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ASPECTOS ANTROPOLOGICO AULA 1 A 10

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1 
 
ASPECTOS ANTROPOLOGICOS E SOCIOLOGICOS DA EDUCAÇÃO 
AULA 1 - ANTROPOLOGIA E CULTURA 
Frequentemente ouvimos falar em Cultura. Em geral, utilizamos os termos 
Culto e Inculto quando nos referirmos ao nível de conhecimento formal 
das pessoas. Mas, o que é cultura? É correto comparar os indivíduos 
utilizando esse tipo de critério? Esse tema será abordado nesta aula. 
Vamos iniciar com a explicitação do que é a Antropologia. Em seguida, 
veremos que nem os antropólogos conseguem atingir um consenso 
quando se trata da definição de Cultura, pois há mais de 160 definições 
diferentes para esse termo. 
Vamos estudar também as definições de Homem, Raça, Etnia e Evolução 
Humana, conceitos considerados básicos para um bom entendimento da 
nossa disciplina. Por fim, analisaremos de que forma o mito, a religião e a 
ideologia podem se configurar como ferramentas educativas. 
A Antropologia, como um saber científico formulado pelo homem sobre o 
próprio homem, é algo recente, que remonta ao início do século XIX, na 
Europa. Em seus primórdios, preocupava-se com o “Outro”, mas a análise 
era feita sempre a partir dos valores e perspectivas europeus. 
Para explicar as diferenças entre as muitas sociedades e instituições, 
principalmente aquelas dos “povos exóticos”, a Antropologia desenvolveu 
uma metodologia própria baseada, inicialmente, em relatos e, 
posteriormente, em observação direta.Relatos de viajantes, missionários, 
militares, administradores coloniais etc.Observação direta feita por 
profissionais especializados em trabalhos de campo. 
Para começar a pensar antropologicamente, é necessário que você 
conheça a definição de Homem. 
Em uma definição geral, o Homem é um animal portador de cultura. Ele 
tem o domínio da linguagem e do fogo, usa ferramentas, institui a família, 
proíbe o incesto, inventa mitos, rituais, religiões e ciências. Ao contrário 
 
2 
dos outros animais, o ser humano elabora, compartilha e transmite 
cultura aos seus descendentes. Se os outros animais agem orientados 
pelos instintos, o animal humano ofusca os instintos através do 
desenvolvimento da cultura. 
Outra definição importante é a de Cultura. Apesar de praticarem e 
transmitirem a cultura, nem sempre os seres humanos se esforçaram por 
defini-la e analisá-la.A palavra tem origem no vocábulo latino colere e 
possuía denotação de cultivo das plantas, de cuidado com os animais e a 
terra, cuidado com as crianças e com sua educação, cuidado com os 
deuses, com os ancestrais e seus monumentos. Segundo Chauí (2004), 
cultura também podia significar cultivo do espírito, como a criação de 
obras de arte e a criação de obras da ciência e da filosofia. É esse sentido 
do termo que leva as pessoas a classificarem as outras como “cultas” e 
“incultas”, ao tomar como critério o acesso à educação formal, ao 
conhecimento científico e à familiaridade com as chamadas “belas artes”. 
De acordo com Lakatos e Marconi, “não há indivíduo humano desprovido 
de cultura exceto o recém-nascido e o homo ferus; um porque ainda não 
sofreu o processo de endoculturação, e o outro, porque foi privado do 
convívio humano” (1999: p. 131). Podemos inferir que a classificação 
mencionada acima é aceita em termos de senso comum, não tendo 
respaldo em nenhuma teoria científica que mereça credibilidade. 
De acordo com Tomazi (2000), o primeiro a criar uma definição de cultura 
foi Edward Tylor (Inglaterra 1832 – 1917), ao juntar na palavra inglesa 
culture os sentidos que, no final do século XVII e início do século XVIII, 
eram carregados pela palavra alemã kultur e pela palavra francesa 
civilization.Para esse autor, em seu livro Primitive Culture de 1871, 
“Cultura ... tomada em seu sentido etnográfico amplo é o todo complexo 
que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer 
outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da 
sociedade”. 
Definição de cultura, na concepção de Tylor, é aprendida e não 
transmitida geneticamente, esse aprendizado se dá por meio da 
comunicação e da linguagem. Fica explícita também a oposição entre 
 
3 
natureza e cultura, sendo a cultura considerada superior à primeira.A 
partir de então, Cultura tornou-se um conceito central na Antropologia e 
nas outras Ciências Sociais e, em decorrência disso, houve uma 
proliferação de definições. 
Num texto de 1952, intitulado Culture: a critical revew of concepts and 
definitions, A. L. Kroeber e C. Kluckhohn fizeram a análise de 160 
definições em inglês concebidas por antropólogos, sociólogos, psicólogos, 
psiquiatras e outros. 
EVOLUÇÃO 
No século XIX, o pensamento social foi muito influenciado pela Teoria da 
Evolução das Espécies de Charles Darwin. Vários foram os pensadores que 
viam nas sociedades um movimento semelhante ao observado nos 
organismos. Para esses estudiosos, a sociedade evoluiria, natural e 
necessariamente de um estágio primitivo, para um estágio avançado.O 
darwinismo social serviu, como justificativa para a intervenção europeia 
(colonialismo) em sociedades da África, Ásia, América e Oceania. 
Etnia X Raça (definição e limitações do termo para tratar a humanidade) 
Os conceitos de raça e etnia são importantes, segundo Dias, porque 
configuram agrupamentos humanos cuja identidade ocorre por suas 
características exteriores, sejam estas culturais ou ainda físicas ou 
hereditárias. 
Isto favorece a identificação entre os membros, que se reconhecem como 
pertencentes a determinado grupo, ao mesmo tempo em que os 
diferencia de outros grupos. 
 Segundo o Dicionário de Ciências Sociais, o termo Etnia é utilizado na 
literatura antropológica, para designar um grupo social que se 
diferencia de outros grupos por sua especificidade cultural. Esse 
conceito liga-se aos conceitos de grupo étnico e de cultura e, muitas 
vezes, é usado como sinônimo de grupo étnico. 
 
 
4 
 Para Dias, a principal diferença entre os grupos étnicos é de ordem 
cultural. O termo Raça era utilizado para explicar diferenças de cor da 
pele e classificar os seres humanos. 
 
 A Biologia, atualmente, reconhece a limitação do termo e admite que a 
classificação racial baseada no tipo físico é arbitrária. Características 
físicas como cor da pele, textura de cabelo, formato da cabeça e dos 
lábios não revelam diferenças relevantes a ponto de podermos dizer 
que, biologicamente, os seres humanos pertencem a raças diferentes. 
 
 Do ponto de vista sociológico, raça é “uma população em que os 
membros compartilham certas características físicas herdadas”. Essas 
características os identificam socialmente. Da mesma forma que 
ocorre com a definição biológica, a definição de determinada raça do 
ponto de vista social depende de um critério de escolha da sociedade. 
 
 Segundo Dias, não podemos afirmar que existe uma raça pura porque 
os seres humanos possuem uma origem comum e as diferenças visíveis 
são resultantes das adaptações ocorridas ao longo do tempo. 
 
Determinismo Biológico 
 
Existem doutrinas que afirmam que objetos e acontecimentos são e 
ocorrem de determinada maneira por serem regidos por leis ou forças 
que os fazem assim. Acredita-se que a possibilidade de escapar do 
determinismo é mínima ou nula. De acordo com Laraia (1993), o 
determinismo biológico é um tipo de teoria que atribui capacidades ou 
incapacidades específicas, dadas geneticamente a raças ou a outros 
grupos humanos. 
 
Determinismo Geográfico 
 
Esse conceito é relacionado ao aspecto geográfico, ou seja, o ambiente 
físico determina a cultura e, por isso, a diversidade cultural é dada pela 
diversidade geográfica. 
 
5 
Esse tipo de crença existe desdea Antiguidade, mas, como teoria, se 
desenvolveu principalmente no final do século XIX e no início do século 
XX e pregava que o clima era um fator importantíssimo na dinâmica do 
progresso. 
Para os antropólogos essas doutrinas nada têm de correto, pois pode-
se observar que uma das características da espécie humana é a 
capacidade de romper as suas próprias limitações. 
 
Etnocentrismo: definição e exemplos. 
 
Etnocentrismo é um fenômeno universal originado no fato de que o 
ser humano, ao enxergar o mundo através das lentes de sua Cultura, 
passa a considerar o seu modo de vida como o mais correto e mais 
natural. 
 
(Etnocentrismo – a crença de que a própria sociedade é o centro da 
humanidade, ou mesmo, a sua única expressão. ( Laraia .P.75) 
Cultua – A cultura , segundo Ruth Benedict citada por Roque Laraia , 
condiciona a visão de mundo do homem.) 
 
O Etnocentrismo pode ter efeito positivo ou negativo. 
 Efeito Positivo: Supervalorização da própria cultura. 
 Efeito Negativo: Criação e reprodução das xenofobias,dos 
preconceitos de classe etc. 
 
Relativismo Cultural 
 
Existe uma tendência em abandonar os juízos de valor no que diz 
respeito às diferentes culturas. 
Não existe, em termos de cultura, nem melhor nem pior, nem mais 
nem menos, nem superior nem inferior. Os padrões de beleza, de 
justiça, de moralidade etc., são relativos à cultura na qual os indivíduos 
estão inseridos. 
Existem diferenças no modo de pensar e de agir entre as diversas 
culturas que, segundo o relativismo cultural, devem ser respeitadas. 
 
6 
Porém, muitas vezes essa posição tem sido encarada como descaso, 
apatia, em relação ao outro. 
 
O topless, tratado como caso de polícia em Ipanema é amplamente 
praticado nas areias de Ibiza, na Espanha. Achamos no mínimo 
estranho o costume das mulheres da Birmânia de colocar anéis 
metálicos para alongar os seus pescoços, mas consideramos normal 
aplicar próteses de silicone para aumentar certas partes do corpo. 
 
Relação entre Cultura e Educação 
 
Cultura é uma produção exclusivamente humana. A partir daí 
percebemos que os mais velhos precisam transmitir a cultura para os 
membros mais novos, essa transmissão da cultura de uma geração à 
outra se dá pela educação. 
 
Por que é necessário transmitir cultura? 
 
 Todas as sociedades concebem um padrão de homem, por isso é 
preciso formar os novos membros de acordo com esses modelos, pois, 
abandonado à própria sorte, um bebê nunca se tornará, efetivamente, 
parte integrante do grupo. 
 
 Nem sempre a educação ocorre dentro de instituições sociais como a 
escola. Nem sempre os que ensinam são professores especializados 
em ensinar, formados em disciplinas específicas. Em sociedades tribais, 
por exemplo, todos ensinam e todos aprendem. 
 
 Os homens são seres com capacidade para elaborar, manipular e 
transmitir símbolos e é da necessidade (de ensinar e aprender) e do 
potencial (de elaborar, manipular e transmitir símbolos que surgem os 
mitos, as religiões e as ideologias. 
 
 
7 
Vamos conhecer agora os mitos, a religião e a ideologia como 
sistemas culturais e suas funções como ferramentas educativas desde 
as primeiras comunidades humanas. 
 
MITOS 
 
De acordo com Chauí (2004), o vocábulo tem sua origem na palavra 
grega mythos, derivada de dois verbos: mytheyo (contar, narrar, falar 
alguma coisa para outros) e mytheo ( conversar, contar, anunciar, 
nomear, designar). 
 
A autora, afirma que “mito é uma narrativa sobre a origem de alguma 
coisa” e qe os gregos recebiam a narrativa como verdadeira, pois 
confiavam naquele que narrava.O narrador, ou poeta rapsodo, 
desfrutava de credibilidade porque os ouvintes acreditavam que ele 
testemunhou ou recebeu o mito de quem o havia testemunhado. 
 
Frequentemente acreditavam na sacralidade da narrativa porque 
viam- na como uma revelação divina.Esse tom sagrado tornava o mito 
algo inquestionável. 
 
Segundo o Dicionário de Ciências Sociais (P.768), do ponto de vista 
antropológico, o mito é uma narrativa que se refere aos deuses e á 
natureza, e ao significado do universo e do homem. 
O mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe de três 
formas. 
1) Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres. 
2) Encontrando uma rivalidade ou aliança entre os seres que fazem 
surgir alguma coisa no mundo. 
3) Encontrando as recompensas ou castigos que os deuses dão a 
quem lhes obedece ou desobedece. 
 
Chauí afirma que o mito possui três funções: 
 
 
8 
1) Função Explicativa: Explica o presente por alguma ação passada 
cujos efeitos persistiram no tempo. Como exemplo, a autora cita 
a crença de que uma constelação existe porque no passado 
crianças fugitivas e famintas morreram na floresta e foram 
levadas ao céu por uma deusa que as transformou em estrelas. 
 
2) Função Organizativa: Organiza as relações sociais (de 
parentesco, de alianças, de poder, de sexo etc.), legitimando e 
garantindo a permanência de um sistema complexo de 
proibições e permissões. 
 
3) Função Compensatória:Narra uma situação passada que é a 
negação do presente e que pode servir para compensar os 
homens de alguma perda ou para assegurar que um erro do 
passado foi corrigido no presente, oferecendo uma visão 
estabilizada e regularizada da natureza e da vida comunitária. 
 
Segundo a autora, o mito tem caráter educativo porque, na 
narrativa, encontramos mensagens ou normas que acabam 
orientando os comportamentos necessários para a vida em 
grupo. 
 
 
De acordo com Meksenas (2000), há um mito muito difundido 
entre alguns índios do Brasil, no qual a origem da noite é 
atribuída à atitude de um grupo que, não obedecendo às 
tradições do seu povo, quebrou um coco proibido. Dali fugiu a 
noite, escurecendo toda a mata. Os deuses, sentindo piedade 
dos demais índios, devolveram-lhes a claridade do dia, mas com 
a condição de que agora seria sempre intercalada com um 
período noturno, para que todos se lembrassem do ocorrido. 
 
Não nos preocupando em saber se realmente a existência da 
noite pode ser explicada por esse mito ou pela ideia científica do 
movimento do globo terrestre, o que importa é saber que esse 
 
9 
mito acaba sendo educativo porque ele fixa uma norma social: 
os perigos que podem aparecer a um grupo quando não se 
respeitam certas tradições ou o cuidado que devemos ter com o 
desconhecido. (p. 21) 
 
Apesar da nossa sociedade valorizar o pensamento científico, 
não podemos dizer que os mitos ficaram no passado. 
 
De acordo com Chauí, o pensamento conceitual e o pensamento 
mítico podem coexistir na mesma sociedade. Para ela, A 
predominância de uma ou outra forma do pensamento 
depende, de um lado, das tendências pessoais e da história de 
vida dos indivíduos e, de outro, do modo como uma sociedade 
ou uma cultura recorrem mais à uma do que à outra forma para 
interpretar a realidade, intervir no mundo e explicar-se a si 
mesma. (2004, p. 164 
 
Religião 
 
Religião= religio + ligare 
 
A religião é um vínculo entre o mundo profano (a natureza) e o 
mundo sagrado, isto é, a natureza habitada por divindades ou 
um mundo separado da natureza (Chauí, p. 253). É importante 
destacar que a religiosidade é um fenômeno encontrado em 
todas as sociedades conhecidas até hoje. Muitas religiões já 
existiram e diversas continuam existindo. 
O antropólogo se interessa pelo papel da religião na sociedade, 
mas não é papel da antropologia fazer julgamentos de valor 
sobre o conteúdo das religiões. 
 
Se a maioria das instituições sociaistêm sua origem em 
necessidades materiais, a religião se dirige às indagações 
sobrenaturais do ser humano. Questões como ‘Qual a minha 
 
10 
missão nesse mundo?’ ‘De onde viemos?’ ‘O que ocorre depois 
da morte?’ são respondidas pelo discurso religioso. 
 
A religião tem função explicativa como o mito. Ela fornece 
explanações, por exemplo, de como surgiram o mundo, a 
natureza, os animais e os homens. 
 
Ela possibilita uma certa estabilidade social ao gerar paz de 
espírito e segurança aos indivíduos. Além disso, fornece normas 
que garantem a sobrevivência social. Acreditar em seres dotados 
de poderes sobrenaturais inspira respeito, temor e veneração, 
fazendo com que os indivíduos cumpram as regras. 
Ideologia 
 
Ideologia é um conjunto de convicções e conceitos (concretos e 
normativos) que pretende explicar fenômenos sociais complexos 
com o objetivo de orientar e simplificar as escolhas sócio-
políticas que se apresentam a indivíduos e grupos. 
 
D. Tracy foi o primeiro autor a fazer uso do termo no sentido de 
estudo das ideias, no final do século XVIII, sendo empregado da 
mesma forma por vários autores franceses posteriormente, no 
século XIX. Ainda no século XIX, a palavra ideologia adquiriu 
conotação pejorativa, significando ideias abstratas e 
enganadoras. 
 
Karl Marx e Friedrich Engels vincularam a palavra à ideia de falsa 
consciência, de ideia distorcida e enganadora, baseada em 
ilusões, contrapondo-se às teorias ou opiniões científicas. 
 
A ideologia tem estreita ligação com a educação, pois alguns 
autores de influência marxista percebem a escola como um local 
onde se reproduzem as falsas consciências com o objetivo de 
manter o status quo. 
 
 
11 
Revisão 
- A Antropologia, inicialmente baseia-se em relatos de viajantes, 
missionários, militares, administradores coloniais. Depois passou a utilizar 
a observação direta, em trabalhos de campo compreendidos por 
profissionais especializados. 
- A palavra Cultura tem origem no vocabulário latino colere e possui 
denotação de cultivo das plantas, de cuidados com os animais e a terra, 
cuidado com as crianças e com sua educação, cuidados com os deuses, 
com os ancestrais e seus monumentos. 
- O mito tem caráter educativo, pois encontramos mensagens ou normas 
que acabam orientando os comportamentos necessários para a vida em 
grupo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ASPECTOS ANTROPOLOGICOS E SOCIOLOGICOS DA EDUCAÇÃO 
AULA 2 – A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA SOCIAL 
 demonstrar que o pensamento científico é uma criação da 
sociedade ocidental; 
 identificar que a sociologia teve origem em fatos históricos como a 
revolução industrial inglesa e a revolução francesa; 
 caracterizar o pensamento de Auguste Comte e a sua Sociologia: 
Positivismo. 
 
 
 
12 
A ciência , como forma de conhecer, explicar e transformar o 
mundo é um fenômeno cultural. A nossa sociedade, como você 
deve perceber em seu dia a dia, estima o conhecimento científico 
porque este comprova os fatos de forma metódica e sistemática. 
Nesta aula, veremos desde quando e porque isso acontece.Vamos 
abordar , também, a Sociologia, ciência bastante nova quando 
comparada a outras.A Sociologia apareceu como ciência autônoma 
no século XIX e, certamente não surgiu a partir de mero capricho de 
pensadores que nada tinham a fazer.Vamos entender os motivos de 
seu surgimento e saber o que o chamado “Pai da Sociologia”, o 
intelectual Frances Auguste Comte tem a ver com o lema da nossa 
bandeira: Ordem e Progresso. 
 
O ser humano é um animal que produz mitos, religiões, ideologias, 
enfim, cultura. Na tentativa de entender as coisas ao nosso redor, 
produzimos uma vasta gama de conhecimentos como o filosófico, o 
religioso, o de senso comum etc. 
 
A sociedade ocidental produziu uma forma específica de explicar o 
mundo, chamada de ciência, ou seja, uma forma racional, objetiva, 
sistemática, metódica e refutável de formulação das leis que regem 
os fenômenos. 
 
Na sociedade ocidental, a ciência é a principal forma de construção 
da realidade, considerada por muitos críticos como um novo mito 
por pretender ser a única promotora e critério de verdade. 
 
A Sociologia é considerada uma ciência nova, pois foi criada no 
século XIX, na França, por um pensador chamado Auguste Comte 
(1798-1857). 
 
Algumas transformações políticas, econômicas, culturais e sociais 
ocorridas desde meados do século XV contribuíram muito para a 
criação dessa ciência. A primeira delas foi o Renascimento. 
 
13 
O Renascimento é o momento classificado por muitos estudiosos 
como a ruptura entre o mundo medieval e o mundo moderno 
urbano, burguês e comercial. 
 
De acordo com Costa, existiam diversas visões do Renascimento. 
 
1) Existem pensadores que avaliaram positivamente aquele 
momento, ressaltando que as mudanças propiciaram o 
desenvolvimento do comércio, da navegação e dos contatos 
com outros povos, bem como o crescimento urbano e o 
recrudescimento da produção artística e literária. 
 
2) Existem historiadores que perceberam aquela época como 
momento de grande turbulência social e política. As 
características marcantes do período foram a falta de unidade 
política e religiosa, os conflitos entre as nações que se 
formavam, as guerras intermináveis e as perseguições 
religiosas, na tentativa de conservar um mundo que agonizava. 
 
3) Havia, segundo Costa, um clima de fim de mundo visível nas 
obras artísticas da época, como na Divina Comédia de Dante 
Alighieri e no Juízo Final de Michelangelo. Para além dessas 
contradições, o fato é que, a partir de então, o homem 
ocidental passa a ter uma nova postura em relação à natureza e 
ao conhecimento. 
 
O fim do Teocentrismo e das explicações religiosas sobre os 
fatos possibilitou que aparecessem questões mais imediatistas 
e materiais, cujo foco principal era o homem. 
 
Ao abandonar as explicações sobrenaturais, os indivíduos 
passaram a utilizar a indagação racional e o método científico 
através da observação e experimentação. 
 
 
14 
Foi no século XVI que ocorreu o movimento de Reforma 
Protestante. 
 
De acordo com Quintaneiro, ao contestar a autoridade da Igreja 
como instância última na interpretação dos textos sagrados e 
na absolvição dos pecados, a Reforma colocou sobre o fiel essa 
responsabilidade e, instituindo o livre exame, fez da consciência 
individual o principal nexo com a divindade. 
 
Para Quintaneiro, “O espírito secular impregnou distintas 
esferas da atividade humana. Generalizou-se aos poucos a 
convicção de que o destino dos homens também depende de 
suas ações. Críticas à educação tradicional nas universidades 
católicas levaram à substituição do estudo da Teologia pelo da 
Matemática e da Química.” (2002, p. 13) 
 
No século XVII, surge o Racionalismo e fortalece a ideia de que 
o homem produz a história e não a Divina providência. Essa 
concepção fundamentava a ideia de que a sociedade podia ser 
compreendida porque, ao contrário da natureza, ela é obra dos 
próprios indivíduos. 
 
O pensamento filosófico desse século contribuiu para a 
popularização do pensamento científico. 
 
 Segundo Francis Bacon, a Teologia perdeu o posto de norteadora do 
pensamento. 
 A autoridade, que exatamente constituía um dos alicerces da 
teologia, deveria, em sua opinião, ceder lugar a uma dúvida 
metódica, a fim de possibilitar um conhecimento objetivo da 
realidade. 
 
 Os pensadores desse período defenderam, assim, o emprego 
sistemático da razão e do livre exame da realidade. 
 
 
15 
Outro movimentoque contribuiu para a criação da Sociologia foi o 
Iluminismo, que teve início no século XVIII entre os pensadores 
franceses e ideólogos da burguesia. 
 
O Iluminismo foi um movimento que buscava modificar a 
sociedade , além de transformar as antigas formas de 
conhecimento que se baseavam na tradição e na autoridade. 
Segundo Martins,” o objetivo dos iluministas , ao estudarem as 
instituições de sua época era demonstrar que elas eram irracionais 
e injustas, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e, 
nesse sentido, impediam a liberdade do homem. Concebiam o 
individuo como dotado de razão, possuindo uma perfeição inata e 
destinado à liberdade e á Igualdade social.Se as instituições 
existentes construíam um obstáculo à liberdade do individuo e à 
sua plena realização, elas, seguindo eles, deveriam ser 
eliminadas.” 
 
É em meio a esse cenário de efervescência intelectual, política e 
social que observamos dois eventos históricos importantes: a 
Revolução Industrial e a Revolução Francesa, também conhecidas 
como Revoluções Burguesas. 
 
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: É um fenômeno histórico ocorrido na 
Inglaterra, por volta do meado do século XVIII, que trouxe 
profundas alterações no mundo do trabalho, desagregou a 
sociedade feudal, ao reordenar a sociedade rural e abolir a servidão, 
e consolidou a civilização capitalista. 
É nesse momento que nasce o proletariado, isto é, a classe dos 
trabalhadores livres assalariados, e se exacerbam os problemas 
urbanos. 
 
REVOLUÇÃO FRANCESA: Pode ser vista como a luta política da 
burguesia contra as classes que dominavam o mundo feudal, ou 
seja, a monarquia absolutista e a Igreja Católica. 
 
16 
A burguesia, que já tinha o poder econômico, queria um Estado que 
assegurasse sua autonomia em relação à Igreja e que protegesse e 
incentivasse a empresa capitalista. 
 
No século XIX, os pensadores burgueses já não mais desejavam que 
as ideias revolucionárias iluministas continuassem animando o 
homem comum, pois, como a burguesia havia chegado ao poder, 
deveria lutar para mantê-lo. 
 
Apesar da industrialização e urbanização crescentes na França, a 
situação do proletariado era extremamente precária, pois os 
trabalhadores viviam na miséria e estavam sempre ameaçados pelo 
desemprego, o que acabou intensificando as crises econômicas e a 
luta de classes naquela sociedade. 
 
Aquele era o momento de abandonar os ideais iluministas e fundar 
uma nova ciência para “reorganizar” e “higienizar” a sociedade. 
 
Dito de outra forma, a Sociologia nasceu dos interesses burgueses 
em manter a ordem social e a estabilidade, ligando-se aos 
movimentos de reforma conservadora da sociedade. 
 
A preocupação passou a ser a de fazer com que os indivíduos 
aceitassem a ordem existente, deixando de lado a sua negação. 
 
Auguste Comte é considerado o pai da Sociologia, também 
conhecida como Física Social. 
 
De acordo com Tomazi, Comte rompeu logo cedo com a tradição de 
sua família monarquista e católica, transformando-se em um 
republicano com ideias liberais, desenvolveu atividades políticas e 
literárias que lhe permitiram elaborar uma proposta para solucionar 
os problemas da sociedade de sua época. 
 
 
17 
Vivendo no período imediatamente posterior à Revolução Francesa, 
preocupou-se em organizar a sociedade que, em sua opinião, estava 
caótica. 
 
Comte propôs uma reforma completa da sociedade, começando 
pela “reforma intelectual plena do homem”. Ao modificar a forma 
de pensar do homem, por consequência, as instituições se 
transformariam. 
 
O sociólogo, estudando os fenômenos sociais com o mesmo espírito 
que animava os astrônomos, os físicos, os químicos e os biólogos, 
deveria fornecer os resultados de suas pesquisas aos homens de 
Estado, para que esses evitassem ou atenuassem as crises sociais. 
 
Para firmar a Sociologia como ciência, Comte utilizou as ciências 
naturais como modelo, pois essas já tinham credibilidade no meio 
científico. 
 
No Brasil, o Positivismo de Comte exerceu forte influência entre os 
homens que proclamaram a nossa república. O lema da Bandeira 
Nacional, Ordem e Progresso, é a maior prova disso. 
Síntese da Aula 02 –A Sociologia como Ciência Social 
Nesta aula, você atentou para o fato de que a Ciência é uma criação da 
cultura ocidental. 
Deu-se conta de que o surgimento da Sociologia não foi um fato isolado, 
pois está atrelado a acontecimentos históricos importantes, como a 
Revolução Industrial e a Revolução Francesa. 
Conheceu o Positivismo de Auguste Comte. 
 
Revisão: 
1- Movimento que buscava modificar a sociedade e transformar as antigas 
formas de conhecimento. Iluminismo 
2- Revolução que marcou a luta política da burguesia contra as classes que 
dominavam o mundo feudal. Francesa 
3- Ruptura entre o mundo medieval e o mundo moderno urbano, burguês 
e comercial. Renascimento 
4- Principal forma de construção da realidade. Ciência 
 
18 
5- Revolução que gerou profundas alterações no mundo do trabalho, 
desagregou a sociedade feudal e consolidou a civilização capitalista. 
Industrial 
6- Exerceu forte influência entre os homens que proclamaram a nossa 
república. Positivismo 
- Sobre o pensamento científico, é correto afirmar que: É uma criação 
cultural relativa à sociedade ocidental como os mitos, as religiões, e as 
ideologias. 
- Podemos afirmar que a criação da Sociologia: É uma resposta 
intelectual a Revolução Industrial e Francesa, também conhecida 
com Revoluções burguesa. 
- Auguste Comte pretendia utilizar o Positivismo para: Sanar os 
problemas da sociedade francesa pós-revolucionária. 
- O fim do Teocentrismo possibilitou ao homem: Conhecer e explicar a 
natureza e a cultura sem recorrer ao conhecimento religioso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
ASPECTOS ANTROPOLOGICOS E SOCIOLOGICOS DA EDUCAÇÃO 
AULA 3 - ÉMILE DURKHEIM E O FUNCIONALISMO 
 caracterizar a concepção de ciência que orientou Émile Durkheim na 
sistematização da sociologia; 
 definir o conceito de fato social, identificando as suas características 
e como o sociólogo deve estudá-lo; 
 definir representações coletivas, consciência coletiva e 
solidariedade social. 
 
Nesta aula, vamos estudar a contribuição que Émile Durkheim deu para 
uma visão sociológica da educação. Durkheim, Max Weber e Karl Marx são 
chamados autores clássicos da Sociologia, porque forneceram as linhas 
mestras de explicação da realidade social que fundamentaram grande 
parte das obras elaboradas por autores posteriores. 
As explicações sobre os fenômenos sociais diferem segundo os autores. 
 Émile Durkheim, autor que mais produziu estudos sobre o tema da 
educação, propõe uma explicação funcionalista; já Weber opta por uma 
Sociologia compreensiva e Karl Marx vai em direção à dialética, conforme 
você verá nas próximas aulas. 
 
Émile Durkheim foi quem sistematizou a Sociologia. 
 1858 - Nasceu em 15 de abril em Épinal, França. 
 
 1879 - Entrou para a École Normale Supérieure, quando conheceu 
as obras de pensadores como Auguste Comte e Herbert Spencer, 
intelectuais que o influenciaram na busca por dotar a Sociologia de 
um caráter científico. 
 
 
20 
 1887 - Foi nomeado professor de Pedagogia e Ciência Social na 
Faculdade de Letras da Universidade de Bordeaux, onde ministrou o 
primeiro curso de Sociologia das universidades francesas. 
 
 1895 - Lançou As Regras do Método Sociológico. 
 
 1897 - Publicou O Suicídio. 
 
 1912 - Publicou As Formas Elementares da Vida Religiosa. 
 
 1913 - A cadeira de que era titularpassou a se chamar Cadeira de 
Sociologia da Sorbonne. 
 
 1915 - Em meio à Primeira Guerra Mundial, seu único filho morreu 
no front de Salonique. 
 
 1917 - Em 15 de novembro, muito abalado pela perda de seu filho, 
faleceu em Paris. 
 
A CONCEPÇÃO DE SOCIOLOGIA COMO CIENCIA POSITIVA 
O século XIX foi marcado por várias mudanças importantes. Uma delas é o 
fato de alguns pensadores, inclusive Émile Durkheim, terem se dedicado à 
fundação de uma nova ciência, cujo objetivo era dar conta das coisas da 
sociedade, abandonando a arte política e a simples especulação. 
Alguns dos autores que influenciaram Durkheim: Saint Simon, Auguste 
Comte,Herbert Spencer. 
Durkheim tratou de definir a Sociologia, seu objeto de estudo, seu método 
de trabalho e seus conceitos fundamentais. Transformou temas como o 
Direito, a Educação, a Religião, o Suicídio e a Moral em objetos de análise 
sociológica. 
Preocupado com os problemas de seu tempo e convicto de que a 
sociedade europeia passava por um período de anomia, Durkheim sentia a 
 
21 
necessidade de construir as novas formas sociais e, na sua concepção, a 
Sociologia tinha importante papel nesta tarefa, pois apenas ela estava 
habilitada a restaurar a noção de unidade orgânica da sociedade. 
Dessa forma, a preocupação com a moral e a manutenção da ordem social 
foi constante em seu pensamento, o que resultou em críticas, aceitas por 
uns e questionadas por outros, que o caracterizaram como um sociólogo 
conservador, avesso mesmo às mudanças, interessado em ensinar aos 
homens a obedecer à ordem vigente. 
Consciente de que a França atribuía um peso muito grande ao senso 
comum (consciência coletiva difusa), Durkheim procurou criar uma nova 
ciência elaborada na universidade. Muito preocupado com a objetividade, 
o autor advertia que, a exemplo de cientistas de áreas como a Biologia e a 
Química, o sociólogo não devia fazer concessões às opiniões baseadas no 
senso comum. 
A nova ciência positiva: a Sociologia 
Durkheim tinha como objetivo criar uma ciência positiva, autônoma 
(sobretudo em relação à Biologia e à Psicologia) e diferente das outras. 
Para tanto, esforçou-se em definir as suas bases, seu objeto de estudo e 
seu método, mas teve que recorrer ao exemplo de outras ciências já 
formadas, como a Biologia, a Química e a Física. 
Para Durkheim o fator dominante do pensamento cientifico é a sensação 
de que existem leis naturais regendo os fenômenos , sejam eles físicos , 
químicos , biológicos, psicológicos ou sociais. 
Todavia, esta noção demorou a ser bem elaborada nas ciências ditas 
naturais ( Fisica,Quimica, Biologia) e, em virtude disto, só pôde aparecer 
tardiamente no âmbio dos fatos sociais. 
É apenas na obras de Saint-Simon e, em seguida, nas de Auguste Comte, 
que a concepção de que a sociedade é regida por leis naturais começa a 
influenciar o pensamento socila de forma mais efetiva. Assim , a sociedade 
deixou de ser encarada como um artifício humano. Não era, como 
 
22 
queriam crer Platão, Hobbes, Rousseau e outros, um instrumento 
inventado e instituído pelos indivíduos. 
Para provar que as sociedades estão submetidas a leis necessárias, 
devemos procurar estas leis. Para Durkheim, é tarefa da Sociologia, ao 
descobrir as leis da realidade social, dirigir de modo mais refletido a 
evolução histórica, pois não se pode transformar a natureza, seja ela 
natural ou física, senão de acordo com as suas próprias leis. 
O objetivo do sociólogo, em sua opinião, consiste em estudar as 
sociedades para conhecê-la e correspondê-las, como fazem os químicos, 
físicos e biólogos. Em a Divisão do Trabalho Social Durkheim afirma que o 
trabalho do sociólogo deve ser diferente das tarefas do homem de Estado 
, isto é , o sociólogo produz o conhecimento sobre a realidade social e o 
homem de Estado, a partir desse conhecimento , elabora e aplica 
reformas á sociedade. 
O método de estudo sugerido por Durkheim possui três características: 
independe de qualquer filosofia, é objetivo e deve ser exclusivamente 
sociológico. 
Objeto de estudo da Sociologia: os Fatos sociais 
Em As Regras do Método Sociológico, Durkheim afirma que o objeto de 
estudo da Sociologia é o fato social. 
Veja as três características que tornam os fatos sociais realmente sociais. 
1) Exterioridade: os fatos sociais agem sobre os indivíduos 
independentemente de suas vontades particulares. São 
maneiras de pensar, de agir e sentir que existem fora das 
consciências individuais. 
 
Antes de nascermos, as regras morais, os costumes e as leis já 
existiam e, a despeito de nossas vontades, continuarão 
existindo. Por exemplo, um devoto, ao nascer, já encontra 
prontas as crenças e as práticas da vida religiosa. Da mesma 
forma, o sistema de moedas que utilizamos para fazer as 
transações comerciais e as práticas seguidas nas diferentes 
 
23 
profissões funcionam independentemente do uso que cada 
indivíduo faz delas. 
 
Durkheim ressalta que, embora a exterioridade seja condição 
necessária, não é condição suficiente para transformar os 
fenômenos em fatos sociais. 
 
2) Coercitividade: para que o fato seja considerado social, deve 
também exercer algum poder de coerção sobre os indivíduos. 
Nem sempre a coercitividade é sentida quando me conformo 
com ela, mas se tento resistir, sinto seu peso. Em outras 
palavras, quando eu infrinjo uma regra, sofro algum tipo de 
punição. O grau de coerção do fenômeno torna-se evidente 
pelas sanções a que o indivíduo é submetido ao ir contra o fato 
social. As sanções podem ser de dois tipos: legais ou 
espontâneas. 
 
As sanções legais ocorrem quando, ao “violar as leis do direito, 
estas reagem contra mim de maneira a impedir meu ato se ainda 
é tempo; com o fim de anulá-lo e restabelecê-lo em sua forma 
normal se já se realizou e é reparável; ou então que eu o expie se 
não há outra possibilidade de reparação” (As Regras do Método 
Sociológico, p. 2). As sanções espontâneas, por outro lado, 
ocorrem quando deixo de seguir as convenções “mundanas”. 
A educação possui um papel relevante na conformação do 
indivíduo à sociedade em que vive, fazendo com que, depois de 
algum tempo, as regras se internalizem e se transformem em 
hábitos. 
 
3) Generalidade: todo fato social é geral, mas, não podemos dizer 
que todo fato geral é social. Para ser assim considerado, ele 
precisa ser coletivo (isto é, mais ou menos obrigatório). Daí 
decorre que este tipo de fenômeno deve ser estudado apenas 
em suas manifestações coletivas, como as crenças, as tendências 
e as práticas do grupo tomadas coletivamente, pois a sociedade 
 
24 
não é o mero agregado dos comportamentos individuais. As 
tendências da moda e o idioma servem aqui como bons 
exemplos. 
 
Regras para o estudo dos fatos sociais 
 
Depois de definir e caracterizar os fatos sociais, Durkheim se 
dedica a elaborar os principais passos, o método para o seu 
estudo. 
 
1° passo: Diz respeito às regras relativas à observação dos fatos 
sociais. O principal e mais importante passo é encarar o fato 
social como coisa. Assim, surgem dois corolários. 
 
2° passo: Diz respeito às regras relativas à distinção entre o 
normal e o patológico. Para Durkheim, é muito importante saber 
o que é normal e o que é patológico em uma sociedade. Para 
classificarmos um fato devemos nos basear em uma espécie, um 
tipo social determinado, em uma fase determinada de seu 
desenvolvimento. As condições de saúde e de doença não 
podem ser definidas de forma abstrata e nem de maneira 
absoluta. 
 
O primeiro corolário consiste em afastar todas as noções prévias 
paraestudar o fato social, pois os valores e sentimentos pessoais 
nada têm de científicos e possibilitam a distorção dos 
fenômenos. Dito de outra forma, os preconceitos, simpatias e 
caprichos do pesquisador devem ser afastados de suas análises. 
 
O segundo corolário consiste em definir os fatos que serão 
estudados. Logo no início da pesquisa devemos considerar os 
caracteres mais exteriores do grupo de fenômenos, pois, por 
serem mais imediatamente perceptíveis, são estes que nos 
levarão aos menos visíveis e profundos, porém, mais 
 
25 
explicativos. Isto pretende fornecer ao método sociológico o seu 
caráter objetivo. 
 
Na concepção de Durkheim, o que podemos chamar de normal e 
de patológico? 
 
No início do terceiro capítulo de As Regras do Método 
Sociológico, Durkheim afirma que os fenômenos normais são “os 
que são como deviam ser”, e os patológicos são aqueles que 
“deveriam ser diferentes do que são”. 
 
Dito de outra forma, normal é tudo o que é comum a todos ou 
quase todos. Em contrapartida, o patológico é tudo ou quase 
tudo que se apresenta de forma excepcional. 
 
 
Durkheim alerta para o fato de o sociólogo se expor a erros 
quando não toma as devidas precauções metodológicas quanto 
à distinção entre normal e patológico. Uma falha desse tipo seria 
classificar o crime como algo patológico. 
 
É necessário, entender que o autor concebe crime como “um ato 
que ofende certos sentimentos coletivos dotados de energia e 
de nitidez particulares” (1972: p. 58), não se restringindo ao 
sentido jurídico. 
 
 
Se, à primeira vista, o crime parece patológico, após uma análise 
meticulosa pode-se afirmar que o crime é normal e isso se deve a dois 
motivos. Em primeiro lugar, porque é universal, isto é, acontece em todas 
as espécies sociais e em todos os estágios de desenvolvimento. Em 
segundo lugar, porque reforça sentimentos contrários, de repulsa ao 
agressor e aos fatores que o motivaram a cometer o crime. 
 
26 
Há ainda um outro aspecto muito importante: em alguns casos, o 
criminoso é visto como agente de mudança e a ausência do crime tornaria 
a sociedade estática. Isso permitiu ao autor concluir que, além de normal, 
o crime é necessário e tem a sua utilidade. 
Consciência coletiva e representações coletivas 
Em A Divisão do Trabalho Social, Durkheim afirma que enquanto seres 
socializados possuímos, simultaneamente, uma consciência individual e 
uma consciência coletiva. 
A consciência coletiva é o nível mais profundo da realidade social. É a 
soma de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de certa 
comunidade, constituindo um determinado sistema que possui vida 
própria, persiste no tempo e une as gerações. É, em outras palavras, o 
sistema de Representações coletivas presente em determinada sociedade. 
Para Durkheim, não são os indivíduos que geram a consciência coletiva, ao 
contrário, é a consciência coletiva que molda as consciências individuais. A 
força que a consciência coletiva exerce sobre os indivíduos varia com o 
tipo de sociedade dependendo do seu estágio de evolução. 
Solidariedade Social 
Em sua tese de doutorado A Divisão do Trabalho Social, Durkheim propõe-
se a investigar a função da Divisão do Trabalho. 
O autor se preocupou em analisar, à luz da Morfologia Social, a evolução 
das sociedades e a coesão social que dela resulta, que o fez concluir que 
as sociedades caminham, natural e necessariamente, do estado mecânico 
em direção ao estado orgânico, apresentando uma solidariedade 
característica para cada um desses estágios. 
Sociedades Mecânicas: São aquelas de tipo pré-capitalista, muito 
“simples”, dotadas de forte consciência coletiva, onde a divisão do 
trabalho se baseia principalmente nos critérios de sexo e idade. 
Nesse tipo de sociedade, a identificação entre os indivíduos se dá por 
meio da família, da religião, da tradição e dos costumes. A autoridade 
coletiva é absoluta e a consciência coletiva é tão forte que se sobrepõe à 
 
27 
consciência individual. A solidariedade social de tipo mecânica é gerada 
pelas semelhanças entre os indivíduos que, partilhando os mesmos 
sentimentos e valores, diferem pouco entre si. 
Sociedades Orgânicas: São mais extensas, mais complexas. Por possuírem 
estruturas econômicas avançadas, exigiam uma divisão do trabalho não 
mais baseada em sexo e idade, mas, na diversidade de funções que torna 
os indivíduos interdependentes. 
Se nas sociedades mecânicas a consciência coletiva gerava uma irresistível 
coesão social, nas sociedades orgânicas a divisão do trabalho social tem 
por função criar a solidariedade social, pois a complexidade da vida e a 
ausência de semelhanças acabam por aproximar as pessoas, fazendo com 
que se completem. 
Em sociedades com forte divisão do trabalho, as relações sociais se 
baseiam na especialização de tarefas. Assim, a educação tem caráter 
duplo, pois, ensina aos novos membros valores, crenças e conhecimentos 
que devem ser gerais à massa da sociedade e, por outro lado, fornece 
conhecimentos específicos da área profissional em que a pessoa deverá 
atuar. 
 Para lembrar: 
 ÈMILE DURKHEIM :Dedicou-se à fundação de uma nova ciência, 
cujo objetivo era dar conta das coisas da sociedade, abandonando a 
arte política e a simples especulação. 
 COROLÁRIO: É a consequência direta de uma proposição 
demonstrada. 
 FATO SOCIAL: Segundo Durkheim é o objeto de estudo da 
Sociologia. 
 SOCIOLOGIA : Estava habilitada a restaurar a noção de unidade 
orgânica da sociedade. 
 ANOMIA : Ausência de regras morais claramente estabelecidas. 
De acordo com Émile Durkheim, o sociólogo, ao estudar a realidade social, 
deve sempre: manter uma postura neutra em relação ao seu objetivo de 
estudo. 
 
28 
Para Émile Durkheim, o indivíduo isolado: tem pouco poder para 
transformar a sociedade. 
O fato social deve possuir três características. São elas: exterioridade; 
coercitividade e generalidade. 
A solidariedade social típica das sociedades capitalistas, com forte divisão 
do trabalho, como as sociedades industriais, é: solidariedade orgânica. 
 
Síntese da Aula 03 – Émile Durkheim e o Funcionalismo 
Nesta aula você conheceu a biografia de Émile Durkheim. 
Atentou para a concepção de Sociologia de Émile Durkheim. 
Deu-se conta de que, para Durkheim, a Sociologia é a ciência que estuda 
os fatos sociais e que o sociólogo deve ter cuidados e critérios 
metodológicos para estudá-los. 
Estudou as definições de representações coletivas, consciência 
coletiva e solidariedade social 
 
 
ASPECTOS ANTROPOLOGICOS E SOCIOLOGICOS DA EDUCAÇÃO 
AULA 4 – ÉMILE DURKHEIM: EDUCAÇÃO E SOCIOLOGIA 
 descrever a concepção de educação elaborada por Émile Durkheim; 
 demonstrar porque o autor percebe a educação como instrumento 
de socialização; 
 discutir a ideia de que a educação deve servir para conformar o 
indivíduo a determinado meio moral. 
 
Nesta aula, você vai entender a concepção de educação formulada 
por Durkheim e saber o que o levou a estudar a educação como um 
fato social, talvez o principal deles 
 
A Educação 
 
Nas concepção de Durkheim, a educação tem um papel 
fundamental na preparação do indivíduo para a vida em 
sociedade. Por esse motivo, ele se dedicou a estudar a educação 
como um fato social. 
 
29 
 
Em Educação e Sociologia, Durkheim se propõe a fazer um exame 
critico das definições de educação formuladas por diferentes e 
importantes pensadores dos fenômenos sociais.Assim, ao analisar 
as concepções de John Stuart Mill, Immanuel Kant e Janes Mill, o 
autor conclui que não existe uma educação ideal , pois se 
observamosa história , a educação varia com o tempo e com as 
regiões. 
 
De acordo com Émile Durkheim, “os sistemas educativos são o 
conjunto de práticas e instituições que se organizaram lentamente 
ao longo do tempo, que são solidárias com todas as outras 
instituições sociais e que as exprimem, que, por consequência, não 
podem ser mudadas mais facilmente do que a própria estrutura da 
sociedade”. (p. 46). 
 
Movido pela sua convicção de que as sociedades evoluem e devem 
ser estudadas em determinado estágio de seu desenvolvimento, 
Durkheim utiliza como método de estudo a observação histórica 
para mostrar que os sistemas de educação têm poder coercitivo, 
pois, em cada momento há um tipo regulador de educação do qual 
os indivíduos não podem escapar sem resistências e que restringem 
os anseios daqueles que são discordantes. 
 
É inútil pensarmos que podemos criar os nossos filhos como 
queremos. Há costumes com os quais temos de nos conformar; se 
os infringimos, eles vingam-se de nossos filhos. Estes, uma vez 
adultos, não se encontrarão em condições de viver no meio de seus 
contemporâneos, com os quais não estão em harmonia. Quer 
tenham sido criados com ideias muito arcaicas ou prematuras, não 
importa; tanto num caso como noutro, não são do seu tempo e, por 
conseguinte, não estão em condições de vida normal. Há pois, em 
cada momento do tempo, um tipo regulador de educação de que 
não nos podemos desligar sem chocar com as vivas resistências que 
reprimem as veleidades das dissidências”. (p. 47) 
 
30 
 
1) Além de exercer coerção sobre os indivíduos, a educação 
também não é uma criação individual, pois os costumes e as 
ideias que determinam o tipo de educação reguladora, são 
produzidos pela coletividade e manifestam as suas 
necessidades. 
 
2) Quando nascemos, a maior parte de seu conteúdo já está 
pronto, é fruto das gerações passadas. Segundo Durkheim, a 
partir de uma perspectiva histórica, pode-se perceber que a 
formação e o desenvolvimento dos sistemas de educação 
dependem da religião, da organização política, do grau de 
desenvolvimento das ciências, do estado da indústria etc. Só à 
luz das causas históricas eles se tornam compreensíveis. 
 
3) Ao definir mais precisamente a educação, Durkheim conclui que 
há algumas condições para que ela realmente exista, ou seja, é 
necessário que haja uma geração de adultos, uma geração de 
jovens e, que a primeira exerça uma ação sobre a segunda. 
 
O sistema educativo, em qualquer sociedade, possui duplo 
aspecto, ou seja, é, simultaneamente: 
 
Uno : Porque se configura como a base comum. É composto pelos 
sentimentos, valores, ideias, práticas, que devem ser inculcados em 
todas as crianças, sem distinção, seja qual for a categoria social à 
qual pertençam. É, resumidamente, o que há de comum a todos. 
 
Múltiplos: Depende dos meios, das classes sociais, das profissões. 
 
Segundo Durkheim, cada sociedade formula determinado ideal de 
ser humano, ou seja, é a sociedade que determina o que esperar do 
indivíduo, seja do ponto de vista intelectual, físico ou moral. Em 
outras palavras, seremos aquilo que a sociedade espera que 
sejamos. 
 
31 
 
Assim, se até certo ponto esse ideal é o mesmo para todos os 
cidadãos, há um momento em que os indivíduos devem se 
diferenciar, segundo os meios sociais particulares em que estão 
inseridos. 
 
Para o autor, a parte básica da educação é constituída por esse 
ideal, ao mesmo tempo, uno e diverso, que tem por função suscitar 
na criança: 
 
1) um certo número de estados físicos e mentais, que a sociedade à 
qual pertence considere indispensáveis a todos os seus 
membros; 
 
2) certos estados físicos e mentais, que o grupo social particular 
(casta, classe, família, profissão) considere indispensáveis a 
todos os que o formam. 
 
 
É a sociedade, em seu conjunto, e cada meio social, em particular, 
que determinam o ideal a ser realizado. 
 
Durkheim ressalta que a homogeneidade é importante, pois é a 
base onde os sistemas de educação específicos se fundamentarão. 
A educação a perpetua e reforça, fixando na criança certas 
similitudes essenciais, exigidas pela vida coletiva. 
 
É a heterogeneidade que torna a cooperação possível. A educação 
assegura a persistência dessa diversidade necessária, o que permite 
especializações. 
 
Se a sociedade chegou a um grau de desenvolvimento em que as 
antigas divisões em castas e em classes não podem mais manter-se, 
prescreverá uma educação mais una em sua base. Se, no mesmo 
momento, o trabalho está mais diversificado, provocará nas 
 
32 
crianças, sobre um primeiro fundo de ideias e de sentimentos 
comuns, uma mais rica diversidade de aptidões profissionais. Se 
vive em estado de guerra com as sociedades envolventes, esforça-
se por formar os espíritos com base num modelo fortemente 
nacionalista; se a concorrência internacional toma uma forma mais 
pacífica, o tipo de educação que procurará realizar é mais geral e 
mais humano”. (2001, p. 52) 
 
É necessário observar alguns temas importantes na teoria do 
autor, que foi fortemente influenciado pelo darwinismo social e, 
por isso, estava totalmente convencido de que, como os 
organismos, as sociedades também evoluíam. Segundo ele, as 
sociedades passariam do estágio mecânico para o estágio orgânico. 
 
Sociedades Mecânicas: As sociedades mecânicas eram sociedades 
simples, nas quais a divisão do trabalho ocorria através dos 
critérios de sexo e idade e, onde os indivíduos praticamente não 
se diferenciavam, compartilhando as mesmas crenças e regras 
morais, ligados por laços de parentescos. Contudo, na evolução, as 
sociedades foram se tornando mais complexas. 
 
Sociedades Orgânicas: O aumento no nível de desenvolvimento deu 
origem à exigência de maior especialização do trabalho. Os 
indivíduos deixaram de se identificar por meio da religião, das 
regras morais e dos costumes. Nas sociedades orgânicas o que 
aproxima os homens é a interdependência gerada pela 
especialização de funções. É a divisão do trabalho social que gera a 
coesão, a solidariedade social. 
 
Em sociedades com forte divisão do trabalho as relações sociais se 
baseiam na especialização de tarefas. Assim, a educação tem 
caráter duplo, pois, ensina aos novos membros valores, crenças e 
conhecimentos que devem ser gerais à massa da sociedade e, 
também, fornece conhecimentos específicos da área profissional 
em que a pessoa deverá atuar. Saiba mais. 
 
33 
 
A formação que um futuro médico recebe é diferente daquela 
recebida pelo futuro engenheiro, que difere também da dispensada 
ao futuro advogado. Não podemos hoje, em nossa sociedade, 
conceber que só se formem ou engenheiros, ou advogados ou 
médicos. Advogados precisam dos serviços dos engenheiros, que 
precisam dos cuidados dos médicos e, assim por diante. 
 
É isso que garante a nossa coesão social: a especialização em uma 
área e o fato de ser leigo nas outras faz com que os profissionais de 
um campo dependam de outros profissionais. 
 
Durkheim utiliza o exemplo da paixão que ocorre entre o homem e 
a mulher que, por serem diferentes, se complementam, formando 
um todo. 
 
Definição de educação concebida por Durkheim 
 
“ A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre 
aquelas que ainda não estão maduras para a vida social. Tem por 
objeto suscitar e desenvolver na criança um certo numero de 
estados físicos intelectuais e morais que lhe exigem a sociedade 
política no seu conjunto e o meio especial ao qual está 
particularmente destinada”. 
 
 Dessa definiçãopodemos assumir que a educação é a socialização 
metódica das novas gerações. Cada membro da sociedade possui 
em si dois seres: 
 
 o ser individual, que se constitui dos estados mentais que dizem 
respeito apenas ao próprio indivíduo e à sua vida pessoal; 
 
 o ser coletivo, ou seja, o sistema de ideias, sentimentos, hábitos, 
que exprimem em cada indivíduo o grupo ou os grupos diferentes 
 
34 
dos quais ele faz parte (crenças religiosas, crenças e práticas morais, 
tradições nacionais e profissionais, opiniões coletivas etc.). 
 
O objetivo da educação é constituir o ser coletivo em cada um de 
nós, pois o ser social não nasce com o homem, não se apresenta na 
constituição humana primitiva, como também não resulta de 
nenhum desenvolvimento espontâneo. 
 
Ao contrário, foi a sociedade, na medida em que se formou e se 
consolidou, que tirou de dentro de si essas grandes forças morais, 
diante das quais o indivíduo isolado sente a sua fraqueza e 
inferioridade. 
 
A educação deve criar no homem um ser novo: o ser social. 
 
Os indivíduos agem de acordo com as necessidades sociais e a 
sociedade impõe aos homens uma tirania muito forte. Mas, 
segundo Durkheim, os próprios homens desejam que isso ocorra 
porque o ser novo, que a ação coletiva cria em cada um de nós por 
intermédio da educação, representa o que há de melhor no 
homem, o que há de propriamente humano em nós. 
 
Na verdade, o homem só é homem porque vive em sociedade. 
Para comprovar essa afirmação, Durkheim mostra o 
desenvolvimento da moral, o desenvolvimento intelectual e o 
desenvolvimento da linguagem, coisas que só podem acontecer na 
vida em sociedade. 
 
O Estado é a instituição social mais importante que tem influência 
sobre a educação, tendo mais peso que a família, segundo 
Durkheim. Não poderia ser de outra forma, dado o caráter 
coercitivo atribuído pelo autor à educação. 
 
A importância do Estado cresce à medida que assume uma função 
coletiva e busca a educação da criança na sociedade em que vive. 
 
35 
Caberia a esse órgão esclarecer os princípios essenciais, fazer com 
que sejam ensinados nas escolas, cuidar para que as crianças não os 
ignorem e os respeitem. 
 
Durkheim era taxativo e afirmava que tudo que é educação deve 
estar em certa medida submetido à ação do Estado. 
 
Durkheim percebia a ausência de unidade moral em sua sociedade, 
e a presença de muitas concepções divergentes, por isso se 
preocupava com a escola e com os professores. 
 
A escola não pode ser pertença de um partido, e o professor falta 
aos seus deveres quando usa a autoridade de que dispõe para 
arrastar os seus alunos nos trilhos de seus próprios ideais, por mais 
justificados que lhe possam parecer” (2001, p. 61). 
 
Para a ação educativa ser bem sucedida na transformação de um 
ser associal, como o bebê, em uma personagem bem definida que 
desempenhe um papel útil na sociedade, o educador deve agir 
como um hipnotizador. 
 
A criança, como o hipnotizado, está numa situação de passividade. 
Como a vontade infantil ainda é rudimentar, ela é facilmente 
sugestionável e acessível aos exemplos, e propensa à imitação. 
 
O professor exerce sobre seus alunos uma ascendência baseada na 
superioridade de sua cultura e de sua experiência. O educador deve 
ter, também, serenidade. 
 
“ Se professores e pais sentissem , de uma forma mais constante, 
que nada se pode passar diante da crinaça sem deixar nela alguma 
marca, que o moldar do seu espírito e do seu caráter depende 
destes milhares de pequenas ações insensíveis que se produzem a 
cada instante e aos quais não prestamos atenção por causa da sua 
insignificante aparência, como zelariam mais pela sua linguagem e 
 
36 
pela sua conduta! Seguramente, a educação não pode chegar a 
grandes resultados quando procede por safanões bruscos e 
intermitentes.” 
 
Como o objetivo da educação é formar um ser novo, 
constrangendo o indivíduo e subjugando o egoísmo individual, não 
é possível formar o ser social através de brincadeiras e do prazer. 
 
É preciso então que o educador, com sua autoridade e sua 
ascendência moral, desperte o senso de dever na criança. 
 
Para isso, o professor deve acreditar e valorizar a sua missão, pois 
ele é a voz de uma grande pessoa moral: a sociedade. 
 
Revisão: 
- A educação tem um papel fundamental na preparação do individuo para 
a vida em sociedade. 
- Segundo Durkheim, o objetivo da educação é: Criar e desenvolver o ser 
social, pois esse não aparece de forma natural nos seres humanos. 
- De acordo com Durkheim: Devemos educar as nossas crianças de acordo 
com o meio moral em que elas viverão. 
- O professor, para Durkheim: Devemos suscitar e desenvolver, na criança, 
certo número de estados intelectuais e morais reclamados pela sociedade 
no seu conjunto e pelo meio moral a que a criança, particularmente, se 
destine. 
 
Síntese da Aula 04 – Émile Durkheim: Educação e Sociologia 
Nesta aula você conheceu a concepção durkheimiana de Educação. 
Analisou o ponto de vista do autor de que a Educação é um elemento de 
socialização. 
Relacionou a definição de fato social com a ideia de educação. 
Avaliou a importância da educação para a manutenção da moral social. 
 
 
 
 
 
 
 
37 
ASPECTOS ANTROPOLOGICOS E SOCIOLOGICOS DA EDUCAÇÃO 
AULA 5 – O PENSAMENTO SOCIOLOGICO DE KARL 
MARX 
 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 Analisar a teoria marxista pela sua perspectiva sociológica; 
 Descrever os diferentes conceitos trabalhados por Marx como 
forma de analisar os mecanismos de funcionamento da sociedade 
capitalista. 
 
Nesta aula, vamos abordar a visão sociológica de Karl Marx, cuja obra 
marcou profundamente o pensamento ocidental no século XIX. Ele se 
propôs a analisar a sociedade capitalista de modo profundo, buscando a 
compreensão daqueles fatores que contribuíram para o surgimento da 
miséria e do elevado nível de exploração da mão de obra assalariada. 
 
As elites burguesas expropriariam duplamente as classes trabalhadoras: 
primeiro, no que se refere à organização da produção social. 
 
O alemão Karl Marx (1818 – 1883) influenciou de modo significativo o 
pensamento ocidental, tanto no século XIX quanto no século XX. 
 
Ao nos referirmos a ele como um dos clássicos do pensamento 
sociológico, o fazemos por reconhecer a forte influência que o seu 
trabalho exerce, ainda hoje, sobre as obras de muitos autores. 
 
A obra de Marx também teve influência sobre a construção do primeiro 
regime socialista a ser instituído na história recente da humanidade. Esta 
experiência se daria na Rússia, em 1917, ano em que o partido 
bolchevique, liderado por Lênin, no comando de um movimento 
revolucionário instituiria naquele país um projeto socialista de inspiração 
marxista. 
 
A partir daí, a Rússia passou a se chamar União das Repúblicas Socialistas 
Soviéticas – URSS, ou como se costumava dizer ao nível do senso comum, 
União Soviética. 
 
Vamos conhecer um pouco da história da expansão do socialismo de Marx 
pelo mundo. 
 
38 
 
América Central: No continente americano é a vez de Cuba, que sob o 
comando de Fidel Castro, passa a fazer parte do mundo socialista em 
1960. 
 
África: Durante as guerras de libertação nacional, Angola e Moçambique 
também fazem opção por uma ordem socialista. 
 
Europa: No início do século XX, o mundo assiste a uma grande expansão 
do chamado socialismo real, nas mais diversas regiões. Com fim da 
Segunda Guerra Mundial e sob a influência soviética, verifica-se a 
expansão do socialismo pela grande maioria dos países do leste europeu 
como Polônia, Bulgária, Hungria, Romênia dentre outros. 
 
Ásia: Em 1949 é a veza da China que, em uma revolução camponesa 
comandada por Mao Tse Tung também inclui esta nação na órbita do 
mundo socialista. 
Outros países asiáticos, como Coréia do Norte e Vietnã, sob o comando de 
partidos comunistas, passam a hastear a bandeira vermelha do socialismo 
marxista-leninista nas décadas de 1950 e 1970, respectivamente. 
 
Todo este quadro no cenário geopolítico mundial mostra a importância do 
marxismo para o mundo contemporâneo. 
 Na verdade, esta bipolaridade entre os dois modelos socioculturais — o 
ocidental, marcado pela presença do capitalismo e da economia de 
mercado, e o socialismo — traria muitas consequências para as relações 
entre as diferentes nações do mundo, dentre as quais se pode destacar a 
própria guerra fria. 
 
No meio intelectual, o marxismo também faria sentir a sua presença ao 
longo de todo o século XX. 
Com a participação de seu amigo e colaborador Friedrich Engels (1820 – 
1895), Marx tinha, como objeto de sua pesquisa, a sociedade capitalista 
do século XIX. Suas teses e princípios teóricos eram baseados no 
materialismo dialético. 
 
Neste sentido, para Marx, as contradições não seriam situações anômalas 
presentes na sociedade, mas ao contrário, fariam parte de sua própria 
essência. 
 
 
39 
A identificação destas contradições no interior da sociedade concentraria 
o foco da análise marxista no modo como o trabalho social é organizado. 
A análise da história humana com base nos princípios da dialética 
materialista levaria Marx a identificar as contradições de interesses 
existentes entre as principais classes sociais, como o principal fator de 
motivação das mudanças sociais. 
 
Para Marx, esta “luta de classes” seria o principal combustível para as 
transformações nas sociedades humanas. Este modo de pensar a 
sociedade daria origem a um novo conceito elaborado por Marx, que seria 
o materialismo histórico. Na prática, uma aplicação da dialética 
materialista ao estudo da história humana. 
 
Na perspectiva marxista, o trabalho social não funciona apenas como um 
intermediário das relações entre sociedade e natureza, mas também 
como o intermediário nas relações estabelecidas pelos homens entre si. 
 
A qualidade das ferramentas ou forças produtivas utilizadas pelos 
indivíduos, somada aos tipos de relações estabelecidas no processo 
produtivo caracterizaram, na concepção marxista, o modelo de sociedade 
com o qual se estaria lidando. 
 
A partir da visão de Marx, foi possível se identificar alguns tipos de 
sociedades ou modos de produção. 
 
Modo de produção feudal: O feudalismo predominou na Idade Média, 
cujo antagonismo de classes seria identificado entre os nobres, donos das 
terras e os servos que, ao ocuparem estas terras, se viam obrigados a 
prestarem serviços aos primeiros. 
 
Modo de produção capitalista: O predomínio do capitalismo é no período 
contemporâneo. Nesta nova fase da organização social, as relações de 
produção ou o modo como os indivíduos se relacionavam para organizar e 
implementar o trabalho social seriam desenvolvidos com base num 
processo de remuneração assalariada da mão de obra. Eram os operários 
que, desprovidos da propriedade das fábricas e dos meios de produção, 
“vendiam” aos burgueses, donos destes estabelecimentos, o único bem 
que possuíam, que seria a sua força de trabalho. Assim, neste modo de 
produção, como afirmava Marx, as principais contradições seriam aquelas 
existentes entre a burguesia — dona dos meios de produção — e o 
 
40 
proletariado, que compreenderia os operários e trabalhadores de um 
modo geral. 
 
Modo de produção escravista: O escravismo predominou na chamada 
Antiguidade Clássica (Grécia e Roma), momento em que as principais 
contradições se dariam entre os escravos e seus senhores. 
 
É importante destacar que, a cada um desses modos de produção 
corresponderiam diferentes níveis de desenvolvimento das forças 
produtivas e diferentes formas de organização do trabalho social ou das 
relações de produção. 
 
São justamente as diferentes posições dos homens com relação às formas 
de propriedades presentes numa sociedade, ou modo de produção, que 
irão definir as diferentes classes sociais existentes. A transformação de um 
tipo de sociedade para outro, ou de um modo de produção a outro, se dá 
por meio dos conflitos abertos entre a classe dominante e as classes 
exploradas num determinado período. 
 
Assim, de acordo com Marx, a história humana é uma história das lutas 
entre as classes. 
 
Revisão: 
- Karl Marx influenciou de modo significativo o pensamento ocidental, 
tanto no século XIX, quanto no século XX; 
- A obra de Marx também teve influência sobre a construção do primeiro 
Regime Socialista a ser instruído na história recente da humanidade; 
- O socialismo real foi uma grande expansão, nas mais diversas regiões, no 
inicio do século XX; 
- Para Mark, a luta de classe era o principal combustível para as 
transformações nas sociedades humanas. 
- Que modos de produção Marx identifica na história da Europa: 
Escravista, Feudal, Capitalista. 
- Para Marx quais são os principais fatores responsáveis pelas 
transformações sociais por meio de: Conflitos abertos entre a classe 
dominante e as classes exploradas. 
- Como Marx percebe o papel das classes sociais: É a luta constante e 
aberta entre as classes sociais que serve como motor para a 
transformação da história. 
 
 
 
41 
ASPECTOS ANTROPOLOGICOS E SOCIOLOGICOS DA EDUCAÇÃO 
 
AULA 6 – A TEORIA MARXISTA E AS 
PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO 
 
 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 analisar as relações entre a teoria marxista e a dinâmica cultural da 
sociedade; 
 demonstrar como se dão as relações entre os valores morais, as 
crenças, os princípios ideológicos e a base material da sociedade, na 
concepção de Marx; 
 definir o conceito de alienação e suas relações com o projeto de 
educação sugerido por Marx. 
 
Na concepção de Marx, as ideias que os indivíduos incorporam, na 
sociedade capitalista, implicam numa visão imprecisa ou falsa da 
realidade. Isto acontece na medida em que a consciência que os 
trabalhadores constroem sobre o seu próprio modo de vida tende a ser 
profundamente influenciada pelos valores das elites burguesas. 
 
Numa posição diferente daquela assumida por Durkheim, Marx não 
percebe as representações coletivas como produto do conjunto da 
sociedade. Para ele, estas ideias — às quais chamou de ideologia — são o 
fruto de um processo de dominação, que leva as classes oprimidas a 
perceberem o mundo com as lentes de seus opressores, processo este 
denominado de alienação. 
 
Esta aula aborda o projeto de educação de Marx, que busca superar esta 
ausência de consciência, ou seja, um projeto que possa construir 
indivíduos integralmente desenvolvidos e emancipar os trabalhadores do 
seu processo de alienação. 
 
Na concepção marxista, a partir da lógica do pensamento dialético, 
haveria uma reciprocidade de influências entre a consciência e as 
condições materiais da vida em sociedade. 
 
Individuo: Por um lado, o mundo das ideias é influenciado de forma 
determinante pela realidade material. 
 
 
42 
Meio social: Por outro lado, esta mesma base material da sociedade pode 
ser transformada pela ação consciente dos indivíduos. 
 
A particularidade da concepção de Marx está no fato de ele perceber este 
grande conjunto das ideias representado pelos valores e crenças 
predominantes, no caso da sociedade capitalista, como o fruto de um 
processo de dominação das elites burguesas. Como consequência, por 
terem perdido o controle sobre a organização da produção, os 
trabalhadores teriam perdido, também, a possibilidade de construir uma 
visão adequada sobre a sua própria realidade. Eles perceberiam o mundo 
a partir dos valores da burguesia, como se esta fosse a única forma 
possível de trabalhare viver. 
 
Burguesia & Proletariado: Segundo Marx, no capitalismo existem os 
burgueses, proprietários dos meios de produção e aqueles que vendem o 
único bem que possuem, ou seja, a sua força de trabalho, em troca do 
pagamento de salário. Estes seriam os proletários, classe que 
representaria a maioria da sociedade. Para eles, o modo de vida 
estabelecido na sociedade capitalista parece algo natural. É como se 
trabalhar em troca de um salário fosse uma espécie modo de vida que 
sempre existiu e sempre existirá. 
 
Um conceito fundamental, na concepção marxista, é o de alienação. 
 
O trabalho na sociedade capitalista é considerado como algo sobre o qual 
o próprio trabalhador não possui nenhum controle. Ou seja, um operário 
numa determinada linha de montagem executa muito bem a sua função, 
por exemplo, encaixar amortecedores na carroceria do veículo, sem ter a 
menor ideia sobre o procedimento para construir, de modo completo, um 
automóvel. Este saber lhe foi expropriado num processo histórico, 
juntamente com os meios de produção. Este mecanismo é definido por 
Marx como alienação. 
 
A organização do trabalho social na sociedade capitalista, segundo Marx, 
possuiria, portanto, uma considerável diferença em relação ao que era 
feito na sociedade feudal. 
 
Naquele período, em que predominavam as oficinas artesanais nas vilas e 
pequenas cidades, o Mestre Artesão era ao mesmo tempo executor e 
organizador do processo produtivo. 
 
43 
 
Essa situação difere profundamente daquela presente na sociedade 
capitalista, na qual o dono da fábrica, que organiza e planeja a produção, 
não é quem executa o trabalho. 
 
Processo produtivo: Por exemplo, numa oficina de sapateiros, caberia a 
ele a compra da matéria prima, o planejamento dos modelos a serem 
fabricados, o corte do couro, a costura, o acabamento final e a própria 
venda do produto, ou seja, ele era responsável por todas as etapas do 
processo produtivo. 
 
Executa o trabalho: Por exemplo, não vemos os executivos das grandes 
montadoras de automóveis encaixando as peças dos veículos na linha de 
montagem. 
 
No modelo civilizatório marcado pela presença do capitalismo, a 
fragmentação das atividades profissionais é a marca registrada. A divisão 
entre aqueles que realizam trabalhos exclusivamente intelectuais e a 
grande maioria que executa tarefas manuais e repetitivas, sem a exigência 
de uma elaboração mais complexa é, de fato, a regra. 
 
A causa da consciência distorcida construída pela grande maioria dos 
trabalhadores acerca do seu próprio modo de vida, é justamente esta 
divisão qualitativa do trabalho. 
 
Vamos conhecer, a seguir, mais sobre o pensamento de Marx. 
 
Marx considerava esta situação, além de injusta, a causa de todo o 
processo de alienação presente na sociedade de sua época, a Europa do 
século XIX. 
 
Para resolver este problema, além da ação de conscientização das massas 
pelos integrantes do partido comunista (que ele considerava o partido 
revolucionário da causa dos trabalhadores) Marx imaginou um projeto de 
educação que pudesse compensar estas diferenças. 
 
Marx e Engels percebiam as práticas de educação escolar como uma 
importante ferramenta que poderia ser utilizada, tanto para perpetuar o 
processo de alienação e de dominação existente na sociedade capitalista, 
quanto para emancipar os trabalhadores desta realidade. 
 
44 
 
É fundamental que você procure deslocar o pensamento para o século XIX 
e tente imaginar como viviam as pessoas nas cidades industriais naquele 
momento, para poder entender o raciocínio de Marx com relação ao seu 
projeto educacional. 
 
Em algumas citações de O Capital, sua obra mais importante, Marx relata 
algumas visitas a escolas localizadas em cidades na Inglaterra, cujas 
condições de ensino eram tão precárias, que só poderiam servir como 
espécie de engodo, para a nova legislação inglesa de 1844, que 
determinava que as crianças ao serem contratadas pelas fábricas 
deveriam estar devidamente matriculadas em algum estabelecimento de 
ensino. 
 
Projeto Educacional de Marx 
 
Sugerido para solucionar o problema educacional, o projeto de Marx 
certamente seria alvo de certa estranheza nos dias atuais. Para ele: 
 
 As escolas deveriam formar indivíduos integralmente 
desenvolvidos, isto é, que ao longo da sua formação dividissem seu 
tempo entre o trabalho manual, as atividades intelectuais e o lazer; 
 
 As crianças de até 12 anos deveriam passar ao menos 2 horas por 
dia trabalhando de modo a combinar o trabalho braçal com prática 
intelectual. Esta jornada de trabalho associada à educação deveria 
ser elevada até um período de 6 horas por dia, quando a criança 
completasse 16 anos. 
 
O Projeto Educacional de Marx pode ser representado pela equação 
abaixo. 
 
Projeto Educacional de Marx = Educação Intelectual + Educação 
Profissional + Educação Física. 
 
Para Marx era fundamental que todos os indivíduos combinassem 
educação intelectual, educação profissional e educação física, na sua 
formação. Só assim, todos se tornariam indivíduos integralmente 
desenvolvidos, capazes de desenvolver diferentes tarefas e atividades 
sociais. Ele considerava injusto que alguns indivíduos trabalhassem apenas 
 
45 
com a mente, desenvolvendo seu intelecto, enquanto outros passassem 
toda a vida presos a atividades manuais repetitivas e embrutecedoras, no 
que se refere ao espírito humano. 
 
Mesmo para os membros da burguesia, a educação fragmentada era 
considerada por Marx como prejudicial, na medida em que o indivíduo se 
via desprovido daquilo que ele considerava como conhecimento 
tecnológico. 
 
É importante ressaltar que este projeto de educação sugerido pela teoria 
marxista se apresentava para a realidade europeia no século XIX. 
 
Neste momento o acesso a escola, mesmo num sentido tradicional, era 
restrito a um pequeno número de crianças originárias das classes mais 
favorecidas. 
 
Além disso, a possibilidade de automação do processo produtivo, como 
conhecemos hoje, era algo inconcebível em termos tecnológicos. Sendo 
assim, na visão de Marx, a ideia de que todos pudessem, ao longo de seu 
dia, compartilhar todas as funções existentes na sociedade, tanto as mais 
enaltecedoras quanto as mais laboriosas, se apresentava como a 
alternativa mais justa. 
 
Síntese da Aula 06 – A Teoria Marxista e as Práticas de Educação 
 
Nesta aula você conheceu: 
Os conceitos de ideologia e de alienação do trabalho desenvolvidos por 
marx. 
A ideia da educação como instrumento de alienação ou emancipação. 
A proposta de ensino que forma indivíduos de uma educação intelectual, 
tecnológica e física. 
 
Revisão 
 
Qual o significado do conceito de alienação para Marx? 
Processo histórico no qual o saber foi expropriado do trabalhador 
juntamente com os meios de produção; 
 
Qual é a principal ligação entre educação e alienação? 
 
46 
A educação, na sociedade capitalista, ao separar a concepção e a execução 
do trabalho, é uma das formas de reproduzir a alienação; 
 
Como poderia ser caracterizado o projeto da educação ideal para Marx? 
Pela combinação de educação profissional, educação intelectual e 
educação física; 
 
Burgueses: Proprietários dos meios de produção; 
 
Práticas de educação escolar: Ferramenta que pode ser utilizada, tanto 
para perpetuar o processo de alienação e de dominação existente na 
sociedade capitalista, quanto para emancipar os trabalhadores desta 
realidade; 
 
Proletários: Donos da força de trabalho, que é “vendida” em troca do 
pagamento de salário; 
 
Alienação: Mecanismo no qual o trabalhador não possui nenhum controle 
sobre o trabalho que desempenha; 
 
 
 
 
 
 
 
ASPECTOS ANTROPOLOGICOS E SOCIOLOGICOS DA EDUCAÇÃO 
AULA 7 – A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER 
 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 analisar

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