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DIDÁTICA AULA 1 - Didática: Campo de Estudos e Práticas 1 ) identificar a Didática como um campo de estudos e práticas; 2) comparar as diferentes perspectivas teóricas que marcam o campo da Didática; 3) analisar as tensões e perspectivas que se colocam no debate da Didática hoje; 4) identificar os elementos e as dimensões da situação didática. O que é Educação? A educação nos acompanha por toda a vida. A todo o momento estamos aprendendo, ensinando, nos educando e participando da educação de alguém. Isso implica dizer que a educação: É um processo social; É resultado da interação entre os homens; Envolve a transmissão, reelaboração e produção de saberes, valores,modos de sentir, agir e pensar. Assim, a educação é um processo que guarda múltiplas dimensões: pessoal, social, econômica, política, filosófica. Diz respeito a processos individuais de aprendizagem, a dinâmicas de grupos e culturas, a determinantes e estruturas de produção e poder, a concepções de mundo e de homem. Toda sociedade tem um projeto de desenvolvimento e, dentro dele, idealiza um papel para a educação. Educação: Politica ou projeto educacional conservador: Por exemplo, uma política ou um projeto educacional conservador tende a reproduzir a forma como a sociedade esta organizada.Tem como objetivo principal garantir que os sujeitos se tornem aptos a trabalhar pela continuidade desse sistema, gerando assim, harmonia social. Politica ou projeto educacional transformador: Por outro lado, uma política ou um projeto educacional transformador procura modificar a forma como a sociedade esta organizada.Neste caso, a educação objetiva promover a consciência critica dos sujeitos e incentivar a organização social.E assim,cada grupo social,dependendo de sua visão sobre a sociedade, irá defender ou rechaçar um modelo educativo. Embora o pensamento educacional venha se constituindo desde a antiguidade, a Didática surge como uma resposta aos desafios que se colocam para a educação com a emergência da escola. Nesse momento, a instrução popular é fundamental para a reforma religiosa, sendo necessário, portanto, encontrar um modo de normatizar a prática docente e racionalizar o ensino tornando-o mais eficiente. Conheça alguns dos pensadores que contribuíram de forma valiosa para a Didática. Comenius (1592-1670) Comenius é reconhecido como o pai da Didática Moderna e um dos maiores educadores do século XVII. Ele escreveu a Didáctica Magna, definida como “tratado da arte universal de ensinar tudo a todos”. Esse pensador comparava a arte de ensinar com o trabalho do jardineiro no cuidado das plantas – educadores devem semear na alma dos jovens boas lições e cuidar/regar para que floresçam. Inspirado nas proposições de Bacon, Comenius propunha um ensino do fácil para o mais difícil, das coisas às ideias, do particular para o geral, sem pressa. Herbart (1776-1847) Herbart propõe uma abordagem científica para a educação e funda as bases teóricas da Didática na Filosofia e na Psicologia. Para ele, a educação moral deveria desenvolver na alma da criança o desenvolvimento de uma inteligência e uma vontade adequadas. Herbart toma a experiência sensível como fonte de conhecimento, mas não a única, pois, “à medida que elementos primários são experimentados, os conhecimentos posteriores são adquiridos com base nos primeiros”, num processo cumulativo, onde o homem passa a formular representações acerca de sua experiência. Ele desenvolveu um método de cinco passos que o celebrizou: 1º) recordar os conhecimentos já aprendidos; 2º) apresentar o conhecimento novo (transmissão); 3º) comparar o conhecimento novo com o velho (assimilação); 4º) levar a generalização; 5º) aplicação de exercícios. Ás proposições apresentadas anteriormente se opuseram a educadores que deslocavam a centralidade do ensino para a aprendizagem na abordagem dos processos pedagógicos. Dewey (1859- 1952) Dewey fazendo severa critica ao modelo tradicional da escola , baseado na transmissão/assimilação de conhecimentos propõe um modelo renovado. Modelo tradicional Pedagogia Tradicional Surge no momento de consolidação do capitalismo e da escola moderna como uma resposta aos processos de racionalização das instituições. Objetivo: exercitar a inteligência e formar o senso moral - preparar o intelectual. Conhecimentos: são tidos e passados como verdades absolutas, independentes da experiência. Sua apreensão se dá por mera memorização. Avaliação: é centrada no produto do trabalho. Uso de testes e provas. Relação professor-aluno: o aluno é visto como um receptor passivo, inserido em um mundo que irá conhecer pelo repasse de informações. O professor é tido como uma figura de autoridade, centro dos processos pedagógicos. A disciplina é utilizada como mecanismo de controle e garantia de que o conhecimento seja conseguido independente do interesse do aluno. Metodologia: aulas expositivas, atividades de repetição e memorização, exercícios, “lições de casa”. Privilégio do verbal, escrito e oral. Modelo renovado Pedagogia Renovada É a chamada Pedagogia Nova ou Escola Nova, origina-se em movimento pedagógico nos Estados Unidos e na Europa no final do século XIX, influenciando o Brasil por volta dos anos 1930. O movimento escolanovista criticou a “escola tradicional” e propôs uma “escola nova”, fundada nas novas ciências e em uma visão multidimensional do homem. Objetivo: desenvolver a inteligência, considerando seus determinantes biopsicossociais - formar o homem. Conhecimentos: são vistos como produtos da interação do homem com o mundo, compreendidos/aprendidos a partir da experiência vivida (aprendizagem significativa). Relação professor-aluno: o aluno é ativo, sujeito de seu processo de aprendizagem. O professor é um facilitador da aprendizagem do aluno. Método: ensino fundamentado na atividade do aluno - aprender experimentando, aprender a aprender (Pedagogia Ativa); conteúdos e atividades organizados em torno de projetos e adequados aos diferentes níveis de aprendizado, às necessidades e interesses dos alunos. Avaliação: centrada no processo de aprendizagem, múltiplos critérios e instrumentos, autoavaliação. Para Dewey , o ensino deve adequar-se aos diferentes níveis de aprendizado, ás necessidades e interesses dos alunos.O professor deverá organizar os conteúdos e atividades em torno de centros de interesse e criar situações-problema estimuladoras para provocar os sentidos e a inteligência dos alunos. Assim, em oposição a Herbert, ele propõe um método de cinco passos: 1) Colocar os alunos em atividade ( experiência ); 2) Definir uma problemática de estudos (problematização da experiência); 3) Buscar informações e fazer observações ( coletar dados); 4) Levantar sugestões para a solução do problema ( hipóteses); 5) Testar as sugestões ( experimentação/verificação). Como você pôde perceber, até meados do século XX, a Didática oscilou entre dois modos de interpretar as situações de ensino- aprendizagem. Ênfase na aprendizagem, no sujeito que aprende, seduzido a aprender. Ênfase no ensino, no método, “como caminho que leva do não saber ao saber, caminho formal descoberto pela razão humana”. (CASTRO, 2009). Hoje, com as intensas transformações ocorridas nos processos sociais de produção e de difusão de informação,novas reflexões sobre o papel da educação e das organizações educacionais tomam cada vez mais espaço na vida social. Diferentes tendências doutrinárias e/ou teóricas desenvolvem concepções acerca dos processos ensino-aprendizagem. A partir de uma concepção crítica acerca dos processos educacionais, mais que uma visão universalizante sobre os processos ensino-aprendizagem, é preciso considerar os contextos onde eles se dão, as cotidianidades e sentidos que eles constroem. Assim, a Didática passa a ser vista como “Uma reflexão sistemática e busca de alternativas para os problemas da prática pedagógica”. (CANDAU, 2004). Concepção crítica Pedagogia Crítica Surge nos fins da década de 1950, em contraposição à escola que reproduz o sistema e as desigualdades sociais. Propõe uma educação como instrumento de libertação do homem e transformação da realidade/sociedade. Objetivo: preparar o aluno para participação ativa, consciente e crítica na sociedade – formar o cidadão. Conhecimentos: são construídos nas relações entre os homens, são culturais e históricos, sempre reavaliados frente à realidade social. Relação professor-aluno: é dialógica e democrática – os alunos e professores são vistos como sujeitos socioculturais que criam cultura no ato de conhecer. A prática pedagógica é vista como práxis - prática política. Assim, o professor é engajado, faz a mediação crítica entre a realidade, o conhecimento e os alunos. Método: parte de temas geradores extraídos da vida dos alunos, saber do próprio aluno; rodas de leitura, discussão/debate com vistas a desvelar contradições que engendram os processos de dominação. Avaliação: avaliação dialógica, mediadora, mais voltada para a reflexão dos processos pedagógicos do que para o desempenho dos alunos. Dentro da perspectiva crítica, é preciso que todo educador desenvolva uma visão contextualizada e multidimensional dos processos pedagógicos. Que desenvolva um senso crítico capaz de analisar os fins sociais e específicos das práticas pedagógicas, vivenciadas numa determinada cultura e sociedade a partir dos elementos que constituem a situação didática: os sujeitos (o professor, o aluno), os espaços, os saberes, as metodologias de ensino (os procedimentos e os recursos). Cultura e sociedade Situação didática = sujeitos + saberes+ metodologia+ espaços Na concepção crítica de educação, o trabalho do professor se desenvolve a partir de recursos, procedimentos e relações organizadas dentro da escola, visando à aprendizagem de um saber sistematizado pelo aluno. Mas, o trabalho pedagógico desenvolvido pela escola não possui um fim em si mesmo. Por meio do ato de ensinar , a escola concretiza finalidades educativas especificas no contexto da sociedade. ( CANDAU 2004) Por isso, é preciso considerar os diferentes elementos e dimensões que envolvem a situação didática. As diferentes dimensões Dimensão técnica: O processo ensino- aprendizagem é uma atividade internacional, com recursos , procedimentos e situações organizadas a partir de princípios filosóficos-pedagogicos e com determinados objetivos. Dimensão político-cultural: O processo ensino-aprendizagem acontece num determinado ambiente educacional e contexto histórico. Dimensão humana: O processo ensino-aprendizagem se realiza através da interação entre pessoas, com seus sentimentos e ideias, provocando afetos e conflitos. A condição para um professor assumir o papel de sujeito nos processos pedagógicos é: Reconhecer que a pratica pedagógica não esta desvinculada da pratica social mais ampla; Assumir um compromisso com a sua competência política e técnica, como sujeito que se coloca diante do mundo; Encontra em si o que o mobiliza, o que provoca o seu desejo e sua alegria de ensinar; Descobrir e dar forma a sua intencionalidade, a sua vontade; Começar a se questionar e a procurar respostas aos desafios que a pratica pedagógica nos coloca todos os dias. Nessa disciplina, vamos refletir sobre essas questões. Provavelmente, nem todas as respostas serão encontradas, mas certamente, aprenderemos a fazer boas perguntas. AULA 2 - Os Espaços do Processo Ensino-Aprendizagem conhecer os processos históricos de constituição da escola na modernidade; compreender a dimensão pedagógica na análise das questões relativas aos espaços educacionais; identificar a singularidade do espaço escolar, suas características, seus limites e possibilidades. No campo educativo, fala-se muito no “ensino”, em “conteúdos”, no “aluno”, nos “recursos didáticos”, mas você já pensou como o processo educativo inclui outras dimensões como, por exemplo, o contexto social, o espaço físico e, principalmente, os objetivos que esse processo educativo deverá ter? Pensar em um processo educacional significa ampliar o nosso campo de visão para incluir as diferentes formas e instâncias de socialização que estão presentes. As diferentes formas e instâncias de socialização que estão presentes Elas representam as formas como a sociedade imprime sobre os indivíduos os modos de vida dos grupos e comunidades onde esta inserido. Mas, também, diz sobre as formas como o individuo se apropria , recria ou mesmo produz suas formas particulares de inserção social.Exprime, portanto, as diferentes formas de interação entre o individuo e a sociedade.Constituem- se, assim, em processo dialético, dinâmico,cheio de contradições, interditos , avanços e retrocessos. Os processos educacionais podem admitir diferentes formas. Podem ser intencionais ou não intencionais. “È intencional quando as condições educativas-objetivos, recursos, atividades-são previamente estabelecidas e arranjadas pelo grupo social.É não intencional quando não há preparação previa das condições que levem á educação “.o individuo a partir da própria convivência social, vai compartilhando modos de vida.(PILETTI,1995,P.114) Podem ser formais ou informais.Podem acontecer em espaços , organizações socialmente definidas para tal função, ou ocorrer em situações diferenciadas dentro ou não de espaços organizados para outros fins. Podem se dar no ambio de organizações publicas ou privadas.Ou seja, organizações mantidas pelo Estado,voltadas para o interesse comum , ou mantidas pelo interesse privado. Podem se desenvolver a partir da ação direta e/ou mediatizada. O contato pode ser estreito,pessoal,presencial entre os atores envolvidos ou a interação mediatizada por recursos tecnológicos a distancia. Podem envolver a participação de leigos e/ou profissionais .Podem envolver trabalhadores qualificados e contratados para atuar neste campo especifico, ou envolver pessoas despreparadas , embora muitas vezes bem intencionadas ou vocalizadas, sem nenhum vínculo de trabalho. Historicamente diferentes espaços sociais têm se especializado na gestão dos processos educacionais. A família e a comunidade são, desde os tempos mais remotos, os campos de socialização onde crianças e adolescentes têm contato com a língua, os costumes, os valores, os saberes e sentidos, que dão identidade à realidade onde vivem. Muitas vezes, outras instituições assumem também a função de compartilhar, “ensinar” aos jovens certos princípios e práticas, tais como, os templos religiosos, as oficinas de trabalho, os clubes recreativos, os museus, as associações culturais e políticas etc. Desde a modernidade, a escola tem se constituído como a organização cuja função primeira tem sido disponibilizaràs novas gerações, “através de atividades sistemáticas e programadas, o patrimônio cultural da humanidade”. (PILETTI, 1995, p.116). Mesmo que ao longo dos tempos, diferentes correntes de pensamento tenham considerado diferentemente o papel da escola, os saberes válidos, as estratégias que são ou não adequadas, o fato é que a escola ainda é um espaço marcante na vida das pessoas. É a partir dela, que vivemos grande parte de nosso processo de formação identitária. A escola Qualquer um nos dias de hoje é capaz de identificar uma escola. Embora sejam variadas as formas de estruturá-la, existem alguns elementos que parecem recorrentes na maioria das organizações escolares. Do ponto de vista material Na escola, o espaço físico, e nele os materiais, estão dispostos de modo ordenado como, por exemplo: as salas de “aula”, salas para refeições, quadras/ambientes para atividades físicas, mobiliário específico, equipamentos e materiais “didáticos”. Quanto aos saberes Os saberes que são trabalhados na escola são aqueles considerados válidos pela comunidade escolar. Embora frequentemente sejam disciplinarizados, é crescente o número de experiências que propõem outras formas de organização dos conhecimentos na escola. Do ponto de vista humano Os processos educacionais ganham um caráter formal na escola, com papéis bem definidos para todos os envolvidos: diretores, coordenadores, professores, inspetores, merendeira/lancheiras, pessoal de limpeza e segurança, e alunos. Quanto às práticas As atividades na escola são organizadas a partir de uma programação que organiza os eventos no tempo e no espaço. Envolvem planejamento e avaliação regular segundo os objetivos/metas/fins estabelecidos. Agora... Veja as fotos abaixo. As imagens mostram diferentes realidades escolares. Você não é capaz de, a partir da disposição das pessoas, dos materiais e equipamentos no espaço da escola, deduzir os princípios pedagógicos que norteiam a organização das atividades escolares? Pois é, o espaço escolar guarda uma tipicidade própria, reconhecível por aqueles que vivem numa mesma sociedade, mas diferentes concepções de educação vão implicar em diferentes arranjos para esses elementos. Mas, se desde a modernidade a escola parecia a mesma (carteiras enfileiradas, professor à frente da classe etc.) e vinha ocupado posição de destaque na formação das novas gerações, hoje esse lugar tem novos arranjos e tem sido compartilhado com novos espaços com grande poder de disseminação de informações, valores e atitudes. As transformações recentes no âmbito dos processos econômicos e socioculturais, as novas tecnologias de comunicação e informação, têm provocado uma verdadeira revolução no campo educacional e uma profunda reflexão sobre o papel da escola. As novas tecnologias de comunicação e informação É recorrente a discussão sobre os efeitos dos meios de comunicação no campo educacional.Alguns autores tem dado grande contribuição a esse debate como Marshall McLuhan e Pierre Levi. McLuhan foi precursor dos estudos midiologicos .Estudava como a forma de meio social tem a ver com as novas maneiras de percepção instauradas pelas tecnologias da informação.defendia já na década de 60, que as novas tecnologias de comunição e informação impõem novos modelos de educação e a transformação radical da escola. Levi é um filosofo da informação que se ocupa em estudar as interações entre a internet e a sociedade.Ele defende que a escola esta perdendo progressivamente seu monopólio de criação e transmissão do conhecimento, e que precisa rever o seu papel social. No mundo contemporâneo, os meios de comunicação têm se tornado importantes mediadores das relações entre as pessoas e delas com o mundo. Diariamente, sabemos da nossa realidade a partir de informações por meio de rádio, jornal, televisão, Internet, celulares... Nossas crianças e jovens já chegam à escola com imagens, ideias e valores disseminados por esses meios. Dessa forma, a lanhouse, o ciberespaço, os restaurantes, os centros culturais, os cinemas, o ônibus, enfim, qualquer lugar hoje pode ser concebido como espaço educativo. São muitas as formas e espaços para ter acesso ao conhecimento. A escola não tem mais a quase exclusividade desse papel. Cada vez mais, movimentos e organizações têm questionado o universo escolar. Tem sido discutido o quanto é preciso reinventar a escola tornando- a mais que um espaço de disseminação do conhecimento socialmente produzido, um lócus diferenciado de diálogo, intercâmbio de diferentes experiências educativas. Espaço dinâmico de articulação entre os vários agentes educativos que se encontram numa determinada comunidade. Espaço para o exercício do debate, da análise crítica, para o fortalecimento de uma visão plural e histórica de diferentes saberes e linguagens. Por essas e outras, um dos desafios que se colocam hoje para a educação é reconhecer, ampliar e fortalecer ecossistemas educativos. Essa proposta rompe com a visão da escola como uma instituição meramente educacional, mas passa a compreendê-la na sua dimensão cultural e política. Ressignificada, a escola deixa de ser vista como uma instituição, mas como projeto que ocupa todo o espaço das cidades, uma verdadeira cidade escola. AULA 3- Diversidade Cultural e Cotidiano Escolar identificar a sala de aula como um espaço de encontro entre diferenças; perceber a profissão docente como uma prática reflexiva; analisar as tensões e perspectivas presentes no campo da Didática ao lidar com a diversidade cultural no cotidiano da sala de aula. “Os educadores não poderão ignorar no século XXI as difíceis questões do multiculturalismo, da raça, da identidade, do poder, do conhecimento, da ética e do trabalho. Essas questões exercem um papel importante na definição do significado do propósito da escolarização, no que significa ensinar e na forma como os estudantes devem ser ensinados para viver em um mundo que será amplamente mais globalizado,high tech e racialmente diverso que em qualquer outra época da historia. Henry Giroux Imagine que hoje é o seu primeiro dia de aula, como professor(a) em uma escola publica de alguma cidade brasileira.Você entra na sala de aula e após cumprimentar carinhosamente seus alunos , inicia uma dinâmica de apresentação.cada aluno é convidado a dizer o nome, idade, o lugar onde mora e o que gosta de fazer no tempo livre. Os alunos , muito inquietos e animados começam suas apresentações .Pouco a pouco, você vai conhecendo cada um dos vinte e cinco estudantes da turma.Mas você sabe que esse é so um primeiro passo de aproximação: será no dia a dia da sala de aula que você ira conhecer como eles reagem aos momentos de dificuldade,como interagem com os colegas de classe, quais os hábitos culturais que trazem da vivencia familiar e comunitária, ou ainda , o que cada um planeja quando falam sobre o futuro. Você também ira perceber que essas vinte e cinco crianças são diferentes em tamanho, desenvolvimento físico, capacidades de atenção e de trabalho; em gostos e capacidades criativas; em personalidades, caráter, atitudes,opiniões, interesses, imagem de si,confiança em si próprios,diferentes em sexo, origem social, religiosa ou étnica. Alem de muitas outras diferenças que ás vezes, causam pequenos atritos no espaço escolar: o aluno portador de necessidades especiais não aparece ficar muito á vontade ao participar de atividades em grupo; as duas irmãs que sentam na primeira fila, não gostam das musicas evangélicas cantadas pela colega vizinha de carteira; os três alunos negrosparecem não gostar muito de serem chamados por apelidos e a menina de óculos demonstra ficar bastante incomodada com o colega gordinho que se orgulha das merendas gostosas que não divide com ninguém! Essas diversidades representam um problema? O que fazer com tantas diferenças? Como desenvolver uma aula, considerado tantas especificidades? È importante lembrar que em uma turma de ensino fundamental , apesar da relativa proximidade de idade entre os alunos , talvez haja mais diferenças que na maioria dos demais grupos constituídos em uma sociedade.A escola ainda é o principal lugar de encontro , onde crianças de diferentes origens sociais e familiares irão compartilhar muitos anos de suas vidas. A diversidade talvez represente para nós, professores, um grande problema se não formos capazes de enfrentar essa mesma diversidade: capazes de lhe conferir sentido, de ordená-la e de utilizá-la para alcançar nossos objetivos. Ela irá representar um problema se não dispormos de esquemas diferenciados correspondentes, ou seja, se queremos ensinar tudo a todos da mesma forma e no mesmo ritmo, aí sim teremos problema. Também pode ser um problema fechar os olhos para pequenas demonstrações de preconceitos, discriminações ou atos de intolerância cometidos por nossos alunos. Será difícil agir como se não tivéssemos nenhuma responsabilidade frente a tais conflitos, e mesmo assim, continuar acreditando que nós professores contribuímos para a formação de “cidadãos” participativos em uma sociedade “democrática”... A sociedade brasileira vem vivenciando uma nova consciência das diferentes culturas presentes no tecido social e um forte questionamento do mito da “democracia racial”. Diferentes movimentos sociais – consciência negra, grupos indígenas, de cultura popular, de movimentos feministas, homossexuais, grupos religiosos, de trabalhadores rurais etc. – têm reivindicado um reconhecimento e valorização mais efetivos das respectivas identidades culturais, de suas particularidades e contribuições específicas à construção social. Neste contexto, é preciso buscar caminhos de incorporar positivamente a diversidade cultural no cotidiano escolar. Nesta perspectiva, os “Parâmetros Curriculares Nacionais”, propostos pelo Ministério de Educação em 1996, apresentam em sua quarta página um dos temas transversais: a pluralidade cultural. “Tratar da diversidade cultural brasileira, reconhecendo-a e valorizando-a, e da superação das discriminações aqui existentes é atuar sobre uns dos mecanismos de exclusão, tarefa necessária, ainda que insuficiente, para caminhar na direção de uma sociedade mais democrática. É um imperativo de trabalho educativo voltado para a cidadania, uma vez que tanto a desvalorização cultural – traço bem característico da nossa história de país colonizado – quanto a discriminação são entraves à plenitude da cidadania para todos, portanto, para a própria nação.” Democracia racial: À medida que a nação brasileira foi sendo construída, uma crença em torno desta nação começou a ser criada- o Mito da Democracia Racial- onde por muito tempo acreditou se que no Brasil, diferente de outros países como os EUA ea Africa do Sul, não existiam conflitos raciais.Também se acreditava que em nosso pais não houvesse obstáculos para a ascensão social do negro e do mulato, significando que o Brasil seria uma nação sem raças : todos seriam mestiços. Apesar dessa forte crença, estudos recentes provam que determinados grupos raciais , como indígenas ou negros , possuem menos possibilidades de ascensão social , contam com menos renda e permanecem por menos tempo nas escolas devido á necessidades de trabalho. Parâmetros Curriculares Nacionais: Os parâmetros curriculares nacionais são diretrizes elaborados pelo Governo Federal que orientam a educação no Brasil .Existem parâmetros separados por disciplina e parâmetros refrentes a temas transversais ( temas que deveriam ser tratados por todas as disciplinas), tais como: sexualidade, ética e diversidade cultural. Alem da rede publica, a rede privada de ensino também adota os parâmetros , porem sem caráter obrigatório. Dessa forma, a relação entre diversidade cultural e cotidiano escolar constitui, portanto, um tema de grande importância para a construção de uma escola verdadeiramente democrática e coloca desafios para o professor repensar sua prática pedagógica. 1) A dimensão cultural passa a ser entendida como um elemento não só vivenciado, mas também construído no interior da escola e parte integrante do cotidiano escolar. 2) Para o professor, uma das facetas da diversidade presente em sala de aula é percebida pelas dinâmicas estabelecidas entre as crianças, por suas relações mais ou menos conflituosas e pela dinâmica do grupo no dia a dia das aulas. 3) Mas é importante lembrar que o professor também é membro do grupo, e entre ele e os alunos igualmente há diferenças e distâncias de valores culturais. Ele também é um sujeito sociocultural e precisa estar atento para esse rico encontro entre tantas diferenças! E os professores estão preparados para agir nesse contexto de tamanha diversidade? Essa é uma dúvida comum vivenciada pela maioria de professores no mundo inteiro. O campo da didática tem tentado incluir essa questão em suas reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem. Apontamos, então, três pontos para a nossa reflexão sobre o tema. Reconhecer as diferenças Como incluir a diversidade cultural em nossos projetos educacionais , se não sabemos quais as difrenças ( culturais , cognitivas, efetivas etc.) existentes em nossas salas de aula? Conhecer e reconhecer as identidades culturais representadas no espaço educativo é o primeiro passo para que sejam desenvolvidas atividades que contribuam para a valorização dessa diversidade humana.Somos todos diferentes e essa é a nossa riqueza! Desenvolver variadas estratégias que promovam o encontro Após o reconhecimento das diferenças, é preciso iniciar um processo de desconstrução de visões estereotipadas de certas identidades, como o negro e o nordestino, o indígena ou o religioso,através de estudos das origens histricas de algumas características desses grupos culturais . Incluir esses temas no programa disciplinar pode ser uma estratégia muito interessante principalmente se o professor se posiciona como uma liderança sempre disposta a incentivar o debate e a troca de ideias. Estimular a curiosidade Todo o grupo cultural tende a ser etnocêntrico. O que é Isso? Acreditasse que seu modo de viver, que seus hábitos culturais e sociais são os únicos validos (ou os melhores) no mundo.Essa tendência não so nos afasta , como também desqualifica qualquer grupo que seja diferente de nos.Todo professor deve estar atento para não reproduzir esse pensamento em suas praticas cotidianas. È importante estimular a curiosidade de seus alunos sobre outros modos de vida, evitando comparações descontextualizadas.Toda cultura é incompleta e imperfeita , por isso mesmo temos muito o que aprender sobre outros grupos culturais. Conheça mais alguns pontos para a sua reflexão sobre o tema diversidade. Não transformar a difrença em desigualdade Comumente utilizamos a palavra diferença como sinônimo de desigualdade, mas é importante repensarmos esses conceitos .As diferenças só se tronam sinônimo de desigualdade, quando existem uma hierarquização de valores , ou seja , quando eu priorizo e valorizo determinadascaracterísticas e discrimino outras. Desse modo, eu crio desigualdade se supervalorizando habiots culturais, valores religiosos, características de personalidades apenas se estas estão próximas de meu estilo de vida, se não estão, as desqualifico. Crianças e jovens levam para o espaço escolar suas experiências e valores culturais , é preciso estar atento para não criar através de ações cotidianas, a desigualdade entre as diferenças. Promover o diálogo As diferenças existentes no espaço escolar tendem a criar tensões se não consideramos a importância do dialogo. Professores e alunos, alunos e alunos devem se relacionar de forma a valorizar o dialogo, que significa uma não hierarquização das culturas e dos saberes que se cruzam , num processo de negociação cultural. Na perspectiva de Paulo freire , um dos mais importantes pensadores da educação Brasileira: “A cultura não é só a manifestação artística e intelectual que se expressa no pensamento.A cultura manifesta- se , sobretudo , nos gestos mais simples da vida cotidiana.Cultura é comer de modo diferente, é dar a mão de modo diferente, é relaciona se com o outro de outro modo.A meu ver , a utilização destes três conceitos _ culturas, diferenças, tolerância – é um modo novo de usar velhos conceitos.Cultura para nos, gosto de frisar, são todas as manifestações humanas, inclusive o cotidiano e é no cotidiano que se dá algo essencial: o descobrimento da diferença”.( Faundez Freire, 1985:34) O reconhecimento da legitimidade da bagaggem cultural do estudante não era,para Paulo Freire, uma mera estratégia metodológica.Trazia no seu bojo um modo de lidar com a diferença cultural.Mais do que um respeito distante e asséptico por essa diferença , mais do que a mera tolerância , enfatiza-se a estimular a troca dentre os sujeitos das relações pedagógicas.Objetivava também a autoconfiança desse aluno, sempre em um sentido explicitamente ligado á construção de novas trajetórias coletivas de transformação de realidade. Sem duvida a inclusão das diferenças na escola demanda muitos outros pontos de reflexão alem dos cinco citados anteriormente.Nosso objetivo aqui foi “esquentar” o debate que deverá continuar através da atividades de complementação , da aula teletransmitida e doa textos de apoio que fazem parte dessa aula. Temos um longo caminho pela frente ate percebermos que a escola, a sala de aula , o cotidiano escolar, todos esses espaços refletem a diversidade presente em nossa sociedade .o que não podia mesmo ser diferente. DIDÁTICA DIDÁTICA AULA 5 Em um largo rio, de difícil travessia, havia um barqueiro que atravessava as pessoas de um lado para o outro. Em uma das viagens, iam um advogado e uma professora. Como quem gosta de falar muito, o advogado pergunta ao barqueiro: Companheiro, vc entende de leis? Não. E o advogado compadecido diz: É pena, vc perdeu metade da vida! A professora, muito social, entra na conversa: Seu barqueiro, vc sabe ler e escrever? Também não. Que pena! Vc perdeu metade da vida! Nisso, chega uma onda bastante forte e vira o barco. O canoeiro preocupado pergunta: Vcs sabem nadar? Não! Então é pena. Vcs perderam toda a vida! Reflexão: não há saber mais ou saber menos: “há saberes diferentes”. Multidisciplinaridade: Cada disciplina trata de temas e conceitos próprios. São processos paralelos que não confluem uma mesma direção. Exemplo: Em um mesmo período, o professor de Geografia está trabalhando bacias hidrográficas, o de Biologia está tratando de diferentes espécies vegetais, o de Matemática de progressão geométrica etc. Assim, em um projeto multidisciplinar encontraríamos a presença de diferentes áreas de conhecimento sem, no entanto, manter qualquer articulação entre si. Pluridisciplinaridade: Várias disciplinas trabalham um mesmo tema. Exemplo: Em torno do tema “Meio ambiente”, o professor de Geografia, quando estiver trabalhando bacias hidrográficas, vai destacar a questão da poluição dos rios; o professor de Biologia vai discutir desmatamento; o de Matemática vai formular problemas matemáticos usando como tema as questões de meio ambiente. Em um projeto de caráter pluridisciplinar, haveria articulação entre os saberes, ainda que em nível temático, mas não necessariamente conceitual. Interdisciplinaridade : Várias disciplinas procuram identidades conceituais. Exemplo: os professores de Geografia e de Biologia percebem que o conceito de ecossistema é um conceito chave para as duas disciplinas. Então, eles resolvem trabalhar juntos, articulando as abordagens das duas disciplinas para esse conceito. Na interdisciplinaridade, a integração alcança o nível conceitual. Transdisciplinaridade : Surge uma nova área de estudo/novos conceitos. Exemplo: a Ecologia como conceito e campo de estudos. Em um projeto de caráter transdisciplinar, a integração se faria em tal nível que permitiria o surgimento de um novo tipo de saber. Contudo, não basta integrar conceitos, é preciso colocar esses conceitos em uma determinada realidade, contextualizá-los para que ganhem vida. Afinal, quanto mais os saberes escolares estiverem articulados às realidades de vida, às experiências concretas dos alunos, mais significado terão para eles. Ao construir significados para os saberes escolares, o professor envolve, mobiliza afetivamente seus alunos. Mais que isso, provoca-os a ressignificar sua realidade. DIDATICA AULA 6 Desde os fins do século XIX, os currículos escolares expressam o conjunto de saberes científicos produzidos no âmbito das disciplinas universitárias (teoria tradicional). A disciplinarização do conhecimento é a expressão da disciplinarização do mundo, efeito da divisão industrial do trabalho que exige altos níveis de segmentação/especialização. Corresponde também ao estatuto de cientificidade proposto pelo paradigma positivista, valorizando a delimitação precisa do objeto, o que reforça a especialização dos saberes. O currículo em torno de áreas de conhecimento Na contramão da territorialização do conhecimento, procura-se reduzir as fronteiras que demarcam os campos específicos em cada área do saber. A reunião de conhecimentos afins em campos mais abrangentes permite reconhecer aproximações conceituais, mas não muda substancialmente a forma disciplinar de organização do currículo. Esse modelo tem sua expressão mesmo nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que reuniram as disciplinas nas áreas de Linguagens e Códigos, Ciências Humanas e Sociais, Ciência Naturais... O currículo a partir de temas geradores O trabalho com temas geradores envolve tratamento multidisciplinar para questões/assuntos da atualidade, geralmente ancorados nos interesses de alunos e professores. 3 DIDATICA AULA 7 Tecnologias e Técnicas de Ensino Ao final desta aula, você será capaz de: conhecer os processos históricos de constituiçãodo tecnicismo em educação; compreender o lugar da dimensão técnica nos processos educacionais; identificar os princípios metodológicos que contribuem para a eficácia de uma aula. Antes de um professor pensar em como dar uma boa aula, ele precisa ter clareza sobre suas ideias acerca da educação, do papel da escola, das relações que ela abriga, dos saberes que nela se entrechocam. Afinal, o método é um caminho para se chegar a um determinado lugar. A escolha da metodologia de trabalho e das técnicas/estratégias a serem utilizadas é orientada pelos princípios da aprendizagem e deve considerar vários fatores. A preparação da “aula” Toda aula precisa ser planejada. Mesmo que situações inesperadas ponham por terra todo o nosso plano de trabalho, definir objetivos e prever as estratégias mais adequadas para alcançá-los nos permite ter mais chances de sucesso. DIDATICA AULA 8 Planejamento Educacional Ao final desta aula, você será capaz de: analisar o papel do planejamento na organização do trabalho pedagógico; identificar as diferentes etapas e elementos do planejamento educacional; analisar as características do planejamento participativo; analisar as vantagens da elaboração participativa do Projeto Político Pedagógico. A reflexão, o pensar em torno da existência, é uma experiência essencialmente humana. Imaginar o futuro, antever o próximo passo, pensar antes de agir, é uma atividade que expressa a racionalidade humana. Às vezes, é um processo simples e informal, não chega a envolver muitas ações, processos e documentação. Às vezes, é um processo complexo e formalizado, envolve pesquisas, cálculos, registros e muita discussão. Porém, se a ação educativa é entendida como processo social, complexo, dialético, de produção de sentido/conhecimento com a finalidade última de transformar a realidade, então qual o papel do planejamento? A ação educativa, embora guarde uma dimensão subjetiva e pessoal, se realiza no plano coletivo, mobiliza o interesse comum. Portanto, o planejamento em educação deve necessariamente ser resultado da participação de toda a comunidade envolvida. O planejamento participativo não implica em reunir todo mundo para planejar tudo, o tempo todo. Significa organizar as formas de participação e instâncias de tomadas de decisões. Diferentes instâncias envolvem diferentes níveis/formas de participação dos agentes envolvidos no projeto educativo que se deseja planejar, seja em nível governamental, na escola ou em outros ambientes educativos. 2 3 4 DIDATICA AULA 9 O Plano de Ensino Ao final desta aula, você será capaz de: identificar os diferentes elementos do plano de aula; analisar as relações entre objetivos, conteúdos e estratégias na elaboração de um plano de aula; analisar os critérios para seleção de conteúdos e estratégias na elaboração de um plano de aula; elaborar um plano de aula considerando a relação entre meios e fins. A aula é o lugar de concretização do ensino. Lugar do encontro e do conflito, onde se expressam os sujeitos no processo ensino-aprendizagem. Embora todos participem da construção desse momento, a aula é uma experiência conduzida pelo professor, é a expressão do seu projeto de trabalho. Geralmente, o professor se apóia em alguns modelos confiáveis para conduzir a sua aula: os modelos de aula que ele vivenciou como aluno ou que experimentou como professor e, que no seu julgamento, “deram certo”. Porém, cada aula é uma experiência nova, que impõe desafios e oportunidades próprias. Os conteúdos podem ser organizados em áreas de conhecimento, em torno de temas geradores ou ainda de outras formas de acordo com o modelo curricular adotado. Algumas questões parecem problemáticas quando falamos da seleção de conteúdos e devem ser objeto de reflexão dos professores quando estiverem elaborando seus planos. DIDATICA AULA 10 A Avaliação Ao final desta aula, você será capaz de: analisar porque/como a avaliação é um importante instrumento de reflexão da prática pedagógica; identificar os diferentes tipos e instrumentos de avaliação; demonstrar as vantagens/os valores da avaliação mediadora Você já notou como o ato de avaliar está presente em todos os momentos de nossa vida? A todo instante estamos fazendo julgamentos e escolhas, tomando decisões. Realizamos, mesmo sem perceber, julgamentos provisórios das situações que experimentamos e a partir deles fazemos escolhas. Desse modo, a avaliação escolar tem sido uma experiência problemática, muitas vezes, descompromissada com a renovação do processo pedagógico e reduzida a medidas de desempenho. Acabando por expressar o caráter homogeneizante, opressivo e excludente da escola, transformando em vítimas aqueles que esta mais deveria proteger, orientar, promover. Na prática docente, a desconsideração aos diferentes ritmos (modos de conhecer e aprender), a concepção do erro como obstáculo a aprendizagem, o uso exclusivo de testes/exames, o abuso de poder, acabam por reforçar desigualdades de origem e a construir um regime de exclusão e fracasso dos “mais pobres”. Porém, quem não aceita a desigualdade e o fracasso escolar se pergunta necessariamente: como fazer da avaliação um instrumento de formação dos sujeitos e de transformação da realidade escolar? Considerar os fatores previstos e imprevistos, que atuaram para o sucesso ou insucesso das ações do projeto e de nossa atuação diante deles, permite compreender melhor os processos envolvidos no projeto. Enfim, trazer à tona toda a experiência vivida e pensar sobre ela. Há ainda que se considerar se e como esses processos promoveram ou não a formação integral e cidadã de todos neles envolvidos. É preciso fazer a avaliação das aprendizagens. Avaliar os conteúdos, as atitudes, as práticas, os modos de conviver, o desempenho. Considerar de que forma as experiências vividas permitiram o desenvolvimento do educando. Para isso, exercícios, portfólios, autoavaliação, podem ser os instrumentos. A avaliação deve ser tomada como processo continuamente renovado, pois o desenvolvimento do projeto pedagógico só pode ser validado se, de tempos em tempos, o diagnóstico aponta o progresso e as dificuldades que o projeto alcança/enfrenta. A perspectiva inclusiva dos processos avaliativos não apenas amplia a análise da experiência e dos resultados, mas permite a formação de uma nova consciência, uma consciência crítica. A prática docente crítica envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer. Deve dinamizar oportunidades de reflexão e ação sobre a/na experiência prática, que permita a tomada de decisões em torno de um projeto futuro. O saber que a prática docente espontânea ou quase espontânea produz é ingênuo. “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”.(FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. SP: Paz e Terra, 1996.). Descrever a avaliação como oscilando entre duas lógicas é evidentemente simplificador. A realidade educacional é por demais complexa e envolve diferentes movimentos, hibridizando tendências, reafirmando contradições. Nesse sentido, é preciso pensar a avaliação como instrumento de mediação entre a realidade vivida e a desejada, como parte de um movimento mais amplo de transformação da prática pedagógica, do projeto de escola que se quer construir, do mundo que queremos viver.
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