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1 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" Coordenação Pedagógica IPEMIG Sociologia da Educação 2 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 03 1 DA EDUCAÇÃO ............................................................................................ 05 2 DO ENSINO MÉDIO NO BRASIL ................................................................. 14 3 SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO – O QUE É .................................................. 18 4 FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICO DA EDUCAÇÃO E COMO ENSINAR SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO ........................................... 24 5 TRABALHANDO COM A MATÉRIA SOCIOLOGIA ...................................... 27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UTILIZADAS E CONSULTADAS .......... 32 ANEXOS .......................................................................................................... 42 3 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" INTRODUÇÃO Sejam bem vindos aos cursos oferecidos pelo Instituto Pedagógico de Minas Gerais – IPEMIG. Nos esforçamos para oferecer um material condizente com a graduação daqueles que se candidataram a esta especialização, procurando referências atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso. As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e provado pelos pesquisadores. Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar nosso trabalho. Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, vocês são livres para estudar da melhor forma que possam organizar-se, lembrando que: aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam e que a educação é demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a formação dos nossos/ seus alunos. Trabalharemos nesta apostila intitulada “Da educação” com conceitos sobre o que é a educação, o ensino médio no Brasil. Serão abordados também os conceitos e as aplicações da Sociologia da Educação e os fundamentos sociológicos da educação, e ainda como ensiná-los. Na parte final, abordaremos a situação da matéria Sociologia para o ensino médio e uma sugestão de plano de aula ou projeto a ser desenvolvido com turmas de Ensino Médio. Trata-se de uma reunião do pensamento de vários autores que entendemos serem os mais importantes para a disciplina. 4 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico. Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar dúvidas e aprofundar os conhecimentos. DA EDUCAÇÃO Para Carneiro (2008, s/p) podemos dizer que não encontramos um sentido unívoco para o termo Educação. Educação é algo tão abrangente quanto às relações humanas. Podemos confirmar isso a partir da afirmação de Brandão (1985) que, nas primeiras linhas de "o que é educação", afirma: "Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação." (BRANDÃO, 1985, p. 7, apud CARNEIRO, 2008, s/p) Partindo dessa afirmação já constatamos que educação ultrapassa o ambiente escolar, pois ela ocorre "em casa, na rua, na igreja ou na escola". Além disso, "todos nós envolvemos pedaços da vida com ela". Por que não escapamos, e por que todos nós temos "pedaços de vida" envolvidos nela? Porque estamos todos os instantes realizando atos de aprendizagem e de ensino; pela educação desenvolvemos nossa capacidade e potencialidades para o "saber" e para o "fazer". Em tudo isso se manifesta uma de suas características que é o processo. Educação não é um ponto de chegada, mas um processo. Nesse processo está presente a dinamicidade das ações e relações entre as pessoas e grupos o que faz desse processo um mecanismo que pode produzir transformações sociais, mas que, em geral, reforça e mantém a sociedade estratificada, como veremos a seguir. Podemos dizer, portanto que em todas as dimensões da vida existem processos educacionais, como afirma Luckesi: "A educação é um típico 'que fazer' humano, ou seja, um tipo 5 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" de atividade que se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesmo, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social." (LUCKESI, 2001, p. 30, apud CARNEIRO, 2008, s/p). A afirmação do autor implica dizer que o processo educacional exige que olhemos para as ações humanas, as quais se explicam na relação com sua finalidade. As ações humanas se caracterizam por serem "instrumentos" para a "manutenção ou transformação social". Isso implica dizer que a educação é um dos elementos que ajudam a constituir e moldar a sociedade. Para a sociedade ser do jeito que é – ou que está – ocorreram ações e processos educativos: a sociedade se educou para isso. "A educação participa do processo de produção de crenças e ideias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades. É esta a sua força" (BRANDÃO, 1985, p. 11). Ainda de acordo com Carneiro (2008, s/p) algo semelhante afirma Gadotti (1984), a partir de uma afirmação de Gramsci, que "cada classe tem os seus intelectuais, o seus ideólogos, os seus educadores, cujas tarefas, na sociedade, distinguem-se apenas por grau e por maior ou menor incidência do trabalho intelectual na sua prática profissional" (GADOTTI, 1984, p.75). E são esses que recriam, constantemente, a ideologia de sua classe ou da classe que representam. Isso nos leva à afirmação Paulo Freire: "ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho. As pessoas se educam em comunidade", (GADOTTI, 1984; BRANDÃO, 1985) poderíamos dizer que as ações educacionais ocorrem em processo, implicando dizer que estamos trabalhando com algo dinâmico o qual se renova constantemente, pois as ações processuais implicam em recriações constantes. No processo educacional, paradoxalmente, pretende-se preservar valores, mas, ao mesmo tempo, pretende-se recriar ou criar novos valores. Sendo que, por vezes, os valores da classedominante são recriados para manter inalteradas as relações de dominação (GUARESCHI, 1989). Partindo disso podemos dizer que estagnação é negação da educação. Entretanto a sociedade humana, apesar de se caracterizar pela constância do progresso, concretamente é avessa às novidades. Por mais que se beneficie com a evolução, com o progresso, com o desenvolvimento, sempre que se defronta com 6 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" situações que demandam a "desinstalação" para instalação de novidades o ser humano cria resistências. O novo incomoda (...) e, sendo assim, o processo educacional é um processo incômodo (...) embora visto como necessário. Continuando sua explanação Carneiro (2008, s/p) diz que o processo educacional também pode ser caracterizado pela formalidade e pela informalidade. Informalmente o processo educacional ocorre no cotidiano das pessoas e nas relações humanas; essa ação cotidiana e informal refere-se à troca de experiência e à manutenção de valores da sociedade ou de um grupo dentro da sociedade. A educação informal pode ser identificada como aqueles processo e ações que ocorrem no cotidiano e nas inter-relações das pessoas e grupos; é prenhe da ideologia ou dos valores do senso comum; dos valores preservados pela sociedade em que se insere. As relações cotidianas ocorrem de maneira informal e nelas se manifestam ações educacionais, muitas vezes não intencionadas, mas sempre carregadas dos valores. Por sua vez o processo formal ou a educação formal, que recebe essa caracterização justamente por ser algo planejado, ocorre, principalmente, a partir de dentro da instituição escolar. A escola acaba sendo um espaço privilegiado para esse processo, principalmente porque na escola não há espaço para a informalidade. Nesse ambiente o processo é planejado justamente para resultar os interesses e os valores da sociedade em que está inserido. A educação formal, escolar, reflete sempre a sociedade dominante e, por esse motivo a escola é uma instituição reprodutora, pois representa a classe que a organiza e mantém. Uma vez que a instituição escolar é um espaço em que ocorre o processo formal de educação, podemos dizer que esse ambiente e processo – formal-escolar – manifesta e produz divisão social. Divide-se a sociedade entre os que estudaram e os que não estudaram; entre os que alcançaram ascensão socioeconômica, a partir do processo educacional e os que não alcançaram melhorias significativas em sua qualidade de vida ou, por vezes, nem entram no processo escolar. Em contrapartida e numa perspectiva dialética, alguns teóricos vêm, no processo educacional um instrumento de libertação (educação crítica, educação libertadora), na medida em oferece perspectivas de transformação social (LIBÂNEO, 1990; LUCKESI 1993; GADOTTI, 1984). Dentro desta perspectiva "a educação é ai compreendida como um dos instrumentos de apoio na organização e na luta do proletariado contra a 7 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" burguesia" (AZEVEDO, 2004, p. 40). Evidentemente que não se pensa que a educação seja, sozinha, capaz de produzir todas as transformações de que os trabalhadores precisam, mas pode ser um dos caminhos para isso. "Se ideais são necessários para dar vida à nossa prática, eles são insuficientes para gerar mudanças" (GADOTTI, 1984, p. 77, apud CARNEIRO, 2008, s/p). Apesar disso, parece que uma das principais características do processo educacional, é o fato de ser um instrumento que produz e mantém a dominação. Neste caso a educação é vista como um aparelho reprodutor das mazelas sociais. Essa perspectiva foi proposta, principalmente, a partir das análises de Louis Althusser, ao comentar os aparelhos de reprodução da sociedade, mostrando que o processo educacional é reprodutivista (LIBÂNEO, 1990; LUCKESI 1993) uma vez que ele é criado "pelo grupo dominante para reproduzir seus interesses, sua ideologia" (GUARESCHI, 1989, p. 69). Em razão disso somos levados a crer que o processo educacional – formal ou não formal – não tem poder transformador, mas, pelo contrário, é reprodutor. Isso porque quando falamos em educação falamos em valores e os valores preservados e ensinados, são os da classe dominante. Já que os interesses da sociedade são definidos pela classe dominante, os valores ensinados serão os seus valores. Podemos dizer, portanto, que ao surgir uma classe dominante nasce, também, a necessidade de instituições que a mantenham. Entre essas instituições está a escola que, ao mesmo tempo reproduz os valores hegemônicos e instrui quadros para a manutenção do aparato estrutural dessa sociedade. "Não é necessário dizer que a educação imposta pelos nobres se encarrega de difundir e reforçar esse privilégio. Uma vez constituídas as classes sociais, passa a ser um dogma pedagógico, a sua conservação, e quanto mais a educação conserva o status quo, mais ela é julgada adequada. Já nem tudo o que a educação inculca nos educandos tem por finalidade o bem comum, a não ser quando esse 'bem comum' pode ser uma premissa necessária para manter e reforçar as classes dominantes. Para estas, a riqueza e o saber; para as outras, o trabalho e a ignorância." (PONCE, 2001, p. 28, apud CARNEIRO, 2008, s/p) - Sobre Émile Durkheim e a educação: De acordo com (GALTER, MANCHOPE, s/d, s/p) Émile Durkheim é considerado um dos pensadores mais expressivos e que mais 8 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" contribuiu para a consolidação da Sociologia como ciência empírica e disciplina acadêmica. Pesquisador metódico e criativo foi o primeiro professor universitário de Sociologia e deixou um número considerável de seguidores. Durkheim viveu numa Europa conturbada por guerras e em processo de modernização, sua produção intelectual reflete a tensão entre valores e instituições que estavam desmoronando e formas emergentes, que ainda estavam se delineando. O pensamento de Durkheim pode ser balizado, de um lado, pela Revolução Francesa e a Revolução Industrial e, de outro, pelo conjunto de ideias que, sobre esses mesmos acontecimentos, vinha sendo formulado por autores como Saint- Simon (1760- 1825) e Auguste Comte (1798- 1857), que passariam a ocupar posição de destaque na história da Sociologia. Entre os pressupostos que constituíram a teoria de Durkheim, destaca-se a crença de que a humanidade evolui no sentido de um gradual aperfeiçoamento, impulsionada pela lei do progresso. Esse princípio, herdado do pensamento Iluminista, influenciou toda a vida intelectual do século XIX. Aflorava-se, assim, a consciência de que as ideias e os valores da velha ordem social (feudal), da qual ainda restavam elementos remanescentes, foram destruídos pela Revolução e que, portanto, era necessário criar um novo sistema científico e moral que caminhasse em sintonia com a ordem industrial instaurada. Por outro lado, disseminava-se a crença de que a vida coletiva não era apenas um somatório da vida dos indivíduos, mas, apresentava-se mais distinta e mais complexa. Certamente, é esse o objeto das Ciências Sociais e seu estudo demandava a utilização do método positivo, apoiado na observação, indução e experimentação, semelhante, porém, mais adequado as particularidades dos fatos sociais, ao que vinha sendo feito pelos cientistas naturais. Dessa maneira, as ciências da sociedade deviam aspirar à formulação de leis que estabelecessemrelações constantes entre os fenômenos. (GALTER, MANCHOPE, s/d, s/p) Ainda de acordo com (Galter, Manchope, s/d, s/p) assim, tendo vivido no interior de um ambiente bastante conturbado pelas transformações sociais e observado de maneira particular a sociedade francesa a preocupação de Durkheim foi com a ordem social. Ele afirmava que a raiz de todos os males da sociedade de seu tempo era uma certa fragilidade da moral contemporânea. Na busca de resposta a essa questão, propôs a formulação de novas ideias morais capazes de guiar a conduta dos indivíduos, aos quais a ciência, através de suas investigações, poderia 9 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" indicar os caminhos e as soluções, pois os valores morais constituíam um dos elementos mais eficazes para neutralizar as crises econômicas e políticas. O olhar sociológico que determinou o método pelo qual Durkheim investigou a sociedade da sua época predominou também na maneira como ele encarou a educação. Essa questão pode ser evidenciada em Paul Fauconnet (1874- 1938), na parte introdutória do livro Educação e Sociologia, observou que é por seu aspecto social que Durkheim abordou a educação, e, ainda, que a sua doutrina de educação é elemento essencial de sua sociologia. Durkheim, citado por Fauconnet, expôs que: como sociólogo, (...) será, sobretudo dentro da sociologia que vos falarei de educação. Aliás, assim procedendo, não haverá perigo em mostrar a realidade educativa, por aspecto que a deforme; estou convencido, ao contrário, de que não há melhor processo para salientar a verdadeira natureza da educação. Ela é fenômeno eminente social. (FAUCONNET, In: DURKHEIM, 1975, p. 5, apud GALTER, MANCHOPE, s/d, s/p) No livro As Regras do Método Sociológico, Durkheim já havia exposto a importância atribuída à educação, considerando-a como reguladora dos tipos de conduta ou de pensamentos que são, tanto externos ao indivíduo, como, também, dotado dum poder coercitivo em virtude do qual se lhe impõe. Em Educação e Sociologia, o autor, realizou uma sistemática análise crítica das concepções acerca dos sistemas de educação, formuladas principalmente por pensadores e filósofos modernos. Critica, às vezes, a abrangência das propostas, noutros casos, o pouco alcance ou o caráter subjetivo das formulações. A crítica do autor centra-se em negar o caráter individual da educação (especialmente quanto às suas finalidades), bem como, negar a natureza supostamente fixa e imutável do indivíduo. O autor citou, por exemplo, as formulações feitas por Stuart Mill, Kant e James Mill (FAUCONNET, In: DURKHEIM, 1975, p. 33-4), aventando que as definições propostas por esses autores partem do postulado de que há uma educação ideal, perfeita, apropriada a todos os homens, indistintamente. A esse respeito, observou que é a "educação universal a única que o teorista se esforça por defender. Mas, se antes de o fazer, ele considerasse a história, não encontraria nada em que apoiasse tal hipótese”. Acerca desse seu posicionamento, Durkheim fez um questionamento afirmando que poderiam objetá-lo dizendo que isso não representa o ideal e que se 10 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" a educação tem variado, tem sido pelo desconhecimento do que deveria ser, considerou tal argumento insuficiente: O postulado tão contestável de uma educação ideal conduz a erro ainda maior. Se se começa por indagar qual deve ser a educação ideal, abstração feita das condições de tempo e lugar é porque se admite, implicitamente, que os sistemas educativos nada têm de real em si mesmos. Não se vê neles um conjunto de atividades e de instituições sociais, que a educação exprime ou reflete instituições essas, por consequência, que não podem ser mudadas à vontade, mas só com a estrutura mesma da sociedade. Para o autor, cada sociedade, considerada em momento determinado de seu desenvolvimento, possui um sistema de educação que se impunha aos indivíduos de modo geralmente irresistível. Assim, haveria em cada sociedade um tipo regulador de educação. É uma ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos. Há costumes com relação aos quais somos obrigados a nos conformar; se os desrespeitamos, muito gravemente, eles se vingarão em nossos filhos. Estes, uma vez adultos, não estarão em estado de viver no meio de seus contemporâneos, com os quais não encontrarão harmonia. (...) Há, pois, a cada momento, um tipo regulador de educação, do qual não podemos separar sem vivas resistências, e que restringem as veleidades dos dissidentes. Considerou, ainda, que os costumes e as ideias que determinam o tipo de educação necessária à sociedade, não é criado individualmente. Inclusive, em sua maior parte é obra das gerações passadas. Para ele, todo o passado da humanidade contribuiu para estabelecer um conjunto de princípios que governam a educação do homem no presente. Como conhecer a educação necessária a cada sociedade? Para o autor, somente o entendimento histórico, isto é, quando se estuda a maneira pela qual se formaram e se desenvolveram os sistemas de educação, “inseridos no conjunto de outros fenômenos sociais como a religião, a organização política, o grau do desenvolvimento das ciências, do estado das indústrias, etc (FAUCONNET, In: DURKHEIM, 1975, p. 37)”. Afirmava que separadas dessas causas históricas, os sistemas de educação tornam-se incompreensíveis (FAUCONNET, In: DURKHEIM, 1975, p. 37). Nenhum indivíduo pode construir pelo esforço próprio aquilo que não é obra do pensamento individual. Afinal, ele não se encontra em face de uma tábula rasa, sobre a qual poderia construir o que quisesse, mas diante de realidades que 11 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" não podem ser criadas, destruídas ou transformadas à vontade. (GALTER, MANCHOPE, s/d, s/p) Nesse sentido, dizem (Galter, Manchope, s/d, s/p) o autor questionou aqueles que buscavam fixar fins certos à tarefa de educar, afirmando que somente a observação permitiria dizer se a educação tem uma finalidade ou outra. Não há meios de se saber a priori. Enfatizou que o importante seria dizer em que consiste a tarefa de educar, a que tende, a que necessidades humanas corresponde. Para responder a essas indagações e constituir a noção preliminar de educação, reafirmou o autor: “para determinar a coisa a que damos esse nome, a observação histórica parece-nos indispensável (FAUCONNET, In: DURKHEIM, 1975, p. 38)”. Na verdade, haveria de se considerar os sistemas de educação existentes, ou que tenham existido, compará-los e apreender deles os caracteres comuns. Que caracteres comuns são esses? A existência de gerações de adultos e de crianças, bem como a ação da primeira, sobre a segunda. Partindo desses postulados, Durkheim procurou definir a natureza específica dessa ação (de gerações adultas sobre gerações de crianças). Para essa tarefa, o autor, partiu do entendimento de que cada sociedade apresenta sistemas de educação especiais. Esses sistemas apresentam dois aspectos: múltiplo e uno ao mesmo tempo. Múltiplo, pois há tantas espécies de educação, em determinada sociedade, quantos meios diversos nela existirem. A necessária diversidade pedagógica em dada sociedade decorre do grau de especialização existente em cada sociedade. Cada profissão constitui um meio sui generis, que reclama aptidões particulares e conhecimentos especiais,meio que é regido por certas ideias, certos usos, certas maneiras de ver as coisas; e como a criança deve ser preparada em vista de certa função, a que será chamada a preencher, a educação não pode ser a mesma, desde certa idade, para todo e qualquer indivíduo. Durkheim afirma que quanto ao aspecto uno, "Não há povo em que não exista certo número de ideias, sentimentos e práticas que a educação deve inculcar a todas as crianças, indistintamente, seja qual for a categoria social a que pertençam (FAUCONNET, In: DURKHEIM, 1975, p. 40)”. Portanto, para Durkheim qualquer que seja a importância dos sistemas 12 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" especiais de educação, não constitui ele toda a educação. O aspecto múltiplo e o aspecto uno divergem até certo ponto, para além do qual se confundem. Assentam assim numa base comum. Em outras palavras, cada sociedade constrói, para seu uso, certo ideal de homem, tanto do ponto de vista intelectual, quanto o físico e moral. Esse ideal é que constitui o eixo educativo. (...) Dos muitos aspectos que compõem a abordagem sociológica de Émile Durkheim relativas à educação, o que mais se destaca é a consideração obrigatória de uma relação estreita entre as determinações individuais e as construções sociais, donde resulta, antes de tudo, uma clara ascendência dos aspectos sociais sobre os individuais. (...) Para ele, a educação tinha por objetivo suscitar e desenvolver, no indivíduo, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial no qual ele está inserido. Nesse sentido, podemos dizer que seu método na verdade expressou um caráter eminentemente educativo. Deduz-se daí o importante papel que o autor atribuiu à educação. (GALTER, MANCHOPE, s/d, s/p) DO ENSINO MÉDIO NO BRASIL Conforme a professora Sonia Jobim, (2006, p. 1) a reformulação do ensino médio no Brasil, estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996, regulamentada em 1998 pelas Diretrizes do Conselho Nacional de Educação e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, procurou atender a uma reconhecida necessidade de atualização da educação brasileira, tanto para impulsionar uma democratização social e cultural mais efetiva, pela ampliação da parcela da juventude brasileira que completa a educação básica, como para responder a desafios impostos por processos globais, que têm excluído da vida econômica os trabalhadores não qualificados, por causa da formação exigida de todos os partícipes do sistema de produção e de serviços. 13 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" A expansão do ensino médio brasileiro, que cresce exponencialmente, é outra razão pela qual esse nível de escolarização demanda transformações de qualidade, para adequar-se à promoção humana de seu público atual, diferente daquele de há trinta anos, quando suas antigas diretrizes foram elaboradas. A ideia central expressa na nova Lei, e que orienta a transformação, estabelece o ensino médio como a etapa conclusiva da educação básica de toda a população estudantil e não mais somente como etapa preparatória de outra etapa escolar ou do exercício profissional. Isso desafia a comunidade educacional a pôr em prática propostas que superem as limitações do antigo ensino médio, organizado em termos de duas principais tradições formativas: a pré-universitária e a profissionalizante. Especialmente em sua versão pré-universitária, o ensino médio tem-se caracterizado por uma ênfase na estrita divisão disciplinar do aprendizado. Seus objetivos educacionais se expressavam – e, usualmente, ainda se expressam – em termos de listas de tópicos, dos quais a escola média deveria tratar, a partir da premissa de que o domínio de cada disciplina era requisito necessário e suficiente para o prosseguimento dos estudos. Dessa forma, parecia aceitável que só em uma etapa superior tais conhecimentos disciplinares adquirissem, de fato, sua amplitude cultural ou seu sentido prático. Por isso, essa natureza estritamente propedêutica não era contestada ou questionada, mas é hoje inaceitável. Em contrapartida, em sua versão profissionalizante, o ensino médio era, ou é caracterizado por uma ênfase no treinamento para fazeres práticos, associados por vezes a algumas disciplinas gerais, mas, sobretudo voltados a atividades produtivas ou de serviços. Treinava-se para uma especialidade laboral, razão pela qual se promovia um certo aprofundamento ou uma certa especialização de caráter técnico, em detrimento de uma formação mais geral, ou seja, promoviam-se competências específicas dissociadas de uma formação cultural mais ampla. É importante que continuem existindo e se disseminem escolas que promovam especialização profissional em nível médio, mas que essa especialização não comprometa uma formação geral para a vida pessoal e cultural, em qualquer tipo de atividade. O novo ensino médio, nos termos da lei, de sua regulamentação e encaminhamento, deixa de ser, portanto, simplesmente preparatório para o ensino superior ou estritamente profissionalizante, para assumir necessariamente a 14 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" responsabilidade de completar a educação básica. Em qualquer de suas modalidades, isso significa preparar para a vida, qualificar para a cidadania e capacitar para o aprendizado permanente, em eventual prosseguimento dos estudos ou diretamente no mundo do trabalho. (JOBIM, 2006, p. 1) Seguindo na sua explanação Jobim (2006, p. 2) as transformações de caráter econômico, social ou cultural, no Brasil e no mundo, que levaram à modificação dessa escola, não tornaram o conhecimento humano menos disciplinar em nenhuma das três áreas em que se decidiu organizar o novo ensino médio, ou seja, na de Ciências da Natureza e da Matemática, na de Ciências Humanas e na de Linguagens e Códigos. Essas áreas, portanto, organizam e articulam as disciplinas, mas não as diluem nem as eliminam. No entanto, a intenção de completar uma formação geral nessa escola implica uma ação articulada, no interior de cada área e no conjunto das áreas, que não é compatível com um trabalho solitário, definido independentemente no interior de cada disciplina, como acontecia no antigo ensino de segundo grau, para o qual haveria outra etapa formativa que articularia os saberes e, eventualmente, lhes daria sentido. Não havendo necessariamente essa outra etapa, a articulação e o sentido devem ser garantidos já no ensino médio. Mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos, estar formado para a vida, num mundo como o atual, de tão rápidas transformações e de tão difíceis contradições, significa saber se informar, se comunicar, argumentar, compreender e agir, enfrentar problemas de qualquer natureza, participar socialmente, de forma prática e solidária, ser capaz de elaborar críticas ou propostas e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado. Uma formação com tal ambição exige métodos de aprendizado compatíveis, ou seja, condições efetivas para que os alunos possam comunicar-se e argumentar, deparar-se com problemas, compreendê-los e enfrentá-los, participar de um convívio social que lhes dê oportunidade de se realizarem como cidadãos, fazerem escolhas e proposições, tomarem gosto pelo conhecimento,aprenderem a aprender. Diferentemente das características necessárias para a nova escola, esboçadas anteriormente, nossa tradição escolar tem sido, de um lado, a de compartimentar disciplinas, em ementas estanques, em atividades padronizadas, 15 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" não referidas a contextos reais e, de outro lado, de passividade imposta ao conjunto dos alunos, em função dos métodos adotados e também da própria configuração física dos espaços e condições de aprendizado que, em parte, refletem a pouca participação do aluno ou mesmo do professor na definição das atividades formativas. As perspectivas profissional, social ou pessoal dos alunos não têm feito parte das preocupações escolares, assim como as questões e problemas da comunidade, da cidade, do país ou do mundo só têm recebido atenção marginal no ensino médio que, também por isso, precisaria ser reformulado. Essa falta de sintonia entre realidade escolar e necessidades formativas se reflete nos projetos pedagógicos das escolas, frequentemente inadequados e raramente explicitados, como objeto de reflexão consciente da comunidade escolar. Quando essa reflexão ocorre, cada professor conhece por que razões a escola optou por promover quais atividades para os alunos, em função do desenvolvimento de que competências, em nome de que prioridades os recursos materiais foram utilizados e a carga horária foi distribuída e, sobretudo, qual sentido e relevância tem seu trabalho, em sua disciplina, para se alcançarem as metas formativas gerais definidas para os alunos da escola. Sem isso, pode faltar clareza sobre como conduzir o aprendizado, no sentido de promover no conjunto dos alunos as qualificações humanas pretendidas pelo novo ensino médio. Com efeito, define-se como orientação básica do ensino médio “responder a desafios impostos por processos globais que têm excluído da vida econômica os trabalhadores não qualificados do sistema de produção e serviços”. (JOBIM, 2006, p. 2) SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO O QUE É? 16 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" De acordo com a Infopédia (s/d, s/p) a escola, enquanto agente especializado na transmissão de modos de pensar, agir e sentir, é o objeto de estudo central da sociologia da educação. Embora a sociologia da educação como campo distinto da sociologia seja relativamente recente, as suas raízes encontram- se logo nos primeiros pensadores, nomeadamente em Émile Durkheim. Para este autor, a educação é um processo que deve ser entendido como um contributo para a manutenção da ordem social. Esta perspectiva influenciou fortemente os estudos sobre a educação até aos anos cinquenta. A abordagem da corrente funcionalista entende a escola como um contributo vital à sobrevivência e perpetuação da sociedade, pois imprime nos indivíduos os valores dominantes nessa sociedade. Nos anos cinquenta e sessenta, na Grã-Bretanha, os estudos versaram sobre o papel do sistema educacional na mobilidade social e sobre as diferenças entre classes sociais no sucesso escolar. Nos anos setenta o interesse da sociologia da educação estendeu-se a estudos de caso acerca dos sistemas sociais nas escolas, preocupando-se com a importância da relação professor/aluno para o sucesso escolar e com o papel das escolas enquanto agentes de reprodução cultural. Foi também a época em que se desenvolveram mais investigações acerca de diferentes estilos de ensino. Os fatores que intervêm nos resultados escolares também têm sido estudados por este ramo da sociologia. Ter boas ou más notas não depende unicamente da inteligência do indivíduo nem mesmo do seu esforço; as classificações são produto de um processo complexo no qual intervêm outros saberes exigidos pela escola que não os contidos nos currículos: valores, atitudes e princípios que são os da parcela dominante da sociedade. Serão premiados os indivíduos que aceitam e/ou que já trazem da sua socialização primária esses outros saberes ocultamente exigidos. Tem sido estudado outro fator de influência dos resultados escolares: o das expectativas dos professores face aos alunos. Os estereótipos do professor acerca das classes sociais, dos grupos raciais ou do gênero influenciam o modo como ele age com os alunos levando estes a corresponderem às "profecias" do professor. (INFOPÉDIA, s/d, s/p) 17 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" Conforme Correia, Batista (s/d, s/p) dentre os inúmeros enfoques da sociedade e da educação, destacam-se os paradigmas considerados clássicos que enfocam em suas análises o consenso ou o conflito, correspondendo às correntes positivista/funcionalista e crítica/dialética originadas respectivamente em Émile Durkheim e Karl Marx, que influenciam análises e pesquisas no campo da Sociologia da Educação (SE). O estudo dos autores considerados clássicos propicia o entendimento da sociedade relacionada com a práxis educativa. Émile Durkheim é um marco no surgimento da Sociologia como ciência e como disciplina. Além de ter contribuído para a definição do objeto e do método sociológico, foi um dos pioneiros na inclusão da Sociologia no currículo acadêmico, especificamente no curso de formação de professores, no qual lecionava. Destaca-se na teoria durkheimiana sua concepção de sociedade como um organismo composto por distintas instituições que se complementam e se interpenetram, cada uma desempenhando uma função e formando um todo homogêneo e consensual. Nesse arcabouço explicativo a educação ocupa lugar central como um fato social, que contribui para a “socialização metódica das novas gerações” (DURKHEIM, 1987, p.41, apud CORREIA, BATISTA, s/d, s/p) e para integrar os indivíduos na sociedade em que estão inseridos, disseminando a consciência coletiva. Seguindo na sua explanação, Correia, Batista (s/d, s/p) dizem que vendo a educação com duplo aspecto, uno e múltiplo como seus constituintes básicos Durkheim (1967, p. 40) aponta suas principais funções: Suscitar na criança: Um certo número de estados físicos e mentais, que a sociedade a que pertença, considere como indispensáveis a todos os seus membros; Certos estados físicos e mentais, que o grupo social particular (casta, classe família, profissão) considere igualmente indispensáveis a todos quantos o formem. Ao tratar das relações entre o educador e a criança submetida à sua influência, Durkheim (1967, p. 53-54) defende que a criança fique “por condição natural, em estado de passividade” e o educador assume uma posição de superioridade advinda da sua experiência, sua cultura e da moral que ele encarna. Assim a ação educativa é entendida como um trabalho de autoridade. A autoridade 18 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" é o meio essencial da ação educativa. “A autoridade moral é a qualidade essencial do educador”. Essa concepção de educação e do papel do professor influenciou as práticas pedagógicas adotadas no Brasil ao longo da história da educação e a atividade docente que nela se realiza. Como pode se observar nas tendências pedagógicas analisadas por Libâneo (1989), especialmente na sua vertente tradicional que tem no professor a figura central do processo ensino aprendizagem, como detentor do domínio de conteúdos que devem serrepassados aos educandos que devem se portar passivamente como receptores de conteúdos. Prática docente denominada de “bancária” e enfaticamente criticada por Paulo Freire. As ideias de Durkheim influenciaram vários autores destacando-se Fernando Azevedo e Anísio Teixeira influentes educadores da escola nova. (CORREIA, BATISTA, s/d, s/p) Noutra perspectiva, de acordo com Correia, Batista (s/d, s/p) temos a teoria crítica fundamentada no materialismo histórico dialético de Karl Marx, que influenciou todo o pensamento crítico em educação, começando pelas ideias reprodutivistas de Althusser, Establet e Baudelot que ressaltaram a contribuição da educação na reprodução das relações sociais de produção. A análise materialista histórica de Marx vê a sociedade capitalista sob a perspectiva do conflito resultante das contradições produzidas pela divisão da sociedade em classes sociais, definidas pela apropriação dos meios de produção, demarcando uma classe detentora dos meios de produção e da riqueza que advém do trabalho da classe trabalhadora. Para Marx, a sociedade se estrutura por uma base constituída das forças produtivas e das relações de produção, donde se originam as ideias, a política, a religião, o direito e a filosofia que constituem a superestrutura. As relações de produção classistas são conflitivas e contraditórias provocando constantemente crises que não encontram solução nos marcos da sociedade burguesa. Assim, ele defende uma revolução liderada pelas classes trabalhadoras para superar essa sociedade classista e a criação de uma sociedade onde não mais existiria a exploração do homem pelo homem, culminando numa sociedade comunista, na qual os meios de produção seriam coletivizados. Marx não se deteve numa discussão sobre a educação, sua teoria se concentrou na análise econômica, sociológica, histórica e filosófica, da sociedade capitalista, mas o desdobramento de suas análises das relações de poder inerentes 19 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" às relações classistas produziu contribuições importantes para a compreensão da escola e da ação educativa. Originadas da teoria marxista, surgem as concepções crítico reprodutivistas de Althusser (1983), Bourdieu e Passeron (1982), Establet e Baudelot (1971) que denunciavam o caráter classista, excludente, ideológico e reprodutor das relações sociais de produção e dominação da educação no sistema capitalista. Esses autores ressaltam a atuação da educação escolar na reprodução das relações sociais de produção e de dominação. O primeiro desvenda a atuação do Estado capitalista na reprodução das classes sociais, através dos aparelhos repressivos e ideológicos que o compõem, e apresenta a escola como o principal Aparelho Ideológico do Estado que atua essencialmente pela transmissão e inculcação da ideologia, especialmente a ideologia que interessa à classe dominante. Uma vez que atua ao longo de vários anos na preparação de crianças e jovens, transmitindo a ideologia da classe dominante, recalcando e reprimindo uma ideologia orgânica à classe, ao mesmo tempo em que proporciona a reprodução da submissão às normas da ordem vigente. Contribuindo dessa forma para a reprodução das relações sociais de exploração (entre explorados e exploradores), ao escamotear, esconder, dissimular as reais condições de exploração. Antonio Gramsci, outro autor que bebeu da fonte sociológica marxista e desenvolveu sua análise social e educacional partindo do pressuposto da existência de uma sociedade conflituosa e contraditória, baseada em princípios capitalistas de exploração e submissão, vincula a educação a uma estrutura de combate ideológico hegemônico e contra hegemônico e a considera um espaço pedagógico que funciona tanto como instrumento de dissimulação, a serviço da classe dominante, quanto revela à classe dominada as contradições existentes, permitindo a esta última reagir. A defesa de Gramsci define-se na utilização da escola como centro de formação da consciência crítica e política para realizar uma mudança real da estrutura social vigente. Essas e outras diferentes concepções de sociedade e de educação permitem uma análise de diversos temas tratados pela Sociologia da Educação destacando-se: concepções de sociedade, de educação, a relação entre educação e sociedade, as relações de poder na escola, as determinações das políticas educacionais, a relação entre classes sociais e o acesso à educação escolar, os 20 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" fundamentos das tendências pedagógicas na prática escolar, questões das realidades sociais e educacionais. (CORREIA, BATISTA, s/d, s/p) Já para Guimarães, Gomyde (2007, s/p) em cada aluno há dois seres inseparáveis, porém distintos. Um deles seria o que o sociólogo francês Émile Durkheim chamou de individual, e tal porção do sujeito (o jovem bruto) é formada pelos estados mentais de cada pessoa. O desenvolvimento dessa metade do homem foi a principal função da educação até o século XIX. Principalmente por meio da psicologia, os professores tentavam construir nos estudantes os valores e a moral. A caracterização do segundo ser foi o que deu projeção a Durkheim. "Ele ampliou o foco conhecido até então, considerando e estimulando também o que concebeu como o outro lado dos alunos, algo formado por um sistema de ideias que exprimem, dentro das pessoas, a sociedade de que fazem parte", explica Dermeval Saviani professor emérito da Universidade Estadual de Campinas. Durkheim acreditava que a sociedade seria mais beneficiada pelo processo educativo: "a educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta". E quanto mais eficiente for o processo, melhor será o desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja inserida. Nessa concepção durkheimiana, também chamada de funcionalista — as consciências individuais são formadas pela sociedade. Ela é oposta ao idealismo, de acordo com o qual a sociedade é moldada pelo "espírito" ou pela consciência humana: "A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios — sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento — que balizam a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela". Essa teoria, além de caracterizar a educação como um bem social, a relacionou pela primeira vez às normas sociais e à cultura local, diminuindo o valor que as capacidades individuais têm na constituição de um desenvolvimento coletivo. "Todo o passado da humanidade contribuiu para fazer o conjunto de máximas que dirigem os diferentes modelos de educação, cada uma com as características que lhe são próprias. As sociedades cristãs da Idade Média, por exemplo, não teriam sobrevivido se tivessem dado ao pensamento racional o lugar que lhe é dado atualmente”. (GUIMARAES, GOMYDE, 2007, s/p) Ainda de acordo com Guimarães, Gomyde (2007, s/p) Durkheim não desenvolveu métodos pedagógicos, mas suas ideias ajudaram a compreender o 21 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" significado social do trabalho do professor, tirando a educação escolar da perspectiva individualista, sempre limitada pelo psicologismo idealista (influenciado pelas escolas filosóficas alemãs de Kant e Hegel). "Segundo Durkheim, o papel da ação educativa é formar um cidadão que tomará parte do espaçopúblico. Não somente o desenvolvimento individual do aluno", explica José Sérgio Fonseca de Carvalho, da Faculdade de Educação da USP. Nas palavras de Durkheim, "a educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade política no seu conjunto". Tais exigências, com forte influência no processo de ensino, estão relacionadas à religião, às normas e sanções, à ação política, ao grau de desenvolvimento das ciências e até mesmo ao estado de progresso da indústria local. Se a educação for desligada das causas históricas, ela se tornará apenas exercício da vontade e do desenvolvimento individual, o que para ele era incompreensível: "Como é que o indivíduo pode pretender reconstruir, por meio do único esforço da sua reflexão privada, o que não é obra do pensamento individual?" E ele mesmo respondeu: "O indivíduo só poderá agir na medida em que aprender a conhecer o contexto em que está inserido, a saber quais são suas origens e as condições de que depende. E não poderá sabê-la sem ir à escola, começando por observar a matéria bruta que está lá representada." (GUIMARAES, GOMYDE, 2007, s/p) FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO E COMO ENSINAR SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Segundo Silva (s/d, p. 2) que faz um artigo sobre como os futuros professores, ou os alunos de graduação em sociologia devem observar a sociologia 22 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" da educação, coloca: para que servem os fundamentos sociológicos da educação? (...) O sociólogo francês Christian Baudelot, tentando responder à questão semelhante a essa propôs que a sociologia da educação servisse para instrumentalizar os professores com mapas que os ajudassem a traçar seus itinerários, veja o que ele diz: no fundo o trabalho do sociólogo da educação se assemelha ao trabalho de um cartógrafo. Levantar o mapa escolar, proceder ao levantamento topográfico do terreno e do relevo, representar uma escala precisa os principais maciços da paisagem escolar, medir os caudais dos rios, ter os mapas em dia, eis aqui em que o sociólogo da educação pode ajudar o professor. Pode ajudá- lo a orientar-se na “floresta” escolar. Ajudá-lo a orientar-se e não guiá-lo. Caberá aos professores depois traçar, com o mapa na mão, seus próprios itinerários em função de suas opções e da natureza do terreno em que se encontram. (Baudelot, 1991, apud, SILVA, s/d, p. 2) A sociologia da educação comporia o arsenal teórico que ajudaria os professores a se orientarem, juntamente com as outras disciplinas, mas que deveria oferecer aos futuros professores instrumentos para olhar a sociedade e a escola, as crianças, as famílias, a sua prática docente e o contexto macro social e político. Penso que os olhares dos alunos (futuros professores) deverão ser alterados pelos “óculos” das teorias sociais. Seus olhares deverão se desprender das imagens já construídas sobre a escola, os professores, os pobres, os ricos, as igrejas, as religiões, a cidade, os bairros, as favelas, a violência, os políticos, a política, os movimentos sociais, os conflitos, as desigualdades, entre outros. O que significa alterar os olhares dos nossos alunos? Significa doutriná-los em nossas convicções ideológicas, religiosas, políticas? Significa dizer para eles que tudo o quê eles pensam é senso comum, não serve para o exercício da profissão? Significa afirmar-se com um discurso moralista ou revolucionário? Certamente, que não. Mesmo que a neutralidade não exista na elaboração dos programas da disciplina e das aulas, um certo rigor é necessário. Como dizia Max Weber, sociólogo alemão, o professor não pode usar a docência para panfletar, para defender suas posições ideológicas, partidárias, religiosas, etc. Como homem público sim, poderá e deverá fazê-lo, mas como professor deve ter um rigor cientifico que lhe permita oferecer aos alunos o acúmulo de conhecimento da disciplina. Marx também advertia que a caracterização de uma teoria como representando o ponto 23 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" de vista de uma classe determinada não significava, necessariamente, que fosse uma visão sem valor cientifico. Por isso, Marx, em sua obra, estudou e discutiu com o que havia de mais sofisticado na Filosofia e na Economia dos séculos XVIII e XIX. O ensino dos fundamentos sociológicos da educação, muitas vezes, foi direcionado como um mecanismo de inculcação de valores sejam conservadores, no antigo curso Normal, em que imperava o positivismo; sejam progressistas, muito comum nos anos de 1980, no Brasil, devido à ansiedade dos professores em romper com o autoritarismo do regime militar, passavam a fazer discursos em favor das mudanças, ora mais democráticas, ora mais socialistas-revolucinárias. Ainda hoje, encontramos justificativas para o ensino de sociologia geral nas escolas, tais como: “essa disciplina deverá ajudar o aluno a entender seus direitos e deveres, muito mais seus deveres já que não se comportam adequadamente”; “a sociologia deverá ajudar na disciplina dos alunos, no controle da violência, etc”; “essa disciplina deverá dar mais civismo para os jovens”, e assim por diante. Levar aos alunos o acúmulo de reflexões ou o estado da arte da disciplina não é uma tarefa fácil, porque exigirá recortes, escolhas, delimitações de conteúdos, de teorias, e parafraseando Weber, aqui nós podemos ser parciais. Até porque o tempo das aulas, o número de aulas por semana, por mês e por ano exige que selecionemos o que consideramos o melhor desse “acúmulo”. Bem, uma vez feita a escolha, a seleção e as divisões dos conteúdos, devemos cuidar para sermos “neutros”, fiéis à ciência, ou como diria Marx, sermos comprometidos com a busca da essência superando as visões que temos sobre a aparência da vida social. (SILVA, s/d, p. 3) Continuando sua explanação Silva (s/d, p. 4) aponta que o fato de estarmos comprometidos com uma classe social, no caso, a classe trabalhadora, exige ainda mais rigor cientifico. É o contrário do que propalam algumas versões vulgares de pedagogias liberais, do ensino por competências, do “aprender a aprender”, em que os pobres deverão ter um ensino mais leve, mais palatável, simplificado e resumido no imediato das experiências cotidianas, normalmente tratadas de forma sincrônica (sem história). Com esses princípios poderemos enriquecer os olhares dos alunos, futuros professores. (...) A sociologia da educação deverá ajudar os alunos a perceberem as 24 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" determinações sociais da sua prática profissional, da configuração do sistema educacional no país, da sua inserção na estrutura de classes do capitalismo, do significado da educação no capitalismo, entre outros. Ou, como diria Baudelot, a sociologia da educação deverá fornecer os mapas para orientação dos futuros professores, mapas que permitam estabelecer itinerários nas escolas e nos centros de educação infantil. Nesse sentido, a disciplina uma existência histórica que coincide com a historicidade da educação nas sociedades modernas e que deve ser compreendida dessa forma, como um instrumento cientifico que altera os olhares e, consequentemente, a prática pela práxis educativa. Práxis, porque não nega, não escamoteia seu sentido político, de transformação. A disciplina, como todo o currículo,intenta transformar os alunos no sentido de um educador comprometido com o direito sagrado das crianças ao atendimento escolar de qualidade. Ser comprometido com esse direito pressupõe a compreensão da sociedade capitalista, dividida em classes sociais. Pressupõe a compreensão da gênese das relações sociais no país, as formações e os modos de vida no Brasil em suas manifestações culturais, a escola em relação às religiões, aos sem-terra, aos latifundiários, aos negros, aos portadores de necessidades especiais, às mulheres, aos índios, aos filhos de trabalhadores, aos filhos da pequena burguesia, da burguesia, da classe de renda média, entre outros. Em segundo lugar, estabelecer algumas diretrizes para o ensino da disciplina de acordo com o seu papel no contexto geral do currículo. (SILVA, s/d, p. 5) TRABALHANDO COM A MATÉRIA SOCIOLOGIA Apresentaremos algumas possibilidades para o planejamento das aulas, sempre no sentido de contribuição ao professor. 25 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" Conforme Sarandy (2001, s/p) para compreendermos o sentido da sociologia como disciplina na grade curricular do Ensino Médio deveremos, antes de tudo, compreender os objetivos que por meio dela se pretende atingir. Esses objetivos podem ser divididos em duas classes: os que são específicos para a disciplina e os que não se restringem a ela, indo ao encontro dos que foram traçados para o Ensino Médio a partir da Lei n.º. 9.394, de 1996. Entretanto, antes de se estabelecer os objetivos para a disciplina, deveremos dimensionar a importância da sociologia enquanto disciplina do nível médio de ensino, o que significa perguntar sobre seu sentido, buscar compreender o que ela tem de específico que não encontramos nas disciplinas de história, geografia ou filosofia; enfim, perguntar qual sua especificidade em relação às demais disciplinas de humanidades. Essa pergunta não é de fácil resposta e todo pesquisador da área de ciências humanas sabe que as fronteiras entre as suas diversas áreas são bastante tênues. E acrescenta-se a isso o fato de que transformar os saberes científicos em saberes escolares implica em um grau de diferenciação e criação de identidades entre as diversas disciplinas. A história e a geografia, provavelmente devido à longa tradição no meio escolar, estão bem estabelecidas, possuem um discurso construído sobre a realidade já aceito e amplamente disponível para todos os professores. A sociologia conta com este agravante, qual seja construir um saber organizado de modo a ser viável sua introdução no nível médio de ensino. É importante ressaltar que as ciências possuem fronteiras dadas, antes de tudo, por divisões políticas internas e, em se tratando de ensino médio, é preciso criar essas diferenças e afirmar uma identidade para a sociologia se desejamos sua reintrodução neste segmento de ensino. (SARANDY, 2001, s/p) Mas isto não responde à questão proposta: o que marca a especificidade da sociologia e torna importante sua introdução nos meios escolares? Algumas tentativas de resposta têm sido formuladas. O filósofo e sociólogo Gilson Teixeira Leite (Jornal A Gazeta em 11/12/00) afirmou que “se é imprescindível dominar a informática e todas as novas tecnologias para uma colocação qualificada no mercado de trabalho, também se faz necessário, no universo educacional, problematizar a vida do próprio aluno, sua existência real num mundo real, com suas implicações nos diversos campos da vida: ético-moral, 26 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" sociopolítico, religioso, cultural e econômico”. E conclui que “a volta das disciplinas humanísticas – filosofia, sociologia, antropologia, psicologia, entre outras – tem muito a contribuir com a formação do jovem naquilo que lhe é mais peculiar: o questionamento. Desmistificando ideologias e apurando o pensamento crítico das novas gerações, poderemos continuar sonhando, e construindo, um país, não de iguais, mas justo para mulheres e homens que apenas querem viver”. Isto nos remete à contribuição que a sociologia pode dar para o desenvolvimento do pensamento crítico, não porque teria um conteúdo imprescindível – não devemos pensar de modo messiânico na sociologia. Nem o pensamento crítico se desenvolve devido à aprendizagem de algum tipo especial de conteúdo. Como Gilson bem expressou, a sociologia tem a contribuir para o desenvolvimento do pensamento crítico, ao lado de outras disciplinas, pois promove o contato do aluno com sua realidade, e podemos acrescentar, bem como o confronto com realidades distantes e culturalmente diferentes. É justamente nesse movimento de distanciamento do olhar sobre nossa própria realidade e de aproximação sobre realidades outras que desenvolvemos uma compreensão de outro nível e crítica. A cientista política Marta Zorzal e Silva (Gazeta Mercantil, 11/12/00), numa interessante reflexão sobre as mudanças no mundo contemporâneo – no campo das tecnologias, nas relações de trabalho e nas relações culturais – afirma que a informação tornou-se elemento estratégico para o mundo globalizado devido “aos impactos dos processos que têm sido denominados de globalização”. A autora ainda observa que “a informação em si é um dado bruto (...) o ato de transformar a informação em conhecimento não é uma tarefa simples. Exige capacidade de processamento da mesma. Significa (...) saber o que pode ser feito com os “tijolos de saberes” que o sistema de ensino fornece (...) isto implica em capacidade de raciocínio, de questionamento, do confronto de outras fontes e experiências, enfim, habilidades que se adquire ao ser treinado a ver os mesmos panoramas a partir de diferentes perspectivas. Essa é a habilidade que se adquire por excelência com o estudo das ciências humanas e, em especial, com a filosofia e a sociologia. É da essência destes campos de conhecimento a tarefa de desenvolver o pensamento, sem nenhuma utilidade ou objetivo prático. A preocupação maior está em educar o olhar e processar tanto informações como saberes já produzidos”. Diante do desafio 27 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" de nosso tempo ela questiona a nossa capacidade de desenvolvermos o gerenciamento da informação para que possamos ter competitividade no mercado global. Mas lembra que a maioria dos países do Leste Asiático superou suas condições e tornaram-se competitivos. Entre os vários fatores que permitiram esse avanço, Marta Zorzal afirma que se destaca a educação: “todos construíram sólidos alicerces fundados na boa educação pública estendida a maioria da população”. Mas a educação deve conter esse aspecto de permitir o confronto de diferentes perspectivas e que é por excelência o que faz a sociologia. (SARANDY, 2001, s/p) Ainda discorrendo sobre o assunto Sarandy (2001, s/p) coloca que o conhecimento sociológico certamente beneficiará nosso educando na medida em que lhe permitirá uma análise mais acurada da realidade que o cerca e na qual está inserido. Mais que isto, a sociologia constitui contribuição decisiva para a formação da pessoa humana, já que nega o individualismo e demonstra claramente nossa dependência em relação ao todo, isto é, à sociedade na qual estamos inseridos. Segundo a socióloga Cristina Costa “o conhecimento sociológico é mais profundo e amplo do que a simples formação técnica – representa uma tomada deconsciência de aspectos importantes da ação humana e da realidade na qual se manifesta. Adquirir uma visão sociológica do mundo ultrapassa a simples profissionalização, pois, nos mais diversos campos do comportamento humano, o conhecimento sociológico pode levar a um maior comprometimento e responsabilidade para com a sociedade em que se vive” (Sociologia – introdução à ciência da sociedade, Cristina Costa, Editora Moderna, 1997). Ainda para Sarandy (2001, s/p) a questão metodológica fundamental é: seja qual for o conteúdo, ele será sempre um meio para se atingir o fim: o desenvolvimento da perspectiva sociológica. Mais que discorrer sobre uma série de conceitos, a disciplina pode contribuir para a formação humana na medida em que proporcione a problematização da realidade próxima dos educandos a partir de diferentes perspectivas, bem como pelo confronto com realidades culturalmente distantes. Trata-se de uma apropriação, por parte dos educandos, de um modo de pensar distinto sobre a realidade humana, não pela aprendizagem de uma teoria, mas pelo contato com diversas teorias e com a pesquisa sociológica, seus métodos e seus resultados. Nesse sentido, o objetivo do ensino de sociologia como, aliás, deveria ser o de qualquer ciência, é proporcionar a aprendizagem do modo próprio 28 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" de pensar de uma área do saber aliada à compreensão de sua historicidade e do caráter provisório do conhecimento – expressões da dinâmica e complexidade da vida. No caso da sociologia, isso pode ser conseguido por meio de uma tomada de consciência sobre como a nossa personalidade está relacionada à linguagem, aos gestos, às atitudes, aos valores, à nossa posição na estrutura social – nas palavras de Dumont: para que o indivíduo de ontem torne-se social, não mais ele e os outros, mas ele em meio aos outros. E isso por meio da aproximação da metodologia de pesquisa à metodologia de ensino, bem como por ações pedagógicas que busquem desvelar e discutir narrativas sociais, sejam elas científicas, literárias e outras – suas implicações, seus dilemas, o que falam da heterogeneidade cultural e da estrutura social. Ensinar sociologia é, antes de tudo, desenvolver uma nova postura cognitiva no indivíduo. Pode-se mesmo argumentar que tais competências também podem ser desenvolvidas pelas disciplinas de história e geografia, mas este é um argumento que não se sustenta. Senão vejamos, a história e a geografia podem tratar as questões referentes à crítica social e à diversidade cultural, mas de um modo secundário ou periférico; outras vezes numa perspectiva descritiva. Não se trata de objetivos principais de suas propostas. Além do que, tradicionalmente essas disciplinas têm-se voltado para “conteúdos” exigidos principalmente pela instituição do vestibular. Por fim, existe uma distância muito grande entre as discussões temáticas – reforma agrária, exclusão social, mudança social, sexualidade, democracia, consumismo, representação política, família, direitos humanos, sindicato, gênero, violência etc – e o desenvolvimento de modos de pensar. (SARANDY, 2001, s/p) Como possibilidades para os planejamentos das aulas de Sociologia O Educador (2009, s/p) coloca que num mundo em que as relações sociais se apresentam mediadas por uma série de fatores, faz-se necessário construir objetos de estudo que busquem integrar as perspectivas das diversas áreas do conhecimento sobre questões sociais de relevância, ou seja, em que a interdisciplinaridade funcione de forma a iluminar os objetos de estudo de diferentes pontos de vista e aconteça em função das demandas da investigação. É fundamental, também, valorizar o contexto local na elaboração dos objetos de estudo. Além de se tratar de uma iniciativa importante para engajar os alunos nos 29 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" projetos, essa perspectiva pode referenciar o contexto local na cultura contemporânea, possibilitando a compreensão do caráter das relações sociais locais, mediado por condições sociais e históricas de caráter mais amplo. Ao elaborar as sequências didáticas e o currículo da disciplina, o professor pode tentar equilibrar diferentes dimensões de abordagem da sociologia: A temática, a dimensão compreensiva (com ênfase nas teorias); A dimensão discursiva (com ênfase nos conceitos). Assim, o professor pode contribuir para a inserção dos alunos num campo conceitual e para que estes desvelem processos históricos que contribuíram para delinear o caráter das relações sociais no mundo contemporâneo. Muitas vezes, observamos a preponderância de uma sociologia temática e a ausência de uma perspectiva histórica, em que conceitos e teorias estejam ancorados, comprometendo dessa forma a qualidade da aproximação dos alunos e do trabalho realizado no campo científico, e reproduzindo representações sociais que veem o fazer do pesquisador como imediatista e pouco rigoroso. É importante ressaltar que o professor de sociologia do ensino médio pode ter como estratégia didática explorar os diversos recursos pedagógicos disponíveis na escola como meios de levar o aluno a construir conhecimento e a obter mais informações sobre questões importantes do cotidiano. Assim, vale apreciar filmes, fazer visitas à biblioteca e ao laboratório de informática para a realização de pesquisas em livros, jornais e na internet. Outras estratégias também podem contribuir para dinamizar as aulas e aproximar os alunos do trabalho investigativo. A realização de trabalhos de campo, por exemplo, visam integrar o conhecimento do aluno e a realidade sociocultural de seu contexto de vivência e aprimorar um olhar de distanciamento dessa realidade. (O EDUCADOR, 2009, s/p) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UTILIZADAS E CONSULTADAS ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos do Estado: notas sobre os aparelhos ideológicos do Estado (AIE). 3. ed., Rio de janeiro: Edições Graal, 1983. 30 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 - (31) 8642-1801 "É mais que educação, é EVOLUÇÃO" ALTHUSSER, Louis. Sobre a reprodução. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. APPLE, Michael. Ideologia e currículo. São Paulo: Brasiliense, 1982. ARENDT, Hannah. Entre o Passado e o Futuro. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2001. AZANHA, José M. Educação: alguns escritos. São Paulo: C. E. Nacional, 1982. AZEVEDO, Janete M. Lins de. A Educação como Política Pública. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2004. BAUDELOT, Christian. 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