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Roteiro caule Porfa Lucia Helena

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA 
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 
DEPARTAMENTO DE BOTÂNICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MORFOLOGIA VEGETAL: CAULE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profa. Dra. LUCIA HELENA SOARES E SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília 
2012 
 
 
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CAULE 
Morfologia externa 
 
1. ORIGEM 
 
O caule primário de um vegetal se desenvolve a partir do hipocótilo do embrião (porção entre a 
plúmula e a radícula), por meio de divisões mitóticas (aquela que mantém o mesmo número 
cromossômico das células). 
No vegetal desenvolvido ramos caulinares novos formam-se a partir de gemas axilares (porções 
de tecido meristemático presente na axila de cada folha). 
Em situações em que há corte do ápice caulinar, pode ocorrer brotamento. Neste caso é preciso 
que ocorra o processo de desdiferenciação celular que se baseia no fato de certas células, 
principalmente do parênquima serem capazes de retornar à situação de meristema, readquirindo a 
habilidade de dividir-se e formar novos órgãos. 
 
2. FUNÇÕES 
 
2.1 Primárias 
 Sustentação – tecidos como colênquima e esclerênquima (no 
crescimento primário) e xilema, floema e conjunto de fibras (no 
crescimento secundário) promovem a sustentação do corpo 
vegetal. 
 Condução – o caule provido dos tecidos condutores xilema e 
floema, que conduzem as seivas bruta e elaborada, 
respectivamente, são distribuídas por toda a planta. 
 
2.2 Secundárias 
 reservas: amido (cará-de-árvore – Dioscorea bublifera - Dioscoreaceae); água (paineira – 
Ceiba speciosa Malvaceae). 
 
 fixação do vegetal em algum suporte como ocorre com plantas trepadeiras, as quais não 
possuem sustentação própria. (ervilha – Pisum sativum – Leguminosae e chuchu - Sechium 
edule - Cucurbitaceae). 
 
 trocas gasosas por meio de lenticelas (amora – Morus nigra - Moraceae). 
 
 propagação vegetativa. Alguns tipos de caule como os estolhos (moranguinho – Fragaria 
vesca - Rosaceae ) e rizomas (bananeira – Musa cavendishii - Musaceae) originam novos 
indivíduos, formando clones. 
 
 
 
 
 
 
 
 
A B C D 
Fig.2 Exemplos de diferentes funções secundárias em caules: A) reserva; B) fixação; C) trocas 
gasosas; D) propagação vegetativa. 
 Fig.1 Feixe vascular (xilema + floema) 
em caule com crescimento primário. 
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3. PARTES CONSTITUINTES 
 
Ápice caulinar: é a extremidade apical do caule, constituída pelo meristema apical e 
primórdios foliares; apresenta estrutura de crescimento primário. É responsável pelo 
crescimento vertical do vegetal. 
 
Nós: local de inserção das folhas, sendo que cada uma, possui em 
sua axila uma gema (resquício de meristema apical) que quando 
se desenvolve dá origem a ramos vegetativos (com folhas 
normais, espinhos ou gavinhas) e florais (flores e 
inflorescências). São mais evidentes no crescimento primário. 
Cana-de-açúcar - Saccharum officinarum- e bambu-gigante -
Dendrocalamus giganteus- Gramineae. 
 
Entrenós: região compreendida entre dois nós. 
 
Lenticelas: pequenas aberturas na epiderme caulinar, de forma elíptica ou 
circular, constituídas por células mortas (da periderme) e responsáveis por trocas gasosas. 
 
Cicatrizes foliar e estipular: marcas na altura dos nós deixadas pela queda ou abscisão das folhas e 
estípulas. Com o crescimento do caule em diâmetro as cicatrizes podem ficar alongada 
transversalmente. 
 . 
Acúleos: protuberâncias epidérmicas afiadas e pontiagudas. Diferem dos espinhos, 
que são ramos modificados. 
 
 
4. SITUAÇÃO 
 
 subterrânea: vive sob a superfície do solo, em geral é protegida por catafilos, principalmente, no 
início do desenvolvimento, ex. espada-de-são-jorge - Sanseviera sp - Asparagaceae). 
 
 aquática: o caule está em contato direto com a água, é comum nesses caules, a presença de 
aerênquima (tecido que auxilia na flutuação, ex. vitória-régia (Victoria amazonica - 
Nymphaeaceae). 
 
 aérea: grande parte das plantas terrestres apresentam este tipo de caule e também as epífitas, ex. 
jaboticabeira - Plinia trunciflora – Myrtaceae. 
 
 
 
 
 
 
 
A B C 
 
Fig.6 Situação: A) caule subterrâneo do tipo rizoma; B) caule aquático e C) caule aéreo. 
 
Fig.5 Imbé (Phyllodendron sp 
– Araceae) raízes adventícias e 
caule com cicatrizes foliares 
Fig.4 Caule de orquídea 
mostrando nós, entrenós e 
raízes adventícias. 
Fig.3 Caule de pau-santo (Kielmeyera 
coriacea – Clusiaceae), mostrando o ápice 
caulinar. 
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5. DIREÇÃO DE CRESCIMENTO (tropismo = movimento) 
 
Heliotrópico: (gr. hélio = sol) quando positivo, o crescimento dos ramos 
ocorre em direção aos raios solares. Ex. girassol 
 
Geotropismo: (gr. geo = terra) o referencial de crescimento é a gravidade, a 
maioria dos caules apresenta geotropismo negativo, ou seja, o caule cresce em direção oposta ao 
solo. Por sua vez as raízes, em sua grande maioria, têm geotropismo positivo. 
 
 
Ortotropismo: (gr. orthós = reto) direção ereta do maior eixo do órgão, ou 
seja perpendicular ao solo. Ex. árvores em geral. 
 
 
Plagiotropismo: (gr. plagio = paralelo) os caules com este tipo de desenvolvimento não são 
capazes de se manterem eretos; não possuem a função de sustentação e 
necessitam de um substrato para se desenvolver. Sem o suporte permanecem 
prostrados no solo. 
 
 
6.TIPOS BÁSICOS DE RAMIFICAÇÃO 
 
Monopodial: o crescimento em extensão do caule é comandado pela dominância apical de uma 
única gema apical. Não há formação de pódios (estágios). Ex. abacateiro (Persea gratissima 
Lauraceae), pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia – Araucariaceae), peroba-rosa 
(Aspidosperma polyneuron – Apocynaceae). 
 
Simpodial: o crescimento em extensão do caule é comandado pela sucessão de gemas apicais. 
Passado algum tempo de crescimento a gema em atividade é desviada para a lateral e outra assume a 
dominância. Há a formação de pódios (estágios). Ex. araticum ou marolo (Annona crassiflora- 
Annonaceae), várias espécies da família Piperaceae e orquídeas. 
 
Dicótomo ou dicasial: a gema apical é substituída, periodicamente, por duas gemas laterais, que 
desenvolvidas, dão dois ramos opostos e de mesmo tamanho. Não há formação de um eixo principal, 
ex. mandioca - Manihot sculentum - Euphorbiaceae. 
 
 
 
 
 
 
 
 
A B C 
Fig.7 Ramificação do caule: A) monopodial; B) simpodial e C) dicasial 
 
 
7. VARIABILIDADE DOS CAULES 
 
7.1 Quanto ao porte ou hábito os caules podem apresentar-se como: 
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 Arbóreo – o caule é lenhoso do tipo tronco, único comumente, com ramificações 
a certa distância do solo; podem ultrapassar os 100 m de altura como é o caso de 
algumas espécies de Eucalyptus – Myrtaceae. Na figura ao lado um exemplar de 
ipê-amarelo. 
 
 
 Arbustivo - o caule é lenhoso e bastante ramificado na base. Pode alcançar 
até 5 m de altura. Ex. azaléa (Azalea simsii - Ericaceae), bico-de-papagaio - 
Euphorbia pulcherrima – Euphoriaceae, na fig. ao lado. 
 
 
 Subarbustivo - o caule é lenhoso, porém pouco ramificado 
na base. Apresentam-se menores que os arbustos, sendo 
comuns indivíduos com menos de 1 m de altura. Ex. pitanga-
do-campo (Eugenia pitanga – Myrtaceae), Lantana camara – 
Verbenaceae, ao lado. 
 
 
 Herbáceo – o caule é herbáceo, podendo ser ramificado ou não. Apresentam 
pequenas alturas quase sempre, porém há exceções como a bananeira. Ex. flor-do-
paraíso (Strelitzia regina – Strelitziaceae), aolado. 
 
 
 Trepador - o caule não possui tecidos de sustentação 
suficientes para manter o caule ereto e necessita da ajuda de 
outros órgãos como gavinhas, para se apoiar ou subir à áreas 
mais iluminadas. Ex. uva (Vitis vinifera – Vitaceae), 
Thunbergia grandiflora – Acanthaceae, ao lado. 
 
 
 Volúvel: carece da função de sustentação e possui caule sensível ao toque, 
necessitando de substrato para enrolar-se. Ex. feijão (Phaseolus vulgaris - 
Leguminosae), ao lado. 
 
 
 Escandente: a função de sustentação não é bem desenvolvida e o vegetal 
se apóia em outra planta ou substrato para crescer. Ex. primavera 
(Bougainvillea spectabilis - Nyctaginaceae), ao lado. 
 
 Prostrado: carece da função de sustentação, desenvolve-se ao rés do 
chão, apresenta crescimento plagiotrópico. Ex. Ipomoea sp – Convolvulaceae, abaixo. 
 
 
 
7.2 Tipos de caule: aéreos (1 a 4), subterrâneos (5 a 8). 
 
1. Tronco: caule ereto com copa afastada do sistema radicular, a função de sustentação 
é bem evidente. Apresenta esgalhamento só a partir da porção mediana apical. 
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Próprio das Eudicotiledôneas e Magnolídeas. Ex. goiabeira (Psidium guajava -Myrtaceae), 
laranjeira (Citrus sinensis - Rutaceae). 
 
 
2. Estipe: caule não ramificado com um tufo de folhas no ápice. Próprio das Palmeiras 
como palmito (Euterpe edulis), açaí (Euterpe oleracea) e buriti (Mauritia flexuosa). 
 
 
3. Estolho: caule plagiotrópico, carece da função de sustentação, 
desenvolvendo-se ao rés do chão. Emite pendões (estolões) possuidores de 
gemas que ao tocarem o solo criam raízes e formam novos indivíduos. Ex. 
moranguinho (Fragaria vesca - Rosaceae). 
 
 
4. Colmo: caule com nós e entrenós bem distintos, comum nas 
gramíneas - Gramineae. Podem ser de dois tipos: 
 
 sólido - quando os entrenós são preenchidos com tecido de reserva, 
ex. milho (Zea mays) e cana-de-açucar (Saccharum officinarum). 
 
 fistuloso - entrenós vazios, ocos, ex. bambu (Bambusa spp). 
 
5. Rizoma: tem crescimento plagiogeotrópico, carece da função de 
sustentação, se desenvolve em íntimo contato com o substrato, geralmente 
são protegidos por catafilos (folhas aclorofiladas de proteção), podem crescer 
dentro do solo como a espada-de-são-jorge (Sanseviera - Asparagaceae) ou 
fora dele, crescendo concrescido com o substrato, ex. muitas orquídeas - 
Orchidaceae. 
 
 
6. Túbera ou tubérculo: caule que sofre estaucamento (encurtamento 
vertical) e está relacionado à propagação vegetativa. Apresenta 
grande quantidade de reserva como amido, ex. batata-inglesa 
(Solanum tuberosum- Solanaceae) e cará (Dioscorea sp - 
Dioscoreaceae). 
 
7. Bulbo: estrutura subterrânea formada por caule e/ou folha. É órgão 
de manutenção da planta em épocas desfavoráveis. Pode apresentar-
se de três formas: 
 
 caulinar ou sólido: só o caule participa da formação, ex. palma-
de-santa-rita (Gladiolus), açafrão (Crocus sativus); 
 
 caulino-foliar ou tunicado: caule e folhas participantes, ex. cebola 
(Allium cepa - Alliaceae) 
 
 foliar ou escamoso: apenas folhas participam da formação, ex 
alho (Allium sativum- Alliaceae). 
 
 Colmo fistuloso Colmo sólido 
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8. Xilopódio: estrutura subterrânea mista de caule e raiz, que sazonalmente refaz a 
porção aérea por meio de brotamento. Comum em plantas do Cerrado. 
 
OBS. Os chamados bulbilhos são bulbos do tipo caulino-foliar, ligados entre si por 
um curto rizoma. 
 
 
8. ADAPTAÇÕES DO CAULE 
 Propagação vegetativa: os tipos de caule a seguir estão diretamente relacionadas a propagação 
do vegetal: bulbo, rizoma, tubérculo, estolho. 
 
 Xeromorfismo: cladódio, filocládio e xilopódio. Estes caules permitem a sobrevivência da 
planta em épocas desfavoráveis do ano. 
 
 Proteção contra herbivoria: acúleos, espinhos. 
 
 
 Fixação: gavinhas, caule sensível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cladódio Filocládio Acúleos Espinhos 
Gavinha 
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___________________________________________________________________________ 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
 
 
FERRI, M.G.; MENEZES, N.L. & MONTEIRO, W.R. 1981. Glossário ilustrado de botânica. 
São Paulo, EDUSP. 197p. 
 
GONÇALVES, E.G. & LORENZI, H. 2011. 2ª. Ed. Morfologia Vegetal – Organografia e 
Dicionário Ilustrado de Morfologia das Plantas Vasculares. São Paulo, Ed. Plantarum 448p. 
 
RAVEN, P.H.; EVERT, R.F. & EICHHORN, S.E. 2007. 7ed. Biologia Vegetal. Rio de Janeiro, 
Guanabara Koogan. 830p. 
SOUZA, L. A. 2005. Morfologia e Anatomia Vegetal: células, tecidos, órgãos e plântula. Ponta 
Grossa, Ed.. UEPG. 258 p. il. 
SOUZA, V.C. & LORENZI, H. 2005. Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação das 
famílias de Angiospermas da flora brasileira em APG II. Nova Odessa, SP. Instituto Plantarum, 
906p.

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