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Relações entre o Direito e a Moral 
Adriano de Assis Ferreira1 
 
Há relações necessárias entre o Direito e as normas morais de uma sociedade? 
Será que as normas jurídicas precisam ser consideradas boas pela população? 
Ou inexiste qualquer ponto de contato entre o direito e a moral? 
Uma primeira resposta a tais indagações é trazida pela Teoria do Mínimo 
Ético, delineada pelo jurista Georg Jellinek (1851-1911). Tal teoria afirma 
que todas as normas jurídicas são normas morais. Especificamente, considera-
se que as normas morais mais importantes da sociedade são transformadas, 
pelo Estado, em normas jurídicas. 
Nesse sentido, a sociedade sempre considera corretas as normas jurídicas, não 
podendo existir tais normas que sejam vistas como imorais. Há normas morais 
que não se convertem em normas jurídicas, pois não são consideradas as mais 
importantes da sociedade. 
Por exemplo, a proibição ao homicídio é uma norma moral que a sociedade, 
por meio do Estado, dada sua importância, transformou em jurídica. Por outro 
lado, existem regras de etiqueta social como, por exemplo, um cavalheiro 
abrir a porta para uma dama, que não são transformadas em jurídicas pelo 
Estado. 
Mas nem todos concordam com a teoria do Mínimo Ético. Muitos afirmam 
que existem normas jurídicas imorais (contrárias à moral) e normas jurídica 
amorais (indiferentes à moral). A norma que define o valor do salário mínimo, 
por exemplo, é, inegavelmente, jurídica. Muitos, todavia, argumentam que 
seja imoral, tendo-se em vista o baixo valor especificado. 
Há normas, ainda, amorais. São normas de caráter meramente técnico, cujo 
conteúdo não pode ser avaliado nem de modo positivo nem de modo negativo 
pela moral. Por exemplo, a norma jurídica que especifica que os carros devem 
parar na luz vermelha do semáforo. Por que a cor vermelha para parar? Por 
que não outra? Essa escolha não envolve questões morais, mas uma mera 
convenção técnica. 
 
1
 graduação em Direito pela Universidade de São Paulo (1999), mestrado em Letras (Teoria Literária e 
Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo (2004), mestrado em Direito Político e 
Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2004), doutorado em Letras (Literatura 
Brasileira) pela Universidade de São Paulo (2010) e doutorado em Ciências Sociais (Ciência Política) pela 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2012). Atualmente é professor em regime integral e 
Assistente de Coordenação da Faculdade de Direito (unidade Butantã) da Universidade São Judas Tadeu. 
É doutorando em Filosofia do Direito pela Universidade de São Paulo. 
Uma última objeção ainda pode ser levantada: será que existe uma única 
moral na sociedade? Ou será que a sociedade possui várias morais que 
convivem simultaneamente? Se esta segunda pergunta puder ser respondida 
afirmativamente, então não podemos dizer que o direito sempre seja visto 
como moral por todos os membros da sociedade, pois existem várias morais 
sociais. 
Outra teoria busca explicar essas relações, mas de um modo diametralmente 
oposto: a Teoria da Separação entre o Direito e a Moral. 
Thomasius (1655-1728) afirma que não há ponto de contato entre as esferas 
analisadas. A Moral é um conjunto de regras que regula a esfera íntima dos 
seres humanos, sendo aplicável apenas no nível da consciência. O Direito, por 
sua vez, é um conjunto de regras que apenas regula a esfera externa dos 
comportamentos humanos, ou seja, a manifestação e a concretização desses 
comportamentos. 
A teoria de Thomasius não explica satisfatoriamente, contudo, as regras da 
chamada moral social (costumes, etiqueta etc.), que se referem a 
comportamentos externos, sem grandes preocupações com a esfera íntima. 
Também não explica os casos em que o direito se preocupa com a esfera 
íntima das pessoas, como no caso da verificação de dolo ou culpa na prática 
de um crime (é necessário saber se o autor teve ou não a intenção de praticá-
lo). Assim, não parece ser um critério adequado para justificar a separação 
entre os campos. 
Ainda afirmando a separação entre Direito e Moral, podemos apontar o jurista 
Hans Kelsen (1881-1973). Sua visão, contudo, difere da de Thomasius. 
Para Kelsen, não há qualquer diferença essencial entre as esferas. As regras 
morais são em tudo idênticas às normas jurídicas, salvo por um aspecto, por 
assim dizer, externo: as normas jurídicas são as normas morais com maior 
condição de se impor socialmente de modo eficaz. A diferença estaria no grau 
da força coercível por detrás da norma: o emissor da norma jurídica é mais 
“forte”, no sentido de poder concretizar socialmente sua ameaça, do que o 
emissor de uma norma moral. 
Além disso, ele adota o princípio da relatividade da moral, admitindo que toda 
sociedade possui mais de um conjunto de regras morais, que podem julgar o 
direito de modos diversos. Um grupo social, que adota sua moral própria, 
pode considerar uma regra jurídica justa; outro grupo, da mesma sociedade, 
mas adotando outra moral, pode reputar tal regra jurídica injusta. 
O fato de os grupos sociais poderem julgar o direito, todavia, não interfere no 
seu funcionamento. Em outras palavras, as normas jurídicas são criadas pelo 
próprio direito e somente deixam de existir se revogadas por ele. Enquanto 
existem, independentemente da opinião dos destinatários, podem impor seu 
comportamento. No momento em que uma nova norma jurídica é criada, basta 
que ela siga os procedimentos do próprio direito, sem precisar referir-se às 
outras normas morais, para passar a existir. 
A visão de Kelsen afasta do direito a pretensão de estar preso, 
necessariamente, a um conteúdo superior ou distinto dele. Revela, com 
enorme precisão, que o direito moderno pode servir a diversas moralidades ao 
mesmo tempo, sem, contudo, ser reduzido a qualquer delas. Enquanto a força 
que impõe o direito (no caso, o Estado) for socialmente mais eficaz do que 
outras, suas regras deverão ser cumpridas independentemente das avaliações 
morais que possam receber. 
Alguns autores, porém, perplexos ante a revelação kelseniana, refutam a 
possibilidade de relativismo moral e de o Direito não possuir qualquer ponto 
de contato com a Moral. Adotando a Teoria dos “círculos secantes”, 
elaborada por Claude du Pasquier, afirmam simplesmente que o conjunto das 
normas morais é parcialmente coincidente com o conjunto das normas 
jurídicas. 
Assim, para tais autores, haveria regras morais não jurídicas e regras jurídicas 
amorais e imorais. Além disso, ambos os conjuntos possuiriam regras comuns, 
que são ao mesmo tempo morais e jurídicas. O exemplo outrora citado da 
proibição ao homicídio pode ser resgatado, estando, simultaneamente, em 
ambos os conjuntos. 
Podemos filiar Miguel Reale à teoria dos círculos secantes. Para ele, embora 
possam existir normas jurídicas fora do universo da moral, seria desejável que 
o maior número possível delas estivesse de acordo com a moral. 
Três teorias, em síntese, tentam explicar as relações entre as normas jurídicas 
e as normas morais. A Teoria do Mínimo Ético defende que as normas morais 
mais importantes são transformadas em normas jurídicas. A Teoria da 
Separação do Direito e da Moral afirma que não há ponto de relação 
necessário entre ambos os campos. Thomasius afirma que o objeto das normas 
morais é um (esfera íntima) e das normas jurídicas é outro (comportamento 
externo); Kelsen, por sua vez, afirma que existem diversos grupos de normas 
morais e o direito não se prende necessariamente a qualquer deles, sendo um 
campo próprio e autônomo. Por fim, a Teoria dos “círculos secantes” 
estabelece que há um núcleo comum entre a Moral e o Direito, composto por 
normas simultaneamente morais e jurídicas. 
Referências: 
Betioli, Antonio Bento. Introdução ao Direito. São Paulo: Saraiva, 2011.KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 6ª edição. Coimbra: Armênio Amado, 1984, 
pp. 48-55 e 93-107. (itens I.5 e II)

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