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ECO 167 - A ECONOMIA CLÁSSICA

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A ECONOMIA CLÁSSICA�
ADAM SMITH (1723-90)
Adam Smith era escocês, nascido em Kirkcaldy, pequena cidade vizinha a Edinburgh, filho de um advogado e funcionário do governo. Estudou em Glasgow e Oxford e foi, de 1752 a 1764, professor de Filosofia Moral na Universidade de Glasgow.
Sua reputação como pensador importante foi estabelecida quando publicou, em 1759, com grande sucesso, o que considerava sua obra magna, a Teoria dos Sentimentos Morais. A pergunta que Smith tentava responder nesse livro era: por que, se as pessoas são basicamente egoístas, a sociedade humana não se parece com aquele estado selvagem da Natureza, no qual, conforme a expressão de Hobbes, em seu Leviatã, a vida do homem é “solitária, pobre, sórdida, bruta e curta”? Sua explicação dizia que uma pessoa faz suas escolhas morais com base no que ela própria e sua sociedade, na posição de um “espectador imparcial”, aprovariam.
Entre 1763 e 1766, foi preceptor do Duque de Buccleuch, um jovem nobre escocês com quem fez uma viagem de dois anos e meio à França, onde teve oportunidade de conhecer e discutir com pensadores franceses, inclusive os fisiocratas. Lá, começou a escrever o seu segundo livro, Uma Indagação Sobre A Natureza e As Causas da Riqueza das Nações, que publicou em 1776. Neste livro, Smith tentou principalmente refutar os mercantilistas e explicar por que não é necessário regular as atividades econômicas, uma vez que as decisões e escolhas individuais, mesmo baseadas no egoísmo, beneficiam a sociedade toda, desde que tomadas livremente. 
Para entender o contexto em que o livro foi publicado, é preciso lembrar que, em 1776, as poucas fábricas inglesas - não mais que 20 ou 30 - eram movidas a força hidráulica e empregavam, em média, 300-400 trabalhadores. Em outras palavras, a economia inglesa era ainda basicamente agrícola e sua indústria estava dispersa em artesanatos domiciliares rurais. A Revolução Industrial estava apenas começando e Adam Smith não percebeu, nem podia perceber, que ela já estava acontecendo.
A RIQUEZA DAS NAÇÕES
Do ponto de vista formal, a teoria econômica apresentada em A Riqueza das Nações é essencialmente uma teoria do crescimento econômico cujo cerne é concisamente apresentado em suas primeiras páginas: a riqueza ou o bem-estar das nações é identificado com seu produto anual per capita que, dada sua constelação de recursos naturais, é determinado pela produtividade do trabalho “útil” ou “produtivo” – que pode ser entendido como aquele que produz um excedente de valor sobre seu custo de reprodução – e pela relação entre o número de trabalhadores empregados produtivamente e a população total.
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Embora Smith atribuísse explicitamente maior importância ao primeiro desses determinantes como fator causal, a dinâmica de seu modelo de crescimento pode ser melhor entendida em termos do que Myrdal batizou de um processo de ‘causalidade circular cumulativa’ e, em seus traços essenciais, consiste no seguinte:
o crescimento da produtividade do trabalho, que tem origem em mudanças na divisão e especialização do processo de trabalho, ao proporcionar o aumento do excedente sobre os salários permite o crescimento do estoque de capital, variável determinante do volume do emprego produtivo;
a pressão da demanda por mão-de-obra sobre o mercado de trabalho, causada pelo processo de acumulação de capital, provoca um crescimento concomitante dos salários e, pela melhora das condições de vida dos trabalhadores, da população;
o aumento paralelo do emprego, salários e população amplia o tamanho dos mercados que, para um dado estoque de capital, é o determinante básico da extensão da divisão do trabalho, iniciando-se assim a espiral de crescimento.
Assim, o crescimento econômico dependeria de fatores institucionais que afetassem tanto a propensão a investir – como a existência de garantias à propriedade e os regimes legais ou consuetudinários de posse e uso da terra – quanto a extensão do mercado – como a existência de restrições ao comércio. Entretanto, ainda que sob sistemas ideais de governo, não deveria sustentar-se indefinidamente. O estado estacionário, no qual a acumulação líquida de capital tenderia a desaparecer, embora logicamente não necessário, era visto por ele como resultado inevitável da redução da taxa de lucro – incentivo básico à acumulação – pela exaustão das oportunidades de investimento pelo crescimento dos salários conseqüente a um rápido e sustentado aumento do estoque de capital.
A estrutura teórica de seu “modelo” de crescimento é cuidadosamente desenvolvida nos dois primeiros dos cinco livros em que se divide a obra.
O Livro Primeiro discute os determinantes do crescimento da produtividade do trabalhador e da distribuição funcional da renda, que regulam o excedente disponível e, portanto, o potencial de acumulação de capital. Dada a importância atribuída por Smith à divisão social do trabalho, ele se inicia com a discussão de sua relação com a propensão inata do homem à troca e com o processo de crescimento econômico (Capítulos I e II) e dos limites impostos à sua extensão Capítulo III).
“... essa propensão encontra-se em todos os homens, não se encontrando em nenhuma outra raça de animais, que não parecem conhecer nem essa nem qualquer outra espécie de contratos”.
“O homem, entretanto, tem necessidade quase constante da ajuda dos semelhantes, e é inútil esperar esta ajuda simplesmente da benevolência alheia. Ele terá maior probabilidade de obter o que quer, se conseguir interessar a seu favor a auto-estima dos outros, mostrando-lhes que é vantajoso para eles fazer-lhe ou dar-lhe aquilo de que ele precisa. É isto o que faz toda pessoa que propõe um negócio a outra. Dê-me aquilo que eu quero, e você terá isto aqui, que você quer - esse é o significado de qualquer oferta desse tipo; e é dessa forma que obtemos uns dos outros a grande maioria dos serviços de que necessitamos. Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que têm pelo seu próprio interesse”.
“Assim como é por negociação, por escambo ou por compra que conseguimos uns dos outros a maior parte dos serviços recíprocos de que necessitamos, da mesma forma é essa mesma propensão ou tendência a permutar que originalmente gera a divisão do trabalho”.
“Como é o poder de troca que leva à divisão do trabalho, assim a extensão dessa divisão deve ser sempre limitada pela extensão desse poder, ou, em outros termos, pela extensão do mercado. Quando o mercado é muito reduzido, ninguém pode sentir-se estimulado a dedicar-se inteiramente a uma ocupação, porque não poderá permutar toda a parcela excedente de sua produção que ultrapasse seu consumo pessoal pela parcela de produção do trabalho alheio, da qual tem necessidade”.
A relação direta notada por Smith entre a divisão do trabalho e o grau de mercantilização das relações econômicas leva ao estudo das conseqüências da difusão do uso da moeda como meio de troca (Capítulo IV): 
“Uma vez plenamente estabelecida a divisão do trabalho, ... todo homem subsiste por meio da troca, tornando-se de certo modo comerciante; e assim é que a própria sociedade se transforma naquilo que adequadamente se denomina sociedade comercial”.
“... toda pessoa prudente, em qualquer tipo de sociedade e em qualquer período da história, depois de adotar pela primeira vez a divisão do trabalho, deve naturalmente ter se empenhado em conduzir seus negócios de tal forma, que a cada momento tivesse consigo, além dos produtos diretos de sue próprio trabalho, uma certa quantidade de alguma(s) outra(s) mercadoria(s) - mercadoria ou mercadorias tais que, em seu entender, poucas pessoas recusariam receber em troca do produto de seus próprios trabalhos”.
“... em todos os países as pessoas acabaram sendo levadas por motivos irresistíveis a atribuir essa função de instrumento de troca preferivelmente aos metais”.
Ainda no Capítulo IV, Smith apresenta sua definiçãode valor:
“Importa observar que a palavra VALOR tem dois significados: às vezes designa a utilidade de um determinado objeto e outras vezes, o poder de compra que o referido objeto possui, em relação a outras mercadorias. O primeiro pode chamar-se ‘valor de uso’ e o segundo, ‘valor de troca’. As coisas que têm o mais alto valor de uso freqüentemente têm pouco ou nenhum valor de troca; vice-versa, os bens que têm o mais alto valor de troca muitas vezes têm pouco ou nenhum valor de uso. Nada é mais útil que a água, e no entanto dificilmente se comprará alguma coisa com ela, ou seja, dificilmente se conseguirá trocar água por alguma outra coisa. Ao contrário, um diamante dificilmente possui algum valor de uso, mas por ele se pode, muitas vezes, trocar uma quantidade muito grande de outros bens.”
A fim de investigar os princípios que regulam o valor de troca das mercadorias, procurarei mostrar:
Primeiro, qual é o critério ou medida real desse valor de troca, ou seja, em que consiste o preço real de todas as mercadorias.
Em segundo lugar, quais são as diferentes partes ou componentes que constituem esse preço real.
Finalmente, quais são as diversas circunstâncias que por vezes fazem subir alguns desses componentes, ou todos eles, acima do natural ou normal, e às vezes os fazem descer abaixo desse nível; ...”
A introdução da moeda como numerário geralmente aceito coloca o problema da comparação intertemporal de valores e a necessidade da discussão das diferenças entre preços nominais e reais (Capítulo V):
“O preço real de cada coisa - ou seja, o que ela custa à pessoa que deseja adquirí-la - é o trabalho e o incômodo que custa a sua aquisição. O valor real de cada coisa, para a pessoa que a adquiriu e deseja vende-la ou trocá-la por qualquer outra coisa, é o trabalho e o incômodo que a pessoa pode poupar a si mesma e pode impor a outros”.
“Entretanto, embora o trabalho seja a medida real de o valor de troca de todas as mercadorias, não é essa medida pela qual geralmente se avalia o valor das mercadorias. Muitas vezes é difícil determinar com certeza a proporção entre duas quantidades diferentes de trabalho”.
“Além disso, é mais freqüente trocar uma mercadoria por outras mercadorias - e, portanto, comprá-las - do que por trabalho.
“... quando cessa o comércio mediante troca de bens e o dinheiro se torna o instrumento comum, é mais freqüente trocar cada mercadoria por dinheiro, do que por qualquer outro bem”.
“Entretanto, o ouro e a prata, como qualquer outra mercadoria, também variam em seu valor, são ora mais baratos, ora mais caros, e ora são mais fáceis de comprar, ora mais difíceis. ... No século XVI, a descoberta das ricas minas da América reduziu o valor do ouro da prata na Europa a aproximadamente 1/3 do valor que possuíam antes. ... Ora, ... uma mercadoria cujo valor muda constantemente jamais pode ser uma medida exata do valor de outras mercadorias. Pode-se dizer que quantidades iguais de trabalho têm valor igual para o trabalhador, sempre e em toda parte. ... Por conseguinte, somente o trabalho, pelo fato de nunca variar em seu valor, constitui o padrão último e real com base no qual se pode sempre e em toda parte estimar e comparar o valor de todas as mercadorias. O trabalho é o preço real das mercadorias; o dinheiro é apenas o preço nominal delas”.
“... o trabalho, da mesma forma que as mercadorias, tem um preço real e um preço nominal. Pode-se dizer que seu preço real consiste na quantidade de bens necessários e convenientes que se permuta em troca dele; e que seu preço nominal consiste na quantidade de dinheiro. O trabalhador é rico ou pobre, é bem ou mal remunerado, em proporção ao preço real do seu trabalho, e não em proporção ao respectivo preço nominal”.
“... embora o valor real de uma renda em trigo varie muito menos , de um século para outro, do que o valor de uma renda em dinheiro, ele varia muito mais de um ano para outro. O preço do trabalho em dinheiro, conforme procurarei demonstrar adiante, não flutua de ano para ano com a flutuação do preço do trigo em dinheiro, mas parece ajustar-se em toda parte, não ao preço temporário ou ocasional do trigo, mas ao seu preço médio ou comum”.
“Fica, pois, evidente que o trabalho é a única medida universal e a única medida precisa do valor, ou seja, o único padrão através do qual podemos comparar os valores de mercadorias diferentes, em todos os tempos e em todos os lugares. Não se pode estimar o valor real de mercadorias diferentes, de um século para outro, pelas quantidades de prata pelas quais foram compradas. Não podemos estimar esse valor, de um ano para outro, com base nas quantidades de trigo. Pelas quantidades de trabalho, podemos, com a máxima exatidão, calcular esse valor, tanto de um século para outro como de um ano para outro”.
“Uma vez que ... é o preço nominal das coisas, ou seja, o seu preço em dinheiro, que em última análise determina se uma certa compra ou venda é prudente ou imprudente, e conseqüentemente é esse o preço que regula quase toda a economia na vida real normal em que entra em jogo o preço, não é de admirar que se lhe tenha dispensado muito mais atenção que ao preço real”.
“Em uma obra como esta, porém, por vezes pode ser útil comparar os valores reais diferentes de uma mercadoria em tempos e lugares diferentes ... Nesse caso, devemos comparar não tanto as diferentes quantidades de prata pelas quais a mercadoria era normalmente vendida, mas antes as diferentes quantidades de trabalho que poderiam ter sido compradas por essas quantidades diferentes de prata”.
A teoria dos preços é apresentada em seguida (Capítulos VI e VII), distinguindo-se o preço de mercado, determinado pela interação instantânea entre “demanda efetiva” e oferta, e o que Smith chama de preço natural - equivalente aproximado do preço normal de longo prazo da microeconomia marshalliana -, que é a medida de valor relevante para a análise do processo de crescimento desenvolvida na obra, determinado pela soma dos níveis naturais das remunerações do trabalho, do capital e da terra envolvidos no processo produtivo de cada mercadoria.
Os preços de mercado e os preços naturais estão, contudo, intimamente relacionados: na ausência de imobilidade de capital (por efeito, por exemplo, de restrições legais ou insuficiência de informação), os preços de mercado gravitam estavelmente em torno dos preços naturais sob a influência de inúmeros fatores conjunturais, mas, ao longo de um período suficientemente longo de tempo, devem ser suficientes para cobrir a remuneração normal dos fatores de produção empregados.
“Em toda sociedade, o preço de qualquer mercadoria, em última análise, se desdobra em um ou desses três fatores (salário do trabalho, renda (aluguel) da terra e lucro do empresário), ou então nos três conjuntamente; e em toda sociedade mais evoluída, os três componentes integram, em medida maior ou menor, o preço da grande maioria das mercadorias”.
“Quanto mais determinada mercadoria sofre uma transformação manufatureira, a parte do preço representada pelos salários e pelo lucro se torna maior em comparação com a que consiste na renda (aluguel) da terra”.
“Assim como o preço ou valor de troca de cada mercadoria específica, considerada isoladamente, se decompõe em algum dos três itens ou nos três conjuntamente, da mesma forma o preço ou valor de troca de todas as mercadorias que constituem a renda anual completa de um país ... deve decompor-se nos mesmos três itens, devendo esse preço ser dividido entre os diferentes habitantes do país, ou como salários pelo trabalho, como lucros do capital investido, o como renda (aluguel) da terra. ... Salários, lucro e renda (aluguel) da terra, eis as três fontes originais de toda receita ou renda, e de todo valor de troca.
“A renda auferida por uma pessoa que não emprega ela mesma seu capital, mas o empresta a outra, denomina-se juros o uso do dinheiro. É a compensação que o tomador paga a quem empresta, pelo lucro quepode auferir fazendo uso do dinheiro”.
“Todas as taxas, impostos, e toda a renda ou receita fundada neles, todos os salários, pensões e anuidades de qualquer espécie, em última análise provém de uma ou outra dessas três fontes originais de renda, sendo pagos, direta ou indiretamente, pelos salários do trabalho, pelos lucros do capital ou pela renda (aluguel) da terra”.
“Em cada sociedade ou nas suas proximidades, existe uma taxa comum ou média para salários e para o lucro, em cada emprego diferente de trabalho ou capital. Essa taxa é regulada naturalmente ... em parte pelas circunstâncias gerais da sociedade ... e em parte pela natureza específica de cada emprego ou setor de ocupação”.
“Existe outrossim, em cada sociedade ou nas suas proximidades, uma taxa média de renda (aluguel) da terra, também ela regulada ... em parte pelas circunstâncias gerais da sociedade ou redondeza na qual a terra está localizada, e em parte pela fertilidade natural ou pela fertilidade conseguida artificialmente”.
“Essas taxas comuns ou médias podem ser denominadas taxas naturais dos salários, do lucro e da renda (aluguel) da terra, no tempo e lugar em que comumente vigoram”.
Quando o preço de uma mercadoria não é menor nem maior do que o suficiente para pagar ao mesmo tempo a renda (aluguel) da terra, os salários do trabalho e os lucros do patrimônio ou capital empregado em obter, preparar e levar a mercadoria ao mercado, de acordo com suas taxas naturais, a mercadoria é nesse caso vendida pelo que se pode chamar seu preço natural”(vendida sem ter lucros).
“Nesse caso, a mercadoria é vendida exatamente pelo que vale, ou pelo que ela custa realmente à pessoa que a coloca no mercado”.
“O preço efetivo ao qual uma mercadoria é vendida denomina-se seu preço de mercado. Esse pode estar acima ou abaixo do preço natural, podendo também coincidir exatamente com ele”.
“O preço de mercado de uma mercadoria específica é regulado pela proporção entre a quantidade que é efetivamente colocada no mercado e a demanda daqueles que estão dispostos a pagar o preço natural da mercadoria, ou seja, o valor total da renda fundiária, do trabalho e do lucro que devem ser pagos para leva-la ao mercado. Tais pessoas podem ser chamadas de interessados ou pretendentes efetivos, e sua demanda pode ser chamada de demanda efetiva, pelo fato de ser suficiente para induzir os comerciantes a colocar a mercadoria no mercado. A demanda efetiva difere da demanda absoluta”.
“A quantidade de cada mercadoria colocada no mercado ajusta-se naturalmente à demanda efetiva. ... Se em algum momento a quantidade posta no mercado superar a demanda efetiva, algum dos componentes de seu preço deverá ser pago abaixo de sua taxa natural. ... Se, ao contrário, em algum momento a quantidade colocada no mercado ficar abaixo da demanda efetiva, alguns dos componentes de seu preço necessariamente deverão subir além de sua taxa natural”.
“Conseqüentemente, o preço natural é como que o preço central ao redor do qual continuamente estão gravitando os preços de todas as mercadorias. Contingências diversas podem, às vezes, mantê-los bastante acima dele, e noutras vezes, forçá-los para baixo desse nível. Mas, quaisquer que possam ser os obstáculos que os impeçam de fixar-se nesse centro de repouso e continuidade, constantemente tenderão para ele”.
“É dessa maneira que naturalmente todos os recursos anualmente empregados para colocar uma mercadoria no mercado se ajustam à demanda efetiva. Todos objetivam, naturalmente, colocar no mercado a quantidade precisa que seja suficiente para cobrir a demanda, sem, por outro lado, excedê-la”.
A formulação da teoria do preço natural se completa com o estudo dos níveis de remuneração dos fatores. A determinação dos salários, discutida no Capítulo VIII, resulta da interação entre o investimento e a população. Os lucros, analisados no Capítulo IX, são determinados pelo tamanho do estoque de capital dada uma taxa exógena de juros, ajustada para levar em conta o risco empresarial. O Capítulo X discute os diferenciais de salários e lucros em diferentes empregos de trabalho e capital. Finalmente, a renda da terra, entendida como um excedente determinado pelo preço dos produtos do solo, dados os níveis de salários e lucros, é analisada no Capítulo XI. Esse capítulo, que encerra o Livro Primeiro, contém ainda uma longa digressão empírica, associada aos problemas teóricos discutidos no Capítulo V, sobre as variações históricas do valor dos metais nos quatro séculos anteriores.
O Livro Segundo analisa as condicionantes e características da acumulação de capital, que determina a oferta de emprego produtivo e sua distribuição setorial, e contém a maior parte da teoria monetária de Smith. No Capítulo I é apresentada e ilustrada a divisão analítica, tornada clássica posteriormente, entre capital fixo e circulante. O papel da moeda e do crédito na circulação de mercadorias e na acumulação de capital é estudado no Capítulo II:
“Há duas maneiras de se empregar um capital, para que ele proporcione uma renda ou lucro a uem o emprega”.
“Primeiro, o capital pode ser empregado para obter, fabricar ou comprar bens, e vende-los novamente, com lucro. O capital empregado desta forma não gera renda ou lucro a quem o emprega, já que permanece na posse da pessoa o conserva a mesma forma. As mercadorias do comerciante não lhe proporcionam renda alguma nem lucro, enquanto ele não os vender por dinheiro, e também o dinheiro não lhe proporciona renda ou lucro, enquanto por sua vez não for trocado por bens. Seu capital continuamente sai dele em uma forma e volta a ele de outra; somente mediante essa circulação ou trocas sucessivas pode ele proporcionar-lhe algum lucro. Por isso, esses capitais são adequadamente denominados de capital circulante”.
“Em segundo lugar, o capital pode ser empregado no aprimoramento da terra, na compra de máquinas úteis ou instrumentos de trabalho, ou em coisas similares que geram uma renda ou lucro sem mudar de donos, ou seja, sem circularem ulteriormente. Por isso, tais capitais podem com muita propriedade ser chamados de capital fixo”.
“Ocupações diferentes exigem porcentagens muito diferentes de capital fixo e de capital circulante empregados nelas”.
No Capítulo III, o mais importante do Livro Segundo sob o aspecto teórico, é discutido o conceito de trabalho produtivo e articulada a proposição de que é o volume de poupanças, limitado pelo volume do excedente gerado acima das necessidades de auto-reprodução do sistema econômico, e determinado pela parcimônia dos agentes produtivos, a causa imediata do aumento do estoque de capital; como Smith sugere implicitamente que a cada ato de poupança está associada uma decisão de investimento, os problemas de insuficiência de demanda efetiva são ignorados por hipótese.
“Existe um tipo de trabalho que acrescenta algo ao valor do objeto sobre o qual é aplicado; e existe outro tipo, que não tem tal efeito. O primeiro, pelo fato de produzir um valor, pode ser denominado produtivo; o segundo, trabalho improdutivo. Assim, o trabalho de um manufator geralmente acrescenta algo ao valor dos materiais com que trabalha; o de sua própria manutenção e o do lucro de seu patrão. ... Ao contrário, a despesa de manutenção de um criado doméstico nunca é reposta. Uma pessoa enriquece empregando muitos operários, e empobrece mantendo muitos criados domésticos”.
“O trabalho de algumas das categorias sociais mais respeitáveis, analogamente ao dos criados domésticos, não tem nenhum valor produtivo. ... O soberano, por exemplo, com todos os oficiais de justiça e de guerra que servem sob suas ordens, todo o Exército e a Marinha, são trabalhadores improdutivos. ... Na mesma categoria devem ser enquadradas algumas das profissões mais sérias e mais importantes, bem como algumas das mais frívolas: eclesiásticos, advogados, médicos, homens de letras de todos os tipos, atores, palhaços, músicos, cantores de ópera, dançarinos de ópera etc”.“Tanto os trabalhadores produtivos como os improdutivos, e bem assim os que não executam trabalho algum, todos são igualmente mantidos pela produção anual da terra e da mão-de-obra do país. Esta produção, por maior que seja, nunca pode ser infinita, necessariamente tem certos limites. Conforme, portanto, se empregar uma porcentagem menor ou maior dela, em qualquer ano, para a manutenção de mãos improdutivas, tanto mais, no primeiro caso, e tanto menos, no segundo, sobrara para as pessoas produtivas, e na mesma medida, a produção do ano seguinte será maior ou menor, uma vez que se excetuarmos os produtos espontâneos da terra, o total da produção anual é efeito do trabalho produtivo”.
“... a renda (aluguel) da terra e os lucros do capital constituem, em toda parte, as fontes primordiais das quais as pessoas improdutivas haurem sua subsistência. ... Donde se infere que a proporção entre pessoas produtivas e improdutivas depende muitíssimo, em todo país, da proporção entre aquela parte da produção anual que, tão logo sai do solo ou das mãos dos trabalhadores produtivos, se destina a repor um capital, e aquela que se destina a constituir uma renda, como renda (aluguel) da terra ou como lucro. Essa proporção difere muito, conforme o país for rico ou pobre”.
“Com o progresso dos aperfeiçoamentos, a renda (aluguel) da terra, embora aumente em proporção com a extensão, diminui em proporção com a produção da terra”.
“Ainda que a parcela da renda dos habitantes decorrente do lucro do capital seja sempre muito maior nos países ricos que nos pobres, isto é porque o capital é muito maior; em proporção ao capital, os lucros geralmente são muito menores”.
“Em conseqüência, a proporção entre o capital e a renda parece regular em todo lugar a proporção entre pessoas trabalhadoras e pessoas ociosas. Onde quer que predomine o capital, prevalece o trabalho; e onde quer que predomine a renda, prevalece a ociosidade. Por isso, todo aumento ou diminuição de capital tende a aumentar ou a diminuir a quantidade real de trabalho, o contingente de cidadãos produtivos e, conseqüentemente, o valor de troca da produção anual da terra e do trabalho do país, a riqueza e a renda reais de todos os seus habitantes”.
“Os capitais são aumentados pela parcimônia e diminuídos pelo esbanjamento e pela má administração. ... A parcimônia, e não o trabalho, é a causa imediata do aumento de capital. Com efeito, o trabalho fornece o objeto que a parcimônia acumula. Com tudo o que o trabalho consegue adquirir, se a parcimônia não economizasse e não acumulasse, o capital nunca seria maior”.
“A produção anual da terra e do trabalho de um país só pode aumentar de valor com o acréscimo do contingente de mão-de-obra produtiva, ou das forças produtivas dos trabalhadores já empregados. É evidente que o número de trabalhadores produtivos de um país nunca pode ser muito aumentado, a não ser em conseqüência de um aumento do capital ou dos fundos destinados à sua manutenção”.
“ ... certos tipos de gastos parecem contribuir mais para o crescimento da riqueza do país do que outros. ... A renda de um indivíduo pode ser gasta em coisas consumidas de imediato ... ou em coisas de maior durabilidade, ... caso em que o gasto de um dia pode, a seu critério, aliviar ou sustentar e aumentar o efeito do gasto do dia seguinte. ... As casas, a mobília, as roupas dos ricos, dentro de pouco tempo tornam-se úteis para as classe inferiores e médias da população. ... Além disso, os gastos feitos em mercadorias duráveis favorecem não somente o acúmulo de estoque, mas também a poupança ... garantem comumente a manutenção de um número maior de pessoas do que os gastos efetuados com a mais pródiga das hospitalidades. ... Não desejo, porém, dar a entender com tudo isso que um tipo de gasto sempre denota um espírito mais liberal ou generoso do que o outro. ... Tudo quanto pretendo dizer é que um tipo de gasto, pelo fato de sempre gerar algum acúmulo de mercadorias de valor, por favorecer a frugalidade particular e, conseqüentemente, o aumento do capital da sociedade e por manter mais pessoas produtivas do que improdutivas, é mais adequado que o outro para fazer crescer a riqueza pública”.
Ainda nesse Capítulo, Smith define uma outra faceta importante da natureza humana, quando afirma que:
“... o princípio que leva a poupar é o desejo de melhorar nossa condição, um desejo que, embora comumente calmo e isento de paixão, herdamos do ventre materno e nunca nos abandonará até a sepultura. Em todo o tempo que medeia entre o berço e a sepultura, dificilmente haverá um só momento em que uma pessoa esteja tão perfeita e completamente satisfeita com sua situação, que não deseje alguma mudança ou melhoria, de qualquer tipo que seja”.
O Capítulo IV apresenta a teoria dos juros e o Capítulo V conclui com uma análise factual e algo idiossincrática da produtividade do capital em diferentes setores.
O Livro Terceiro contém uma síntese abrangente da evolução econômica da humanidade, muito influenciada pela longa História da Inglaterra de Hume, e constitui, no contexto da obra, o teste empírico-histórico da teoria de crescimento econômico apresentada anteriormente.
Por fim, os Livros Quarto e Quinto enfeixam as proposições normativas, de legislação e política econômica. No Livro Quarto, Smith discute longamente os fundamentos das políticas comercial e colonial mercantilistas, de onde emerge sua crítica devastadora sobre a racionalidade econômica da superestrutura jurídica do antigo sistema colonial (Capítulos I a VIII) e conclui com considerações sobre as propostas dos fisiocratas (Capítulo IX), onde Adam Smith não esconde sua enorme simpatia e respeito intelectual, embora qualificado, pela escola francesa.
“Não há regulamento comercial que possa aumentar a quantidade de mão-de-obra em qualquer sociedade além daquilo que o capital tem condições de manter. Poderá apenas desviar parte desse capital para uma direção para a qual, de outra forma, não teria sido canalizada; outrossim, de maneira alguma há certeza de que essa direção artificial possa trazer mais vantagens à sociedade do que aquela que tomaria caso as coisas caminhassem espontaneamente”.
“Todo indivíduo empenha-se continuamente em descobrir a aplicação mais vantajosa de todo capital que possui. Com efeito, o que o indivíduo tem em vista é sua própria vantagem, e não a da sociedade. Todavia, a procura de sua própria vantagem individual natural ou, antes, quase necessariamente, leva-o a preferir aquela aplicação que acarreta as maiores vantagens para a sociedade”.
“Em primeiro lugar, todo indivíduo procura empregar seu capital tão próximo de sua residência quanto possível e, conseqüentemente, na medida do possível, no apoio e fomento à atividade nacional, desde que tal aplicação sempre lhe permita auferir o lucro normal do capital, ou ao menos um lucro que não esteja muito abaixo disso”.
“Em segundo lugar, todo indivíduo que emprega seu capital no fomento da atividade interna necessariamente procura com isso dirigir essa atividade de tal forma que sua produção tenha o máximo valor possível”.
“O produto da atividade é aquilo que esta acrescenta ao objeto ou às matérias-primas aos quais é aplicada”.
“Ora, a renda anual de cada sociedade é sempre exatamente igual ao valor da troca da produção total anual de sua atividade, ou, mais precisamente, equivale ao citado valor de troca. Portanto, já que cada indivíduo procura, na medida do possível, empregar seu capital em fomentar a atividade nacional e dirigir de tal maneira essa atividade que seu produto tenha o máximo valor possível, cada indivíduo necessariamente se esforça por aumentar ao máximo a renda anual da sociedade. Geralmente, na realidade, ele não tenciona promover interesse público nem sabe até que ponto o está promovendo. Ao preferir fomentar a atividade do país e não de outros países, ele tem em vista apenas sua própria segurança; e orientando sua atividade de tal maneira que sua produção possaser de maior valor, visa apenas seu próprio ganho e neste, como em muitos outros casos, é levado como que por mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções”.
“É evidente que cada indivíduo, na situação local em que se encontra, tem muito melhores condições do que qualquer estadista ou legislador de julgar por si mesmo qual o tipo de atividade nacional no qual pode empregar seu capital, e cujo produto tenha probabilidade de alcançar o máximo. O estadista que tentasse orientar pessoas particulares sobre como devem empregar seu capital não somente se sobrecarregaria com uma preocupação altamente desnecessária, mas também assumiria uma autoridade que seguramente não pode ser confiada nem a uma pessoa individual nem mesmo a alguma assembléia ou conselho, e que em lugar algum seria tão perigosa como nas mãos de uma pessoa com insensatez e presunção suficientes para imaginar-se capaz de exercer tal autoridade”.
“Outorgar o monopólio do mercado interno ao produto de atividade nacional, em qualquer arte ou ofício, equivale, de certo modo, a orientar pessoas particulares sobre como devem empregar seus capitais - o que, em quase todos os casos, representa uma norma inútil, ou danosa. Se os produtos fabricados no país podem nele ser comprados tão barato quanto os importados, a medida é evidentemente inútil. Se, porém, o preço do produto nacional for mais elevado que o do importado, a norma é necessariamente prejudicial”.
“Se um país estrangeiro estiver em condições de nos fornecer uma mercadoria a preço mais baixo do que o da mercadoria fabricada por nós mesmos, é melhor compra-la com uma parcela da produção de nossa própria atividade, empregada de forma que possamos auferir alguma vantagem”.
“A atividade da sociedade só pode aumentar na proporção em que aumenta seu capital, e este só pode aumentar na proporção em que se puder aumentar o que se poupa gradualmente de sua renda. Mas o efeito imediato de todas essas restrições às importações é diminuir a renda do país, e o que diminui essa renda certamente não tem muita probabilidade de aumentar o capital da sociedade mais rapidamente do que teria aumentado espontaneamente, caso se tivesse deixado o capital e a atividade encontrarem seus empregos naturais”.
“... não importa se as vantagens que um país leva sobre outro são naturais ou adquiridas. Enquanto um país tiver essas vantagens, e outro desejar partilhar delas, sempre será mais vantajoso para este último comprar do que fabricar ele mesmo”.
“Contudo, parece haver dois casos nos quais geralmente será vantajoso impor alguma restrição à atividade estrangeira, para estimular a nacional. ... O primeiro ocorre quando se trata de um tipo específico de atividade necessária para a defesa do país. A defesa da Grã-Bretanha, por exemplo, depende muito do número de seus marujos e navios. Por isso, a lei sobre a navegação, com muita propriedade, procura assegurar aos marinheiros e à esquadra britânicos o monopólio do comércio de seu próprio país”. ... O segundo ... ocorre quando dentro do país se impõe alguma taxa aos produtos nacionais. Nesse caso, parece razoável impor uma taxa igual ao produto similar do país estrangeiro”.
O Livro Quinto trata de política fiscal, analisando as políticas de gasto público, onde desenvolve interessante discussão das vantagens e desvantagens da intervenção do Estado em diferentes áreas de atividade (Capítulo I), de tributação (Capítulo II) e, finalmente, da dívida pública (Capítulo III)
A CONTROVÉRSIA SOBRE A TEORIA DO VALOR-TRABALHO
A origem dessa controvérsia é a famosa crítica de David Ricardo à afirmativa feita por Smith no Capítulo V do Livro Primeiro, de que o valor de um bem é igual à quantidade de trabalho pela qual ele pode ser trocado ou comandar indiretamente, como inconsistente com a teoria do valor-trabalho – pela qual o valor de troca de um bem é determinado pela quantidade direta e indireta de trabalho necessário à sua produção – segundo ele defendida por Smith em outros pontos da obra.
Apesar das imprecisões verbais, o comentário equívoco de Smith sobre o custo real do trabalho como medida de valor de troca não deve ser tomado como evidência de sua aceitação do princípio quantitativo de determinação dos preços característico da teoria do valor trabalho. Uma simples inspeção das páginas iniciais do Capítulo VI é suficiente para evidenciar que (a) Smith restringe a validade da teoria do valor trabalho aos limites quase pré-históricos dos “estados rudes e primitivos da sociedade” em que não teria ainda ocorrido significativa acumulação de capital ou apropriação privada da terra e (b) sua verdadeira teoria do valor é baseada nos custos de produção e fundamenta-se na noção de que, em “sociedades civilizadas”, a remuneração do capital e da terra influencia a formação dos preços.
O que Smith disse foi que, para o seu propósito de analisar o fenômeno do crescimento econômico, é preciso abstrair-se das flutuações de preços causadas por variações no poder de compra da moeda e, assim, a melhor medida do preço real das mercadorias no longo prazo é o preço real do trabalho, que parece variar menos.
A IMPORTÂNCIA DE ADAM SMITH PARA UM ECONOMISTA MODERNO
Toda ciência - seja ela uma ciência natural como a Física, ou uma ciência social como a Economia - parte de uma visão ideológica do universo a ser estudado, postulada a priori. A partir dessa visão ideológica, desenvolvem-se leis, também postuladas a priori, que constituem um modelo simplificado do universo. Utilizando-se esse modelo, são deduzidas cer tas conclusões que permitem prever o comportamento do universo. Essas previsões são, então, confrontadas com o comportamento real do universo. Caso elas se confirmem com razoável aproximação, toda essa teoria - formada pelo conjunto da visão e do modelo do universo - é considerada válida, até que uma nova teoria venha a se revelar mais precisa na descrição e previsão do comportamento daquele mesmo universo.
A importância de Adam Smith advém do fato de que foi o primeiro a propor uma visão ideológica da natureza humana, assim como uma lei básica do comportamento econômico do homem e das sociedades humanas, ambas independentes de qualquer preceito ou regra religiosa, que continuam até hoje servindo de base para a Economia como ciência, embora cada vez com mais refinamento.
Smith também é importante porque arrasou definitivamente com os mitos e as inconsistências do mercantilismo. E, finalmente, porque forneceu uma base político-econômica para o pensamento liberal moderno.
Entre os conceitos introduzidos por Smith, podem-se destacar:
1. Visão ideológica da natureza humana:
Segundo Smith, o homem busca permanentemente melhorar sua condição; para este fim, depende, em grande parte, de uma acumulação insaciável de bens materiais; não existe homem suficientemente rico que não queira um pouco mais de alguma coisa. Nesse processo, ele se vale principalmente da troca: sempre está disposto a trocar algo que tem por alguma outra coisa que não tem, se isto lhe trouxer um aumento de satisfação com seus bens materiais.
2. Lei universal - a “mão invisível”:
Do entrechoque dos interesses individuais dentro de qualquer sociedade, surge um equilíbrio que é o mais benéfico possível para o todo. Ninguém “tenciona promover o interesse público nem sabe até que ponto o está promovendo” ... “visa apenas seu próprio ganho e neste, como em muitos outros casos, é levado como que por mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções”. Essa “mão invisível” regula volumes de produção, preços e lucros melhor que qualquer regra imposta, pois ninguém possui toda a informação necessária para essas decisões.
3. Riqueza das nações:
A riqueza das nações não está na quantidade acumulada de ouro e prata, pois esses metais não passam de meios de troca, mas na capacidade de seus trabalhadores de produzir bens materiais (produtividade) e na proporção de trabalhadores produtivosem relação à população global. Distingue (erradamente) entre trabalho produtivo - que produz bens materiais e coloca-os, através do comércio, ao alcance dos consumidores - e improdutivo, representado pelos serviços em geral.
4. Produção:
A produção se baseia em três fatores: terra, trabalho e capital (na maior parte capital de giro, como financiador do trabalho, até que o produto final possa ser vendido). O custo de produção se divide naturalmente em três partes: aluguel da terra, correspondente aos proprietários; salários, aos trabalhadores; e lucros, aos capitalistas. (Note-se que, com esta função de produção, trabalho e capital são complementares, não substitutivos).
5. Valor:
Distingue entre “valor de uso” (utilidade) e “valor de troca” (preço relativo) de uma mercadoria. O trabalho determina o valor de troca apenas em sociedades primitivas pré-capitalistas. Nas sociedades comerciais modernas, o valor de troca passa a ser determinado pela quantidade usada dos três fatores de produção - terra, trabalho e capital - e por sua remuneração “natural” (usual, tradicional), em termos de aluguel, salário e lucro. A quantidade de trabalho envolvida na produção serve, entretanto, como medida estável do valor de troca das mercadorias, em diferentes tempos e lugares, independentemente das flutuações no poder de compra da moeda.
6. Preços:
Distingue entre o “preço de mercado” de um bem, que seria influenciado pelo desequilíbrio entre oferta e demanda, e o seu “preço natural”, que equivaleria ao custo de produção, com os fatores de produção remunerados a níveis “naturais”. No longo prazo, o preço de mercado deve oscilar em torno do preço natural.
7. Desenvolvimento econômico:
As nações passam por quatro distintos estágios de desenvolvimento econômico e social: a caça, o pastoreio, a agricultura e o comércio. Em uma sociedade comercial moderna, o aumento de produção per capita advém da acumulação de capital e da especialização e da divisão de tarefas (como exposto na descrição de uma fábrica de pregos) e da invenção de máquinas facilitadoras do trabalho que a especialização pode induzir (Ele não tinha noção da possibilidade de mudança do processo produtivo). Smith admite que este processo de desenvolvimento arrefece com o tempo, pois chega um momento em que se explora toda a terra cultivável, a partir do qual mais capital acumulado, ao tentar financiar mais trabalho, só aumentará o salário e reduzirá o lucro. Cessa, assim, a acumulação de capital e, conseqüentemente, o aumento da produção per capita e o desenvolvimento.
8. Comércio internacional livre:
Só pode ser benéfico, pois, pela concorrência, cada país é levado a exportar o que produz mais barato e a importar o que for produzido mais barato no exterior. Com essa importação, aumenta a riqueza do país (sobra mais renda disponível para comprar outros bens) e, com essa exportação, aumenta não só a riqueza (maior produção), mas também a divisão do trabalho (produtividade) e, conseqüentemente, o crescimento econômico. (Note-se que ele tinha noção apenas das vantagens absolutas, não das vantagens comparativas, posteriormente explicadas por Ricardo).
9. Governo:
Se os indivíduos são egoístas e as trocas, voluntárias, estas só serão realizadas quando proporcionarem ganho a ambas as partes, logo não há necessidade de serem reguladas. Intervenções do governo só podem causar redução do bem-estar da sociedade. O governo deve se restringir a: (a) proteger a sociedade contra a violência externa e interna; (b) impedir a ação de monopólios; (c) prover justiça rápida e honesta, na defesa dos direitos de propriedade e do respeito aos contratos firmados; e (d) fazer e conservar obras públicas que não interessem a indivíduos ou empresas.
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JEAN-BAPTISTE SAY (1767-1832)
Jean-Baptiste Say foi o primogênito dos quatro filhos de uma família protestante de Nantes. Os revezes do pai levaram-no a se empregar em um banco parisiense e, aos 29 anos, a ir para Londres, trabalhar em uma companhia de seguros. Lá pôde observar a indústria nascente e descobrir Adam Smith. De volta à França, criou o ensino de Economia na França, primeiro no Ateneu (1815-16), depois no Conservatório Nacional de Artes e Ofícios (1820) e finalmente no Colégio de França (1831).
Seu Tratado de Economia Política (1803), segundo B. Nogaro, em seu Desenvolvimento do Pensamento Econômico, foi “o primeiro livro que ofereceu uma exposição didática , segundo um plano rigoroso, do conjunto da ciência econômica”.
De todas as contribuições de Say, talvez a menos conhecida tenha sido a de atribuir à ciência econômica uma função mais ampla do que a de orientar o príncipe na administração de seu reino. Suas obras são destinadas a “desvendar a Economia das sociedades para os homens de Estado, os proprietários fundiários e os capitalistas, os cientistas, os agricultores, os comerciantes e, de um modo geral, para todos os cidadãos” (título do Curso); “tornar a doutrina tão popular que todo homem dotado de bom senso pudesse entendê-la no seu conjunto e em seus pormenores e aplicar os seus princípios a todas as circunstâncias da vida” (discurso preliminar do Tratado).
A primeira preocupação de Say foi a de definir o objeto, a natureza e os métodos da ciência econômica. Ele reduz a Economia a uma ciência que exclui toda e qualquer consideração política, limitação que lhe permite concentrar sua análise no fenômeno central da atividade econômica - a produção.
Quanto ao método, para Say a distinção entre a teoria e a prática não tem fundamento: “A Economia só se transformou numa Ciência quando se tornou uma ciência da observação”.
A ignorância de Say, no que se refere à Matemática, induziu-o a rejeitar toda e qualquer formulação algébrica e a excomungar a Estatística, a aritmética política e a utilização da Matemática em Economia. Essa recusa a se utilizar do instrumental matemático, em vez de preservar a obra de Say do perigo da generalização e da simplificação, permite todas as imprecisões de linguagem e as contradições lógicas - e a Lei dos Mercados é um exemplo flagrante desses problemas.
Para Say, a utilidade é o fundamento do valor e o preço é a medida da utilidade. O custo da produção não é mais que uma limitação imposta ao produtor: “A produção não é a criação de matéria, mas uma criação de utilidade”. “Pouco importam as enormes dificuldades que tenhamos que vencer para produzir um objeto inútil: ninguém vai querer pagar por ele”.
Trata-se de uma total rejeição à teoria do “valor-trabalho”, assim como também de toda distinção entre “valor de uso” e “valor de troca”. O valor de Say é um valor mercantil que só se define pela troca. Sua teoria de “valor-utilidade” estabelece o princípio da soberania do consumidor e atribui à demanda a responsabilidade de todo o equilíbrio econômico. A partir daí o raciocínio de Say se desenvolve com muita lógica.
Say não oferece, no Tratado, nenhuma exposição completa da evolução econômica no longo prazo. A noção de crescimento atenuado e de “estado estacionário” parecem ser-lhe totalmente estranhas. Entretanto, em alguns escritos, sua visão de um crescimento contínuo nem sempre resiste à influência dos clássicos ingleses, com sua teoria da população e sua lei dos rendimentos decrescentes.
A moeda não intervém em momento algum na apresentação da lógica do seu sistema. Sua única função é facilitar as trocas. Contrariamente a Ricardo, Say não elaborou nenhuma teoria da distribuição.
O princípio dos mercados só ocupa algumas páginas do Tratado: o célebre capítulo XV. Mas, na realidade, ele percorre a totalidade de sua obra. Ele é exposto através de vários enunciados, tão diversos quanto contraditórios. Nada mais fácil que, sempre com o apoio dos textos, interpretar a lei alternativamente, como uma identidade ou uma igualdade:
“É com produtos que compramos o que outros produziram”.
“Os produtos só podem ser comprados com produtos” (Segunda carta a Malthus).
“Só se podecomprar produtos com outros produtos” (Idem).
“É a produção que cria mercados para os produtos” (Tratado).
“São os produtos que abrem saídas para os produtos” (Primeira carta a Malthus).
“Cada consumidor só pode comprar uma quantidade de produtos proporcional ao que ele próprio pode produzir ... Cada nação só pode consumir proporcionalmente ao que produz” (Tratado).
	
No início, Say não percebeu o alcance profundo de sua “descoberta”. Foram os ataques de Malthus e Sismondi que o levaram a definir sua posição com mais rigor e a extrair todas as suas implicações lógicas.
Numa primeira abordagem, a lei de Say surge como apresentação simplificada e não discriminada da atividade econômica, num mundo onde reina a divisão do trabalho. Numa economia em que os indivíduos só oferecem seus serviços para poderem comprar produtos e os empresários só produzem para satisfazer as necessidades dos consumidores, o valor de troca em termos reais dos bens produzidos é identicamente igual ao valor das remunerações dos serviços produtores, que é por sua vez igual ao total dos bens e serviços comprados. O significado da fórmula “produtos só se compram com produtos” não comporta nenhuma ambigüidade, mas também não tem grande alcance teórico. Ela expressa apenas a identidade contábil entre os agregados da produção, da receita e da despesa.
A lei de Say tem uma ambição maior. Ela não descreve apenas um “equilíbrio” contábil, tautológico por definição, mas também, e sobretudo, o equilíbrio geral do sistema econômico. É nesse ponto que começam as dificuldades.
A pergunta é: Num sistema econômico onde o consumidor exprime livremente suas preferência, com livre escolha de profissão, e os empresários têm responsabilidade total sobre as decisões de produção, é possível haver um afastamento geral e permanente do pleno emprego? A resposta de Say é clara: desequilíbrios parciais e temporários, em certos mercados, são sempre possíveis, porém uma superprodução geral é impossível.
A lei de Say expressa a tendência de uma economia de mercado ao equilíbrio dinâmico em períodos longos. Sua validade está, porém, condicionada a um certo número de premissas, implícitas ou explícitas:
A moeda é apenas meio de troca s sua oferta se ajusta automaticamente à procura por moeda. Dessa concepção de moeda, Say erradamente conclui que o entesouramento é logicamente impossível e existe uma identidade entre poupança e investimento.
O progresso técnico não causaria nunca desemprego. Contrariamente aos clássicos ingleses, Say é decididamente otimista nesse aspecto.
O consumidor é soberano. Para Say, o empresário desempenha uma função induzida e o Estado não tem nenhuma função.
O empresário de Say é um agente racional num universo de certezas. A racionalidade do empresário é, sem dúvida, a condição que determina o bom funcionamento do universo de Say.
A importância fundamental da lei de Say não escapou a seus contemporâneos. Ricardo contribuiu poderosamente para transformá-la no suporte do equilíbrio econômico clássico. Ele estava consciente da ocorrência de depressões na atividade econômica; escreveu, inclusive, uma capítulo especial acerca dos recuos da atividade comercial num período de após-guerra e contemplou a possibilidade de que a evolução tecnológica dê origem ao desemprego.
Os economistas clássicos aproximavam-se da idéia de que uma economia perfeitamente competitiva tende sempre para o pleno emprego. As depressões não podem ser permanentes porque a oferta cria a sua própria procura a um nível micro e macroeconômico através de variações automáticas de preços e de taxas de juros. Assim, uma oferta excedentária de bens ou uma procura excedentária de moeda tende a ser auto-corretora. “A oferta cria sua própria procura” não apesar do comportamento dos preços, mas devido a ele. Os preços absolutos são determinados pelo mesmo conjunto de forças que determinam os preços relativos: para cada conjunto de preços relativos há um correspondente e único nível de preços absolutos ao qual o mercado monetário estará em equilíbrio 
No plano teórico, faltou a Say - assim como a Malthus e a Sismondi – uma verdadeira compreensão dos fenômenos monetários para que ele pudesse oferecer uma explicação satisfatória dos ciclos e do equilíbrio geral.
J. S. Mill, mais sutil, introduziu uma distinção enter o curto e o longo prazo, a economia de escambo e a economia monetária: a lei é sempre válida na economia de escambo, mas não na economia monetária, a não ser no longo prazo. Em seu Unsettled Questions of Political Economy, publicado em 1844, mas escrito em 1830, ele diz que:
“Para se poder aplicar o argumento da impossibilidade de um excesso de todos os bens ao caso em que um meio de circulação é usado, a moeda deve ser ela própria considerada como um bem. É indubitável que não pode haver simultaneamente um excesso de todos os outros bens e um excesso de moeda.”
Pode muito bem acontecer que possa haver num dado momento uma tendência muito geral para vender tão depressa quanto possível, acompanhada simultaneamente por uma tendência geral para diferir o mais possível todas as compras (uma procura excedentária de moeda). É o que sucede nos períodos descritos como de excesso geral. E ninguém, uma vez devidamente esclarecido, contestará a possibilidade de excesso geral, neste sentido da palavra.”
Segue-se uma explicação detalhada de porque a sub-oferta de moeda será temporária e, embora o argumento seja algo superficial, a distinção entre a identidade e a igualdade de Say dificilmente poderia ser estabelecida em termos mais claros.
 
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THOMAS MALTHUS (1766-1834)
No fim do século XVIII, as condições de vida dos trabalhadores ingleses se deterioraram apreciavelmente, como resultado de várias circunstâncias adversas: (a) o mais elevado crescimento populacional proporcionado pelo início da Revolução Industrial; (b) a migração irlandesa e escocesa em busca de emprego na Inglaterra; (c) a mão de obra rural deslocada pela mecanização da indústria têxtil; (d) a inflação causada pelas guerras napoleônicas; e (e) a rápida urbanização do país. Esta situação gerou uma corrente de pensamento socialista, que Malthus se preocupou, primeiramente, em rebater.
O expoente do pensamento socialista na Inglaterra da época foi William Godwin (1756-1836), que defendia duas idéias básicas: (a) as instituições sociais econômicas capitalistas eram as causas dos malefícios e sofrimentos da classe trabalhadora pobre; e (b) um governo capitalista nunca repararia esses males pois era controlado pela classe capitalista. Godwin não pregava uma revolução mas acreditava que, através da razão, a sociedade chegaria à única solução racional, que envolveria a abolição do governo, das leis, da propriedade privada e das classes sociais e o estabelecimento da igualdade econômica, social e política.
Outros pensadores menos radicais, como o francês Marquês de Condorcet (1743-1794) defendiam políticas específicas para a defesa dos pobres, tais como (a) a instituição de fundos para idosos, viúvas e órfãos e (b) a regulamentação e o redirecionamento do crédito em benefício dos trabalhadores.
Thomas Robert Malthus era filho de uma família inglesa de posses. Foi educado em Cambridge e, em 1805, nomeado para o corpo docente da faculdade da Cia. das Índias Orientais, em Harleybury, onde ocupou a primeira cátedra inglesa de Economia Política até sua morte em 1834.
Em 1798, Malthus publicou An Essay on the Principle of Population as It Affects the Future Improvement of Society, with Remarks on the Speculations of Mr. Godwin, M. Condorcet and Other Writers. Neste livro, ele defendia que (a) independentemente do êxito dos reformadores em reformar o capitalismo, a divisão da sociedade em proprietários ricos e trabalhadores pobres tenderia inevitavelmente a reaparecer, pois era uma lei natural; e (b) as tentativas de minorar a pobreza e o sofrimento, por mais bem intencionadas que pudessem ser, tornariama situação pior, e não melhor.
A base da sua argumentação era sua teoria da população, que consiste basicamente em três proposições: (a) o impulso sexual irreprimível do homem faz com que sua capacidade biológica de reprodução seja superior à sua capacidade física de aumentar a produção de alimentos; entretanto; (b) controles preventivos (a esterilidade e a abstinência) e positivos (a miséria, as pragas, as guerras) estão sempre presentes; mas (c) o controle final e inevitável sobre a capacidade reprodutora humana é a fome.
A conhecida síntese – a população cresce em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos cresce em progressão aritmética – contém o poder hipnótico de um slogan publicitário. Mas está errada. Em função dessa teoria, seus adversários políticos taxaram a Economia de “lúgubre ciência” (“dismal science”).
Segundo Malthus, os controles positivos e preventivos “que reprimem o poder superior da população e mantêm seus efeitos compatíveis com o nível de subsistência, se resumem a restrição moral, vício e miséria”. Assim, argumentava Malthus que qualquer política, que aumentasse o nível de vida dos trabalhadores, em geral, acima da subsistência, resultaria em um aumento populacional que pressionaria o salário para baixo até que a população voltasse ao nível anterior e o salário, após um período de miséria, ao nível de subsistência.
Malthus se opunha a todos os projetos de leis de assistência social aos pobres, pois “as ‘leis dos pobres’ da Inglaterra tendem a piorar as condições gerais dos pobres de duas maneiras. A primeira delas é a tendência óbvia a aumentar a população, sem aumentar a quantidade de alimentos de que ela precisa ... A segunda é que a quantidade de alimentos consumidos nos asilos para pobres, por uma parte da sociedade que não pode ser considerada a parte mais útil, diminui o que de outra forma iria para os membros produtivos mais úteis.”
Só um homem moralmente virtuoso, que soubesse conter os seus impulsos sexuais, poderia escapar ao destino dos trabalhadores pobres. Para Malthus, a contenção moral consistiria em “evitar o casamento e não o substituir por satisfações irregulares” mas a maior parte dos trabalhadores teria a tendência de esbanjar qualquer dinheiro acima da subsistência em “bebida, jogo e farras”. Implicitamente, conclui-se que a diferença entre o rico e o pobre é o alto nível moral do rico e o baixo nível moral do pobre.
Conforme salienta Mark Blaug, Malthus fundamentou sua teoria da população em parte na lógica, em parte nos fatos, mas não rigorosamente em qualquer dessas bases. A partir de dados duvidosos relativos à América, que não distinguiam entre fecundidade e imigração, ele concluiu que uma população, na ausência de obstáculos à sua reprodução, duplicará a cada 25 anos, a uma taxa de quase 3 % ao ano (e, na realidade, taxas de 5 % ao ano parecem biologicamente possíveis). Contudo, ele admitia que o nível de vida não tinha se reduzido nas colônias americanas, o que implica que a produção forçosamente deveria ter crescido a uma taxa geométrica pelo menos semelhante. Ele, porém, negava esta possibilidade.
Na realidade, Malthus opõe, a uma capacidade hipotética de uma população para crescer a uma taxa determinada, a efetiva incapacidade de aumentar a produção de alimentos a essa mesma taxa. Por conseguinte, a teoria malthusiana da população assemelha-se perigosamente a uma tautologia disfarçada de teoria, que não pode ser refutada porque não se aplica nem a variações efetivas nem a variações concebíveis da população. Ela pretende dizer algo a respeito do mundo real, mas o que ela diz é verdadeiro por definição dos seus próprios termos.
O erro de Malthus consistiu em não reconhecer que (a) a humanidade está disposta a controlar a natalidade e a reprodução, à medida que sua renda cresce e a expectativa de vida ao nascer aumenta; e (b) a tecnologia pode alterar radicalmente a relação entre crescimento populacional e aumento da produção, inclusive de alimentos. A história recente dos países ocidentais contradiz totalmente a teoria da população de Malthus.
Durante e após a segunda década do Século XIX, Malthus publicou seu Principles of Political Economy Considered with a View to Their Practical Applications, de 1820. Neste livro, o principal conceito introduzido por Malthus é o “princípio da demanda efetiva”.
Smith havia dito que “o que é poupado, por ano, é tão consumido quanto o que é gasto por ano e, também, quase que ao mesmo tempo, mas é consumido por outras pessoas.” Este conceito é conhecido como a Lei de Say, enunciada com mais clareza por Jean Baptiste Say (1767-1832), cuja essência é que “os produtos são pagos com produtos” ou “a oferta cria sua própria demanda”. Say quis dizer que, na presença de preços perfeitamente flexíveis, é impossível que todos os bens, em seu conjunto, sejam ofertados em excesso relativo à demanda agregada. 
A Lei de Say pode ser compreendida como uma identidade ou como uma igualdade. Sendo uma identidade, isto significaria que ela tem que valer a qualquer instante e para qualquer valor da oferta e da demanda. Claramente, não foi isso que Say e os economistas clássicos quiseram dizer, mas, sim, que uma economia plenamente competitiva tende para o pleno emprego, ou seja, oscila em torno do equilíbrio entre oferta e demanda agregada.
Por isso, quase todos os economistas clássicos argumentavam que o capitalismo nunca passaria por desequilíbrios persistentes entre a oferta agregada e uma demanda agregada insuficiente. Malthus não aceitava este princípio e defendia a possibilidade de que a demanda “efetiva” seja inferior à capacidade de produção agregada.
O raciocínio de Malthus era que os trabalhadores sempre gastam toda a sua renda e os proprietários rurais também (promovendo neste processo “todas as manifestações mais nobres do gênio humano, todas as emoções mais finas e delicadas da alma”). Os capitalistas, porém, poderiam ver-se com excesso de capital em relação ao que poderia ser proveitosamente investido (como capital de giro em nova produção). Nestas circunstâncias, prefeririam reter sua renda na forma de moeda improdutiva a reduzir o lucro sobre o capital empregado. Assim, os capitalistas deixariam de gastar toda a sua renda e haveria uma insuficiência da demanda efetiva.
A solução apontada por Malthus era criar um exército de trabalhadores improdutivos como criados dos proprietários de terras. Eles consumiriam a riqueza material sem produzi-la e, com isso, eliminariam o problema da insuficiência da demanda agregada. Isto poderia ser feito através das “leis de cereais” – as leis com que se pretendia defender os preços dos grãos produzidos na Inglaterra, exacerbados durante as guerras napoleônicas, contra as exportações francesas após 1815, quando foi assinada a paz entre os dois países. Aumentos de salários estariam, naturalmente, fora de questão, com base na sua teoria da população.
David Ricardo, o principal porta-voz dos capitalistas, entendeu imediatamente o erro de Malthus e escreveu que “um grupo de trabalhadores improdutivos é tão necessário e útil para a produção futura quanto um incêndio que destrua, nos depósitos do fabricante, as mercadorias que teriam sido, de outra forma, consumidas por aqueles trabalhadores improdutivos ... Se a doutrina do Sr. Malthus fosse verdadeira, o que seria mais aconselhável do que aumentar o exército e duplicar os ordenados dos funcionários públicos?”
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DAVID RICARDO (1772-1823)
David Ricardo era filho de um imigrante judeu oriundo da Holanda, que fez fortuna como corretor na bolsa de valores londrina. Não cursou nenhuma universidade, mas, aos vinte e poucos anos, trabalhando independentemente do pai, já havia constituído sua própria fortuna em ações, títulos e imóveis. Em 1779, leu A Riqueza das Nações e, daí em diante, dedicou-se a estudar e escrever sobre Economia Política. Foi eleito para a Câmara dos Comuns e conservou-se muito amigo de Malthus, a despeito das divergênciasentre ambos em matéria de Economia.
Sua principal obra foi Principles of Political Economy and Taxation, onde definiu o que ele via como o principal problema da Economia: “O produto da terra – tudo o que é retirado de sua superfície pelo emprego conjunto do trabalho, das máquinas e do capital – é dividido entre três classes da comunidade, a saber: o proprietário da terra, o dono do capital necessário para o seu cultivo e os trabalhadores que entram com o trabalho para o cultivo da terra. O principal problema da Economia Política é determinar as leis que regem esta distribuição.”
Uma de suas grandes contribuições à teoria econômica foi a Lei dos Rendimentos Decrescentes, que formulou de forma mais precisa que os seus contemporâneos. A maior parte dos economistas clássicos considerava essa lei como uma simples generalização da experiência cotidiana. Os economistas modernos definem-na como a especificação do que acontece quando se aumenta a quantidade utilizada de um fator, mantendo-se todos os demais constantes (o que a impede de ser testada por simples observação do mundo real).
Segundo Ricardo, quanto mais terra se cultiva, tanto mais o produto por trabalhador diminui, enquanto o salário real se mantém (pré-definido, a partir do “hábito e costume”). Obviamente, o lucro do capital, em termos de produto por trabalhador, decresce. Ao mesmo tempo, o capital, nos mesmos termos, aumenta porque o produto exige cada vez mais recursos reais utilizados por unidade produzida. Conseqüentemente, decresce a taxa de lucro do capital. Mais cedo ou mais tarde, a acumulação de capital chega ao fim, atingindo-se um “estado estacionário”, em que não há mais crescimento.
Ricardo mostrou também que (a) um aumento, tanto do aluguel da terra como do salário (aqui fazendo uso da teoria da população de Malthus), resulta em maior renda para o proprietário da terra e reduz o lucro do capitalista e, assim, o crescimento econômico; e (b) o comércio internacional livre contribui para maior crescimento, ao manter os preços dos bens ao nível mínimo possível, o que contribui para manter os salários baixos e alta a acumulação de capital.
Talvez a maior contribuição de Ricardo tenha sido o conceito de ‘vantagens comparativas’, muito mais abrangente que o das ‘vantagens absolutas’ de Smith, que ele desenvolveu na crítica que fez ao protecionismo e às propostas de ‘leis de cereais’. Segundo Ricardo, o comércio livre é sempre benéfico, mesmo para um país que produza tudo mais eficientemente que os demais, porque permite ao país concentrar seus recursos na produção daqueles bens em que ele é relativamente mais eficiente, importando aqueles em que é relativamente menos eficiente. O comércio internacional livre pode, inclusive, retardar a chegada do estado estacionário, em que cessa a acumulação de capital e o crescimento econômico.
Diversamente de Smith, Ricardo considerou a teoria do valor-trabalho – a qual afirma que só trabalho cria valor - tão válida para uma sociedade capitalista quanto para o estado “inicial e rude” de uma sociedade primitiva. Tentou construir uma teoria precisa do valor-trabalho, mas não teve sucesso. 
Começou por afirmar que, embora toda mercadoria que tenha valor tenha utilidade, esta não estabelece o valor. E “se a quantidade de trabalho incorporada às mercadorias estabelecer seu valor de troca, todo aumento da quantidade de trabalho terá que aumentar o valor da mercadoria em que ele for empregado, e toda diminuição terá que baixar este valor”. 
A seguir, o que Ricardo quis dizer, mas o fez de forma imprecisa - de acordo com uma análise do que Ricardo escreveu a este respeito, feita por Alfred Marshall ao fim do século XIX - é que, se na produção de dois bens verifica-se a mesma relação entre as quantidades de capital e de trabalho utilizadas (ou seja, se na produção dos dois bens verificar-se a mesma produtividade), a proporção entre seus preços será igual à proporção entre as quantidades de trabalho necessárias para produzi-los. Ou seja, para dois bens 1 e 2:
P1/P2 = L1/L2 se K1/L1 = K2/L2.
Ricardo rejeitou as objeções feitas à sua teoria do valor-trabalho, principalmente que (a) não é possível combinar tipos diferentes de trabalho com habilidades diferentes e salários diferentes; e (b) a teoria do valor-trabalho não explica a maior produtividade possibilitada por recursos naturais e pelo capital. E considerou o capital em forma de máquinas apenas como fruto de trabalho anterior. 
Na realidade, estas objeções parecem irrefutáveis. Smith já tinha percebido que a quantidade de trabalho diferia bastante de uma indústria para outra e que era provável que essas diferenças sempre existissem. Por isso, abandonou o conceito de valor-trabalho e usou uma teoria simples de preços naturais, baseados nos custos de produção. 
Ricardo tentou contornar essa dificuldade, usando a produtividade média do trabalho e a composição de capital média da economia para definir uma unidade invariável de valor-trabalho, mas, com isso, não fez mais que fugir do problema. Além disso, inexiste qualquer verificação empírica de que valor (preço relativo) e quantidade de trabalho na produção de um bem mantêm uma proporção definida, nem por produto, nem por setor de produção, nem para toda a economia.
Essa teoria caiu em desuso, a não ser por Marx, para quem ela serviu de base ao seu conceito de “mais-valia”. Hoje em dia, o conceito de valor foi abandonado e concorda-se em que não há qualquer relação entre o preço e o custo de produção de um bem (a não ser, é claro, que o valor do bem deve ser necessariamente maior que o seu custo de produção, senão esse bem não será produzido).
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JEREMY BENTHAM (1748-1832)
Jeremy Bentham, em seu An Introduction to the principles of Morals and Legislation, de 1780, introduziu o conceito de utilidade. Segundo ele, toda a motivação humana, em todas as épocas e lugares, se reduz ao desejo de maximizar a utilidade, definida como “a propriedade de qualquer objeto que tenda a produzir algum benefício, vantagem, prazer, bem ou felicidade (tudo isso equivale à mesma coisa) ou (o que de novo equivale à mesma coisa) a impedir danos, dor, mal ou infelicidade à parte cujo interesse esteja sendo considerado”.
Para ele, “os termos riqueza e valor se explicam mutuamente. Um artigo só entra na composição de uma riqueza se possui algum valor. A riqueza se mede de acordo com os graus deste valor. Todo valor se baseia na utilidade ... Onde não há utilidade, não pode haver valor algum.”
De início, Bentham era tão liberal quanto Smith. A partir de 1801, entretanto, ele mudou: “Não tenho ... um medo horrível - sentimental ou anárquico - da mão do governo ... A interferência do governo, na medida em que ofereça a mínima vantagem, deve ser vista com bons olhos.” Justificava a ação do governo para (a) eliminar desequilíbrios entre poupança e investimento e (b) reduzir os malefícios sociais causados por grandes desigualdades de riqueza e renda.
Entendia que (a) a utilidade poderia ser medida; (b) caberia ao governo buscar a máxima utilidade possível para o maior número possível de pessoas; e (c) como a capacidade de qualquer pessoa se beneficiar com a riqueza diminui à medida que enriquece, a redistribuição de riqueza dos ricos para os pobres aumentaria a utilidade total da sociedade.
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JOHN STUART MILL (1806-1873)
John Stuart Mill foi o último dos economistas clássicos ingleses. O seu Principles of Political Economy, de 1848, foi a bíblia dos economistas durante toda a segunda metade do Século XIX. Mill ambicionava apenas complementar o pensamento ricardiano, mas levou-o a pontos nem sequer sonhados por Ricardo, podendo, assim, ser considerado um predecessor da escola marginalista. 
Ele também contribuiu para explicar os fundamentos filosóficos da Economia e forneceu justificativas para a liberdade individual e para os limites dentro dos quais deve ser contida a intervenção governamental nas atividades economias e sociais. Segundo Blaug,“o fulcro do pensamento de Mill está nas suas propostas de reforma econômica e no seu tom penetrantemente moral, ao mesmo tempo sentimental e austero, onde os floreados da teoria abstrata são refreados pelo desejo de preconizar melhoramentos sociais”.
Mill considerava que a propriedade privada não passa de uma convenção humana, “inteiramente uma questão de facilitar as coisas de modo geral” e que “a troca não é a lei básica da distribuição ... É simplesmente parte da máquina de distribuição”.
Mill achava que (a) os preços naturais são determinados por seu custo de produção e (b) valor significa simplesmente valor de troca ou preço relativo. Ele não atribuía nenhum sentido à teoria do valor-trabalho, não entendia por que Ricardo tinha buscado uma medida invariável do valor-trabalho e afirmava que essa busca é não só impossível, como também irrelevante, para a teoria do valor.
Mill foi o primeiro economista a falar de oferta e demanda como funções ou relações e não simplesmente como quantidades. Ele reconheceu que as quantidades ofertadas e demandadas respondiam aos preços praticados - quanto mais altos os preços, maior a quantidade ofertada e menor a demandada. Foi também o primeiro a formular a noção de custo de oportunidade, como a soma de todos os custos que qualquer ação humana exige, pela necessidade de se abdicar de pelo menos alguma outra ação alternativa. 
Mill, a princípio, aceitou a teoria do fundo de salários, segundo a qual os salários dependem do número de trabalhadores que dividem esse fundo. Em 1869, repudiou essa teoria, invertendo-a: o volume do fundo de salários é que é determinado pelos salários, que, por sua vez, são determinados por uma barganha entre trabalhadores e capitalistas. Se um capitalista “tiver que pagar mais pelo trabalho, o pagamento adicional sairá de sua própria renda”.
Mill concordava com Ricardo quanto à tendência de queda da taxa de juros no longo prazo, mas discutiu várias circunstâncias que contrariariam essa tendência. Duas eram particularmente importantes: a exportação de capital e as crises comerciais periódicas. Mas, apesar de sua análise esclarecedora dos ciclos econômicos, Mill defendia a lei de Say, afirmando simplesmente que, no longo prazo, a economia volta ao pleno emprego. Concordava que “estes desarranjos dos mercados” são um “mal” social, mas insistia em que são “temporários”.
No que se refere ao crescimento econômico, Mill tentou encontrar um meio termo entre Smith e Malthus. Smith via as sociedades enriquecendo como resultado de maior liberdade de comércio, inovação tecnológica, divisão do trabalho e investimento. Malthus via o crescimento limitado pelo excesso de gente em relação a recursos essencialmente fixos. Mill via ambos os mecanismos em funcionamento simultâneo e, em vez de prever um resultado único dessas forças em conflito, preferiu mostrar os diferentes cenários possíveis no futuro.
Um primeiro cenário segue as linhas do pensamento de Malthus, com a população crescendo mais rapidamente que o produto poderia ser aumentado através do capital e da tecnologia, resultando em salários mais baixos e lucros mais altos, ou seja, em uma redução do nível de vida dos trabalhadores. 
Um segundo cenário segue a análise de Smith, com o capital se acumulando mais rapidamente que a população. Neste caso, os salários aumentariam e, com eles, o nível de vida dos trabalhadores.
Um terceiro cenário reflete as idéias de Ricardo. Nele, o capital e a população cresceriam à mesma taxa, mas a tecnologia se manteria relativamente estável, logo os salários reais não mudariam. Mas, sem melhorias tecnológicas, a necessidade crescente de se utilizar terras de qualidade inferior conduziria a um aumento incessante dos aluguéis e preços e queda persistente dos lucros, até se atingir um estado estacionário em que cessaria todo e qualquer crescimento. 
Um quarto cenário mostra o que aconteceria se a tecnologia evoluísse mais rapidamente que a população e o capital. Neste caso, tanto salários como aluguéis se reduziriam e os lucros aumentariam, e a economia cresceria sem limites.
Mill considerava o terceiro cenário como o mais provável, pois não conseguia imaginar um progresso tecnológico sem fim. Mas, ao contrário dos demais economistas clássicos, encontrava muitos benefícios no estado estacionário, sendo o mais importante o fim da correria atrás de lucros que caracteriza a vida em uma sociedade industrial.
Mill condenava moralmente os efeitos da concentração da propriedade de quase todos os meios de produção nas mãos de uma pequena classe capitalista e achava que a estrutura de classes existente “não é, de modo algum, um estado necessário ou permanente das relações sociais ... Não é de se esperar que a divisão da raça humana em duas classes hereditárias – empregadores e empregados – possa manter-se para sempre”.
Para Mill, uma sociedade comunista seria, sem dúvida, moralmente superior ao capitalismo de sua época. Mas não defendia nem mesmo o socialismo, por pensar que este só seria possível quando, e apenas quando, o caráter das pessoas tivesse melhorado e insistia em que uma sociedade socialista só “era possível, no momento, com uma elite da humanidade”. Enquanto isso, a “luta por riquezas” que fosse concorrencial era a única solução possível para a sociedade. Seu verdadeiro objetivo era promover a reforma do capitalismo.
Mill defendia a intervenção do governo a fim de erradicar a pobreza, mas estava longe de concordar com o lema utilitarista de que cada indivíduo é o melhor juiz de seu próprio bem estar. Ele argumentava que os pobres quase nunca estão em posição de julgar adequadamente o que melhor promove o seu interesse. Para modificar o caráter, os hábitos e os julgamentos dos pobres, achava que “há necessidade de uma dupla ação, dirigida ao mesmo tempo para sua inteligência e para sua pobreza”.
Mill advogava o estímulo a pequenas cooperativas de trabalhadores e defendia também leis que (a) protegessem os direitos de formação de sindicatos de operários; (b) instituíssem limitações às heranças; (c) controlassem os monopólios naturais e impedissem conluios visando a criação de um poder de monopólio.
Num ponto importante, Mill permaneceu condicionado ao pensamento dominante em sua época: ele era um ardente defensor da teoria malthusiana da população. No entanto, é interessante reparar que ele conseguiu evitar todas as terríveis implicações dessa teoria através de uma crença otimista na capacidade da classe trabalhadora de praticar voluntariamente o controle da natalidade.
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