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Evoluacao historica das politicas de saude no brasil

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Evolução histórica das políticas de saúde no Brasil
Francisco de Assis Acurcio 
Professor do Depto de Farmácia Social ­Faculdade de Farmácia­UFMG 
Doutor em Epidemiologia, Médico
Ítens do texto:
 Introdução
 A primeira república (1889 ­ 1930) 
 A Era Vargas (1930 ­ 1945)
 O período de redemocratização (1945 ­ 1964) 
 O governo militar ( 1964 ­ 1980)
 As décadas de 80 e 90
 O Sistema Único de Saúde: principais características 
 Referências Bibliográficas 
INTRODUÇÃO
 início 
Este texto tem por objetivo discutir a evolução das políticas de saúde no Brasil, como
subsídio para uma melhor compreensão dos aspectos históricos que influenciaram a
conformação de um sistema de saúde no Brasil reconhecidamente ineficaz e ineficiente
no enfrentamento dos problemas de saúde da população. Esta situação crítica impôs a
necessidade de mudanças nesse sistema e desencadeou o processo de implementação
da reforma sanitária no Brasil, que tem como perspectiva fundamental a construção do
Sistema Único de Saúde.
Para esta análise histórica serão apresentados, organizados por períodos, excertos de
vários outros textos de autores que se ocuparam deste tema, com a finalidade de
apresentar uma síntese de contribuições que julgamos significativas para o debate
sobre as políticas de saúde no Brasil.
Iniciaremos a discussão abordando a concepção de políticas públicas, onde se inserem
as políticas de saúde:
Entendemos as políticas públicas como sendo o conjunto das diretrizes e
referenciais ético­legais adotados pelo Estado para fazer frente a um
problema que a sociedade lhe apresenta. Em outras palavras, política
pública é a resposta que o Estado oferece diante de uma necessidade vivida
ou manifestada pela sociedade. 
Ao responder, o Estado empresta ao problema maior ou menor importância,
define seu caráter (social, de saúde, policial etc.), lança mão de
instrumentos para seu equacionamento, define responsabilidades
(ministérios, Congresso, Judiciário etc.) e adota, ou não, planos de trabalho
ou programas" (Teixeira, 1997)
Portanto as políticas públicas são gestadas e implementadas pelo Estado para o
enfrentamento de problemas sociais, dentre eles aqueles relacionados à saúde. É fácil
perceber que existe uma discrepância entre o conjunto de problemas sociais e a a
capacidade do Estado de enfrentá­los. Cabe então perguntar como o Estado atribui ao
problema maior ou menor importância, ou seja, como o Estado prioriza os problemas
que serão enfrentados por meio de políticas públicas em determinado período?
"(...)As diversas definições de políticas públicas atendem a diversos
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objetivos de estudo. Para os estudos sobre a história das políticas, pode ser
útil adotar definições bastante genéricas, como a de Lemieux, que a
concebe como '(...)tentativas de regular situações que apresentam
problemas públicos, situações essas afloradas no interior de uma
coletividade ou entre coletividades' (apud Vianna, 1997:207).Ao falar em
tentativa, Lemieux pretende enfatizar que '(...)o ato de normatizar uma
situação pode ser visto de diferentes formas pelos atores sociais envolvidos
com uma determinada política. Um problema público pode ser considerado,
ao mesmo tempo, como excessivamente regulado por um dos atores e não
regulado por outro, dependendo do tipo de interferência que este problema
tenha sobre a vida de cada um' (apud Vianna, 1997:207).
Uma definição desse tipo ressalta que as políticas públicas são sempre
objeto de disputa entre diversos grupos, disputa que estende­se a própria
decisão do que deve ser considerado em certo momento como um problema
público e, portanto, deve ser alvo da ação regulatória do Estado. Em outros
termos, há uma agenda de problemas públicos, isto é, problemas que
devem ser alvo de políticas públicas, agenda esta que é continuamente
negociada, tanto no que concerne à eventual inclusão de um novo tema no
conjunto de problemas públicos, como no que se refere à sua importância
relativa no interior da agenda. Da mesma forma que se pode falar em uma
agenda das políticas públicas em geral, pode­se falar em agendas
específicas de cada instituição ou agência que compõe o Estado nos mais
diversos níveis de governo. Aqui também ocorrem demandas pela
modificação da agenda dessas diferentes instituições governamentais. (...)É
nesse sentido que podemos compreender qualquer política pública como
uma resposta dada pelo Estado a um conjunto de demandas postas pela
sociedade." (Mattos, 1999)
Aqui, aparece um conceito importante para o entendimento do processo de
implementação de políticas públicas, que é o conceito de ator social, "(...) entendido
como um coletivo de pessoas ou, no seu extremo, uma personalidade que participa de
determinada situação, tem organização minimamente estável, é capaz de intervir nesta
situação e tem um projeto. O conceito de problema também é fundamental (...). Pode­
se entender como problema uma necessidade não satisfeita, desde que se tenha
consciência desta e o desejo de satisfazê­la. Cabe observar que, em determinadas
situações, o que é problema para um ator pode ser oportunidade para outro". (Acurcio
et al., 1998)
Portanto, a elaboração, implementação e resultados obtidos por determinada política
pública tem estreita relação com a disputa de projetos dos diversos atores sociais
interessados no(s) problema(s) a ser(em) enfrentado(s) por esta política. Assim, cada
ator social ao escolher o(s) problema(s), delimitá­lo(s) e construir as estratégias de
ação a serem desenvolvidas no âmbito institucional, expressa um projeto de política,
articulado à determinadas forças sociais.
"A política de saúde de uma época reflete o momento histórico no qual foi criada, a
situação econômica, os avanços do conhecimento científico, a capacidade das classes
sociais influenciarem a política etc." (CEFOR, s.d.). O êxito e o grau de implementação
de seu(s) projeto(s) dá a dimensão da capacidade de determinados atores/forças
sociais influenciarem a política de saúde em um contexto histórico, em detrimento de
outros atores e projetos.
Sendo assim, pode ser útil "recuperar a dimensão simbólica da cidadania,
enquanto valor a orientar (ou não) as opções políticas dos sujeitos sociais
fundamentais quanto à elaboração, implementação e/ou reivindicação de
políticas sociais. (...) A idéia da cidadania ocupa um lugar central no ideário
e na institucionalidade política democráticas, por sua associação com o
valor da liberdade e com os direitos dele derivados. (...) Em sua versão
liberal­democrática, a idéia da cidadania foi , talvez, mais bem
sistematizada por T.H. Marshall, que a compreende como um composto de
três elementos: civil, político e social. Os direitos que materializam a
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liberdade individual ('liberdade de ir e vir, de imprensa, de pensamento e
fé, direito à propriedade, a concluir contratos válidos e de defender e
afirmar todos os direitos em termos de direito à justiça') constituem o
núcleo civil da cidadania, que tem por fiadores os tribunais. No campo
político, afirma­se o 'direito à participação no exercício do poder', como
'membro ou eleitor dos membros das instituições investidas de poder
político, como o Parlamento e demais câmaras representativas ou conselhos
de governo'. Já os direitos sociais não envolvem definição precisa, pois
estão relacionados ao padrão de desenvolvimento das sociedades,
implicando desde o 'direito a um mínimo de bem­estar econômico e
segurança' até o direito à 'participação total' nos níveis de 'vida civilizada'
prevalentes em cada sociedade. Direitos que se exercem,
fundamentalmente, através do sistema educacional e dos serviços sociais."
(Leite, 1991)
"Debatido e criticado,mas igualmente difundido e arraigado, o chamado
Welfare State é uma referência indispensável para se pensar o Estado
contemporâneo. Quase todos os países possuem mecanismos públicos de
proteção social. De um ponto de vista formal, eles se assemelham muito
(são, em geral programas previdenciários, assistenciais e de saúde); porém
quando examinados sob a ótica de como operam (formas de financiamento,
cobertura, tipos de programas, acesso etc), se diversificam em inúmeras
modalidades. (...) É política, entretanto, a dimensão essencial à própria
existência do Welfare State: a constituição de uma esfera pública inclusiva.
A mobilização popular por direitos sociais esbarra em obstáculos tão mais
graves quanto menos a sociedade se apresenta integrada politicamente.
'Estar no mesmo barco', noção (compartilhada por todos) que embasa a
solidariedade do Welfare State social­democrático, segundo Esping­
Andersen, requer que todos realmente estejam, e se reconheçam como
estando, no mesmo barco. (...) A despeito do aparente etnocentrismo de
suas formulações (a cronologia inglesa, que descreve, pode ser entendida
até como metáfora), Marshall fornece um quadro conceitual valioso quando
concebe cidadania como incorporação progressiva de direitos civis, políticos
e sociais. O suposto básico não é que, para tornar­se efetiva, a cidadania
tenha que seguir formalmente aqueles passos, e sim que a efetividade da
cidadania significa a amplificação da medida de igualdade representada pelo
pertencimento à comunidade, que se estende (a todos) e se enriquece
(pelos ditos direitos). 'A cidadania é um status concedido àqueles que são
membros integrais de uma comunidade. Todos aqueles que possuem o
status são iguais em relação aos direitos e obrigações pertinentes ao status'
(...) Marshal descreveu uma seqüência de expansão das prerrogativas
(civis, políticas e sociais). Ela tem importância, na medida que se entenda a
cidadania como contrapartida do Welfare State" (Vianna, 1991).
As profundas, amplas e velozes transformações observadas no mundo ao longo das
últimas três décadas, principalmente àquelas originadas no campo da política e
economia e denominadas de "globalização" , têm evidenciado a necessidade de
transformação do Estado e por conseqüência produzido um acalorado debate sobre a
abrangência e direcionalidade das políticas públicas.
" O reconhecimento desta necessidade está longe de significar o
perfilhamento aos argumentos do discurso neo­liberal que presidiu o debate
na década anterior, preconizando a devolução ao mercado não apenas das
funções produtivas como também de muitas funções regulatórias e, em
particular, a ruptura com o padrão de solidariedade que caracterizou a
organização social e orientou a intervenção estatal até o fim dos anos
setenta (...) e que se convencionou chamar 'Welfare State' (...) Desde os
primeiros momentos do processo de transformação produtiva, quando a
crise do padrão fordista se explicitou, o Welfare State foi responsabilizado
pelas dificuldades financeiras com que se defrontavam os diversos Estados
nacionais. A crise de financiamento apontava caminhos que envolviam a
restrição de direitos sociais e de benefícios como única alternativa de sua
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superação, e a maior parte das medidas de política, em diferentes países,
se pautou por este diagnóstico.(...) No entanto, se nos países desenvolvidos
a reorganização do Estado tem se realizado sem que os direitos sociais
sejam afetados em seus aspectos essenciais, a questão assume outros
contornos em países como o Brasil, em que a crise no plano econômico se
associou a uma crise do regime político, coincidindo com o início do
processo tardio de construção da cidadania. Aqui, as conquistas ainda estão
se consolidando e suas forças sociais de sustentação têm densidade que
pode ser ainda insuficiente para sustentá­las. (...) Construir o NOVO
significa buscar estratégias viabilizadoras de políticas públicas includentes,
tendentes à universalização, direcionadas à construção de uma sociedade
mais equânime e menos desigual, enfrentando as tendências, e não
subordinando­se a elas. (...) Mais do que hospitais, o que precisa ser
assegurado aos cidadãos é qualidade de vida. Essa é mais uma das razões
pelas quais a existência de um sistema público estatal de atenção à saúde é
importante numa sociedade como a brasileira. Ele deve ser também um
espaço catalizador de ações multisetoriais, promotor da articulação das
políticas públicas necessárias para assegurar a saúde e interromper os
ciclos de transmissão de doenças. (...) Numa sociedade que tem os níveis
de exclusão da nossa, em que pelos menos vinte por cento da população
sobrevive em condições extremamente precárias, em decorrência de um
processo histórico de desenvolvimento que produziu uma das mais
desiguais distribuições de renda do mundo, a garantia do direito à saúde
não pode prescindir de uma estratégia integrada de ação estatal. E se
pensarmos nas possibilidades de agravamento desse quadro determinadas
pelo processo de transformação da economia mundial num futuro próximo,
mais importante ainda se afigurará a ação estatal no equacionamento da
questão social. (...) Nesse contexto, que características deve ter o sistema
de saúde para que a população brasileira possa exercer o seu direito?
­ Deve ser acessível a todo cidadão, independente de sua capacidade
financeira ou de sua forma (ou possibilidade) de inserção no mercado de
trabalho; 
­ Deve ser capaz de responder às exigências postas pela transformação do
quadro demográfico e do perfil epidemiológico, garantindo a adequação das
ações às demandas postas pelos diferentes quadros sanitários, nas diversas
regiões do país; 
­ Deve ter como objetivo a construção e a preservação da saúde e não
apenas a cura da doença; 
­ Deve operar de modo articulado, sujeito aos mesmos princípios e
diretrizes, viabilizando a integralidade dos cuidados com saúde e
oferecendo serviços de boa qualidade; 
­ Deve, para assegurar tudo isso, contar com um processo decisório
participativo e submeter­se ao controle dos sujeitos sociais. Em resumo,
acesso universal, integralidade da atenção, ênfase em ações de promoção e
proteção da saúde, descentralização, participação social. Exatamente o que
a legislação brasileira hoje em vigor ­ e ainda não inteiramente
implementada propõe para o SUS." (Barros, 1996)
"O processo de construção do Sistema Único de Saúde é resultante de um
conjunto de embates políticos e ideológicos, travados por diferentes atores
sociais ao longo dos anos. Decorrente de concepções diferenciadas, as
políticas de saúde e as formas como se organizam os serviços não são fruto
apenas do momento atual, ao contrário, têm uma longa trajetória de
formulações e de lutas. A busca de referências históricas do processo de
formulação das políticas de saúde, e da vinculação da saúde com o contexto
político mais geral do país, pode contribuir para um melhor entendimento
do momento atual e do próprio significado do SUS." (Cunha & Cunha, 1998)
Nesta perspectiva, passamos a discutir alguns aspectos fundamentais da evolução
histórica das políticas de saúde no Brasil, neste século, sintetizados de acordo com seu
período de ocorrência .
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A primeira república (1889 ­ 1930)
 início
"Durante a República Velha (1889­1930) o país foi governado pelas
oligarquias dos estados mais ricos, especialmente São Paulo, Rio de Janeiro
e Minas Gerais. A cafeicultura era o principal setor da economia, dando aos
fazendeiros paulistas grande poder de decisão na administração federal.
(...) Os lucros produzidos pelo café foram parcialmente aplicados nas
cidades. Isso favoreceu a industrialização, a expansão das atividades
comerciais e o aumento acelerado da população urbana, engrossada pela
chegadados imigrantes desde o final do século XIX" (Bertolli Filho, 1996)
"(...) com a abolição da escravidão em 1888, consolidou­se o processo de
substituição da mão de obra escrava pela assalariada, de origem européia.
(...) Na industria nascente também utilizou­se mão de obra européia, que
chegou da Europa carregada de idéias anarquistas. Foram freqüentes os
protestos e greves neste período. No que se refere à situação de saúde, as
epidemias continuavam a matar a escassa população, diminuindo o número
de pessoas dispostas a vir para o Brasil. Por isso, o governo da época foi
obrigado a adotar algumas medidas para melhorar esta situação" (CEFOR,
s.d.)
"Nesse período, foram criados e implementados os serviços e programas de
saúde pública em nível nacional (central). À frente da diretoria Geral de
Saúde Pública, Oswaldo Cruz, ex­aluno e pesquisador do Instituto Pasteur,
organizou e implementou progressivamente, instituições públicas de higiene
e saúde no Brasil. Em paralelo, adotou o modelo das 'campanhas
sanitárias', destinado a combater as epidemias urbanas e, mais tarde, as
endemias rurais.(...) Em termos de poder, o próprio nome sugere que o
modelo campanhista é de inspiração bélica, concentra fortemente as
decisões, em geral tecnocráticas, e adota um estilo repressivo de
intervenção médica nos corpos individual e social." (Luz, 1991)
"A crescente intervenção médica nos espaços urbanos foi recebida com
desconfiança e medo pela população. A retirada à força da população dos
ambientes a serem saneados foi constantemente acompanhada pela
vigilância policial, pois temia­se que o povo se revoltasse, agredindo os
agentes sanitários. Além disso, muitas vezes a polícia agia com violência
sem motivo, reproduzindo as formas repressoras comumente empregadas
pelo regime oligárquico contra os protestos coletivos como passeatas e
greves." (Bertolli Filho, 1996)
"A oposição ao modo como eram feitas (as campanhas) pode ser
evidenciada na revolta contra a vacina obrigatória (contra varíola), em
1904. Liderados por um grupo de cadetes positivistas que eram oposição ao
governo, muitos se revoltaram acusando o governo de despótico, de
devassar a propriedade alheia com interdições, desinfecções, da derrubada
maciça de bairros pobres, de arrombamentos de casas para nelas entrarem
à força. A revolta é reprimida pois a questão saúde ainda era concebida
como uma questão policial" (CEFOR, s.d.)
"Impressionado e desgastado com os acontecimentos, o governo revogou a
obrigatoriedade da vacina, tornando­a opcional para todos os cidadãos."
(Bertolli Filho, 1996)
"No campo da assistência médica individual, as classes dominantes
continuaram a ser atendidas pelos profissionais legais da medicina, isto é,
pelos 'médicos de família'. O restante da população buscava atendimento
filantrópico através de hospitais mantidos pela igreja e recorria à medicina
caseira". (CEFOR, s.d.)
"O surgimento da Previdência Social no Brasil se insere num processo de
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modificação da postura liberal do Estado frente à problemática trabalhista e
social, portanto, num contexto político e social mais amplo. Esta mudança
se dá enquanto decorrência da contradição entre a posição marcadamente
liberal do Estado frente às questões trabalhistas e sociais e um movimento
operário­sindical que assumia importância crescente e se posicionava
contra tal postura. Esta também é a época de nascimento da legislação
trabalhista brasileira. Em 1923 é promulgada a lei Eloy Chaves, que para
alguns autores pode ser definida como marco do início da Previdência Social
no Brasil. No período compreendido entre 1923 e 1930 surgem as Caixas de
Aposentadoria e Pensões ­ CAPs. Eram organizadas por empresas, de
natureza civil e privada, responsáveis pelos benefícios pecuniários e
serviços de saúde para os empregados de empresas específicas. As CAPs
eram financiadas com recursos dos empregados e empregadores e
administradas por comissões formadas de representantes da empresa e dos
empregados. Cabia ao setor público apenas a resolução de conflitos. No
modelo previdenciário dos anos 20 a assistência médica é vista como
atribuição fundamental do sistema, o que levava, inclusive, à organização
de serviços próprios de saúde. Caracteriza ainda este período, o elevado
padrão de despesa. Estas duas características serão profundamente
modificadas no período posterior" (Cunha & Cunha, 1998)
A Era Vargas (1930 ­ 1945)
 início
"A revolução de 1930 marcou o fim da hegemonia política da classe
dominante ligada à exportação do café. A crise de 1929 afetou as
exportações, provocando uma enorme queda nos preços do café. O
governo, impossibilitado de continuar a exercer a política de proteção aos
preços do café, devido à crise que afetava os cofres públicos, estava
perdendo legitimidade. Assim, em 1930 ocorreu a revolução, liderada por
frações da classe dominante que não estavam ligadas à exportação de café.
Além disso, o movimento contou com o forte apoio de camadas médias
urbanas, como intelectuais, profissionais liberais, militares, particularmente
os tenentes" (CEFOR, s.d.)
"Investido na Presidência da República pela revolução de 1930, Getúlio
Vargas procurou de imediato livrar o Estado do controle político das
oligarquias regionais. Para atingir este objetivo promoveu uma ampla
reforma política e administrativa (...) suspendeu a vigência da Constituição
de 1891 e passou a governar por decretos até 1934, quando o Congresso
Constituinte aprovou a nova Constituição. As dificuldades encontradas para
governar democraticamente levaram Vargas a promover uma acirrada
perseguição policial a seus opositores e aos principais líderes sindicais do
país, especialmente a partir de 1937, quando foi instituída a ditadura do
Estado Novo. Durante todo o seu governo ­ que durou até 1945 ­ Vargas
buscou centralizar a máquina governamental e também bloquear as
reivindicações sociais. Para isso recorreu a medidas populistas, pelas quais
o Estado se apresentava como pai, como tutor da sociedade, provendo o
que julgava ser indispensável ao cidadão. As políticas sociais foram a arma
utilizada pelo ditador para justificar diante da sociedade o sistema
autoritário, atenuado pela 'bondade' do presidente." (Bertolli Filho, 1996)
"(...) o governo criou o Ministério do Trabalho, atrelando a ele Sindicatos e
elaborou ampla legislação trabalhista. Regulamentando a relação entre o
capital e o trabalho, o Estado criou condições indispensáveis para que a
economia enfrentasse uma nova etapa, baseada na industrialização com
objetivo de substituir importações. (...) No plano da política de saúde, pode­
se identificar um processo de centralização dos serviços que objetivava dar
um caráter nacional a esta política. Nesta época, uniformizou­se a estrutura
dos departamentos estaduais de saúde do pais e houve um relativo avanço
da atenção à saúde para o interior, com a multiplicação dos serviços de
saúde" (CEFOR, s.d.)
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"Em relação às ações de saúde coletiva, esta é a época do auge do
sanitarismo campanhista.(...) No período 38/45 o Departamento Nacional de
Saúde é reestruturado e dinamizado, articulando e centralizando as
atividades sanitárias de todo o País. Em 1942 é criado o Serviço Especial de
Saúde Pública ­ SESP, com atuação voltada para as áreas não cobertas
pelos serviços tradicionais." (Cunha & Cunha, 1998).
"(...)compreendendo a conjuntura de ascendência e hegemonia do Estado
populista, observamos a criação dos institutos de seguridade social
(institutos de Aposentadorias e Pensões, IAPs), organizados por categorias
profissionais. Tais institutos foram criados por Getúlio Vargas ao longo dos
anos 30, favorecendo as camadas de trabalhadores urbanos mais
aguerridas em seus sindicatos e mais fundamentais para a economia
agroexportadoraaté então dominante. Ferroviários, empregados do
comércio, bancários, marítimos, estivadores e funcionários públicos foram
algumas categorias favorecidas pela criação de institutos. Todas constituíam
pontes com o mundo urbano­industrial em ascensão na economia e na
sociedade brasileira de então." (Luz, 1991).
"Diferentemente das CAPs, a administração dos IAPs era bastante
dependente do governo federal. O conselho de administração, formado com
a participação de representantes de empregados e empregadores, tinha
uma função de assessoria e fiscalização e era dirigido por um presidente,
indicado diretamente pelo Presidente da República. Há uma ampliação da
Previdência com a incorporação de novas categorias não cobertas pelas
CAPs anteriormente. (...) Do ponto de vista da concepção, a Previdência é
claramente definida enquanto seguro, privilegiando os benefícios e
reduzindo a prestação de serviços de saúde. (...) Caracterizam esta época a
participação do Estado no financiamento (embora meramente formal) e na
administração dos institutos, e um esforço ativo no sentido de diminuir as
despesas, com a consolidação de um modelo de Previdência mais
preocupado com a acumulação de reservas financeiras do que com a ampla
prestação de serviços. Isto faz com que os superávits dos institutos
constituam um respeitável patrimônio e um instrumento de acumulação na
mão do Estado. A Previdência passa a se configurar enquanto 'sócia' do
Estado nos investimentos de interesse do governo." (Cunha & Cunha, 1998).
O período de redemocratização (1945 ­ 1964) 
 início
" A vitória dos Estados Unidos e dos Aliados na Segunda Guerra Mundial
teve imensa repercussão no Brasil. Grandes manifestações populares contra
a ditadura acabaram resultando, em outubro de 1945, na deposição de
Getúlio Vargas e, no ano seguinte, na elaboração de uma Constituição
democrática de inspiração liberal. A partir de então e até 1964, o Brasil
viveu a fase conhecida como período de redemocratização, marcado pelas
eleições diretas para os principais cargos políticos, pelo pluripartidarismo e
pela liberdade de atuação da imprensa, das agremiações políticas e dos
sindicatos.
Mesmo sob regime democrático, a política populista inaugurada por Vargas
foi mantida. Os presidentes da República continuaram a buscar apoio
popular com medidas demagógicas, destinadas mais a firmar sua imagem
como 'pais do povo' do que a resolver de fato os grandes problemas da
população. Os movimentos sociais, por sua vez, exigiam que os
governantes cumprissem as promessas de melhorar as condições de vida,
de saúde e de trabalho. Neste contexto, a década de 50 foi marcada por
manifestações nacionalistas, que procuravam firmar o país como potência
capaz de alcançar seu próprio desenvolvimento econômico, independente
das pressões internacionais e especialmente do imperialismo norte­
americano. Ao mesmo tempo, houve um forte crescimento da entrada de
capital estrangeiro na economia nacional, favorecendo a proposta
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desenvolvimentista, isto é, de modernização econômica e institucional
coordenada pelo Estado. Esta política teve como principal personagem o
presidente Juscelino Kubitscheck, que governou o país de 1956 a 1961."
(Bertolli Filho, 1996)
"No campo da saúde pública vários orgãos são criados. Destaca­se a
atuação do Serviço Especial de Saúde Pública ­ SESP, criado no período
anterior, em 1942, em decorrência de acordo com os EUA. O SESP visava,
principalmente, a assistência médica dos trabalhadores recrutados para
auxiliar na produção da borracha na Amazônia e que estavam sujeitos à
malária. A produção de borracha era necessária ao esforço de guerra dos
aliados na 2ª guerra. Criou­se também o Ministério da Saúde, em 1953. As
ações na área de saúde pública se ampliaram a ponto de exigir uma
estrutura administrativa própria.
Neste período, os sanitaristas discutiam sobre política de saúde, refletindo o
debate que acontecia sobre economia. Havia de um lado aqueles que
achavam que as condições de saúde melhorariam se fossem utilizadas
técnicas e metodologias adequadas, de outros países. O SESP era um
exemplo deste grupo, pois, no início, a estrutura dos serviços era
sofisticada e cara, semelhante à estrutura nos Estados Unidos. De outro
lado haviam os sanitaristas que buscavam uma prática articulada com a
realidade nacional. Mas por muitos anos, as idéias do primeiro grupo
influenciaram a prática do governo." (CEFOR, s.d.)
"Nessa mesma época o Brasil passa a ser influenciado pelas idéias de
seguridade social que são amplamente discutidas no cenário internacional
ao final da II Guerra Mundial, em contraposição ao conceito de seguro da
época anterior. (...) As ações de previdência são agora caracterizadas pelo
crescimento dos gastos, elevação das despesas, diminuição de saldos,
esgotamento de reservas e déficits orçamentários. (...) As explicações para
tais mudanças podem ser colocadas enquanto resultado de uma tendência
natural (maior número de pessoas recebendo benefícios, uma vez que esta
é a época de recebimento de benefícios dos segurados incorporados no
início do sistema); como também de mudanças de posições da Previdência
Social (desmontagem das medidas de contenção de gastos dos anos 30/45;
crescimento dos gastos com assistência médica, que sobe de 2,3% em 45
para 14,9% em 66; crescimento dos gastos com benefícios, em função do
aumento de beneficiários, de mudanças nos critérios de concessão de
benefícios e no valor médio destes)." (Cunha & Cunha, 1998).
"Quanto a assistência médica, os principais avanços ficaram por conta da
luta dos sindicatos para que todos os IAPs prestassem assistência médica
aos seus associados. Em 1960 é aprovada a lei que iguala os direitos de
todos os trabalhadores, mas ela não é posta em prática. O próprio
movimento sindical não via com bons olhos a unificação dos institutos pois
isto poderia nivelar por baixo a qualidade dos serviços. Muitos deputados
também estabeleciam seus vínculos com uma ou outra categoria, em cima
da diferenciação dos institutos.
Neste período, os IAPs que possuíam recursos suficientes construíram
hospitais próprios. Surgiram também os primeiros serviços médicos
particulares contratados pelas empresas, insatisfeitas com o atendimento
do Instituto dos Industriários ­ IAPI. Tem­se aí a origem dos futuros
convênios das empresas com grupos médicos conhecidos como 'medicina de
grupo', que iriam caracterizar a previdência social posteriormente.
O período caracteriza­se também pelo investimento na assistência médica
hospitalar em detrimento da atenção primária (centros de saúde) pois
aquele era compatível com o crescente desenvolvimento da industria de
equipamentos médicos e da industria farmacêutica." (CEFOR, s.d.)
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"Se as condições de vida da maior parte da população não pioraram, a
consciência da dureza dessas condições foi se tornando cada vez mais clara
no período. Mas, em presença da impossibilidade de soluções reais por
parte das instituições, essa consciência originou um impasse nas políticas
de saúde. Ele foi percebido, aliás, como um impasse estrutural, envolvendo
o conjunto das políticas sociais e a própria ordem institucional e política.
Uma saída histórica para esse impasse foi proposta pelo grande movimento
social do início dos anos 60 no país, liderado e conduzido pelas elites
progressistas que reivindicavam 'reformas de base' imediatas, entre as
quais uma reforma sanitária consistente e conseqüente. Mas a reação
política das forças sociais conservadoras levou ao golpe militar de 1964."
(Luz, 1991)
O governo militar ( 1964 ­ 1980)
 início
"No dia 31 de março de 1964, um golpe de Estado liderado pelos chefes das
Forças Armadas colocou fim à agonizante democracia populista. Sob o
pretexto de combater o avançodo comunismo e da corrupção e garantir a
segurança nacional, os militares impuseram ao país um regime ditatorial e
puniram todos os indivíduos e instituições que se mostraram contrários ao
movimento autoproclamado Revolução de 64. Classificados como agentes
do comunismo internacional, foram perseguidos muitos líderes políticos,
estudantis, sindicais e religiosos, que lutavam pela melhoria das condições
de saúde do povo. (...) Os generais presidentes promoveram alterações
estruturais na administração pública, no sentido de uma forte centralização
do poder, privilegiando a autonomia do Executivo e limitando o campo de
ação dos poderes Legislativo e Judiciário. Sob a ditadura, a burocracia
governamental foi dominada pelos tecnocratas, civis e militares, (...)
responsáveis em boa parte pelo 'milagre econômico' que marcou o país
entre 1968 e 1974. (...) Essa elevação do Produto Interno Bruto (PIB) foi
resultado da modernização da estrutura produtiva nacional, mas também,
em grande parte, da política que inibiu as conquistas salariais obtidas na
década de 50. Criava­se assim uma falsa ilusão de desenvolvimento
nacional, já que o poder de compra do salário mínimo foi sensivelmente
reduzido, tornando ainda mais difícil a vida das famílias trabalhadoras."
(Bertolli Filho, 1996)
"A política econômica e o forte arrocho salarial operaram intensa
concentração de renda que resultou no empobrecimento da população. E
esta situação se refletiu no crescimento da mortalidade e da morbidade. É
quando ocorrem as epidemias de poliomielite e de meningite, sendo que as
notícias sobre esta última foram censuradas nos meios de comunicação, em
1974." (CEFOR, s.d.)
"O primeiro efeito do golpe militar sobre o Ministério da Saúde foi a
redução das verbas destinadas à saúde pública. Aumentadas na primeira
metade da década de 60, tais verbas decresceram até o final da ditadura.
(...) Apesar da pregação oficial de que a saúde constituía um 'fator de
produtividade, de desenvolvimento e de investimento econômico', o
Ministério da Saúde privilegiava a saúde como elemento individual e não
como fenômeno coletivo. E isso alterou profundamente sua linha de
atuação." (Bertolli Filho, 1996)
"Com o golpe de 1964 e o discurso de racionalidade, eficácia e saneamento
financeiro, ocorre a fusão dos IAPs, com a criação do Instituto Nacional de
Previdência Social ­ INPS. Este fato, ocorrido em 1966, marca também a
perda de representatividade dos trabalhadores na gestão do sistema. (...) A
criação do INPS insere­se na perspectiva modernizadora da máquina
estatal, aumenta o poder de regulação do Estado sobre a sociedade e
representa uma tentativa de desmobilização das forças políticas
estimuladas em períodos populistas anteriores. O rompimento com a
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política populista não significou alteração em relação à política
assistencialista anterior, ao contrário, o Estado amplia a cobertura da
previdência aos trabalhadores domésticos e aos trabalhadores rurais, além
de absorver as pressões por uma efetiva cobertura daqueles trabalhadores
já beneficiados pela Lei Orgânica da Previdência Social. Excetuando os
trabalhadores do mercado informal de trabalho, todos os demais eram
cobertos pela Previdência Social. Em relação à assistência médica, observa­
se um movimento ainda mais expressivo de ampliação de cobertura.
Os gastos com assistência médica, que continuaram a crescer neste
período, chegam a representar mais de 30% dos gastos totais do INPS em
76. A ênfase é dada à atenção individual, assistencialista e especializada,
em detrimento das medidas de saúde pública, de caráter preventivo e de
interesse coletivo. Exemplo do descaso com as ações coletivas e de
prevenção é a diminuição do orçamento do Ministério da Saúde, que chega
a representar menos de 1,0% dos recursos da União.
Acontece uma progressiva eliminação da gestão tripartite das instituições
previdenciárias, até sua extinção em 70. Ao mesmo tempo, a 'contribuição
do Estado' se restringia aos custos com a estrutura administrativa. A
criação do INPS propiciou a implementação de uma política de saúde que
levou ao desenvolvimento do complexo médico­industrial, em especial nas
áreas de medicamentos e equipamentos médicos. Ao mesmo tempo, e em
nome da racionalidade administrativa, o INPS dá prioridade a contratação
de serviços de terceiros, em detrimento de serviços próprios, decisão que
acompanha a postura do governo federal como um todo." (Cunha & Cunha,
1998).
"No período de 1968 a 1975, generalizou­se a demanda social por consultas
médicas como resposta às graves condições de saúde; o elogio da medicina
como sinônimo de cura e de restabelecimento da saúde individual e
coletiva; a construção ou reforma de inúmeras clínicas e hospitais privados,
com financiamento da Previdência Social; a multiplicação de faculdades
particulares de medicina por todo o país; a organização e complementação
da política de convênios entre o INPS e os hospitais, clínicas e empresas de
prestação de serviços médicos, em detrimento dos recursos ­ já parcos ­
tradicionalmente destinados aos serviços públicos. Tais foram as
orientações principais da política sanitária da conjuntura do 'milagre
brasileiro'.
Esta política teve, evidentemente, uma série de efeitos e conseqüências
institucionais e sociais, entre as quais a progressiva predominância de um
sistema de atenção médica 'de massa' (no sentido de 'massificado') sobre
uma proposta de medicina social e preventiva (...); o surgimento e o rápido
crescimento de um setor empresarial de serviços médicos, constituídos por
proprietários de empresas médicas centradas mais na lógica do lucro do
que na da saúde ou da cura de sua clientela (...). Assistimos também ao
desenvolvimento de um ensino médico desvinculado da realidade sanitária
da população, voltado para a especialização e a sofisticação tecnológica e
dependente das industrias farmacêuticas e de equipamentos médico­
hospitalares. Assistimos, finalmente, à consolidação de uma relação
autoritária, mercantilizada e tecnificada entre médico e paciente e entre
serviços de saúde e população." (Luz, 1991)
"Ainda é neste período que é difundida a chamada medicina comunitária,
com apoio da Organização Mundial de Saúde e da Organização
Panamericana de Saúde. A medicina comunitária propunha técnicas de
medicina simplificada, a utilização de mão de obra local (os agentes de
saúde) e a participação da comunidade. Entre os trabalhos que buscaram a
participação da comunidade na área de saúde, havia os ligados à igreja
católica como o projeto de Nova Iguaçú e o de Goiás Velho, os projetos
ligados às universidades, financiados por órgãos externos, como o de
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Londrina­PR e os projetos assumidos pelo governo como o Programa de
Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento ­ PIASS, que objetivava a
extensão dos serviços de saúde à população carente.
Em 1975, foi promulgada a lei que instituiu o Sistema Nacional de Saúde,
que apesar de conter idéias inovadoras, reforçava a dualidade do setor
saúde dando ao Ministério da Saúde caráter apenas normativo e ações na
área de interesse coletivo e ao Ministério da Previdência a responsabilidade
pelo atendimento individualizado.
Após algum tempo de funcionamento, o INPS enfrentou grave crise
financeira, resultado de: 1) aumento de gastos; 2) aumento da demanda; 3)
maneira como se dava o contrato com a rede médica privada, possibilitando
fraudes; 4) inexistência de fiscalização dos serviços executados pela rede
privada.
Assim, em 1978 houve nova tentativa de racionalização da previdência e foi
criado o SINPAS ­ Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social
(...)" (CEFOR, s.d.)
"A criação do SINPAS tinha como objetivo disciplinar a concessão e
manutenção de benefícios e prestaçãode serviços, o custeio de atividades e
programas, a gestão administrativa, financeira e patrimonial da
previdência. Foram criados o Instituto Nacional de Assistência Médica da
Previdência Social ­ INAMPS e o Instituto de Arrecadação da Previdência
Social ­ IAPAS, além de integrar os órgãos já existentes. A criação do
SINPAS pode ser compreendida no processo de crescente tendência a
universalização e adoção do modelo de Seguridade Social.
Neste período estão definidas as bases que permitiram a hegemonia, na
década de 70, do modelo assistencial privatista. De acordo com Mendes,
este modelo se assenta no seguinte tripé: a) o Estado como financiador do
sistema, através da Previdência Social; b) o setor privado nacional como
maior prestador de serviços de assistência médica; c) o setor privado
internacional como o mais significativo produtor de insumos, em especial
equipamentos médicos e medicamentos." (Cunha & Cunha, 1998).
As décadas de 80 e 90
 início
"A crise brasileira agravou­se após a falência do modelo econômico do
regime militar, manifestada sobretudo pelo descontrole inflacionário, já a
partir do final dos anos 70. Ao mesmo tempo, a sociedade voltava a
mobilizar­se, exigindo liberdade, democracia e eleição direta do presidente
da República. O último general presidente, João Figueiredo (1979­1985),
viu­se obrigado a acelerar a democratização do país, a lenta e gradual
abertura política iniciada por seu antecessor. Foi extinto o bipartidarismo
imposto pelos militares e criaram­se novos partidos políticos. A imprensa
livrou­se da censura, os sindicatos ganharam maior liberdade e autonomia
e as greves voltaram a marcar presença no cotidiano das cidades
brasileiras." (Bertolli Filho, 1996).
"A reorganização do país em direção a um Estado de direito desenvolveu­se
lentamente e de maneira conflituosa. A partir das eleições de 1982, as
negociações entre as forças políticas mais conservadoras e moderadas se
sucederam, na busca da ampliação da abertura democrática. Essas
negociações colocaram em plano secundário ­ na verdade quase excluíram ­
os sindicatos e partidos de esquerda, récem­saídos da clandestinidade,
apesar do seu sucesso eleitoral nos anos de 1982 e 1984. Os resultados das
eleições de 1986 favoreceram as forças conservadoras, graças a
procedimentos de corrupção eleitoral (clientelismo, curralismo eleitoral,
financiamento de candidatos favoráveis a lobbies etc) empregados desde a
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Primeira República. Apesar disso, grande massa de votos foi para os
setores e partidos políticos progressistas e de esquerda." (Luz, 1991)
"Desde os anos 70, havia uma certa inquietação no interior do Estado com
os gastos crescentes na saúde. (...) A incorporação de grandes contingentes
de trabalhadores no sistema, o desenvolvimento de novas tecnologias
médicas maios complexas (encarecendo o atendimento) e a má distribuição
destes recursos, tornavam a assistência médica previdenciária
extremamente onerosa. Tudo isso, num quadro de crise econômica,
prognosticava a falência do modelo.
Assim, no final dos anos 70, estava demarcada a diretriz de redução de
custos, mas, contraditoriamente, havia forte tendência de expansão do
atendimento médico para os setores ainda não cobertos. Já no início da
década, começara a surgir, ainda fora do aparato estatal, uma corrente
contra­hegemônica que preconizava como proposta ­ para a melhoria da
assistência médica no país ­ a descentralização, articulada à regionalização
e à hierarquização dos serviços de saúde e à democratização do sistema,
através da extensão de cobertura a setores até então descobertos, como os
trabalhadores rurais. O movimento sanitário criticava o modelo
hospitalocêntrico e propunha a ênfase em cuidados primários e a prioridade
do setor público. Mas é somente na década de 80 que as propostas
defendidas pelos sanitaristas passam a prevalecer no discurso oficial.
O movimento sanitário vai ter, portanto, um ponto em comum com os
setores até então hegemônicos: a necessidade de racionalizar os gastos
com saúde. Do ponto de vista dos sanitaristas, o argumento da
racionalização dos gastos podia servir, de um lado, à luta pela quebra do
modelo prevalente, uma vez que o setor privado era responsável pelo
aumento e pela maior parte das despesas na saúde. De outro lado,
possibilitava uma maior democratização do atendimento médico,
estendendo­o à população marginalizada que não contribuía diretamente
com a Previdência Social.
(...) Entre 1981 e setembro de 1984 o país vivencia uma crise econômica
explícita, e é quando se iniciam as políticas racionalizadoras na saúde e as
mudanças de rota com o CONASP / Conselho Consultivo da Administração
da Saúde Previdenciária e as AIS / Ações Integradas de Saúde. Este é um
momento tumultuado na saúde, tendo em vista a quebra de hegemonia do
modelo anterior." (França, 1998)
"Em 1981 foi criado o CONASP que elaborou um novo plano de reorientação
da Assistência Médica (...) que, em linhas gerais propunha melhorar a
qualidade da assistência fazendo modificações no modelo privatizante (de
compra de serviços médicos) tais como a descentralização e a utilização
prioritária dos serviços públicos federais, estaduais e municipais na
cobertura assistencial da clientela.
A partir do plano do CONASP, surgiu o Programa de Ações Integradas de
Saúde, que ficou conhecido como AIS. Tinha o objetivo de integrar os
serviços que prestavam a assistência à saúde da população de uma região.
Os governos estaduais, através de convênios com os Ministérios da Saúde e
Previdência, recebiam recursos para executar o programa, sendo que as
prefeituras participavam através de adesão formal ao convênio.
Em todos estes planos, havia a idéia de integração da saúde pública com a
assistência médica individual. Era uma aspiração antiga que encontrava
interesses contrários à sua concretização nos grupos médicos privados e na
própria burocracia do INAMPS." (CEFOR, s.d.)
"No governo da Nova República, a proposta das AIS é fortalecida e este
fortalecimento passa pela valorização das instâncias de gestão colegiada,
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com participação de usuários dos serviços de saúde.
Em 1986 é realizada em Brasília a VIII Conferência Nacional de Saúde, com
ampla participação de trabalhadores, governo, usuários e parte dos
prestadores de serviços de saúde. Precedida de conferências municipais e
estaduais, a VIII CNS significou um marco na formulação das propostas de
mudança do setor saúde, consolidadas na Reforma Sanitária brasileira. Seu
documento final sistematiza o processo de construção de um modelo
reformador para a saúde, que é definida como 'resultante das condições de
alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,
transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a
serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de
organização social da produção, as quais podem gerar desigualdades nos
níveis de vida.' Este documento serviu de base para as negociações na
Assembléia Nacional Constituinte, que se reuniria logo após." (Cunha &
Cunha, 1998).
"Em 1988 a Assembléia Nacional Constituinte aprovou a nova Constituição
Brasileira, incluíndo, pela primeira vez, uma seção sobre a Saúde. Esta
seção sobre Saúde incorporou, em grande parte, os conceitos e propostas
da VIII Conferência Nacional de Saúde, podendo­se dizer que na essência, a
Constituição adotou a proposta da Reforma Sanitária e do SUS.
No entanto, isso não foi fácil. Vários grupos tentaram aprovar outras
propostas, destacando­se duas: a dos que queriam manter o sistema como
estava, continuando a privilegiar os hospitais privados contratados pelo
INAMPS e a dos que queriam criar no país um sistema de seguro­saúde
mais ou menos parecido com o americano (que,todos sabemos, é caro e
não atende a todos). Como essas alternativas não tinham muita aceitação,
pois uma já tinha demonstrado que não funcionava e a outra era inviável
pela questão econômica, a proposta feita pelo movimento da Reforma
Sanitária teve chance e acabou sendo aprovada, ainda que com
imperfeições. De qualquer forma essa foi uma grande vitória, que coloca a
Constituição brasileira entre as mais avançadas do mundo no campo do
direito à saúde." (Rodriguez Neto, 1994)
"Durante o processo de elaboração da Constituição Federal, uma outra
iniciativa de reformulação do sistema foi implementada, o Sistema
Unificado e Descentralizado de Saúde ­ SUDS. Idealizado enquanto
estratégia de transição em direção ao Sistema Único de Saúde, propunha a
transferência dos serviços do INAMPS para estados e municípios. O SUDS
pode ser percebido como uma estadualização de serviços. Seu principal
ganho foi a incorporação dos governadores de estado no processo de
disputa por recursos previdenciários. Contudo a estadualização, em alguns
casos, levou à retração de recursos estaduais para a saúde e à apropriação
de recursos federais para outras ações, além de possibilitar a negociação
clientelista com os municípios.
Enquanto resultante dos embates e das diferentes propostas em relação ao
setor saúde presentes na Assembléia Nacional Constituinte, a Constituição
Federal de 1988 aprovou a criação do Sistema Único de Saúde,
reconhecendo a saúde como um direito a ser assegurado pelo Estado e
pautado pelos princípios de universalidade, eqüidade, integralidade e
organizado de maneira descentralizada, hierarquizada e com participação
da população." (Cunha & Cunha, 1998).
O Sistema Único de Saúde: principais características 
 início
"Criado pela Constituição de 1988, e regulamentado dois anos depois pelas
Leis no. 8080/90 e no. 8142/90, o Sistema Único de Saúde é constituído
pelo conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e
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instituições públicos federais, estaduais e municipais e,
complementarmente, por iniciativa privada que se vincule ao Sistema."
(Ministério da Saúde, 1998)
"Primeiramente, o SUS é um sistema, ou seja, é formado por várias
instituições dos três níveis de governo (União, Estados e Municípios), e pelo
setor privado contratado e conveniado, como se fosse um mesmo corpo.
Assim, o serviço privado, quando é contratado pelo SUS, deve atuar como
se fosse público, usando as mesmas normas do serviço público.
Depois, é único, isto é, tem a mesma doutrina, a mesma filosofia de
atuação em todo o território nacional, e é organizado de acordo com a
mesma sistemática.
Além disso, o SUS tem as seguintes características principais:
­ Deve atender a todos, de acordo com suas necessidades,
independentemente de que a pessoa pague ou não Previdência Social e sem
cobrar nada pelo atendimento.
­ Deve atuar de maneira integral, isto é, não deve ver a pessoa como um
amontoado de partes, mas como um todo, que faz parte de uma sociedade,
o que significa que as ações de saúde devem estar voltadas, ao mesmo
tempo, para o indivíduo e para a comunidade, para a prevenção e para o
tratamento e respeitar a dignidade humana.
­ Deve ser descentralizado, ou seja, o poder de decisão deve ser daqueles
que são responsáveis pela execução das ações, pois, quanto mais perto do
problema, mais chance se tem de acertar sobre a sua solução. Isso significa
que as ações e serviços que atendem à população de um município devem
ser municipais; as que servem e alcançam vários municípios devem ser
estaduais; e aquelas que são dirigidas a todo o território nacional devem
ser federais.(...)
­ Deve ser racional. Ou seja, o SUS deve se organizar de maneira que
sejam oferecidos ações e serviços de acordo com as necessidades da
população, e não como é hoje, onde em muitos lugares há serviços
hospitalares, mas não há serviços básicos de saúde; ou há um aparelho
altamente sofisticado, mas não há médico geral, só o especialista. Para
isso, o SUS deve se organizar a partir de pequenas regiões e ser planejado
para as suas populações, de acordo com o que elas precisam e não com o
que alguém decide 'lá em cima'. Isso inclui a decisão sobre a necessidade
de se contratar ou não serviços privados; e quando se decide pela
contratação, que o contrato seja feito nesse nível, para cumprir funções
bem definidas e sob controle direto da instituição pública contratante. É
essencial, conforme o princípio da descentralização, que essas decisões
sejam tomadas por uma autoridade de saúde no nível local. É a isso que se
chama Distrito Sanitário.
­ Deve ser eficaz e eficiente. Isto é, deve produzir resultados positivos
quando as pessoas o procuram ou quando um problema se apresenta na
comunidade; para tanto precisa ter qualidade. Mas não basta: é necessário
que utilize as técnicas mais adequadas, de acordo com a realidade local e a
disponibilidade de recursos, eliminando o desperdício e fazendo com que os
recursos públicos sejam aplicados da melhor maneira possível. Isso implica
necessidades não só de equipamentos adequados e pessoal qualificado e
comprometido com o serviço e a população, como a adoção de técnicas
modernas de administração dos serviços de saúde.
­ Deve ser democrático, ou seja, deve assegurar o direito de participação
de todos os seguimentos envolvidos com o sistema ­ dirigentes
institucionais, prestadores de serviços, trabalhadores de saúde e,
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principalmente, a comunidade, a população, os usuários dos serviços de
saúde. Esse direito implica a participação de todos esses segmentos no
processo de tomada de decisão sobre as políticas que são definidas no seu
nível de atuação, assim como no controle sobre a execução das ações e
serviços de saúde. Embora a democracia possa ser exercida através de
vereadores, deputados e outras autoridades eleitas, é necessário também
que ela seja assegurada em cada momento de decisão sobre as questões
que afetam diretamente e imediatamente a todos. Por isso, a idéia e a
estratégia de organização dos Conselhos de Saúde ­ nacional, estaduais e
municipais, para exercerem esse controle social sobre o SUS, devendo
respeitar o critério de composição paritária: participação igual entre
usuários e os demais; além de Ter poder de decisão (não ser apenas
consultivo).
O SUS, no entanto, não pode ser implantado 'da noite para o dia', pois as
mudanças que ele propõe são muitas e complexas; assim como os
interesses que ele questiona. Dessa forma, o SUS, como parte da Reforma
Sanitária é um processo que estará sempre em aperfeiçoamento e
adaptação." (Rodriguez Neto, 1994)
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 início
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