Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
15Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 13, n. 4, 2014 - ISSN: 1981-4313 A MUSCULAÇÃO COMO CONTEÚDO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Paulo Pereira de Macêdo1, Francisco José Rosa de Souza2, Tadeu de Almeida Alves Junior2,3,4, Rubens Vinícius Letieri3,5, Luiz Vieira da Silva Neto6, Nicolino Trompieri Filho2, José Airton de Freitas Pontes Junior2,3,4. RESUMO A prática regular de Atividade Física (AF) é um fator que pode contribuir na prevenção primária de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT). A musculação, dentre outros benefícios, pode favorecer a diminuição da gordura corporal, o risco de doença do coração e também é utilizada para fins estéticos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física indicam que a musculação pode fazer parte dos conteúdos a serem ensinados nessa disciplina na escola. Por isso, objetiva-se neste estudo analisar a possibilidade da musculação como conteúdo nas aulas de Educação Física nas escolas da cidade de Sobral/ CE. O estudo de abordagem quantitativa foi do tipo exploratório e transversal. Participaram da pesquisa 57 alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Para a coleta dos dados foi utilizado um questionário com perguntas de respostas fechadas e abertas desenvolvidas pelos responsáveis desta pesquisa. Para a validação do instrumento foram realizadas duas ações: validade de conteúdo pela análise de 3 (três) especialistas da área e realização de teste-piloto. Foi perguntando aos alunos pesquisados se os mesmos já tiveram aula sobre o conteúdo musculação, a maioria dos alunos informou que não (71,9%), porém 82,5% disseram ter motivação para o conteúdo e 73,7% um bom interesse. Conclui-se que existe a possibilidade de inclusão da musculação como conteúdo nas aulas de Educação Física, pois os alunos têm interesse e são motivados, sendo que estes aspectos são importantes na decisão da inclusão de um novo conteúdo nas aulas de Educação Física. Palavras-chave: Musculação. Educação Física. Escola. STRENGTH TRAINING AS CONTENT IN SCHOOL PHYSICAL EDUCATION CLASSES ABSTRACT The regular practice of physical activity (PA) is a factor that can contribute to the primary prevention of Chronic Non-Communicable Diseases (NCDs). Strength training, among other benefits, may reduce body fat, risk of heart disease and is also used for esthetic purposes. The National Curriculum Standards for Physical Education indicate that strength training can be part of the contents to be taught in this discipline at the school. Therefore, the objective of this study was to analyse the possibility of strength training as a subject in physical education classes in schools in the city of Sobral/CE. The study of quantitative approach was exploratory and cross-sectional. 57 students participated in the survey of the Secondary School and High School. For data collection a questionnaire of closed and open responses developed by those responsible for this research was used. To validate the instrument, two actions were performed: Content validity by the analysis of three (3) experts in the field and conducting pilot test. Was surveyed by asking students if they have had class about strength training, the majority of students reported negatively (71.9%), but 82.5% said they had motivation to content and 73.7% a good interest. We conclude that there is the possibility of include strength training as content in physical education classes because the students are interested and are motivated, and these aspects are important in the decision of inclusion of new content in Physical Education . Keywords: Strength training. Physical education. School. M A C ÊD O , P .P . d e, S O U Z A , F .J. R . d e, JU N IO R , T .d e A .A ., LE TI ER I, R .V ., N ET O , L .V . d a S. , F IL H O , N .T ., JU N IO R , J .A . d e F. P. A m us cu la çã o co m o co nt eú do na s au la s de e du ca çã o fís ic a es co la r. C ol eç ão P es qu is a em E du ca çã o Fí si ca , V ár ze a Pa ul is ta , v . 1 3, n . 4 , p . 1 5- 22 , 20 14 . Recebido em: 28/07/2014 Parecer emitido em: 20/08/2014 Artigo original 16 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 13, n. 4, 2014 - ISSN: 1981-4313 INTRODUÇÃO A prática regular de Atividade Física (AF) é um fator que pode contribuir na prevenção primária de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT) (FLORINDO, 2011). Sendo esse um fator relevante de incentivo a sua prática, pois estas doenças podem se prolongar na idade adulta quando presente na infância e na adolescência, aumentando o risco de mortalidade, especialmente por doenças coronarianas (ENES; SLATER, 2010; ROSE JR., 2009;CATTUZZO; BARROS, 2009). No Brasil, as Doenças Crônicas Não-Transmissíveis(DCNT) representam um problema de saúde pública, sendo estas responsáveis por 70% das causas de morte. De acordo com as projeções da OMS (Organização Mundial da Saúde), até 2020, as DCNT serão responsáveis por quase ¾ de todas as causas de morte no mundo. Sendo a obesidade, hipertensão, depressão, diabetes exemplos de DCNT (SWINBURN, 2011, apud DEL DUCA; SILVA; NAHAS 2011). A musculação é um tipo de Exercício Físico (EF) desenvolvido predominantemente por meio de exercícios analíticos, utilizando resistências progressivas fornecidas por materiais tais como: halteres, barras, anilhas, o próprio corpo e/ou segmentos, etc (LAMBERT, 1987). Segundo Pereira (1998), comparando dados de 1984 com 1998, poderia existir um melhor aproveitamento da ginástica e consequentemente da musculação, enquanto conteúdo nas aulas de Educação Física e mostrou que a cultura escolar mostra-se conservadora em relação à seleção de conteúdos, destacando o trabalho com os desportos coletivos tradicionais e o atletismo, enquanto que fora da escola aumentam a procura por atividades de lutas e ginástica, caminhada e musculação. A ginástica assim com as lutas já faz parte dos conteúdos a serem ensinados nas aulas de Educação Física durante o Ensino Fundamental segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), sendo que a musculação é um dos temas pertencentes bloco de conteúdos Esportes, jogos, lutas e ginásticas, assim como conhecer o funcionamento biomecânico, anatômico, dentre outros, estão no bloco de conteúdos Conhecimentos sobre o Corpo (BRASIL, 1998). Ou seja, a proposta de incluir a musculação nas aulas de Educação Física não recente ou infundada. Porém, deve-se ressaltar que, segundo os PCN do Ensino Fundamental (BRASIL, 1998), o conteúdo musculação não deve se relacionar apenas ao aumento da força ou a discussão sobre estática, mas também como a aquisição da saúde ou preparação física para outras práticas. Já para os PCN do Ensino Médio, deve-se considerar a fase vivenciada pelos alunos, as novas propostas de educação e efetividade de aprendizagem que de conhecimentos sobre atividade física e saúde que se deseja para a disciplina na fase final da formação básica dos jovens (BRASIL, 2000). A musculação também pode ser utilizada como uma política pública para reduzir ou ao menos amenizar alguns dos problemas de saúde da sociedade potencializando a promoção de um estilo de vida saudável. Atualmente, há um projeto piloto que vem crescendo nas escolas da rede estadual de ensino do Ceará, tanto nas escolas da capital e quanto do interior que se denomina “Academia na Escola”, e tem como intuito aproximar os alunos de um espaço diferenciado com equipamentos de musculação e ergometria. (DIÁRIO DO NORDESTE, 2011). Dessa forma, abre-se mais um campo de discussão e atuação do profissional de Educação Física dentro da escola. Devido esta modalidadeestar crescendo e se tornando uma das principais atividades físicas dos brasileiros de diferentes faixas etárias e com um propósito de evidenciar essa tendência nos conteúdos das aulas de Educação Física escolar, delimitamos o conteúdo musculação nessa pesquisa por reconhecer que há poucas de discussões sobre o tema no espaço escolar e que, como possível conteúdo nas aulas de Educação Física, nos faz refletir sobre sua inserção nesse espaço, bem como os alunos e os profissionais da área podem assumir esse conteúdo. Considerando que a perspectiva sobre o tema musculação no contexto da Educação Física escolar pode ser ampliado fundamentado em evidencias de pesquisas sobre o assunto e estimulando a qualificação docente sobre o tema na escola, este trabalho surge da expectativa de investigar o interesse e conhecimento dos adolescentes sobre a musculação. Acreditamos que esse estudo pode contribuir com a formação e atuação dos docentes da área sobre como a musculação na escola pode ser uma ferramenta importante de conhecimento sobre atividade física, saúde e qualidade de vida. Inserida no contexto aqui apresentado, a musculação pode se tornar um conteúdo que potencializará à aquisição da saúde dos adolescentes são proporcionar essa prática nas aulas de Educação Física, pois os alunos têm a oportunidade de praticarem exercícios orientados. Por isso, objetiva-se neste estudo analisar a motivação e interesse dos alunos sobre a musculação como conteúdo nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental II e Médio da cidade de Sobral/CE. 17Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 13, n. 4, 2014 - ISSN: 1981-4313 METODOLOGIA O estudo de abordagem quantitativa foi do tipo exploratório e transversal, pois visou analisar as opiniões e práticas da musculação por adolescentes do final do Ensino Fundamental e Ensino Médio do município de Sobral/CE, através de pesquisa por levantamento (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2005). Participaram da pesquisa 57 alunos, sendo eles do último ano do Ensino Fundamental II e Ensino Médio de 5 escolas públicas e 2 particulares. A escolha desse público se deu por ser uma população que atualmente tem frequentado as academias e clubes de musculação, bem como se apresentam no nível de ensino que poderia estudar os conteúdos relacionados à prática da musculação, como a fisiologia do exercício e esportes não convencionais (BRASIL, 2000; NAHAS, 2010). Para a coleta dos dados foi utilizado um questionário com perguntas de respostas fechadas (múltiplas escolhas e itens em escala) e abertas (dissertativas) desenvolvidas a partir do referencial teórico do estudo. Para a validação do instrumento foram realizadas duas ações: validade de conteúdo pela análise de 3 (três) especialistas da área que consideraram que o questionário atende aos interesses da pesquisa, e realização de teste-piloto para avaliação da compreensão dos itens bem como do tempo de aplicação e da sequência das perguntas. Após tais ações, percebemos que o questionário estava adequado para aplicação. Para as respostas das perguntas abertas realizamos a categorização por meio da técnica de análise temática (MINAYO, 1999) em que analisamos os resultados tendo como referencial o acumulo teórico sobre o assunto. Com as categorias formadas, realizamos análises estatísticas dos dados juntamente com as respostas fechadas, usando frequências simples (fi) e relativa (%), por meio do programa SPSS 22.0. Todos os procedimentos da pesquisa foram submetidos ao parecer do comitê de ética da Plataforma Brasil em que foi emitido o parecer consubstanciado de número 88355. Todos os participantes responderam voluntariamente ao questionário, sendo que não pagaram e nem receberam qualquer pagamento. Todos os respondentes ao questionário ou responsáveis pelos respondentes menores de 18 anos, tiveram que ler e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seguindo as normas do Comitê de Ética da Universidade Estadual Vale do Acaraú. Ao assinar, uma cópia ficou com o respondente e outra com o pesquisador. No Termo estavam todas as normas referentes à participação na pesquisa, constando inclusive que a qualquer momento o participante poderia se recusar e retirar o consentimento. Todas as informações obtidas foram utilizadas apenas pelos responsáveis da pesquisa, garantindo a não identificação das pessoas no estudo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Participaram deste estudo, compondo a amostra, 57 alunos de escolas públicas e particulares do município de Sobral/CE, sendo a maioria de escolas públicas (82,5%) em que 54,4% eram do sexo feminino e 66,7% cursavam o Ensino Médio. A idade mínima desses participantes era de 12 anos, a idade máxima de 19 anos, sendo a idade média de 15,1 anos. Tabela 1. Características da amostra quanto à série, idade e tipo de ensino. fi % SEXO Masculino 26 45,6 Feminino 31 54,4 ENSINO Fundamental II 19 33,3 Médio 38 66,7 INSTITUIÇÃO Público 47 82,5 Privado 10 17,5 Foi perguntado aos alunos se os mesmos já tiveram aula sobre o conteúdo musculação, sendo respondido que não por 41 (71,9%). Ou seja, a maioria dos alunos informou que o conteúdo musculação não fez parte da sua vivência escolar. 18 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 13, n. 4, 2014 - ISSN: 1981-4313 Tabela 2. Apresentação da presença ou não do conteúdo musculação nas aulas de educação Física. Disseram ter fi % 16 28,1 Disseram não ter 41 71,9 De acordo com os PCN (BRASIL, 1998), a musculação é indicada com um conteúdo a ser estudado nas aulas de Educação Física. Um dos motivos que pode explicar a ausência do conteúdo nas aulas pode ser a falta de conhecimento ou experiência do professor com o tema. Letieri et al., 2013, aponta ainda que é necessário a orientação adequada para a prática de musculação até para os acadêmicos da área. Velozo; Daolio (2009), Fernandes; Rocha; Souza (2005) informam que a falta de conhecimento adequado, assim como a falta de experiência do professor com conteúdo específicos, faz com que os mesmos não incluam no seu planejamento conteúdos diferentes. Por isso, a tradicional utilização dos esportes coletivos nas aulas práticas de Educação Física escolar se dá pela frequente formação e experiência nesses conteúdos. Deve-se ressaltar que ao se desenvolver conteúdos relacionados à saúde na escola, devem-se realizar aulas teóricas e práticas. Sendo que essa ação deve ser sistematizada e operacionalizada para suprir os alunos de conhecimento e interesse necessários, incentivando-os a tornar a atividade física um hábito para toda a sua vida (GUEDES; GUEDES, 1995; FERREIRA, 2001; RIBEIRO; CAVALI; CAVALI, 2013; RIBEIRO et al., 2001; ROSE JR, 2009). Tabela 3. Conteúdos ministrados quando presente o tema musculação nas aulas de Educação Física. Anatomia fi % 5 35,5 Esteroides e/ou anabolizantes 2 14,2 Nutrição 1 7,1 Orientações gerais sobre a práti ca da ati vidade fí sica 4 28,5 Orientações gerais sobre a práti ca de exercícios de academia 7 50 Não sabem 2 3,5 * podiam marcar mais que uma opção. Os alunos que afirmaram já ter assistido a aulas sobre musculação nas aulas de Educação Física escolar indicam que o conteúdo assistido pela maioria foi orientação sobre a prática da musculação (50%), seguido por anatomia (35,5%). A EFE quando inserida em um contexto somente esportivista pode excluir diferentes formas de tematização dos conteúdos. Mas quando o professor insere novas possibilidades como, por exemplo, os temas relacionados à saúde diversos conteúdos podem ser desenvolvidos (GUEDES; GUEDES, 1995). Kravchychyn; Oliveira (2012) apresentam em seu estudo sobre os conteúdos no Ensino Fundamenta II que 14% dos alunos informaram estudar sobre temas além dos esportes que incluem: anatomia, cuidado com a saúde e sobre prática de atividade física. Sendo que o resultado foi mais positivo nesta pesquisa,ficando acima de 38% quanto ao assunto anatomia e 28,5% quanto ao assunto prática de atividade física. Almeida; Tucher; Rocha (2011) em seu estudo sobre a percepção dos alunos sobre os motivos que levam as suas participações nas aulas de Educação Física identificaram que 28% dos alunos informaram que era a prática de atividade física e saúde, resultado esse semelhante ao deste estudo. Ou seja, a prática de atividade física e saúde pode estar presente nas aulas de Educação Física, não somente no tema musculação, mas em outros temas que se relacionam com a saúde. 19Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 13, n. 4, 2014 - ISSN: 1981-4313 Mesmo ainda sendo minoria, esses dados representam uma mudança nos temas ensinados nas aulas de Educação Física, deixando de ser exclusivo aos esportes, permitindo a inclusão dos conteúdos relacionados à atividade física, saúde e qualidade de vida. E partindo do pressuposto apresentado neste estudo, a inclusão do tema saúde nas aulas de Educação Física permite o acesso ao conhecimento que pode resultar em aquisição ao comportamento saudável. Pontes Jr; Almeida; Trompieri Filho (2014) identificaram que a dimensão biológico-funcional da atividade física é apontada pelos professores e pesquisadores em Educação Física como um dos componentes para avaliação cognitiva da disciplina. Tabela 4. Interesse e motivação do conteúdo musculação nas aulas de EFE. INTERESSE fi % Pouco 7 12,3 Razoável 8 14 Bom 42 73,7 MOTIVAÇÃO Sim 47 82,5 Não 10 17,5 Buscou-se identificar no aluno se os mesmos tem interesse e se motivam para assistir aulas sobre a musculação, sendo que 82,5% alunos informaram que possuem motivação e que 73,7% dos alunos apresentam um bom interesse quanto ao tema musculação nas aulas de Educação Física escolar. Velozo; Daolio (2009, p.49) afirmam que “a preferência dos alunos por determinadas atividades contribui diretamente para a definição dos conteúdos das aulas”. Ou seja, sendo a musculação um conteúdo de grande interesse e havendo a necessidade de relacionar o conteúdo a ser apresentado com o desejo do aluno, por que ainda não é comum a musculação nas aulas de Educação Física? A musculação possibilita a aquisição da saúde quando praticada de forma adequada e contínua. Sendo o ensino de temas relacionados à saúde um fator motivacional que leva a participação nas aulas de 12% dos alunos (ALMEIDA; TUCHER; ROCHA, 2011). Diversos autores (NUNOMURA; PIRES; CARRARA, 2009; ALMEIDA; TUCHER; ROCHA, 2011; FEITOSA et al., 2011) apresentam o contexto em que os alunos não se motivam a conteúdos que não sejam os esportes, e que existe uma evasão ou desmotivação nas aulas quando se busca novas proposta de aulas. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, a prática esportiva influenciou as aulas de Educação Física escolar na perspectiva de potencializar a desenvolvimento de físico, cognitivo e social dos discentes via esportes e que este ainda é o principal conteúdos das aulas desse componente curricular. Mas a utilização desses conteúdos descontextualizados do cotidiano discente, principalmente no Ensino Médio, pode desmotivar o interesse dos alunos por conteúdos atuais, porém, como já foi discutido, esse interesse é requisito para a inclusão de novos temas na Educação Física tal como apresentado pelos alunos participantes do estudo. Castinheiras Neto; Farinatti (2009) informam que o exercício resistido pode favorecer a diminuição da gordura corporal, porém somente quando associada a uma dieta controlada, favorecendo assim um balanço energético favorável à manutenção ou perda do peso. A sua prática de forma regular também diminui o risco de doença do coração por consequência da redução de gordura corporal, diminuindo a pressão sanguínea, melhora do colesterol. Nahas (2010) ressalta que os resultados só serão considerados satisfatórios quando praticado em certa intensidade e frequência semanal: 60 minutos diariamente ou na maioria dos dias, em uma intensidade moderada e intensa, sendo a musculação um exemplo dos possíveis exercícios físicos a serem praticados. Os melhores resultados de treinamento ocorrem quando, em uma mesma sessão, os grandes grupos musculares são exercitados antes dos pequenos, os exercícios com cargas maiores são realizados antes dos exercícios com cargas menores, e quando os exercícios para um grupo muscular são seguidos por exercícios para o grupo muscular antagonista, como por exemplo: peito e costas; bíceps e tríceps; quadríceps e crurais (LAMBERT, 1987; PEÇANHA et al., 2013; SOUZA et al., 2008). 20 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 13, n. 4, 2014 - ISSN: 1981-4313 Além desses aspectos físicos, quando praticada na adolescência, a musculação pode está relacionada a este fator motivacional: a estética. Camargo (2013) informa que essa é uma fase de inúmeras transformações físicas e psicológicas e que é comum a necessidade de participarem de um grupo social que, em vários momentos, buscam na estética a possibilidade de inclusão social. Sendo na Educação Física escolar que, em muitos casos, os adolescentes têm a possibilidade de praticarem exercícios físicos, Azevedo Junior; Araújo; Pereira (2006) e Alves; Lima (2008) afirmam que essa disciplina poderia ser mais efetiva na oferta de atividades físicas que os interessassem, fazendo com que estes conteúdos populares, fora do ambiente escolar dos jovens pudessem ser trabalhados como temas nas aulas de Educação Física. CONCLUSÃO Ao analisar os resultados obtidos neste estudo, conclui-se que existe a possibilidade de inclusão da musculação na escola, principalmente nas aulas de Educação Física, pois os alunos apresentaram interesse e motivação no conteúdo, além de existir fundamento quanto aos aspectos constitucionais e relevância no cotidiano dos alunos. A maioria dos alunos informou que não tiveram aulas de musculação na Educação Física escolar, porém a grande maioria tem interesse e motivação nesses conteúdos. Se o interesse e a motivação são fatores que influenciam na escolha dos conteúdos conforme apresenta a literatura, cabe o questionamento da ausência, não somente da musculação, mas de outros diversos conteúdos de relevância social e interesse discente. O objetivo deste estudo limitou-se a diagnosticar a possibilidade da inclusão da musculação na escola, e conclui-se ser viável. Devendo-se agora incentivar a inclusão e implementação, sendo este um trabalho a ser realizado pelos professores de Educação Física que atuam no ambiente escolar. Além de se fazer necessário mais estudos que incluam outras variáveis que possam complementar as informações aqui apresentadas, enriquecendo a literatura e assim auxiliando o professor no processo de orientação e formação de novos conhecimentos. Apontamos a necessidade de realizar estudos sobre o nível de interesse dos discentes do sexo feminino e masculino visto que são públicos com (talvez) interesses específicos. Também indicamos que podem ser realizadas pesquisas na perspectiva de elaborar instrumentos para avaliação cognitiva sobre conhecimento dos discentes sobre musculação e temas relacionados. REFERENCIAS ALMEIDA, A.B.; TUCHER, G.; ROCHA, C.A. Percepção discente sobre a educação física escolar e motivos que levam à sua prática. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. v. 10, n. 2, p. 109-116, 2011. ALVES, C.; LIMA, R.V.B. Impacto da atividade física e esportes sobre o crescimento e puberdade de crianças e adolescentes. Revista Paulista de Pediatra. v. 26, n. 4, p. 383-91, 2008 AZEVEDO JUNIOR, M.R.; ARAÚJO, C.L.P.; PEREIRA, F.M. Atividades físicas e esportivas na adolescência: mudanças de preferências ao longo das últimas décadas. Revista Brasileira de Educação Física e Esportes. São Paulo, v. 20, n. 1, p. 51-58, jan./mar. 2006. BRASIL., Secretaria de Ensino Médio. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília:MEC /SEM, 1998. BRASIL., Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio: linguagem, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC /SEM, 2000. CATTUZZO, T.M.; BARROS, M.V.G. Atualização em atividade física e saúde. Recife: Edupe, 2009. CAMARGO, M.A.F. Análise do perfil dos adolescentes praticantes de musculação em academia de Ponta Grossa/PR. Revista Científica Jopef. v. 15, n. 2, p. 32-37, 2013. CASTINHEIRAS NETO, A.G.; FARINATTI, P.T.V.; Consumo de oxigênio após exercício resistido: uma abordagem crítica sobre os fatores determinantes de sua magnitude e duração. Brazilian Journal of Biomotricity, v. 3, n. 2, p. 96-110, 2009. 21Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 13, n. 4, 2014 - ISSN: 1981-4313 DEL DUCA, G.F.; SILVA, S.G.; NAHAS, M.V. Introdução In: DEL DUCA, G. F. (Org.); NAHAS, M. V. (Org.) Atividades físicas e doenças crônicas: evidências e recomendações para um estilo de vida ativo. 1. ed. Londrina: Midiograf, v. 1, p. 174, 2011. DIÁRIO DO NORDESTE. Academia na escola. Publicado em 24/01/2011. Disponível em: <http:// diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/academia-na-escola publica-1.760043> Acesso em: 11 de jul. 2014. ENES, C.C.; SLATER, B. Obesidade na adolescência e seus principais fatores determinantes. Revista Brasileira de Epidemiologia. v. 13, n. 1, p. 163-171, 2010. FEITOSA, W.M.N.; TASSITANO, R.M.; TENÓRIO, M.C.M.; ALBUQUERQUE, A.; SÁ GUIMARÃES, F.J.P. LIMA NETO, A.J. As aulas de educação física no ensino médio da rede pública estadual de Caruaru: componente curricular. Revista de Educação Física UEM. Maringá, v. 22, n. 1, p. 97-109, 1. trim. 2011 FERREIRA, M.S. Aptidão física e saúde na educação física escolar: ampliando o enfoque. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 22, n. 2, p. 41-54, jan. 2001 FERNANDES, M. H.; ROCHA, V. M.; SOUZA, D. B.; A concepção sobre saúde do escolar entre professores do ensino fundamental (1ª a 4ª séries). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro. v. 12, n. 2, p. 283-91, maio-ago. 2005 FLORINDO, A.A. Atividade física e doenças crônicas. In. FLORINDO, A.A.; HALLAL, P.C. Epidemiologia da atividade física. São Paulo: Atheneu, 2011. GUEDES, D.P.; GUEDES, J.E.P. Aptidão física relacionada à saúde de crianças e adolescentes: avaliação referenciada por critério. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 1, n. 2, p. 27-38, 1995. KRAVCHYCHYN, C.; OLIVEIRA, A.A.B. Educação Física escolar e esporte: uma vinculação (im)prescindível. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. v. 11, n. 1, p. 61-70, 2012. LAMBERT, G. Musculação: guia do técnico. São Paulo: Manole, 1987. LETIERI, R.V.; FIGUEIREDO, A.J.B.; FURTADO, G.E.; LETIERI, M.; BANDEIRA, P.F.R.; NOBRE, G.C.; SOUZA FILHO, A.N. Acute effect of strength training with blood flow occlusion in parameter related to muscle damage. Gazzetta Medica Italiana. Archivio per le Scienze Mediche (Testo stampato), v. 172, p. 877-885, 2013. MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 1999. NAHAS, M.V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida mais ativo. 5. ed. Londrina: Midiograf, 2010. NUNOMURA, M.; PIRES, F.G.; CARRARA, P. Análise do treinamento na ginástica artística brasileira. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Campinas, v. 31, n. 1, p. 25-40, set, 2009. ROSE JR., D (org). Esporte e atividade física na infância e na adolescência: uma abordagem multidisciplinar. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. RIBEIRO, J.A.B.; CAVALLI, A.S.; CAVALLI, M.O. Nível e importância atribuídos à prática de atividade física por estudantes do ensino fundamental de uma escola pública de Pelotas, RS. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. v. 12, n. 2, p. 13-25, 2013. RIBEIRO, M.A.; ANDRADE, D.R.; OIVEIRA, L.C.; BRITO, C.F.; MATSUDO, S.M.; ARAÚJO, T.L.; ANDRADE, E., FIGUEIRA JUNIOR, A. BRAGGION, G.; MATSUDO, V. Nível de conhecimento sobre atividade física para a promoção da saúde de estudantes de educação física. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Brasília, v. 9, n. 3, p. 31-37, jul, 2001. PEÇANHA, T.; VIANNA, J.M.; SOUSA, E.D.; PANZA, P.S.; LIMA, J.R.; REIS, V.M. Influência do grupamento muscular na recuperação da frequência cardíaca após o exercício resistido. Revista Brasileira Medicina do Esporte. v. 19, n. 4, p. 275-279, Jul/Ago, 2013. PEREIRA, F. Conhecimentos de educação física e cultura gímnico-desportiva extraescolar de estudantes de 2º Grau no RS: sobre duas pesquisas de 1984 e 1998. SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 21. 1998, São Caetano do Sul: Anais. CELAFISCS, p. 68, 1998. 22 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 13, n. 4, 2014 - ISSN: 1981-4313 PONTES JUNIOR, J.A.F.; ALMEIDA, L.S.; TROMPIERI FILHO, N. Avaliação cognitiva em larga escala dos conteúdos da educação física escolar. Bordon: revista de pedagogia, v. 66, p. 9-25, 2014. SOUZA, T.M.F.; CESAR, M.C.; BORIN, J.P.; GONELLI, P.R.G.; SIMÕES, R.A.; MONTEBELO, M.I.L. Efeitos do treinamento de resistência de força com alto número de repetições no consumo máximo de oxigênio e limiar ventilatório de mulheres. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. v. 14, n. 6, p. 513-517, Nov/Dez, 2008. THOMAS, J.; NELSON, J.; SILVERMAN, S. Métodos de pesquisa em atividade física. 5. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. VELOZO, E.L.; DAOLIO, J. Os saberes nas aulas de educação f ísica: uma visão a partir da escola pública. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. v. 8, n. 2, p. 43-54, 2009. ______________________ 1 - Instituto Superior de Teologia Aplicada (Faculdades INTA). 2 - Universidade Federal do Ceará - UFC. 3 - Faculdade Católica Rainha do Sertão - FCRS. 4 - Faculdade do Vale do Jaguaribe - FVJ. 5 - Universidade de Coimbra. 6 - Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Agradecimento À Pró-Diretoria de Pesquisa e Pós-graduação Stricto Sensu das Faculdades INTA (Sobral/CE) pelo apoio prestado ao Projeto de Pesquisa Prática de ensino da Educação Física escolar no município de Sobral/CE, no qual foi concedido financiamento. Rua Waldery Uchoa, 01 Benfica Fortaleza/CE 60020-110
Compartilhar