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A EDUCAÇÃO NA GRÉCIA ANTIGA

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A EDUCAÇÃO EM ESPARTA 
O regime escolar em Esparta
 "Depois de ter falado das ideias de Licurgo a favor das crianças antes do seu nascimento, vou entrar em pormenores sobre a educação dos rapazes. Naque1es países da Grécia que se vangloriam de educar melhor a juventude, logo que as crianças são capazes de entender a que se lhes diz, tem-se a preocupação de lhes dar escravos como professores; tem-se a preocupação de as enviar para as escolas públicas, a fim de que aprendam os rudimentos da linguagem, a música e os exercícios da palestra (= exercícios físicos). 
Além disso, enfraquecem-se os seus pés, por meio de calçado; debilitam-se os seus corpos, fazendo-as mudar de vestidos com as estações; enfim, não se conhece outra medida das suas necessidades além da capacidade dos seus estômagos. Licurgo, em vez de dar escravos como professores a cada uma das crianças em particular, nomeou para as dirigir um dos principais magistrados, chamado por esse motivo paidónomo. É ele que tem o poder de reunir as crianças e de punir severamente aquelas que se entregam à moleza. Foram-lhe dados também adolescentes armados de vergastas para castigar aqueles que o merecerem ser. Daí a grande reserva e subordinação entre a juventude. 
Em vez de procurar a delicadeza dos pés, para os endurecer, proibiu o calçado, persuadido de que, caminhando com os pés nus, as crianças se tornariam mais ligeiras para a corrida, mais aptas para o salto, para transpor obstáculos, para escalar montes escarpados, para descer os declives mais rápidos. Inimigo do luxo nos vestidos, quis acostumá-las a não ter senão um para todo o ano; era, segundo ele, um meio de as endurecer contra o frio e contra o calor. Regulamentou as refeições de maneira que os rapazes aprendessem, pela sua própria experiência, a não sobrecarregar o estômago e a não ir além do seu apetite. 
Quando chegar a ocasião, dizia ele, os homens assim educados suportarão mais facilmente a fome; na guerra, poderão, seguindo as ordens dos seus chefes, viver durante mais tempo com uma módica ração, contentar-se sem dificuldade com as comidas mais grosseiras. Pensava, além disso, que os alimentos que tornam os corpos secos, nervosos, contribuem muito mais para a beleza da figura e para o vigor da constituição que aqueles que produzem a gordura. No entanto, a fim de que eles não tivessem que passar fome, se se não encarregou de lhes fornecer o necessário, permitiu-lhes ao menos que a isso provessem eles mesmos, roubando os objectos de que tinham necessidade. Sem dúvida, não se acusará Licurgo por não ter proporcionado outros meios, quando permitiu os roubos astuciosos para subsistir. 
Acaso não tem o ladrão que quer fazer uma presa, que vigiar durante a noite, imaginar os estratagemas durante o dia, armar uma emboscada, ter gente à espreita? Treinando as crianças em todas essas manobras, o seu objectivo era, portanto, evidentemente, torná-las mais hábeis para procurarem o que lhes era necessário e mais aptas para a guerra. Mas porque é que Licurgo, considerando o furto um mérito, submeteu ao chicote aquele que fosse apanhado a roubar? Que admira! Acaso em todas as escolas não há castigos para aqueles que seguem mal os princípios que se lhes ensine? O que se pune entre os espartanos, não é o roubo, mas a feita de jeito. Era uma boa acção roubar os pães de cima do altar de Diana-Ortia; no entanto, aquele que se deixasse apanhar era condenado a ser fustigado pelos seus camaradas. Casimiro Amado, História da Pedagogia e da Educação – Guião para acompanhamento das aulas, Univ. de Évora 2007 21 Qual era então o objectivo do legislador senão mostrar que se pode comprar uma glória e um prazer duradoiros ao preço de uma dor passageira? Outra lição a tirar daí é que, nas ocasiões em que é necessária a rapidez, o homem indolente não consegue nenhuma vantagem, e até sofre com isso. O legislador de Esparta não quis que as crianças estivessem sem vigilante, mesmo na ausência do mestre. O primeiro que se apresenta toma então o seu lugar, para ordenar às crianças o que julga honesto e para punir aquelas que daí se desviam. Com um regulamento tão sensato, tornou ainda as crianças mais dóceis: Com efeito, quer na juventude, quer na idade viril, todos os espartanos respeitam singularmente os magistrados. 
E a fim de que as crianças não ficassem sem monitor, na hipótese de se não encontrar nenhum homem feito, ordenou que seria o mais hábil de cada classe que a comandaria. Assim, as crianças jamais ficavam sem chefe. Quando os rapazes passam da classe das crianças para a dos adolescentes, o uso dos outros gregos é retirá-las então das mãos dos professores e dos mestres, para as libertar de toda a autoridade e torná-las perfeitamente independentes. Licurgo seguiu um método contrário. Convencido de que a adolescência é naturalmente orgulhosa, impetuosa, insolente, sujeita a toda a efervescência das paixões, sujeitou-a, por um lado, aos exercícios mais laboriosos, e, por outro lado, imaginou mil meios de a ocupar constantemente; e, declarando que aqueles que se dispensassem das ocupações prescritos pelas leis seriam excluídos dos empregos honrosos, tornou os magistrados, os pais ou os amigos dos jovens atentos a prevenir neles toda a acção insolente que os exporia ao desprezo geral dos seus concidadãos. 
Além disso, querendo imprimir fortemente a modéstia nos corações, ordenou que se caminhasse nas ruas em silêncio, com as mãos sob as vestes, sem voltar a cabeça para um lado ou para o outro, com os olhos sempre fixos para diante de si. E não contribuiu isso para fazer conhecer que a modéstia pode ser apanágio do homem ainda mais que da mulher? É certo que eles não fazem mais barulho que as estátuas; os seus olhos permanecem quase imóveis; enfim, eles são mais modestos que as próprias virgens. Quando se encontram na sala das refeições, contentam-se em responder às perguntas que se lhes fazem. Tais os cuidados que Licurgo teve para com as crianças". 
XENOFONTE, A República de Esparta
A educação das raparigas em Esparta
 "Ele (Licurgo) quis que as raparigas se fortalecessem, exercitando-se na corrida, na luta, a lançar o disco e o dardo, a fim de que os filhos que elas viessem a conceber ganhassem fortes raízes em corpos robustos, para lutar com mais vigor, e que elas próprias, olhando o parto sem receio, resistissem com mais coragem e facilidade às dores. 
Tirou às raparigas a moleza da sua vida, a sua educação à sombra e a fraqueza do seu sexo: acostumou-as a aparecer nuas em público, como os rapazes, a dançar, a cantar em certas solenidades, em presença destes, e sob o seu olhar. 
Por vezes, elas atiravam-lhes alguma piada bem a propósito, censurando aqueles que tinham cometido alguma falta, e dando louvores àque1es que os haviam merecido : duplo aguilhão que excitava, no coração dos rapazes, a emulação do bem e o amor da virtude... A nudez das raparigas nada tinha de impúdico: o pudor estava lá e ninguém pensava na intemperança; ao contrário, isso contribuía para as habituar à simplicidade, para lhes dar uma emulação de vigor e de força; era isso que elevava os seus corações acima dos sentimentos do seu sexo, mostrando-lhes que elas podiam partilhar com os homens o preço da glória e da virtude.
 Deste modo, as mulheres espartanas podiam pensar e dizer com confiança aquilo que se atribui a Gorgo, mulher de Leónidas. Uma mulher estrangeira dizia-lhe: - Vós, as mulheres Lacedemónias, sois as únicas que mandais nos homens. - É que nós somos as únicas, respondeu ela, que colocamos homens no mundo."
 PLUTARCO (séc. I d. C.), Vida dos homens ilustres
A antiga educação ateniense
 Logo que a criança começa a compreender o que lhe dizem, a ama, a mãe, o pedagogo e até o próprio pai se esforçam por que ela se torne o mais perfeita possível. A cada acção ou palavra lhe ensinam ou apontam o que é justo e o que não é, que isto é belo e aquilo vergonhoso, que uma coisa é piedosa, e outra ímpia, e "faz isto", "não faças aquilo". E, ou ela obedece de boa mente, ou então,
corrigem-na com ameaças e pancadas, como se fosse um pau torto e recurvo. Depois, mandam-na à escola, com a recomendação de se cuidar mais da educação das crianças que do aprendizado das letras e da cítara. 
Os mestres, por sua vez, empenham-se nisso, e, depois de elas aprenderem as letras e serem capazes de compreender o que se escreve, como anteriormente o que se dizia, põem-nas a ler nas bancadas as obras dos grandes poetas, e obrigam-nas a decorar esses poemas, nos quais se encontram muitas exortações, e também muitas digressões, elogios e encómios da valentia dos antigos, a fim de que a criança se encha de emulação, os imite e se esforce por ser igual a eles. Os mestres de cítara, por sua vez, fazem outro tanto, cuidando do bom senso e de evitar que os jovens procedam mal. Além disso, depois de saberem tocar, aprendem as obras dos grandes poetas líricos, que executam na cítara. Assim obrigam os ritmos e harmonias a penetrar na alma das crianças, de molde a civilizá- las, e, tornando-as mais sensíveis ao ritmo e à harmonia, adestram-nas na palavra e na acção. Na verdade, toda a vida humana carece de ritmo e de harmonia. Além disso, ainda se mandam as crianças ao pedótriba, a fim de possuírem melhores condições físicas, para poderem servir e um espírito são, e não serem forçadas à cobardia, por fraqueza corpórea, quer na guerra, quer noutras actividades. 
Assim fazem os que têm mais posses; e: os de mais posses são os mais ricos. Os filhos desses começam a ir à escola de mais tenra idade, e saem de lá mais tarde. Depois de estarem livres da escola, o Estado, por sua vez, obriga-os a aprender as leis e a viver de acordo com elas, a fim de que eles não procedam ao acaso. Tal como o mestre-escola que, para os que não sabem escrever, traça as letras com o estilete e lhes entrega a tabuínha e os força a desenhar o traçado dos caracteres, assim também a cidade, depois de ter delineado as leis, criadas pelos bons e antigos legisladores, os força a mandar e a serem mandados do acordo com elas. 
E quem as transgredir é castigado, e o nome desse castigo, na nossa cidade como noutras partes, é prestar contas, como se fosse prestar contas à justiça. Perante tais cuidados com a virtude particular e pública, ainda te admiras, ó Sócrates, e pões objecções à possibilidade de a virtude se ensinar? Não há nada que admirar; mais de estranhar seria que ela se não pudesse ensinar.” 
PLATÃO, Protágoras, 325c;-326e

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