30 – Plan de Quito (Equador) ........................................................................................ 31 
Figura 31 – Plano da Cidade do México ................................................................................... 31 
Figura 32 – Vista geral de Santiago (Chile) ...............................................................................31 
Figura 33 – Plan de Montevideo (Uruguai) .............................................................................. 32 
Figura 34 – Buenos Aires (Argentina) ...................................................................................... 32 
Figura 35 – Centro de Asunción (Paraguai) ............................................................................. 33 
 
4 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 5 
1 CIDADE RENASCENTISTA ............................................................................................. 6 
1.1 BREVE INTRODUÇÃO SOBRE O PERÍODO RENASCENTISTA ........................... 6 
1.2 CARACTERÍSTICAS DAS CIDADES RENASCENTISTAS ..................................... 6 
1.3 CIDADE TARDO-MEDIEVAL ................................................................................... 9 
1.4 CIDADES UTÓPICAS DO RENASCIMENTO ......................................................... 12 
1.5 OS PRIMEIROS NÚCLEOS URBANOS DO BRASIL ............................................. 18 
1.5.1 Traçado ............................................................................................................... 19 
1.5.2 A Escolha dos Sítios ............................................................................................ 20 
2 CIDADE COLONIAL ..................................................................................................... 24 
2.1 REDE URBANA NA AMÉRICA ESPANHOLA ...................................................... 24 
2.1.1 As principais causas do abandono dos assentamentos espanhóis no século XVI ... 25 
2.2 DESIGNAÇÕES NORMATIVAS PARA FUNDAÇÃO DAS NOVAS CIDADES 
COLONIAIS ESPANHOLAS NA AMÉRICA................................................................. 28 
CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 34 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 35 
 
 
5 
 
INTRODUÇÃO 
 
No início da Idade Moderna, as cidades ocidentais renasceram graças ao lento mas 
progressivo desenvolvimento do comercio, tornando-se importantes centros políticos e 
econômicos, que levaram à perda do poder dos senhores feudais e à decadência do feudalismo. 
Além disso, teve inicio a Renascença, período marcado pelo antropocentrismo e pelo grande 
avança intelectual e artístico de toda a sociedade ocidental, cujas bases eram filosóficas. 
O conceito do espaço urbano renascentistaabandonou a ideia da Baixa Idade Média 
de conjunto vivo e orientou-se para um ideal de perfeição. 
Logo após a Renascença, entre os séculos XV e XVI, tiveram início a Era das 
Navegações e a consequente expansão mundial da civilização europeia, impulsionada pelo 
mercantilismo e pela posterior descoberta de metais preciosos nas colônias além-mar. Países 
como Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda tornaram-se grandes potências marítimas 
e partiram para o domínio do Novo Mundo, criando várias cidades coloniais em todos os novos 
continentes. 
As Cidades Colônias, onde se constituíram nas realizações urbanísticas mais 
importantes do século XVI, já que demonstraram serem – embora pobres se comparadas aos 
requintes e ambições da cultura artística europeia, as concretizações dos ideais estéticos 
almejados pelos mestres europeus da Renascença. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
1 CIDADE RENASCENTISTA 
 
1.1 BREVE INTRODUÇÃO SOBRE O PERÍODO RENASCENTISTA 
 
O Renascimento começou na Itália, no século XIV, e difundiu-se por toda a Europa, 
durante os séculos XV e XVI com as expedições oceânicas, que por sua vez alargaram a visão 
do homem europeu. Foi um período da história europeia marcado por um renovado interesse 
pelo passado greco-romano clássico, especialmente pela sua arte, ou seja, o movimento reviveu 
a antiga cultura greco-romana, pensamento da época era voltado a filosofia grega e das 
realizações artísticas. O renascimento deu grande privilégio à matemática e às ciências da 
natureza. A exatidão do cálculo chegou até mesmo a influenciar o projeto estético dos artistas 
desse período. Desenvolvendo novas técnicas de proporção e perspectiva, a pintura e a escultura 
renascentista pretendiam se aproximar ao máximo da realidade. Em consequência disso, a 
riqueza de detalhes e a reprodução fiel do corpo humano formavam alguns dos elementos 
correntes nas obras do Renascimento. Surgiu também o ideal humanista, que uma filosofia que 
coloca os humanos como principais numa escala de importância. 
 
1.2 CARACTERÍSTICAS DAS CIDADES RENASCENTISTAS 
 
As principais características das cidades renascentistas eram: traçado regular, muralhas 
que davam lugar a ruas e avenidas; cidades com função comercial, financeira e artística; 
construção de grandes praças e jardins públicos; construções de caráter monumental como 
igrejas e palácios; as igrejas eram construídas isoladamente para dar destaque; os parque e 
jardins eram decorados com fontes, estátuas, obeliscos, arcos e colunas; grandes avenidas eram 
abertas com perspectiva em ponto focal de destaque para palácios, fontes, jardins, etc.; e o uso 
extremo da geometria, simetria e da hierarquia das vias. 
7 
 
. 
Figura 01 – Florença (Itália) 
 
 
Figura 02 – Palácio dos Doges (Veneza) 
 
Uma importante cidade renascentista foi Veneza situada no nordeste da Itália, formada 
em pequenas ilhas com aproximadamente 271009 habitantes, e famosa por sua historia, muitos 
canais , museus e monumentos. Foi uma das cidades mais importantes graças ao seu poder naval 
pelo arsenal, com mercado riquissimo e arte sofisticada. 
Em veneza, se localiza uma das mais famosas praças do mundo, denominada Piazza 
San Marco, onde pode-se notar exemplos das características de cidades renascentistas, como os 
monumentos,um deles é a basílica de San marco que traz a arquitetura renascentista, destacando 
também museus, pontes como atrativos turísticos, palácios. 
8 
 
 
Figura 03 – Basílica de San Marcos (Veneza) 
 
 
Figura 04 – Museu Correr (Veneza) 
 
 
Figura 05 – Ponte dos Suspiros (Veneza) 
 
 
Figura 06 – Palácio Ducale (Veneza) 
 
9 
 
1.3 CIDADE TARDO-MEDIEVAL 
 
O conceito do espaço urbano renascentista abandonou a ideia da Baixa Idade Média 
de conjunto vivo e orientou-se para um ideal de perfeição normal pura. A Cidade Tardo-
medieval era caracterizada pelo seu singular equilíbrio formal, com a igreja e a autoridade civil 
niveladas e contrapostas na forma global e nas articulações internas, onde a arquitetura e os 
espaços coletivos púbicos compunham-se livremente. 
Na cidade renascentista os traçados regulares e as ruas irradiadas de uma praça central 
passaram a predominar a uniformidade, canhões defendiam estrategicamente as entradas das 
cidades. A busca pelo modelo ideal levou a repetição de alguns motivos geométricos 
arquetípicos, principalmente o quadrado e o círculo. 
Os literatos e os pintores descreveram a nova cidade, mas com o objetivo teórico, para 
a construção de uma cidade ideal. Em toda a centralidade adquirida pelo homem na natureza, a 
cidade também devia se tornar sob medida para o homem e encerrar em si as qualidades de 
beleza e funcionalidade. 
A arte renascentista confundiu-se com a arte de projetar cidades, fazendo com que as 
leis de perspectiva se tornassem as regras de construção das vias, praças e conjuntos urbanos, 
segundo princípios universais de simetria e proporção. 
Na prática o método renascentista não conseguiu produzir grandes transformações nos 
organismos urbanos e territoriais, pois os governos renascentistas não tinham estabilidade 
política e os meios financeiros suficientes para realizar programas longos e comprometidos. 
Deste modo, a arquitetura da Renascença realizou seu ideal de proporção e de 
regularidade em alguns edifícios isolados, e não esteve em condição de fundar ou transformar 
uma cidade inteira. 
As cidades se desenvolveram em resposta à demanda de outros lugares, seja o interior 
imediato, sejam áreas mais distantes, porque elas prestavam serviços a esses outros lugares. 
As cidades eram capazes de manter suas posições por meio de suas políticas 
econômicas, geralmente controlavam o campo em torno delas, seu contado, e podiam, à custa 
do campo, impor uma política de comida barata para seus habitantes. 
No caso da Europa pré-industrial, é útil distinguir três tipos de serviços e três tipos de 
cidades: 
 CIDADE COMERCIAL: Geralmente um porto, como Veneza e sua Rival, Gênova. 
10 
 
 
Figura 07 – Veneza 
 
 
Figura 08 – Gênova 
 
A cidade de Gênova possui um terreno bastante acidentado, não possui praticamente 
nenhuma terra plana, se assemelha a uma montanha-russa de ruas sinuosas e escadarias cortadas 
por caminhos. Pelas encostas Gênova apresenta edifícios com fachadas que colorem os morros 
da cidade, além de jardins suspensos, torres de igrejas e ruínas de antigas muralhas da cidade. 
 
 CIDADE ARTESÃ-INDUSTRIAL: Como Milão e Florença. 
 
Figura 09 – Florença 
11 
 
Florença era uma cidade industrial por excellence, e o tecido era sua principal 
indústria. Também era famosa pelo seu vidro, navios e a partir de 1490 por sua indústria de 
impressão. 
 
Figura 10 – Milão 
 
 CIDADE DE SERVIÇO: Um dos serviços mais lucrativos era o financeiro. Do século 
XIV ao XVI, os italianos dominaram o movimento bancário europeu. As capitais 
ofereciam outros tipos de serviços: Nápoles e Roma, por exemplo, eram cidades de 
funcionários e centros de poder. 
 
Figura 11 – Roma 
 
As cidades no Renascimento pareciam labirintos. As muralhas nas cidades 
representavam a prosperidade e ao mesmo tempo o medo. Essas muralhas limitavam o espaço 
das cidades medievais. Quando a população crescia muito, algumas cidades expandiam suas 
muralhas, outras simplesmente deixavam as muralhas de pé e construíam novas cidades e vilas 
ao redor da antiga cidade. A segurança era muito importante para qualquer camada social. As 
cidades geralmente eram construídas em terrenos montanhosos. 
12 
 
A religião refletia nas cidades da época, onde na maioria das vezes, a igrejaestava 
localizada no centro da cidade, e era a maior, mais alta e a mais cara estrutura. Assim toda a 
cidade era organizada, de modo hierárquico, em torno da igreja e do palácio papal. 
Podemos destacar como um ponto importante das cidades o Tratado do Urbanismo. 
Esse tratado definia não mais importante, que a cidade era formulada a partir de fatores 
climáticos. Segundo o Tratado as ruas estavam divididas em três categorias: 
 As ruas principais: que se dividem em rurais e urbanas. Onde as ruas rurais deveriam 
ser largas, retas e o mais curta possível, e as urbanas, por serem nobres e poderosas, 
eram largas e retas para valorizarem seu entorno. 
 As ruas secundárias: são estreitas, para transmitirem aconchego e proteger as 
edificações do sol, além de proteger os moradores contra inimigos, eram levemente 
curvilíneas para aparentar maior largura das vias. 
 As ruas funcionais: são aquelas que exercem funções dentro da cidade, como por 
exemplo, a rua que conduz ao templo, ou a rua que leva ao trabalho e assim por diante. 
 
Algumas recomendações gerais para a cidade era que as ruas deveriam estar bem 
empedradas e limpas ao extremo. Todos os edifícios tinham que estar alinhados, ter 
continuidade e mesma altura. Deviam-se prever também espaços públicos. A perspectiva que 
organizava o espaço em linhas matemáticas dentro de dois planos era apresentada como uma 
construção geométrica correta, que se transformou em instrumento de retificação e construção 
dos cenários urbanos. A Perspectiva de uma praça representa em proporções matemáticas da 
praça, a forma perfeita circular apresentada na igreja central, a regularidade dos pequenos 
palácios nas margens. 
 
1.4 CIDADES UTÓPICAS DO RENASCIMENTO 
 
Thomas Morus, em 1516, criou a ideia de utopia ao descrever uma ilha imaginária com 
uma sociedade perfeita em todos os sentidos. O surgimento desse gênero literário, tão próximo 
da história, da filosofia e da política, está ligado ao processo burguês de racionalização da vida. 
O Renascimento sintetizou um grande experimento de racionalização da vida humana. Para 
construir a sua sorte e o destino da humanidade, os homens daquela época fixaram normas de 
conduta e quiseram regulamentar cada aspecto da vida prática. A lógica desta idéia levou à 
construção de critérios universalmente válidos para cada atividade, com normas, regras e 
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códigos: surgiram assim os tratados sobre o perfeito cortesão, sobre o perfeito ministro, sobre 
o perfeito homem do mundo. 
Essa necessidade de impor uma racionalidade à vida individual e coletiva, 
inevitavelmente, chegou ao urbanismo renascentista. Nos termos renascentistas, a nova cidade 
é fundada pela necessidade da virtù combater eternamente a fortuna ameaçadora. As cidades 
medievais haviam se desenvolvido anarquicamente, pelo impulso das iniciativas individuais. 
Mas essa estrutura comunal foi substituída pelas iniciativas de príncipes desejosos de ampliar 
seu poder e de instaurar a ordem. Na Itália, surgiram soberanos construtores que sonhavam com 
novas cidades e, pela oportunidade, arquitetos do Quattrocento planejam cidades num estilo 
racional e geométrico. Mas não é possível modificar as muralhas sem modificar os homens: a 
cidade é o espelho e a dimensão do homem. A organização social passa a ser uma preocupação 
dos urbanistas, colocando o ser humano no centro de suas construções, e sonham em torná-los 
idênticos: que a uma cidade sã e racional corresponda um novo homem! 
Aparecem então os teóricos de um urbanismo utópico. Não é fundamental que tais 
cidades ideais sejam de fato construídas: mesmo sem saírem do papel, servem para a melhor 
compreensão das limitações de nosso presente, e sugerem cidades melhores do que as nossas. 
E, se puderam ser pensadas, poderão ser construídas. Aos seus grandiosos projetos de cidades 
com traçados retilíneos, os urbanistas unem o desejo de regulamentar a vida dos habitantes, de 
fazer da sociedade um minucioso alvéolo onde cada um possa encontrar o seu lugar e a sua 
função. A De reaedificatoria de Leon Battista Alberti (1452), testemunha a superação da 
arquitetura pela noção de construção social. Na sua cidade, as classes são distribuídas em 
bairros diferentes, as ruas são reservadas para determinados ofícios, são previstos asilos para os 
pobres. Antonio Avelino, o Filarete (1400-1466), florentino a serviço de Galeazzo Sforza, tem 
intenções maiores. No seu Trattato desenha uma cidade fantástica chamada Sforzinda, um 
projeto digno das ambições do duque. Ele a situa numa planície fértil, sobre terras fecundas, 
onde é possível unir países da Cocanha com o utopismo popular. As muralhas, com um 
perímetro de 20 km, formam um polígono regular de 16 lados em forma de estrela. Essas 
muralhas ciclópicas são construídas em 10 dias por 102.000 operários, que a cada jornada 
assentam 30 milhões de pedras. 16 avenidas principais, retilíneas e com largura de 20 metros, 
conduzem às oito portas e às oito torres angulares. Ao centro da estrela, uma praça de 200 
metros por 100; surgem áreas para joalheiros e banqueiros, edifícios para as corporações e os 
negócios, banheiros públicos, hospitais, prédios para os médicos e a administração. Filarete 
pensa nos habitantes de Sforzinda, regulamenta, reparte, administra. As crianças pobres são 
educadas em colégios especiais, usam uniformes, dormem 7 horas por noite, a disciplina é 
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férrea, a dieta frugal. A cidade é governada por um legislador, Zogalia (anagrama de Galeazzo 
Sforza) e por quatro magistrados eleitos. O interesse prioritário é o da cidade, severas leis 
suntuárias ensinam a simplicidade. A febre dos construtores avassala Filarete no seu sonho 
prometeico: mais que uma cidade, é um novo mundo o que ele deseja construir; o urbanista 
torna-se demiurgo e, ao transformar a cidade, transforma o homem e lhe indica seu destino 
terreno. Os tempos estavam maduros para a primeira utopia moderna. 
Mesmo o modelo urbanístico de Leonardo da Vinci, um desenho de cidade perfeita, 
detalhava como deveriam ser as ruas, casas, esgotos, etc. Pelas ruas altas não deveriam andar 
carros nem outras coisas similares, mas apenas gentis-homens; pelas baixas deveriam andar 
carros e outras coisas somente para uso e comodidade do povo. De uma casa a outra, deixando 
a rua baixa no meio, por onde chegam vinho, lenha, etc. Pelas ruas subterrâneas estariam as 
estrebarias e outras coisas fétidas. De um arco a outro devem existir 300 braças, por onde 
entraria luz, e cada arco deveria ter uma escada em caracol. "Tanto seja larga a rua quanto é a 
universal altura das casas". Façam-se fontes em cada uma das praças. E assim por diante. A 
cidade descrita por Leonardo já é, de certa forma, utopia; é uma exigência completamente 
racional, que espera ser traduzida em prática. 
Thomas Morus não foi um sonhador, mas brilhante político nomeado, em 1529, grão- 
chanceler da Inglaterra. O Renascimento foi um período de crises e instabilidades contínuas, e 
Morus conhecia os problemas de seu tempo: foi pensando neles que publicou em 1516 a sua 
Utopia. 
Utopia é minuciosamente descrita, sendo uma ilha com formato de meia lua, 
circundada de montanhas que oferecem uma boa defesa natural. Houve um tempo, 1760 anos 
antes, em que o país se chamava Abraxa e era unido ao continente; o rei Utopo o conquistou, 
e, para separá-lo da terra firme, fez escavar um istmo. Por isso, as relações externas são raras, 
pois os habitantes dos mundos imaginários se contentam com suas autarquias, e esse isolamento 
lhes preserva da corrupção externa. 
Em Utopia existem 54 cidades, perfeitamente idênticas, construídas com base no 
mesmo projeto e compreendendo edifícios iguais, tanto que é suficiente descreveruma só para 
conhecer-se todas. Amauroto é a capital da ilha. Circundada de muros, atravessada pelo rio 
Anidro, é limpa, salubre e alegrada por graciosos jardins. O sistema político é democrático e 
parlamentar. A célula de base é a família camponesa composta de 40 membros; existindo 6 mil 
famílias em cada cidade, a população da ilha atingirá 13 milhões de habitantes. A propriedade 
privada é completamente ausente. Cada cidade é circundada de terras cultivadas pelos cidadãos 
15 
 
que têm a obrigação de fornecer à comunidade dois anos de serviço agrícola, 
independentemente do ofício que pratiquem. 
Os utopianos são ascéticos e frugais, e vestem hábitos iguais. Preocupam-se com a 
dignidade do trabalho, a planificação da produção e a frutuosa organização do tempo livre. 
Morus é sobretudo atento a um desenvolvimento harmônico do indivíduo. A organização social 
é minuciosa, e o governo se preocupa com o equilíbrio da população: se uma cidade é 
excessivamente povoada, a população em excesso é mandada para uma cidade com menos 
habitantes. 
Cada cidade é dividida em quatro bairros, e possui mercados nos quais os chefes de 
família se abastecem do necessário sem precisarem recorrer à troca ou ao dinheiro. Os alimentos 
são consumidos em comum, segundo disposições imutáveis; velhos e jovens sentam-se uns ao 
lado dos outros, afim de que a severa sabedoria dos anciãos inspire os jovens; a refeição é 
precedida por uma leitura moral. Isto contribui para formar uma comunidade pacífica e fraterna, 
da qual foi removida até o mínimo motivo de rivalidade. Nos hospitais, eficientes e abertos a 
todos, é praticada a eutanásia nos doentes e nos velhos que a requerem. O adultério é punido 
com a escravidão ou com a morte. Os escravos são aqueles que transgridem as leis, os 
prisioneiros de guerra e os trabalhadores braçais pobres das regiões vizinhas: esses são bem 
tratados, mas ficam acorrentados e condenados aos trabalhos forçados; não constituem em 
realidade uma classe social porque os seus filhos nascem livres. 
Morus escolheu um tipo de economia fundada essencialmente sobre a agricultura: é 
uma constante do utopista, fisiocrático inato. A agricultura – simples e natural – é a única 
atividade a estar em harmonia com um comunismo integral, e a consentir num imediato desfrute 
dos bens. Dinheiro e comércio são intermediários infernais entre a necessidade e a sua legítima 
satisfação. A essa economia igualitária corresponde um ordenamento político que elimina as 
diferenças sociais. Nessa federação democrática de condados autônomos – compromisso entre 
cidade antiga e Estado moderno – a coesão se apóia sobre consensus omnium: a vontade 
coletiva é maior que a soma das vontades individuais. 
Utopia se apresenta definitivamente como um livro da razão; porém, no Paraíso de 
Utopia existem inquietantes sintomas de opressão. O indivíduo está sempre exposto ao olhar 
coletivo, e "o estar sob os olhos de todos gera a necessidade de dedicar-se ao trabalho usual ou 
a lazeres não desonestos": este mito da transparência está eternamente atento ao perigoso desvio 
individual. O dilema que atormenta Morus é comum a todos os utopistas: para salvaguardar a 
instituição ideal, criada na sua origem para o indivíduo, ele corre o risco de, ao contrário, 
oprimi-lo, e como todos os utopistas resolve o problema pressupondo que cada cidadão 
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reconheça a coincidência entre necessidade e liberdade: a opressão não está nas intenções, mas 
nos fatos. Morus é homem do Renascimento, por sua fé na ciência e no conhecimento como 
fonte de progresso, inclusive moral. A sua utopia é uma construção do intelecto, mas também 
uma obra de fé e de confiança na ação no mundo real. 
Morus deixou claro o aspecto irreal da sua criação: Utopia é um país de nenhum lugar, 
Amauroto significa cidade fantasma, o Anidro o rio sem água, o príncipe é Ademo, isto é, sem 
povo. A Utopia é a especulação de um humanista. A perspectiva de Morus não é econômica, 
mas ética: é aquela de um homem da ordem que quer a felicidade do povo, mas não através do 
povo, do qual teme a violência. Morus fixou por muito tempo as características ambíguas da 
utopia. 
O mundo sábio e louco (1552), do florentino Anton Francesco Doni, foi a primeira 
obra desse gênero na literatura italiana. Recordando-se da Sforzinda de Filarete – que foi escrita 
antes mas que não tem um enredo ficcional, é um projeto urbanístico utópico, mas não é uma 
utopia enquanto gênero literário – Doni imagina uma cidade com a planta em formato de estrela, 
tendo ao centro uma igreja mais alta que a catedral de Florença; este templo possui cem portas 
das quais partem cem ruas em direção às cem saídas da cidade. Reencontramos aqui a paixão 
pelo urbanismo, pela simetria e pelo equilíbrio geométrico, reflexo de uma harmoniosa 
organização humana. Há ecos de Platão, Morus, Alberti, Leonardo, Guevara. As ruas são 
ocupadas pelos ofícios complementares: se de um lado estão os médicos, do outro estarão os 
boticários; aqui os sapateiros, e em frente os comerciantes de peles; e assim por diante. Doni 
exige uma igualdade rigorosa, um comunismo integral – o mais próximo possível à lei da 
natureza – que exclua inclusive a família. Duas ruas constituem o bairro das mulheres, comuns 
a todos: "Deste modo não existiam parentelas e se ignorava de quem alguém era filho". Todos 
possuem moradias iguais, a mesma comida: "quem não trabalha não come". Os hospitais 
acolhem os doentes, os velhos e os enfermos, mas se pratica uma severa eugenia (as crianças 
deformadas são jogadas num poço). Portanto todos os homens do novo mundo são "belos, bons, 
sãos e frescos". Esta utopia não tem uma forma precisa de governo e não possui leis, nem 
polícia, nem tribunais, nem exército. As crianças criadas em comum aprendem um ofício e não 
se preocupam muito com os estudos. A religião é sem ritos, ainda que o povo a cada sete dias 
reze no templo. Doni não se preocupou muito com problemas religiosos: a sua cidade ideal, 
essencialmente plebeia, é uma cidade terrena na qual as preocupações políticas e econômicas 
superam as aspirações espirituais. O transcendente não é esquecido mas relegado a segundo 
plano, e é apenas a razão que organiza e legisla. Trata-se de um radical nivelamento social. 
17 
 
Doni é um caso excepcional no Cinquecento: não crê nem nos valores humanísticos, 
nem na religião que não se ocupa dos males terrenos. Elementar e igualitário, o comunismo de 
Doni é, sobretudo, uma reação violenta contra as estruturas sociais existentes: isso é de 
inspiração plebéia, não humanista. Diferentemente de Morus, Doni não se propõe elevar o 
espírito do homem, de torná-lo consciente da nobreza de seus deveres. A simples eliminação 
da nobreza, do clero parasita e das diferenças sociais parece-lhe suficiente para assegurar à 
maioria uma possibilidade material de vida. A sua iniciativa é essencialmente destrutiva: na sua 
cidade não existe nem mesmo um governo modelo, porque Doni, que tem pouca confiança na 
natureza humana, não acredita em qualquer forma de governo. Ao sonho humanista da cidade 
ideal prefere a segurança de uma existência elementar, conforme a lei da natureza. Doni é um 
escritor que, diferentemente de outros autores de utopias do Cinquecento, não escreve para 
príncipes e sábios, mas para o povo, desejoso de soluções simples e diretas. 
Campanella é o autor que escreveu, depois de Morus, a utopia mais complexa e mais 
rigidamente estruturada. Sua utopia, (Città del Sole, 1602), foi composta durante os seus 27 
anos de vida carcerária, e publicada apenas em 1623. O enredo deve muito à Utopia de Morus. 
A obra adota a forma de diálogo entre o grande – mestre dos hospitalários e um capitão genovês 
– anteriormentetimoneiro de Cristóvão Colombo – que, durante uma escala em Taprobana, 
descobriu a Cidade do Sol, no centro de uma vasta planície. Essa é formada por sete zonas 
concêntricas, bem fortificadas, em forma circular e com o nome dos sete planetas; no centro se 
ergue um templo redondo: é o coração da cidade. 
O regime político recorda o sistema hierocrático: no vértice da hierarquia está Hoh – 
o Metafísico ou o Sol – acompanhado por um triunvirato, um conselho supremo. Pon, ou a 
Potência, decide sobre a guerra e a paz. Sob sua vigilância, homens, mulheres e crianças são 
submetidos a um contínuo adestramento militar, apesar dos Solares serem pacíficos e só 
empunharem as armas por defesa ou para manter o equilíbrio de poder na região. Sin, ou a 
Sapiência, dirige as artes e o saber. Por sua decisão, todos os muros da cidade são recobertos 
de pinturas que representam figuras matemáticas, cartas geográficas, animais, grandes 
personagens, plantas etc. Esse povo ama, acima de tudo, o saber. Enfim, Mor, ou o Amor, 
supervisiona o matrimônio e a procriação. Esses governantes supremos são acompanhados por 
magistrados que levam o nome das virtudes que encarnam: temperança, magnanimidade, 
justiça, diligência. Na Cidade do Sol existem poucas leis, não existem prisões, e os crimes 
graves são punidos com a morte. 
O Estado se ocupa das crianças, que são instruídas desde a idade de um ano, brincando 
ao longo dos muros da cidade. Não são orientadas a seguir suas inclinações pessoais, mas no 
18 
 
sentido da compreensão de todas as áreas do saber; assim, aprendem todos os ofícios, 
escolhendo uma ocupação definitiva apenas depois de terminada a sua instrução geral. O 
resultado exemplar dessa educação enciclopédica é Hoh o Metafísico, criatura onisciente, ao 
mesmo tempo cientista e filósofo. 
Arregimentado do nascimento até a morte, duramente privado de qualquer vontade 
anárquica, o Solar deve prestar contas ao Estado até das suas menores ações e pensamentos. 
Não conhece amor e família, e é anulado na coletividade em confortável anonimato, e é, 
aparentemente, muito feliz. A questão é saber se uma vida construída exclusivamente por lógica 
rigorosa, que ignore outras instâncias constitutivas do homem real, não conduzirá, em nome da 
felicidade e da virtude, a um mundo de campos de concentração, nos quais seus habitantes serão 
ao mesmo tempo carrascos e vítimas. As cidades utópicas não são fundadas pelo já existente, 
mas vem do "alto", da Idéia, como contraposições ao já existente, e projetam a vida melhor. 
Elas não são produtos de um delírio, mas nascem da necessidade de combater o destino, de 
fundar uma "segunda natureza" para o homem – a História. 
 
1.5 OS PRIMEIROS NÚCLEOS URBANOS DO BRASIL 
 
Ao tempo do descobrimento do Brasil, as experiências urbanísticas mais importantes 
e os principais trabalhos escritos referentes ao assunto tinham por base esquemas ideais, de 
tendência geometrizante, cujas origens mais remotas chegavam até Vitrúvio. 
Esses esquemas ligavam-se ainda às experiências das cidades novas dos fins da Idade 
Média, com suas muralhas e suas plantas retangulares. Os esquemas renascentistas eram em 
princípio rádio-concêntricos, mas suas aplicações prendiam-se muitas vezes às vantagens do 
plano em xadrez, como ocorre em Sabbioneta, cidade italiana fundada em 1560. 
 
Figura 12 – Sabbioneta (Itália) 1560 
19 
 
À época do descobrimento do Brasil, as tendências geometrizantes estavam sendo 
adotadas em quase todas as experiências urbanísticas européias e seria por seus princípios que 
se orientaria o urbanismo colonial posto em prática com a expansão européia. 
A política urbanizadora colonial espanhola seria mesmo codificada com minúcias nas 
“Leyes de las Índias”, constituindo-se numa das fontes mais perfeitas de informação e 
orientação sobre o urbanismo formal. 
As Leis das Índias, de acordo com a estética do Renascimento, aconselham que todas 
as casas da cidade sejam da mesma forma, isto é, conservem uma grande unidade. Até há pouco 
eram assim as cidades hispano-americanas grandes e pequenas, um legado de unidade, 
harmonia e graça que, hoje, só podemos imaginar revendo as velhas litografias. 
A aplicação desses princípios em termos práticos foi comum, se utilizando não apenas 
espanhóis como holandeses, franceses, ingleses e portugueses. 
Na Índia, adotariam esquemas medievos renascentistas, sempre que surgisse a 
oportunidade de construir centros de maior importância, pois “era preciso caminhar mais 
depressa e dar monumentalidade aos edifícios públicos, às igrejas e aos conventos”. 
 
 
Figura 13 – Damão e Baçaim (Índia) 
 
1.5.1 Traçado 
 
Até 1580 , as vilas como São Paulo, Olinda e Vitória tinham traçados irregulares. Mas 
Salvador, como “cidade real”, foi criada com características diferentes. 
Para traça-la, veio de Portugal o mestre de fortificações Luiz Dias, que trouxe 
diretrizes da Corte sobre o modo de proceder. 
A cidade teve desde o início ruas retas e seu desenho aproximava-se, nos terrenos 
planos, do clássico tabuleiro de xadrez. Um esquema semelhante foi adotado em São Luiz do 
Maranhão e Filipéia (João Pessoa). 
20 
 
 
Figura 14 – Salvador (Bahia) 
 
1.5.2 A Escolha dos Sítios 
 
O sítio de uma vila ou cidade é o local onde está sendo assentada. Praticamente todas 
as cidades ou vilas fundadas antes de 1580 foram assentadas sobre colinas que facilitassem sua 
defesa pela altura e o controle das vias de acesso, principalmente as marítimas e fluviais. 
Variavam as alturas das colinas, mas os sítios eram praticamente iguais. Durante o 
domínio espanhol (1580-1640), estabelecido o controle ibérico sobre todo o litoral, tornaram-
se comuns as vilas e cidades com sítios escolhidos em terrenos planos ou quase planos, como 
Cabo Frio, João Pessoa, Ubatuba, São Sebastião, Parati, Parnaíba e Mogi das Cruzes. 
Na Bahia, o desenvolvimento do comércio obrigou a criação artificial de uma nova 
área urbana, na Cidade Baixa. Em locais como Ilhéus e Porto Seguro formaram-se rapidamente 
novas áreas urbanas, nas baixadas. 
 
Figura 15 – Salvador (Bahia) 
21 
 
Em 1549 para dar novo impulso à colonização, o governo português promoveu a 
criação de um governo feral e a fundação da cidade de Salvador na capitania da Bahia como 
sede da nova administração (Cidade Real). 
Fundada por Tomé de Souza, é a terceira cidade a ser fundada no Brasil. A primeira 
foi São Vicente em São Paulo (1532) e a segunda Olinda em Pernambuco (1537). 
 
Figura 16 – Salvador (Bahia) 
 
Na cidade de Salvador encontramos uma expressão bastante nítida da síntese de 
algumas das características fundamentais das cidades de origem portuguesa: construção do 
núcleo urbano primitivo no cume de um monte e a sua organização em dois níveis, a Cidade 
Alta, sede do poder civil e religioso, das residências dos grandes proprietários rurais e a Cidade 
Baixa, onde se desenvolvia as atividades marítimas e comerciais. 
A Coroa Portuguesa tinha preocupação em manter um traçado regular, adaptado á 
topografia local. 
 
 
Figura 17 – Salvador (Bahia) 
 
Até hoje o centro histórico de Salvador preserva a trama urbana original do século 
XVI. Foi o primeiro núcleo brasileiro concebido com trama regular. É onde se situa o 
22 
 
Pelourinho, que é considerado o mais expressivo conjunto urbanístico de casarões coloniais do 
século XVII e XVIII. 
 
Figura 18 - Salvador (Bahia) 
 
No Renascimento, as idéias urbanísticas se restringiram quase exclusivamente à 
ampliação e reconstrução das cidades já existentes, os palácios dos ricos comerciantes, 
principais expressões arquitetônicas da nova ordem, foram construídos num cenário urbanoainda medieval. 
Os limites impostos pelos sítios mais antigos obrigaram muito cedo as adaptações 
importantes, em núcleos cuja população se expandia. O Rio de Janeiro praticamente se 
transferiu do Morro do Castelo para a praia. 
 
 
Figura 19 – Rio de Janeiro 
 
Em 1534, a região está dividida entre duas capitanias: São Vicente, ao sul, e São Tomé, 
ao norte. Em 1555, os franceses ocupam a área e só em 1567 são expulsos definitivamente. Em 
23 
 
1565, Estácio de Sá funda a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que se torna sede do 
Governo do Sul quando, em 1572, o rei de Portugal divide o Brasil em duas administrações. 
A pecuária, o cultivo da cana-de-açúcar e a agricultura de subsistência garantem um 
rápido progresso, que aumenta com a transformação do porto do Rio em escoadouro da riqueza 
extraída de Minas Gerais. Em 1763, torna-se capital do vicereino. 
A cidade do Rio de Janeiro, apesar de aparentemente não ter sido objeto de um 
planejamento urbanístico inicial, antes evoluindo de forma tradicional a partir da ocupação 
inicial de um morro e de formas de povoamento linear ao longo da costa, acabou contudo por 
se estruturar também segundo um plano de base ortogonal. 
 
 
Figura 20 – Rio de Janeiro 
 
O desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro, justificado pela sua crescente 
importância estratégica e econômica, contou ao longo do tempo com a contribuição de vários 
engenheiros militares, portugueses e estrangeiros, que planejaram a expansão ordenada da 
cidade e mantiveram a coerência do seu plano urbano. 
Tal como em outras cidades, a regularidade do traçado molda-se sem esforço às 
particularidades do terreno, às preexistências naturais ou às construídas pelo homem, e à lógica 
dos percursos de ligação entre pontos do território ou da malha urbana. 
 
 
 
 
 
 
24 
 
2 CIDADE COLONIAL 
 
No Brasil, a Arquitetura colonial é definida como a arquitetura realizada no atual 
território brasileiro desde 1500, ano do descobrimento pelos portugueses, até a independência, 
em 1822. 
Durante o período colonial, os colonizadores importaram as correntes estilísticas da 
Europa à colônia, adaptando-as às condições materiais e sócio-econômicas locais. Encontram-
se no Brasil edifícios coloniais com traços arquitetônicos renascentistas, maneiristas, barrocos, 
rococós e neoclássicos, porém a transição entre os estilos se realizou de maneira progressiva ao 
longo dos séculos e a classificação dos períodos e estilos artistísticos do Brasil colonial é motivo 
de debate entre os especialistas. 
A importância do legado arquitetônico e artístico colonial no Brasil é atestada pelos 
conjuntos e monumentos desta origem que foram declarados Patrimônio Mundial pela 
UNESCO. Estes são os centros históricos de Salvador, Ouro Preto, Olinda, Diamantina, São 
Luís do Maranhão, Goiás Velho, o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas do 
Campo e as ruínas das Missões Jesuíticas Guarani em São Miguel das Missões. 
 
2.1 REDE URBANA NA AMÉRICA ESPANHOLA 
 
O processo de exploração conquista e colonização da América Espanhola, entre 1492 
a 1567, foi empreendida em duas etapas: na primeira, com um caráter móvel e marítimo, os 
exploradores ocuparam e percorreram as ilhas do Caribe e a costa norte do continente 
americano. A segunda etapa, a conquista, caracterizou-se pela ocupação do litoral e do interior, 
seguida de um ímpeto sem precedentes na fundação de núcleos urbanos. Em 1567, data da 
fundação de Santiago de Léon, atual Caracas, a América Espanhola já possuía uma rede urbana 
que, basicamente, permanece até os dias de hoje, com mais de duas centenas de cidades 
distribuídas por todo o seu território. 
Colombo, em sua primeira viagem, chegou até a América Central, a uma ilha que 
chamou La Española, em dezembro de 1492, e com intenções de construir um sítio com caráter 
permanente, fundou o povoado La Isabela, em janeiro de 1494. Colombo repartiu os solares de 
La Isabela e ordenou suas ruas e praças. No entanto esse assentamento não teve um traçado 
regular, pois seu conjunto não obedeceu à nenhuma disposição de ruas cruzadas 
retangularmente e seus edifícios estavam dispersos e orientados segundo eixos diferentes. 
25 
 
Mais tarde, Nicolas de Ovando, nomeado Gobervador y Justicia Sruprema de Las 
Indias, em 1501, transladou os habitantes de La Isabela para Santo Domingo, fundada em 1502, 
provocando sua decadência e esvaziamento. E no interior da ilha, fundou onze vilas, cinco no 
território do atual Haiti e seis no de São Domingos. 
As viagens de Sebastian Ocampo resultaram na exploração da ilha de Cuba e na 
fundação de sete núcleos, existentes até os dias de hoje: La Habana (1510), Baracoa 
(1511),Bayamo (1513), Santiago de Cuba (1514), Sancti Spiriti (1515), Camaguey(1515) e 
Puerto Príncipe (1515). 
Ponce de Leon e Diego de Velasquez percorreram a ilha de Porto Rico onde fundaram 
três povoados, os cacicazgos de Caparra (1508), Higuey (1511) e San Germán (1512); Juan de 
Esquivei conquistou a ilha de Jamaica e fundou, entre 1500-1510, as vilas de Nueva Sevilla, 
Oristan e Melila. 
As fundações desse período resumiram-se a um forte ou a um centro de troca e tiveram 
uma ocupação provisória, com a finalidade de servir de ponto de partida para as expedições de 
conquista. Geralmente localizadas em portos naturais ou em áreas de cacicazgos e próximas a 
explorações de ouro, resultaram na destruição do sistema de produção indígena e de seus 
produtores. 
Nombre de Dios (1510), o primeiro assentamento do continente sulamericano, 
localizado em um porto da costa norte do Panamá, desapareceu com a fundação, no mesmo 
ano, de Santa Maria la Antigua dei Darien, o primeiro núcleo a ostentar o título de cidade, 
embora com total dependência de Santo Domingo, que se transformou no maior centro urbano 
da colônia, entre 1511 e 1519, por concentrar o comércio e a maioria da população. 
A fundação de Panamá la Vieja (1519), escolhida por seu clima privilegiado e pela 
madeira abundante, significou também o despovoamento de Santo Domingo. 
Cabe ressaltar que este fenômeno, fundação de vilas seguida de despovoamento, foi 
uma constante no século XVI e significou também os pontos de partida para as expedições de 
conquista como na Venezuela com a fundação de Nueva Cádiz até a atual ilha de Margarita 
como centro de comércio de pérolas e abastecimento alimentício. 
 
2.1.1 As principais causas do abandono dos assentamentos espanhóis no século XVI 
 
 Hostilidade da população indígena, decorrente dos maus tratos recebidos por parte dos 
conquistadores, mediante a captura e a venda dos índios como escravos, e do trabalho 
compulsório que resultou no aniquilamento de sua cultura e de sua forma de vida. 
26 
 
 Desastres naturais: terremotos, erupções de vulcões ou inundações. 
 Escolha inadequada do sítio (assentamentos) pelas dificuldades de acesso ao porto e à praia, 
por se encontrarem em sítios pantanosos, alagadiços, insalubres e sem fontes de 
abastecimento. 
 
Todas essas causas contribuíram para as altas taxa de mortalidade tanto de indígenas 
como dos espanhóis. 
A estratégia aplicada de imediato pelos espanhóis foi a ocupação das capitais indígenas 
e o domínio de seus chefes, a fim de garantir o abastecimento e a mão-de-obra para exploração 
dos metais preciosos. Embora se tenham apoiado nos assentamentos indígenas, os espanhóis 
introduziram uma dimensão espacial diferente das antigas culturas urbanas pré-colombianas, 
evidenciando que a influência indígena não influenciou traçado da cidade e se manifestou 
apenas na localização. 
Esses assentamentos urbanos construídos sobre ou ao lado dos pueblos de índios oude cacicazgos constituíram uma espada de dois gumes para os espanhóis: de um lado, a presença 
do indígena era essencial para a sobrevivência das fundações e, de outro, essa presença foi, em 
maior ou menor grau, a responsável pela destruição e o posterior abandono dos núcleos urbanos. 
Nesse cenário de instabilidade, precariedade e abandono, os centros mais povoados 
foram em primeiro lugar, as cidades mineiras, seguidas das portuárias e, por último, as 
administrativas. O ouro e a prata já eram conhecidos pelos espanhóis desde as suas primeiras 
viagens de exploração; entretanto, tratava-se de veios que se esgotaram rapidamente, e nenhum 
dos centros mineiros foi explorado, de forma organizada, na primeira metade do século XVI. 
A partir da segunda metade desse século a mineração foi uma das principais razões 
dos movimentos de população e da fundação de núcleos urbanos até finais do século XVII, 
quando a crise da mão-de-obra e a baixa tecnologia das minas deram os primeiros sinais de 
esgotamento. O dinamismo urbano posterior, atestado pelo crescimento demográfico de 
algumas cidades, foi provocado pelas migrações indígenas, sujeita ao trabalho forçado e 
voluntários artesãos independentes, bem como as migrações que envolviam o comercio e a 
indústria: carpinteiros, pedreiros, sapateiros entre outros. Surgiram também as cidades 
portuárias a partir de portos naturais como no Panamá e centros administrativos e agrícolas, 
principal atividade econômica do período. 
Os núcleos portuários apresentaram certa regularidade no traçado, mas, como mostra 
a figura a seguir, não adquiriram a forma da quadrícula; suas ruas não eram rigidamente 
paralelas, os quarteirões foram de diferentes tamanhos, e a localização da Plaza Mayor era 
27 
 
próxima ao porto, como demonstração do poderio espanhol, e não no meio da malha urbana. 
No entanto, há exceções: Buenos Aires é um exemplo de cidade portuária que localizou sua 
praça principal próxima ao porto, mas obedeceu ao desenho do damero. 
 
 
Figura 21 – Plano de Santo Domingo- Republica Dominicana 
 
 
Figura 22 – Plano de Buenos Aires 
 
As capitais administrativas obedeceram ao traçado da quadrícula; o espaço das praças 
era invariavelmente definido antes de sua fundação, e todos os seus lados deveriam ter igual 
importância; contudo o ponto focai, onde era construída a igreja, acabou por transformar este 
no lado mais importante. Apesar do aumento demográfico em algumas delas, a verdade é que 
o crescimento da grande maioria foi extremamente lento e incerto, não sendo raro o caso de 
cidades que decresceram em número absoluto. Por volta de 1630, as maiores cidades 
administrativas eram México com 15 mil vecinos e Lima, com 9.500 vecinos. Em segundo lugar 
Quito, com três mil, seguida de Bogotá (dois mil), La Plata (mil), Santiago do Chile 
(quinhentos), La Paz e Buenos Aires (duzentos). 
28 
 
2.2 DESIGNAÇÕES NORMATIVAS PARA FUNDAÇÃO DAS NOVAS CIDADES 
COLONIAIS ESPANHOLAS NA AMÉRICA 
 
As principais designações normativas para a fundação das novas cidades espanholas 
na América são: 
a) Estabelecimento de uma retícula regular de quarteirões iguais, em cujo centro deveria 
se dispor uma grande praça aberta (plaza mayor), central e de forma oblonga, com o 
comprimento igual a uma vez e meia a sua largura (festividades); 
 
Figura 23 – Esquema ideal da praça 
 
b) O tamanho da praça deveria ser proporcional ao número de habitantes, sem esquecer 
seu possível crescimento (estimava-se de 200 a 500 pés de largura por 300 a 800 pés de 
comprimento, sendo o tamanho ideal igual a 400 x 600 pés); 
c) A praça seria acessada por 04 ruas, voltadas aos 04 pontos cardeais e cada uma 
disposta a partir do ponto médio de cada lado, além de 02 ruas de cada um dos ângulos, que 
deveriam desembocar sem serem obstruídas pelos pórticos da praça. Sua largura seria definida 
conforme o clima (se quente, larga; se frio, estreita); 
 
Figura 24 – Plan de San Antonio (Texas EUA) 
 
29 
 
d) Na praça deveriam ser dispostos os edifícios mais importantes: a igreja, o paço 
municipal (cabildo) e as casas dos mercadores e dos colonos mais ricos. No caso da necessidade 
de conversão dos nativos ao cristianismo, a igreja deveria ser antecedida por um grande pátio 
(adro) e ao lado da fachada estabelecida uma capela aberta (capela de índios); 
 
 
Figura 25 – Cabildo de Salta (Argentina) 
 
 
Figura 26 – Cabildo de Buenos Aires (Argentina) 
 
 
 Figura 27 – Praça da Constituição (Guadalajara, Cidade do México) 
 
 
30 
 
 
Figura 28 – Plaça Bolivar (Bogotá, Colômbia) 
 
e) Reservados os principais lotes edificáveis ao redor da praça central (plaza mayor), os 
demais seriam distribuídos ao acaso para aqueles colonos com condições de ali se 
estabelecerem. Já os lotes não-atribuídos seriam destinados a futuros colonos. 
Como exemplos da aplicação da retícula espanhola, podem ser citadas as cidades 
coloniais de Guadalajara e Cholula (México); Quito (Equador), Santiago (Chile), Buenos Aires 
(Argentina) e Santiago de Leon, hoje Caracas (Venezuela), entre outras. 
 
Figura 29 – Centro de Cholula (México) 
 
 
Figura 31 – Plano de Santiago (Chile) 
 
31 
 
 
Figura 30 – Plan de Quito (Equador) 
 
 
Figura 31– Plano da Cidade do México 
 
1 Catedral 
2 Templo Mayor 
3 Palácio nacional 
4 Suprema Corte 
5 Cabildo 
6 Nac. Monte Piedad 
 
Enquanto o traçado das ruas e praças da cidade colonial espanhola era grandioso, as 
suas edificações eram baixas e modestas. 
 
Figura 32 – Vista geral de Santiago (Chile) 
 
32 
 
Com capacidade de expansão ilimitada, seu contorno externo era quase sempre 
provisório, sem a necessidade de muros ou fossos – somente as cidades costeiras seriam 
fortificadas para proteção de piratas –, além de não haver uma distinção muito clara entre campo 
e cidade. 
 
 
Figura 33 – Plan de Montevideo (Uruguai) 
 
 
Figura 34– Buenos Aires (Argentina) 
 
33 
 
 
Figura 35 – Centro de Asunción (Paraguai) 
 
 
 
34 
 
CONCLUSÃO 
 
Renascimento foi o nome dado a um período que se passou na Itália desde o começo 
do século XV até o final do século XVIII, no qual há um retorno aos valores da antiguidade 
clássica, com várias fases, entre elas o primeiro Renascimento, o Renascimento tardio, o 
Barroco, o Rococó e o Neoclássico, que para a arquitetura e para Urbanismo trouxe o equilíbrio, 
a harmonia e a regularidade geométrica, quando a arquitetura passou a ser vista também como 
uma ciência, por possuir uma razão e poder ser justificada. 
Nesse período, desenhos muito importantes foram feitos, representando com 
fidelidade como eram ou poderiam ser os edifícios na realidade. Dessa forma, propostas de 
cidades ideais foram desenvolvidas. Porém, como as cidades antigas e medievais já eram muitas 
e grandes, e não havia motivos para a construção de outras cidades, aquelas já existentes foram 
sendo modificadas e adaptadas de acordo com os novos conceitos. Praças foram criadas, muros 
perderam sua função, as ruas deixaram de ser usadas apenas para circulação, antigos 
monumentos foram renovados e outros tiveram seu uso alterado. 
 
 
 
 
35 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
Berriel, C. E. O. "Uma utopia do cinquecento: "Mondo savio e pazzo", de Anton 
Francesco Doni". In Remate de Males n. 22, IEL-Unicamp, 2002. 
 
CIDADE RENASCENTISTA. Disponível em: 
<http://www.histeo.dec.ufms.br/tabalhos/teoria3_2008/Urbanismo%20do%20Renascimento.p
df> Acesso em: 20 de junho de 2014. 
 
GÊNOVA. Disponível em: <http://www.donatoviagens.com.br/viagem/piemonte,-
lombardia-e-liguria/110/sugestao>.Acesso em: 09 de junho de 2014> 
 
Principais Características. Disponível em: http://historiasartesefilosofias.blogspot. 
com.br/2012/06/principais-caracteristicas-da.html. Acesso em 11 de junho, 2014. 
 
Urbanização Colonial: Disponível em <http:/repositorio.unb.br/bitstream/10482/ 
11861/1/ARTIGO_UrbanizacaoColonialAmericaLatina.pdf>. Acesso em: 11 de junho de 
2014.

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