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Direitos e garantias

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1
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
PROF: JOSÉ CARLOS FRANCISCO 
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
 
Análise Teórica dos Direitos e Garantias Fundamentais 
 
Quanto à existência de direitos fundamentais ao longo da história: 
 
Desde os primórdios das civilizações, na antiguidade, há referências a existência a 
direitos fundamentais, como por exemplo, no Egito, na Mesopotâmia, no terceiro milênio a.C., o 
Código de Hamurabi de 1690 a.C., Buda em 500 a.C., falava na igualdade entre homens, a Lei das XII 
Tábuas no direito romano, o Cristianismo, ou seja, há uma longa história com referências a direitos 
fundamentais. Já depois do Cristianismo, encontramos grandes referências a direitos fundamentais 
na Idade Média, sendo a mais famosa dessas referências, a Magna Carta de 1915, da Inglaterra, e 
vários outros atos da própria Inglaterra, dos Estados Unidos, vão dando, então, essa evolução 
histórica dos direitos fundamentais. 
 
Aspectos mais importantes a serem frisados na evolução histórica: 
 
Embora sempre tenhamos falado em direitos fundamentais desde o início das 
civilizações, houve uma ampliação material dos direitos fundamentais, o que significa que o 
significado do que é fundamental incorpou. 
 
Na antiguidade falamos, certamente, em igualdade e tudo mais, hoje juntamente com 
igualdade, nós falamos em novos direitos, como por exemplo, o meio ambiente, então, houve uma 
ampliação material dos direitos fundamentais. 
Essa ampliação decorre de vários fatores: 
1. Consciência da existência de direitos: acaba-se com a escravidão, por exemplo, 
pensa-se em uma visão ampliada da igualdade; 
2. A evolução tecnológica: a partir de novos dados, de novos equipamentos, passa-se a 
conhecer a complexidade do mundo, do nosso universo cultural, e consequentemente passa-se a 
pensar em coisas que não eram pensadas antes, por exemplo, no meio ambiente. 
 
Houve também uma ampliação pessoal dos direitos. Durante parte da história da 
humanidade, as mulheres foram privadas de muitos direitos, no entanto, com a evolução dos 
tempos, as mulheres foram alcançando direitos, em muitas carreiras profissionais as mulheres têm 
um nível importante de competitividade com os homens. Também aqui a escravidão se manifesta 
como uma ampliação pessoal dos direitos fundamentais. 
Há outras razões, como a ampliação do direito de voto, enfim, houve uma ampliação da 
titularidade dos direitos. 
Em síntese, durante grande parte da história da humanidade, embora certos direitos 
tenham existido, houve uma ampliação da titularidade deles, de outro lado, esta mesma história 
mostra uma ampliação material dos direitos fundamentais. 
 
Alguns documentos mais recentes, importantes na evolução histórica dos direitos 
fundamentais: 
 Magna Carta de 1215, da Inglaterra; 
 Declaração da Virgínia de 1776 (no contexto da revolução americana); 
 Declaração de Independência dos Estados Unidos de 1787; 
 
 
 
 2 
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
PROF: JOSÉ CARLOS FRANCISCO 
 A Constituição Americana e suas emendas que trouxeram direitos fundamentais; 
 Declaração de direitos da Revolução Francesa de 1789; 
 Constituição Mexicana de 1917 (às vezes esquecida, porque a protagonista 
desse momento, no início do século XX é a Constituição Alemã de Weimar de 
1919; 
 Doutrina social da Igreja que começa no final do século XIX, com a encíclica 
Rerum Novarum de 1891; 
 Declarações de Direitos da ONU (Declaração de 1948 e os Pactos de 1966, que 
renovam a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948); 
 Mais recentemente: Tratados de Estocolmo de 1972; 
 
Eco 92 no Rio de Janeiro; 
 
Rio + 20, que vai procurar a marcha pela afirmação dos direitos fundamentais em 
matéria ambiental. 
 
Há uma sobrevalorização atual dos direitos fundamentais, há um estudo mais científico, 
entretanto, há muito de ocidentalização nessa sobrevalorização, ou seja, há uma 
internacionalização dos direitos fundamentais, mas há muita divisão ocidental nos direitos 
fundamentais. O modo de vida, os valores que vêm por trás dos direitos e garantias fundamentais 
positivados nos textos constitucionais, estão relacionados a um modo ocidental de vida, e há 
muitos países com suas culturas absolutamente enraizadas. 
 
Crítica: um dos grandes conflitos na atualidade, não é só o conflito econômico, mas 
essencialmente um conflito cultural, quando, então, algumas civilizações muito antigas se vêem 
acuadas, porque um grupo de países querem impor esse modo ocidental aos seus nacionais, como 
por exemplo, esse modo ocidentalizado, vem sendo imposto a países da África, do Oriente Médio, 
enfim, o que causa algum conflito justificável, porque ainda que isso possa ser legítimo, essa 
tentativa de colocar padrões mundiais comuns de comportamento, tem de ser feito com cuidado, 
porque é necessário o devido respeito aos modos originários de vida e de convivência, 
especialmente a estes enraizados à milênios. Essa internacionalização tem muito de positivo, mas 
ela tem também, alguns cuidados a serem adotados para evitar conflitos, que podem até ser 
inevitáveis, mas que pelo menos, sejam na medida do possível, controláveis. 
 
Conceito de Direitos Fundamentais: 
 
São direitos subjetivos, públicos ou privados, indispensáveis à realização da natureza 
humana e a vida em sociedade, e por isso são concedidos ou assegurados por ato próprio do 
interessado, por seu grupo familiar, pela sociedade, pelo estado nacional e subsidiariamente, pela 
ordem internacional. 
 
1) Direitos Subjetivos: 
 
Significa que quando a pessoa é titular de um direito subjetivo, este direito pode ser 
oposto à terceiros. Um direito subjetivo é uma prerrogativa que tem o indivíduo de poder impor 
seu direito a terceiros, podendo inclusive, pedir a tutela estatal para proteção desse direito 
subjetivo. Quando falamos que determinada matéria é direito subjetivo, isso é muito importante, 
 
 
 
 3
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
PROF: JOSÉ CARLOS FRANCISCO 
por exemplo, a moradia é um direito fundamental? Até quando você consegue fazer valer a 
moradia? Consegue, pois quando se fala em moradia, não é necessariamente casa própria, é um 
abrigo, no mínimo, num albergue do poder público. 
 
O importante é, uma vez que se define que se trata de um direito subjetivo, deve-se 
usar esse conceito para tudo aquilo que se irá chamar de direito fundamental. Então, direito 
fundamental é um direito subjetivo? Sim, é um direito subjetivo. 
 
 Mas é um direito subjetivo público ou um direito subjetivo privado? Na idade moderna, 
especialmente a partir do século XVIII e até a atualidade, ainda a muito de uma referência que os 
direitos fundamentais são direitos subjetivos públicos, porque eles aparecem especialmente, 
repita-se, a partir do século XVIII, como uma limitação dos direitos individuais, ou uma proteção dos 
direitos individuais contra os abusos do Estado. A grande preocupação na idade moderna, a partir 
do século XVIII, ao contemplar nos textos constitucionais direitos fundamentais, foi de proteger o 
indivíduo do estado leviatã, contra o estado que vai invadir a esfera de liberdade individual, 
propriedade, etc. 
 
Os direitos fundamentais aparecem tipicamente relacionados a uma proteção do 
indivíduo contra o Estado. Interessante é que essa preocupação até hoje ainda aparece, por 
exemplo, na discussão se o Mandado de Segurança pode ser impetrado pelo próprio poder público 
em face de outro ente estatal, porque historicamente o Mandado de Segurança era uma garantia 
do indivíduo contra o ato ilegal ou abusivo do Estado. Perceba que, o Mandado de Segurança é 
apenas um dos exemplos que marca essa ideia de que os direitos fundamentais eram proteção do 
indivíduocontra atos do Estado. Isso ainda ocorre? É claro que os direitos fundamentais são 
direitos subjetivos que se referem à relação entre o indivíduo e o Estado. A questão que se põe, no 
entanto, é que houve no mínimo uma ampliação de alcance, para não dizer que sempre existiu, 
também à aplicação dos direitos fundamentais as relações privadas, ou seja, os direitos 
fundamentais são direitos subjetivos públicos mas também são aplicáveis as relações privadas, 
então é um direito que não se refere apenas a relação indivíduo-Estado, ele se refere a relação 
indivíduo-indivíduo. O que tem isso de novidade? A novidade ocorre, por exemplo, num julgamento 
relativamente recente do STF, no qual foi considerada inválida a expulsão de um sócio de uma 
associação privada de músicos, e esse sócio foi expulso sem a ele ter sido dado o devido direito de 
defesa, que como todo mundo sabe, a ampla defesa e o contraditório são cláusulas relevantes do 
devido processo legal do artigo 5º, inciso LV, da Constituição.1 
 
Então, notamos que nesta situação, os direitos fundamentais não são apenas aplicados 
as relações entre indivíduo-Estado, são também aplicados às relações privadas. Essa aplicação às 
relações privadas vem sendo chamada de horizontalização dos direitos fundamentais, quando o 
indivíduo e o Estado estão litigando, é colocada uma noção de verticalidade, o Estado em cima e o 
indivíduo, portanto, subordinado a ele, uma relação de inferioridade, daí a ideia vertical. De outro 
lado, quando estamos falando de indivíduo e indivíduo, há uma relação horizontal, daí a relação 
 
1Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, 
nos termos seguintes: 
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e 
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; 
 
 
 
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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
PROF: JOSÉ CARLOS FRANCISCO 
entre indivíduo e indivíduo, na perspectiva dos direitos fundamentais vem sendo chamada de 
horizontalização dos direitos fundamentais. 
 
Hoje os direitos fundamentais, categoricamente são aplicáveis as relações privadas. Isso 
não tem nada de complicado, o problema é a extensão disto, por exemplo, se eu vou demitir um 
funcionário, eu posso ocultar a causa pela qual faço a demissão? Claro, é a demissão sem justa 
causa, eu apenas notifico que estou demitindo, pago os direitos trabalhistas e tudo bem. Mas já há 
uma discussão relevante a esse respeito, considerada a importância do trabalho para a dignidade 
humana, princípio que consta do art.1º, IV da Constituição2, mais do que o sustento, o trabalho 
torna a pessoa completa, dignificada por ser parte produtiva de um meio, poder sustentar os filhos 
e ver neles mais que o reconhecimento pela comida que está levando para casa, mas aquela 
sensação de que o pai é uma pessoa útil. Enfim, por tudo isso o trabalho é muito importante, e aí se 
demite uma pessoa sem dar a ela a razão da demissão? Isso pode inclusive estar ocultando uma 
discriminação qualquer, discriminação por cor, por opção sexual, etc. Ainda, teríamos duas 
categorias de demissão, uma demissão que se paga mais direitos, uma demissão que se paga 
menos direitos, mas o importante é que nas duas demissões tem de dar o motivo, porque a pessoa 
que está sendo demitida tem o direito de saber e tem o direito de eventualmente se defender 
sobre uma causa de demissão, que supostamente não se quis revelar. Então, deve-se aplicar o 
devido processo legal às demissões de empregados? É muito complicada a horizontalização dos 
direitos fundamentais, é fácil falar que os direitos fundamentais se aplicam as relações privadas, a 
questão é a extensão disto, até que ponto eu vou ter essa horizontalização. Isso pode entrar 
também no tema do poder familiar, da relação entre pais e filhos. A questão é bem interessante 
porque envolve a colisão de diversos direitos, com o tempo, naturalmente, a jurisprudência e a 
própria doutrina irão amadurecer esse tema e as coisas poderão ficar melhores. 
 
De qualquer forma, o importante por hora é: os direitos fundamentais são direitos 
subjetivos, aplicáveis às relações entre o indivíduo-Estado, mas também aplicáveis nas relações 
entre indivíduo e outro indivíduo, portanto, nessa perspectiva de horizontalização ao qual fizemos 
referência. 
 
2) Direitos indispensáveis a realização da natureza humana e a vida em sociedade: 
 
Imaginem uma grande área, que envolve muitos direitos que são conferidos pelos 
sistemas jurídicos a uma pessoa. Dentro dessa grande área, há alguns direitos que são considerados 
fundamentais. Então quando se fala em direitos fundamentais, nós já pensamos, primeiro numa 
restrição de alcance, e essa restrição é determinada pela importância dos direitos. O direito 
fundamental não é qualquer direito, é um direito FUNDAMENTAL, como o próprio nome sugere. 
 
Para começarmos a delimitar o que é fundamental, vamos dizer que ele é indispensável 
à vida em sociedade ou a realização da natureza humana. Há muitos direitos, alguns são 
fundamentais, os indispensáveis, mas mesmo dentro dos direitos fundamentais, há um núcleo 
ainda mais importante. Fazendo-se um estudo científico e analítico do conceito de direitos 
fundamentais, podemos até categorizar os direitos fundamentais a partir da importância deles, por 
exemplo, o ensino, seja ele de primeiro grau, de segundo grau, ou de terceiro grau, traduzindo o 
 
2Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito 
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
 
 
 
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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
PROF: JOSÉ CARLOS FRANCISCO 
ensino fundamental, o ensino de 2º grau e a universidade, tudo isso é direito fundamental e não há 
dúvida. Agora se tivermos que pensar qual é o mais importante? Alguns dizem que é a 
universidade, porque faz faculdade e passa a ganhar mais. Não é. O mais importante é o ensino 
fundamental, porque uma pessoa que não domina a língua portuguesa, que não se expressa bem, 
ela se sente insegura, essa é a verdade. Em regra, uma pessoa que não se expressa bem, está 
sujeito a uma dominação pelo grupo que se expressa bem, pelo grupo que, enfim, tem mais 
desenvoltura. Percebe-se que dominar a língua portuguesa, falar bem, saber ler e escrever, não é 
só uma questão de funcionalidade da vida cotidiana, pegar um ônibus, fazer uma leitura de alguma 
coisa para poder assinar um contrato, não é só essa questão de funcionalidade, é uma questão de 
respeito próprio, uma questão de dignidade humana, isso é muito importante. E é exatamente por 
conta disto, que é possível categorizar dentro dos direitos fundamentais à educação, o acesso ao 
ensino fundamental é mais importante do que os outros, tanto é assim, por exemplo, que você 
pode exigir do poder público uma vaga numa escola de 1 grau. Numa cidade grande como no caso 
de São Paulo, por exemplo, há uma vaga em uma escola pública muito longe, 2 horas do local de 
moradia da criança, a mãe ou pai, pode judicializar a matéria e exigir que o poder público forneça 
uma vaga próxima a moradia e se não houver vaga no ensino público, o poder público deverá 
custear o ensino privado, viabilizando, portanto, o acesso ao ensino fundamental. A mesma coisa 
não acontece com o colegial (2º grau), com a faculdade, porque embora sejam importantes, dentrodos direitos fundamentais, há um núcleo ainda mais importante que recebe vários nomes, um deles 
é mínimo existencial, não é núcleo essencial, todo direito tem um núcleo essencial, o mínimo 
existencial é aquilo que dentro dos direitos fundamentais é considerado mais importante do que os 
outros. É o que acontece, por exemplo, com o ensino fundamental, com a saúde básica (nada 
estético, mas coisa relacionada com a dor e a vida) e, também a assistência social a população 
carente. São três temas relacionados a esse mínimo existencial: 
 
1. ensino fundamental; 
2. saúde básica; 
3. assistência social a população carente. 
 
Temos aí a ideia mais reduzida dos direitos fundamentais. Mas ainda há um problema, 
porque definimos um grupo de direitos, os direitos fundamentais como uma restrição, e o mínimo 
existencial como algo que extraio dos próprios direitos fundamentais, com um grau ainda maior de 
importância. 
 
E os direitos fundamentais, o que são? Porque quando se fala que são indispensáveis, 
isso varia muito. Podemos perguntar para um jogador de futebol, destes que tem salário milionário, 
o que ele acha indispensável, e para ele indispensável é ter um carro importado, porque ganha 
tantos milhões por mês e tal. E pergunta-se para um pai ou mãe de família, que trabalha das oito às 
vinte horas todos os dias, o que é fundamental? Então o conceito de indispensável, é 
extremamente difícil de mensurar. Nós nos reconfortamos, vamos dizer assim, nós nos protegemos 
com a noção dada pela própria Constituição de 1988, no Título II, que traz ali uma vasta positivação 
de direitos fundamentais, mas quando temos de pensar em direitos fora desse título II, é o caso da 
discussão, se a imputabilidade penal apenas a partir dos 18 anos é uma garantia fundamental ou 
não, enfim, essa discussão exige que nós passemos para um conceito de indispensável, o que de 
fato, é indispensável. Registro que essa questão da imputabilidade a partir dos 18 anos é bastante 
polêmica, há posições para todos os gostos, inclusive a minha, de que não é um direito 
 
 
 
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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
PROF: JOSÉ CARLOS FRANCISCO 
indispensável, é uma opção política do constituinte, poderia ser 16, 14, ou poderia ser 2 anos de 
idade, ficaria aí dentro de uma margem discricionária do constituinte. 
 
De qualquer modo, esse conceito de indispensável, ele de certo modo torna vulnerável 
o conceito de direitos fundamentais. Somente um estudo de caso, realmente uma análise na 
situação concreta envolvendo o texto normativo, o contexto socioeconômico irá permitir uma 
afirmação segura do que é indispensável ao ser humano ou à vida em sociedade. 
 
Há alguns trabalhos interessantes, como do alemão chamado Robert Alexi, traduzido já 
para o português, tem uma obra importante sobre direitos fundamentais. O professor Alexi tenta 
dar pontos objetivos para que a partir daí seja possível uma espécie de delimitação conceitual dos 
direitos fundamental. De qualquer modo, o importante é você ter noção de que não é simples, e 
dentro dessa tarefa, eu sugiro como caminho de solução, pense sempre no que o próprio texto 
constitucional estabelece no Título II, dando uma definição jurídico-normativa para o que é 
fundamental, ou seja, está no Título II, é direito fundamental, então começa por aí a solução. Fora 
do Título II, você terá de trabalhar pensando em alguma coisa de fato essencial, que porventura dê 
certo para você encaixar o mínimo existencial. Varia no tempo e no espaço, o que é de fato 
indispensável ao ser humano ou a vida ao ser humano. 
 
Os direitos fundamentais não dizem apenas respeito ao indivíduo, não estamos falando 
só do direito à vida, diz respeito as relações interpessoais, das pessoas nas relações contratuais e 
assim por diante. Então a segurança jurídica é um direito fundamental necessário, portanto, a vida 
em sociedade, além da vida propriamente dita, da liberdade de pensamento, relações mais tidas 
com o ser humano em si. 
 
Seguindo nosso conceito, os direitos fundamentais podem ser: 
 
Concedidos ou Assegurados: 
 
Os verbos “conceder” e “assegurar” têm sentidos diferentes, porque de fato há direitos 
que já nascem com o ser humano. A vida, por exemplo, é chamada como um direito originário, 
porque já nasce com o ser humano. No entanto, há direitos que a pessoa tem de adquirir. Perceba 
aqui uma distinção entre direito originário, que nasce com o ser humano e o direito adquirido, um 
direito que surge a partir do implemento de certos requisitos que a legislação estabelece. Os dois 
podem ser importantes, podem ser fundamentais, os direitos originários normalmente são 
fundamentais, alguns direitos adquiridos são fundamentais, então veja, a seguridade social tem 
dentro dela a previdência que concede aposentadorias. 
A aposentadoria com certeza é um direito fundamental, o direito a se aposentar é um 
direito fundamental, há várias aposentadorias, há aposentadoria que abriga a velhice, portanto, a 
pessoa numa situação de vulnerabilidade, igualmente a aposentadoria por invalidez, então, se 
percebe nestas situações direito fundamentais, só que não são direitos que surgem com o ser 
humano, ele tem de adquirir esse direito, mediante contribuições, mediante tempo de trabalho, 
uma série de requisitos então, que a legislação estabelece. Dentro dessa noção de direito originário 
e direito adquirido, percebe-se que quando o direito é originário, cabe ao responsável apenas 
assegurar a existência desse direito, a vida no sentido biológico, você vai assegurar a manutenção 
da vida, entre outros aspectos alimentação, saúde, etc. Outros direitos, você tem obrigatoriamente 
de conceder. Esses direitos que se concede, eles são muitas vezes prestacionais, em prestações 
 
 
 
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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
PROF: JOSÉ CARLOS FRANCISCO 
pecuniárias, então, a Previdência, a aposentadoria por invalidez, o Estado concede mediante o 
pagamento de um montante mensal. Note que é distinta a postura dos responsáveis, uma hora, ele 
só assegura, querendo ou não, o sujeito exerce a liberdade de manifestação, por exemplo, noutra 
situação o responsável faz uma prestação, portanto, entrega uma quantia em dinheiro. 
 
Isso é interessante entender porque muitas vezes encontramos referências, 
especialmente quando falamos das classificações das denominadas gerações ou dimensões dos 
direitos fundamentais e, aí então, nós vemos lá, os direitos de primeira dimensão ou primeira 
geração, são caracterizados por prestações negativas, por um não fazer, esse um não fazer, define 
exatamente a ideia de um direito que deve ser apenas assegurado pelo responsável. De outro lado, 
quando nós estamos na segunda dimensão ou segunda geração dos direitos, nós encontramos, 
então, as expressões fazer, prestações positivas, significa então, nesse momento que o responsável 
no caso, o Estado, em matéria de Previdência, ele vai e faz um pagamento, uma prestação 
pecuniária mensal entregue, ou feita ao titular de um benefício previdenciário. 
Então, assegurado e concedido, têm conceitos diferentes. 
 
Na última parte do nosso conceito, aparece a responsabilidade pelos direitos 
fundamentais. Quem é o responsável pelos direitos fundamentais? 
Aqui se faz uma advertência que serve a todas as pessoas de bem. Quem é o primeiro e 
principal responsável pela realização dos direitos fundamentais? Nós mesmos. Ex: as gerações 
antigas até podem reclamar de terem sido enganadas pela indústria tabagista porque antigamente 
fumar era algo glamuroso, charmoso, etc. A Constituição de 1988 exige, portanto, a mais de 20 
anos, que os maços de cigarro contenham advertências de que o tabaco, o cigarro faz mal a saúde, 
ou seja, até com fotos sobre os malefícios do tabagismo e o sujeito,ainda assim, vai e fuma, e 
depois quer processar a indústria de tabaco. Como? Exceto se a indústria ainda omitiu um mal 
maior, aí é até possível processar, porque se sabia que fazia, mas ainda é pior, aí é possível 
questionar, fora isso não, pois se sabia que fazia mal e mesmo assim usou. 
 
Neste sentido, o primeiro e o principal responsável pela realização dos direitos 
fundamentais é o próprio indivíduo. Não tem de ficar pedindo para o Estado uma coisa que cabe a 
você fazer. O lixo na rua é responsabilidade do Estado, a partir do momento que alguma “criatura” 
pouco civilizada atirou no chão o lixo. Agora começa por responsabilizar o cidadão. E perceba que a 
legislação, especialmente a privada, ela marcha neste sentido, porque antes de você reclamar 
eventualmente do Estado, do poder público, você reclama do próprio indivíduo, uma ação e a 
reação, uma ação e a consequência, ou na sua família. Aqui veja, primeiro responsável é o 
indivíduo, e o segundo, o seu núcleo mais próximo. Quem deve alimentar uma criança? Ora os pais. 
É a família, portanto, no seu núcleo mais próximo, o responsável pela educação do filho e tudo 
mais, é claro, que o Estado tem um papel também paralelo importante, mas é a família, tanto que o 
Estatuto da Criança e do Adolescente pune severamente, até com tipos penais, os pais que não tem 
os devidos cuidados com os filhos. Então o primeiro responsável pelos direitos fundamentais é 
próprio indivíduo e, logo vem a família, o seu núcleo mais próximo, conceito de família que pode 
ser dado num sentido mais restrito, num sentido um pouco mais amplo, avô, avó, mais é a família. E 
é claro, também o Estado. 
 
Mas e a sociedade, no conceito fala-se em sociedade. Há um princípio de convivência 
pouco trabalhado na doutrina brasileira, que é o princípio da solidariedade. A sociedade deve ser 
engajada, ela é nossa, quem é povo, quem são os atores do contexto social? Somos todos nós. 
 
 
 
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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
PROF: JOSÉ CARLOS FRANCISCO 
Evidente que há um ator principal, há os coadjuvantes, e há os figurantes, mas todos fazem parte 
do espetáculo, todos fazem parte da construção do processo social. A sociedade tem a sua parcela 
de responsabilidade, no entanto, a solidariedade no direito brasileiro, vem mais por estímulos, por 
exemplo, o art. 150, VI da Constituição3, prevê imunidades, dentre as imunidades, imunidades para 
instituição de educação e assistência social. Então se desonera a tributação de pessoas que 
colaboram com o poder público, por exemplo, fazendo assistência social, aí a solidariedade aparece 
numa perspectiva de estímulo. Há raros casos nos quais a solidariedade é cobrada, e quando ela é 
cobrada, em sentido estrito (ela é imposta), normalmente é via Estado, o Estado, por exemplo, 
cobra uma tributação para financiar a Seguridade Social, como a aposentadoria, por exemplo, o 
sujeito trabalha a vida inteira, ele paga o próprio benefício e paga também o benefício para aqueles 
que não conseguiram trabalhar. Daí se fala, mas é injusto, ele paga o dele e daquele que não 
consegue trabalhar, pois é paga, é que aquele que não consegue trabalhar, podia ser exatamente 
aquele que está pagando. Traduzindo, o sujeito começa a trabalhar e no primeiro dia ele se 
acidenta e fica inválido, alguém vai contribuir por ele; esse alguém que está contribuindo por ele 
podia ser a pessoa que no primeiro de trabalho se acidentou e outros iriam contribuir por ele. 
 
Então é um sistema de solidariedade, só que essa solidariedade normalmente passa 
pelo Estado. 
 
Repetindo: Quem é o responsável pelos direitos fundamentais? 
 
1) O próprio indivíduo; 
2) A família; 
3) A sociedade. 
Mas aí há uma mistura entre sociedade e Estado Nacional, não há dúvida, o Estado 
Nacional é um dos principais responsáveis pela realização dos direitos fundamentais. 
 
Mas também há um último responsável, porque houve, especialmente a partir de 
meados do século XX, a conscientização de que os problemas de um país podem não se restringir 
apenas aquele país, eles podem se propagar pela ordem internacional e afetar todas as sociedades 
naquele determinado momento histórico. Exemplo prático que podemos dar é o seguinte: quando 
uma pessoa te rouba, você pede ajuda para o Estado, na polícia e etc., e consequentemente tem o 
abrigo na medida do possível. Agora, e quando é o Estado que viola os seus direitos, para quem 
você pede ajuda? Quando então, aquele que deveria proteger é aquele que lesa, você tem de 
buscar outras formas de defesa. E foi isso que o mundo compreendeu, a partir de meados do século 
XX, quando então, vivendo a experiência dramática da 2ª Guerra Mundial, foi visto que os nazistas, 
por exemplo, maltratavam os judeus, mas os judeus tinham nacionalidade, que eram exatamente 
nacionais da própria Alemanha, da própria Polônia anexada, e assim por diante. 
 
 
3 Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito 
Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de 
qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais 
dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da 
lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. 
 
 
 
 
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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
PROF: JOSÉ CARLOS FRANCISCO 
Resultado prático: Quando o poder público que deve proteger, o Estado Nacional que 
deve proteger os direitos fundamentais, é ele esse poder público o violador, surge a perspectiva de 
uma proteção no âmbito internacional. 
 
Importante destacar no conceito dado que essa proteção na ordem internacional é 
subsidiária, você não pode simplesmente ir direto pra ordem internacional e nem essa ordem 
internacional é um grau recursal das instâncias nacionais. Se você estiver discutindo uma questão 
do judiciário brasileiro de violação aos direitos fundamentais, você não vai levar para a ordem 
internacional, por exemplo, para a Corte de São José da Costa Rica, qualquer problema que você 
tiver aqui na ordem Nacional, ou seja, a decisão do judiciário brasileiro não terá um recurso para a 
Corte de São José da Costa Rica, porque a Corte de São José da Costa Rica não é instância recursal 
da justiça brasileira, ela é um sistema de proteção quando a justiça brasileira é que viola o seu 
direito, a sua garantia fundamental, quando ela nega a jurisdição, portanto não julga, e isso tem de 
ser alguma coisa gritante, não só a trágica morosidade do judiciário, mas quando a justiça então 
nega a jurisdição, ou quando dá uma decisão absolutamente contrária ao que está nos autos e, isso 
claro, relacionado a direitos e garantias fundamentais. 
 
Então a Ordem Internacional surge como um sistema de proteção, quando o Estado é o 
violador. E isso pode acontecer inclusive quando o Estado Nacional viola até direitos de pessoas 
localizadas em outros países, pessoas físicas, ou jurídicas localizadas em outros países, porque os 
direitos fundamentais são aplicáveis a pessoas físicas, jurídicas, universalidades e tudo mais. Um 
caso interessante aconteceu quando o Estado Brasileiro, o Governo Federal, concedeu incentivos 
fiscais à empresa Embraer (que produz aviões no Estado de São Paulo, em São José dos Campos), e 
essa concessão de isenção para produção de aviões interferiu no comércio internacional, e uma 
concorrente canadense chamada Bombardier reclamou num organismo de proteção da liberdade 
de comércio internacional, a OMC (Organização Mundial de Comércio), reclamou que oGoverno 
Brasileiro havia dado esse incentivo e o Governo Brasileiro foi obrigado por uma decisão da OMC a 
retirar esse incentivo fiscal para a Embraer. 
 
Perceba que o sistema de proteção a direitos fundamentais ele encontra, sim, hoje 
subsidiariamente, na Ordem Internacional um sistema de proteção: o nacional, cujo seu direito foi 
violado e eventualmente até o estrangeiro que tem de se socorrer das violações praticadas por um 
país. 
 
Então, os direitos fundamentais, nesse conceito que demos, têm de cara, todos estes 
aspectos: 
 
1. direitos subjetivos aplicados as relações públicas ou relações privadas, 
2. indispensável ao ser humano ou a vida em sociedade e 
3. sendo concedidos ou assegurados pelo próprio indivíduo, pela sua família, pela 
sociedade, pelo Estado Nacional e subsidiariamente pela Ordem Internacional. 
 
Aula 2: 
 
Recapitulando: 
 
Conceito de Direitos Fundamentais: Direitos Fundamentais são direitos subjetivos 
aplicáveis às relações entre o Poder Público e o indivíduo, e entre os indivíduos, indispensáveis ao 
 
 
 
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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
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ser humano ou a vida em sociedade, sendo concedidos ou assegurados por ato do próprio 
indivíduo, de sua família, da sociedade, do Estado Nacional e subsidiariamente pela Ordem 
Internacional. 
 
Agora, ainda relacionado ao conceito de direitos fundamentais, iremos trabalhar com 
algumas diferenciações ou sinônimos de direitos fundamentais e há várias nomenclaturas a esse 
respeito. Fala-se em direitos humanos, direitos da humanidade, direitos humanitários, liberdades 
públicas, direitos de personalidade, enfim, há um conjunto de expressões que ora são sinônimos, 
ora tem algumas particularidades. 
 
 Existe distinção entre direitos humanos e direitos fundamentais? 
Muita gente trata como sinônimo, há inclusive alguns livros cujos títulos são Direitos 
Humanos Fundamentais, há muito de igualdade, de sobreposição de ideias, quando se fala em 
direitos fundamentais e em direitos humanos. No entanto, há quem os diferenciem, há um autor 
conhecido nessa área, chamado Fábio Konder Comparato, que usa a expressão direitos humanos 
num sentido superior aos direitos fundamentais, para ele os direitos humanos transcendem a 
ordem normativa e são, portanto, superiores aos direitos fundamentais. Os direitos fundamentais 
seriam os direitos humanos positivados na ordem jurídica. 
 
Essa relação hierárquica, de transcendência dos direitos humanos, para o Fábio 
Comparato, confere inclusive, aos direitos humanos uma força superior ao próprio poder 
constituinte originário. Quando se estuda direito constitucional, especialmente o poder 
constituinte, encontramos no constituinte originário características como a inicialidade, eles são 
ilimitados quanto a matéria, incondicionados quanto a forma. Quando se fala que eles são 
ilimitados quanto a matéria, o Fábio Comparato diz não, os direitos humanos transcendem a ordem 
normativa, portanto, o constituinte originário é limitado, de modo que há sim entre os autores, 
uma distinção entre os direitos humanos e direitos fundamentais. 
 
É também possível dizer que a expressão direitos humanos é consagrada na ordem 
internacional, os documentos recentes que falam sobre direitos indispensáveis ao ser humano ou a 
vida em sociedade, (esses documentos internacionais normalmente se referem a direitos humanos, 
enquanto a expressão direitos fundamentais é aplicada a legislação interna). 
 
De outro lado é até possível diferenciar direitos humanos de direitos fundamentais 
dizendo que os direitos humanos são direitos relacionados à pessoa humana. O sujeito fala, mas 
haveria uma pessoa que não é humana? Sim, a pessoa jurídica é uma ficção, universalidades como 
associações sem personalidade jurídica e assim por diante. Tem-se, nestas situações, uma distinção 
entre direitos humanos e direitos fundamentais, os direitos fundamentais abrigariam 
inequivocamente, também, as pessoas jurídicas, universalidades e assim por diante. 
 
Particularmente reconheço a existência da expressão direitos dos homens, é bastante 
antiga, mas, no entanto, hoje me parece até politicamente incorreta, uma vez que, evidente as 
mulheres, enfim, as pessoas com heterogeneidade na sexualidade, todas elas são titulares de 
direitos. 
 
A expressão “liberdades públicas” também aparece nesse contexto. Liberdades públicas 
representam direitos fundamentais, são diferentes, como é isso? 
 
 
 
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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
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Alguns países utilizaram inicialmente a expressão “liberdades públicas” quando se 
referiam a direitos fundamentais, o que aconteceu, por exemplo, com a França, que trabalhou 
inicialmente com a expressão “liberdades públicas”, para se referir as liberdades do indivíduo em 
face do Estado, portanto, áreas nas quais o Estado não poderia invadir a liberdade do indivíduo. 
 
***Atenção: liberdade pública pode levar a um equívoco. Liberdade pública não é 
liberdade que o poder público tem, mas a liberdade que o indivíduo tem, e não pode essa liberdade 
ser invadida pelo poder público. Essa é a ideia de liberdades públicas na sua origem, especialmente 
na França em 1789. 
 
Hoje ainda, um ou outro autor, se refere à expressão “liberdade pública” como 
sinônimo de direitos fundamentais, mas normalmente ela ficou restrita a esse histórico na França e, 
às vezes, até aparece a expressão liberdades públicas associada aos denominados direitos de 1ª 
Geração ou 1ª Dimensão, que é basicamente a liberdade de expressão, a liberdade de religião, e 
assim por diante, esses direitos que não dependem de uma contraprestação estatal, não 
dependem, portanto, de uma concessão de um ato positivo, de um prestação positiva feita pelo 
Estado. 
 
Então a expressão liberdades públicas está em desuso, e quando utilizada ela ou 
identifica esses direitos no processo histórico da revolução francesa, ou os direitos de primeira 
dimensão. 
 
Diferente é o conceito de direitos humanitários, que representam uma parte dos 
direitos fundamentais, então não são sinônimos, os direitos humanos são bem mais amplos do que 
os direitos humanitários. 
 
 O que significam direitos humanitários? 
Estão relacionados a conflitos, como por exemplo, as guerras entre países, guerras civis, 
etc., há, portanto, cuidados que são obrigatórios com presos, refugiados, exilados, com tratamento 
de feridos dos conflitos. 
 
Os direitos humanitários estão associados a conflitos e também a tragédias, como por 
exemplo, uma grande seca, uma grande epidemia. Quando se fala em direitos humanitários, nós 
estamos associando a ideia, normalmente, a flagelados, a pessoas que foram presas num conflito, 
feridas, fugiram de conflitos, se exilaram e, assim por diante. 
 
É um conceito claro e inserido na ideia de direitos fundamentais, daí porque não são 
sinônimos, os direitos fundamentais abrangem os direitos humanitários, mas não são sinônimos. 
 
Também existe o conceito de direito da humanidade. Uma coisa são os direitos 
humanitários, outra coisa são os direitos da humanidade. 
 
 Direitos da humanidade: Significa que existem alguns direitos que não próprios de 
um povo, não são de um país, mas são de toda a humanidade. 
 
De quem é a Amazônia? É claro que é território brasileiro, está dentro do nosso espaço 
de soberania. No entanto, a biodiversidade e a importância que a região amazônica, especialmente 
 
 
 
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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
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a parte da floresta amazônica tem para o ecossistema, sistema de águas, além da própria floresta, 
essa importânciatranscende a ordem interna do país e alcança o status de direito da humanidade, 
embora, evidente esteja relacionada/afetada a políticas públicas, ao governo brasileiro. 
A mesma coisa se coloca até com acervos de museus, como por exemplo, o Código de 
Hamurabi, de quem é o Código de Hamurabi? É teoricamente do povo da Mesopotâmia, que hoje 
está no Iraque uma parte do espaço que era a antiga Mesopotâmia, outra está espalhada pelo 
mundo, está aqui no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Então de quem é o Código de 
Hamurabi? Esses itens são do histórico da humanidade e, portanto, direitos da humanidade. 
 
Repito: direitos humanos, direitos humanitários, direitos da humanidade, liberdades 
públicas, direitos fundamentais, vão sendo ora considerados como sinônimos, ora como parte. O 
direito da humanidade não é exatamente um sinônimo de direito fundamental, quando muito, no 
caso da floresta amazônica, você vai afirmar que se trata claramente de uma parte dos direitos 
fundamentais, exatamente pela questão do equilíbrio ecológico, do meio ambiente como direito 
fundamental. 
 
Há outros conceitos que vem sendo utilizados: um deles é os direitos de personalidade 
(direito relacionado a nome, a vida privada, a intimidade, a imagem), no entanto, reconheço a 
existência de elementos que permitiriam ampliar esse conceito, especialmente os autores de 
direito privado, direito civil, darão uma visão um pouco mais elástica ao conceito de direito de 
personalidade. 
 
 Importante destacar que esses conceitos são bastante úteis numa prova dissertativa, 
quando você pode e deve colocar a existência de várias posições (não fugir do tema, mas de forma 
discreta exibir conhecimento). 
 
Dentro ainda das questões conceituais há um elemento muito importante, que é 
interessante frisar a distinção entre direitos fundamentais e garantias fundamentais. Uma coisa são 
os direitos, outra coisa são as garantias. 
 
Qual é o primeiro elemento distintivo? O direito é a prerrogativa indispensável ao ser 
humano e a vida em sociedade. A garantia é um instrumento de proteção dos direitos. Portanto, o 
direito é o indispensável, a garantia é um mecanismo, um instrumento, uma forma, um meio de 
proteção dos direitos. 
 
Exemplos: 
1. A vedação a pena de morte é um direito ou uma garantia? É uma garantia ao direito a 
vida. 
2. O mandado de segurança é um direito ou uma garantia? Evidente que é uma 
garantia, é um remédio, um instrumento processual que é utilizado para defesa de vários direitos 
fundamentais, quando não abrigados por habeas corpus, ou mandado de injunção. 
 
Classificação das garantias: 
 
Quanto ao âmbito e ao alcance, temos duas espécies de garantias: 
 
 
 
 
 
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Garantias internas ou nacionais: 
 
1) garantias gerais: são sistemas de proteção que não se dirigem apenas aos direitos 
fundamentais, podem se dirigir a várias outras ideias, a várias outras noções relevantes para a vida 
social e não apenas aos direitos fundamentais. Ex: a própria constituição rígida, a rigidez 
constitucional protege a estabilidade do texto, uma vez que exige 2 turnos para mudança, a 
legitimidade das mudanças, uma vez que exige 3/5 para aprovação. Portanto, a rigidez 
constitucional protege todo o sistema constitucional, mas também protegem os direitos 
fundamentais, ao menos os direitos individuais são cláusulas pétreas. Note pela redação do art. 60, 
§ 4º, inciso IV, da Constituição4, que a nomenclatura ali é direitos individuais, o que pode gerar um 
problema, dizendo, e os direitos coletivos não são pétreos? E os direitos sociais, quando então, a 
classificação não é quanto ao sujeito, mas quanto à matéria, não são pétreos? Isso é um grande 
problema, haverá um momento quando estudarmos na segunda parte do nosso curso “Os Direitos 
na Constituição de 88”, trataremos deste problema. 
Os direitos são prerrogativas indispensáveis, as garantias são instrumentos de proteção, 
as garantias nacionais ou internas, têm nas garantias gerais a sua primeira definição, a Constituição 
é uma delas, as cláusulas pétreas representariam também uma manifestação dessa garantia geral. 
A separação de poderes é também uma garantia geral. A primeira e principal da 
separação dos poderes é evitar o abuso do poder. Tanto que a expressão “separação de poderes” 
vem associada a frases como: o nome de Sistemas e Contrapesos, check and balance, e assim por 
diante. Resultado, então, a separação de poderes também é um sistema de garantia a direitos 
fundamentais. 
Cortes Constitucionais, o STF no seu papel de Corte Constitucional, fazendo a proteção 
da Constituição, também são considerados uma garantia geral, ou seja, as garantias gerais se 
dirigem não só aos direitos fundamentais, mas a todo um sistema, especialmente o sistema 
constitucional, a consequência prática, então, abrange também os direitos fundamentais. 
 
2) garantias específicas: são proteções a um ou a alguns direitos fundamentais. Por 
exemplo, a vida é o direito fundamental, a vedação a pena de morte (admitida à pena de morte 
apenas no estado de guerra declarada, previsão do art. 5º, inciso XLVII, alínea a, da Constituição5) é 
uma proteção a vida, é uma garantia direta e específica para a vida. Da mesma maneira as cláusulas 
da irretroatividade prejudicial ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e coisa julgada, 
representam uma garantia específica à segurança jurídica. A segurança jurídica é um direito 
fundamental e a irretroatividade é uma garantia específica. 
Existem algumas garantias um pouco mais abrangentes, é o caso, por exemplo, da 
legalidade ou da reserva da lei. Qual é o direito protegido pela legalidade ou pela reserva da lei? 
Pode-se falar qualquer direito, basta o tema da lei tratar desse ou daquele assunto, mas pode-se 
falar que é a impessoalidade, porque a lei é um preceito normativo aplicável a todos, é impessoal, e 
há quem diga que é a segurança jurídica, porque pela lei, eu sei o que eu posso e não posso fazer. 
Consequência prática, a lei de fato, ou a reserva legal, ou a estrita legalidade ou mesmo a 
legalidade relativa, a reserva legal relativa, permite uma classificação um pouco mais ampla, 
 
4 Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: § 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de 
emenda tendente a abolir: IV - os direitos e garantias individuais. 
5 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, 
nos termos seguintes: XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, 
XIX; 
 
 
 
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poderia até ser classificada como garantia geral? Cremos que não, ela também não chegaria a esse 
ponto, mas é uma garantia específica porque defende alguns direitos. 
 
3) remédios constitucionais: são instrumentos processuais dirigidos para a proteção 
dos direitos fundamentais, instrumentos processuais. O processo pode ser judicial, que é a regra, 
mas também pode ser administrativo, há remédios constitucionais relacionados a processos 
administrativos e, há remédio constitucional, relacionado a processo administrativo. 
Quais são esses instrumentos processuais? Os habeas corpus, habeas data, os mandados 
de segurança e de injunção, a ação popular e o direito de petição. Os cinco primeiros são 
processuais, judiciais e o último, é um instrumento administrativo de proteção de direitos na via 
administrativa.Note a distinção entre garantias específicas e remédios. Os remédios são sempre 
instrumentos processuais. 
 
Garantias externas ou internacionais: 
 
1) garantias globais ou internacionais: em sentido estrito, é o caso, por exemplo, da 
ONU e de seus vários sistemas de proteção, da OMC, e assim por diante, são garantias globais. 
 
2) garantias regionais: que envolvem grupos de países, normalmente continentes ou 
partes de continentes, de região, nós temos como no caso brasileiro, o MERCOSUL na Europa, a 
União Européia, são dois exemplos de garantias regionais. 
 
Então as garantias, elas tem essa abrangência, a nacional e a internacional interna ou 
externa. 
 
Com isso encerramos a parte de conceito de direitos e de garantias fundamentais. 
Agora vamos estudar as fontes, fundamentos dos direitos fundamentais. 
 
 
Fontes dos direitos fundamentais: 
 
A primeira fonte dos direitos fundamentais são os valores éticos morais de uma 
sociedade. Há inclusive uma teoria chamada teoria moralista de Perelman, que fala que os direitos 
fundamentais encontram a sua fonte na experiência e na consciência moral de um determinado 
povo. Então a primeira fonte é o que nós pensamos como certo ou como errado, 
independentemente das leis. 
 Existem outras fontes, ou outros fundamentos. Existe a lógica do direito natural, que 
vai sustentar que independentemente do preceito normativo, “A” ou “B”, dizer isso ou aquilo, os 
direitos são naturais por fatores lógicos racionais, porque o indivíduo nasce com determinada 
prerrogativa, porque é indispensável na consciência e no senso natural da vida contemporânea, 
que a pessoa tenha direito a isso ou aquilo, ou seja, é da ordem natural das coisas, aí vem a ideias 
do direito natural, independentemente de uma positivação nessa ou naquela lei. 
Evidente que até hoje existe um fortíssimo fundamento que é a do direito positivo, nós 
reconhecemos como direito aquilo que está escrito num texto normativo reconhecido como válido. 
Esse texto normativo, positivado, representaria então, a fonte primordial dos direitos 
fundamentais. 
 
 
 
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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
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Ainda vivemos num mundo jurídico essencialmente vinculado ao positivismo, o que está 
escrito é extremamente importante. Lembre-se que o texto normativo é o primeiro passo do processo 
interpretativo, o texto tem de ser contextualizado, então, temos o texto e o contexto, o contexto é a 
realidade no tempo e no local no qual a questão se coloca, logo texto e realidade, texto e contexto, os 
dois devem ser integrados para que então, você resolva um problema concreto. 
Muita gente hoje fala que a Constituição é viva, ela não se esgota na produção do texto, ela 
tem uma mudança formal, com as emendas, etc., mas tem também uma mudança informal, chamada 
de mutação constitucional, que vai exatamente permitir que as transformações nos valores da 
sociedade sejam refletivas no processo interpretativo. Então se estou analisando em 2012 um fato que 
aconteceu em 2012, pego o texto da Constituição de 1988 e analiso à luz dos valores de 2012. O 
inverso, se estou analisando hoje em 2012 um fato que aconteceu em 1989, pego o texto da 
Constituição de 88 e hoje em 2012, eu analiso o fato de 89 à luz dos valores de 89, quem se comportou 
em 89, se comportou com base no texto e no contexto que se admitia naquele momento. 
Resultado prático então, a Constituição é viva, conceito que vem com uma expressão 
americana “living constitution”, ou seja, o texto constitucional não é o único referencial da fonte 
normativa, texto e contexto se integram. 
 
Também é muito importante nesse processo, a identificação dentro das fontes 
normativas do Direito Nacional e do Direito Internacional. É fundamental identificar que os direitos 
fundamentais estão muito atrelados a uma normatização nacional, mas também a uma 
normatização internacional. 
 
O Direito Internacional tem tido um papel extremamente importante na proteção dos 
direitos fundamentais, ao papel subsidiário, ao qual nos referimos, e na maioria das vezes ele acaba 
sendo absorvido pela própria legislação interna, caso, por exemplo, o artigo 5º, §§ 2º e 3º, da 
Constituição de 886, admite que tratados internacionais sejam hoje convalidados, aprovados pela 
ordem interna, como emenda constitucional é o que aconteceu com o Tratado de Nova York de 
2009, que aprovado tal como emendas (3/5, 2 turnos em cada casa, etc.) hoje faz parte da 
Constituição, então o texto da Constituição é o texto positivado por permanente, por transitório, 
suas emendas e, também tratados internacionais, formando uma noção conhecida como BLOCO DE 
CONSTITUCIONALIDADE. 
 
Então os fundamentos normativos são internos e internacionais. 
 
Não confunda Direito Internacional com Direito Comparado e nem com Direito 
Estrangeiro: 
Direito Comparado: é uma análise de funcionalidade entre o direito de um país e o 
direito de outro; 
Direito estrangeiro: é o direito só de outro país, o direito internacional tem uma fonte 
diferente, ele vem normalmente de organismos internacionais dos quais o Brasil, por exemplo, faz 
parte. É o Direito Internacional a grande fonte dos direitos fundamentais junto com o Direito 
Interno. 
 
6Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, 
nos termos seguintes: § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do 
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja 
parte. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do 
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às 
emendas constitucionais.

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