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As ciências Sociais - Agostinho Neto

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A dialética das ciências sociais e das ciências da natureza1
									Alexia Rodrigues2
xxalexiarsantos@gmail.com
									Fernanda Lobato2
fernandasloba@gmail.com
										Noel Orlet2
advorlet@gmail.com
INTRODUÇÃO
	Há muito tem se discutido acerca da cientificidade das chamadas ciências sociais, existindo tanto os que afirmassem que de cientifico elas nada teriam como os que pregam o caráter científico inato às mesmas. Neste contexto se insere o doutrinador Agostinho Ramalho Neto, que, no seu livro “A ciência do direito – conceito, objeto e método”, afirma o caráter único de cientificidade das ciências sociais.
Assim, trataremos de analisar como se atribui essa cientificidade às ciências sociais, e, indiretamente, à ciência jurídica em si. Para tanto, estudam-se os mais recentes avanços nas áreas da Física e da Geometria para que possa ser mostrada a relação existente entre as ciências naturais e as ciências sociais.
CIÊNCIAS SOCIAIS E CIÊNCIAS NATURAIS 
1.1 CIÊNCIAS SOCIAIS E O POSITIVISMO: Durkheim vs. Weber
Primeiramente, cabe aqui traçar algumas noções acerca do papel do positivismo na construção do conceito moderno de ciência social. Partindo da definição de ciência social a ela atribuída pelo doutrinador Émile Durkheim, já no século XIX, que considerava que à ciência social (em específico, a Sociologia) cabia estudar apenas os fatos sociais, as manifestações sociais exteriores ao indivíduo que sobre ele exerceriam poder coercitivo. Tais fatos sociais seriam, portanto, meras coisas, passíveis de serem estudadas sob a ótica comum da ciência positivista.
__________________________________________________________
1Paper apresentado à disciplina Introdução à Ciência do Direito, ministrada pelo Prof. Dr. Luiz Otávio Pereira, como requisito avaliativo.
2Discentes devidamente matriculados no 1º semestre do curso de Graduação em Direito pela Universidade Federal do Pará, sob os números de matrícula 201506140097, 201506140078, e 201506140089, respectivamente.
Mas o que é o positivismo, ou melhor, o que é o positivismo sociológico? O positivismo, enraizado nos ensinamentos de Augusto Comte (1798-1857), “que começou a atribuir fatores humanos nas explicações dos diversos assuntos, contrariando o primado da razão, da teologia e da metafísica”, procura estabelecer explicações empíricas para o funcionamento do mundo social com base nos mesmos critérios utilizados para criar as leis naturais da biologia e da física, por exemplo (BRASIL ESCOLA, 2015, p. 1).
Assim sendo, ele parte da premissa de que entre as ciências naturais e as ciências sociais não haveria diferença senão pelo objeto de estudo de cada um, visto que ambas nasceriam da fonte comum da natureza: eis a concepção naturalista inerente ao positivismo de Comte e Durkheim.
Contudo, essa concepção naturalista foi superada por autores como Max Weber (apud MARQUES NETO, 2001, p. 67), que dizia que “a aplicação sociológica não pode ser puramente naturalística, limitando-se apenas a descrever os atos exteriores do comportamento humano e ignorando o sentido de cada atividade ou relação.”. Não podemos conceber os atos e manifestações sociais como simples atos naturais, desprovendo-as do seu contexto, do seu sentido; isso sim seria anti-científico. 
1.2 DISTINGUINDO ENTRE CIÊNCIA SOCIAL E CIÊNCIA NATURAL: objeto vs. enfoque teórico
Portanto, o que diferencia as ciências da natureza das ciências da sociedade não é apenas o seu objeto, como queiram os positivistas. Se fôssemos considerar o objeto como único critério de distinção entre as duas áreas de saber humano, não só estaríamos nos limitando às manifestações exteriores do nosso objeto (que, na Sociologia de Durkheim, é o fato social), como também estaríamos nos esquecendo do fato que, conforme nos diz Weber (WEBER, 1969, p. 40), existindo uma multiplicidade de perspectivas acerca de um mesmo fenômeno, seja social ou não, existe também uma multiplicidade de ciências que podem estudar aquele mesmo fenômeno. É o que ocorre, nas ciências sociais, com fenômenos como o casamento, que pode ser visualizado pelas mais variadas óticas (jurídica, sociológica, histórica, psicológica, econômica, antropológica, etc.); e, nas ciências naturais, com o estudo do próprio ser humano, que pode ser feito sob um prisma biológico, fisiológico, químico, ou físico. Na medida em que aceitamos a possibilidade de existirem objetos que podem ser estudados pelas mais variadas ciências, o simples objeto deixa de ser o critério exclusivo de diferenciação entre os ramos das mesmas ciências.
Nessa linha, aquilo que devamos considerar ao estabelecer a distinção entre as ciências sociais e as ciências naturais é justamente a possibilidade de existir uma multiplicidade de enfoques teóricos e/ou problemáticos acerca de um mesmo objeto. Ou seja, o que vai definir uma ciência como tal não é somente o seu objeto, mas o referencial teórico a partir do qual se fará o estudo do mesmo. Afinal, o objeto “só possui sentido em função da teoria que o explica” (MARQUES NETO, 2001, p. 69).
Ocorre que, se é verdadeiro que o objeto não é o fator determinante na distinção entre as ciências sociais e as ciências naturais, faz-se mister desconstruir alguns mitos que há muito perseguem as correntes que creem fervorosamente numa divisão clara entre as duas áreas de ciência ora em destaque, para que possa ser demonstrada qual é extensão da divisão (se é que existe uma) que separa as duas.
DISTINGUINDO ENTRE CIÊNCIA SOCIAL E CIÊNCIA NATURAL: mitos e falsas verdades
a. O primeiro dos mitos declara que as ciências naturais se diferenciam das sociais por serem mais precisas, mais corretas, já que das primeiras podem ser extraídos leis universais, enquanto estas últimas possuem um grau mais complexa, e, portanto, é mais difícil de se extrair alguma lei universal delas. Afinal, toda a educação escolar acerca das ciências naturais se relaciona com as leis universais da ciência, mas o mesmo não pode ser dito das ciências sociais. Percebe-se, então, a existência desse pré-conceito (na concepção gadameriana do termo) já na própria nomenclatura. Por exemplo, na experiência brasileira, as ciências naturais, como a Matemática e a Física, são chamadas de “matérias exatas”, enquanto as ciências sociais como a Sociologia e a História são imediatamente taxadas de “humanas”, como se de exatidão elas nada teriam.
Contudo, essa corrente deixa de considerar um elemento essencial ao conhecimento científico, que é a sua capacidade de ser constantemente revisada e retificada: outrora pensava-se que a luz comportava-se apenas como uma série de partículas; com o avanço na ciência e o progresso no tempo, sabemos que a luz não se comporta apenas como uma partícula, mas também tem as características de uma onda. 
Na medida em que reconhecemos esse caráter mutável e retificável das ciências naturais, estamos também reconhecendo que é possível surgir novas perspectivas acerca de determinada teoria ou lei. Portanto, as leis das ciências naturais simplesmente não são tão precisas ou gerais quanto se pensa. Vale dizer, então, que tanto as ciências naturais como as ciências sociais compartilham do mesmo caráter probabilístico, embora em graus um pouco variados.
b. O segundo mito a ser examinado é o que declara que os cientistas sociais não podem ser levados (cientificamente) a sério, visto que eles possuem o “vício” de estarem comprometidos por ideologias ou pré-conceitos (novamente lembramos da concepção gadameriana do termo), enquanto os cientistas naturais seriam mais objetivos nas suas teorias. Essa ideia é uma das mais claras falácias, uma vez que a sua negação pode ser facilmente observada nas experiências de inúmeros cientistas (naturais, destaca-se) que ora sofreram por se alinharem à ideologia diversa da dominante (Galileu, Copérnico e Darwin vem à mente); ora utilizavam as suas descobertas cientificas para ressaltar determinadas ideologias. Aqui lembramos da colocação de Popper, que dizia que “é totalmente falso crer que o cientista da natureza seja maisobjetivo que o cientista social. O cientista da natureza é tão partidarista quanto o resto dos homens.”
c. O terceiro dos mitos a ser desconstruído é que determina que às ciências natureza cabe apenas descrever e explicar, através da experimentação, seu objeto e às ciências sociais cabe unicamente tentar compreender o seu objeto. Tal linha de pensamento é, por si só, equivocada, uma vez que esquece que nem sempre é possível fazer uma experimentação para comprovar determinada teoria da natureza, mas nem por isso tal teoria deixa de se vestir de cientificidade. Ademais, também esquece que é objetivo, de toda ciência, não só as ciências naturais, tentar oferecer um mínimo de explicação acerca do objeto em estudo. Em outras palavras, não há como afirmar que essa impossibilidade rígida das ciências sociais descreverem e das naturais compreenderem é correta.
Assim sendo, o que deve ser prezado não é a constante divisão e separação entre os dois ramos da ciência, visto que é possível (e em certos casos aconselhável) que os dois se inter-relacionam. E mais, se existe uma leve distinção, ela se percebe não tanto na diversidade de objetos, mas nas perspectivas teóricas acerca dos objetos.
RELACIONANDO A CIÊNCIA NATURAL COM A SOCIAL
2.1 NOÇÕES DE ESPAÇO-TEMPO: de Euclides a Einstein
Para melhor explicar como pode ocorrer um relacionamento entre os dois lados da ciência, cabe explorar o conceito de tempo e de espaço, e como ele se desenvolveu durante os séculos. 
Pois iniciemos a nossa jornada pela história com os estudos de Euclides, que concebia o tempo e o espaço como duas realidades distintas e independentes entre si. O espaço seria caracterizado por ser absolutamente “continua, homogênea, tridimensional e infinito”; o que é, de fato, uma conclusão tão lógica que os seus postulados governaram o avanço da ciência (natural) durante séculos. Essa noção de espaço se evidencia nas teorias do físico Isaac Newton, que utilizou esses conceitos, considerados imutáveis à época, para firmar os seus estudos.
Tal rigidez só começou a ser questionado por matemáticos como Sacchieri (1667-1733), Lobatschewsky (1793-1856) e Riemann (1826-1866), que afirmaram a existência de outras regiões do saber geométrico, tão lógicos e coerentes quanto as fórmulas de Euclides, onde os postulados da geometria euclidiana não teriam força. Na geometria hiberbólica e na geometria elítica as leis universais e imutáveis de Euclides não teriam cabimento, surgindo, assim, as chamadas geometrias não-euclidianas.
Já a noção de tempo, entendido por Euclides como sendo linear e idêntica na totalidade do universo, foi também substituída, embora só depois de séculos de domínio. Foi com a teoria da relatividade de Einstein que o tempo começou a ser considerada como relativa, dependente de alguma relação física entre dados acontecimentos no espaço, e não mais absoluta e linear, como Euclides e Newton acreditavam. 
Mas não foi somente a noção de tempo que Einstein modificou: o conceito de espaço não seria mais homogêneo e estático, deixando de apresentar as características a ele atribuídos por Euclides para passar a se qualificar pelo caráter heterogêneo, relativa às características da matéria que o forma. E é nesse caráter de espaço e de tempo como sendo relativos a fatores externos, formulado por Einstein, que surge a relação entre a ciência social e a ciência natural.
2.2 NOÇÕES DE ESPAÇO-TEMPO SOCIAL
Assim, essa relação entre os dois ramos do saber cientifico ocorre na medida em que a noção de espaço-tempo físico se assemelha à noção de espaço tempo social. Afinal, consideramos que cada relação social desenvolvida em cada sociedade “cria e desenvolve o espaço que lhe é próprio”. Em outras palavras, o espaço social só existe relativamente à matéria (relações sociais) que forma a sua essência, do mesmo modo que a existência do espaço físico é relativa à sua matéria. 
Em linhas similares, o tempo social também possui as mesmas características do tempo físico: é descontínuo, finito e não linear. É que, existindo uma multiplicidade de sociedades e relações sociais, temos, também, que uma perpassa por um estágio histórico-cultural distinto das demais. Portanto, teríamos a existência simultânea de mais de um tempo social, demonstrando claramente o seu caráter de descontinuidade. Assim como o espaço social, o tempo social também segue a lógica das noções einsteinianas de tempo e espaço físico: é relativo às características da matéria (no caso especifico do tempo, também depende do espaço).
CONCLUSÃO: A DIALÉTICA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
Pois bem, estabelecida a possibilidade de fazer uma relação entre as ciências sociais e as ciências naturais e o ponto (espaço-tempo) onde tal relação se daria, cabe agora traçar o método como se fará essa relação cientifica. Voltamos, então, à primeira problemática: é possível entender a sociedade cientificamente?
Primeiramente, lembramos que a sociedade existe objetivamente, como tal, possui características e realidades próprias. Segundamente, defendemos que é sim possível proceder numa investigação cientifica dos fenômenos sociais. Contudo, tal investigação se dará não por meios empiristas – afinal, empiricamente falando, explicar os fenômenos sociais é simples demais –, mas pela dialética. Essa dialética, traçada dentro da perspectiva teórica do objeto, possibilitará ao cientista social investigar cientificamente relações e condições sociais ocorrentes dentro do mundo social.
É possível, portanto, se valer da crítica dialética para entender os fenômenos sociais de forma cientifica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL ESCOLA. Positivismo. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/sociologia/positivismo.htm>. Acesso em: 09/04/2015.
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. Trad. São Paulo: Nacional, 1963, p. 35.
MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. A ciência do direito – conceito, objeto, método. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.

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