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TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 1 1) INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL 1.1) NOÇÕES GERAIS Direito Natural: É o ramo do direito que surge juntamente com o homem. Aparece naturalmente para regular a vida humana em sociedade, de acordo com regras da natureza. Portanto, é uma norma que decorre da natureza, não é criada pelos homens e por isso é universal, imutável e vale em toda parte. Direito Positivo: Trata-se de uma norma legal, emanada pelo Estado (Poder Público), ou seja, é o direito posto pelo Estado, consistindo em leis (Códigos, Tratados Internacionais, Leis, Decretos, Regulamentos, dentre outras) em vigor em determinado país. Poderá ser dividido em direito objetivo e direito subjetivo. Direito Objetivo: É o conjunto de normas que o Estado mantém em vigor. É aquele proclamado como ordenamento jurídico e, portanto, fora do sujeito de direitos. Essas normas vêm através de sua fonte formal: a lei. O direito objetivo constitui uma entidade objetiva frente aos sujeitos de direitos, que se regem segundo ele. DIREITO ESCRITO. Direito Subjetivo: É o atributo que a pessoa possui, poder ou domínio da vontade do homem, juridicamente protegida, ou seja, é a faculdade ou possibilidade que tem uma pessoa de fazer prevalecer em juízo a sua vontade, consubstanciada num interesse. Direito Público: É o ramo do Direito que tem o Estado como o sujeito principal de uma relação jurídica, em regra, disciplina interesses gerais da coletividade, caracterizando-se pela imperatividade de suas normas, não podendo ser afastadas pelos particulares. Direito Constitucional Direito Penal Direito Tributário Direito Administrativo Direito processual civil e penal Direito Internacional Público Direito Internacional Privado Direito Privado: É o ramo do direito que regulamenta as relações jurídicas entre os particulares, seu núcleo é de interesse individual. Direito Civil Direito Empresarial Direito do Trabalho Nas relações de Direito Público sobressalta uma relação de subordinação porque a lei confere ao poder público uma certa superioridade jurídica sobre os particulares, um número de atribuições superiores em relação aos direitos individuais. Na relação de Direito Privado prepondera uma relação de coordenação entre os sujeitos que são iguais. Importância do Direito Civil - O direito civil compreende as relações entre os indivíduos às relações entre estes e as associações particulares; as destas entre si, as entre os indivíduos ou associações particulares e as associações públicas, quando sujeitos de direitos e obrigações, do mesmo modo que pode ser o indivíduo. TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 2 Objetivo: Disciplinar os direitos e deveres de todas as pessoas, de modo geral e não em condições especiais. Objeto: É a tutela da personalidade humana. Disciplinando a personalidade jurídica, a família, o patrimônio e a sua transmissão. Relevância Jurídica e Social – Representa a consolidação das mudanças sociais e legislativas sugeridas nas últimas nove décadas, incorporando outros avanços na técnica jurídica. Eis aqui um quadro sinótico da Parte Geral: 1.2) Princípios gerais do Direito Civil: “Os princípios são ‘verdades fundantes’ de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da praxis”. (REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 21. Ed. São Paulo: Saraiva, 1977. v.60, p. 505). “Princípios gerais de direito. São regras de conduta que norteiam o juiz na interpretação da norma, do ato ou negócio jurídico. Os princípios gerais de direito não se encontram positivados no sistema normativo. São regras estáticas que carecem de concreção. Têm como função principal auxiliar o juiz no preenchimento das lacunas” (NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil anotado. 2. Ed. São Paulo: RT. 2003. p. 141) TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 3 Eticidade - Fundamenta-se no valor da pessoa humana, fonte dos demais valores, prioriza a equidade, a boa-fé, a justa causa e demais critérios. Art. 422 – “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. Nota-se no princípio da eticidade, três funções para a “boa-fé objetiva” que a doutrina traz, além de acharmos no texto de lei. 1 – Função interpretativa da boa-fé objetiva: O art. 113 do CC diz que: “os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”. Sendo assim, todos os negócios jurídicos devem ser vistos com base na boa-fé. 2 – Função de controle da boa-fé objetiva: “Ademais, o art. 187 determina qual a sanção para a pessoa que contraria a boa-fé no exercício de um direito: cometerá abuso de direito assemelhado a ilícito” (TARTUCE, 2015). 3 – Função de integração da boa-fé objetiva: “Ato contínuo, o art. 422 valoriza a eticidade, prevendo que a boa-fé deve integrar a conclusão e a execução do contrato” (TARTUCE, 2015) Sociabilidade - Prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, reflete a PUBLICIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL. É a superação do caráter egoísta e individualista do antigo código, sendo que todas as categorias civis têm sua função social. “Os princípios gerais devem assim rilhar o aplicador do direito na busca da justiça, estando sempre baseado na estrutura da sociedade.” (TARTUCE, 2015). Art. 421 – “A liberdade de contratar será exercida nos limites da função social do contrato”. De maneira sucinta, Flávio Tartuce continua a explanar a função social do Direito Civil e diz: “Trata-se de um princípio contratual de ordem pública, pelo qual o contrato deve ser, necessariamente, visualizado e interpretado de acordo com o contexto da sociedade. (TARTUCE, 2007) Justiça Social – Dar a cada um o que é seu, mas o essencial é que seja utilizado a proporcionalidade e a razoabilidade no caso concreto, agindo assim com justiça social. Os membros da sociedade dão a esta, sua contribuição para o bem comum, observada uma igualdade proporcional. Operabilidade - amplia os poderes dos magistrados de modo que se faça cumprir a eticidade e a sociabilidade – representa a abertura do sistema jurídico. Há dois sentidos deste princípio, o primeiro é o da simplicidade (facilitação das categorias privadas) e o da efetividade (sistema de cláusulas gerais). Art. 112 – “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”. O princípio da simplicidade está no Código Civil, uma vez que este tem a tendência de “facilitar a interpretação e a aplicação dos institutos nele previstos” (TARTUCE, 2015). O princípio da efetividade foi seguido pela adoção do sistema de cláusulas gerais. Há na atual codificação um sistema aberto em virtude da linguagem que emprega, permitindo com que haja constantes incorporações e soluções de novos conflitos, seja pela jurisprudência, ou seja por uma atividade legislativa. TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 4 “Estas janelas (...) são constituídas pelas cláusulas gerais, (...) que conforma o meio hábil para permitir o ingresso (...), de princípios valorativos ainda não expressos legislativamente (...), viabilizando a sua sistematizaçãoe permanente ressistematização no ordenamento positivo. Nas cláusulas gerais a formulação da hipótese legal é procedida mediante o emprego de conceitos cujos termos têm significados intencionalmente vago e aberto (...), permitindo, (...), a incorporação de princípios e máximas de conduta (...) do que resulta, mediante a atividade de concreção destes princípios, a constante formulação de novas normas”. (MARTINS-COSTA, Judith. O novo Código Civil brasileiro: em busca da “ética da situação”. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 118.) 1.3) CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL Não significa conferir à Constituição a superioridade hierárquica ao ordenamento jurídico, mas sobretudo, dar uma releitura dos velhos institutos e conceitos do âmbito privado, visando à concretização dos valores e preceitos constitucionais. É uma análise do direito privado com base nos fundamentos constitucionais estabelecidos. É a aplicação dos mandamentos constitucionais no direito privado. “O direito é um sistema lógico de normas, valores e princípios que regem a vida social, que interagem entre si de tal sorte que propicie segurança – em sentido lato – para os homens e mulheres que compõem uma sociedade. O Direito Civil Constitucional, portanto, está baseado em uma visão unitária do ordenamento jurídico.” (TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. v. único. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método. 2015. p.52) “É imprescindível e urgente uma releitura do Código Civil e das leis especiais à luz da Constituição” Deste modo, “reconhecendo a existência dos mencionados universos legislativos setoriais, é de se buscar a unidade do sistema, deslocando para a tábua axiológica da Constituição da República o ponto de referência antes localizado no Código Civil” (TEPEDINO, Gustavo. Premissas metodológicas para a constitucionalização do direito civil. Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 1 e p.13) “O Direito Civil Constitucional nada mais é do que um novo caminho metodológico, que procura analisar os institutos privados a partir da Constituição, e, eventualmente, os mecanismos constitucionais a partir do Código Civil e da legislação infraconstitucional, em uma análise de mão dupla.” (TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. v. único. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método. 2015. p.54) 1.4) PUBLICIZAÇÃO Possibilidade de intervenção do Estado no direito privado, principalmente a legislação infraconstitucional. Capacidade do Estado intervir numa situação jurídica privada e dar uma resposta – jurisdição estatal. TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 5 1.5) EVOLUÇÕES PROMOVIDAS PELO CÓDIGO CIVIL UNIÃO ESTÁVEL – não há mais prazo para ser considerado união estável. MAIORIDADE CIVIL – 18 ANOS Absolutamente incapazes: Os que necessitavam de representação (abaixo de 16 anos de idade). Necessita totalmente de seus responsáveis. Relativamente incapazes: Assistidos pelo instituto da assistência (acima de 18 anos até os 21 anos). Maioridade Civil: Capaz civilmente pelos seus atos, não necessitando de seus responsáveis para representa-lo ou assisti-lo. REGIME DE BENS – Pode ser alterado por acordo entre os cônjuges e se somente não houver dano a um terceiro. O regime oficial é a comunhão parcial de bens, diferentemente do antigo Código que trazia como regime oficial a comunhão universal de bens. EXAME DE DNA – Para comprovação de paternidade a recusa implica em reconhecimento da filiação. FILHOS NASCIDOS FORA DO CASAMENTO – Igualdade. TESTAMENTO – Não precisa mais ser feito à mão pelo testador. SUCESSÃO – Cônjuge passa a ser herdeiro necessário. Direito Civil contemporâneo é marcado por: Pela abertura do sistema jurídico – Estado de Direito e não apenas um Estado Legal Observância dos princípios constitucionais – Constitucionalização do Direito Civil. O indivíduo passa a ser o centro das relações jurídicas em detrimento do patrimônio. 2) LEI DE INTRODUÇÃO AO DIREITO BRASILEIRO – LINDB 2.1) NOÇÕES GERAIS É uma "lei sobre a lei" ou “lex legum”. Foi editada em 1942, e está em vigor até hoje. Seu objetivo foi orientar a aplicação do Código Civil, preencher lacunas e dirimir questões que foram surgindo entre a edição do primeiro Código Civil (em 1916) e a edição da LICC. Segundo Maria Helena Diniz, a LICC contém normas sobre normas, assinalando lhes a maneira de aplicação e entendimento, predeterminando as fontes do direito positivo, indicando-lhes as dimensões espaço temporais. Na mesma linha de raciocínio, Flávio Tartuce doutrina da seguinte maneira: “Trata-se de uma norma de sobredireito, ou seja, de uma norma jurídica que visa a regulamentar outras normas (leis sobre leis ou lex legum)” (TARTUCE, 2015). 2.2) VALIDADES DA NORMA JURÍDICA A validade da norma pode ser vista por três aspectos 1. Técnico – Formal (Vigência): Equivale a vigência da norma, ligada a obrigatoriedade. A norma jurídica tem vigência quando pode ser executada compulsoriamente pelo fato de ter sido TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 6 elaborada com observância aos requisitos essenciais exigidos: a) Emanada de órgão competente; b) Obediência aos tramites legais; c) Cuja a matéria seja de competência do órgão elaborador. 2. Social: É a eficácia da norma jurídica, que vem a ser o reconhecimento e vivência do Direito pela sociedade, “é a regra jurídica enquanto monumento da conduta humana” (Miguel Reale). Desta forma, quando as normas jurídicas são acatadas nas relações intersubjetivas e aplicadas pelas autoridades administrativas ou judiciárias, há eficácia. 3. Ético: Fundamento da norma, toda lei precisa de uma valoração. Por que existiu essa lei? Em síntese: Podemos dizer que o valor que dá a razão última da obrigatoriedade da norma. Ela obriga porque contém preceito capaz de realizar o valor; em última análise, esta é a fonte primordial da obrigatoriedade de uma regra de direito (imperatividade em termos axiológicos). 2.3) PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Os princípios norteiam uma multiplicidade de situações. O princípio da presunção de inocência, por exemplo, cuida da forma de tratamento do acusado bem como de uma série de regras probatórias (o ônus da prova cabe a quem faz a alegação, a responsabilidade do acusado só pode ser comprovada constitucional, legal e judicialmente etc.). Os princípios desempenham funções estratégicas – Fundamentadoras, interpretativa e supletiva ou integradora. Fundamentadora – por força da função fundamentadora dos princípios, outras normas jurídicas neles encontram o seu fundamento de validade. Ex.: O artigo 261 do CPP (que assegura a necessidade de defensor ao acusado) tem por fundamento os princípios constitucionais da ampla defesa, do contraditório, da igualdade etc. Interpretativa e supletiva ou integradora - Os princípios, não só orientam a interpretação de todo o ordenamento jurídico, mas também cumprem o papel de suprir eventual lacuna do sistema (função supletiva ou integradora). No momento da decisão o juiz pode valer-se da interpretação extensiva, da aplicação analógica bem como do suplemento dos princípios gerais de direito (CPP, art. 3º). No caso do conflito entre princípios (ou colisão entre princípios, nos termos de Alexy), diversamente das regras, este se dá no plano do seu "peso" valorativo que entre eles – os princípios colidentes - deverá ser PONDERADO E NÃO NO PLANO DA VALIDADE, como no caso do conflito entre regras. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. 2.4) VALIDADEDO ORDENAMENTO JURÍDICO Estrutura escalonada de Kelsen: O primeiro doutrinador a lecionar que o sistema jurídico era composto por normas superiores e inferiores interligadas e estruturadas entre si foi Merkel. Porém, a estrutura hierárquica das normas jurídicas ganhou ênfase através de Hans Kelsen. TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 7 2.5) VIGÊNCIA DAS NORMAS – ART. 1º Diferença entre vigência e vigor. Vigência – prazo em que a lei é obrigatória. Duração da lei. Vigor – É a obrigatoriedade da lei. Força vinculante. As normas possuem um ciclo vital (publicada, vacatio legis, vigência e norma nova revogadora.) A norma nasce com a sua promulgação (ato que se dá a existência da norma). Mas somente passa a vigorar após sua publicação e seu período de vacatio legis. “LINDB, art. 1º - Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. (...)”. Logo no caput do art. 1º, vem estabelecido um período de vacatio caso o legislador seja omisso. A Lei Complementar nº 95/1998, traz acerca da contagem dos prazos: Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. § 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. A doutrina entende que, independentemente se a data final cair em um feriado ou fim de semana, a norma entra em vigor mesmo assim. Isso diferencia a contagem de prazo da lei e a contagem de prazo processual. 2.6) PRINCÍPIOS QUE REGEM A VIGÊNCIA: 2.6.1) OBRIGATORIEDADE (ART. 3º, LINDB) Obriga a todos que se destinam, exercendo assim, sua função vinculativa, visa garantir a eficácia geral da norma jurídica (ignorantia legis neminem excusat) – art. 3º, LINDB – “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.” A doutrina majoritária não vê tal princípio de forma absoluta, como diz Zeno Veloso: “Não se deve concluir que o aludido art. 3.º da LICC está expressando uma presunção de que todos conhecem as leis. Quem acha isto está conferindo a pecha de inepto ou insensato ao legislador. E ele não é estúpido. Num País em que há um excesso legislativo, uma superprodução de leis, que a todos atormenta, assombra e confunde – sem contar o número enormíssimo de medidas provisórias – presumir que todas as leis são conhecidas por todo mundo agrediria a realidade” (VELOSO, Zeno. Comentários a Lei de Introdução ao Código Civil. 2ª ed. Belém: Unama, 2006. p. 69) Sendo assim, ao entender da Doutrina (Teoria da Necessidade Social) - a lei é obrigatória e deve ser cumprida por todos, não por motivo de um conhecimento presumido ou ficto, mas por elevadas razões de interesse público, para que seja possível a convivência social. TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 8 2.6.2) CONTINUIDADE (ART. 2º, LINDB) A lei vigente continua ou permanece em vigor até que outra a modifique ou revogue (exceto a temporária). Ou seja, a partir da sua entrada em vigor, tem eficácia continua, até que outra a modifique ou revogue. art. 2º, LINDB: “Não se destinando a vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue § 1º - A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.”. Ao estudar o art. 2º da LINDB, é possível chegar a uma conclusão de que o modo mais comum para que uma norma jurídica perca sua eficácia é revoga-la, o que pode ocorrer de duas formas, classificadas quanto a sua extensão, como explica a Doutrina: “Revogação total ou ab-rogação – ocorre quando se torna sem efeito uma norma de forma integral, com a supressão total do seu texto por uma norma emergente. (...). Revogação parcial ou derrogação – uma lei nova torna sem efeito parte de uma lei anterior.” (TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. v. único. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método. 2015. p. 06 e 07) No que tange ao modo, as duas modalidades de revogação analisadas podem ser assim classificadas segundo a doutrina: “Revogação expressa (ou por via direta) – situação em que a lei nova taxativamente declara revogada a lei anterior ou aponta os dispositivos que pretende retirar. Conforme previsão do art. 9.º da Lei Complementar 95/1998, “a cláusula de revogação deverá enumerar expressamente a lei ou disposições revogadas”. (...) Revogação tácita (ou por via oblíqua) – situação em que a lei posterior é incompatível com a anterior, não havendo previsão expressa no texto a respeito da sua revogação.” (TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. v. único. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método. 2015. p. 07) Muito bom frisar que o art. 2º, § 3º - “§ 3º - Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.” – afasta a possibilidade de lei revogada anteriormente repristinar, salvo em disposição expressa em lei em sentido contrário. O “efeito repristinatório é aquele pelo qual uma norma revogada volta a valer no caso de revogação da sua revogadora” (TARTUCE, 2015). 2.6.3) IRRETROATIVIDADE (ART. 6º, LINDB) A lei vigente não alcança fatos antes de sua entrada em vigor; (direito penal tem exceção). Como diz Flávio Tartuce: “A norma jurídica é criada para valer ao futuro, não ao passado. Entretanto, eventualmente, pode uma determinada norma atingir também os fatos pretéritos, desde que sejam respeitados os parâmetros que constam da Lei de Introdução e da Constituição Federal. Em TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 9 síntese, ordinariamente, a irretroatividade é a regra, e a retroatividade, a exceção. Para que a retroatividade seja possível, como primeiro requisito, deve estar prevista em lei.” (TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. v. único. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método. 2015. p. 25) O art. 6º da LINDB diz que: “Art. 6º - A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.” E também busca trazer um conceito para as categorias descritas. “Direito adquirido: é o direito material ou imaterial incorporado no patrimônio de uma pessoa natural, jurídica ou ente despersonalizado. Pela previsão do § 2.º do art. 6.º da Lei de Introdução, “consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ela, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha tempo prefixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem”. Como exemplo pode ser citado um benefício previdenciário desfrutado por alguém. Ato jurídico perfeito: é a manifestação de vontade lícita, emanada por quem esteja em livre disposição, e aperfeiçoada. De acordo com o que consta do texto legal (art. 6.º, § 1.º, Lei de Introdução), o ato jurídico perfeito é aquele consumado de acordo com lei vigente ao tempo em que se efetuou. Exemplo: um contrato anterior já celebrado e que esteja gerando efeitos. Coisa julgada: é a decisão judicial prolatada, da qual não cabe mais recurso (art. 6.º, § 3.º, Lei de Introdução). A partir desses conceitos, pode-se afirmar que o direito adquirido é o mais amplo de todos,englobando os demais, uma vez que tanto no ato jurídico perfeito quanto na coisa julgada existiriam direitos dessa natureza, já consolidados.” (TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. v. único. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método. 2015. p. 25 e 26) 2.6.4) PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE (ART. 2º, §2º, LINDB) Lei especial não revoga e tampouco modifica lei geral – art. 2º, §2º, LINDB “A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior” 2.7) INTERPRETAÇÃO DE NORMAS (ART. 5º LINDB) GRAMATICAL: Significado das palavras; faz análise sintática e semântica do texto; LÓGICA: Melhor sentido da norma para o sujeito que esta interpretando; SISTEMÁTICO: Interpretação que verifica a norma dentro do contexto normativo; HISTÓRICO: Indaga sobre o momento e as condições, os aspectos sociais, econômicos e políticos da elaboração da norma; TELEOLÓGICA: Leva-se em conta o fim social para o qual a norma foi criada AXIOLÓGICA: Leva-se em conta os valores objetivos do bem comum – art. 5º LINDB Extensão: (Pesquisar depois) DECLARATIVA; EXTENSIVA OU AMPLIATIVA – Vai estender/ampliar o rol de hipóteses na interpretação de tal art. RESTRITIVA – Considera-se apenas aquilo que está no art. TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 10 2.8) FONTES DO DIREITO – Pág. 11 à 24 (Tartuce) O Ordenamento Jurídico em si não possui lacunas, porém, as leis que são sua fonte primária possuem. Quando a lei trouxer lacunas, utilizará então as fontes do direito: analogia; costumes; princípios gerais do direito e a equidade ANALOGIA Caso não haja nenhuma norma prevista para aquele caso concreto, levando em conta que a lei não consegue sozinha acompanhar a evolução da sociedade, utilizara uma norma próxima (que não é para aquele caso, mas que pode encaixar-se) para resolver o caso. Sendo assim, havendo a omissão da norma, deve o aplicador do direito buscar solução no próprio ordenamento jurídico, junto a outra norma. Pode usar uma norma (Analogia legal) ou pode usar um conjunto de normas (Analogia jurídica) para resolver o caso concreto. COSTUMES Os costumes são as práticas e usos reiterados com conteúdo lícitos e relevância jurídica. Em outras palavras, são atos praticados de maneira continua e que são vistos pela sociedade como correto e obrigatório. Dividem-se em três: 1. Costumes segundo a lei (secundum legem) – Ocorrem quando o próprio texto legal traz a referência e o uso de costumes para aquele determinado caso concreto. 2. Costumes na falta de lei (praeter legem) – Quando a lei for omissa, aplica-se esse costume “integrativo”, sanando assim qualquer possível lacuna no ordenamento. 3. Costumes contra e lei (contra legem) – Incidem quando as aplicações dos costumes contrariam a lei. O Código Civil de 2002 não admite a aplicação de tal costume. O entendimento minoritário diz que quando houver o desuso de uma lei, ai sim poderá utilizar o costume contra legem. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO Francisco Amaral traz um conceito acerca dos princípios: “Os princípios jurídicos são pensamentos diretores de uma regulamentação jurídica. São critérios para a ação e para a constituição de normas e modelos jurídicos. Como diretrizes gerais e básicas, fundamentam e dão unidade a um sistema ou a uma instituição. O direito, como sistema, seria assim um conjunto ordenado segundo princípios” (AMARAL, Francisco. Direito Civil. Introdução. 5ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 92) Nas páginas 2 e 3 deste resumo, define os três princípios fundamentais do Direito Civil. EQUIDADE A equidade pode ser descrita como o uso do bom senso e da justiça no caso concreto, trazendo uma interpretação razoável da lei para tal caso. Pablo Stolze traz uma interessante definição: “O julgamento por equidade (e não com equidade) é tido em casos excepcionais, como fonte do direito, quando a própria lei atribui ao juiz a possibilidade de julgar conforme os seus ditames” (GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de Direito Civil. Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003. v I, p. 25) TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 11 3) DAS PESSOAS NATURAIS – Pág. 66 (Tartuce) Conceito: Pessoa são os titulares de direitos e obrigações, aqueles entes a quem se atribui personalidade jurídica; Divide-se em pessoas: naturais e jurídicas; As Naturais são as de existência visível; o ser humano com vida; As jurídicas de existência ideal; Criada pela mente humana para realizar um fim social; Empresas por exemplo. 3.1) PERSONALIDADE JURÍDICA Para o direito a personalidade jurídica é a aptidão genérica de contrair direitos e obrigações; (Elpídio, p. 35). É o reconhecimento jurídico da existência de um ente que pode ser titular de direitos e obrigações; Flávio Tartuce define como: “a soma de caracteres da pessoa, ou seja, aquilo que ela é para si e para a sociedade (...) a capacidade é a medida da personalidade” (2015, p. 67) 3.2) CAPACIDADE Art. 1º CC – “Toda a pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil” A capacidade aqui descrita é a capacidade de gozo, que é aquela que todos têm sem distinção. Ao nascer com vida, o indivíduo já adquire tal capacidade. “Capacidade de direito ou de gozo é aquela para ser sujeito de direitos e deveres na ordem privada, e que todas as pessoas têm sem distinção. Em suma, em havendo pessoa, está presente tal capacidade, não importando questões formais como ausência de certidão de nascimento ou de documentos” (TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. v. único. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método. 2015. p. 66) Há também a capacidade de fato que é aquela necessária para exercer direitos, e que nem todos possuem. Os incapazes (que não possuem capacidade de fato) são aqueles descritos nos arts. 3º e 4º do CC. Sendo assim, para que se tenha uma capacidade civil plena deve haver a junção das duas capacidades, deste modo: CAPACIDADE DE DIREITO (GOZO) + CAPACIDADE DE FATO (EXERCÍCIO) = CAPACIDADE CIVIL PLENA. 3.3) INÍCIO DA PERSONALIDADE JURÍDICA CC - Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Ou seja, o início da personalidade jurídica dá-se com o nascimento com vida. Há três tipos de teorias para o início da personalidade jurídica: Natalista; Concepcionista; Personalidade Condicional. Sendo que a teoria adotada no Brasil é a Teoria Natalista. Nascituro – é aquele que está no ventre materno, ainda não nasceu mas está para nascer. É o já concebido mas ainda não nascido; Natureza jurídica: não é pessoa – é sujeito de Direito despersonificado. Tem expectativas de direitos. TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 12 TEORIA NATALISTA Adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, essa Teoria traz que para haver o início da personalidade jurídica, deve haver o nascimento com vida. Porém, a mesma teoria nega ao nascituro qualquer tipo de Direito, entrando em conflito com alguns dispositivos do próprio Código Civil. Com isso, é nítida a evolução do Direito e uma possível superação desta teoria, porém em regra, é esta a teoria adotada pelo Direito brasileiro. TEORIA CONCEPCIONISTA Tal teoria traz que o nascituro já é pessoa com direitos resguardados por lei, ou seja, já é pessoa humana com personalidade jurídica desde sua concepção. “Consolidação das Leis Civis, art. 1º - As pessoas consideram-se comonascidas apenas formadas no ventre materno; a Lei lhes conserva seus direitos de sucessão ao tempo de nascimento” Tal teoria vem sendo adotada pelos juristas contemporâneos brasileiros e até mesmo pelo judiciário, como pode ser visto nos julgamentos recentes do STJ. TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONADA Os direitos existem em condição suspensiva – considera-se a existência desde a concepção, com a condição de que a pessoa nasça com vida. 3.4) INCAPAZES Incapacidade é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. Divide-se em incapacidade absoluta (art. 3º CC) e incapacidade relativa (art. 4º CC) INCAPACIDADE ABSOLUTA Na incapacidade absoluta há proibição total do exercício do direito pelo incapaz, acarretando, caso seja violado o preceito, a nulidade do ato. O Incapaz tem o direito mas não poderá exerce-lo direta e pessoalmente, deve ser representado (pais, tutores ou curadores). I. Menores de 16 anos – Critério meramente etário, “entendendo assim o legislador que, devido a essa idade, a pessoa ainda não atingiu o discernimento para distinguir o que pode ou não pode fazer na ordem privada” (TARTUCE, 2015, p. 78) II. Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos – Tais pessoas não possuem condições suficientes para administrar bens ou praticar atos jurídicos quaisquer. É necessário com que haja o processo de interdição. III. Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade - Não se pode estender ao deficiente físico; se estes se adaptam ao trabalho e a vida social. TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 13 INCAPACIDADE RELATIVA Na incapacidade relativa alguns atos da vida jurídica podem ser exercidos pelos relativamente incapazes mesmo sem a assistência, necessitando apenas de autorização de seus responsáveis. Porém, a maioria predominante dos atos devem ser assistidos (pais, tutores e curadores), e caso isso não ocorra poderá haver nulidade relativa dos atos. I. Maiores de 16 e menores de 18 anos (menores púberes) – Critério meramente etário. II. Os ébrios habituais (aqueles que têm a embriaguez como hábito, no sentido de serem alcoólatras), os toxicômanos (viciados em tóxicos), e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido – Deve haver um prejuízo com relação a sua capacidade, devido ao fato destas características. III. Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo – abrange os portadores de síndrome de Down e de outras anomalias psíquicas que apresentem sinais de desenvolvimento mental incompleto. IV. Os pródigos – São aqueles que dissipam de forma desordenada e desregrada os seus bens ou seu patrimônio, realizando gastos desnecessários e excessivos. Não podem: alienar, emprestar, dar quitação; transigir; hipotecar; demandar; art.1.782 CC Pode: mera administração, os atos que não envolvam o patrimônio; podem casar mas não fazer pacto antenupcial; LIMITES DA CURATELA: SURDO-MUDO – a princípio é capaz, apenas se não puder exprimir sua vontade ou tiver discernimento reduzido ou incompleto que será incapaz; Os Índios ou Silvícolas – absolutamente incapazes – Lei 6.001/1973; São ou devem ser representados pela FUNAI; O ato praticado por ele considera-se válido se não trouxer prejuízo ao índio e ele demonstrar consciência e conhecimento do ato praticado; 3.5) PROCESSO DE INTERDIÇÃO O processo de interdição e curatela são institutos de proteção ao incapaz e seu patrimônio. O processo de interdição objetiva verificar e declarar se determinada pessoa tem plena capacidade para prover seus próprios negócios ou não; Procedimento Especial de jurisdição voluntária; Exame pericial é obrigatório CPC 1.181 e 1.183 do CPC; 3.6) EMANCIPAÇÃO É o ato jurídico que antecipa os efeitos da maioridade civil, ou seja, de sua capacidade civil plena, para um sujeito com no mínimo dezesseis anos de idade. Decorre de dois modos: Voluntária: Dada pelos pais, por escritura pública, após os 16 anos. Judicial: No caso de existência de tutor, conferida pelo Juiz, após os 16 anos. Há também: Emancipação legal matrimonial: Ocorre pelo casamento do menor relativamente incapaz (maior de 16 e menor de 18); Exercício de emprego público efetivo, art.5º.V lei 8.112/90; Colação de grau em curso superior; Estabelecimento civil/comercial, com economia própria e mais de 16 anos. TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 14 3.7) FIM DA PESSOA NATURAL E DA PERSONALIDADE JURÍDICA Se dá com a morte: MORTE REAL – óbito comprovado – extingue a personalidade; art. 6º CC “a existência da pessoa natural termina com a morte”. A morte aqui elencada é a morte cerebral, ou seja, quando o cérebro do indivíduo deixa de funcionar. Porém, o morto carrega consigo alguns resquícios da personalidade civil. MORTE PRESUMIDA SEM DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA – possui efeitos patrimoniais e alguns pessoais. Art.7ºCC – “Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.” AUSÊNCIA (art. 22 a 39 CC) – É uma hipótese de morte presumida, decorrente do desaparecimento da pessoa natural, sem deixar corpo presente. Quando é declarada a ausência, é pelo fato da pessoa estar em LINS (Local Incerto e Não Sabido), não havendo indícios de seu desaparecimento. Há três fases do processo de ausência: Da curadoria dos bens do ausente (arts. 22 a 25 CC): Há duas hipóteses em lei para nomear-se um curador: 1- Caso a pessoa desaparecida não deixe nenhum representante, será nomeado um curador através de uma ação proposta pelo MP ou por qualquer dos interessados. (art. 22 do CC) 2- Eventualmente, deixando o ausente um representante que não quer aceitar o encargo de administrar seus bens, será possível a nomeação de um curador. (art. 23 do CC). De acordo com o art. 25 do CC, o cônjuge é responsável pela curadoria dos bens, desde que não estejam separados judicialmente ou de fato há mais de dois anos. Na falta do cônjuge, os bens ficarão a cargo dos pais do ausente e se estes não puderem aceitar o encargo, fica a cargo dos descendentes mais próximos. Caso falte todos estes, ficará a cargo do juiz nomear um curador. Da sucessão provisória (arts. 26 a 36 do CC) Há três hipóteses para a nomeação de um curador provisório: 1- “Um ano após a arrecadação de bens do ausente e da correspondente nomeação de um curador, poderá ser aberta a sucessão provisória, mediante pedido formulado pelos interessados” (TARTUCE, 2015) 2- “Deixando o ausente um representante, o prazo é excepcionado, aumentado para três anos, conforme o art. 26 do CC” (TARTUCE, 2015) 3- Com o fim do prazo mencionado acima, caso não haja interessado algum em relação à herança, ficará a cargo do Ministério Público requerer a abertura da sucessão provisória. (art. 28, §1º) O art. 27 traz o rol de pessoas capazes de serem interessadas nos bens do ausente: “Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados: I - o cônjuge não separado judicialmente; II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.” TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 15 De acordo com o art.28, após prolatada a sentença, ela produzirá efeitos apenas após 180 dias da sua publicação, não transitando em julgado no prazo geral. Também de acordo com o mesmo art., será possível após o trânsito em julgado da sentença a abertura de um testamento deixado pelo desaparecido, bem como inventário para a partilha dos bens deixados. “Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União. Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos. § 1º Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa garantia. § 2º Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente. Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína. Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e passivamente o ausente, de modo que contra eles correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele forem movidas. Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a estes couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o representante do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente. Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos. Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria. Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo. Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono. Da sucessão definitiva (arts. 37 a 39 do CC) Segundo o art. 37, após 10 anos do trânsito em julgado da sentença que concedeu a abertura da sucessão provisória, será possível aos respectivos interessados com que requeiram a sucessão definitiva. Deferido a sucessão definitiva, o ausente se regressar nos 10 anos seguintes, pode requerer os bens de volta, mas somente no estado em que se encontrarem (art. 39, caput). Cabe ressaltar o parágrafo único do art. 39: “Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 16 do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando- se ao domínio da União, quando situados em território federal. Caso o ausente possua mais de oitenta anos, poderá requerer-se a sucessão definitiva após cinco anos de sua ausência. Para Flávio Tartuce: “Em casos tais, não há a necessidade de se observar as fases anteriores, ingressando-se nessa terceira fase de forma direta.” COMORIÊNCIA – quando 2 ou mais indivíduos morrem na mesma ocasião, sem possibilidade de verificar quem morreu primeiro – presunção de simultaneidade; art.8ºCC – presunção relativa. Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. 4) DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE E DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL (art. 11 ao 21) – pág. 85 Para Pablo Stolze Gacliano, os direitos da personalidade são “aqueles que tem por objeto atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e de sua projeção social.” (GAGLIANO, Pablo Stolze, novo curso de direito civil: volume I: parte geral. 2ª ed. – São Paulo: Saraiva 2002. p.144) Visa proteger uma esfera extrapatrimonial, ou seja valores que não redutíveis pecuniariamente. Outros termos que designam esta categoria de direitos: direitos essenciais da pessoa; direitos subjetivos essenciais; direitos essenciais; direitos fundamentais; direitos individuais; direitos pessoais; direitos personalíssimos. 4.1) TITULARIDADE DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE Sem sombra de dúvidas o ser humano por excelência (art.2º), e ainda a pessoa jurídica (art.52) e também o nascituro (art.2º in fine) que embora não tenha personalidade jurídica, tem seus direitos ressalvados. 4.2) CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DECORRENTES DA PERSONALIDADE 1. ABSOLUTOS – Gera efeito em toda a coletividade e impondo o dever de respeitar esses direitos. 2. GERAIS – São para todos nascidos com vida, sem exceção. 3. EXTRAPATRIMONIAIS – Há uma ausência de conteúdo patrimonial direto. 4. INDISPONÍVEIS – O direito, nem por vontade própria, pode mudar de titular, ou seja, não há a possibilidade de abrir mão de tais direitos. Art. 11 CC. 5. IMPENHORÁVEIS – Não é passível de penhora. 6. IMPRESCRITÍVEIS – Não há prazo para exigir um direito de personalidade adquirido. 7. VITALÍCIOS – Os direitos da personalidade duram para a vida inteira e para alguns casos, depois da morte. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE A classificação dos direitos decorrentes da personalidade se dá com base na tricotomia corpo/ mente/ espírito. (Gagliano, Pablo Stolze, novo curso de direito civil: volume I: parte geral/ Pablo Stolza Gacliano e Rodolfo Pamplona Filho. 2a ed. – São Paulo: Saraiva 2002. p.157) TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 17 DIREITO À VIDA E À INTEGRIDADE FÍSICA (art. 12 ao 15 CC) – pág. 87 Direito à vida. Direito a integridade física: corpo humano – vivo e corpo humano morto – cadáver. Direito a voz. DIREITO À INTEGRIDADE PSÍQUICA Direito à liberdade. Criações intelectuais (autoria científica, artística e literária). Direito à privacidade. Direito pessoal, profissional e doméstico. DIREITO À INTEGRIDADE MORAL Direito a honra. Direito à imagem. Direito à identidade. 4.3) INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL Os elementos individualizadores da pessoa natural são três: Nome. Estado. Domicílio. Nome – “sinal exterior pelo qual se reconhece, individualiza a pessoa no seio da família e da sociedade” (Diniz p.209) O nome apresenta dois aspectos: Aspecto individual: diz respeito ao direito que todas as pessoas têm ao nome; Aspecto público: é o interesse que o Estado tem de que as pessoas possam se distinguir umas das outras, por isso regulamentou a adoção de um nome por meio da Lei n. 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos). O nome integra os direitos da personalidade (artigo 16 do Código Civil) e se compõe de três elementos: Prenome ou nome. Patronímico ou sobrenome. Agnome. Além destes ainda temos como partículas designativas: o epítetoou alcunha (hipocorístico); o pseudônimo ou codinome; agnome epitético; (estes também são secundários) Elementos secundários: títulos nobiliárquicos; eclesiásticos; de dignidade ou identidade oficial; acadêmicos ou científicos; a) Prenome Pode ser simples ou composto e é escolhido pelos pais. A regra é de que o prenome é definitivo (artigo 58 da Lei n. 6.015/73). O prenome era imutável até o advento da lei 9708/98, passando não mais a ser adotado o princípio da imutabilidade e sim o princípio da Definitividade. O nome passou a ser substituível por um apelido público notório. TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 18 b) Patronímico É o que designa a origem familiar da pessoa, a procedência, sua filiação. “O sobrenome é adquirido ipso iure” (Diniz, p. 212) não é escolhido pelos pais, visto que a pessoa já nasce com o patronímico deles, contudo nem sempre é acrescido todos os patronímicos familiares – registro tem efeito declaratório; O sobrenome pode ser adquirido com a adoção; casamento. O sobrenome também pode ser simples ou composto. Na Separação ou divórcio ou anulação é possível perder o sobrenome ou retirá-lo. c) Agnome É a partícula que é acrescentada ao final do nome para diferenciar as pessoas da mesma família que têm o mesmo nome (exemplos: Júnior, Neto etc.). OBS.: O oficial do Registro público (Registro civil) pelo art. 55, parágrafo único da lei 6.015/1973 deve se recusar a registrar nomes que sujeitam ao portador a se expor ao ridículo. Pode-se alterar o prenome ou o Nome no primeiro ano após a maioridade – art. 56 lei de 6.015/1973; Após esse primeiro ano é possível a alteração de forma motivada – art.57 da lei 6.015/1973; Possibilidades de alteração já reconhecidas em lei ou pelos tribunais: Se expuser seu portador ao ridículo; Erro evidente de grafia – Osvardo; Nerso; Craudia; (retificação não alteração); Causar embaraço no setor eleitoral, profissional, comercial por homonímia; Houver mudança de sexo (intersexual e transexual); Apelido público notório – art. 58 e parágrafo único da lei 6.015/1973; Alteração de nome completo – proteção de vítimas e testemunhas (Lei 9.807/99 arts. 9º. 16 e 17) Adoção – inclusão do sobrenome dos adotantes obrigatório, prenome facultativo; Lei 11.924/2009 - autoriza o enteado ou a enteada a adotar o nome da família do padrasto ou da madrasta. 4.4) ESTADO DA PESSOA NATURAL “Modo particular de existir” “soma de suas qualificações” (Diniz, 223) – aspectos: individual ou físico; familiar; político. Individual ou físico – idade Menor ou maior; sexo – feminino ou masculino; Familiar – casado; solteiro; viúvo; divorciado; no que toca a consanguinidade – pai; mãe; filho; neto; avô, irmão; tio; sobrinho; primo; e com relação a afinidade: genro, nora, sogra, sogro, madrasta; padrasto; enteado; enteada; cunhado. Político: posição da pessoa na sociedade política estrangeira, naturalizada ou nacional. O Estado civil regula-se por normas de ordem pública que não possibilitam alteração por vontade das partes. O Estado da pessoa é indivisível indisponível e imprescritível, irrenunciável. Recebe proteção das ações de estado (Criam, modificam ou extinguem estados). TEXTO BASEADO NAS AULAS DE DIREITO CIVIL I - UNICESUMAR GABRIEL DOS SANTOS FREDERICO 19 4.5) DOMICÍLIO É a sede jurídica da pessoa, é o local onde ela é encontrada. De acordo com o artigo 70 do Código Civil “é o local em que a pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo”. Assim, o conceito do artigo 70 do Código Civil apresenta dois elementos: Elemento objetivo: é a residência; Elemento subjetivo: é o ânimo definitivo. É possível que a pessoa tenha mais de um domicílio. O artigo 71 do Código Civil dispõe que a pessoa poderá ter mais de um domicílio quando: Tenha mais de uma residência onde alternadamente viva; Tenha vários centros de ocupações habituais. Existe a possibilidade de a pessoa ter domicílio, mas não ter residência. São os casos daquelas pessoas que viajam muito a trabalho, vivendo em hotéis. Antigamente eram chamados de “caixeiros viajantes”. O artigo 73 do Código Civil dispõe que as pessoas que não tiverem residência fixa terão como domicílio o local onde forem encontradas. 4.6) MORADIA, RESIDÊNCIA E DOMICÍLIO MORADIA é o lugar onde a pessoa natural se estabelece provisoriamente, não há animus de permanência, não é habitual. RESIDÊNCIA pressupõe maior estabilidade. É o lugar onde a pessoa natural se estabelece habitualmente. DOMICÍLIO possui uma noção mais complexa, visto que abrange a de residência, e, por consequência, a de morada. Espécies de domicílio: Necessário: é aquele determinado pela lei (exemplo: os incapazes têm por domicílio o mesmo de seus representantes; o domicílio do funcionário público é o local onde exerce suas funções etc.). A mulher não tem mais domicílio necessário, visto a isonomia prevista na Constituição Federal/88 e o disposto no artigo 1569 do Código Civil. Voluntário: É aquele escolhido por vontade própria pela pessoa, pode ser: Comum: é aquele escolhido pela pessoa e poderá ser mudado por ela. A conduta da pessoa vai mostrar se ela teve ou não intenção de mudar o seu domicílio. Especial ou de Eleição (artigo 78 do Código Civil): é aquele que possibilita aos contratantes estabelecer um local para o cumprimento das obrigações (foro de contrato) ou um local para dirimir quaisquer controvérsias surgidas em decorrência do contrato (foro de eleição). A pessoa privilegiada poderá, no entanto, renunciar ao foro eleito para se utilizar do foro do domicílio do réu. Não terá validade o foro de eleição em contrato de adesão, salvo se não prejudicar o aderente
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