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Aula_5_-_Do_processo_de_modernizacao_da_agricultura_ao_lancamento_da_estrategia_do_agronegocio

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Disciplina: Extensão Rural – IH 447
Aula 5 – Do processo de modernização da agricultura ao lançamento da estratégia do agronegócio
Professor: César Augusto Da Ros
1. Objetivo da Aula:
Oferecer aos alunos da disciplina um panorama geral do desenvolvimento da agropecuária nacional, desde o período Pós-Guerra até o momento atual. 
2. A modernização da Agropecuária Brasileira
No contexto político da “Guerra Fria”, a “revolução verde” é exportada pelo mundo como forma de conter a “revolução vermelha”. 
A “revolução verde” ou modernização da agropecuária era concebida como o processo de transformação da base técnica da agricultura mediante incorporação de inovações biológicas, mecânicas e químicas. 
Foi um processo que se articulou à expansão industrial dos países centrais, e também a estratégia de desenvolvimento dos países periféricos baseada na substituição de importações. 
No Brasil, a necessidade de modernizar a agricultura surgiu nos anos 50 e 60 quando se intensificou o debate sobre as diferentes estratégias de desenvolvimento que seriam adotadas. 
A percepção de que o “atraso da agricultura” era um obstáculo à expansão industrial se tornou um diagnóstico comum tanto às forças progressistas ou de esquerda, quanto às conservadoras ou de direita.
Para muitos a principal fonte desse atraso residia na estrutura agrária baseada no binômio minifúndio/latifúndio, razão pela qual era preciso reestruturá-la. 
Para Caio Prado Júnior (PCB): a reforma agrária permitiria a elevação dos padrões de vida da população rural, em condições humanas de vida. Para tanto defendia: a) uma legislação trabalhista; c) uma modificação na estrutura fundiária.
Para Inácio Rangel, a crise agrária decorria da “superprodução ou escassez crônicas de produtos agrícolas”, o que levava a problemas de comércio exterior, e também, da “superpopulação rural” cujo desdobramento era o desemprego urbano. 
Para solucionar esse problema, propugna: a) uma mudança na estrutura agrária; b) um incremento do comércio exterior e da procura urbana por mão-de-obra. 
Para a CEPAL, o problema agrário brasileiro decorria da inelasticidade da oferta de alimentos às pressões urbanas e industriais, razão pela qual se justificava a reforma agrária e a legislação trabalhista para o campo. 
Neste debate, a Igreja e as Ligas camponesas também participaram. 
Para Delfim Neto, a tese da CEPAL de que havia uma inelasticidade na oferta de alimentos era equivocada, demonstrando que a agricultura sempre conseguiu acompanhar o desenvolvimento industrial. 
O Grupo de intelectuais ligados à Delfim negava a existência de uma questão agrária, desconsiderando que a estrutura fundiária e as relações de trabalho no campo fossem um problema econômico relevante. 
Para eles, a agricultura brasileira cumpria perfeitamente as funções requeridas pelo desenvolvimento econômico: 1) Liberação de mão de obra; 2) Criação de mercado para a indústria; 3) Expansão das exportações; 4) Financiamento de parte da capitalização da economia. 
Por isso, não seria necessário realizar uma reforma agrária. 
Os problemas da agricultura brasileira eram a baixa produtividade da mão-de-obra e a falta de diversificação da sua estrutura produtiva. 
Para Delfim a modernização agrícola dependia: a) do nível técnico da mão-de-obra; b) do nível de mecanização; c) do nível de utilização de adubos e da existência de variedades adequadamente selecionadas; d) da existência de uma estrutura agrária eficiente; 
Essas visões sobre a questão agrária brasileira se inseriam nas propostas de desenvolvimento econômico em disputa naquele momento: 1) Desenvolvimento associado ao capital estrangeiro (forças conservadoras); 2) Desenvolvimento nacional com base no mercado interno e na ação do Estado (forças progressistas).
A realização do Golpe Militar (1964) reverteu os rumos desse debate e a proposta da modernização sem reforma agrária se impôs no cenário nacional. 
Os governos militares adotaram medidas de política ancoradas no seguinte tripé:
Na criação do Sistema Nacional de Crédito Rural, em 1965, que ofertou crédito em abundância e a juros baixos; 
Na criação da EMBRAPA, em 1972, responsável pela adaptação e replicação de “pacotes tecnológicos” da revolução verde; 
Na criação da EMBRATER, em 1974, responsável por transferir os pacotes tecnológicos aos agricultores “tradicionais” a fim de transformá-los em modernos “empresários rurais”. 
A aplicação da estratégia da modernização produziu mudanças profundas na agropecuária brasileira, principalmente no que diz respeito à sua base técnica de produção. 
A oferta de crédito rural farto e a juros negativos, propiciou um aumento vertiginoso no uso de máquinas e implementos agrícolas. 
Em 1950 foram vendidos 8.372 tratores, sendo que em 1985 este número saltou para 665.280 unidades (Teixeira, 2005, p. 25). 
O mesmo ocorreu com o consumo de fertilizantes agrícolas, que em 1960 era de 304.497 toneladas de NPK e saltou para 4.200.619, em 1980 (Gonçalves Neto, 1997, p. 209). 
Na produção de agrotóxicos houve também um incremento considerável, passando de 4.000 toneladas, em 1964, para 56.300 toneladas, em 1980 (Ehlers, 1996, p. 43). 
Esses incrementos não ficaram restritos à agricultura, já que nos setores ligados à pecuária ocorreu o mesmo, tais como o consumo de rações, medicamentos e equipamentos. 
Como resultado da ampliação do consumo de insumos modernos houve um aumento considerável da produção e da produtividade na agropecuária como um todo. 
Tal incremento ocorreu mediante a ênfase nos produtos para exportação (cana de açúcar, cacau, soja, algodão, laranja, etc.). 
Porém, estas culturas foram concentradas nas regiões Centro Sul, principalmente através da abertura de Novas Fronteiras Agrícolas no Centro Oeste. 
Nesta época todo o foco do crédito era voltado aos produtores com “maior resposta econômica”, quais sejam, os médios e grandes. 
Essa estratégia de desenvolvimento rural predominou no Brasil entre os anos de 1965 a 1985, quando começou a dar sinais de esgotamento. 
Em que pesem os resultados econômicos alcançados, tais como o aumento da produção, produtividade e incorporação de novas tecnologias, a modernização produziu um conjunto de efeitos sociais e ambientais regressivos, entre os quais merecem destaque: 
Aumento da concentração fundiária e da renda no campo; 
aumento da dependência dos agricultores ao crédito;
desaparecimento de pequenas propriedades rurais e o aumento das dificuldades de acesso a terra;
4) diminuição dos empregos agrícolas e surgimento do trabalho sazonal (bóias-frias); 
intensificação do êxodo rural e a redução da população no campo; 
surgimento de problemas no abastecimento interno de alimentos; 
surgimento de impactos ambientais, tais como a erosão dos solos, contaminação de rios, lagos e lençóis freáticos, além da contaminação humana por uso inadequado de agrotóxicos;
desaparecimento de variedades de culturas agrícolas tradicionais em face da adoção generalizada das monoculturas uniformes;
Entre outros efeitos. 
O caráter concentrador e excludente da modernização da agropecuária brasileira, levou muitos autores a caracterizá-la como sendo uma “modernização conservadora”.
Isto, porque, as mudanças produzidas pela modernização circunscreveram-se à base técnica da produção, sem alterar as bases da estrutura fundiária e social existente no campo. 
Nesta direção Graziano da Silva, a qualificou também como uma “modernização dolorosa”. 
3. Panorama atual da agricultura brasileira: 1980 a 2010
3.1. O esgotamento da modernização baseada no crédito
No início dos anos 80, a crise da dívida colocou em xeque a estratégia de desenvolvimento dos militares baseada no endividamento externo, enfraquecendo o regime. 
Para fazer frente aos compromissos com os credores internacionais o país recorreu ao FMI em busca de empréstimos financeiros. 
Em troca, o país foi pressionado a adotar um conjunto de reformas, a fim de reestruturar a economia no novo cenário mundial. 
Essas reformas preconizavam:a) abertura comercial; b) desregulamentação; c) liberalização financeira; d) controle dos gastos públicos; e) privatização das empresas estatais; f) reforma trabalhista. 
O sistema de crédito agrícola foi reformado, reduzindo drasticamente o volume de empréstimos e introduzindo a correção monetária; 
Houve a substituição da estratégia de crédito agrícola pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM).
Os únicos setores beneficiados com algum tipo de crédito foram aqueles cuja produção era inteiramente voltada às exportações, as quais passaram a ser estimuladas como forma de honrar os compromissos da dívida externa. 
A PGPM garantiu a expansão das exportações agrícolas e o aumento da produtividade. 
O ponto negativo foi o acúmulo dos estoques agrícolas pelo governo.
3.2. A agricultura no contexto da estabilização da economia brasileira (1994 – 1999)
Com a aplicação das reformas, iniciou-se um movimento de redução do papel do Estado no financiamento da agricultura;
A redução das tarifas de importação manteve a inflação controlada, que associado ao câmbio valorizado facilitou a entrada de produtos importados.
A PGPM foi modificada para evitar acúmulo de estoques.
Reduziu-se drasticamente o volume de crédito oficial, criando-se mecanismos de financiamento privados.
Como resultado geral desse processo o setor agropecuária foi fortemente penalizado, atuando como a “âncora verde” do Plano Real. 
Vários setores do agronegócio brasileiro se desestruturam em face à concorrência externa (trigo e leite, por exemplo)
Houve uma significativa desnacionalização das empresas do agronegócio. 
Segundo o Censo de 1995/96 mais de 900 mil propriedades familiares desapareceram. 
A crise no campo favoreceu o aumento das ocupações de terras e mobilizações das entidades sindicais ligadas à agricultura familiar. 
Como resultado geral desse processo o setor agropecuária foi fortemente penalizado, atuando como a “âncora verde” do Plano Real. 
Vários setores do agronegócio brasileiro se desestruturam em face à concorrência externa (trigo e leite, por exemplo)
Houve uma significativa desnacionalização das empresas do agronegócio. 
Segundo o Censo de 1995/96 mais de 900 mil propriedades familiares desapareceram. 
A crise no campo favoreceu o aumento das ocupações de terras e mobilizações das entidades sindicais ligadas à agricultura familiar. 
Com isso houve uma multiplicação significativa dos assentamentos rurais pelo país. 
Tais pressões levaram o governo a criar um programa de crédito específico para a agricultura familiar, o PRONAF. 
Em 1996, o governo criou o Ministério Especial de Política Fundiária, em resposta ao massacre de El dourado dos Carajás. 
Em 1999, o governo FHC resolveu criar o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que passou a atender ao público da reforma agrária e da agricultura familiar. 
Desde então, os recursos financeiros para esse público tem aumentado progressivamente. 
3.3. A agricultura no contexto da flexibilização do câmbio (1999 -2003)
No ano de 1999, uma crise internacional forçou o governo FHC a flexibilizar o câmbio, acabando com a paridade entre o dólar e o real. 
Paralelamente, houve uma recuperação dos preços internacionais das commodities agrícolas o que favoreceu novamente às exportações. 
Internamente, por pressão das organizações do patronato rural (grandes proprietários) o governo renegociou as dívidas agrícolas, aliviando o setor. 
A expansão do agronegócio brasileiro foi favorecida ainda pelos seguintes fatores: a) desoneração das exportações (Lei Kandir); b) pelo aumento da demanda asiática, em especial a China; c) Aumento da produtividade proporcionada pelas pesquisas (EMBRAPA); d) diversificação dos mercados de exportação.
Neste novo cenário o Brasil tem batido recordes na produção agropecuária, garantindo um saldo positivo nas exportações. 
Porém, tal sucesso não é obra exclusiva da “competência do setor”, mas também do apoio governamental e das sucessivas renegociação das dívidas. 
4. Considerações finais:
A modernização da agricultura produziu mudanças profundas no padrão técnico da agropecuária brasileira, bem como na sua estrutura econômica e social. 
Em que pesem os notáveis avanços tecnológicos que resultaram em aumentos significativos da produção e da produtividade, é preciso ressaltar que este processo foi bastante seletivo e excludente, razão pela qual foi denominada de “modernização conservadora”. 
A não resolução da questão agrária, resultou na constituição de uma estrutura fundiária altamente concentrada da propriedade da terra. 
Tal estrutura ainda hoje produz conflitos de diversas naturezas, relativos à luta pela posse e uso dos recursos naturais. 
No campo das políticas públicas, esse modelo reproduz uma lógica de desenvolvimento rural dual, no qual o agronegócio e a agricultura familiar disputam a primazia na utilização dos recursos públicos.

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