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1 IINNSSUUFFIICCIIÊÊNNCCIIAA CCAARRDDÍÍAACCAA Roteiro elaborado pelo aluno de mestrado em Fisiologia e Bioquímica Odair Alves da Silva, sob supervisão do Prof. Dr. Carlos Peres da Costa. Recife 2008 SUMÁRIO DEFINIÇÃO ......................................................................................................................................... 3 ASPECTOS HISTÓRICOS ....................................................................................................................... 4 CLASSIFICAÇÃO .................................................................................................................................. 7 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA ANTERÓGRADA E RETRÓGADA .................................................................. 7 DISFUNÇÃO SISTÓLICA E DIASTÓLICA ................................................................................................. 8 DISFUNÇÃO ESQUERDA E DIREITA ...................................................................................................... 9 MECANISMOS ADAPTATIVOS ............................................................................................................ 10 INTERAÇÕES ENTRE O MECANISMO DE FRANK‐STALING E O SISTEMA NERVOSO ADRENÉRGICO ........ 11 REDISTRIBUIÇÃO DO DÉBITO VENTRICULAR ESQUERDO ........................................................................................ 12 DISFUNÇÃO ENDOTELIAL .............................................................................................................................. 12 ALTERAÇÕES NA PAREDE VASCULAR ................................................................................................................ 12 2,3‐DIFOSFOGLICERATO .............................................................................................................................. 12 CONTRATILIDADE DO MIOCÁRDIO EM INSUFICIÊNCIA E HIPERTROFIADO ................................................................ 12 HIPERTROFIA MIOCÁRDICA ............................................................................................................... 13 FISIOPATOLOGIA DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DIASTÓLICA .............................................................. 16 ALTERAÇÕES NAS PROPRIEDADES DIASTÓLICAS ................................................................................ 16 ALTERAÇÕES CRÔNICAS NAS RELAÇÕES PRESSÃO‐VOLUME DIASTÓLICAS VENTRICULARES ................ 16 MECANISMOS CELULARES E MOLECULARES DE DISFUNÇÃO MIOCÁRDICA ......................................... 17 ACOPLAMENTO EXCITAÇÃO‐CONTRAÇÃO E O PAPEL DO CÁLCIO ............................................................................ 17 APARELHO CONTRÁTIL ................................................................................................................................. 18 ENERGÉTICA DO MIOCÁRDIO ......................................................................................................................... 18 AJUSTES NEURO‐HUMORAIS ............................................................................................................. 19 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO ....................................................................................................... 20 RECEPTORES ADRENÉRGICOS ........................................................................................................................ 22 FUNÇÃO PARASSIMPÁTICA NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA .................................................................................... 23 SISTEMA RENINA‐ANGIOTENSINA ...................................................................................................... 23 VASOPRESSINA (ADH) ....................................................................................................................... 25 PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS .............................................................................................................. 26 ENDOTELINA ..................................................................................................................................... 26 CITOCINAS ........................................................................................................................................ 27 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 29 3 DEFINIÇÃO Definir a insuficiência do coração não constitui uma simples tarefa. Ainda que a definição usual desta síndrome clínica enfatize a ineficiência do coração como bomba, na verdade, existe muito mais do que um comprometimento na transferência de sangue das veias para as artérias. Os principais achados clínicos incluem freqüentemente anormalidades em outros órgãos, como por exemplo, o acúmulo de sangue nos pulmões, levando a dificuldades respiratórias. Esta congestão pulmonar pode piorar por conta da retenção de água e sal pelos rins, que é a resposta renal a um baixo débito cardíaco. Outro problema em definir a insuficiência cardíaca (IC) é que não se trata de uma doença, mas de uma condição resultante de desordens que danificam o coração. Estas desordens incluem doenças coronárias, hipertensão, desordens valvulares e diversos tipos de cardiomiopatias. Além disso, falha cardíaca leva a mais falha, originando um ciclo vicioso. De modo resumido, a insuficiência cardíaca pode ser conceituada como um desordenado processo bioquímico e biofísico que prejudica a contratilidade e relaxamento miocárdico. Algumas dessas anormalidades são deletérias, outras são compensatórias, mas a maioria é tanto um quanto outro. Por exemplo, a hipertrofia aumenta a massa do coração insuficiente, isso poderá compensar a resistência à ejeção que é vista na hipertensão arterial, mas, ao mesmo tempo, impede o relaxamento e encurta a vida dos miócitos. A insuficiência cardíaca deve ser distinguida da insuficiência circulatória, na qual há uma anormalidade de algum componente circulatório‐coração, volume sanguíneo, concentração de hemoglobina oxigenada no sangue arterial ou leito vascular, resultando em débito cardíaco inadequado. Assim, insuficiência miocárdica, insuficiência cardíaca e insuficiência circulatória não são sinônimos, mas se referem mais progressivamente a entidades inclusivas. 4 ASPECTOS HISTÓRICOS Edema, hidropisia, anasarca e dispnéia são mencionadas nos escritos atribuídos a Hipócrates (460‐370, A.C.), mas não são apontadas correlações com o coração. A dispnéia era atribuída por Hipócrates como resultante de muco frio que descia do cérebro para o coração e pulmões, isso causava resfriamento do sangue e aumentava a força de pulsação das veias nesses órgãos, causando palpitações e dificuldade de respirar (Secret disease IX). Hipócrates aparenta ter encontrado um caso de insuficiência cardíaca quando relata anasarca, tosse seca, ortopnéia, dispnéia e sufocação em uma paciente no segundo trimestre de gravidez e, provavelmente, portadora de doença reumática (Epidemics VI). Entretanto, apesar dos detalhes ao citar os sinais e sintomas percebidos, eram raras as correlações diretas com o coração por se entender muito pouco do funcionamento desse órgão. Galen (130‐200, D.C.), organizou o conhecimento médico até então, reconheceu a natureza muscular do coração e reconheceu que a contração das fibras desse músculo causaria a ejeção de sangue durante a sístole. Ele também descreveu a “sucção”ventricular durante a diástole e entendeu o funcionamento das válvulas cardíacas. Entretanto, Galen falhou no estudo da circulação sanguínea, pois descreveu a pulsação arterial como movimentos produzidos pelas próprias artérias, e não pelo movimento do sangue nestes vasos. Para ele, o coração tinha a função de distribuir o espírito e levar calor ao corpo. Essa visão impediu qualquer entendimento das principais conseqüências da insuficiência do coração até as descrições de Harvey sobre circulação sanguínea 1500 anos mais tarde. Willian Harvey (1578‐1657) publicou, em 1628, De Motu Cordis (movimento do coração) fornecendo a mais clara descrição de circulação sanguínea em um documento que incluía dados matemáticos. Nas próprias palavras de Harvey, traduzido para o inglês por Franklin (1957): “I am obliged to conclude that in animals the blood is driven round a circuit with na unceasing, circular sort of movement, that this is na activity or function of the heart which it carries out by virtue of its pulsation, and 5 that in sum it constitues the sole reason for that heart’s pulsatile movement.” As afirmações de Harvey derrubaram a visão de Galen, que afirmava que o coração tinha a principal função de aquecer o sangue. Harvey também atentou para o retorno venoso, afirmando que a obstrução do retorno venoso causaria edema. Também mostrou a função das válvulas venosas e reconheceu que determinada pressão causada por uma atadura poderia interromper o fluxo venoso, mas dificilmente o arterial (Figura 1). Além disso, parece ter reconhecido que a falha do coração poderia causar acúmulo de sangue nos pulmões e dificuldade respiratória. Figura 1 Ilustração do funcionamento das válvulas venosas elaborada por harvey em De Motu Cordis. O acoplamento da fisiologia de Harvey com a adiantada examinação por autópsia, rapidamente permitiu um entendimento das causas do acúmulo de fluídos nas doenças do coração. Descrevendo um paciente que havia morrido em 1946, 18 anos após a publicação de De Motu Cordis, Lazare Rivière (1589‐1655) entendeu as conseqüências de um fluxo sanguíneo prejudicado pelos pulmões resultante de uma endocardite infecciosa que envolveu a valva mitral. A partir dos achados de Harvey, muito estudiosos focaram suas pesquisas nas conseqüências de uma ejeção ventricular deficiente e as causas da dispnéia em pacientes cardiopatas. Entretanto, a discussão mais clara sobre o tema surgiu apenas vários anos depois das publicações de Harvey por Raymond Vieussens (1635‐1715). Sua longa descrição dos últimos anos de um homem jovem que morreu de estenose da valva mitral não se deteve apenas à história clínica e autópsia, mas também, explicou corretamente o porquê da respiração rápida e o porquê do grande derrame pleural encontrado na autópsia. 6 Na autópsia desse paciente, Vieussens encontrou derrame pleural, cardiomegalia e estenose da valva mitral (Figura 2). Figura 2 Ilustração de Vieussens da estenose mitral, vista inferior. Ilustra um formato de boca de peixe. O primeiro tratamento para a insuficiência cardíaca foi descoberto in 1783 por Willian Withering que identificou os digitálicos como ativos ingredientes para aumentar a força do coração. Na seqüência, foram feitas outras importantes descobertas em relação à insuficiência cardíaca. Por exemplo, a diferenciação entre dilatação e hipertrofia cardíaca foi atribuída a Lancisi em sua publicação Aneurysmatibus (1745) e a descrição da natureza adaptativa da hipertrofia induzida por sobrecarga, por Giovanni Battista Morgagni (1682‐1771). William Osler (1849‐1917), na primeira edição do The Principles and Practice of Medicine, demonstrou uma notável visão moderna sobre hipertrofia quando dividiu o curso da hipertrofia cardíaca causada por sobrecarga em três estágios: a) O período de desenvolvimento, o qual varia com a natureza da lesão primária. b) O período de total compensação – estágio latente – durante o qual o vigor do coração satisfaz as necessidades circulatórias. c) O período de quebra da compensação, o qual pode vir inesperadamente durante uma excitação severa. A morte pode ser resultante de dilatação. A revisão da história relacionada à insuficiência cardíaca mostra que a atribuição de causas tem mudado ao longo dos anos. Até o início do século 20, as causas reumáticas eram tidas como principais causadoras de insuficiência do coração. Com o advento de novas tecnologias e, conseqüentemente, maior habilidade no diagnóstico, o ranking das principais causas de insuficiência cardíaca 7 foi modificado. Ainda no início do século 20, anormalidades estruturais passaram a ser as mais importantes causas de IC, e os pacientes com este tipo de alteração estavam sujeitos ao desenvolvimento natural da doença, por ainda não existir intervenções cirúrgicas que corrigissem ou diminuíssem a anormalidade. CLASSIFICAÇÃO Muitas classificações para a insuficiência cardíaca são usadas na prática clínica. A ligação entre os mecanismos causais e muitas destas classificações é extremamente complexa, podendo gerar confusões consideráveis. As principais classificações são: • Insuficiência anterógrada e retrógada • Disfunção sistólica e diastólica • Disfunção esquerda e direita INSUFICIÊNCIA CARDÍACA ANTERÓGRADA E RETRÓGADA Como já notado, as anormalidades hemodinâmicas em pacientes com insuficiência cardíaca são simples de ser conceituadas porque, como uma bomba, o coração apresenta apenas dois caminhos para falhar: com um esvaziamento inadequado de veias (podendo ser chamada de insuficiência retrógrada) e ejeção de sangue com baixa pressão para aorta e artéria pulmonar (sendo, por isso, chamada de insuficiência anterógrada). Os termos “anterógrada” e “retrógrada” devem ser usados com cuidado, pois caracterizam as mudanças hemodinâmicas que ocorrem no coração insuficiente de maneira muito simplista. A maior causa de insuficiência cardíaca anterógrada no lado esquerdo do coração é, sem dúvidas, a estenose da valva mitral. Nesse caso, ocorre menor passagem de sangue das veias pulmonares para o ventrículo esquerdo através do átrio esquerdo. Isso terá várias repercussões pulmonares (como ex: congestão pulmonar), repercussões cardíacas (como ex: diminuição do débito cardíaco) e repercussões hemodinâmicas (vasoconstricção). A queda no débito cardíaco causada pelo menor volume diastólico induz a ativação de mecanismos compensatórios, como ativação de sistema simpático e retenção de água e sódio pelos rins. O resultado da ativação simpática, principalmente, será a indução de hipertrofia miocárdica concêntrica, que ocorre graças a vários e complexos fatores que serão abordados mais adiante. A hipertrofia miocárdica concêntrica causa obliteração da cavidade ventricular e uma maior diminuição do enchimento diastólico nessa câmara. 8 A insuficiência cardíaca anterógrada no lado esquerdo do coração pode ocorrer quando há obstrução que dificulte a ejeção do ventrículo esquerdo (como na estenose da aorta); quando danos no miocárdio reduzem a força de contração e, conseqüentemente, o volume de ejeção (como nas miocardites); ou quando o ventrículo se torna enrijecido após infarto de sua parede muscular. Mecanismos similares podem acometer o ventrículo direito, entretanto, a disfunçãoventricular esquerda é, de longe, a causa mais comum de insuficiência cardíaca. Isso se deve, principalmente, a maior pressão praticada nesse ventrículo e as características de resistência da aorta. A escolha da terapia correta é o maior determinante da extensão da insuficiência cardíaca anterógrada ou retrógrada. Os vasodilatadores auxiliam principalmente na insuficiência anterógrada, pois diminuem a pós‐carga. Os diuréticos diminuem a elevada pressão venosa vista em paciente com insuficiência retrógrada, entretanto, diminui também a pré‐carga, de forma que, pela lei de Frank Staling, também ocorrerá diminuição na ejeção e piora da insuficiência anterógrada. Por essas razões, a severidade das manifestações da insuficiência anterógrada ou retrógrada fornece poucas informações sobre a etiologia ou o estado bioquímico do miocárdio dos pacientes com insuficiência cardíaca. DISFUNÇÃO SISTÓLICA E DIASTÓLICA É uma classificação mais utilizada que a anterior e se refere a uma prejudicada ejeção (disfunção sistólica) ou um enchimento prejudicado (disfunção diastólica). Estes termos apresentam diferentes significados em insuficiência crônica ou aguda. Em insuficiência cardíaca aguda, as disfunções sistólicas e diastólicas refletem diferentes anormalidades no miocárdio. A disfunção sistólica aguda prejudica a ejeção e é observada em pacientes com miocardite viral, com anormalidades metabólicas e tóxicas, com intoxicação por álcool ou com anemias. Disfunção diastólica aguda prejudica o enchimento ventricular e é visto nas isquemias miocárdicas, como ocorre em vasoespamos coronarianos ou angioplastia. Visto isso, podemos concluir que disfunções sistólicas e diastólicas agudas ocorrem como resultado de anormalidades em processos bioquímicos responsáveis pela contração e relaxamento, respectivamente. Em insuficiência cardíaca crônica, entretanto, a disfunção diastólica e sistólica ocorrem como resultado de anormalidades na arquitetura ventricular. Disfunção sistólica pode ser tanto difusa como regional. A disfunção sistólica difusa é vista em condições tais como em cardiomiopatia dilatada idiopática ou em miocardites, a qual enfraquece a contração em todo o miocárdio 9 ventricular. Por outro lado, a disfunção sistólica regional é freqüentemente vista após infarto do miocárdio (Quadro 1). Disfunção diastólica crônica é comumente vista em pacientes com hipertrofia miocárdica secundária a estenose da aorta ou hipertensão sistólica inadequadamente tratada, que causa estreitamento da câmara cardíaca e redução do volume diastólico. Entretanto, é difícil caracterizar uma disfunção sistólica e diastólica, pois, um ventrículo que não esvazia normalmente não poderá se encher normalmente, e vice‐versa, isso dificulta saber qual o problema primário, se é dificuldade de enchimento ou de ejeção. Além do mais, terapia diurética, que deprime o volume vascular, prontamente converte uma dificuldade de enchimento (insuficiência retrógrada) em uma dificuldade de ejeção (insuficiência anterógrada) sem alterar diretamente a função ventricular. Por estas razões, as disfunções crônicas diastólicas e sistólicas não podem ser distinguidas umas das outras a partir de variáveis hemodinâmicas como pressão de enchimento ou volume de ejeção. Ao invés disso, essa diferenciação requer que a arquitetura do ventrículo insuficiente seja determinada, por exemplo, através de ecocardiograma. Quadro 1 – Disfunção Sistólica e Diastólica Disfunção Sistólica Disfunção Diastólica Ejeção prejudicada, contratilidade prejudicada Enchimento prejudicado, relaxamento prejudicado Tipos Causas Causas Global Cardiomiopatias dilatadas, miocardites virais ou tóxicas Cardiomiopatias hipertróficas Regional Infarto do miocárdio Hipertensão DISFUNÇÃO ESQUERDA E DIREITA A diferenciação entre disfunção esquerda ou direita é especialmente usada em pacientes com doenças cardíacas congênitas ou valvulares, ou em pacientes com desvio intracardíaco. Em países desenvolvidos, onde a maior parte dos casos de insuficiência cardíaca são causados por doenças hipertensivas ou coronarianas, o coração esquerdo é o mais afetado por insuficiência (Quadro 2). A Insuficiência cardíaca direita é muito menos comum e ocorre mais freqüentemente em doenças cardíacas congênitas e por doenças pulmonares crônicas ou não. Insuficiência esquerda pode vir a se assemelhar clinicamente com insuficiência direita quando ocorre um aumento na pressão atrial esquerda ou nas veias pulmonares levando a vasoconstricção em arteríolas pulmonares causando hipertensão pulmonar. Essa vasoconstricção constitui um mecanismo de defesa contra congestão pulmonar. 10 Quadro 2 – Causas comuns de insuficiência cardíaca em Países desenvolvidos Etiologia Disfunção Esquerda/Direita Disfunção Sistólica/Diastólica Anormalidade Global/Regional Infarto do miocárdio Esquerda Sistólica Regional Isquemia miocárdio Esquerda Sistólica Geralmente regional Cardiomiopatia dilatada/miocardites Esquerda Sistólica Global Hipertensão Esquerda Diastólica Global Cardiomiopatia Hipertrófica Esquerda Diastólica Geralmente regional Valvular/Congenital Depende da estrutura afetada Depende da estrutura afetada Global Cor Pulmonale Direita Ambas Global MECANISMOS ADAPTATIVOS Os distúrbios cardíacos exigem mecanismos adaptativos. Os mais importantes entre eles são: 1) Mecanismo de Frank‐Staling; 2) Hipertrofia miocárdica, com ou sem dilatação de câmara; 3) Ativação de sistemas neuro‐hormonais . Na insuficiência cardíaca aguda, esses mecanismos adaptativos podem ser adequados para manter o desempenho mais geral de bombeamento do coração em níveis relativamente normais. Entretanto, a capacidade de cada um desses mecanismos para sustentar o desempenho cardíaco em face de sobrecarga hemodinâmica relativa à contratilidade miocárdica é finita e quando cronicamente mantida, torna‐se mal‐adaptativa (Figura 3). 11 FIGURA 3 – O baixo débito cardíaco pode acelerar a freqüência da morte celular na insuficiência cardíaca através da estimulação simpática e do sistema Renina‐Angiotensina, resultando em vasoconstricção e estimulação cardíaca. A vasoconstricção aumenta a pós‐carga, reduzindo mais ainda o débito e acelerando a morte miocárdica. No coração, a estimulação adrenérgica resulta em aumento da concentração de AMPc e inositol‐1,4,5‐trifosfato (InsP3) que aumenta a concentração de íons cálcio, resultando em aumento da contratilidade (efeito compensatório). Entretanto, esse cálcio poderá diminuir o relaxamento (efeito lusitrópico negativo), produzir arritmias e conduzir a morte súbita. A estimulação miocárdica poderá aumentar a freqüência de morte das células do miocárdio por aumentar o consumo celular. Assim, quando as respostas adaptativas a um baixo débito cárdico crônico se tornam sustentadas, estas podem ter efeitos deletérios em um paciente com IC. INTERAÇÕES ENTRE O MECANISMO DE FRANKSTALING E O SISTEMA NERVOSO ADRENÉRGICO No mecanismo de Frank‐Staling, o aumento da pré‐carga e, conseqüentemente, o aumento do estiramento das fibras miocárdicas, aumenta, até certo nível, a força de contração e o volume de ejeção. Em insuficiência cardíaca sistólica moderadamente severa, o débito cardíaco e o desempenho ventricular externo no repouso estão dentro de limitesnormais, mas são mantidos nesses níveis apenas porque o comprimento das fibras diastólicas finais e o volume diastólico final ventricular (pré‐carga ventricular) estão elevados, isto é, através do mecanismo de Frank‐Staling. As elevações na pressão diastólica esquerda estão associadas com níveis anormalmente elevados 12 de pressão capilar pulmonar, contribuindo para a dispnéia experimentada por pacientes com IC. Como dito anteriormente, o baixo débito cardíaco na insuficiência do coração causa estimulação dos mecanismos compensatórios, entre eles, o sistema nervoso simpático. Isso irá induzir taquicardia, retenção de sódio e água, vasoconstricção e liberação de renina. Essas respostas, em associação a outras, serão responsáveis por alterações sistêmicas, tais como: REDISTRIBUIÇÃO DO DÉBITO VENTRICULAR ESQUERDO A vasoconstricção, mediada em parte pelo sistema nervoso adrenérgico, desempenha importante papel nessa redistribuição de fluxo sanguíneo periférico. Conforme o desempenho cardíaco declina, ocorre a redistribuição do débito ventricular esquerdo, mesmo em repouso. Essa redistribuição mantém a liberação de oxigênio para órgãos vitais como coração e cérebro, enquanto o fluxo sanguíneo para as áreas menos críticas, como pele, músculos esqueléticos e rins, é reduzido. Essa subperfuzão conduz a um metabolismo anaeróbio, excesso de ácido lácteo, fadiga, fraqueza, retenção de sódio e produtos nitrogenados. DISFUNÇÃO ENDOTELIAL É observada uma menor resposta vasodilatadora nos pacientes com insuficiência cardíaca. Os mecanismos potencialmente responsáveis incluem prejuízo na função receptora de células endoteliais, deficiência de substrato L‐ arginina, expressão anormal de óxido nítrico. Em adição às anormalidades citadas, a liberação do vasoconstrictor endotelina está aumentada. ALTERAÇÕES NA PAREDE VASCULAR O aumento de sódio na parede vascular na insuficiência cardíaca contribui para a rigidez, espessamento e compressão das paredes dos vasos, que aumenta a resistência vascular e previne o relaxamento. 2,3DIFOSFOGLICERATO Ocorre também um declínio progressivo na afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, devido a um aumento no 2,3‐difosfoglicerato (DFG) em insuficiência cardíaca. CONTRATILIDADE DO MIOCÁRDIO EM INSUFICIÊNCIA E HIPERTROFIADO A hipertrofia ocorre quando uma carga de pressão ou de volume é imposta sobre o ventrículo, isso constitui um mecanismo adaptativo e permite que o 13 ventrículo sustente essa carga. Entretanto, um ventrículo sujeito a uma carga elevada por um longo período pode falhar para manter a compensação. Uma sobrecarga de volume pode ser induzida através da abertura de uma fístula arteriovenosa grande. A sobrecarga de pressão sobre o miocárdio também pode ser produzida experimentalmente, e os resultados são semelhantes aos vistos nos corações com insuficiência. Por exemplo, os músculos papilares ou trabeculares cavernosos removidos do ventrículo esquerdo dos ratos com hipertrofia ventricular esquerda secundária à constrição aórtica exibem depressão na velocidade de encurtamento isotônico e um prolongamento do potencial de ação. A força e a freqüência do desenvolvimento de força são também deprimidos em miocárdio isometricamente contraível obtido de corações com formas totalmente diferentes de insuficiência cardíaca, bem como em músculos papilares removidos dos ventrículos esquerdos de pacientes com insuficiência cardíaca devido à doença valvular crônica. Nos miócitos humanos hipertrofiados podem ser encontradas alterações estruturais tais como padrões anormais na banda Z, discos intercalados múltiplos e proeminência de fibras colágenas conectando com células miocárdicas adjacentes. Os núcleos são aumentados e lobulados, contendo nucléolos bem desenvolvidos (Figura 4); há abundância de ribossomos, refletindo aumento na síntese de proteínas. HIPERTROFIA MIOCÁRDICA • Padrões de hipertrofia ventricular – uma das alterações iniciais que ocorre após o estímulo para hipertrofia é a síntese de mitocôndrias. Isso irá aumentar a oferta de energia para as células hipertrofiadas. Associado a isto, ocorre expansão da massa miofibrilar (Figura 4). Figura 4 – Mudanças estruturais em miócitos hipertrofiados. a ‐ estágio inicial de hipertrofia; b e c – estágios intermediários; d – último estágio de hipertrofia. Existem evidências de que a sobrecarga hemodinâmica reative fatores de crescimento presentes no coração embriônico e que estão inativos na fase adulta. 14 Esses fatores de crescimento reativos aceleram a síntese de proteínas. Grossman e cols. examinaram os estresses sistólicos e diastólicos em indivíduos normais e com sobrecarga de pressão‐volume nos ventrículos esquerdos compensados e sem insuficiência cardíaca. Havia um aumento substancial na espessura da parede nos ventrículos com sobrecarga de pressão, mas apenas um aumento leve na espessura dos ventrículos com sobrecarga de volume. Nesse último caso ocorre aumento do raio da câmara cardíaca. Assim, quando o estímulo primário é sobrecarga de pressão, o aumento agudo resultante no estresse da parede sistólica conduz a uma replicação paralela das miofibrilas, espessamento dos miócitos individuais e hipertrofia concêntrica. O espessamento da parede em geral é suficiente para manter um nível normal da tensão sistólica. Quando o estímulo primário é sobrecarga de volume ventricular, o aumento na tensão da parede diastólica conduz a replicação de sarcômeros em série, alongamento de miócitos e dilatação ventricular (Figura 5). Isso resulta em um aumento modesto na tensão sistólica. Assim, em indivíduos compensados, a sobrecarga de volume e pressão altera a geometria ventricular e a espessura da parede de forma que a tensão sistólica não altera muito. Figura 5 – Comparação entre o coração normal e os corações submetidos à sobrecarga de pressão e volume. Embora a massa seja similarmente aumentada nos grupos com sobrecarga de volume e pressão, o aumento é acompanhado primariamente por espessamento da parede no grupo com sobrecarga de pressão. O treino atlético prolongado causa aumento moderado na massa miocárdica. O exercício isotônico, como corrida de longa distância ou natação assemelha‐se à sobrecarga de volume e causa um aumento no volume diastólico ventricular esquerdo, com um espessamento apenas leve da parede. O exercício isométrico, como levantamento de peso, assemelha‐se à sobrecarga de pressão e causa um aumento na espessura da parede. Nenhuma forma de hipertrofia parece ser deletéria na ausência de doença cardíaca e desaparece rapidamente quando o treino é interrompido. • Transição de Hipertrofia para Insuficiência Cardíaca – imediatamente após imposição de uma grande pressão, o aumento no trabalho realizado pelo ventrículo excede o aumento da massa cardíaca e o coração dilata. Há proliferação de mitocôndrias e as miofibrilas se dispõem em paralelo e o 15 sarcômero em série, de forma que o comprimento e o diâmetro da secção transversal dos miócitos são aumentados, também podem ser encontradas modificações estruturais na arquitetura das fibras que alteram a sua sobrevida. Posteriormente ocorrem algumas alterações na organização celular: 1. Ocorre a lise de miofibrilas; 2. Os lisossomos aumentam em número; 3. O retículo sarcoplasmático se torna distorcido; 4. As densidades superficiais do sistema tubular‐chave são reduzidas;5. Tecido fibroso ocupa o lugar das cavidades cardíacas; 6. Diminuição da densidade capilar e a reserva coronariana. • Necrose do Miócito – este é um componente importante da transição para insuficiência cardíaca. Pode ser localizada, como em infarto, a qual afeta o ventrículo de maneira análoga à sobrecarga de volume. Também pode ser difusa como em lesões causadas por agentes tóxicos. Independente da causa da morte do miócito, a carga das células remanescentes aumenta e conduz a mais hipertrofia, provocando um ciclo vicioso. A necrose é acelerada também por conta do menor fluxo coronariano que é resultante em parte pela hipertrofia e em parte pelo maior estresse na parede miocárdica, o que causa compressão dos vasos subendocárdicos e isquemia. Figura 6 – Relação normal (N) entre a espessura da parede VE (h) e o raio (r) da câmara (primeiro painel). Um aumento agudo na pressão sistólica (carga aguda) causa um aumento no estresse da parede sistólica que pode ser aproximado pela equação P x r/h, onde P é a pressão sistólica VE. O estresse da parede diastólica também é aumentado quando há dilatação da câmara ou quando a pressão diastólica é elevada (segundo painel). Se ocorrer hipertrofia compensatória suficiente, o aumento na espessura da parede ventricular pode normalizar o estresse da parede sistólica e diastólica (terceiro painel). Entretanto, se ocorrer dilatação adicional da câmara ou se o aumento na espessura da parede for insuficiente, os estresses da parede sistólica e diastólica continuarão anormalmente elevados. Nessa situação, pode ocorrer uma diltação suplementar da câmara em associação com a insuficiência hemodinâmica (quarto painel). 16 FISIOPATOLOGIA DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DIASTÓLICA ALTERAÇÕES NAS PROPRIEDADES DIASTÓLICAS Também pode ser definida como congestão venosa pulmonar (ou sistêmica) e atinge 1/3 dos pacientes com insuficiência cardíaca. Foi observado que com o aumento na pós‐carga ventricular ocorre a lentificação do relaxamento miocárdico. O miocárdio isolado de pacientes com miocardiopatia hipertrófica exibe um prolongamento do cálcio transitório, ou seja, uma elevação da concentração de cálcio no mioplasma e um retardo em sua recaptação. Isso provoca um prolongamento no decaimento da tensão. Enquanto a hipertrofia constitui o mecanismo compensatório principal para manter o esvaziamento sistólico do ventrículo sobrecarregado, pode interferir simultaneamente com as propriedades diastólicas do ventrículo e prejudicar o relaxamento e, conseqüentemente, o enchimento ventricular. Essa dificuldade de relaxamento também pode ser causado por um aumento na rigidez miocárdica intrínseca (a rigidez de uma unidade da parede cardíaca independentemente da massa total ou espessura do miocárdio), como ocorre com distúrbios nos quais há infiltração miocárdica (amiloidose, por exemplo) ou isquemia do miocárdio. ALTERAÇÕES CRÔNICAS NAS RELAÇÕES PRESSÃOVOLUME DIASTÓLICAS VENTRICULARES Hipertrofia ventricular esquerda concêntrica, como ocorre em estenose aórtica, hipertensão e miocardiopatia hipertrófica, causa desvios na relação pressão‐volume do ventrículo para a esquerda de forma que para qualquer volume diastólico a pressão diastólica ventricular é anormalmente elevada. Na presença de hipertrofia ventricular esquerda concêntrica, há uma relação inversa entre espessura da parede posterior do ventrículo e seu pico de adelgaçamento durante o início da diástole, ou seja, uma pressão diastólica maior é requerida para encher o ventrículo hipertrofiado. A isquemia miocárdica aguda lentifica o relaxamento ventricular (Figura 7) e aumenta a rigidez da parede miocárdica por conta dos processos inflamatórios que ocorrem no local de morte celular. Isto também irá determinar uma maior pressão diastólica para cada unidade de volume. A isquemia submiocárdica, vista em miocárdios hipertrofiados, intensifica a dificuldade de relaxamento. 17 A menor duração da diástole induz um aumento da freqüência cardíaca e, conseqüentemente, aumento da isquemia e da pressão diastólica. O tratamento da isquemia melhora o relaxamento diastólico e diminui a pressão venosa pulmonar, o que reduz o desconforto respiratório. Figura 7 – Mecanismos que causam disfunção diastólica. Apenas metade inferior da alça pressão‐ volume é descrita. As linhas contínuas representam indivíduos normais; as linhas pontilhadas representam pacientes com disfunção diastólica. MECANISMOS CELULARES E MOLECULARES DE DISFUNÇÃO MIOCÁRDICA As evidências apontam que os eventos moleculares e celulares envolvidos na disfunção miocárdica são secundários a forças mecânicas e a uma variedade de mediadores neuronais, endócrinos e autócrinos/parácrinos que atuam no miocárdio. Algumas das respostas são adaptativas e sustentam a função cardíaca. Outras são mal‐adaptadas. ACOPLAMENTO EXCITAÇÃOCONTRAÇÃO E O PAPEL DO CÁLCIO Observações utilizando o indicador de Ca++ aequorino no miocárdio total têm demonstrado que estas alterações nas propriedades contráteis e elétricas estão associadas com uma elevação prolongada do Ca++ intracelular transitório, durante o relaxamento. A concentração intracelular de cálcio é regulada por várias enzimas e canais que estão localizadas no retículo sarcoplasmático (RS), sarcolema e mitocôndrias. Existem evidências de que a expressão e/ou função de um número dessas proteínas pode ser alterada no miocárdio hipertrofiado e em insuficiência. 18 • Ca++ ATPase do RS – embora as observações continuem controversas, os relatos têm indicado que os níveis de Ca++ ATPase e RNAm fosfolamban são reduzidos no miocárdio obtido de pacientes em estágio final de insuficiência cardíaca. Essas observações são consistentes com vários estudos que têm demonstrado uma redução na captação de cálcio pelo RS de animais com insuficiência cardíaca. • Canais cálcio – No miocárdio humano com insuficiência cardíaca, os RNAm, tanto dos canais de liberação de cálcio quanto dos canais de cálcio voltagem dependentes, foram encontrados diminuídos. • Trocador Na+/Ca++ ‐ O RNAm e níveis de proteínas do trocador Na+/Ca++ foram descobertos ser aumentados nos miocárdios obtidos de pacientes com insuficiência cardíaca devido a miocardiopatia dilatada isquêmica ou idiopática. Esse aumento na atividade de troca Na+/Ca++ pode ser uma resposta compensatória à redução na recaptação de Ca++ causada por um decréscimo na bomba Ca++ ATPase. APARELHO CONTRÁTIL Pacientes com insuficiência ventricular esquerda apresentam uma redução importante no volume celular ocupado por miofibrilas, sugerindo que esta redução na quantidade dos dispositivos contráteis possa desempenhar um papel no desenvolvimento da descompensação cardíaca. Grande parte das alterações estruturais que ocorrem no aparelho contrátil é resultante da hipertrofia. Estudos em animais têm indicado que quando o coração adulto hipertrofia, formas neonatais e fetais de proteínas contráteis (denominadas isoformas) e outras proteínas (como o peptídeo natriurético atrial) reaparecem significando a reexpressão de genes para essas isoformas neonatais e fetais. Assim, a sobrecarga hemodinâmica conduz a um aumento global da síntese protéica, causando uma alteração qualitativa nas proteínas, isto é, conduz à síntese de isoformas protéicas que eram presentes durante a vida fetal e neonatal, quando a síntese de proteínas no coração também era rápida. A expressão da troponina‐T, um componenteda troponina complexa que regula a interação da miosina e actina, foi descoberta ser alterada em insuficiência do miocárdio humano. No miocárdio normal, a troponina‐T é expressa como uma única isoforma (TI) que corresponde a aproximadamente 98 % da troponina T. No miocárdio de pacientes com estágio final de insuficiência cardíaca, foi expressa uma segunda isoforma (T2) em níveis aumentados, e seu nível de expressão foi relacionado com a severidade da insuficiência cardíaca. ENERGÉTICA DO MIOCÁRDIO Em investigações iniciais, medidas do fluxo sangüíneo coronário utilizando 19 cateterização de seios coronários em seres humanos e em cães com insuficiência cardíaca crônica, mostraram que o fluxo sangüíneo coronário por grama de miocárdio não diferia significativamente do normal. Tem sido demonstrada através de vários preparados de músculo cardíaco insuficiente uma exigência menor de oxigênio que nos músculos normais. Isso tem relação direta com a diminuição na contratilidade, ou seja, a menor contratilidade requer menor demanda de oxigênio. Essa diminuição nas necessidades energéticas do coração pode atuar como uma função protetora, reduzindo a probabilidade de exacerbação da insuficiência cardíaca devido a um desbalanceamento entre suprimento e demanda energética. As mitocôndrias obtidas do músculo cardíaco humano com insuficiência têm demonstrado uma redução no consumo de oxigênio durante a fosforilação ativa e taxas reduzidas de atividade respiratória ligada ao NADH. Essas e outras observações têm conduzido à tese de que a insuficiência miocárdica pode estar relacionada à deficiência do sistema produzir energia. AJUSTES NEURO‐HUMORAIS Uma série complexa de alterações neuro‐hormonais ocorre conseqüentemente a duas alterações hemodinâmicas principais na insuficiência cardíaca: redução do débito cardíaco e hipertensão atrial. Nos estágios iniciais da insuficiência sistólica aguda, ocorrem várias alterações que tentam compensar a disfunção e manter a perfusão para órgãos vitais, as principais delas são: atividade adrenérgica aumentada, ativação do eixo renina‐angiotensina‐aldosterona e aumento na liberação de vasopressina e endotelina. Entretanto, cada um desses mecanismos compensatórios pode ser pensado como uma "faca de dois gumes". Conforme a insuficiência cardíaca se torna crônica, vários desses mecanismos compensatórios podem causar efeitos indesejáveis, tais como vasoconstrição excessiva, aumento na pós‐carga, retenção excessiva de sal e água, anormalidades eletrolíticas e arritmias (Figura 8). Ao contrário, outras respostas, como a liberação de peptídeo natriurético atrial (PNA), em resposta à distensão atrial, podem fazer oposição a estes efeitos adversos causando vasodilatação e aumento na excreção de sal e água. Além disso, muitos desses mediadores têm efeitos sobre o crescimento do tecido cardiovascular e assim desempenha um papel importante na "remodelação" do miocárdio e vasculatura. 20 Figura 8 Esquema ilustrando a relação proposta entre lesão miocárdica primária e eventos secundários que contribuem para a síndrome clínica da insuficiência cardíaca e progressão da doença miocárdica de base. De acordo com essa tese, as conseqüências hemodinâmicas e neuro‐ hormonais da lesão miocárdica inicial resultam em prejuízo agudo da função ventricular devido ao aumento ventricular da pós‐carga e progressão crônica de doença devido à remodelação ventricular. SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO Durante o repouso, em pacientes com insuficiência cardíaca avançada, a concentração de NE circulante é muito alta, geralmente duas a três vezes o nível encontrado em indivíduos normais, e é acompanhada por elevação da dopamina circulante e algumas vezes pela epinefrina; a última reflete aumento na atividade adrenomedular. Ocorre também um aumento significativo de NE durante o exercício em pacientes com falha cardíaca em relação a indivíduos normais. Drogas como o α2‐agonista guanabez (que reduzem o tráfego do impulso nervoso adrenérgico) e bromoeriptina (um agonista pré‐sináptico da dopamina) reduzem a NE plasmática, indicando que o controle pré‐sináptico da atividade nervosa adrenérgico está intacto em pacientes com insuficiência cardíaca. Tem sido sugerido que o tratamento com esses agentes pode ser útil na interrupção no círculo vicioso. A extensão do aumento da concentração de NE plasmática que ocorre em pacientes com insuficiência cardíaca se correlaciona diretamente com a severidade da disfunção ventricular esquerda, como refletido na altura da pressão de cunha capilar pulmonar, na depressão do índice cardíaco e com a mortalidade cardíaca. Entretanto, não está claro se os níveis elevados de NE circulante em pacientes que vão a óbito por insuficiência cardíaca estão causalmente relacionados à morte 21 como uma conseqüência de suas ações vasoconstritora, arritmogênica ou outras. A atividade aumentada do sistema nervoso adrenérgico conduz à estimulação de receptores α1‐adrenérgicos miocárdicos que desencadeia um efeito inotrópico positivo modesto. Estimulação destes receptores miocárdicos pode ser responsável por hipertrofia de miócitos, alterações em fenótipos caracterizadas pela reexpressão de um programa de gene fetal, e indução de fatores de crescimento de peptídeo. Podem ser encontradas outras alterações em relação ao sistema nervoso autônomo: • Controle Barorreflexo anormal em insuficiência cardíaca ‐ A atividade adrenérgica aumentada na insuficiência cardíaca é, em parte, devido ao controle barorreflexo anormal do fluxo de saída adrenérgico do sistema nervoso central. Um aumento incompatível na freqüência cardíaca em seres humanos com insuficiência cardíaca foi observado quando a pressão arterial era reduzida através da administração de vasodilatadores. Essas alterações mostraram correlação significativa com as modificações na concentração de norepinefrine circulante e com a soma da NE e da epinefríria circulantes, ou seja, em pacientes com insuficiência cardíaca, em quem os níveis de catecolaminas no repouso já estão aumentados, a aceleração cardíaca é moderada e a concentração de catecolaminas, normalmente, aumenta menos que em pacientes normais. Alguns pacientes com insuficiência cardíaca exibem uma redução maior na pressão arterial durante a inclinação, análoga àquela observada em hipotensão ortostática idiopática. Nesses pacientes, não surpreendentemente, a capacidade para o exercício na posição vertical é criticamente reduzida. • Receptores de estiramento ‐ Sob circunstâncias normais, a pressão atrial esquerda elevada estimula os receptores de estiramento atrial. O aumento na atividade de fibras aferentes mielinizadas e não mielinizadas (fibras‐C) inibe a liberação de ADH, aumentando a excreção de água, que por sua vez reduz o volume plasmático e deve atuar para restaurar a pressão atrial ao normal. Além disso, o aumento na ativação do receptor para estiramento atrial esquerdo deprime a atividade nervosa simpática eferente renal e aumenta o fluxo sangüíneo renal e a taxa de filtração glomerular. Com a estimulação contínua, como ocorre em insuficiência cardíaca, há uma dessensibilização de barorreceptores atriais (e arteriais), e isto é resultado da dilatação cardíaca e alterações na complacência atrial, sendoreversível após a melhora da insuficiência cardíaca. A resposta barorreflexa anormal em pacientes com insuficiência cardíaca 22 usualmente é corrigida por transplante cardíaco, indicando que esta é uma manifestação secundária (não uma causa) de insuficiência cardíaca. RECEPTORES ADRENÉRGICOS Ventrículos obtidos de pacientes com insuficiência cardíaca demonstram uma redução crítica na densidade de receptores β‐adrenérgicos (Quadro 3). Acredita‐se geralmente que a regulação descendente de receptores β‐adrenérgícos é mediada pelo aumento nos níveis de NE nas vizinhanças do receptor. Quadro 3 ‐ Alterações nas vias de receptores β‐adrenérgicos em humano com insuficiência miocárdica. Respostas Contráteis a vários agonistas (comparando com o miocárdio normal) Cálcio ↔ Forscolina ↔ Agonista β2 ↔/↓ Agonista β1 ↓↓ Componentes da via β/adenilciclase (comparando com o miocárdio normal) Número de β1–AR/RNAm ↓↓/↓↓ Número de β2–AR/RNAm ↔/↔ Atividade de Gi/RNAm ↑/↔ Atividade de Gs/RNAm ↔/↔ Atividade de RNAm/BARK ↑↑/↑↑ BARK = receptor β‐adrenérgico cinase (enzima que fosforila os receptores adrenérgicos ) ↔ = sem alteração No miocárdio de pacientes com insuficiência cardíaca o nível de RNAm do receptor β1‐adrenérgico é diminuído, indicando que a regulação descendente de receptores β1 ‐adrenérgicos é mediada, pelo menos em parte, por um decréscimo na síntese de receptores, enquanto o nível de RNAm dos receptores β2‐adre‐ nérgicos é inalterado. • Proteínas G ‐ A insuficiência cardíaca causada por miocardiopatia dilatada está associada com um aumento na atividade de Gi que pode ser acompanhado por uma redução na atividade de adenilatociclase. O mecanismo responsável pelo aumento na atividade de Gi não é co‐ nhecido. O nível de Gi avaliado por "Western blotting" é aumentado no miocárdio de pacientes com miocardiopatia dilatada idiopática, mas não daqueles com doença cardíaca isquêmica, sugerindo que alterações na 23 função de proteína G estão relacionadas à causa de insuficiência cardíaca. As conseqüências funcionais de um aumento na atividade de Gi permanecem por ser estabelecidas. • Suporte adrenérgico ao coração insuficiente – A importância do sistema nervoso adrenérgico na manutenção da contratilidade ventricular quando a função do miocárdio está deprimida em insuficiência cardíaca é demonstrada pelos efeitos de bloqueio adrenérgico. A administração aguda de β‐bloqueadores a pacientes com insuficiência cardíaca resulta em reduções na função miocárdica diastólica e sistólica associadas com quedas no débito cardíaco e pressão arterial, além do aumento na pressão de enchimento. Visto isso, deve ser exercida precaução na utilização desses agentes, particularmente no início da terapia. Devido à depleção dos depósitos cardíacos de NE e às alterações na via pós‐sináptica de β‐adrenorreceptores, a capacidade do miocárdio para produzir AMP cíclico é diminuída. Como conseqüência, o coração insuficiente perde um mecanismo compensatório importante. • Efeitos adversos da ativação adrenérgica ‐ Embora o aumento na atividade adrenérgica possa desempenhar um papel compensatório a curto prazo, a ativação adrenérgica crônica pode ser deletéria por um aumento na póscarga, precipitando arritmias cardíacas, e talvez por exercer efeitos mediados por receptores diretos e tóxicos sobre o miocárdio em insuficiência. A NE, atuando em receptores α1‐ adrenérgicos, induz o crescimento dos miócitos cardíacos e células de músculo liso vascular. Em miócitos cardíacos, este efeito está associado com o reaparecimento de genes fetais e isoformas fetais de proteínas envolvidas no desenvolvimento da forca contrátil, regulação da energética do miocárdio e acoplamento excitação‐contração. FUNÇÃO PARASSIMPÁTICA NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA O aumento cardíaco, com ou sem insuficiência cardíaca, está associado com distúrbios críticos da função simpática e parassimpática. A restrição parassimpática na automaticidade do nó sinoatrial é criticamente reduzida em pacientes com insuficiência cardíaca, os quais exibem um menor decréscimo na freqüência cardíaca para uma dada elevação da pressão arterial sistêmica do que os indivíduos normais. A função parassimpática anormal também pode estar alterada no nível do nervo periférico e no receptor pós‐sináptico. SISTEMA RENINAANGIOTENSINA Em estados de baixo débito cardíaco, há a ativação do sistema renina‐ angiotensina (RAS), que opera em conjunto com o sistema simpático para manter a pressão arterial. A atividade elevada de renina no plasma é um achado comum em 24 insuficiência cardíaca, isto ocorre principalmente por conta da liberação de renina ativada pelo sistema nervoso simpático. Entretanto, os níveis elevados de renina não são encontrados em todos pacientes com insuficiência cardíaca, mas, principalmente em pacientes sintomáticos. Níveis elevados de renina induzem níveis elevados de angiotensina II, esta última é uma potente vasoconstritora periférica e também induz a liberação de NE pelo sistema nervoso simpático e aldosterona pelo córtex adrenal. Por conta disto, não há de ser surpreendente que a interrupção do eixo renina‐angiotensina‐ aldosterona através de um inibidor da enzima conversora de angiotensina (IECA) reduza a resistência vascular sistêmica, diminua a pós‐carga e assim eleve o DC na insuficiência cardíaca. No miocárdio de animais com hipertrofia experimental do miocárdio ou insu‐ ficiência, há um aumento na expressão da ECA e angiotensinogênio, o substrato para a produção de angiotensina I pela renina (Figura 9). O subtipo de receptor de angiotensina predominante na vasculatura é o subtipo angiotensina1. No miocárdio humano, parece que ambos os subtipos angiotensina1 e angiotensina2 estão presentes, e o receptor angiotensina2 predomina numa relação 2:1. O número de receptores de angiotensina1 e angiotensina2 é normal em pacientes com insuficiência cardíaca moderada, mas regulado descenden temente em pacientes com estágio final de insuficiência cardíaca. A regulação descendente dos receptores de angiotensina tem sido observada no miocárdio de pacientes com miocardiopatia dilatada isquêmica e idiopática, e associada com um decréscimo no nível de RNAm para estes receptores. Em miócitos e fibroblastos cardíacos obtidos de ratos neonatais, a angiotensina causava a hipertrofia do miócito e a proliferação de fibroblastos associadas com a indução de RNAm por várias respostas inicias de genes. Como essas observações foram feitas em cultura de células, indicam que a angiotensina pode exercer efeitos importantes no crescimento e no fenótipo de células cardíacas, independente das alterações nas condições de carga do coração. 25 Figura 9 Sistema Renina‐Angiotensina‐Aldosterona VASOPRESSINA (ADH) A vasopressina é um hormônio pituitário que desempenha um papel central na regulação do "clearance" da água livre e da osmolalidade do plasma. Ela está elevada em muitos pacientes com insuficiência cardíaca, mesmo após a correção da osmolalidade plasmática. A explicação para isso parece estar em um controle da concentração de vasopressina circulante anormal em pacientes com insuficiência cardíaca, exibindo falha para apresentar uma redução normal dos níveis de vasopressina com uma redução da osmolalidade. O decréscimo na sensibilidade dosreceptores para estiramento atrial, que normalmente inibem a liberação de vasopressina com distensão atrial, pode contribuir para a elevação nos níveis circulantes deste hormônio. Foram identificados dois tipos de receptores para vasopressina (V1 e V2) numa variedade de tecidos. O "clearance" de água livre é regulado através do receptor V2, enquanto o receptor V1 provoca vasoconstricção que, no caso de pacientes com IC, é potencializada pela ação das catecolaminas. 26 PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS Três peptídeos natriuréticos — peptídeo natriurético atrial (PNA), peptídeo natriurético cerebral (PNC) e peptídeo C natriurético (PCN) — foram identificados em seres humanos. O PNA é armazenado principalmente no átrio direito e liberado em resposta a um aumento na pressão de distensão atrial. Esse peptídeo causa vasodilatação e natriurese, e contra‐ataca os efeitos de retenção hídrica dos sistemas adrenérgico, renina‐angiotensina e vasopressina. O PNC é armazenado principalmente no miocárdio ventricular cardíaco e pode ser responsivo — ainda que menos que o PNA – a alterações nas pressões de enchimento ventricular. O PNC tem um nível alto de homologia com o PNA no nível estrutural e, como o PNA, causa natriurese e vasodilatação. O PCN está localizado primariamente na vasculatura. Pelo menos três receptores para peptídeos natriuréticos (A, B e C) foram identificados. Os receptores A e B mediam os efeitos vasodilatadores e natriuréticos dos peptídeos. O receptor de Tipo C parece agir primariamente como um receptor de "clearance", que, junto com a endopeptidase neutra, regula os níveis disponíveis de peptídeos. Os níveis de PNA e PNC circulantes são elevados no plasma de pacientes com insuficiência cardíaca, enquanto que o conteúdo atrial de PNA é inalterado. A resposta hemodinâmica e natriurética a uma infusão de PNA é atenuada em pacientes e animais experimentais com insuficiência cardíaca. Entretanto, estudos utilizando um antagonista de receptores de PNA em cães com insuficiência cardíaca induzida por marca‐passo mostraram que a despeito da hemodinâmica atenuada e dos efeitos renais, o peptídeo continua a exercer um efeito supressor importante sobre a atividade do RAS e dos níveis de NE. Além do efeito benéfico de peptídeos natriuréticos sobre neuro‐hormônios, função renal e hemodinâmica, há evidências de que os peptídeos natriuréticos podem inibir diretamente a hipertrofia do músculo liso vascular e fibrose intersticial. ENDOTELINA Endotelina é um potente vasoconstritor peptídeo liberado por células endoteliais através da circulação. Foram identificados três tipos de endotelina (endotelina ‐ 1, 2 e 3) e dois tipos de receptores (A e B). A liberação de endotelinas de células endoteliais in vitro pode ser aumentada por vários agentes vasoativos: • Norepinefrina • Angiotensina II • Trombina 27 • Citoquinas Vários relatos têm documentado um aumento nos níveis circulantes de endotelina‐1 em pacientes com insuficiência cardíaca. Como resultado principal é observado aumento da pressão arterial sistêmica e pulmonar. Isto tem conduzido à sugestão de que a endotelina desempenha um papel fisiopatológico na mediação de hipertensão pulmonar em pacientes com insuficiência cardíaca. Em cultura de miócitos cardíacos, a endotelina induz hipertrofia celular associada com a indução de genes fetais. Antagonistas de receptores de endotelinas estão disponíveis e têm sido utilizados para demonstrar os efeitos fisiológicos de endotelina. Quando administrado a ratos com insuficiência cardíaca após infarto do miocárdio, o antagonista de endotelinas bosentana, que bloqueia os receptores de endotelinaA e endotelinaB, diminuiu significativamente a pressão arterial. Em ratos com hipertrofia induzida por sobrecarga de pressão, a administração do antagonista do receptor de endotelinaA (BQ123) inibiu transitoriamente a hipertrofia de miócitos e preveniu a indução de genes fetais. Essas observações sugerem que os antagonistas de receptores de endotelinas podem ser úteis no tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca aguda e crônica. CITOCINAS Vários mediadores de peptídeos, incluindo fatores de crescimento de peptídeos e citocinas inflamatórias tem sido demonstrados causar hipertrofia associada à expressão dos genes fetais. Os fatores de crescimento de peptídeos podem ser expressos por vários tipos celulares no coração, incluindo miócitos cardíacos e fibroblastos, e há um aumento na expressão de fatores de crescimento de peptídeos, em resposta à sobrecarga hemodinâmica e à NE. Os níveis circulantes de citocinas inflamatórias, como o fator α de necrose tumoral (FNT‐α), são aumentados em pacientes com insuficiência cardíaca. O FNT α pode induzir a disfunção imediata do miocárdio e tem sido demonstrado atenuar o trânsito do cálcio intracelular in vitro.Tem sido demonstrado que a citocina inflamatória β1 interleucina induz hipertrofia do miócito in vitro, e pode induzir a expressão de óxido nítrico sintase (ONS), resultando em níveis aumentados de óxido nítrico, atenuando a resposta inotrópica positiva a agonista β‐adrenérgicos em miócitos cardíacos. Citocinas podem exercer efeitos prolongados na remodelação do tecido miocárdico e vascular e assim contribuir para a fisiopatologia da insuficiência cardíaca crônica (Figura 10). É de interesse que vesnarinona, um agente oral que parece melhorar a sobreviria em pacientes com insuficiência cardíaca, seja demonstrada diminuir os níveis plasmáticos de citocinas inflamatórias. 28 Figura 10 ‐ Papel central de interações célula a célula na remodelação miocárdica. Miócitos e não miócitos (por exemplo, fibroblastos, células endoteliais, células de músculo liso vascular) no miocárdio produzem um número de mediadores intercelulares, muitos dos quais são citocinas, que podem atuar em células vizinhas de uma maneira autócrina ou parácrina, desempenhando um papel central na modulação de alterações na estrutura e função do miocárdio. 29 REFERÊNCIAS GUYTON, A.C. Textbook of medical physiology. 11.ed. Elsevier Inc, 2006. KATZ, A.M. Heart Failure: Pathophysiology, Molecular Biology and Clinical Management. Lippincott Williams & Wilkins, 1999.
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