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Estupro marital - Artigo jurídico - DireitoNet

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27/2/2015 Estupro marital - Artigo jurídico - DireitoNet
http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6560/Estupro-marital 1/3
DN DireitoNet Artigos
Estupro marital
Análise do bem jurídico tutelado pelo ordenamento jurídico nos crimes
contra os costumes e, principalmente, no crime de estupro, para que se
possa responder a seguinte indagação: é possível que o marido estupre
sua própria esposa?
Por Luciana Andrade Maia
Introdução A discussão sobre a possibilidade da ocorrência do crime do estupro entre
pessoas casadas teve origem há muitos anos, quando a mulher ainda era considerada
submissa ao seu marido.
A questão era analisada sob o enfoque das obrigações e deveres matrimoniais, sem levar
em conta o bem jurídico tutelado pela norma.
Ocorre que o Código Penal utiliza-se de normas objetivas, visando à proteção de certos bens
jurídicos, independentemente da pessoa de seu titular.
Assim, quando o Código Penal trata do homicídio, por exemplo, fala em “Matar alguém”, sem,
contudo, dizer quem deve ser esse “alguém”. É verdade que, em certos casos, devido à
relação que a vítima tem com o agente (parentesco), a pena poderá ser majorada em razão a
maior periculosidade e perversidade demonstrada pelo sujeito ativo.
É analisando o objeto jurídico tutelado pelo ordenamento jurídico nos crimes contra os
costumes e, principalmente, no crime de estupro, que iremos responder a seguinte
indagação: É possível que o marido estupre sua própria esposa?
Bem jurídico tutelado no crime de estupro
Nos crimes contra os costumes, visa-se proteger a liberdade sexual das pessoas, ou seja,
procura-se defender as escolhas e disposições, no aspecto sexual, que o indivíduo faz do
próprio corpo.
No tocante ao crime de estupro, há uma peculiaridade especial em relação ao modo de
execução do delito, uma vez que o tipo penal faz menção apenas à conjunção carnal
efetuada de forma violenta ou obtida por meio de grave ameaça.
Assim, só há estupro quando o agente constranger (obrigar, coagir) alguém à prática da
conjunção carnal, mediante emprego de violência ou grave ameaça (art. 213, CP).
Dessa forma, o crime só é possível entre pessoas de sexos opostos, ou seja, entre um
homem e uma mulher, tendo em vista que a conjunção carnal configura-se pela introdução
do pênis na vagina.
Dúvidas sobre o site?
L@I@NE
Nota
Pesquisa realizada dia 27/02/15, as 15:15
27/2/2015 Estupro marital - Artigo jurídico - DireitoNet
http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6560/Estupro-marital 2/3
Vê-se, assim, que o dissenso da vítima (necessariamente uma mulher) é elemento implícito
do tipo, uma vez que o delito só poderá ser configurado quando a vítima não quiser praticar
a conjunção carnal com o agente. Não se exige, contudo, que a vítima aja de forma heróica,
defendendo-se, sem propósito, contra um agente armado ou contra uma ameaça irresistível.
Conforme o exposto, podemos dizer que o ordenamento jurídico defende a liberdade
sexual, de forma que o indivíduo possa escolher quando, como e com quem quer praticar
sexo.
Não há qualquer menção no Código Penal sobre escusas (casos em que o agente não pode
ser responsabilizado) no crime de estupro quando este for casado com a vítima.
Posições doutrinárias a respeito
Basicamente, havia duas correntes a respeito do assunto. Uma dizendo que o homem pode
constranger sua esposa à pratica de ato sexual e outra dizendo o oposto. Vejamos as
posições:
1) Os doutrinadores mais antigos, como Nelson Hungria e Magalhães de Noronha,
afirmavam que não era possível que o marido cometesse estupro contra a própria esposa,
pois aquele tinha o direito de exigir que a mulher tivesse conjunção carnal com ele, tendo
em vista que era uma das obrigações matrimoniais.
Assim, o marido que constrangesse a esposa, mediante violência ou grave ameaça, a ter com
ele relação sexual, estaria acobertado pela excludente de ilicitude do exercício regular de
direito.
2) Para a segunda corrente, defendida especialmente por Damásio e Mirabete, o marido
pode cometer crime de estupro contra a esposa porque a lei não autoriza o emprego de
violência ou grave ameaça na relação matrimonial, de modo que não há exercício regular de
direito na conduta do marido que assim procede.
A recusa injustificada da mulher em manter conjunção carnal com o próprio marido pode
ser causa de separação judicial, mas não direito ao cometimento do delito em discussão.
Nesse sentindo, Guilherme de Souza Nucci1 afirma que "Tal situação não cria o direito de
estuprar a esposa, mas sim o de exigir, se for o caso, o término da sociedade conjugal
na esfera civil, por infração a um dos deveres do casamento".
Observamos que o pensamento machista de épocas passadas deu lugar à isonomia
consagrada na Constituição Federal de 1988, aonde homens e mulher são iguais e, portanto,
gozam dos mesmos direitos e deveres, inclusive sob o aspecto sexual.
Assim, podemos concluir que a recíproca também é verdadeira, ou seja, se o homem
recusar-se injustificadamente de cumprir os deveres conjugais como o de manter relação
sexual com sua esposa, por exemplo, a mulher terá todo o direito de requer a separação
judicial com base nesse motivo.
Atentado violento ao pudor e o casamento
O atentado violento ao pudor (AVP) consiste em constranger alguém a praticar ou permitir
que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal (art. 214, CP). Apesar dos
crimes de estupro e AVP serem muito parecidos, pois protegem o mesmo bem jurídico
(liberdade sexual), nunca houve, na doutrina, discussão a respeito da possibilidade ou não
27/2/2015 Estupro marital - Artigo jurídico - DireitoNet
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do marido praticar AVP.
Sempre foi pacífico que o marido pode praticar atentado violento ao pudor contra a própria
esposa já que o casamento não traz a obrigação de se realizar atos libidinosos diversos da
conjunção carnal.
Dessa forma, o marido que obrigara sua esposa a com ele praticar atos diversos da
conjunção carnal deve sempre responder pelo crime do artigo 214, Código Penal (atentado
violento ao pudor).
Conclusão
Hoje, podemos afirmar com toda convicção que o marido pode estuprar a própria esposa e
ser responsabilizado por sua conduta.
Com a Constituição Federal de 1988, as mulheres tiveram seus direitos positivados,
passando a ter seus direitos equiparados aos dos homens e protegidos pelo ordenamento
jurídico brasileiro.
Se um crime contra os costumes viola a liberdade sexual da pessoa, ele viola os direitos de
homens e de mulheres indistintamente, não importando a relação de parentesco, amizade
que a vítima tem com o sujeito ativo.
O mundo de hoje não é mais tão machista como antigamente ou, pelo menos, as leis
modernas visam tratar homens e mulheres de forma isonômica.
É claro que o pensamento retrógrado e ultrapassado de que a mulher sempre tem que
servir seu marido (em todos os aspectos) ainda encontra raiz em algumas pessoas. O que é
uma pena.
Assim, as leis devem servir para acabar com esse pensamento e punir todos aqueles que
atentarem contra o bem jurídico “liberdade sexual” seja seu titular um homem, uma mulher,
pessoa casada, separada ou, até mesmo, uma prostituta, pois cada indivíduo tem o direito
de dispor do próprio corpo da forma que melhor entender.
Os direitos e deveres matrimoniais pertencem à esfera do direito de família e por ele devem
ser tutelados, não podendo servir de acobertamento de delito e justificação para condutas
inescrupulosas. Referência bibliográfica
[1] NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 2 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2002. p. 655

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