Buscar

REVISTA TEOLÓGICA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 120 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 120 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 120 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Studium Theologicum de Curitiba
STUDIUM
REVISTA TEOLÓGICA
Studium: revista teológica/ Studium Theologicum de Curitiba - Ano 2
 Vol. 2 - n. 3 (jan./jun.) e 4 (jul./dez.), 2008
 Semestral
 ISSN 1981-3155
 1. Teologia – Periódicos. I. Studium Theologicum de Curitiba.
 
 CDU: 2
STUDIUM 
Revista Teológica
Ano 2 – 2008
Nº 3 e 4
Revista semestral de Teologia do Studium Theologicum de Curitiba
ISNN 1981-3155
EDITOR-ChEfE
hélcion Ribeiro – Studium Theologicum
CONSELhO EDITORIAL
Jaime Sanches Bosch – Studium Theologicum, Curitiba, Pr.
Marcio Luiz fernandes – Studium Theologicum, Curitiba, Pr.
Tedoro hanicz – Instituto S. Basílio Magno, Curitiba, Pr.
 Valdinei de Jesus Ribeiro – StudiumTheologicum, Curitiba, Pr.
 Vitor P. Calisto dos Santos – PUC, Campinas, SP
CONSELhO CONSULTIVO
Angelo Carlesso - Studium Theologicum – Curitiba, Pr
Jose Carlos fonsati – Cúria Geral dos Vicentinos - Paris, fr.
Josu M. Auday – Claretianum, Roma
Sávio Scopinho – CEUCLAR, Batatais
Ricardo hoepers - Studium Theologicum – Curitiba, Pr.
ADMINISTRAÇÃO E REDAÇÃO
Contato e assinatura
Studium Revista Teológica
Av. Getúlio Vargas, 1193
80.250-180 Curitiba Pr.
Tel. (41)3224-5467 – fax: (41) 3233-8979
e-mail: studium.sec@studium.com.br
Solicita-se permuta/ Exchange requested/
Se pide cambio/ On prie l’échange
Nota: os autores das contribuições desta publicação assumem a 
responsabilidade das idéias e teses defendidas nos seus textos.
SUMÁRIO
Editorial................................................................................................................................ 5
Dimensão carismática da Igreja e identidade da vida religiosa .................... 9
florêncio Garcia Castro 
A vida consagrada hoje. Desafios e vitalidade diante da primeira década do 
ano 2000. De onde viemos, onde estamos, para onde vamos? .......................... 23
José Rovira 
Mistica e profecia. Um estilo de vida e “novos areópagos”.......................... 35 
Ciro Garcia, ocd
O pai que nossa sociedade precisa. Uma leitura psico-sociológica da 
figura paterna................................................................................................................. 57 
.Josu M. Alday
Vozes proféticas de religiosos diante da escravidão negra no Brasil............ 67
Wilmar Santin
Desafios e perspectivas da ética numa sociedade em transformação ...... 81
Santiago Maria Gonzalez Silva 
Coexistência e Confronto entre judeus e cristãos em Antioquia na 
Antiguidade Tardia.........................................................................................................97
Rivaldave Paz Torquato
Recensão.........................................................................................................................117
5
Ao pensar teologicamente a Vida Consagrada
Vida Consagrada (VC) é um parâmetro significativo e 
imprescindível para a vida da Igreja. Ao lado de cristãos leigos e cristãos 
hierarcas, os consagrados, quanto em grupo como pessoalmente, buscam uma 
santidade maior, ao mesmo tempo são testemunho vivo do seguimento de Jesus, 
tanto pela mística quanto pela profecia. Na busca, a Igreja, pela força inefável do 
Espírito, se enriquece e se santifica mais ainda.
Como os pensamentos de Deus não são iguais aos dos homens e mulheres, 
a VC não pode ser medida primeiramente em números, obras e nem mesmo pelo 
carisma/missão fundacional e/ou reformado. Deus, o que é Santo, santifica a 
humanidade pelas suas obras e, especialmente por nos ter dado seu filho Jesus, 
afim de que crendo nele, todos possam ser salvos. Mas, o Deus que continua a 
se manifestar entre nós, por meio da excelência de seu filho, feito nosso irmão, 
também continua servir-se de seus outros filhos e filhas como sinais visíveis do 
amor divino por nós na história; Os consagrados, por toda parte e por princípio, 
são especial manifestação visível deste amor santificante. 
Na linguagem tradicional da Igreja pode-se dizer que há muitos santos 
“oficiais”. Sem dúvida, há um número muitíssimo maior daqueles sobre os quais 
a Igreja não se pronuncia – sobretudo quando se refere aos cristãos leigos. 
Todavia, ocorrem beatificações e canonizações, sem conta no meio dos de 
vida consagrada; pode-se até dizer: mais que entre os hierarcas, mesmo em se 
pensando na proporcionalidade.
Tanto a santidade explícita quanto implícita é sempre um presente 
de Deus à humanidade na força do Espírito, o Santificador. Os de VC têm a sua 
disposição, certamente, mais recursos e oportunidades humanas como resposta 
deste caminho de radical assemelhamento a Deus, em seu Cristo Jesus. Ela, 
porém, precisa ser buscada por não ser um dado “ipso facto”.
A santidade da VC – querida e esperada por Deus – se torna, para a Igreja 
e para o mundo, um sinal da presença divina de modo mais forte. Assim e além 
da santidade, os consagrados são “instrumentos” divinos para a reconciliação da 
humanidade, através de sua doação e de seus múltiplos carismas e missões.
Sem dúvida, a VC é, em primeiro lugar, um gesto amoroso do Pai. Por 
outro lado, é busca da realização humana. Cada consagrado tem como meta a 
A
Editorial
6
plenificação humana. Esses homens e mulheres, que fazem de suas vidas uma 
consagração original a Deus, na Igreja, são os humanos buscadores da mais 
profunda e desejada realização. São mulheres e homens que decidiram, em sua 
generosidade – apesar de suas limitações -, colocar suas vidas a serviço de Deus 
e da humanidade. Constroem suas obras para servir, servem-se das coisas do 
mundo para enriquecer os pobres, os doentes e os aflitos. Instrumentalizam seus 
múltiplos carismas para dar sentido ao mundo e soerguer os caídos. Não sendo 
anjos – pelo contrário, bem humanos – sofrem as vicissitudes humanas com o 
coração, mesmo ferido e machucado; mas, sem desanimar buscam a plenitude 
humana de forma mais radical. 
Nos carismas e missões dos consagrados, a Igreja vê sua própria 
instrumentalidade – a Igreja é sacramento do Reino e de Cristo – para colaborar 
com Deus, na obra da evangelização e da dignificação humana. Em cada 
religioso – sinal visível da Igreja – torna-se manifesta a vontade salvífica de Deus. 
Os consagrados visibilizam, por meio de suas obras, a Igreja como “curadora/
sanadora”, como educadora, como companheira da humanidade e, sobretudo, a 
que está atenta aos pobres. Como diz um de nossos autores: mística e profecia não 
podem estar separadas na VC. Daí, a atenção samaritana particular dos religiosos 
– para além de seu testemunho – no cuidado amoroso daqueles que a sociedade 
alija de seus banquetes...
O Studium Theologicum de Curitiba, com seus quase 75 anos de serviço 
claretiano à igreja local e regional, é uma escola de formação para tantos 
consagrados. 
Por isso, este fascículo especialmente dedicado à VC é também uma 
forma de gratidão a Deus, à Igreja e aos próprios consagrados, pois eles fazem 
parte da história real de nossa instituição claretiana, aberta a todas as ordens, 
congregações religiosas e movimentos eclesiais que a procuram.
Esse fascículo de nossa Revista teológica, enfeixando os dois números 
correspondente ao ano de 2008, é produzido pela reflexão de pessoas consagradas 
escrevendo sobre sua própria realidade teológico-existencial. De modo particular, 
esse volume conta com a especial colaboração de quatro claretianos, que têm 
uma particular e histórica ligação como Studium Theologicum. A eles – e aos 
demais autores - antecipadamente apresentamos nosso agradecimento pela 
colaboração. 
O claretiano José Rovira em A vida consagrada hoje. Desafios e 
vitalidadea diante da primeira década do ano 2.000 traça um importante 
quadro, chamando a atenção para o fato de que a VC não pode ser medida por 
números nem mesmo quando ela está, como vulgarmente se afirma, em crise. É 
verdadeque há desafios e ambigüidades, mas a esperança e sua vitalidade não 
morrem, pois dependem de Deus.
A história da Igreja, em geral, é feita ao redor da hierarquia e, quase à 
margem, está a história da Vida Religiosa. Mas, para bem compreender a 
7
Igreja impõe-se situar a eclesialidade da VC desde uma perspectiva histórica e, 
sobretudo, teológica. Se a VC surge dos carismas, a sua identidade se encontra 
na dimensão constitutiva e natural da Igreja. A doutrina conciliar e a reflexão 
teológica posterior a apresentam como parte constitutiva da dimensão 
carismática da Igreja: são carismas feitos vida na comunidade eclesial. É esta a 
reflexão do claretiano Florêncio Garcia Castro, em Dimensão carismática da 
Igreja e identidade da vida religiosa. 
Ciro Garcia, ocd, se propõe, a partir de uma reflexão existencial, analisar 
a Mística e Profecia, como duas vertentes da mesma e única fonte da VC. A 
insistência de K, Rahner sobre a necessidade da mística no século 21, urge à 
VC um comportamento novo, capaz de renová-la, para além dos percalços e 
discussões. Unir o binômio mística e profecia leva à genuinidade desejada pelos 
Pais fundadores, apesar das aparências em contrário.
Josu M Alday, CMf, propõe uma reflexão - na verdade, uma parábola 
- sobre O Pai que nossa sociedade precisa. Uma leitura psicossociológica 
da figura paterna. Parte da psicologia e da sociologia do pai, evidenciando a 
“diminuição” da figura paterna e de sua ausência/desaparecimento para mostrar 
os prejuízos psicossociais contemporâneos daí decorrentes. Ao caracterizar os 
“modelos” de pai, propõe a necessária e madura recuperação desta figura em 
função do equilíbrio humano. A parábola aponta à realidade de que apenas 
na concepção equilibrada do pai – especialmente do “pai nutritício” - é que os 
consagrados se encontrarão com o Deus Pai/Mãe verdadeiro.
O carmelita historiador Wilmar Santin, em Vozes proféticas, rediscute 
a questão ausência/presença dos religiosos no processo europeu de tornar 
escravos homens e mulheres, aprisionados na África e trazidos para o Brasil. O 
autor detecta, em sua pesquisa historiográfica, a presença de inúmeros frades e 
padres que ergueram suas vozes, em nome da justiça e da fé, contra a escravidão 
– inclusive dentro das próprias casas e províncias religiosas. Muitos deles pagaram 
alto preço por causa de seus discursos libertários, “seja diante do trono seja diante 
do altar”. Mesmo que isolado, o número destas vozes proféticas é bem maior do 
muitos contam...
Esse fascículo sobre a VG se amplia com duas outras contribuições bem 
pertinentes ao refletir sobre o mundo contemporâneo e o mundo dos primeiros 
cristãos.
O também claretiano Santiago Maria Gonzalez Silva levanta a 
atualíssima questão dos Desafios e perspectivas éticas numa sociedade em 
transformação. Com riqueza de dados, o autor faz desfilar, sob nossos olhos 
grandes transformações produzidas pela engenharia genética, capazes de atingir 
– muito mais do que se imagina – nossas vidas desde o ponto de vista biológico 
e ético. As questões envolvem uma afirmação positiva, i. é: um compromisso 
com a vida frente a fatos como o aborto, a eutanásia, o ecossistema, o equilíbrio 
econômico mundial, um mundo justo etc. A energia do amor será capaz de 
construir um mundo novo possível e justo?
8
Por fim, Rivaldave Paz Torquato, o. carm, escreve sobre a Coexistência 
e Confronto entre judeus e cristãos em Antioquia na Antiguidade Tardia. Um 
tema raro na literatura bíblico-teológica, especialmente em língua portuguesa. 
Com freqüência os valores religiosos dos povos, sobretudo quando confrontados 
por religiões novas, são transformados em fonte de conflitos, intolerância e 
violência. Para atingir seu objetivo, tais religiões manipulam países, sistemas 
políticos e econômicos ou se deixam manipular por eles. As consequências para 
a humanidade são normalmente catastróficas. Aos poucos as religiões perdem 
assim seu potencial libertador e tornam-se fonte de opressão, escravidão, aflição 
e sofrimento. O autor aborda esta questão do início do cristianismo frente ao 
judaísmo, apresentando suas conclusões.
Entregamos nossa Revista de Teologia STUDIUM, na certeza do bom 
proveito de nossos leitores.
9
DIMENSÃO CARISMÁTICA DA 
IGREJA E IDENTIDADE DA VIDA 
RELIGIOSA
florêncio Garcia Castro, CMf * 
RESUMO: O artigo traz as conclusões mais significativas do estudo feito para a tese de Doutorado 
apresentado no Instituto Teológico da Vida Consagrada – Claretianum de Roma – com o título 
“Dimensão carismática da Igreja e identidade da Vida Religiosa” salientando o núcleo temático; 
e o subtítulo, “Ensinamento do Concílio Vaticano II e a sua recepção na reflexão teológica pós-
conciliar” enquadra historicamente o assunto de nossa análise e investigação. Portanto, a finalidade 
desta exposição é a de apresentar o que foi recolhido do ensinamento do Concílio Vaticano II sobre 
os carismas na Igreja e a sua relação com a Vida Religiosa, de um lado, e de outro, apresentar 
sistematicamente como foi acolhida esta doutrina na reflexão teológica posterior ao Concílio.
PALAVRAS CHAVE: Carimsa. Reflexão teológica. Dimensão institucional. Concilio. Vida religiosa.
Ecleseologia.
ABSTRACT: The article brings the conclusions most significant of the made study for the thesis of 
Doctoral presented in the Theological Institute of the Life Consecrated - Claretianum of Rome - with 
the heading “ Charismatic dimension of the Church and identity of the Religious Life”; pointing out 
the thematic nucleus; e the sub-heading, “Teaching of Vatican Conciliation II and its reception in 
the theological reflection after-conciliation” it historically fits the subject of our analysis and inquiry. 
Therefore, the purpose of this exposition is to present what it was collected of the teaching of Vatican 
Conciliate II on charisma in the Church and its relation with the Religious Life, from all points of view, to 
present systematically as Conciliate was received this doctrine in the theological subsequent reflection.
KEY WORDS: Charisma. Theological reflection. Institutional dimension. I conciliate. Religious life. 
Ecclesiology.
Artigos
* Doutor em teologia, Superior do Instituto Teológico da Vida Consagrada “Claretianum”, Roma. falecido em 
2005, aos 46 anos de idade, enquanto se preparava para assumir um novo encargo nas filipinas.
10
1. ORIGeM DeSTe TRAbAlhO
Por que fazer esta pesquisa? É a primeira pergunta que nos fazemos e aqui 
explicamos a origem e causas do presente trabalho.
Gostaria de começar por uma impressão pessoal. Olhando a história da Igreja 
e da Vida Religiosa, percebi algo que sempre me surpreendeu, deixando-me uma 
certa perplexidade: tem-se a impressão de estar diante não de uma única história, 
mas diante de duas histórias paralelas. A história da Igreja ao redor da hierarquia 
e, quase à margem, a história da Vida Religiosa. Não aparece evidenciada nesta 
história do passado a unidade e a edificação da Igreja como fruto da colaboração 
de todos os seus membros. Este fato tem repercussões concretas, uma delas é em 
nível teológico e eclesiológico. Sirva como exemplo o quanto seja difícil encontrar 
nos ensaios de eclesiologia um capítulo dedicado à Vida Religiosa.
Mesmo no interior da Vida Religiosa a história nos mostrou um caminho de 
divisões entre as mesmas famílias religiosas, como alguma coisa que nos parece de 
alguma forma “contra natura”.
Partindo desta observação, quando nos detemos nos trabalhos de pesquisa 
sobre a Vida Religiosa, constatamos que a grande parte destes estudos no período 
pós-conciliar foram marcados pelo retorno às origens das famílias religiosas, 
registrando-se grande desenvolvimento e aprofundamento no conhecimento do 
carisma dos fundadores e do próprio Instituto para realizar a adequada renovação 
que o Vaticano II pedia à Vida Religiosano documento conciliar “Perfectae Caritatis”.
Este fato nos levou a adquirir mais conhecimentos e maior clareza sobre o 
carisma do fundador e sobre o carisma de cada Instituto e a sua missão na Igreja. 
Mas outros aspectos foram muito menos freqüentados. Um destes aspectos foi, a 
meu ver, a reflexão sobre a eclesialidade da Vida Religiosa desde uma perspectiva 
histórica e, sobretudo, teológica. Correu-se o risco de sublinhar excessivamente o 
estudo “ad intra” da Vida Religiosa, certamente necessário e positivo, mas que pode 
impedir de ver o horizonte geral ao qual se pertence: a Igreja.
Como veremos, foi o próprio Concílio a favorecer esta necessária visão 
eclesial quando dedicou um capítulo próprio aos religiosos na Constituição 
Dogmática sobre a Igreja. Um fato sem precedentes. O Concílio recolocou as coisas 
no seu lugar. Não é possível entender a Igreja sem apresentar todos os estilos de 
vida que a compõem , um dos quais é a Vida Religiosa; nem mesmo é possível 
entender a Vida Religiosa propriamente fora do âmbito onde nasceu: a Igreja.
Neste processo é que se situa a nossa reflexão. Nos propomos a um 
aprofundamento teológico e eclesiológico da Vida Religiosa. Evidentemente, neste 
artigo, não pretendemos esgotar as múltiplas possibilidades que esta perspectiva 
nos oferece. Por isto, limitamos o nosso estudo a um aspecto particular, no qual 
nos parece encontrar a origem e a identidade da Vida Religiosa: a sua realidade 
11
carismática. O carisma a define e caracteriza porque cada Instituto é a encarnação 
de um carisma concreto.
Portanto, o porquê deste trabalho encontra-se no desejo de aprofundar 
a eclesialidade da Vida Religiosa apontando para o seu coração: a sua natureza 
carismática.
2. MeTODOlOGIA
Com a metodologia utilizada respondemos à segunda pergunta: Como 
desenvolvemos este estudo? O nosso método de trabalho poderia ser caracterizado 
como histórico-indutivo. fizemos uma pesquisa e análise da palavra “carisma” no 
processo de elaboração redacional dos diferentes documentos estudados, seja 
nos textos apresentados assim como nas modificações e objeções feitas a eles 
pelos Padres conciliares.
Num segundo momento, dedicado à reflexão teológica pós-conciliar 
sobre os carismas, analisa-se como foi assumido o ensinamento do Concílio e o 
seu desenvolvimento posterior em nível eclesiológico e teológico em relação à 
Vida Religiosa.
Neste artigo o foco será apenas as questões referentes ao debate conciliar 
e algumas consequências teológicas.
3 ATé OnDe leVA O eSPíRITO
A convocação de um Concílio na Igreja é um fato tão extraordinário que 
nos faz entender, por si mesmo, como os temas escolhidos para serem tratados 
respondem particularmente à situação da Igreja naquele momento histórico.1 
Cada documento pressupõe uma realidade social e eclesial à qual quer dar uma 
resposta.
Seguramente, as pessoas encarregadas de elaborar a redação do texto 
sobre a Igreja, para ser apresentada no início dos trabalhos conciliares, na qual 
aparecem pela primeira vez os carismas, não imaginavam a repercussão e a 
transcendência que este fato teria na definição e compreensão da Igreja tal qual 
nos apresenta a “Lumen Gentium” e a reflexão teológica posterior.
1 O dia 25 de janeiro de 1959 desde a Basílica de S.Paulo fora dos muros o Beato João XXIII fez o anúncio da 
convocação do Concílio Vaticano II com estas palavras: “Pronunciamos diante de vós, certamente tremendo 
um pouco de comoção, mas ao mesmo tempo com humilde decisão de propósito, o nome e a proposta 
da dúplice celebração: de um Sínodo Diocesano para a Urbe, e de um Concílio Ecumênico para a Igreja 
Universal”. ( cf. AD, series 1. vol. l. 5).
12
Podemos verificar toda a importância deste processo em duas frases. Uma 
pertence ao primeiro esquema da Constituição sobre a Igreja e diz: “É falso dizer 
que, as assim chamadas, Igreja hierárquica ou do direito e Igreja carismática ou do 
amor, se diferenciem realmente.”2 A outra é de João Paulo II em sua mensagem ao 
Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais celebrado no ano de 1998: “Outras 
vezes tive a oportunidade de sublinhar como na Igreja não exista contraste ou 
contraposição entre a dimensão institucional e a dimensão carismática, da qual 
os movimentos são uma expressão significativa. Ambas são co-essenciais à 
constituição divina da Igreja fundada por Jesus”.3
Entre uma frase e a outra existe um arco de tempo de quase 40 anos que 
marcaram um caminho, longo e cansativo, para definir a relação entre a dimensão 
institucional e a dimensão carismática da Igreja.
Ambas as expressões nos revelam que o tema dos carismas tinha uma 
relação muito estreita com a eclesiologia e que havia uma base problemática a 
ser superada: a Igreja hierárquica e a Igreja carismática vistas como realidades 
contrapostas.
O documento conciliar que marcou o Concílio foi a Constituição Dogmática 
“Lumen Gentium”. Na fase preparatória, através de dois esboços, houve uma 
primeira redação do texto. Ela é de menor relevância porque o esquema foi 
rejeitado.4
As causas que levaram a tal ação foram diversas. Uma delas podemos 
dizer de caráter ambiental. Na aula conciliar, antes de analisar o esquema sobre 
a Igreja foi debatido o esquema sobre “fontes da Revelação”. foi rejeitado. Em 
tais circunstâncias podia se prever que também o esquema sobre a Igreja iria de 
encontro ao mesmo fim.
Mas as causas diretas e determinantes foram as objeções dos Padres 
conciliares, os quais depois de louvar todo o trabalho realizado apresentaram as 
suas críticas. Para uma maioria o texto era abstrato e muito esquemático com falta 
de coesão e síntese. Podemos recordar que DE SMEDT qualifica o documento de 
“triunfalismo”, “clericalismo” e “juridicismo”.5 hUYGhE, diz que o esquema proposto 
deve ser profundamente modificado e apresentar uma Igreja embebida pelo 
espírito evangélico, isto é, por um espírito católico, missionário de humildade e 
2 AD, series 11, vol. 11, pars 111, 988. “falso Ecclesia hierarchica seu iuris ab Ecclesia societas charismatica vel 
amoris, quas vocant, re diferre dicuntur”.
3 JUAN PABLO II, Messaggio a! Congreso Afondiale dei Movimenti Ecclesiali: PONTIfICIUM CONSILIUM PRO 
LAICIS ( ed.). Città del Vaticano 1999, 18.
4 No fim do primeiro período conciliar se falou sobre o esquema da Igreja: 1-7 de dezembro em seis 
Congregações Gerais ( XXXI-XXXVI). falaram 77 Padres e deixaram por escrito as suas notas outros 85. 
Mencionaram os carismas 16 deles ( 5 oralmente e 11 nos escritos).
5 AS. 1 (IV), 142-144.
13
serviço.6 CARLI o qualifica de militarista.7 idéia que repete também o Patriarca 
antioqueno Maxirno IV SAIGh8.
Como conseqüência, foi elaborado um novo texto ( terceira redação) 
para ser estudado em sucessivas sessões conciliares (1963-1964). Este itinerário 
compreende o desenvolvimento de sucessivas redações até a sexta e definitiva.
O fato que a redação apresentada ao Concílio fosse rejeitada marca um 
dos momentos mais importantes para a elaboração da Constituição “Lumen 
Gentium”, porque mostra claramente a existência de duas correntes diferentes 
no Concílio. A redação que chega ao primeiro período conciliar herdava e fazia 
própria uma visão piramidal da Igreja, o ponto de referência era a hierarquia e 
partindo dela se elaborava o discurso eclesiológico. Ao contrário, o novo texto 
apresentado no segundo período conciliar concebia a Igreja como mistério de 
salvação e povo de Deus, composto pelas diversas vocações e estados de vida 
existentes em seu conjunto.
A prova evidente de tudo isto é o conteúdo e divisão dos capítulos do 
novo esquema:9
Introdução
Capítulo I: Sobre o mistério da Igreja (De Ecclesiae mysterio)
Capítulo II: Sobre a constituição hierárquica da Igreja e de modo especial: 
sobre o episcopado (De constitutione hierarchica Ecclesiae et in specie: de 
episcopadu).Capítulo III: Sobre o povo de Deus e de modo especial sobre os leigos (De 
populo Dei et speciatem in de laicis)
Capítulo IV: Sobre a vocação à santidade na Igreja (De vocatione ad 
sanctitatem in Ecclesia)
É neste momento chave quando se realiza o grande debate sobre os 
carismas. Os grandes representantes das duas posições foram o Cardeal Ruffini e 
o Cardeal Suenens. A maior parte dos Padres que participam da discussão fazem 
referência a estas duas intervenções, manifestando conformidade ou desacordo.
6 Ibid. 196: “Optaremus etenim ut doctrina Ecclesiae quae in hoc Concilio determinda est. ipsam Ecclesiam 
exhiberet quase imbutam spiritu evangélico, scilicet: spiritus apertus er reapse catholicus, spiritus 
missionarius; spiritus humilis deditionis et servitii”.
7 Ibid. 160: “...quia id sapit militarismum”.
8 Ibid. 295: “La comparaison de l’Eglise avec ` une armée serrée en bataille’ ...n’est pas ce qu’il ya de plus heureux...”
9 AS, II (I), 215-281.
14
O posicionamento do Cardeal Ruffïni10 é contrário ao reconhecimento 
da existência de carismas na Igreja atual, fazendo exceção de casos raríssimos 
e rejeitando que se encontrem nos leigos. Podemos resumir o seu pensamento 
assim:
a. Os carismas ocupam muito espaço no texto do esquema.
b. Os carismas, abundantes no início da Igreja, diminuíram com o passar 
do tempo até o seu quase desaparecimento.
c. Atualmente os carismas são raríssimos e excepcionais.
d. Não se pode confiar nos leigos carismáticos para o apostolado e o 
crescimento da Igreja.
e. Os carismas na Igreja primitiva eram ocasião de freqüentes desordens 
nas comunidades.
O Cardeal Suenens11 sublinhou praticamente todo o contrário. Podemos 
sintetizar a sua intervenção nestes termos:
a. fala-se pouco dos carismas no texto, devem ser tratados mais 
amplamente porque são muito importantes na vida da Igreja.
b. O tempo da Igreja é a era do Espírito Santo. O Espírito Santo é recebido 
por todos os cristãos, pastores e fiéis, pelo batismo. O Espírito se faz 
presente na Igreja por meio de seus dons e carismas.
c. Os carismas estiveram presentes ao longo de toda a história da Igreja, 
das origens até os nossos dias.
d. Na Igreja primitiva existiam não somente carismas extraordinários, 
mas também ordinários (discernimento, governo,...)
e. Na Igreja são necessários os pastores e os carismas porque a Igreja 
não é uma estrutura administrativa, mas uma realidade viva. Ambos 
devem concorrer para construir a Igreja com o diálogo aberto e 
sincero. Uma Igreja sem um destes elementos cairia na desordem ou 
na esterilidade.
f. Pede uma maior presença dos leigos no Concílio e de modo especial 
das mulheres e dos religiosos das Congregações laicais.
O debate foi mais favorável às teses do Cardeal Suenens, mas o fruto mais 
importante dele foi a aceitação da nova eclesiologia que devia ser expressa na 
redação do texto definitivo.
10 AS, II (II), 627-632.
11 AS, II (III), 175-178.
15
O forte debate sobre os carismas deixou manifestada uma tensão que 
estava presente desde a primeira redação: a relação entre a Igreja hierárquica e a 
Igreja carismática.
O texto definitivo mantém ainda como base este tema. Explica-se assim 
que dos 6 textos (4; 7; 12; 25; 30; 50) nos quais se fala dos carismas, em três deles 
(7; 12,30) se repita desde diferentes perspectivas, que os carismas devem ser 
estudados e aprovados pela hierarquia.
Do conjunto de textos sobre os carismas presentes na “Lumen Gentium”, 
podemos traçar as coordenadas para uma nova perspectiva teológica:
1. Contexto eclesiológico
Desde o primeiro momento, os carismas foram tratados no âmbito da 
reflexão sobre a Igreja. Segundo a concepção eclesiológica, assim eram tratados 
os carismas. Como conseqüência, os carismas são entendidos como elemento 
importante da nova eclesiologia conciliar que define a Igreja como mistério e 
povo de Deus no qual cada um tem a própria vocação com a qual contribui para 
a edificação comum.
A doutrina conciliar define os carismas neste contexto eclesiológico como 
graças especiais doadas pelo Espírito a todos os batizados para o bem da Igreja. 
Estes carismas podem ser excelsos ou simples e corresponde à hierarquia o seu 
discernimento e integração na vida da comunidade eclesial.
As linhas de força que emergem desta compreensão são:
a. Definição terminológica.
O texto conciliar não usa a palavra “carisma” para exprimir num sentido 
geral as graças que o Espírito doa à sua Igreja, mas este significado se exprime com 
a palavra “dons”. Por sua vez, estes dons podem ser hierárquicos e carismáticos.
b. Os carismas na Igreja como mistério.
A Igreja é assistida pelo Espírito Santo mediante os seus dons. Eles 
têm a missão de governá-la, os dons hierárquicos; e de enriquecê-la, os dons 
carismáticos. Portanto, os carismas estão presentes na Igreja, mas a sua missão 
principal, exceto se estão associados aos dons hierárquicos, não é o governo dela 
(LG 4; 7).
16
c. Os carismas e o povo de Deus.
O Espírito distribui os seus carismas a todos os fiéis para a edificação da 
Igreja. Os leigos os recebem para contribuir à sua missão salvífica mediante o 
apostolado. Estes carismas estão amplamente difundidos, mas não devem ser 
desejados temerariamente e sempre devem estar submetidos ao discernimento 
e integrados na vida e atividade da Igreja para a hierarquia (LG 12, 30).
d. Os carismas e a Hierarquia.
Não se fala explicitamente dos carismas em referência à hierarquia, salvo 
no caso do carisma da infalibilidade (LG 25), irias de dons. Aparece, sim, delineada 
a sua missão em relação a eles, como vimos antes.
Enfim, pode-se dizer que a reflexão teológica pós-conciliar continuou 
fundamentalmente esta orientação para estabelecer a relação entre a dimensão 
institucional e carismática da Igreja, aprofundando e trazendo novos aspectos 
que ajudem a superar esta visão dualista, porque, de alguma forma, ela ainda 
persiste na doutrina conciliar.
fruto deste perseverante empenho podem ser consideradas as palavras 
de João Paulo II que assume a co-essencialidade da dimensão institucional e 
carismática na construção da Igreja.
2. A Vida Religiosa
Em nossa pesquisa pretendíamos aprofundar o estudo da identidade da 
Vida Religiosa em sua relação com a dimensão carismática da Igreja.
Nós nos rendemos conta que uma diversa eclesiologia configura uma 
nova situação para a Vida Religiosa no contexto eclesial. Na eclesiologia anterior 
ao Concílio, que considerava a Igreja como sociedade perfeita, a Vida Religiosa 
era vista com uma orientação jurídica e ascética sem nenhuma referência à sua 
natureza carismática. De fato, na primeira redação aparece com um capítulo 
próprio intitulado “De statibus adquirendae perfectionis”.
Com a nova eclesiologia do Vaticano II não foi um empenho fácil designar 
o lugar e a definição que correspondia à Vida Religiosa. Ao contrário, foi motivo de 
numerosas controvérsias e dificuldades. Todo este trabalho teve como resultado a 
redação de um capítulo próprio na “Lumes Gentium”, o que a princípio não estava 
previsto no novo projeto da Constituição.
17
falava-se da Vida Religiosa no capítulo que tratava do chamado universal 
à santidade, fazendo desaparecer o capítulo a ela dedicado no texto precedente.12 
Além disto, uma das coisas que mais chama a atenção no capítulo sobre os 
religiosos na “Lumen Gentium”, é que a Vida Religiosa nunca é descrita com a 
palavra “carisma”e por outro lado, não há quase nenhuma referência bíblica.
Quais os motivos destas lacunas? De um lado, as pessoas que propuseram 
o texto base da nova eclesiologia, falavam da Vicia Religiosa no contexto amplo 
do chamado de todos os cristãos à santidade. A Vida Religiosa é somente um 
caminho para atingi-la dentro da Igreja. Desde esta perspectiva, procuravam 
superar a concepção da Vida Religiosacom uma estado de vida “mais perfeito”, 
mas se perdia a sua própria identidade carismática na Igreja.
A oposição de numerosos padres conciliares a esta orientação reducionista 
fez que os religiosos tivessem um capítulo próprio na “Lumes Gentium”,13 mas 
em grande parte permaneceu o texto já existente como parte final do capítulo 
sobre o chamado universal à santidade. Agora passava a ser o capítulo IV sobre 
os religiosos, porém nele predominava, bastante, uma visão ascética da Vida 
Religiosa.
12 U. BETTI, Cronistoria della Costituzione, in G. BARAUNA ( ed.), La Chiesa dei Vaticano II, firenze 1965, 137. 
Betti em seu estudo diz que para redigir o novo texto a Comissão Doutrinal nomeou uma sub-comissão 
“De Ecclesia” que trabalhou com um esquema de origem belga dividido em quatro capítulos: O mistério da 
Igreja, A hierarquia e em particular sobre o episcopado, os leigos e os estados de perfeição. O esquema foi 
aprovado pela comissão Doutrinal; somente o capitulo 4 sobre os estados de perfeição não foi aprovado e 
foi refeito por tinia nova sub-comissão nomeada para esta finalidade. Na nova redação o capítulo mudou 
a orientação porque o seu tema específico não eram mais os estados de perfeição mas a vocação universal 
à santidade, e este capítulo não foi estudado pela comissão Doutrinal, passando diretamente ao debate 
conciliar.
13 Um exemplo destas reações encontramos no Abade Geral do Cisterciense, P.5. KLEINER. Para ele, a questão 
a tratar não é sobre a igualdade ou desigualdade da santidade dos religiosos e a de todos os outros cristãos, 
mas se o lugar de falar da Vida Religiosa é próprio neste capítulo sobre a vocação à santidade ou em outro 
diferente, porque agora aparece como um tratado de teologia ascética, como um apêndice. Por isto, pensa 
que o modo de apresentar o tema dos conselhos evangélicos no capítulo é completamente insuficiente e 
restritivo; e, de outro lado, deve se tratar do estado religioso de uma maneira mais concreta e adequada.
Para ele é necessário falar dos religiosos não separados da Igreja, mas mostrando as suas profundas raízes 
teológicas e eclesiológicas. Neste contexto e no final de sua exposição fala cios carismas em relação com os 
fundadores.
Dos grandes tesouros que o nosso Senhor confiou à sua Igreja, cada um dos fundadores recebeu um dom 
especial ou carisma que plasmou institucionalmente na sua família religiosa que, desta maneira, o faz_ 
perdurar. Os diferentes ofícios que a Igreja tem de adorar, evangelizar, etc. encontram em cada Instituto 
a sua expressão peculiar, ainda que não exclusiva, assim a face da Igreja resplandece de maneiras diversas 
nos diferentes Institutos religiosos. Os Institutos são a mesma Igreja que age neles segundo aquele dom 
particular.
Nesta contribuição de KLEINER, encontramos os elementos fundamentais e constitutivos dos carismas e a 
sua relação com a Vida Religiosa. A Vida Religiosa nasce na Igreja como um dom que Deus lhe dá através 
de algumas pessoas, os fundadores, os quais recebem um carisma especial, que se faz vida da Igreja nas 
diferentes famílias religiosas. ( cf. AS, II (IV), 231-233).
Outros Padres que falaram neste sentido foram: SILVA, DÖfNER, DESChÂTELETS, SChWEIGER. etc. Mas o 
documento que teve mais força para fazer um capítulo especial para os religiosos foi aquele assinado por 
679 Padres, os quais pediam expressamente tal capítulo especial. A decisão final foi tomada pelo próprio 
concílio em uma votação para esta finalidade que teve o seguinte resultado: Padres votantes: 2.177; placet: 
1.856; non placet: 698; placet iuxta modum: 4; suffragia nulla: 3. (cf. AS. Ill (111), 140.
18
Apesar disto, e aqui entramos em um outro aspecto muito interessante 
do Concílio, a realidade carismática da Igreja, não aparece no Concílio somente 
mediante o uso da palavra “carisma” mas também com as palavras “dom” e “graça”. 
Denominamos esta realidade como “campos semânticos”. Em várias ocasiões, 
traduzem ou fazem referência a textos bíblicos, sobretudo de São Paulo, nos 
quais se fala expressamente dos carismas nas primeiras comunidades cristãs.
Por isto, especialmente no caso da Vida Religiosa, a sua identidade 
carismática é afirmada pelo Concílio, não com a palavra “carisma” mas com 
a palavra “dom”. Assim, a Vida Religiosa que se identifica com os conselhos 
evangélicos, é considerada um dom do Espírito à sua Igreja. Ele sempre existiu 
como testemunha a vida dos homens e das mulheres que abraçaram os 
conselhos evangélicos ao longo da história da Igreja.
Este modo de existência cristã é considerado um estado de vida, que 
não é intermediário entre a condição dos clérigos e a dos leigos, mas de ambas 
as partes Deus chama alguns fiéis para possuir um dom particular na vida da 
Igreja (LG 43).
O estado, portanto, constituído pela profissão dos conselhos evangélicos, 
mesmo não pertencendo à estrutura hierárquica da Igreja, pertence, todavia, 
indiscutivelmente à sua vida e à sua santidade (LG 44).
Como conseqüência, a Vida Religiosa é vista na “Lumen Gentium” como 
um carisma que implica a própria vida e santidade da Igreja. Assim, a índole 
eclesial da Vida Religiosa se explica e se entende desde o elemento carismático 
da Igreja, do qual ela é uma expressão concreta.
O Concílio apresenta com a “Lumen Gentium” a doutrina fundamental 
sobre a dimensão carismática da Igreja e nela coloca a identidade da Vida 
Religiosa. Com o decreto “Perfectae Caritatis” enfrenta este mesmo tema desde 
outra perspectiva: a renovação que a Vida Religiosa era chamada a empreender.
O “Perfectae Caritatis” também seguiu um longo processo de formação 
tendo necessidade de seis redações para chegar à sua forma definitiva. foi, 
sobretudo, um trabalho feito pelas comissões, porque o texto apresentado ao 
debate do Concílio era já, de fato, a quinta redação.
No “Perfectae Caritatis” nem mesmo aparece o termo “carisma” em 
referência à Vida Religiosa, porém, se manifesta a sua realidade carismática 
com as palavras “donum” e “gratia”. Apesar disto, é preciso dizer que nas 
muitas colaborações feitas ao texto discutido na aula conciliar, alguns Padres 
falaram expressamente da necessidade de apresentar com clareza a sua 
realidade carismática. Dois destes Padres foram o Cardeal BEA e o Cardeal SILVA 
hENRIQUEZ.
19
O cardeal BEA14 na sua intervenção manifesta que o Decreto centraliza a 
renovação da Vida Religiosa sob um aspecto muito jurídico, faltando princípios, 
fundamentos e meios que o passam aviar.
O cardeal BEA, pelo contrário, lembra que a Vida Religiosa deve ser vista 
no contexto da Igreja. O Decreto “Perfectae Caritatis” faz parte de todo o processo 
de renovação que está acontecendo na Igreja. A renovação da Vida Religiosa não 
deve centralizar-se somente no aspecto jurídico mas deve também atingir os seus 
princípios fundamentais. Um dos quais é a sua realidade carismática. Considera 
a Vida Religiosa como um dom carismático do Espírito à igreja tomando como 
exemplo a vida da Igreja primitiva (1 Cor 12). Como o Espírito Santo distribuía 
os seus carismas na Igreja primitiva, continuou a fazê-lo ao longo da história até 
nossos dias. Assim, os fundadores são pessoas que receberam carismas especiais, 
que transmitiram a outros, dando origem às diferentes e múltiplas Ordens e 
Congregações, por meios das quais os carismas permanecem na Igreja.
O cardeal SILVA hENRIQUEZ15, crê, pelo contrário, que o esquema deve 
ser refeito novamente porque é muito genérico e incompleto. Mas a coisa mais 
interessante é que ele fala expressamente do carisma do fundador, “carisma 
fundatoris”, e o define claramente. O carisma do fundador é uma força dinâmina 
para promover a vida da Igreja peregrina segundo determinadas situações 
históricas. Em tal carisma devem-se distinguir dois elementos: a) Uma força vital, 
a qual é um dom especial do Espírito Santo em favor de toda a comunidade cristã,que pode e é normalmente chamado “espírito do fundador”, e b) a forma externa 
de encarnação deste dinamismo que se concretiza nas estruturas temporais e 
segundo os costumes de cada cultura e organização humana.
Estas duas intervenções serão decisivas, sobretudo, para a redação da 
introdução feita ao Decreto conciliar. Mas, sobre o trabalho redacional, não se 
retomam as expressões concretas usadas por eles, evitando claramente o uso do 
termo carisma, tão explícito, sobretudo, na intervenção do Cardeal SILVA.16
O texto definitívo do “Perfectae Caritatis” nos mostra as características 
com as quais é considerada a natureza carismática da Vida Religiosa. Ela é um 
chamado do Espírito para um estilo de vida, definido pela prática dos conselhos 
evangélicos cuja finalidade é seguir Cristo mais de perto e mais livremente (PC 1).
Esta forma de vida existe na Igreja desde o seu início. Atrás do impulso do 
Espírito, muitos fundadores e fundadoras deram origem às famílias religiosas, as 
quais continuam a estar presentes na Igreja depois de serem por ela aprovadas.
14 AS, 111 (VII), 442-444
15 Ibid- 570-571
16 É interessante notar que, segundo alguns estudiosos, o primeiro a utilizar a expressão “carisma do fundador” 
foi J. fAMRÉE. Le carisme de fondateur, Roma, 1966. ( cf. G. ROCCA, 11 carisma del fondatore, in Claretianum ( 
1994) 49 ). Pelo contrário, aqui se vê claramente que foi o Cardeal SILVA a usar com propriedade por primeiro 
este termo “carisma fundatoris”e que depois se tornou uma expressão técnica.
20
Nas primeiras comunidades cristãs o Espírito concedia os seus carismas 
para a edificação da comunidade. Aos Institutos da vida apostólica é reconhecida 
uma especial continuidade com a presença de tais dons na Igreja ( PC 8).
finalmente, encontramos outros documentos no Concílio Vaticano II 
que também usam o termo “carisma”, que são: DV 8; PO 4, 9; AA 3, 30; AG 4, 
23; 28. Em todos encontramos definidos os carismas como dons que o Espírito 
Santo confere aos batizados para a missão recebida na construção da Igreja.
O Documento “Ad Gentes” é o único que fala da Vida Religiosa em 
ligação com os carismas ( AG 23). Menciona os carismas no contexto da vocação 
missionária, que define como um chamado de Cristo àqueles que Ele quis entre 
os seus discípulos, para que o acompanhem e para convidá-los a pregar aos 
povos.
Este chamado o faz o Espírito Santo que concede os carismas segundo 
o seu querer para a utilidade comum de todos. Um destes carismas é a vocação 
missionária que suscita no coração dos fiéis e pela qual dá a vida na Igreja aos 
Institutos que tomam como missão própria o dever da evangelização.
A Vida Religiosa, portanto, é suscitada na Igreja como um dom do 
Espírito. Se esta Vida Religiosa surge dos carismas, a sua identidade se encontra 
nesta dimensão, constitutiva e essencial da Igreja. É parte imprescindível de sua 
vida e dinamismo.
Todo este trabalho e impulso dado pelo Concílio promoveu nos Institutos 
uma renovação em todos os níveis, entre os quais emerge a reflexão teológica, 
que retomando as linhas traçadas pelo Concílio realizou um notável esforço.
Ao seguir este caminho, as diversas Ordens e Congregações se 
orientaram segundo a própria consciência carismática, mas podemos recolher 
os seus frutos em alguns pontos essenciais:
a. O Carisma da Vida Religiosa
Se o Concílio não usa a palavra “carisma” para definir a Vida Religiosa tem 
presente o seu significado e atualmente esta expressão faz parte da linguagem 
comum da teologia.
A reflexão teológica desenvolveu a identidade carismática da Vida 
Religiosa partindo de duas perspectivas:
A primeira, compreendeu a Vida Religiosa, no seu conjunto, como 
carisma. Por este caminho se reforçou o ensinamento do Concílio que caracteriza 
a Vida Religiosa como um dom que nasce na Igreja pelo impulso do Espírito 
21
Santo, e como um elemento essencial de seu componente carismático, já que 
não pertence à estrutura hierárquica mas à vida e santidade eclesiais.
A segunda, desenvolve o estudo histórico-fenomenológico da Vida 
Religiosa, para passar de uma concepção carismática da mesma para a 
consideração, em cada Instituto, da realização concreta de um carisma.
b. O carisma dos fundadores e do Instituto.
O estudo de cada Instituto como realização concreta de um carisma 
recebido do Espírito nos leva para quem se encontra nas suas origens: a figura 
do fundador. Deste modo, se aviou uma ampla e profunda investigação sobre o 
carisma do fundador. Procura-se individuar as notas essenciais que deram origem 
ao novo Instituto e, como conseqüência, se analisa todo o processo interno que 
se produz desde a experiência originária até a perdurabilidade do carisma na 
dinâmica comunitária.
c. Elementos essenciais para uma teologia dos carismas da Vida Religiosa
Podemos concluir dizendo que o Concílio considera a Vida Religiosa como 
um dom carismático do Espírito à sua Igreja, um chamado a um estilo de vida 
segundo os conselhos evangélicos. Esta vivência tem a finalidade de favorecer a 
santidade na Igreja.
Desde esta perspectiva, fala-se dos conselhos evangélicos como dons 
recebidos na Igreja do Senhor, e, a Vida Religiosa se mostra como um caminho 
para atingir a santidade. Não é definida como estado de vida mais perfeito, mas 
por meio de uma essencial referência carismática.
Por tudo isto, podemos afirmar que a doutrina conciliar e a posterior 
reflexão teológica, nos apresentam a Vida Religiosa como parte constitutiva da 
dimensão carismática da Igreja: são carismas feitos vida na comunidade eclesial.
A dimensão carismática da Igreja explica a existência da Vida Religiosa 
nela e a Vida Religiosa mostra de modo vivo e real o perfil carismático da Igreja. 
Por isto, a eclesialidade da Vida Religiosa é entendida particularmente pelo seu 
ser mais radical: a própria identidade carismática.
22
23
A VIDA CONSAGRADA hOJE 
DESAfIOS E VITALIDADE 
DIANTE DA PRIMEIRA DÉCADA 
DO ANO 2000
De onde viemos, onde estamos, 
para onde vamos?
Prof. Pe. José Rovira, CMf * 
RESUMO: São muitas as análises sócio-culturais da vida religiosa. A partir de números, cujo valor 
está no indicativo que na precisão da atualidade, vai-se discorrendo sobre o significado desta imensa 
força moral da vida consagrada, mesmo que em aparência os números sejam “pouco” expressivos no 
conjunto da vida da Igreja. Pessimismos, questões de crise, mudanças de valores e comportamentos? 
Na verdade, é o Senhor o dador de vocações e a Ele interessa a qualidade da VC, nesta mudança de 
tempos, onde é necessário ver a Vida Consagrada do mesmo modo... de antigamente. Inclusive é útil 
recordar que esta nem é a maior transformação na VC, na história da Igreja. Os novos passos dados 
“após a crise”– redescoberta da missa, refundação dos institutos – são na verdade ações criativas do 
Espírito, que pedem compromissos mais profunda, que evidencia o significado real da VC.
PALAVRAS CHAVE: Vida Consagrada. Crise. Números. Desisnstitucionalização. Renascimento da 
espiritualidade. Novas formas de VC.
ABSTRACT: There is a lot of social cultural analysis related to religious life. According to numbers, its 
valor states that in the present precision; bring up the meaning of this enormous moral strength of 
consecrated life, even though the numbers are “less” expressive in the group of church life. Pessimism, 
crisis questions, goodness changes and behaviors? In fact, the Lord is the vocation giver and He 
is interested about the consecrated life (CL), in this time of change, where it’s necessary to see the 
Consecrated Life in the same way… previously. Inclusive it’s useful to remember that this is not even 
the biggest change in CL, in the history of church. The new steps given “after crisis”-mass rediscovery, 
re-foundation of the institutes-are Spirit creative actions, which requiredeep commitment, evidencing 
the real meaning of CL.
KEYWORDS: Consecrated Life. Crisis; Numbers. Deinstitutionalization. Spiritually rebirth. New ways 
of LC. 
Artigos
* Diretor do Instituto de Teologia da Vida Consagrada “Claretianum “, de Roma. 
24
Talvez esta pergunta possa parecer retórica, mas não é. falar “da” VC é 
fazer uma abstração; assim nos adverte insistentemente o próprio Magistério da 
Igreja em documentos recentes. O que existem são os grupos ou Institutos de 
VC e, em última instância, os indivíduos concretos. Pretender falar da VC como 
sendo uma realidade indiferenciada, é um dos grandes riscos da VC no nosso 
tempo: a indiferenciação, pensar que todos somos mais ou menos a mesma 
coisa. 
A constituição LG falava dos religiosos como uma «árvore com muitos 
galhos, esplêndida e viçosa» (LG 43a). Variedade esta, devida à diversidade do 
«carisma dos fundadores», como diziam ET 11 e MR 11. Por isso «a Igreja defende 
e apoia a índole peculiar dos vários Institutos Religiosos» (LG 44), «índole que 
comporta um estilo particular de santificação e de apostolado ... « (MR 11). Mais 
recentemente, PI afirmava que: «Não existe uma maneira uniforme de observar 
os conselhos evangélicos, antes cada Instituto tem que estabelecer a sua própria 
maneira, levando em consideração a sua índole e finalidade próprias. E isto, não 
somente no que diz respeito à prática dos conselhos evangélicos, como também 
a tudo o concernente ao estilo de vida dos seus membros» (PI 16). Concluindo: 
«Não existe uma vida religiosa ‹em si›, à qual acrescentaria-se depois, como algo 
exterior, um fim específico e o carisma particular de cada Instituto» (PI 17). Por 
isso, VfC dirá que « é preciso cultivar a identidade carismática, para evitar uma 
crescente indiferenciação, que constitui um verdadeiro perigo para a vitalidade 
da comunidade religiosa” (VfC 46ª). Diversidade esta sobre a que insistiram, 
tanto o CDC 573-730, quanto o CIC 914-933.944-945 e, ultimamente, VC 5-12 e 
62. 
Como quer que seja, também não podemos negar a existência de 
aspectos que, de alguma maneira ou medida, se assemelham ou se aproximam. 
É isto que nos permite falar “da” VC em geral, apesar de tudo. fazendo uma 
comparação, eu diria que todas as caras possuem os mesmos elementos, apesar 
do qual, dificilmente confundimos uma pessoa com outra. 
No mais, devemos levar em consideração ainda que, quando falamos de 
VC estamos entendendo, seguindo o estilo atual nos documentos mais recentes: 
a VR mais os IS. 
Por último, para falar da “VC hoje”, o faremos considerando a situação 
geral, em nível de Igreja. Portanto, devemos ter presente que as situações 
variam do norte para o sul, de continente para continente, de país em país, e 
inclusive dentro do mesmo país, dependendo das várias regiões. Sem esquecer 
que varia também de Instituto a Instituto e, inclusive, dentro de um mesmo 
Instituto, segundo os lugares e as Províncias. 
25
1. SITUAçãO e TenDênCIAS DA VC ATUAl
Qual é a evolução numérica da VC atual? Quantos somos? Quê mudanças 
nos apontam as estatísticas oficiais das últimas décadas? Quais são as tendências 
que estes números manifestam? 
a) Segundo o lnstrumentum Laboris para o Sínodo dos Bispos de 1994, 
sobre a VC (IL 5e e 8b), os consagrados naquele momento eram: 
- de Direito Pontifício: 1.423 Congregações femininas e 250 
masculinas; 
- de Direito Diocesano: I.SS0 Congregações femininas e 242 
masculinas; 
- tanto de Direito Pontificio quanto Diocesano: 165 Institutos 
Seculares, 39 Sociedades de Vida Apostólica e um número 
crescente de virgens consagradas, viúvos e viúvas, ermitãos e 
ermitãs, e outros grupos ainda ... 
É interessante notar que, apesar do período de crise atravessado nas 
últimas décadas, a Santa Sé (sem falar dos Bispos, no nível diocesano), do Vaticano 
II até o início dos anos 90, aprovou mais de 200 novos Institutos! O Espírito Santo 
não tomou férias! 
falando em conjunto, somos um pouco mais de um milhão de pessoas, 
equivalente ao 0,12 % do total da Igreja Católica. Uma realidade eclesial muito 
pequena, porém muito dinâmica. Com efeito, se fôssemos julgar o número pela 
influência e a atividade realizada pelos consagrados, poderia parecer que somos 
muitíssimos mais. Portanto, ser católico significa, normalmente, ser «leigo», e 
somente de maneira excepcional, ser clérigo ou consagrado. 
Outro dado importante é que, dentro da VC, os 82,25 % são leigos e 
somente 17,8 % são sacerdotes ou diáconos. Ainda: uns 72,5 % são mulheres, e 
um 27,5 % homens. A VC atual, então, é maioritariamente laical e feminina. 
b) As tendências numéricas na VC são as seguintes (vamos nos referir 
também aos sacerdotes, diáconos e seminaristas, considerando a «proximidade» 
vocacional): 
- As vocações sacerdotais estão diminuindo globalmente; mas, 
dentro desta situação, diminuem mais os religiosos do que os 
diocesanos. 
26
- As ordenações sacerdotais, pelo contrário, estão aumentando. 
- Os falecimentos, tanto de diocesanos quanto de religiosos, estão 
aumentando. 
- Os abandonos, tanto de diocesanos quanto de religiosos, estão 
diminuindo. Os seminaristas maiores (diocesanos e religiosos) 
estão aumentando. 
- Os abandonos de seminaristas maiores (diocesanos e religiosos) 
estão aumentando. 
- Os seminaristas menores (diocesanos e religiosos) estão 
diminuindo, devido ao fechamento deste tipo de seminário em 
muitos países. 
- Os diáconos permanentes estão aumentando. Os religiosos irmãos 
estão diminuindo. 
- As religiosas estão diminuindo. 
- Os noviços e noviças estão aumentando. 
c) Destes dados (e de outros que poderíamos acrescentar), podemos tirar 
várias conseqüências que gostaria de indicar agora brevemente. 
A maioria dos sacerdotes e consagrados, globalmente, encontram-se 
ainda no mundo ocidental, particularmente na Europa. Um exemplo: há mais 
religiosas somente na Itália (120.000, apesar da crise), que em toda a América 
Latina (93.000). 
Porém, estão crescendo rapidamente as novas vocações fora do mundo 
ocidental e da Europa. Por isso, considerando as entradas e os falecimentos, 
percebemos uma tendência que indica que, num futuro não muito distante, a 
maior parte dos sacerdotes e consagrados estará no Terceiro Mundo, embora hoje 
em dia ainda não seja assim. 
A crise numérica atingiu e atinge, sobretudo e em certos aspectos 
unicamente, o chamado mundo ocidental. 
O momento mais forte da crise das últimas décadas, em nível de Igreja, já 
passou, podendo ser situado entre os anos 1975-1979. A partir desse momento, 
percebe-se uma diminuição dos abandonos e uma recuperação, embora 
hesitante, das entradas. Em todo caso, dá a impressão de que não voltaremos 
aos números do passado, e por outro lado os acréscimos são ainda parciais e 
27
variáveis, para podermos prognosticar claramente o futuro. É verdade que as 
novas vocações aumentam; mas, no conjunto, há um envelhecimento da VC, ou 
seja, que o número de falecimentos certamente crescerá. As novas vocações não 
conseguem recuperar o número de falecimentos e, ainda que tenham diminuído, 
o de abandonos. 
No Segundo Mundos ( os países ex-comunistas do Leste europeu) está 
se experimentando um certo renascimento religioso, depois de cinqüenta anos 
de perseguição religiosa e de congelamento político-econômico-social. Mas, 
a situação ainda não está clara, e as manifestações são muito incertas. Parece, 
com efeito, que domina a sede de consumismo, e que tendem a imitar os piores 
defeitos do mundo ocidental com que estão entrando em contato de maneira 
acelerada. 
Enquanto isso, no Terceiro e no Quarto Mundo, em geral (há exceções), 
está acontecendo um forte aumento vocacional, portador verdadeiramente de 
esperança. Mas, em muitos lugares fica aberto o problema de que são muitos 
os que entram, mas a desproporção como número dos que a longo prazo 
perseveram de fato, é muito grande. E coloca-se também a pergunta sobre se este 
aumento continuará ou não, em particular por causa da influência do secularismo 
ocidental, através dos meios de comunicação social. 
O mundo feminino, em feral, entrou em crise mais tarde do que o mundo 
masculino; todavia, parece ser que os efeitos negativos, em muitos lugares, 
são maiores. Uma razão disto encontra-se, provavelmente, no fato da pouca 
formação anterior em muitíssimas religiosas, o que fez que ficassem sem recursos 
culturais e humanos diante da crise cultural. A graça de Deus pode certamente 
fazer milagres; mas não podemos prescindir dos elementos humanos. A graça 
pressupõe a natureza, repetia Santo Tomás de Aquino. O fato de que nas últimas 
décadas tenha havido uma reação, intensificando a formação inicial, e criando a 
formação permanente, está sendo uma boa resposta ao desafio. 
Para prever de alguma maneira qual será a evolução numérica no futuro 
próximo, não basta considerar os números globais nas várias Congregações (por 
exemplo: éramos mil e agora somos oitocentos). O ponto de referência são os 
noviços, pois todos os consagrados passam pelo Noviciado. E este é o lugar onde 
para muitas Congregações (ou Províncias) os números despencaram mais ou 
menos em queda livre. Mais ainda, ultimamente nem sequer é suficiente olhar 
para os Noviciados, pois, como dizem os psicólogos, o amadurecimento de 
muitos indivíduos hoje em dia está demorando mais (não está passando, como 
pretendem os políticos, dos 21 para os 18 anos, mas dos 21 para os 25 ou os 30); 
diante disto, vemos nos dias de hoje que, enquanto em outros tempos o momento 
de crise e de decisão definitiva da pessoa era o Noviciado, atualmente chega mais 
tarde, até as vésperas ou inclusive depois da profissão perpétua ou da ordenação 
sacerdotal. Indivíduos que foram em frente com mais ou menos tranqüilidade até 
28
esse momento, de repente entram em crise, ou nunca acabam de decidir. De fato 
vemos que somente observa do quantos perseveram depois de um tempo de 
votos perpétuos, é que podemos ter certeza de quantos somos, na realidade. 
Digamos, antes de mais, que não é a primeira vez que a VC atravessa um 
período de crise, e também que esta não é a maior crise por ela vivida ao longo da 
sua história. Baste lembrar as perseguições locais de outros séculos, as epidemias, 
a Reforma protestante, a Revolução francesa e as guerras liberais desde o final 
do século XVIII até aos meados do século XIX, as perseguições do nosso século 
por parte de regimes totalitários: nazismo, fascismos e comunismos vários. A 
história, hoje como sempre é mestra de vida; temos que conhecer o passado para 
compreender o presente e preparar o futuro. Ignorar o passado é desconhecer-
se a si mesmo e se condenar a repetir os próprios eventuais erros. A criança e 
o adolescente vêem apenas o futuro; o ancião, somente o passado; a pessoa 
humanamente madura é aquela que possui e vive os três tempos (passado, 
presente e futuro) de maneira equilibrada. E a situação atual está pedindo de 
todos nós um suplemento de sabedoria e de maturidade humanas e cristãs, para 
poder servir melhor o homem e o Reino de Deus. 
a) Para termos a coragem de dizer alguma coisa a respeito do futuro, digamos, 
em primeiro lugar, algo sobre as etapas vividas pela VC nestas últimas décadas 
(sempre nas grandes linhas e considerada globalmente). 
Nos primeiros anos depois da celebração do concílio Vaticano II, aconteceu, 
antes de mais, uma crise da instituição, ou desinstituicionalização, uma rejeição 
quase instintiva e generalizada, por parte de muitos, do aparelho institucional da 
VC (como também da Igreja). Explodiu uma crise que estava latente já fazia muitos 
anos, por não dizer séculos; crise motivada fundamentalmente pela ausência de 
uma adaptação ajustada à cultura em que de fato se vivia. Atribuir simplesmente 
ao Vaticano II a crise posterior a ele, significa somente desconhecer, mais uma vez, 
a história. Em PC 2-6, os Padres, assistidos pelo Espírito Santo, afirmaram que era 
preciso: eliminar o que já fosse de tempos passados, adaptar o que ainda fosse 
válido, e introduzir novas estruturas. Tudo isto representou uma mexida federal, 
uma verdadeira “revolução cultural”, a qual, sem dúvida -como quase todas as 
revoluções- produziu entusiasmo, confusão, vítimas e melhorias. 
Este vazio de estruturas deixou a pessoa ao relento, sem aquelas bengalas, 
ao qual ela não estava habituada. Eram os últimos anos da década dos sessenta: 
os anos do Primeiro Capítulo Geral depois do Concílio. Deste naufrágio das 
estruturas emergia uma pessoa mais consciente da sua unicidade, dignidade e 
liberdade, porém atordoada e freqüentemente frágil. 
Tudo isto deu lugar a uma crise de identidade: o que significava ser 
religioso nas novas circunstâncias, valia a pena continuar em frente? O efeito foi 
29
extraordinário: desencadeou-se o estudo do próprio carisma e das fontes, da figura 
do fundador etc... Começou um esforço imenso e enormemente enriquecedor. 
A fragilidade do indivíduo fez com que ele se aproximasse, com uma 
visão nova, a seus irmãos de carisma: aconteceu uma grande ênfase da vida 
comunitária. Estamos entre os anos 1968 e 1973. Uma comunidade, em todo caso, 
diferente da anterior em muitos aspectos: uma comunidade menos estruturada, 
e mais comunhão carismática e lar humano. Conseqüentemente, adquiria um 
novo significado a oração em comum, a partilha dos sentimentos humanos e das 
experiências espirituais, desaparecendo, pelo contrário, quase completamente o 
silêncio, tão sagrado em outros tempos. 
Todavia, a comunidade religiosa percebeu que ela não existia sozinha, 
nem somente para si mesma, formando antes parte de uma comunhão mais 
ampla: a Igreja universal, encarnada na Igreja local. Os religiosos iam descobrindo 
os outros cristãos da paróquia, da diocese, do bairro, do prédio ... ; sentiam-se 
mais próximos das pessoas e menos uma casta separada. 
Ora, este «estar» dos consagrados no meio das pessoas, tinha uma razão 
de ser: a missão. Os carismas são dons do Espírito para a construção do Povo de 
Deus, minha vocação é um dom que Deus faz aos outros através de mim. Tudo 
isso levou a focalizar a missão, a reformulá-la. Nós somos para os outros, estamos 
em missão: fomos chamados para ser consagrados, para ser enviados. Estamos 
entre 1974 e 1980 (os anos da EN 1975, do MR 1978 e do RPh 1980). 
Contudo, realizar a missão estava se manifestando cada vez mais difícil. 
A sociedade não aceitava facilmente a missão dos consagrados; ela estava 
se secularizando depressa. Muitos consagrados sentiam-se impreparados, 
espiritualmente, culturalmente e, às vezes, até humanamente. Por isso, reforçou-
se mais ainda o interesse pela pessoa, intensificou-se a formação inicial e 
«inventou-se» algo que a sociedade já tinha descoberto fazia tempo: a formação 
permanente. 
No final dos anos 70 e no início dos 80, houve um retomo à instituição, 
se bem que renovada: uma nova institucionalização. Acabava o tempo das 
experiências, e chegava a hora de chegar a conclusões concretas. No nível de 
Igreja foi aprovado o novo CD (1983), e no nível de cada Congregação iam sendo 
aprovados os textos definitivos das novas Constituições. Acabava o pós-concílio e 
começava uma nova Época: o pós-posconcílio. 
Este interesse renovado pela pessoa, e esta “calmaria exterior” depois de 
tantos anos de buscas e discussões, fez com que nos anos 80 renascesse fortemente 
a preocupação pela espiritualidade. Na verdade, já no final dos anos 70 aconteceu 
um “boom” de interesse em relação à oração (agora pessoal, pois a coletiva já fora 
recuperada anteriormente); aparecia um grande interesse pela interioridade, pela 
dimensão contemplativa da VC (DCVR 1980), pela Cristologia, a Pneumatologia, 
30
a Mariologia (RMa1987) e o silêncio. Multiplicavam-se as experiências chamadas 
de “deserto” e cresciam como fungos as “casas de espiritualidade” ou de acolhida, 
etc. 
Existia o perigo de cair numa espécie de intimismo ou de pietismo, o 
privatismo. Um bom antídoto foi, ainda muito lentamente, ao longo dos anos 80, 
o interesse pelo tema da “Nova Evangelização”, que João Paulo II estava pregando 
desde 1983, com motivo da sua visita no haiti; a celebração dos 500 anos do 
início da evangelização das Américas; e o documento sobre a formação (PI), 
cuja preparação se alongava já por mais de vinte anos. Além disso, estávamos 
entrando num período de um certo cansaço: os temas repetiam-se, porém sem 
muito mordente. 
Na primeira metade dos anos 90, temos vivido mais ou menos intensamente 
algo que poderíamos chamar “o Sínodo e seus arredores”. Um período que foi 
dos [mais de 1991, quando o Papa anunciou o tema do Sínodo sobre a VC, até 
a primavera de 1996, com a publicação da Exortação Apostólica Pós-sinodal 
“Vita Consecrata”, e cujo momento central foi a celebração desta Assembléia, em 
Outubro de 1994. Um Sínodo que foi, no dizer do Cardeal Daneels de Bruxelas, o 
mais concorrido, o mais participado e o mais tranqüilo. Os consagrados demos 
uma grande prova de responsabilidade, apesar de que ele não foi sentido ou 
seguido com a mesma intensidade em todos os lugares. No mais, a Exortação não 
pretendia certamente, nem podia, ser perfeita ou satisfazer todo mundo; mas não 
se pode negar que é um bom documento, certamente o melhor sobre a VC do 
Vaticano II até hoje; um documento positivo, estimulante e aberto; não é a última 
palavra (nem poderia pretender sê-lo: basta ler as palavras do n. l3e, onde o Papa 
nos exorta a uma “adesão cordial” e a “continuar a reflexão”), mas é, sem dúvida, 
uma grande palavra. 
O risco consiste em que, considerando que nestes anos estamos sendo 
bombardeados por uma chuvarada incessante de documentos ec1esiais e 
congregacionais e que, por outro lado, muitos sofrem de uma espécie de 
alergia pela leitura, sendo levados pela “sociedade da imagem”, este documento 
possa ter caído no esquecimento, que não tenha sido meditado seriamente ou 
inc1usive que nem tenha sido lido. Dependerá muito dos formadores, diretores 
espirituais, pregadores, escritores, etc . ... , que seja transmitido às novas gerações 
de consagrados. 
b) Chegados neste ponto, o quê podemos dizer sobre o futuro da VC? Quê 
características aparecem na VC que está surgindo em volta de nós, e em nós mesmos? 
No mundo chamado ocidental, particularmente o mundo europeu, diante 
do secularismo, da busca frenética do hedonismo e da liberdade, e diante do 
envelhecimento dos consagrados e a escassez de vocações, estão aparecendo 
31
dois interesse: 1) em favor da dimensão contemplativa da VIC, e 2) da inserção 
no meio do povo. Muitos jovens demonstram muito pouco interesse pelas 
grandes obras e pelo eficientismo das gerações precedentes; gostam, pelo 
contrário, dos grupos pequenos, de ser sinal e testemunho, levedo na massa, da 
proximidade com as pessoas concretas, particularmente os pobres. Interesses 
mais do que justos, se evitarmos o perigo de cair no pietismo, no privatismo, e de 
simplesmente se encarnar para sumir dentro da massa. Existe também uma certa 
tendência ao aburguesamento, a uma vida espiritual fraca, e um certo número de 
personalidades frágeis (consagrados “light”). 
No mundo ex-comunista, os novos consagrados, que entraram depois do 
colapso da URSS, trouxeram consigo um testemunho de sofrimento, fidelidade 
e martírio que foi um exemplo para todos. Todavia, eles estão tendo que se 
atualizar rapidamente, depois de tanto tempo perdido, sem por isso perder os 
seus valores e sem imitar os defeitos do Ocidente. Um trabalho nada fácil. Creio 
que a grande solução é o diálogo; um diálogo que vai nos enriquecer, e que já 
está nos enriquecendo a todos. Todos temos que aprender de todos; ninguém 
tem “o” modelo válido para todos; determinados “messianismos, de uma parte 
ou de outra, estão se demonstrando sempre falsos. Sem esquecer que já está 
despontando a geração que não conheceu o comunismo, e que vem aí com uma 
mentalidade diferente. 
No Terceiro Mundo, os que vivem nas grandes cidades correm perigos 
muito semelhantes aos do mundo ocidental; os outros (e também muitos dos 
que moram nos centros urbanos) vivem uma realidade de grande inserção entre 
as pessoas e de verdadeira preocupação e serviço aos pobres. Mas em não poucos 
lugares é preciso cuidar bem a formação (saber “perder tempo” para se preparar 
cultural, humana e espiritualmente, pois em caso contrário, em pouco tempo 
pagam-se as conseqüências desta superficialidade!), e fortalecer as pessoas para 
ajudá-Ias a perseverar: não são poucos os que, depois de uns anos (ou menos até) 
de grande e sincera atividade apostólica, acabam largando tudo. 
c) Finalmente, para que futuro estamos nos encaminhando? Eu ousaria 
indicar alguns pontos, sem querer brincar de profeta. 
A VC está mudando. Globalmente, estamos diminuindo em número. Em 
alguns países de velha tradição (como os ocidentais, mas também em alguns 
lugares do Terceiro Mundo), constata-se um envelhecimento preocupante, que as 
novas vocações não conseguem equilibrar. Em outros países, sobretudo alguns 
do Terceiro Mundo, acontece, pelo contrário, um crescimento estupendo. A VC, 
portanto, está mudando de lugar e de cultura; e isto, futuramente, comportará 
outras mudanças nos níveis teológico e comportamental, quando for cada vez 
menor a influência dos antigos países originais do Instituto, e se proceda a uma 
inculturação radical. 
32
Em todo caso, o grande risco para a VC não é o número (que depende 
de Deus e de muitos imponderáveis históricos), mas a qualidade. Por outras 
palavras, o perigo (e não somente o perigo, às vezes!) da mediocridade, da falta de 
radicalismo evangélico, do aburguesamento, da ambigüidade, do individualismo, 
da incoerência, da superficialidade, da falta de preparo, etc. E este não é um 
problema somente dos jovens, mas de todos os consagrados, por mais idade 
que tenham. Não devemos esquecer que nós mesmos somos a melhor ou a pior 
propaganda vocacional. 
Alguns Institutos, ou em alguns lugares, será necessário aprender o que 
foi denominado a “ars moriendi carismatica”, ou seja, também, saber morrer, saber 
desaparecer. O problema não é morrer, mas perceber se chegou realmente a hora, 
ou seja, se o Instituto já realizou a missão que o Espírito lhe confiou. Depois disso, 
morrer é um sinal de confiança em Deus, de abandono à Sua vontade e de pobreza 
evangélica. No mais, a experiência histórica e a fé em Deus nos garantem -como 
repetidamente diz a Exortação Pós-sino dai (VC 3.29.63)- que a VC não faltará ao 
longo dos séculos, embora possam evoluir e desaparecer muitas das suas formas. 
As novas formas de VC e de vida evangélica em geral, que estão aparecendo 
continuamente na Igreja: o Espírito não esgotou a sua criatividade! (cf. VC 62). 
Prova disto é a contínua emergência de novos grupos e experiências em todos 
estes anos, inclusive naqueles países onde a VC «tradicional» se encontra mais ou 
menos em crise ou em fase de extinção. 
COnClUSãO
e se perguntássemos ao Cristo sobre o nosso futuro, o responderia? 
Tudo o que dissemos até agora nos conduz a ler a realidade atual da VC, 
não de maneira alarmista, e também não ingênua, mas providencialista. Antes de 
mais, temos que agradecer pelo seu crescimento e expansão em tantos lugares 
e, no que diz respeito à situação crítica em não poucos Institutos ou partes dos 
mesmos, atualmente, não devemos vê-Ia como efeito de uma espécie de castigo 
divino (como poderíamos dizer tal coisa, quando tem havido e há ainda tanta 
entrega e tanta fidelidade?), mas como a passagem contínua, embora talvez 
surpreendente e criativa, de Deus na história da humanidade.No mais, o futuro 
da VC não depende do número de consagrados nem do prestígio ou da eficácia 
humana das suas obras e instituições, dos cargos ocupados pelos consagrados na 
Igreja ou na sociedade, etc.; mas da sua atenção e acolhida, alegre e disponível, da 
voz do Espírito. Nunca devemos esquecer que o Espírito é a nossa força: 
Aquele que nos fez nascer na Igreja, para a Igreja e para o mundo; mas é 
Ele, também, quem nos faz entrar em crise, ou até decreta, se for preciso, a nossa 
morte, se nos tornarmos servos que não sabem explorar os dons recebidos no 
33
momento e da maneira devidos (cf. Mt 25,24-30; Lc 19,20-36). Poderíamos citar 
aqui uma famosa frase de Georges Bernanos: “O Evangelho é jovem, vocês é que 
são velhos!”. 
No mais, não devemos perder muito tempo em tentar adivinhar como 
será a VC do futuro, o tanto fatídico quanto banal século XXI. Temos, antes, que 
nos esforçar em vivê-Ia hoje com a maior fidelidade possível: esta é, certamente, 
a melhor preparação para o futuro que Deus quiser nos dar. Se perguntássemos 
ao Cristo, como vai ser o futuro, e quantos e como vão ser os nossos sucessores, 
quem sabe se não nos responderia talvez como a Pedro: “O que tu tens com isso? 
Tu, segue-me!” (Jo 21,22)?
34
35
MISTICA E PROfECIA UM ESTILO DE 
VIDA E “NOVOS AREÓPAGOS”
Ciro Garcia, OCD * 
“Que bom eu saber que a fonte emana e corre, 
ainda que seja noite” (São João da Cruz)
RESUMO: Mística e profecia constituem uma descoberta gozosa das fontes da salvação para a da 
vida consagrada. Elas são uma experiência baseada na fé, que se alimenta visceralmente de Deus. Os 
religiosos são chamados a recriar o carisma místico-profético na Igreja, através da experiência viva, 
concreta de Deus e sua Palavra, numa espiritualidade contemporânea, que assinala a urgência desse 
testemunho, sobretudo em novos areópagos que aparecem para e na vida consagrada. O inseparável 
binômio se torna testemunho porque importa no seguimento afirmativo de Jesus, o apaixonado por 
Deus e pela humanidade. A mística aponta para alguns areópagos concretos (vivencia pessoal da 
fé, escuta da Palavra, experiência de Deus), enquanto a profecia se faz em outro estilo ( desde de uma 
situação de exílio, capaz de criar comunhão, humanizar, descobrir a sabedoria dos pequenos sinais). E 
por consequência a VC se torna uma canção de almas enamoradas do Senhor.
PALAVRAS CHAVE: Mística. Profecia. Experiência de Deus. Escuta da Palavra. Consagração 
humanização. Areópago.
ABSTRACT: Mystic and prophecy, a non-separable binomial of the consecrated life (CL) constitute 
a joyful discovery of the sources of the salvation. They are an experience based on the faith, which 
viscerally itself of God. The religious ones are required to recreate the mystic-predictive charisma in 
the Church, through the alive experience, certain of God and his Word, in a contemporary spirituality, 
which designates the urgency of this certification, over all in new areopagus that appear for and in 
the consecrated life. The Non-separable binomial becomes a testimonial because it matters in the 
affirmative pursuit of Jesus, the passionate one for God and humanity. The mystic indicates to some 
sure aeropagus (personal existence of the faith, listening of the Word, God’s experience), while the 
prophecy is made in another style (ever since a exile situation, capable to create communion, in order 
to humanize, to discover the wisdom of small signals). The consequence is that the CL becomes a song 
of the Lord’s enamored souls.
KEYWORDS: Mystic. Prophecy. Experience of God. Listening of the Word. Consecration humanization. 
Areopagus.
Artigos
* Professor de Teologia Dogmática e Antropologia na faculdade de Teologia do Norte da Espanha,Sede de 
Burgos. Lecionou em Roma, Madrid, México, haifa e honduras.
36
InTRODUçãO
• “Que bom eu saber que a fonte que emana e corre...”
O maior dom, o presente mais precioso que o Senhor pode dar à vida 
consagrada e a cada religioso, é fazer-lhes provar (fazer gostar) essa fonte secreta 
de água viva -»coisa tão bonita que o céu e a terra bebem dela»-, beber e cantar 
seu rico caudal - «caudalosas correntes que regam infernos, céus e gentes» - e 
saciar a sede das criaturas - «as criaturas que aqui são chamadas e fartam desta 
água, embora no escuro». foi isto que aconteceu na vida de frei João da Cruz, 
místico, cantor e profeta, que se delicia ao conhecer os mistérios da fé (fonte), 
que irrompem na história como um torrente (Cristo) e inundam toda a vida (céu e 
terra). Esta irrupção é como a dos rios abertos no deserto anunciados pelo profeta 
(cf. Is 43,19), que fazem a reverdejar a terra e dão frutos abundantes (cf. Ez 47, 8-9).
Assim experimentou e cantou João da Cruz sua fé em Deus, enquanto 
esteve perseguido, marginalizado e preso no calabouço mais sombrio da prisão 
de Toledo (novembro de 1577- agosto de1578). Ali num lugar escuro e tenebroso, 
nasceu o poema da fonte, cheio de vida, de luz e de cor, que canta sua experiência 
de conhecer a Deus na fé, superando a hostilidade, a escuridão e até mesmo a 
morte.. Penso isto como uma parábola para a vida consagrada, enraizada nas 
fontes da salvação, como a fonte escondida, como manancial secreto, cujas 
águas torrenciais são chamadas a fecundar nossas planicies ressequidas e nossos 
desertos estéreis, fazendo germinar neles a vida, florescer as plantas e amadurecer 
os frutos para a vida do mundo. E isto, ainda que seja noite e trevas se adensen 
e asdificuldades se avolumem.
Não é outro não é o significado que inclui a experiência mística e profética 
da vida consagrada. É a descoberta gozosa das fontes da salvação, a descoberta 
do tesouro escondido, o encontro com Cristo e o anúncio profético do seu Reino. 
Mística e profecia são acima de tudo uma experiência que vamos tentar descrever 
não tanto teologicamente quanto existencialmente.
Neste sentido é que vamos abordar os novos areópagos da mística e da 
profecia: 
a) são uma experiência baseada na fé, alimentada pela Palavra, que 
descobre Deus em meio à vida e se sente a urgência de testemunhá-
la (areópago do mística);
b) são igualmente o anúncio a partir de uma situação de exílio (noite), 
que cria comunhão, que humaniza através de pequenos sinais e do 
serviço da caridade (areópago da profecia).
37
Tudo isso prorrompe num canto de louvor, que faz sua «as alegrias e 
esperanças» da família humana e profeticamente recria a vida consagrada.
• Chamados para ser profetas e místicos
Todos os nossos fundadores e co-fundadores eram místicos e profetas. 
Somos chamados a recriar seu carisma místico-profético na Igreja. Sem místicos e 
profetas a vida consagrada não tem futuro. Mística e profecia são duas vertentes 
essenciais de toda identidade religiosa, da vida cristã e da vida consagrada, 
estreitamente relacionadas. A primeira se projeta mais diretamente rumo à união 
com Deus; a segunda concentra-se mais imediatamente no cumprimento de sua 
vontade aqui e agora. Só uma sábia combinação de uma e outra pode forjar uma 
identidade religiosa genuína de Deus e o ser humano. Não há autêntica nística se 
não desemboca a um compromisso ético e profético; nem é concebível em uma 
profecia que não se alimenta num relacionamento profundo com o divino1.
Todo homen-toda mulher, todo consagrado-toda consagrada, estão 
chamados a ser místicos e profetas, ou seja, ter uma experiência de Deus e sua 
Palavra, que hão de transmitir; ambos também são chamados a comprometer-se 
com a história da Igreja e do seu tempo. O verdadeiro caminho, portanto, reside 
na conjugação destas duas identidades: não tanto ser místico “ou” ser um profeta, 
mas ser místico ”e” profeta.
Partindo pois deste pressuposto e da própria experiência pessoal: 
1) iremos desenvolver cada uma das duas identidades religiosas como duas 
identidades básicas

Outros materiais