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Direito Internacional - Estudo de Casos

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Direito Internacional 
600.16 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
1 
www.cursoenfase.com.br 
Sumário 
Direito Internacional Público e Privado .......................................................................... 3 
1. Fontes do DIP: ..................................................................................................... 3 
1.1 Caso da Groenlândia Oriental (Dinamarca vs. Noruega): ............................. 3 
1.2 Caso da pesca Anglo-Norueguesa: ................................................................ 4 
1.3 Caso Lockerbie: ............................................................................................. 6 
1.4 Caso do Depositário Infiel: ............................................................................ 7 
2. Imunidades Internacionais: .............................................................................. 10 
2.1 Caso Pinochet: ............................................................................................. 10 
2.2 Caso Yerodia (Congo vs. Bélgica): ............................................................... 11 
2.3 Caso Alemanha vs. Itália, com intervenção da Grécia: ............................... 12 
2.4 Caso do barco pesqueiro Changri-la: .......................................................... 14 
3. Aquisição de território: ..................................................................................... 15 
3.1 Caso Ilha de Palmas: .................................................................................... 15 
3.2 Caso do Saara Ocidental:............................................................................. 15 
4. Reconhecimento de Estado: ............................................................................. 16 
4.1 Caso da Independência do Kosovo: ............................................................ 16 
5. Uso da força e legítima defesa: ........................................................................ 17 
5.1 Caso das atividades paramilitares na Nicarágua: ........................................ 17 
6. Conflito de jurisdições: ..................................................................................... 19 
6.1 Caso Lótus: .................................................................................................. 19 
7. Organizações internacionais: ........................................................................... 19 
7.1 Caso da reparação de danos ou Caso Folke Bernadotte: ........................... 19 
8. Responsabilidade internacional: ...................................................................... 20 
8.1 Caso da fábrica de Chorzow: ....................................................................... 20 
8.2 Proteção diplomática: ................................................................................. 21 
8.2.1 Caso Canevaro: .......................................................................................... 21 
Direito Internacional 
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O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
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doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
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8.2.2 Caso Nottebohm: ....................................................................................... 22 
8.2.3 Caso Barcelona Traction: ........................................................................... 23 
9. Asilo: ................................................................................................................. 23 
9.1 Caso Haya de La Torre: ................................................................................ 23 
10. Direito Internacional Ambiental: .................................................................... 25 
10.1 Caso fundação Trail: ................................................................................... 25 
11. Direito Internacional Penal: ............................................................................ 25 
11.1 Caso Velásquez vs. Honduras: .................................................................... 25 
11.2 Caso Barrios Altos, Almonacid e La Cantuta: .............................................. 28 
11.3 Caso Gomes Lund ou Araguaia: .................................................................. 28 
11.4 Caso Hissène Habré: ................................................................................... 29 
12. Dicas de Concurso Público: ............................................................................. 31 
 
 
 
Direito Internacional 
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O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
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Direito Internacional Público e Privado 
Nesta aula será abordado o tema da jurisprudência internacional, mediante o estudo 
de casos. 
Fontes de pesquisa sobre informações de julgados recentes, sobre relações 
internacionais, sites que podem ser úteis, até mesmo para se manter atualizado com os 
acontecimentos tanto da sociedade internacional quanto da justiça internacional. 
http://e-internacionalista.com.br/ : tem notícia de direito internacional 
http://www.oas.org/pt/cidh/ : site da Organização dos Estados Americanos que trata 
de direitos humanos. É possível realizar o cadastro de newsletter para receber as 
informações quanto ao tema por email. 
http://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/verPrincipal.php?idioma=pt_br : o 
site do Supremo possui notícias relacionadas ao Mercosul, possibilitando receber as notícias 
por email. 
 http://foreignpolicy.com/ : é um site de política e relações internacionais e seu 
conteúdo está em inglês. 
A aula será dividida mediante o estudo de caso por temas. 
 
1. Fontes do DIP: 
1.1 Caso da Groenlândia Oriental (Dinamarca vs. Noruega): 
Esse caso foi julgado pela CPJI (Corte Permanente de Justiça Internacional), em 1933. 
A existência da CPJI é anterior a CIJ (Corte Internacional de Justiça), a CPJI foi extinta 
e a CIJ a sucedeu após o término da Segunda Guerra Mundial. 
Fatos: Durante as negociações do Tratado de Versalhes (o qual redefiniu a divisão 
territorial na Europa entre os vencedores e os vencidos da Primeira Guerra Mundial), em 
1919, o Ministro das Relações Exteriores da Noruega admitiu a soberania da Dinamarca 
sobre a totalidade do território da Groenlândia, fato que ficou conhecido como Declaração 
Ihlen. No entanto, em 1931, um decreto do governo norueguês proclamou a soberania da 
Noruega sobre parte do território da Groenlândia Oriental, rompendo com a promessa feita 
anteriormente. 
Controvérsia: As promessas configuram atos unilaterais, vinculando os sujeitos de 
Direito Internacional? 
Direito Internacional 
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Dentro das fontes do DIP, há aquelas fontes presentes no Estatuto da Corte 
Internacional de Justiça (ECIJ), dentre os quais os tratados, costumes, princípios gerais de 
direito; os meios auxiliares: jurisprudência e doutrina; há ainda as fontes extraestatutárias, 
que são aquelas fontes que não estão previstas no ECIJ, como é o caso dos atos dos Estados. 
O contexto dodebate se restringe a saber se a declaração do Ministro das Relações 
Exteriores vincula o Estado, configurando ato unilateral do Estado? O Estado, 
posteriormente, pode contrariar essa declaração realizada pelo Ministro das Relações 
Exteriores? 
Solução: A Declaração Ihlen foi entendida pela CPJI como ato unilateral com 
consequências jurídicas internacionais para a Noruega. Aplica-se o princípio do estoppel1, 
pelo qual um Estado não pode voltar atrás em relação a uma declaração de vontade 
claramente afirmada. 
O caso afirma a obrigatoriedade dos atos unilaterais. A promessa somente configura 
ato unilateral se preencher os seguintes requisitos: a) dirigida a um sujeito de DI; b) o 
beneficiário da promessa age de boa-fé; e c) formulada por um sujeito de DI. 
Deve-se lembrar que a promessa configura um ato unilateral do Estado, desde que 
preencha os requisitos para isso. 
1.2 Caso da pesca Anglo-Norueguesa: 
O caso foi julgado pela CIJ, em 1951. 
Fatos: A Noruega editou decreto em 1935 delimitando zonas de pesca e o Reino 
Unido impugnou a juridicidade desse decreto quer quanto às linhas de base, quer quanto ao 
método empregado para a delimitação das zonas de pesca. O argumento era que a Noruega 
violou o costume internacional. 
Logo, a Noruega traçou alguns limites para a pesca, estendendo o limite de sua 
soberania, impedindo que os nacionais de outros Estados viessem pescar dentro dessa linha 
traçada pela Noruega. O Reino Unido argumentou que tanto a linha de base que a Noruega 
 
1
 O princípio do estoppel é mencionado pelas cortes de direitos humanos, e entende que uma parte (uma 
pessoa) não pode adotar uma conduta contraditória com aquilo que ela disse ou deixou implícito 
anteriormente e o tema é recorrente nas cortes internacionais. A título exemplificativo, isto está relacionado 
com a boa-fé objetiva do direito civil, e dentro dela há as figuras parcelares da boa-fé objetiva e uma dessas 
figuras é non venire contra factum proprium, que é vedação dos atos contraditórios. Não se pode praticar um 
ato contrário àquelas expectativas que se criou. 
 
Direito Internacional 
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utilizou quanto o método estavam inadequados e violavam o costume internacional 
(ressalta-se que a questão é anterior à Convenção de Montego Bay sobre Direito do Mar, de 
1982). 
Controvérsia: A Noruega estava obrigada a seguir o costume internacional nesse 
caso? 
 Solução: A Corte afirmou que a alegada regra costumeira não seria oponível à 
Noruega dada a sua sistemática oposição contra toda tentativa de aplicá-la nas costas 
norueguesas (teoria do objetor persistente). 
Nesse caso, a CIJ adotou a teoria do objetor persistente, segundo o qual a Noruega 
não estava obrigada a seguir esse costume internacional da fixação de linhas de base e os 
limites das zonas de pesca, porque a Noruega sempre praticou uma conduta contrária aos 
limites que se formavam. Assim, a Noruega se opôs à formação do costume desde o início e 
por essa razão não seria vinculada a esse costume. 
Todas as vezes que os autores falam da teoria do objetor persistente, eles 
mencionam esse caso. Se a questão de concurso público afirmar que a CIJ já reconheceu a 
teoria do objetor persistente, o candidato poderá marcar como assertiva correta. 
Ressalta-se que a doutrina moderna critica muito esse posicionamento da CIJ, pois a 
teoria do objetor persistente tem muitos problemas. Ex: se a pessoa é vinculada a um 
costume e participou e concordou com a formação do costume, então quer dizer que os 
novos Estados não estão vinculados ao costume internacional, visto que o Estado não 
participou da formação do costume? Então os autores afirmam que quando nasce o Estado, 
ele estaria sujeito ao costume internacional. Diante disso, questiona-se então por qual razão 
poderia se obrigar os novos Estados, que não participaram da formação do costume, a 
respeitá-lo e liberar aqueles que se opuseram antes? Essa questão é muito criticada pela 
doutrina, por essa razão há uma tendência da doutrina internacional a adotar a teoria da 
corrente objetivista. 
Na primeira aula foi abordado sobre o fundamento do Direito Internacional, e foi 
debatido a razão de o DI ser obrigatório e vincular os sujeitos internacionais. Foi visto que 
existem duas escolas que tentam explicar o fundamento do DI. Há a escola voluntarista e a 
objetivista. 
A escola voluntarista sustenta que o fundamento do direito internacional é o 
consentimento dos Estados, ou seja, os sujeitos de direito internacional só se vinculam às 
normas internacionais por causa de seu consentimento, já que o Estados são soberanos e 
não se admitiria a existência de interferência externa. Logo, o Estado somente se sujeita ao 
direito internacional porque ele quer. 
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A escola objetivista afirma que existem valores e princípios internacionais que 
vinculam os sujeitos independentemente de sua vontade, que é a corrente adotada pelos 
autores modernos de direito internacional. Quem segue essa corrente não concorda com a 
teoria do objetor persistente, pois entende que o direito internacional não depende do 
consentimento e da vontade para vincular os Estados. 
Quanto ao caso, deve-se lembrar que a teoria do objetor persistente foi adotada em 
1951 pela CIJ no caso da pesca, mas que a doutrina atual do direito internacional tende a 
não aceitar essa teoria por causa da corrente objetivista que prevalece atualmente. O autor 
Valerio de Oliveira Mazzuoli adota a corrente objetivista, enquanto Francisco Rezek adota a 
corrente voluntarista. 
1.3 Caso Lockerbie: 
O caso foi julgado pela CIJ, em 1992 e em 1998. 
Fatos: Um avião da PanAm explodiu, em 1988, sobre a cidade de Lockerbie, Escócia, 
deixando 279 mortos. Supostos agentes de inteligência da Líbia eram os principais suspeitos. 
Reino Unido e EUA solicitaram providências à Líbia, que informou ter indicado dois 
magistrados para conduzir a investigação. Reino Unido e EUA levaram a questão ao 
Conselho de Segurança, que editou resolução exortando a Líbia a oferecer uma resposta 
concreta. Em 1992, a Líbia apresentou uma reclamação contra Reino Unido e EUA sobre a 
interpretação da Convenção de Montreal. Em 1993, o Conselho de Segurança adotou 
Resolução impondo à Líbia que entregasse os suspeitos. 
O objetivo do Reino Unido e EUA era a extradição dos suspeitos e a base da discussão 
foi a Convenção de Montreal, que trata da segurança aérea internacional. Essa Convenção 
tem uma cláusula de aut dedere aut judicare, a qual estabelece “ou extradita ou julga”, isto 
é, o Estado tem a obrigação de julgar aquele caso ou extraditar para um país que quer julgar. 
No caso, aqueles Estados não queriam que a Líbia julgasse os suspeitos e então o 
Reino Unido e EUA foram ao Conselho de Segurança e conseguiram essa resolução 
exortando a Líbia para que tomasse medidas concretas. A Líbia, sentido essa pressão, 
acionou a Corte Internacional de Justiça. A justiça internacional, assim como ocorre de uma 
forma geral com a justiça no direito interno, é uma instância que acaba equilibrando as 
forças, quando se vai a uma instância política, ganha quem tem maiorpoder de barganha, 
poder econômico, etc. Na justiça, a tendência é que essa relação se equilibre mais. Na Corte 
Internacional de Justiça, a Líbia começou a ganhar. Depois que a Líbia entrou com 
reclamação na Corte Internacional de Justiça, Reino Unido e EUA foram de novo ao Conselho 
de Segurança e aprovaram mais uma resolução que obrigava a Líbia a extraditar os 
suspeitos. 
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Controvérsia: As resoluções do Conselho de Segurança prevalecem sobre os acordos 
internacionais? 
Com base na Convenção de Montreal, a Líbia não seria obrigada a entregar os 
suspeitos, pois poderia julgar ou extraditar. De acordo com a resolução do Conselho de 
Segurança, a Líbia seria obrigada a extraditar. O artigo 103 da Carta das Nações Unidas diz 
que as obrigações decorrentes dessa Carta prevalecem sobre aquelas decorrentes de outros 
tratados firmados pelos Estados membros. Pela interpretação desse artigo 103 as obrigações 
tanto da Carta quanto de resoluções da Assembleia Geral ou do Conselho de Segurança 
prevalecem sobre tratados internacionais. 
Solução: Infelizmente, a Corte não julgou o mérito da demanda. Apenas rejeitou o 
pedido de medidas cautelares e as exceções preliminares. Quanto à relação entre resolução 
do Conselho de Segurança e acordos internacionais, somente afirmou que a resolução que 
impôs a extradição somente foi adotada depois da apresentação da reclamação. O caso foi 
resolvido com um acordo entre as partes. 
A Corte Internacional de Justiça não tratou da resolução do Conselho de Segurança, 
visto que a resolução só foi adotada quando a questão estava sob a jurisdição da CIJ. Por 
essa razão, não iria julgar a questão com base na resolução e sim com base na Convenção de 
Montreal. Diante disso, o Reino Unido e os EUA negociaram um acordo com a Líbia, para que 
os suspeitos fossem julgados em um território neutro, em outro país. 
 
1.4 Caso do Depositário Infiel: 
Esse caso foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal, no ano de 2003. Embora não 
seja um julgado internacional, o tema é muito relevante. 
Fatos: A CRFB, de 1988, prevê a possibilidade de prisão civil do depositário infiel e a 
legislação infraconstitucional também previa as hipóteses ensejadoras da prisão. Em 1992, o 
Brasil incorporou a Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), também conhecida 
como Pacto de San José da Costa Rica, que não prevê tal possibilidade (somente admite a 
prisão de devedor de alimentos). 
Controvérsia: Qual a hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos e 
qual a consequência sobre a legislação que lhe é contrária? 
Solução: O STF entendeu que os tratados internacionais de direitos humanos, salvo a 
hipótese do art. 5º, § 3º, da CRFB, possuem status supralegal no ordenamento jurídico 
brasileiro. Desse modo, a legislação incompatível com tais tratados é inválida, por não 
possuir fundamento de validade em norma superior. 
Direito Internacional 
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A Constituição Federal veda a prisão civil por dívidas, exceto em duas hipóteses: 
devedor de alimentos e depositário infiel. 
Com base na CF/88 e Constituição anterior, existia legislação no Brasil (tirando o 
fundamento de validade da constituição) que regulava a prisão do depositário infiel, 
inclusive com uma previsão de depositário infiel equiparado. Com a incorporação da 
Convenção Americana de Direitos Humanos, que previa somente uma exceção que era o 
devedor de alimentos, começou o debate no Brasil se poderia haver prisão do depositário 
infiel, visto que o Brasil se tornou signatário de uma Convenção internacional que vedava 
essa prisão civil. 
A solução que já havia sido decidida anteriormente pelo STF seria dizer que a 
Constituição Federal prevalece sobre o tratado e, portanto, deveria continuar a existir a 
prisão do depositário infiel. Inclusive, o STF afirmou que apesar de a Convenção Americana 
de Direitos Humanos prever o duplo grau de jurisdição, essa não é uma garantia/um direito 
na ordem jurídica brasileira, pois essa garantia não está prevista na constituição. Essa era a 
visão tradicional, da relação hierárquica entre a constituição e tratados internacionais. 
No caso, o Ministro Gilmar Mendes fez uma análise da posição dos tratados 
internacionais na ordem jurídica brasileira, analisando certas correntes: 
a) corrente da supraconstitucionalidade: não podemos adotar essa corrente, pois no 
Brasil há o dogma da supremacia da constituição. Assim, no Brasil nada pode ficar acima da 
constituição. A própria Constituição Federal prevê hipóteses de controle de 
constitucionalidade de tratados internacionais. 
b) corrente da constitucionalidade: pelo mesmo motivo da corrente anterior, não se 
pode adotar essa corrente, da hierarquia constitucional dos tratados internacionais de 
direitos humanos, porque o Brasil adota o princípio da supremacia da constituição e a 
própria constituição prevê hipóteses de controle de constitucionalidade dos tratados. 
c) corrente da legalidade ordinária e da supralegalidade: o Ministro afirmou que 
durante muito tempo o STF tem entendido que os tratados internacionais, inclusive os de 
direitos humanos, tem status de legislação ordinária. Afirmou que não se pode admitir que o 
Brasil faça um compromisso perante a comunidade internacional de proteger determinados 
direitos e depois venha o Congresso Nacional com uma Lei ordinária e contrarie esse tratado 
internacional, ensejando responsabilidade internacional do Brasil. A solução que mais se 
adequa à Constituição Federal de 1988 e ao estado democrático de direito é a da hierarquia 
supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos. Logo, os tratados não ficam no 
mesmo grau da constituição, ficando abaixo, mas ficam acima da legislação ordinária. 
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Todos os atos normativos devem encontrar fundamento de validade em uma norma 
superior. Esses atos normativos devem ser compatíveis com esse fundamento de validade, 
sob pena de nulidade. Ex: o decreto tem que ser compatível com a Lei, senão o decreto será 
ilegal. 
Todas as leis brasileiras têm que ser compatíveis com os tratados internacionais de 
direitos humanos, senão essas leis serão inconvencionais, isto é, serão nulas. Todas as Leis 
que regulam as prisões do depositário infiel são nulas, inconvencionais, porque são 
incompatíveis com o ato normativo superior, que é a Convenção Americana de Direitos 
Humanos. 
Por isso, apesar de Constituição Federal ter admitido a prisão do depositário infiel, a 
Lei não poderá regular, pois a Lei que fizer isso será incompatível com a Convenção 
Americana de Direitos Humanos. 
De acordo com a Corte Americana de Direitos Humanos, todo juiz tem a obrigação, o 
dever, de fazer o controle de convencionalidade, de verificar se os atos normativos são 
compatíveis com os tratados internacionais de direitos humanos. 
Essa solução adotada pelo STF recebeu várias críticas, pois essa solução é formalista,isto é, trabalha-se com a ideia de hierarquia das leis, com base na estrutura do ordenamento 
jurídico e não com o conteúdo das normas. Alguns autores afirmam que o STF deveria ter 
resolvido esse problema com o princípio pro homine, ou seja, em caso de conflito de normas 
sobre direitos humanos não se aplica o critério hierárquico, mas sim aquela norma que mais 
proteja os direitos humanos. 
No caso do depositário infiel, aplicando-se o princípio pro homine, qual seria a norma 
que mais protege os direitos humanos? É a Convenção Americana de Direitos Humanos, que 
não precisa ser a superior a nada, nem mesmo à Constituição Federal para prevalecer. Com 
esse raciocínio do princípio pro homine, pode prevalecer norma hierárquica inferior, desde 
que seja norma que mais proteja. Por essa razão, existem críticas de que o STF deveria ter 
adotado uma concepção material, adotando-se o princípio pro homine, que já é adotado 
pela Corte Americana de Direitos Humanos. 
Relembrando, a hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos 
atualmente no Brasil é supralegal, a não ser que sejam aprovados com o rito do artigo 5º, 
§3º, da Constituição Federal, quando então terão status constitucional, isto é, equivalente às 
emendas constitucionais. 
Art. 5º, § 3º. CF. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que 
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos 
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. 
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2. Imunidades Internacionais: 
Incialmente, vale lembrar que imunidade é aquela hipótese que afasta a jurisdição e 
que impede que o Estado julgue ou execute determinada pessoa, ente, determinado sujeito. 
No direito internacional é importante não confundir, porque existem vários tipos de 
imunidades. 
Quando se fala em imunidade internacional, pode-se estar falando sobre imunidade 
dos Estados, das Organizações Internacionais, dos Agentes Diplomáticos, dos funcionários 
consulares, dos Chefes de Estado e dos Ministros das Relações Exteriores. Logo, são vários 
sujeitos que têm imunidade no âmbito internacional. O fundamento da imunidade: 
a) dos Estados, é o costume internacional, lembrando do dogma par in parem non 
habet judicium. 
b) das organizações internacionais é convencional, porque são tratados 
internacionais que preveem as imunidades. 
c) dos agentes diplomáticos se baseia na Convenção de Viena sobre Relações 
Diplomáticas de 1961. 
d) dos funcionários consulares está fundada na Convenção de Viena sobre Relações 
Consulares de 1963. 
e) dos Chefes de Estado e dos Ministros das Relações Exteriores está baseada no 
costume internacional. 
2.1 Caso Pinochet: 
O caso foi julgado pela Casa dos Lordes, no Reino Unido, em 1999. 
Fatos: O antigo ditador chileno foi objeto de um mandado internacional de prisão, 
enquanto fazia tratamento médico no Reino Unido, expedido por autoridades judiciais 
espanholas, que solicitavam a extradição do mesmo para que ele respondesse por crimes 
contra a humanidade naquele país, como desparecimento forçado, tortura, homicídios. 
Controvérsia: A imunidade de Chefe de Estado pode ser oposta a julgamento por 
crimes contra a humanidade? 
Solução: A House of Lords admitiu que a imunidade de Chefe de Estado não faria 
obstáculo a uma eventual extradição, devido à natureza do crime, e autorizou o governo a 
cumprir o mandado. No entanto, o governo de Tony Blair preferiu não exercer esta 
prerrogativa e decidiu permitir o retorno de Pinochet a seu país de origem. 
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A decisão da Casa dos Lordes foi de que a imunidade não abrange os crimes contra a 
humanidade. 
Esse tema já cobrado em concurso público: 
MPF – Questão 36. A imunidade de ex-Chefe de Estado, no marco do caso Pinochet 
(regina v. evans and another and the commissioner of police for the metropolis and 
others ex parte pinochet - reino unido, casa dos lordes, 1999), 
a) ( ) vale para atos da vida pública e da vida privada praticados ao tempo da investidura; 
b) ( ) não vale para atos de Estado que configuram ilícitos de jus cogens; 
c) ( ) vale somente para atos de Estado, inclusive os que configuram ilícitos 
internacionais; 
d) ( ) vale somente para atos de Estado, dentre estes não se incluindo crimes de direito 
internacional. 
A assertiva correta é a letra “b”. 
2.2 Caso Yerodia (Congo vs. Bélgica): 
O caso foi julgado pela CIJ, em 2002. 
Fatos: Um juiz belga de primeira instância determinou a prisão do Ministro das 
Relações Exteriores do Congo, Abdulaye Yerodia Ndombasi, sob acusação de crimes de 
guerra e crimes contra a humanidade. 
A decisão do juiz belga expediu esse mandado com base no princípio da jurisdição 
universal, pois algumas vítimas do Congo, por meio de associações, organizações, etcs., 
ajuizaram ação na Bélgica. 
Controvérsia: Um tribunal nacional pode determinar a prisão de um Ministro das 
Relações Exteriores estrangeiro (que tem imunidade) por crimes de guerra ou contra a 
humanidade? 
O Ministro das Relações Exteriores do Congo estava em exercício. O que CIJ teve que 
decidir é se esse Ministro tinha imunidade em relação aos crimes de guerra e contra a 
humanidade. Ou seja, a CIJ se deparou com uma questão semelhante àquela decidida pela 
Casa dos Lordes. 
Solução: a CIJ afirmou que os Ministros das Relações Exteriores gozam, por força do 
direito internacional consuetudinário, de imunidade de jurisdição absoluta, não havendo 
que se falar em distinção entre atos públicos e atos privados. O princípio da irrelevância da 
qualidade oficial para julgamento de crimes de jus cogens somente é adotado em tribunais 
internacionais, e não em tribunais domésticos. 
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O resultado dessa questão na CIJ foi de que a imunidade do Ministro das Relações 
Exteriores se aplica também em relação a crimes contra a humanidade e crimes de guerra, 
em relação a tribunais estrangeiros. 
Nesse caso, a Bélgica utilizou como precedente o caso de Pinochet, afirmando que a 
Casa dos Lordes afirmou que a imunidade de Chefe de Estado não se aplica a crimes contra a 
humanidade. Além disso, o Estatuto de Roma, do Tribunal Penal Internacional, prevê a 
irrelevância da qualidade de oficial, de maneira que as imunidades não se aplicam a crime de 
competência do TPI, dentre os quais estão os crimes contra a humanidade e de guerra. 
A CIJ afirmou que a imunidade tem base consuetudinária e abrange também atos 
praticados que configurem crimes de guerra e contra a humanidade. A disposição prevista 
no Estatuto de Roma, quanto à irrelevância da qualidade de oficial somente se aplica ao TPI 
e não a um tribunal nacional, como é o caso do Tribunal da Bélgica, devendo-se respeitar, 
portanto, a imunidade. 
Ressalta-se que, na época do julgamento, Francisco Rezek integrava a CIJ, e, apesar 
de ser voto vencedor, seu fundamentofoi diverso, no sentido de que primeiro deve-se 
analisar se o juiz belga poderia expedir mandado em razão de fatos ocorridos em outro 
Estado, e que não têm nenhuma conexão com a Bélgica, visto que as vítimas não eram 
belgas nem os crimes foram praticados por belgas. Diante disso, Francisco Rezek concluiu 
que a questão era de incompetência do juiz, antes mesmo de adentrar no mérito quanto à 
questão da imunidade. O entendimento da CIJ, no entanto, foi de que a imunidade 
prevalecia contra a jurisdição nacional. 
MPF – Questão 35. Segundo a Corte Internacional de Justiça (Caso Yerodia - República 
Democrática do Congo vs. Reino da Bélgica), a imunidade de ministro de estado das 
relações exteriores, 
a) ( ) é relativa e só vale para viagens a serviço; 
b) ( ) é relativa e não prevalece para o crime de genocídio; 
c) ( ) é absoluta e se equipara à imunidade diplomática; 
d) ( ) é absoluta, mas não se equipara à imunidade diplomática. 
A assertiva correta é a letra “c”. 
2.3 Caso Alemanha vs. Itália, com intervenção da Grécia: 
O caso foi julgado pela CIJ, em 2012. 
Fatos: Um italiano ajuizou ação indenizatória contra a Alemanha e a Corte de 
Cassação concluiu que a Alemanha não poderia alegar imunidade no caso de crimes 
perpetrados no Estado do foro, pouco importando a distinção entre atos de império ou de 
gestão. 
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A Itália mudou de lado no final da Segunda Guerra Mundial, saindo do Eixo e indo 
para os Aliados. Algumas vítimas dessa invasão alemã começaram a ajuizar ações. 
Após o término da Segunda Guerra Mundial, houve tratados internacionais regulando 
a reparação das vítimas dos ataques alemães. Algumas dessas reparações eram tão difíceis 
de obter, porque os requisitos eram muito rigorosos, que acabava sendo inócua essa 
reparação. 
Apesar de existir tratado regulando a reparação das vítimas da Segunda Guerra 
Mundial, essas ajuizaram ações e os tribunais da Itália começaram a condenar a Alemanha. 
Inclusive, começaram a penhorar bens da Alemanha. 
Diante disso, a Alemanha levou o caso à Corte Internacional de Justiça sustentando 
que era imune com base no par in parem non habet judicium e na tese de que esses atos 
foram atos de império (atos de guerra) e, portanto, não poderia ser julgada por tribunais 
italianos, razão pela qual a Alemanha seria imune a esses atos. 
A Itália, por outro lado, afirmou que essa imunidade não se aplica em caso de 
violação de direitos humanos. 
A Grécia também possuía algumas ações semelhantes àquelas ajuizadas na Itália, de 
nacionais gregos que ajuizaram ação nos tribunais gregos em face da Alemanha. Assim, a 
Grécia interveio no feito na CIJ, para aguardar o resultado da decisão proferida para vincular 
a decisão da CIJ para os seus nacionais. 
Controvérsia: A imunidade de jurisdição dos Estados é oponível em caso de violação 
dos direitos humanos? 
Solução: A Corte Internacional de Justiça da Haia proferiu decisão em fevereiro de 
2012 concluindo pela imunidade do Estado alemão. 
Com efeito, dá para perceber que a CIJ tem uma tendência de privilegiar bastante a 
imunidade internacional, em detrimento de outros princípios e normas. 
Foi vencido no julgamento da CIJ o juiz brasileiro, Antônio Augusto Cançado Trindade, 
o qual afirmou que a imunidade não poderia prevalecer sobre graves violações de direitos 
humanos. Além disso, manifestou-se no sentido de que aqueles tratados que regulavam a 
reparação das vítimas eram nulos, pois o direito à reparação era titularizado pelas vítimas e 
o Estado não poderia negociar esse direito, criando requisitos extremamente rigorosos para 
dificultar o gozo dessa reparação. Nem mesmo pode-se alegar prescrição, pois a violação é 
continuada, permanente. 
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2.4 Caso do barco pesqueiro Changri-la: 
Esse caso foi julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, no AgRg no RO 129/RJ, julgado 
em 02/10/2014. 
Fatos: A República Federativa da Alemanha foi demandada em razão do 
afundamento do barco pesqueiro brasileiro Changri-La por um submarino alemão U-199, no 
litoral do Estado do Rio de Janeiro, durante a Segunda Guerra Mundial. 
Há poucos anos, descobriu-se que a marinha alemã realizou operações de guerra no 
litoral do Rio de Janeiro e, nessas operações de guerra, um barco foi afundado. 
Depois de confirmada essa informação, os parentes das vítimas começaram a ajuizar 
ações contra a Alemanha. 
Controvérsia: É possível o julgamento de Estado estrangeiro por ato praticado em 
contexto de guerra? 
Solução: Não é possível a responsabilização de Estado estrangeiro por ato de guerra, 
por ser manifestação de ato de império. 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - BARCO DE 
PESCA BRASILEIRO AFUNDADO NA COSTA BRASILEIRA, EM PERÍODO DE GUERRA, POR 
NAVIO ALEMÃO - ESTADO ESTRANGEIRO - IMUNIDADE ABSOLUTA - DECISÃO DO 
RELATOR NEGANDO SEGUIMENTO AO RECURSO ORDINÁRIO. IRRESIGNAÇÃO DOS 
AGRAVANTES. 
1. A relativização da imunidade da jurisdição conta com o assentimento desta Corte 
Superior; mas, tão-somente, quando envolve relações natureza civil, comercial ou 
trabalhista, restando prevalente a imunidade ao se tratar de ato de império, como no 
presente caso. 
2. A jurisprudência do STJ caminha no sentido de que não é possível a responsabilização 
da República Federal da Alemanha por ato de guerra, tendo em vista tratar-se de 
manifestação de ato de império. 
Precedentes: AgRg no RO 110/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, DJe 
24/09/2012); RO 72/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJe 08/09/2009); RO 
66/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, DJe 19/05/2008). 
3. Agravo regimental desprovido. 
(STJ - AgRg no RO 129/RJ, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 
02/10/2014, DJe 15/10/2014) 
 
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3. Aquisição de território: 
3.1 Caso Ilha de Palmas: 
O caso foi julgado pela Corte Permanente de Arbitragem, em 1928. 
Fatos: A ilha de Palmas foi cedida aos EUA em 1898 pela Espanha, no Tratado de 
Paris. Em 1906, os Estados Unidos descobrem que a Holanda também alegava ser soberana. 
Assim, os EUA, justificando que o título de descobrimento da Espanha lhe conferia a 
propriedade da Ilha de Palmas como parte integrante de seu território, em consenso com a 
Holanda, recorreu à jurisdição da Corte Permanente de Arbitragem. 
A Espanha descobriu essa ilha, então o título de propriedade desse território era a 
descoberta, que cedeu esse território para os EUA. Posteriormente, os EUA descobriram que 
a Holanda ocupava e exercia a sua soberania sobre esse território. Então, discutiu-se qual o 
título que prevalecia, se era a descoberta ou a ocupação. 
Controvérsia: Qual o título de aquisição territorial que prevalece: a descoberta ou a 
ocupação? 
Solução: O título de descobrimento, dissociado da continuidade e do exercício da 
soberania sobre o território descoberto, não possui efeitosjurídicos. Assim, considerando a 
presença contínua e o exercício da soberania holandesa na Ilha de Palmas, a Corte conferiu a 
soberania à Holanda. 
Logo, a ocupação prevalece sobre a descoberta. 
MPF – Questão 39. Na linha de raciocínio da decisão arbitral internacional no caso da 
Ilha de Palmas (Island of Palmas Arbitration case, eeuu v. Países Baixos, 1928) 
a) ( ) a descoberta territorial é título aquisitivo mais forte do que ocupação pacifica e 
inconteste posterior; 
b) ( ) a descoberta territorial confere ao descobridor posse definitiva do território 
descoberto, por se tratar de res nullius e, assim, apropriável por quem o achar; 
c) ( ) a ocupação pacifica e inconteste por lapso de tempo expressivo é título de 
aquisição territorial mais forte do que a descoberta; 
d) ( ) a ocupação pacifica e inconteste por lapso de tempo expressivo é título de 
aquisição territorial que equivale ao da descoberta. 
A assertiva correta é a letra “c”. 
3.2 Caso do Saara Ocidental: 
O caso foi julgado pela CIJ, em 1975. 
Fatos: Os povos autóctones organizados em tribos reivindicavam seu direito sobre 
terras do Saara Ocidental, no noroeste da África, limitado por Marrocos, Mauritânia e 
Argélia, antiga posse espanhola abandonada em 1975. 
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Controvérsia: O território ocupado por nativos, antes da “descoberta”, é considerado 
terra nullius? 
Quando se fala sobre aquisição de território, está se falando sobre a descoberta de 
terra nullius seguida de ocupação ou da ocupação da terra derelicta (terra abandonada). Os 
livros de História têm o costume de desconsiderar os nativos. Por exemplo, o descobrimento 
do Brasil não foi propriamente um descobrimento, já que aqui já havia povos nativos, os 
índios. A CIJ, nesse caso, deparou-se com essa questão, qual seja, se é possível considerar 
terra nullius a terra já ocupada por nativos. 
Solução: Os povos autóctones organizados em tribos têm direitos sobre suas terras, 
que não necessariamente são consideradas terrae nullius. No caso particular do Saara 
Ocidental, a Corte, por 13 votos a 3, entendeu que o território não era, antes da chegada 
espanhola, terra nullius. 
A CIJ entendeu, portanto, que terra ocupada por nativos não é necessariamente 
considerada terra nullius, ensejando a descoberta. 
 
4. Reconhecimento de Estado: 
Reconhecimento de Estado é aquele ato unilateral, declaratório, irrevogável, 
incondicional, em que um Estado reconhece a existência de um novo Estado. 
O reconhecimento de Estado pode ser expresso ou tácito. 
Um caso interessante sobre reconhecimento de Estado foi o da independência do 
Kosovo. 
4.1 Caso da Independência do Kosovo: 
O caso foi julgado pela CIJ, em 2010. 
Fatos: A guerra da Iugoslávia levou ao desmembramento do seu território e 
surgimento de novos Estados, entre eles o Kosovo. A Sérvia, ao contrário dos EUA e de 
Estados europeus, não reconhecia a Declaração de Independência do Kosovo de 2008. 
Do desmembramento da Ioguslávia surgiu a Sérvia, Montenegro e diversos outros 
Estados, inclusive o Kosovo. 
Controvérsia: A declaração unilateral de independência por meio das instituições 
provisórias de autogoverno do Kosovo está em conformidade com o Direito Internacional? 
A questão é: “qualquer povo pode declarar independência e se tornar um novo 
Estado?”. 
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Solução: A Corte emitiu o parecer que considera que não há qualquer norma no 
Direito Internacional que proíba declarações de independência e que o tema é 
eminentemente político. Segundo o entendimento da Corte, a resolução 1244 não obrigava 
o Conselho Provisório de autogoverno do Kosovo e como não há nenhuma norma no Direito 
Internacional que proíbe a Declaração de Independência, cabe a cada Estado, 
individualmente optar ou não pelo reconhecimento. 
A CIJ muitas vezes deixa de responder às questões levadas a ela por entender que se 
tratam de questões políticas. 
A CIJ, nesse caso, decidiu que cabe a cada Estado, individualmente, decidir se 
reconhece ou não a independência de outros Estados porque não há norma de direito 
internacional que vede a independência dos Estados e porque esse reconhecimento é uma 
questão política. 
Como uma evidência de que o reconhecimento é uma questão política, nesse caso os 
EUA se opuseram à independência do Kosovo e a Rússia era a favor, dizendo que o Kosovo 
tinha que ser independente. 
Hoje, na Crimeia, existe uma questão parecida. A Ucrânia está se aproximando da 
União Europeia, o que incomoda a Rússia. A Crimeia é um território à parte da Ucrânia onde 
existem muitos russos. Então, a Rússia torce e apoia a independência da Crimeia, que deve 
se aproximar mais da Rússia e do bloco oriental, enquanto a Ucrânia deve se aproximar mais 
da União Europeia e dos EUA. 
 
5. Uso da força e legítima defesa: 
5.1 Caso das atividades paramilitares na Nicarágua: 
O caso foi julgado pela CIJ, em 1984. 
Esse é um precedente muito citado pelos autores. 
Fatos: Os EUA começaram a apoiar (financiamento militar de armas, de treinamento 
de pessoal e de logística, propagandas e colocação de minas) um movimento guerrilheiro de 
direita que tinha como objetivo reassumir e derrubar o governo da Nicarágua, que tinha 
conexões com a URSS. 
Durante os anos 60 e depois, os EUA apoiaram algumas ditaduras no continente 
americano para evitar o avanço do comunismo e o avanço da URSS. Uma dessas ditaduras 
foi a da Nicarágua, de Somoza. Era uma ditadura de direita apoiada pelos EUA. Houve um 
movimento de esquerda na Nicarágua, chamado movimento Sandinista. O Livro “As Veias 
Abertas da América Latina” conta um pouco dessa história. 
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O movimento Sandinista derrubou a ditadura Somoza. Esse movimento Sandinista, 
que era de esquerda e que tinha apoio da URSS, começou então a enfrentar oposição. E os 
EUA começaram a apoiar grupos guerrilheiros para derrubar esse governo de esquerda. Os 
EUA mandavam dinheiro, treinavam o pessoal, distribuíam cartilhas, mandavam armas, 
faziam propaganda, faziam filmes e até chegaram a ir no território da Nicarágua para colocar 
minas. 
Controvérsia: Os EUA violaram os princípios do não uso da força, da não intervenção 
e da soberania? Os EUA estavam amparados pela legítima defesa coletiva, por ter a 
Nicarágua colaborado com armamentos em El Salvador? 
A primeira questão é saber se o financiamento, treinamento, logística e propaganda 
configuram violação à regra da Carta da ONU de vedação do uso da força para solução de 
controvérsias. A utilização de força armada, pela Carta da ONU, é proscrita, e somente 
existem duas exceções que são a atuação coercitiva do Conselho de Segurança e a legítima 
defesa. E a colocação das minas viola o princípio da soberania e da não intervenção, além de 
violar o princípio da não utilização da força? E os EUA poderiam utilizar o argumento da 
legítima defesacoletiva, tendo em vista que a Nicarágua tinha atacado um vizinho, aliado 
dos EUA? 
Solução: Não é considerado ataque armado suporte a rebeldes por meio de 
concessão de armamento ou logística, mas a colocação de minas e montagem viola o 
princípio do não uso da força (violação do princípio do não uso da força). A colocação de 
minas feriu o princípio da soberania e do direito humanitário. 
Então, o suporte dado aos rebeldes (por meio de propaganda, venda de armas, 
treinamento de pessoal) não foi considerado uso da força. No entanto, a colocação e 
montagem de minas no território da Nicarágua viola o princípio do não uso da força, da 
soberania e o Direito Humanitário. Então, para a CIJ, o treinamento e o financiamento não 
violam o princípio do não uso da força no âmbito do direito internacional. Mas a colocação 
de minas viola os princípios do não uso da força, da soberania e o Direito Humanitário. 
Nesse caso, a justiça internacional serve para equilibrar um pouco as forças. Pois fora da 
justiça internacional, os EUA poderiam fazer o que quisessem. Nesse caso, os EUA nem 
foram para julgamento e nem mandaram representantes quando perceberam que iriam 
perder a causa. 
Outra coisa importante nesse julgamento foi que a CIJ afirmou a aplicação do direito 
humanitário para conflitos internos internacionalizados, pois, antes disso, o direito 
internacional humanitário somente se aplicava para conflitos internacionais. No caso da 
Nicarágua, tratava-se de um conflito interno (sandinistas contra guerrilheiros de direita) com 
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interferência estrangeira. Hoje já não há mais essa dúvida, pois é pacífico que o direito 
internacional humanitário se aplica para conflitos internos. 
 
6. Conflito de jurisdições: 
6.1 Caso Lótus: 
O caso foi julgado pela CPJI, em 1927. 
Todo autor de direito internacional cita esse caso. 
Fatos: Houve uma colisão em alto-mar de uma embarcação francesa (Lótus) com um 
navio turco, vitimando vários turcos. Quando Lótus chegou à Turquia, as autoridades turcas 
exerceram jurisdição penal, prendendo o oficial francês por homicídio culposo. 
Controvérsia: Existe uma norma costumeira segundo a qual o Estado da 
nacionalidade do acusado tem jurisdição exclusiva para julgar crimes praticados em alto-
mar? 
Hoje, para nós, não é estranha a extraterritorialidade de normas ou de jurisdição 
(como as existentes na legislação penal brasileira e como nos EUA com as normas sobre 
concorrência nos casos que tenham repercussão na economia estadunidense). No entanto, 
tudo isso começou com o caso Lótus. 
Solução: A CPJI entendeu que não havia costume, por falta da opinio juris. Quanto à 
jurisdição penal internacional, entendeu que a lei penal turca alcançava os fatos e que o 
exercício da jurisdição penal internacional pelos Estados é, em regra, livre. O que um Estado 
não pode é exercer jurisdição no território de outro Estado; porém, no seu próprio território, 
pode exercer jurisdição sobre fatos ocorridos no exterior. Uma vez que a Turquia provou 
possuir extraterritorialidade prevista em sua legislação penal para aquela hipótese, 
considerando, ainda, que a embarcação não era militar, a CPJI recusou o pedido da França. 
A CPJI entendeu, portanto, que o Estado pode exercer jurisdição em seu território 
por fatos ocorridos fora dele. Essa foi a tese consagrada pela CPJI. 
 
7. Organizações internacionais: 
7.1 Caso da reparação de danos ou Caso Folke Bernadotte: 
O caso foi julgado pela CIJ, em 1949. 
Esse caso foi referido nas aulas de direito internacional. 
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Fatos: Em 1948 a ONU envia, a seu serviço, o diplomata sueco Conde Bernadotte 
como seu mediador na Palestina. Ele foi assassinado no exercício de suas funções, e a ONU 
por este motivo resolveu exigir as devidas reparações e indenizações, ocasião em que se 
questionou a capacidade jurídica da organização de formalizar o pedido. 
Controvérsia: As organizações internacionais possuem personalidade jurídica de 
direito internacional? 
Foi nesse precedente que se formou a ideia de que as organizações internacionais 
têm personalidade jurídica de direito internacional. Ou seja, as ORGs têm aptidão para 
titularizar direitos e obrigações na ordem internacional. 
Solução: O parecer põe termo à discussão ao reconhecer a personalidade jurídica da 
ONU por entender que ela se constitui o tipo mais elevado de ORG, e não poderia 
corresponder às intenções de seus fundadores caso ela fosse desprovida de personalidade 
jurídica. A Corte entendeu ainda que cinquenta Estados, representando uma maioria dos 
membros da Comunidade Internacional, têm o poder, conforme o DIP de criar uma entidade 
titular de uma personalidade jurídica objetiva, e não simplesmente uma personalidade 
reconhecida somente pelos Estados-membros. 
Então, o parecer da CIJ afirma que as ORGs têm uma personalidade jurídica distinta 
da de seus membros e que ela é objetiva, isto é, válida até para quem não é membro dessa 
organização. 
Nesse precedente também foi reconhecido o instituto da proteção funcional, que é a 
proteção dada pela ORG aos seus funcionários. Ao lado da proteção diplomática (que ocorre 
quando o Estado dá um endosso para assumir a demanda de um nacional seu contra outro 
Estado) existe a proteção funcional. 
 
8. Responsabilidade internacional: 
8.1 Caso da fábrica de Chorzow: 
O caso foi julgado pela CPJI, em 1928. 
Fatos: A Polônia, que assumiu a soberania sobre a Alta Silésia, depois da Primeira 
Guerra, expropriou os ativos alemães que permaneceram na região, sem indenização. 
A Alemanha tinha ocupado essa região e depois passou para a Polônia, que, quando 
assumiu, passou a expropriar todas as propriedades alemães. 
Controvérsia: Os direitos adquiridos dos proprietários da Fábrica de Chorzow eram 
oponíveis à sucessão de Estados? 
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A questão é se a Polônia, ao suceder essa região, deveria respeitar as propriedades 
de alemães. Se os direitos dos alemães eram oponíveis à Polônia. 
Solução: A CPJI entendeu que os alemães proprietários da fábrica de Chorzow 
possuíam direito adquirido da propriedade, que eram oponíveis mesmo em caso de 
sucessão de Estados. A CPJI declarou, ainda, que a ideia de que toda violação de um 
compromisso envolve a obrigação de reparar é uma concepção geral do direito. Afirmou-se 
que a reparação deve, tanto quanto possível, apagar todas as consequências do ato ilícito e 
restabelecer o estado que provavelmente existiria se o referido ato não tivesse sido 
cometido. 
Nesse caso, foi consagrado que toda a violação a um compromisso envolve a 
obrigação de reparar e que isso é uma concepção geral do direito (que é o próprio conceito 
de responsabilidade internacional). Responsabilidade internacional é o vínculo que se forma 
entre o Estado que praticou um ato ilícito e aquele que sofreu danos decorrentes desse ato,visando à reparação. Um ato ilícito é a violação do direito internacional. Essa tese foi 
afirmada no caso da fábrica de Chorzow. A gênese do que se entende por responsabilidade 
internacional surgiu a partir desse caso. 
 
8.2 Proteção diplomática: 
Proteção diplomática é a assunção por um Estado de uma demanda de um nacional 
seu contra outro Estado. Ela possui dois requisitos: a nacionalidade e o esgotamento das 
instâncias internas. Muitas das questões no âmbito internacional envolvem o requisito da 
nacionalidade. 
8.2.1 Caso Canevaro: 
O caso foi julgado pela Corte Permanente de Arbitragem, em 1912. 
Fatos: Rafael Canevaro era peruano pelo critério do jus soli e italiano pelo jus 
sanguinis. Ante um processo tributário sofrido no Peru, e ante o perigo iminente de 
expropriação de seus bens, Canevaro solicitou proteção diplomática na Itália. 
Controvérsia: É possível pedir proteção diplomática contra um Estado do qual 
também é nacional? 
Solução: A Corte Permanente de Arbitragem não deferiu o seu pedido por entender 
não poder um Estado de que é nacional o indivíduo agir contra o outro Estado onde esse 
mesmo indivíduo também é nacional, podendo, contudo, qualquer deles defender esse seu 
nacional contra um terceiro Estado. 
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A conclusão da Corte foi de que quem tem dupla nacionalidade pode pedir proteção 
diplomática a qualquer um dos dois Estados, mas jamais proteção diplomática de um Estado 
contra o outro do qual o indivíduo também é nacional. 
(TRF 3) 13. Na sentença arbitral do caso Canevaro (1912) ficou assentado que: 
a) a proteção diplomática do apátrida pode ser exercida por qualquer Estado que a 
tanto se disponha. 
b) uma organização internacional tem legitimidade para exercer a proteção de um 
funcionário seu, mesmo contra o respectivo Estado patrial. 
c) nenhum Estado pode exercer a proteção diplomática de um nacional seu contra 
Estado do qual a mesma pessoa tenha também a nacionalidade. 
d) nenhum Estado pode exercer a proteção diplomática de uma empresa constituída em 
seu território e na conformidade de suas leis, mas cujos acionistas sejam todos nacionais 
de outro Estado. 
Resposta: a alternativa correta é a letra “c”. 
8.2.2 Caso Nottebohm: 
O caso foi julgado pela CIJ, em 1951. 
Fatos: Sr. Nottebohm, nascido na Alemanha, viveu mais de trinta anos na Guatemala, 
que se tornou o seu centro de negócios. Em outubro de 1939, Nottebohm entrou com 
pedido de naturalização para o Principado de Liechtenstein, porém, manteve sua residência 
fixa na República da Guatemala até 1943. O Sr. Nottebohm então pediu proteção 
diplomática ao Liechtenstein. 
Controvérsia: A nacionalidade, sem vínculos sociais, pode embasar um endosso? 
Nesse caso, o Sr. Nottebohm nasceu na Alemanha, mas todos os seus vínculos (seu 
centro de negócios) estavam na Guatemala. Ele até chegou a ser candidato a cargos públicos 
na Guatemala. Pediu naturalização ao Principado de Liechtenstein, mas lá não possuía 
nenhum vínculo. Um dia, pediu proteção diplomática ao Liechtenstein. 
Solução: Para a concessão do endosso, é essencial a nacionalidade ser real e efetiva, 
que é aquela que está de acordo com os fatos, baseada nos mais fortes vínculos fáticos entre 
o interessado e um desses Estados cuja nacionalidade está em causa. Diferentes fatores são 
levados em conta nesses casos, e sua importância irá variar de um caso para outro: o 
domicílio de indivíduo envolvido, o centro dos seus interesses, seus vínculos familiares, sua 
participação na vida pública, a ligação demonstrada com relação a um dado país 
manifestada pela educação dos seus filhos etc. 
A nacionalidade, como requisito para o endosso na proteção diplomática, deve ser 
efetiva. Não basta uma nacionalidade meramente nominal. A nacionalidade, para dar ensejo 
ao endosso, deve ser efetiva, baseada em vínculos sociais. 
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8.2.3 Caso Barcelona Traction: 
O caso foi julgado pela CIJ, em 1970. 
Esse caso não foi tratado nas aulas sobre proteção diplomática. 
Fatos: A Cia Barcelona Traction era uma empresa canadense que prestava serviços na 
Espanha que, em razão de dificuldades criadas pelo governo, foi à falência. A Espanha 
expropriou seus ativos para que os serviços de iluminação pudessem ser desenvolvidos pelo 
governo. A Bélgica, com base no instituto da proteção diplomática, pediu reparação por 
danos sofridos por seus nacionais que eram acionistas da companhia. 
Nesse caso, uma empresa canadense prestava serviços na Espanha. Por problemas 
naquele Estado, a empresa canadense resolveu litigar na justiça contra a Espanha. Essa 
empresa tinha sócios belgas, mas a nacionalidade da empresa era canadense. A Bélgica 
decidiu dar proteção diplomática a nacionais seus que eram sócios da companhia 
canadense. 
Controvérsia: A Bélgica pode oferecer proteção diplomática de seus nacionais sócios 
de uma companhia canadense? 
Solução: A CIJ entendeu que a Bélgica não possuía legitimidade para propor a ação 
pleiteando em defesa dos interesses dos acionistas, uma vez que as medidas reivindicadas 
referiam-se à Companhia e esta era canadense. Somente se o Canadá não tivesse 
capacidade de prestar proteção diplomática à empresa é que seria possível considerar a 
legitimidade da Bélgica. As obrigações envolvidas não são consideradas erga omnes, o que 
afasta a legitimidade para exigir o cumprimento de obrigações pela Espanha. 
A primeira conclusão da Corte foi de que a Bélgica não poderia oferecer proteção 
diplomática aos sócios belgas, porque os interesses que ela estava realmente defendendo 
eram da companhia, que, no caso, era canadense. Então, quem poderia oferecer proteção 
diplomática à companhia era o Canadá. 
A segunda conclusão da Corte foi de que a Bélgica poderia assumir a proteção 
diplomática da companhia se o Canadá não tivesse condições de oferecer proteção 
diplomática. 
 
9. Asilo: 
9.1 Caso Haya de La Torre: 
O caso foi julgado pela CIJ, em 1951. 
Esse caso é um precedente muito conhecido sobre asilo. 
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Fatos: De La Torre, um dissidente político do Peru, pediu asilo na embaixada da 
Colômbia em Lima e salvo-conduto para que deixasse o território. Mas o Peru negou, 
dizendo que ele era criminoso comum e não político, e também porque não estava presente 
o caráter atual da perseguição. 
Controvérsia: O asilado era criminoso político? A perseguição era atual? A autoridade 
asilante estava obrigada a entregar o asilado às autoridades territoriais? 
Asilo é o acolhimento pelo Estado de uma pessoa que sofre perseguição política em 
outro lugar. 
Existem dois requisitos para a sua concessão: perseguição por crime político e 
atualidade dessa perseguição. 
O asilo pode ser de dois tipos: o asilo territorial e o asilo diplomático. O asilo 
territorial é aquele em que o acolhimento se dá no território do Estado asilante. O asilodiplomático é aquele em que o acolhimento se dá na embaixada do Estado asilante. 
Nesse caso, o dissidente político peruano obteve asilo diplomático, dentro da 
embaixada da Colômbia em Lima, no Peru. Foi pedido salvo-conduto, já que o asilo 
diplomático é provisório, para que o asilado fosse para a Colômbia, para concretizar o asilo 
territorial. O pedido foi negado porque o Peru afirmou que não estavam presentes os dois 
requisitos (a perseguição não era política e nem atual, pois somente teria começado depois 
que o asilado ingressou na embaixada colombiana) e a questão foi para a justiça 
internacional. Outra questão nesse caso era definir quem poderia qualificar os requisitos do 
asilo: o asilante ou o asilado. O asilado tem que concordar com a definição do asilante? 
Solução: A CIJ concluiu que a Convenção de Havana de 1928 não prevê que o Estado 
asilante pode qualificar unilateralmente os pressupostos do asilo. Tal prerrogativa seria 
apenas consuetudinária. Atenção: a Convenção sobre Asilo Territorial de 1954 prevê esta 
prerrogativa (art. 4º). 
Artigo IV. Convenção sobre Asilo Territorial. 
A extradição não se aplica quando se trate de pessoas que segundo a classificação do 
Estado suplicado, sejam perseguidas por delitos políticos ou delitos comuns cometidos 
com fins políticos, nem quando a extradição for solicitada obedecendo a motivos 
predominantemente políticos. 
A conclusão foi de que a Convenção de Havana não dizia que o Estado asilante pode 
qualificar unilateralmente os pressupostos do asilo. A Corte concluiu, portanto, que o Peru 
não estava obrigado a oferecer salvo-conduto pela qualificação feita pela Colômbia, mas a 
Colômbia também não estava obrigada a liberar o asilado. E ficou um impasse, pois nenhum 
Estado estava obrigado a fazer nada. Os Estados deveriam resolver a questão por um acordo 
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entre eles, pois o Direito Internacional não dizia nada exatamente sobre procedimento para 
resolver este impasse. 
Hoje, no entanto, a Convenção sobre Asilo de 1954 prevê a prerrogativa de 
qualificação unilateral dos pressupostos do asilo pelo Estado asilante. 
 
10. Direito Internacional Ambiental: 
10.1 Caso fundação Trail: 
O caso foi julgado por um Tribunal Arbitral, em 1941. 
Esse julgamento é considerado o início do direito ambiental internacional. 
Fatos: Uma empresa canadense, do ramo de zinco e chumbo, foi acusada de poluir, 
também, áreas em território estadunidense, mais precisamente no estado de Washington, 
com emissões de dióxido de enxofre (ou anidrido sulfuroso). 
Controvérsia: Existe uma norma internacional que veda o dano ambiental 
transfronteiriço? 
Hoje já existem normas internacionais sobre o tema, mas na época não. A 
Conferência de Estocolmo foi feita em data posterior a esse caso. 
Solução: A decisão do Tribunal Arbitral foi favorável aos EUA, entendendo que o 
Estado tem sempre o dever de proteger outros Estados contra atos injuriosos praticados por 
indivíduos dentro de sua jurisdição, estabelecendo como princípio a prevenção do dano 
ambiental transfronteiriço. Preceituou ainda que nenhum Estado tem o direito de usar o seu 
território ou de permitir o seu uso de maneira tal que fumos provoquem danos no território 
de outro Estado ou nas propriedades de pessoas que aí se encontrem. 
Esse tema já caiu em prova da AGU, da banca Cespe, sobre o princípio da vedação do 
dano ambiental transfronteiriço. Nenhum Estado tem o direito de utilizar seu território 
permitindo que poluição chegue no território de outro Estado. Nisso consiste a proibição do 
dano ambiental transfronteiriço. 
 
11. Direito Internacional Penal: 
11.1 Caso Velásquez vs. Honduras: 
Esse caso foi julgado pela Corte Interamericana de Direito Humanos, em 1988. 
Fatos: Velasquez Rodriguez foi preso, torturado e morto pelas Forças Armadas de 
Honduras. 
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No caso, esse cidadão sofreu intensas violações de direitos humanos e o Estado não 
ofereceu resposta adequada e efetiva a essa violação de direitos humanos, inclusive 
sonegando o direito de acesso à justiça. 
Controvérsia: Os Estados têm o dever de prevenir, investigar e punir violações de 
direitos humanos enunciados na Convenção Americana de Direitos Humanos? 
Solução: A Corte considerou que Honduras havia violado os artigos 4º (direito à vida), 
5º (direito à integridade pessoal) e 7º (direito à liberdade pessoal) da Convenção Americana. 
Concluiu que os Estados têm o dever de prevenir, investigar e punir violações de direitos 
humanos enunciados na Convenção Americana de Direitos Humanos. 
Artigo 4. Direito à vida 
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido 
pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida 
arbitrariamente. 
2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta 
pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente e 
em conformidade com lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito 
sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique 
atualmente. 
3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido. 
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos políticos, nem por 
delitos comuns conexos com delitos políticos. 
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração do 
delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em 
estado de gravidez. 
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comutação 
da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não se pode executar a 
pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade 
competente. 
Artigo 5. Direito à integridade pessoal 
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e moral. 
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou 
degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito devido 
à dignidade inerente ao ser humano. 
3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente. 
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias 
excepcionais, e ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de pessoas não 
condenadas. 
5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e 
conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para seu tratamento. 
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6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a 
readaptação social dos condenados. 
 
Artigo 7. Direito à liberdade pessoal 
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. 
2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelascausas e nas condições 
previamente fixadas pelas constituições políticas dos Estados Partes ou pelas leis de 
acordo com elas promulgadas. 
3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários. 
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da sua detenção e 
notificada, sem demora, da acusação ou acusações formuladas contra ela. 
5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz 
ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser 
julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que 
prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o 
seu comparecimento em juízo. 
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal 
competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou 
detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados 
Partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua 
liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente a fim de que este 
decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem 
abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa. 
7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de 
autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação 
alimentar. 
Quando um Estado não investiga, pune, não previne graves violações de direitos 
humanos, isso gera responsabilidade do Estado perante a Corte Interamericana. 
O Brasil também já foi condenado algumas vezes por situações parecidas, como os 
casos Gomes Lund (que será visto na sequência), e Daniel Ximenes (primeira condenação do 
Brasil pela CIDH). 
No caso Daniel Ximenes, um rapaz com deficiência mental foi internado em um 
hospital psiquiátrico público e dois ou três dias depois a mãe dele retornou ao hospital e 
descobriu que ele tinha sofrido maus tratos. E poucos instantes depois que a mãe chegou ao 
hospital, ele faleceu em decorrência dos maus tratos. Foram ajuizadas ações cíveis e penais 
e não ocorreu qualquer responsabilização dos ofensores. O Brasil, então, foi condenado 
internacionalmente por não ter garantido esses direitos e nem acesso à justiça, porque a 
morosidade foi tanta que não houve responsabilização de ninguém. Na base disso está o 
surgimento do IDC (incidente de deslocamento de competência), que foi incluído pela EC 
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45/2004 para evitar as responsabilizações que o Brasil vinha sofrendo no âmbito 
internacional, porque as justiças dos estados não conseguiam levar adiante casos de graves 
violações de direitos humanos. Hoje, o PGR pode promover esse IDC para que esse processo 
saia da justiça estadual e seja julgado na justiça federal. 
11.2 Caso Barrios Altos, Almonacid e La Cantuta: 
Esses casos foram julgados pela Corte IDH, em 2001, 2006 e 2006, respectivamente. 
Fatos: Leis do Peru e do Chile anistiaram os agentes do Estado por crimes praticados 
durante os regimes Fujimori e Pinochet. 
Agentes do Estado, durante as ditaduras de Fujimori e Pinochet, foram anistiados 
pelos crimes contra a humanidade cometidos durante os regimes. 
Controvérsia: Crimes contra a humanidade são suscetíveis de anistia? 
A questão era saber se essas leis que anistiaram os agentes eram compatíveis com a 
Convenção Americana. 
Solução: Nesses casos, a Corte afirmou que as auto-anistias, excludentes de 
responsabilidade por violações graves dos direitos humanos, são inadmissíveis e, ao impedir 
o acesso das vítimas e seus familiares à verdade e à Justiça, são violadoras dos artigos 1(1), 
2, 8 e 25 da Convenção. 
A Corte concluiu que as leis que anistiaram os agentes do Estado são nulas, porque 
violam a Convenção Americana, por infringirem o direito de acesso à verdade e o direito de 
acesso à justiça. Esse entendimento é pacífico na Corte. A jurisprudência da Corte é pacífica. 
Esses crimes são considerados erga omnes e, portanto, imprescritíveis. Para o crime de 
desaparecimento forçado, a prescrição jamais poderia correr enquanto não localizado o 
corpo. Mas além desse motivo, o crime é imprescritível porque é um crime de jus cogens. 
11.3 Caso Gomes Lund ou Araguaia: 
O caso foi julgado pela Corte IDH, em 2010. 
Fatos: O Estado brasileiro foi acusado de execução extrajudicial de uma pessoa e de 
detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de 70 pessoas, entre membros do 
Partido Comunista do Brasil e camponeses da região do Araguaia, como resultado de 
operações do Exército Brasileiro empreendidas entre 1972 e 1975 com o objetivo de 
erradicar a Guerrilha, no contexto da Ditadura Militar. 
O caso trata da famosa Guerrilha do Araguaia, em que ocorreram crimes contra a 
humanidade. Os acusados por esses crimes jamais foram responsabilizados no Brasil por 
causa da lei de anistia. 
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Controvérsia: A lei brasileira de anistia pode ser óbice à responsabilização de agentes 
públicos por crimes contra a humanidade? 
É a mesma questão que já possuía jurisprudência pacífica na Corte IDH. 
Solução: A Corte concluiu que o Brasil é responsável pela desaparição forçada de 62 
pessoas. Com base no direito internacional e em sua jurisprudência constante, a Corte 
Interamericana concluiu que as disposições da Lei brasileira de Anistia que impedem a 
investigação e sanção de graves violações de direitos humanos são incompatíveis com a 
Convenção Americana e carecem de efeitos jurídicos, razão pela qual não podem continuar 
representando um obstáculo para a investigação dos fatos do caso, nem para a identificação 
e a punição dos responsáveis. 
A Corte decidiu, na linha de sua jurisprudência pacífica, que a lei brasileira de anistia 
é inconvencional, incompatível com a Convenção Americana, e o Brasil tem a obrigação de 
processar e julgar os agentes de Estado que praticaram crimes contra a humanidade, mesmo 
existindo a lei de anistia. 
Na ADPF 153 o STF declarou a constitucionalidade da lei de anistia, depois do início 
do julgamento da Corte IDH e antes da sentença da Corte Internacional. 
E então? A lei de anistia é aplicável? A doutrina tem entendido que a Corte 
Interamericana e o STF analisaram a lei de anistia com parâmetros diversos. O STF teve 
como parâmetro a Constituição, e concluiu que a lei é válida, portanto, constitucional. A 
Corte teve como parâmetro a Convenção Americana e, diante dessa Convenção, a lei de 
anistia é nula, é inconvencional. Portanto, embora a lei seja constitucional, ela é 
inconvencional, e por isso não pode ser aplicada. Esse entendimento é proposto por André 
de Carvalho Ramos, Procurador da República. Esse entendimento tem sido encampado pelo 
MPF, com pareceres do PGR sustentando esse entendimento. A Corte IDH fez uma crítica ao 
STF, que deveria ter feito o controle de convencionalidade. E o STF ignorou a Convenção 
Americana e a jurisprudência da Corte para declarar constitucional a lei de anistia. 
11.4 Caso Hissène Habré: 
O caso foi julgado pela CIJ, em 2012. 
Fatos:

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