Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
11111111111111111 Diferenciac¸a˜o 1.1 Derivadas Parciais Dados o ponto a = (a1, . . . , an) e a func¸a˜o f : Rn → R, considere lim h→0 f(a1, . . . , ai + h, . . . , an)− f(a1, . . . , ai, . . . , an) h . Quando o limite acima existe ele e´ chamado de i-e´sima derivada parcial de f no ponto a = (a1, . . . , an) e sera´ denotado por Dif(a). Se Dif(a) existe, enta˜o a func¸a˜o γf : R→ R definida por γf (t) = f(a1, . . . , ai−1, t, ai+1, . . . , an), (1.1) e´ deriva´vel em ai e γ ′ f (ai) = Dif(a). De fato, Dif(a) = lim h→0 f(a1, . . . , ai + h, . . . , an)− f(a1, . . . , ai, . . . , an) h = lim h→0 γf (ai + h)− γf (ai) h = γ′f (ai). A partir dessa observac¸a˜o podemos interpretar a derivada parcial Dif(a), geometricamente, como a inclinac¸a˜o da reta tangente ao gra´fico de γf (t) no ponto t = ai. Em outras palavras, Dif(a) e´ a inclinac¸a˜o da curva obtida pela intersecc¸a˜o do gra´fico de f com o plano P = {x ∈ Rn+1 : xj = aj , j 6= i} no ponto (a, f(a)) (veja figura 1.1). Essa mesma observac¸a˜o permite demonstrar algumas propriedades alge´bricas das derivadas parciais, a saber, se f : Rn → R e g : Rn → R sa˜o func¸o˜es que possuem a i-e´sima derivada parcial no ponto a, enta˜o (i) Di(f + g)(a) = Dif(a) +Dig(a); 1 2 CAPI´TULO 1. DIFERENCIAC¸A˜O (ii) Di(fg)(a) = g(a)Dif(a) + f(a)Dig(a); (iii) Se g(a) 6= 0, enta˜o Di ( f g ) (a) = g(a)Dif(a)− f(a)Dig(a) [g(a)]2 ; (iv) Se h : R→ R e´ deriva´vel em f(a), enta˜o Di(h ◦ f)(a) = h′(f(a))Dif(a). Para provar (i), por exemplo, basta notar que γf+g(t) = (γf + γg)(t). Da´ı Di(f + g)(a) = γ ′ f+g(t) = (γf + γg) ′(t) = γ′f (t) + γ ′ g(t) = Dif(a) +Dig(a). As demais propriedades podem ser demonstradas pelo mesmo racioc´ınio e sera˜o deixadas como exerc´ıcio para o leitor. O exemplo abaixo mostra que o ca´lculo das derivadas parciais de uma func¸a˜o e´ um problema que ja´ sabemos resolver. Figura 1.1 Exemplo. Seja f = sen(x) arctan(y). Calcule as derivadas parciais D1f(a1, a2) e D2f(a1, a2). 1.1. DERIVADAS PARCIAIS 3 Temos que D1f(a1, a2) = lim h→0 f(a1 + h, a2)− f(a1, a2) h = lim h→0 arctan(a2) sen(a1 + h)− arctan(a2) sen(a1) h = arctan(a2) lim h→h sen(a1 + h)− sen(a1) h = arctan(a2)(sen) ′(a1) = arctan(a2) cos(a1). Analogamente, D2f(a1, a2) = lim h→0 f(a1, a2 + h)− f(a1, a2) h = lim h→0 sen(a1) arctan(a2 + h)− sen(a1) arctan(a2) h = sen(a1) lim h→0 arctan(a2 + h)− arctan(a2) h = sen(a1)(arctan) ′(a2) = sen(a1) 1 + a22 . Isso mostra que o ca´lculo das derivadas parciais de uma func¸a˜o depende apenas da aplicac¸a˜o correta das regras de derivac¸a˜o do ca´lculo de func¸o˜es de uma varia´vel real. Por exemplo, se f(x, y, z) = xy2 sen z+ xeyz + 3x3y2z, enta˜o as suas derivadas parciais sa˜o dadas por D1f(a1, a2, a3) = a 2 2 sen(a3) + e a2a3 + 9a21a 2 2a3, D2f(a1, a2, a3) = 2a1a2 sen(a3) + a1ce a2a3 + 6a31a2a3, D3f(a1, a2, a3) = a1a 2 2 cos(a3) + a1a2e a2a3 + 3a31a 2 2. Se A e´ o conjunto de todos os pontos a ∈ Rn tais que Dif(a) existe, enta˜o podemos definir uma nova func¸a˜o Dif : A→ R, chamada de i-e´sima derivada parcial de f . Quando for poss´ıvel calcular a j-e´sima derivada parcial de Dif no ponto a ∈ A, definimos a derivada parcial de segunda ordem de f no ponto a como Di,jf(a) = Dj(Dif)(a). Em geral, as derivadas mistas Di,jf(a) e Dj,if(a) na˜o sa˜o iguais. Exemplo. Considere a func¸a˜o f : R2 → R definida por f(x, y) = { xy(x2−y2) x2+y2 , (x, y) 6= (0, 0) 0, (x, y) = (0, 0) (1.2) 4 CAPI´TULO 1. DIFERENCIAC¸A˜O Temos que D1f(0, y) = lim h→0 f(h, y)− f(0, y) h = lim h→0 hy(h2 − y2) h(h2 + y2 = lim h→0 −y 3 y2 = −y. Usando essa u´ltima expressa˜o obtemos que D1,2f(0, 0) = D2(D1f)(0, 0) = lim h→0 D1f(0, h)−D1f(0, 0) h = lim h→0 −h− 0 h = −1. Analogamente, D2(x, 0) = x, de onde vem D2,1f(0, 0) = 1 (verifique!) Isso mostra que D1,2f(0, 0) 6= D2,1f(0, 0). Dado k ∈ Z, definimos a derivada parcial de ordem k de f como Di1,...,ik−1,ikf(a) = Dik(Dik−1(. . . (Di1f) . . . ))(a), onde a ∈ Rn e 1 ≤ i1, . . . , ik ≤ n. Dizemos que f e´ uma func¸a˜o de classe Ck se todas as derivadas parciais de ordem k existem e sa˜o cont´ınuas. Se f tem derivadas parciais cont´ınuas de todas as ordens dizemos que f e´ de classe C∞. O pro´ximo resultado nos da´ uma condic¸a˜o para que as derivadas mistas sejam iguais. A demonstrac¸a˜o deste teorema sera´ postergada ate´ o pro´ximo cap´ıtulo. 1.1 Teorema (de Schwarz ). Se f : Rn → R e´ uma func¸a˜o de classe C2 enta˜o Di,jf(a) = Dj.if(a). Por exemplo, como a func¸a˜o f(x, y, z) = xy2 sen z+xeyz+3x3y2z e´ de classe C∞, temos que D1,2f(x, y, z) = D2,1f(x, y, z), D1,3f(x, y, z) = D3,1f(x, y, z) e D2,3f(x, y, z) = D3,2f(x, y, z) (verifique!). Por outro lado, o teorema de Schwarz implica que a func¸a˜o (1.2) na˜o e´ de classe C2. 1.2 A Diferencial de uma Func¸a˜o Seja f : R → R. Dizemos que o nu´mero f ′(a) e´ a derivada de f no ponto a ∈ R se f ′(a) = lim h→0 f(a+ h)− f(a) h . Antes de definir a noc¸a˜o de derivada para o caso de func¸o˜es f : Rn → Rm precisamos reformular a definic¸a˜o acima. 1.2. A DIFERENCIAL DE UMA FUNC¸A˜O 5 1.2 Teorema. A func¸a˜o f : R → R e´ deriva´vel em a ∈ R se, e somente se, existe uma transformac¸a˜o linear T : R→ R tal que lim h→0 f(a+ h)− f(a)− T (h) h = 0. (1.3) Demonstrac¸a˜o. Suponha que f e´ deriva´vel em a. Seja T : R → R a trans- formac¸a˜o linear definida por T (h) = f ′(a)h. Neste caso lim h→0 f(a+ h)− f(a)− T (h) h = lim h→0 f(a+ h)− f(a)− f ′(a)h h = lim h→0 f(a+ h)− f(a) h − f ′(a) = f ′(a)− f ′(a) = 0. Por outro lado, suponha que T : R→ R satisfaz a equac¸a˜o (1.3). Neste caso, a transformac¸a˜o T se escreve como T (h) = λh para algum λ ∈ R. Assim, 0 = lim h→0 f(a+ h)− f(a)− T (h) h = lim h→0 f(a+ h)− f(a)− λh h = lim h→0 f(a+ h)− f(a) h − λ. Conclu´ımos da´ı que lim h→0 f(a+ h)− f(a) h = λ, ou seja, f ′(a) = λ. A transformac¸a˜o linear dada pelo teorema acima e´ chamada de diferencial de f no ponto a e e´ denotada por df(a). Observe que se f e´ deriva´vel em a ∈ R enta˜o a diferencial de f neste ponto existe e df(a)(h) = f ′(a)h. O teorema acima nos da´ a maneira correta de estendermos a noc¸a˜o de de- rivada para func¸o˜es de va´rias varia´veis. Dizemos que f : Rn → Rm e´ dife- rencia´vel em a ∈ Rn se existe uma transformac¸a˜o linear T : Rn → Rm tal que lim h→0 |f(a+ h)− f(a)− T (h)| |h| = 0. (1.4) A transformac¸a˜o linear T e´ chamada de diferencial de f em a e denotada por df(a). O teorema a seguir mostra que a diferencial de uma func¸a˜o esta´ bem definida. 1.3 Teorema. Seja f : Rn → Rm. Quando existe, a diferencial de f em a e´ u´nica. 6 CAPI´TULO 1. DIFERENCIAC¸A˜O Demonstrac¸a˜o. Suponha que T : Rn → Rm e S : Rn → Rm sa˜o trans- formac¸o˜es lineares que safisfazem a equac¸a˜o (1.4). Temos que |T (h)− S(h)| |h| = |f(a+ h)− f(a)− f(a+ h) + f(a) + T (h)− S(h)| |h| = |f(a+ h)− f(a)− S(h)− [f(a+ h)− f(a)− T (h)]| |h| ≤ |f(a+ h)− f(a)− S(h)||h| + |f(a+ h)− f(a)− T (h)| |h| Isto implica que lim h→0 |T (h)− S(h)| |h| = 0. Seja a = (a1, . . . , an) ∈ Rn tal que a 6= 0. Lembrando que T e S sa˜o transformac¸o˜es lineares obtemos 0 = lim t→0 |T (ta)− S(ta)| |ta| = limt→0 |t||T (a)− S(a)| |t||a| = |T (a)− S(a)| a . Portanto, T (a) = S(a) para todo a 6= 0. Como T (0) = S(0) = 0 conclu´ımos que T = S. Exemplo. Seja T : Rn → Rm uma transformac¸a˜o linear e a ∈ Rn um ponto qualquer. Enta˜o T e´ diferencia´vel em a e a sua diferencial neste ponto e´ igual a T , isto e´, dT (a)(h) = T (h). De fato, temos que 0 ≤ lim h→0 |T (a+ h)− T (a)− T (h)| |h| = lim h→0 |T (a) + T (h)− T (a)− T (h)| |h| = 0. Pelo teoremaanterior, conclu´ımos que dT (a)(h) = T (h). 1.4 Teorema. Se f : Rn → Rm e´ diferencia´vel em a enta˜o f e´ cont´ınua em a. Demonstrac¸a˜o. Lembrando que df(a) e´ uma aplicac¸a˜o cont´ınua e satisfaz (1.4), dado h 6= 0 temos 0 ≤ |f(a+ h)− f(a)| = |f(a+ h)− f(a)− df(a)(h) + df(a)(h)| = ∣∣∣∣f(a+ h)− f(a)− df(a)(h)|h| |h|+ df(a)(h) ∣∣∣∣ ≤ ∣∣∣∣f(a+ h)− f(a)− df(a)(h)|h| |h| ∣∣∣∣+ |df(a)(h)| 1.2. A DIFERENCIAL DE UMA FUNC¸A˜O 7 ou seja, lim h→0 f(a+ h) = f(a). Se a func¸a˜o f : Rn → Rm e´ diferencia´vel em a ∈ Rn, a matrix da trans- formac¸a˜o linear df(a) : Rn → Rm na base canoˆnica do espac¸o euclidiano e´ chamada de matrix jacobiana de f em a ou simplesmente de derivada de f em a e sera´ denotada por f ′(a). Observe que, neste caso, f ′(a) e´ uma matrix m× n. Em particular, quando n = m = 1, temos que f ′(a) e´ uma matriz 1 × 1, digamos f ′(a) = [λ]. Logo, df(a)(t) = [λ]1×1.[t]1×1 = λt. Reobtemos dessa forma a noc¸a˜o de derivada de uma func¸a˜o real. Vejamos um outro caso. Exemplo. Seja f(x, y) = f1(x)f2(y), onde f1, f2 : R → R sa˜o func¸o˜es de- riva´veis. Verifique que a transformac¸a˜o linear T (h1, h2) = f ′ 1(a1)f2(a2)h1 + f1(a1)f ′ 2(a2)h2 e´ a diferencial da func¸a˜o f no ponto a = (a1, a2). Se h = (h1, h2), observando-se que |(h1h2)| ≥ |hi|, i = 1, 2 temos que lim h→0 |f(a+ h)− f(a)− T (h)| |h| = lim h→0 |f1(a1 + h1)f2(a2 + h2)− f1(a1)f2(a2)− f ′1(a1)f2(a2)h1 + f1(a1)f ′2(a2)h2| |(h1, h2)| ≤ lim h→0 |f1(a1 + h1)f2(a2 + h2)− f1(a1)f2(a2 + h2)− f ′1(a1)f2(a2)h1| |(h1, h2)| + lim h→0 |f1(a1)f2(a2 + h2)− f1(a1)f2(a2)− f1(a1)f ′2(a2)h2| |(h1, h2)| , onde usamos a desigualdade triangular apo´s acrescentar o fator f1(a1+h1)f2(a2)− f1(a1 + h1)f2(a2) = 0. Por um lado temos que L = lim h→0 |f1(a1)f2(a2 + h2)− f1(a1)f2(a2)− f ′2(a2)f1(a1)h2| |(h1, h2)| = lim h→0 ∣∣f1(a1)[f2(a2 + h2)− f2(a2)− f ′2(a2)h2]∣∣ |h2| ≤ |f1(a1)| lim h→0 ∣∣∣∣∣f2(a2 + h2)− f2(h2)h2 − f ′2(a2) ∣∣∣∣∣ = 0 Vejamos agora o limite sobejo. Fixado � > 0, como limh2→0 f2(a2 + h2) = f2(a2) e limh→0 f1(a1+h1)−f1(a1) h1 = f ′1(a1), podemos encntrar δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que ∣∣∣∣∣f1(a1 + h1)− f1(a1)h1 − f ′1(a1) ∣∣∣∣∣ < �2(|f2(a2)|+ 1) (∗) e |f2(a2 + h2)− f2(a2)| < min { 1, � 2(|f ′1(a1)|+ 1) } , (∗∗) 8 CAPI´TULO 1. DIFERENCIAC¸A˜O sempre que |h1| < δ1 e |h2| < δ2. Seja δ = min{δ1, δ2} e considere h = (h1, h2) tal que |h| ≤ δ. Nete caso, como |hi| ≤ |h| para i = 1, 2, valem (∗) e (∗∗). Uma vez que |f2(a2 + h2)− f2(a2)| < 1 temos que |f2(a2 + h2)| − |f2(a2)| ≤ |f2(a2 + h2)− f2(a2)| < 1, de onde conclui-se que |f2(a2 + h2)| ≤ |f2(a2)|+ 1. Assim∣∣∣∣∣f1(a1 + h1)− f1(a1)h1 f2(a2 + h2)− f ′1(a1)f2(a2) ∣∣∣∣∣ ≤ ≤ ∣∣∣∣∣ ( f1(a1 + h1)− f1(a1) h1 − f ′1(a1) ) f2(a2 + h2) + f ′ 1(a1)(f2(a2 + h2)− f2(a2)) ∣∣∣∣∣ ≤ ∣∣∣∣∣f1(a1 + h1)− f1(a1)h1 − f ′1(a1) ∣∣∣∣∣|f2(a2 + h2)|+ |f ′1(a1)||f2(a2 + h2)− f2(a2)| ≤ ∣∣∣∣∣f1a1 + h1)− f1(a1)h1 ∣∣∣∣∣(1 + |f2(a2)|) + |f ′1(a1)||f2(a2 + h2)− f2(a2)| ≤ � 2(|f2(a2)|+ 1)(1 + |f2(a2)|) + |f ′ 1(a1)| � 2(|f ′1(a1)|+ 1) < � 2 + � 2 = �. Finalmente temos M = lim h→0 |f1(a1 + h1)f2(a2 + h2)− f1(a1)f2(a2 + h2)− f ′1(a1)f2(a2)h1| |(h1, h2)| = lim h→0 ∣∣∣∣∣f1(a1 + h1)− f1(a1)h1 f2(a2 + h2)− f ′1(a1)f2(a2) ∣∣∣∣∣ |h1||(h1, h2)| ≤ lim h→0 ∣∣∣∣∣f1(a1 + h1)− f1(a1)h1 f2(a2 + h2)− f ′1(a1)f2(a2) ∣∣∣∣∣ = 0. Portanto, 0 ≤ lim h→0 |f(a+ h)− f(a)− T (h)| |h| ≤M + L ≤ 0, como quer´ıamos demonstrar. Usando o exemplo acima, podemos afirmar que a diferencial da func¸a˜o f(x1, x2) = x 2 1 cos(x2) no ponto a = (a1, a2) e´ dada por df(a)(h) = 2a1 cos(a2)h1 − a21 sen(a2)h2. 1.3. O CA´LCULO DA DIFERENCIAL DE UMA FUNC¸A˜O 9 Analogamente, se f : R2 → R e´ dada por f(x1, x2) = f1(x1) + f2(x2), onde f1 : R → R e f2 : R → R sa˜o func¸o˜es deriva´veis, e´ poss´ıvel mostrar facilmente que df(a)(h) = f ′1(a1)h1 + f ′ 2(a2)h2. Uma observac¸a˜o mais atenta dos exemplos acima mostra que a matriz jaco- biana de f no ponto a, em ambos os casos, e´ dada por f ′(a) = ( D1f(a) D2f(a) ) . De fato, as primeira e segunda coluna de f ′(a) sa˜o dadas, respectivamente, por df(a)(1, 0) = D1f(a) e df(a)(0, 1) = D2f(a). Veremos nos pro´ximo para´grafo que isto na˜o e´ uma coincideˆncia. 1.3 O Ca´lculo da Diferencial de uma Func¸a˜o Comec¸amos com o seguinte resultado 1.5 Teorema (Regra da cadeia). Sejam f : Rn → Rm e g : Rm → Rp duas func¸o˜es diferencia´veis em a ∈ Rn e f(a) ∈ Rm, respectivamente. Neste caso, a func¸a˜o g ◦ f : Rn → Rp e´ diferencia´vel em a e d(g ◦ f)(a) = dg(f(a)) ◦ df(a) (1.5) Portanto, a regra da cadeia nos diz que a diferencial da composic¸a˜o de duas func¸o˜es diferencia´veis existe e e´ dada pela composic¸a˜o das respectivas diferen- ciais. Em termos das matrizes jacobianas f ′(a) e g′(f(a)), a equac¸a˜o (1.5) se escreve como (g ◦ f)′(a) = g′(f(a)) · f ′(a), onde ‘·’ representa o produto usual de matrizes. Observe que f ′(a) e´ uma matrix m×n e g′(f(a)) e´ uma matriz p×m; dessa forma o produto g′(f(a)) ·f ′(a) esta´ bem definido e fornece uma matriz p × n, que e´ a jacobiana de g ◦ f . E´ muito importante entender essas duas vertentes da regra da cadeia. Usando o teorema acima podemos provar o seguinte. 1.1 Proposic¸a˜o. Seja f : Rn → Rm uma func¸a˜o escrita como f = (f1, . . . , fm). Enta˜o f e´ diferencia´vel em a ∈ Rn se, e somente se, cada fi : Rn → R e´ dife- rencia´vel em a. Neste caso df(a)(h) = (df1(a)(h), . . . , dfm(a)(h)) ou abreviadamente, df(a) = (df1(a), . . . , dfm(a)). 10 CAPI´TULO 1. DIFERENCIAC¸A˜O Antes de demonstra´-lo, observe que o resultado acima nos diz que a i-e´sima coluna da matriz jacobiana f ′(a) e´ dada por df1(a)(ei) ... dfj(a)(ei) ... dfm(a)(ei) . Isto significa que o elemento que esta´ na j-e´sima linha da i-e´sima coluna de f ′(a) e´ o i-e´simo elemento da matriz (linha) f ′j(a). Este e´ o primeiro passo para compreendermos a relac¸a˜o entre a diferencial de uma func¸a˜o e as derivadas parciais de suas componentes. Demonstrac¸a˜o. Suponha que f e´ diferencia´vel em a. Para cada i = 1, . . . ,m considere as projec¸o˜es pii : Rm → R dadas por pii(x1, . . . , xm) = xi. E´ claro que essas aplicac¸o˜es sa˜o transformac¸o˜es lineares, logo diferencia´veis. Pela regra da cadeia temos que fi = pii ◦ f e´ diferencia´vel. Isso prova a primeira parte da proposic¸a˜o. Agora assuma que as func¸o˜es fi sa˜o diferencia´veis em a. Vamos provar que a transformac¸a˜o linear T (h) = (df1(a)(h), . . . , dfm(a)(h)) e´ a diferencial de f em a. De fato, pela desigualdade triangular temos que 0 ≤ lim h→0 |f(a+ h)− f(a)− T (h)| |h| = lim h→0 |(f1(a+ h)− f1(a)− df1(a)(h), . . . , fm(a+ h)− fm(a)− dfm(a)(h))| |h| ≤ m∑ i=1 lim h→0 |fi(a+ h)− fi(a)− dfi(a)(h)| |h| = 0. Isso conclui a demosntrac¸a˜o do resultado. Sejam v ∈ Rn, a ∈ Rn. A derivada direcional de f : Rn → R em a na direc¸a˜o de v e´ definida como o limite lim t→0 f(a+ tv)− f(a) t , desde que ele exista. Neste caso denotamo-lo por Dvf(a). 1.3. O CA´LCULO DA DIFERENCIAL DE UMA FUNC¸A˜O 11 Considere a aplicac¸a˜o γ : R → Rn dada por γ(t) = a + tv. Pela proposic¸a˜o acima temos que γ(0) = a e dγ(t)(h) = ((a1 + tv1) ′h, . . . , (an + tvn)′h) = (v1, . . . , vn)h = vh. Isto implica que γ′(t) = dγ(t)(1) = v. Considere a func¸a˜o f ◦ γ : R→ R. Pela regra da cadeia temos que Dvf(a) = lim t→0 f(a+ tv)− f(a) t = lim t→0 f(γ(t))− f(γ(0)) t = (f ◦ γ)′(0) = f ′(γ(0)) · γ′(0) = f ′(a) · v = df(a)(v). (1.6) Obtemos da´ı que df(a)(ei) = Deif(a) = Dif(a) (verifique!). Portanto, se f : Rn → Rm e´ uma func¸a˜o diferencia´vel, combinando esse resultado com a proposic¸a˜o 1.1, conclu´ımos que a entrada da j-e´sima linha da i-e´sima coluna da matriz jacobiana f ′(a) e´ dada por Difj(a),ou seja, f ′(a) = D1f1(a) D2f1(a) . . . Dnf1(a) D1f2(a) D2f2(a) . . . Dnf2(a) ... ... . . . ... D1fm(a) D2fm(a) . . . Dnfm(a) . (1.7) Em geral, a mera existeˆncia das derivadas parciais de f1, . . . , fm no ponto a ∈ Rn na˜o garante que a func¸a˜o f = (f1, . . . , fm) e´ diferencia´vel nesse ponto. Para sermos mais precisos enunciamos o 1.6 Teorema. Seja f : Rn → Rm uma func¸a˜o escrita como f = (f1, . . . , fm). Neste caso, se f1, . . . , fm sa˜o func¸o˜es de classe C 1, enta˜o f e´ diferencia´vel e a matriz jacobiana de f no ponto a e´ dada por (1.7). Exemplo. Se f : Rn → R e g : Rn → R sa˜o func¸o˜es diferencia´veis em a ∈ Rn, mostre que valem as seguintes regras de diferenciac¸a˜o: (i) (f + g)(a) = f ′(a) + g′(a); (ii) (fg)′(a) = (a) = g(a)f ′(a) + f(a)g′(a); (iii) Se g(a) 6= 0 enta˜o ( f g )′ (a) = −g(a)f ′(a)− f(a)g′(a) [f(a)]2 . De fato, temos que f ′(a) = (D1f(a) · · ·Dnf(a)) e g′(a) = (D1g(a) · · ·Dng(a)). Assim (f + g)′(a) = (D1(f + g)(a) · · ·Dn(f + g)(a)) = (D1f(a) +D1g(a) · · ·Dnf(a) +Dng(a)) = (D1f(a) · · ·Dnf(a)) + (D1g(a) · · ·Dng(a)) = f ′(a) + g′(a). 12 CAPI´TULO 1. DIFERENCIAC¸A˜O As demais propriedades sa˜o provadas similarmente. Dada uma func¸a˜o diferencia´vel f : Rn → R definimos o vetor gradiente de f em a ∈ Rn como grad f(a) = (D1f(a), . . . , Dnf(a)), ou seja, o vetor gradiente e´ o vetor cujas coordenadas sa˜o iguais a`s entradas da matriz jacobiana de f em a. A partir da equac¸a˜o (1.6) temos que Dvf(a) = f ′(a) · v = D1f(a)v1 + · · ·+Dnf(a)vn = 〈grad f(a), v〉. Quando |v| = 1 obtemos Dvf(a) = |grad f(a)| cos θ, (1.8) em que θ ∈ [0, pi] e´ a medida, em radianos, do aˆngulo entre v e grad f(a). A equac¸a˜o (1.8) implica que a derivada direcional Dvf(a) atinge seu valor ma´ximo quando θ = 0 (cosθ = 1) e o seu valor mı´nimo quando θ = pi (cos θ = −1). Por esse motivo dizemos que w = grad f(a)|grad f(a)| e´ a direc¸a˜o de maior crescimento da func¸a˜o e −w e´ a direc¸a˜o de maior decrescimento de f . Exemplo. Suponha que um inseto viaja em uma regia˜o onde a temperatura e´ uma func¸a˜o dada por T (x, y, z) = ex 2+y2+z2 . Ao atingir o ponto (0, 0, 1) nosso pequeno hero´i percebe que a temperatura esta´ alta demais. Em que direc¸a˜o ele deve fugir para que suas chances de sobreviver sejam as maiores poss´ıveis? Ele deve fugir na direc¸a˜o de maior decrescimento da temperatura, ou seja na direc¸a˜o de w = − grad f(a)|grad f(a)| . Um ca´lculo imediato mostra que grad f(0, 0, 1) = (0, 0, 2e), ou seja, w = −(0, 0, 1). 1.4 Func¸o˜es Impl´ıcitas Seja f : R2 → R uma func¸a˜o diferencia´vel e considere a equac¸a˜o f(x, y) = 0. Gostar´ıamos de saber quando essa equac¸a˜o define uma varia´vel, digamos a varia´vel y, como uma func¸a˜o diferencia´vel da varia´vel x. Em outras pala- vras, queremos saber se existe uma func¸a˜o diferencia´vel h : R → R tal que f(x, h(x)) = 0. Suponha inicialmente que uma tal func¸a˜o exista. Neste caso se consideramos a func¸a˜o g : R→ R2 definida por g(x) = (x, h(x)), 1.4. FUNC¸O˜ES IMPLI´CITAS 13 temos que (x, h(x)) = (f ◦ g)(x), logo, pela regra da cadeia temos que 0 = (f ◦ g)′(x) = ( D1f(x, h(x)), D2f(x, h(x)) ) · ( 1 h′(x) ) = D1f(x, g(x)) +D2f(x, g(x))h ′(x). Portanto, para que exista a func¸a˜o h com as propriedades mencionadas, devemos ter necessariamente que D2f(x, h(x)) 6= 0. Nesse caso h′(x) = −D1f(x, h(x)) D2f(x, h(x)) . O teorema da func¸a˜o impl´ıcita afirma que essa condic¸a˜o tambe´m e´ suficiente. Em outras palavras, se f(a, b) = 0 e D2f(a, b) 6= 0, enta˜o a equac¸a˜o f(x, y) = 0 determina y como uma func¸a˜o de x em uma vizinhanc¸a de a e, ale´m disso, a func¸a˜o assim definida de classe C∞. Vejamos. 1.7 Teorema (Teorema da Func¸a˜o Impl´ıcita). Seja f : R2 → R uma func¸a˜o de classe C∞ e seja (a, b) ∈ R2 tal que f(a, b) = 0. Enta˜o, se D2f(a, b) 6= 0 existe uma u´nica func¸a˜o cont´ınua h : (a− �, a+ �)→ R tal que f(x, h(x)) = 0. Ale´m disso, a func¸a˜o h e´ uma func¸a˜o de classe C∞ e h′(x) = −D1f(x, h(x)) D2f(x, h(x)) . (1.9) Os exemplos a seguir tornara˜o a discussa˜o acima um pouco mais clara. Exemplo. Considere a func¸a˜o f(x, y) = x2 + y2 − 1. A equac¸a˜o f(x, y) = 0 da´ um c´ırculo de raio 1 com centro na origem. Como D2f(x, y) = 2y, podemos determinar y em func¸a˜o de x na vizinhanc¸a˜ de um ponto f(a, b) = 0 se, e somente se, D2f(a, b) = 2b 6= 0, ou seja, b 6= 0. Observe que a condic¸a˜o b = 0 implica que 0 = f(a, 0) = a2 − 1, ou seja, a = ±1. Geometricamente, isso significa que na˜o podemos escrever y como uma func¸a˜o da varia´vel x em uma vizinhanc¸a dos pontos 1 e −1 (veja figura) Por outro lado, se f(a, b) = 0 e b 6= 0, enta˜o podemos encontrar uma u´nica func¸a˜o cont´ınua h : (a − �, a + �) → R, para algum � > 0 apropriado, tal que f(x, h(x)) = 0. A equac¸a˜o (1.9) nos da´ uma equac¸a˜o diferencial que deve ser satisfeita pela func¸a˜o h. Podemos determinar a func¸a˜o resolvendo essa equac¸a˜o. No caso em questa˜o temos h′(x) = −D1f(x, h(x)) D2f(x, h(x)) = − x h(x) , 14 CAPI´TULO 1. DIFERENCIAC¸A˜O cujas soluc¸o˜es sa˜o h(x) = √ 1− x2, quando b > 0 e h(x) = −√1− x2, quando b < 0. Observe que quando b > 0 a func¸a˜o h1 : (a− �, a+ �)→ R definida por h1(x) = { −√1− x2 , x ∈ (a− �, a)√ 1− x2 , x ∈ [a, a+ �) tambe´m e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o, mas na˜o e´ cont´ınua. Exemplo. A func¸a˜o f(x, y) = y3 − x. Temos que f(0, 0) = 0, mas como D2f(0, 0) = 0, essa equac¸a˜o na˜o define y como uma func¸a˜o diferencia´vel da varia´vel x em uma vizinhanc¸a de 0. De fato, se resolvemos a equac¸a˜o f(x, y) = 0 para a varia´vel y obtemos que y = 3 √ x, que e´ cont´ınua, mas na˜o e´ diferencia´vel em x = 0. Exemplo. Considere a func¸a˜o f(x, y) = x4 − y2 Mais uma vez f(0, 0) = 0 e D2f(0, 0) = 0. Neste caso a equac¸a˜o f(x, y) = 0 nos da´ que y2 = x4, ou seja y = ±x2. Assim, existe uma func¸a˜o h cont´ınua, definida em uma vizinhanc¸a de 0 e que satisfaz f(x, h(x)) = 0, entretanto essa func¸a˜o na˜o e´ u´nica. O teorema da func¸a˜o impl´ıcita pode ser enunciado em uma forma mais ge- ral, entretanto, a formulac¸a˜o que vimos acima sera´ suficiente para os nossos propo´sitos. O leitor interessado em mais informac¸o˜es pode consultar (??) 1.5 Ma´ximos e Mı´nimos Seja f : Rn → R uma func¸a˜o qualquer. Dizemos que a ∈ Rn e´ um ponto de ma´ximo local de f se existe um nu´mero � > 0 tal que para todo x ∈ B�(a) temos que f(x) ≤ f(a). Ale´m disso, x = a e´ um ponto de ma´ximo se f(x) ≤ f(a) para todo x ∈ Rn. Analogamente, a ∈ Rn e´ um ponto de mı´nimo local de f se existe um nu´mero � > 0 tal que para todo x ∈ B�(a) temos que f(x) ≥ f(a). Se f(x) ≥ f(a) para todo x ∈ Rn, enta˜o x = a e´ o ponto de mı´nimo Dizemos ainda que a ∈ Rn e´ um ponto cr´ıtico de f se a matriz jacobiana de f no ponto a e´ a matriz nula, ou seja f ′(a) = (D1f(a) · · ·Dnf(a)) = (0 · · · 0). 1.5. MA´XIMOS E MI´NIMOS 15 A equac¸a˜o acima implica que no ponto cr´ıtico a todas as derivadas parciais de f sa˜o nulas nesse ponto. Por exemplo todas as func¸o˜es f(x, y) = x2 + y2, g(x, y) = −x2 − y2 + 1, h(x, y) = y2 − x2, (1.10) teˆm pontos cr´ıticos no ponto (0, 0). 1.8 Teorema. Seja f : Rn → R uma func¸a˜o diferencia´vel. Se a ∈ Rn e´ um ponto de ma´ximo local ou de mı´nimo local de f , enta˜o f ′(a) = 0. Demonstrac¸a˜o. Neste caso a func¸a˜o γf : R → R definida por (1.1) tem um ponto de ma´ximo local ou de mı´nimo local no ponto t = ai. Da´ı Dif(a) = γ′f (ai) = 0. O teorema acima nos mostra que devemos procurar os pontos de ma´ximo e mı´nimo locais de uma func¸a˜o diferencia´vel f : Rn → R entre os seus eventuais pontos cr´ıticos. Observe que a condic¸a˜o f ′(a) = 0 na˜o implica que f e´ um ponto de mı´nimo ou ma´ximo locais. No caso da func¸a˜o h(x, y) = y2 − x2 a origem e´ um ponto cr´ıtico, mas na˜o e´ umponto de ma´ximo local nem de mı´nimo local pois f(0, 0) = 0 e temos que f(x, 0) < 0, f(0, y) > 0. O pro´ximo resultado nos mostra uma condic¸a˜o para determinar a natureza desses pontos quando n = 2. 1.9 Teorema. Seja f : R2 → R uma func¸a˜o de classe C2 e a ∈ Rn um ponto cr´ıtico de f . Defina A = D1,1f(a), B = D1,2f(a) e C = D2,2f(a). Neste caso a) Se AC −B2 > 0 e A < 0, enta˜o a e´ um ponto de ma´ximo local; b) Se AC −B2 > 0 e A > 0, enta˜o a e´ um ponto de mı´nimo local; c) Se AC −B2 < 0, enta˜o a e´ um ponto de sela; d) Se AC −B2 = 0, enta˜o o teste e´ inconclusivo. Exemplo. Vamos verificar a natureza dos pontos cr´ıticos das func¸o˜es (1.10). No caso da func¸a˜o f temos que A = D1,1f(0, 0) = 2, B = D1,2f(0, 0) = 0 e C = D2,2f(0, 0) = 2. Logo AC − B2 = 4 > 0 e A > 0, de onde conclu´ımos que (0, 0) e´ um ponto de mı´nimo local. De modo ana´logo verificamos que a origem e´ um ponto de ma´ximo local no caso da func¸a˜o g e um ponto de sela no caso de h (veja as figuras ??,?? e ??.) Ainda na˜o sabemos dizer em que condic¸o˜es uma func¸a˜o tem ponto de ma´ximo e mı´nimo. Nos casos em que for pedido que determinemos tais pontos ja´ presu- mimos a sua existeˆncia. 16 CAPI´TULO 1. DIFERENCIAC¸A˜O Exemplo. Encontre o ponto do paraboloide z = 4x2+y2 que esta´ mais pro´ximo do ponto (0, 0, 8) Precisamos encontrar o ponto (x, y, z) que minimiza a func¸a˜o d(x, y) = √ (x− 0)2 + (y − 0)2 + (z − 8)2 = √ x2 + y2 + (4x2 + y2 − 8)2. E´ fa´cil mostrar que, neste caso, podemos considerar a func¸a˜o f(x, y) = d2(x, y) (veja os exerc´ıcios no final do cap´ıtulo). Temos que (x, y) ∈ R2 e´ um ponto cr´ıtico se D1f(x, y) = D2f(x, y) = 0. Calculando as derivadas parciais de f obtemos D1f(x, y) = 2x+ 16x(4x 2 + y2 − 8) = 2x(32x2 + 8y2 − 63), (1.11) D2f(x, y) = 2y + 4y(4x 2 + y2 − 8) = 2y(8x2 + 2y2 − 15). (1.12) Da equac¸a˜o (1.12) temos x = 0 ou 32x2 + 8y2− 63 = 0 e da equac¸a˜o (1.12) vem y = 0 ou 8x2 + 2y2 − 15 = 0. Os pontos cr´ıticos sa˜o obtidos combinando os resultados acima de maneira que as duas equac¸o˜es anulem-se. Assim, os pontos cr´ıticos sa˜o (0, 0), (0, √ 15 2 ), (0,− √ 15 2 ), ( √ 63 32 , 0), (− √ 63 32 , 0). Note que na˜o existe um ponto (x, y) tal que 32x2 + 8y2 − 63 = 0 e 8x2 + 2y2 − 15 = 0, pois 4(8x2 + 2y2 − 15) = 32x2 + 8y2 − 60 = (32x2 + 8y2 − 63) + 3. Calculando o valor da func¸a˜o em cada um dos pontos acima temos (x, y) (0, 0) (0, √ 15 2 ) (0,− √ 15 2 ) ( √ 63 32 , 0) − √ 63 32 , 0) f(x, y) 8 31/4 31/4 127/64 127/64 Conclu´ımos que (0, √ 63 32 ) e (0,− √ 63 32 ) sa˜o os pontos de mı´nimo de f . Essa mesma conclusa˜o poderia ser obtida a partir do teste da segunda derivada. De fato, um ca´lculo simples mostra que as derivadas parciais de segunda ordem sa˜o D1,1f(x, y) = 192x 2 + 16y2 − 126 D1,2f(x, y) = 32xy D2,2f(x, y) = 16x 2 + 12y2 − 30. No caso do ponto (0, 0) temos queA = D1,1f(0, 0) = −126, B = D1,2f(0, 0) = 0 e C = D2,2f(0, 0) = −30. Isto implica que AC−B2 > 0 e A < 0, ou seja, (0, 0) e´ um ponto de ma´ximo local. Uma ana´lise semelhante mostrara´ que (0, √ 15 2 ) e (0,− √ 15 2 ) sa˜o pontos de sela e (0, √ 63 32 ) e (0,− √ 63 32 ) sa˜o pontos de mı´nimos locais. 1.6. VALORES EXTREMOS DE FUNC¸O˜ES EM DOMI´NIOS LIMITADOS17 1.6 Valores Extremos de Func¸o˜es em Domı´nios Limitados Agora vamos estudar os valores de ma´ximo e mı´nimo de uma func¸a˜o definida em um subconjunto A ⊂ R2. Dizemos que A ⊂ R2 e´ um conjunto aberto se para todo x ∈ A podemos encontrar um nu´mero δ > 0 tal que Bδ(x) ⊂ A. Um ponto x ∈ A e´ dito interior se existe δ > 0 tal que Bδ(x) ⊂ A. Portanto, um conjunto e´ aberto se todos os seus pontos sa˜o interiores. Dizemos que o conjunto e´ fechado se o seu complementar A−R2 for aberto. Por exemplo, por definic¸a˜o o conjunto R2 e´ aberto, pois toda bola com centro em um ponto x ∈ R2, qualquer que seja o seu raio, esta´ contida nesse conjunto. Tambe´m e´ fa´cil verificar que o conjunto vazio, denotado por ∅, e´ aberto. De fato, se na˜o fosse assim, dever´ıamos ser capazes de encontrar um elemento de ∅ que na˜o se ajustasse na definic¸a˜o acima. Como na˜o podemos encontrar tal elemento, somos forc¸ados a concluir que o conjunto vazio e´ aberto. Observe ainda que, como R2 e´ aberto, temos que R2 − R2 = ∅ e´ fechado. Analogamente, como ∅ e´ aberto, enta˜o R2 − ∅ = R2 e´ fechado. Conclu´ımos que R2 e ∅ sa˜o abertos e fechados. Chamamos atenc¸a˜o do leitor para esse fato, pois nesse ponto as definic¸o˜es matema´ticas divergem do senso comum. E´ fa´cil verificar que a bola aberta e´ um conjunto aberto e que a bola fechada e´ um conjunto fechado. Ale´m disso, o interior da bola fechada e´ a bola aberta. O ponto x ∈ R2 e´ um ponto de fronteira se, para qualquer nu´mero δ > 0, temos que a bola Bδ(x) conte´m pontos de A e do seu complementar. O conjunto de todos os pontos de fronteira de A e´ chamado de fronteira de A e denotado por frA. Pela definic¸a˜o podemos mostrar que o conjunto Cr(a, b) = {(x, y) ∈ R2 : (x− a)2 + (y − b)2 = R2} e´ a fronteira de BR(a, b) e de BR(a, b). Note que os pontos de fronteira de um conjunto podem pertencer a esse conjunto ou na˜o. Dizemos que um subconjunto A ⊂ R2 e´ limitado se dado x ∈ A podemos encontrar um nu´mero R > 0 tal que A ⊂ BR(x). Dizemos que A e´ compacto se e´ fechado e limitado. Por exemplo, a bola fechada e´ um conjunto compacto, pois e´ fechada e esta´ contida nela mesma. Definic¸o˜es ana´logas a`s dadas acima aplicam-se para subconjuntos de Rn. 1.10 Teorema. Se uma func¸a˜o cont´ınua esta´ definida em um conjunto com- pacto, enta˜o ela possui ponto de mı´nimo e ponto de ma´ximo nesse conjunto. Os intervalos fechado sa˜o conjuntos compactos em R. Dada uma func¸a˜o cont´ınua f : [a, b]→ R para determinar o seu ma´ximo devemos considerar (i) Os pontos cr´ıticos de f , isto e´, os pontos tais que f ′(x) = 0; (ii) Determinar os pontos onde f na˜o e´ deriva´vel; (iii) Os pontos de fronteira a e b. 18 CAPI´TULO 1. DIFERENCIAC¸A˜O Em seguida calculamos o valor da func¸a˜o em cada um desses pontos para deter- minar o ponto de ma´ximo e o ponto de mı´nimo de f . Em geral, consideramos apenas func¸o˜es deriva´veis, logo, na˜o precisamos nos preocupar com com os pon- tos de (ii). Algo semelhante ocorre no caso de func¸o˜es de va´rias varia´veis. O problema e´ que, nesse u´ltimo caso, a fronteira do domı´nio de f pode conter um nu´mero infinito de pontos. Para contornar esse problema podemos parametrizar a fron- teira e usar o me´todo descrito acima para func¸o˜es de uma varia´vel. Vejamos o exemplo a seguir. Exemplo. Calcule os pontos de ma´ximo e mı´nimo da func¸a˜o f(x, y) = x2+2y2 definida no disco D = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 6 1}. Analisamos separadamente os pontos interiores e de fronteira do conjunto D. No caso dos pontos interiores podemos usar o teorema 1.8, pois, observando a sua demonstrac¸a˜o fica evidente que precisamos apenas que a func¸a˜o f esteja definida em uma pequena bola centrada nesse ponto. Assim os cadidatos a pontos de ma´ximo ou mı´numo de f no interior do disco D sa˜o os pontos tais que f ′(x, y) = 0, ou seja, o ponto (0, 0). Para o caso dos pontos de fronteira notamos que a func¸a˜o γ : [0, 2pi]→ ∂D, definida por γ(t) = (cos(t), sen(t)) e´ uma func¸a˜o diferencia´vel e sobrejetiva. A restric¸a˜o de f a` fronteira de D e´ a func¸a˜o f ◦ γ : [0, 2pi]→ R. Podemos determinar os pontos cr´ıticos dessa func¸a˜o usando os me´todos do ca´lculo de func¸o˜es de uma varia´vel. Como f ◦ γ(t) = [cos(t)]2 + 2[sen(t)]2 = 1 + sen2(t), as soluc¸o˜es da equac¸a˜o 0 = f ′(t) = 2 sen(t) cos(t) = sen(2t) sa˜o 0, pi2 , pi, 3pi 2 e 2pi. A esses pontos do intervalo [0, 2pi] correspondem os pontos da fronteira (1, 0), (0, 1), (−1, 0) e (0,−1), respectivamente. Note que, por acaso, os pontos da fronteira do intervalo[0, 2pi] surgiram como soluc¸o˜es de f ′(t) = 0. Se isso na˜o ocorresse dever´ıamos considera´-los separadamente na determinac¸a˜o dos pontos extremos da func¸a˜o. Calculando os valores da func¸a˜o em cada um pos pontos obtidos vem (x, y) (0, 0) (1, 0) (0, 1) (−1, 0) (0,−1) f(x, y) 0 1 2 1 2 Conclu´ımos que (0, 0) e´ o ponto de mı´nimo e (0, 1) e (0,−1) sa˜o os pontos de ma´ximo de f . Nem sempre e´ fa´cil parametrizar a fronteira de um conjunto. Entretanto, muitas vezes ela e´ dada como o conjunto de n´ıvel de um outra func¸a˜o. Nesses casos podemos usar o resultado a seguir 1.6. VALORES EXTREMOS DE FUNC¸O˜ES EM DOMI´NIOS LIMITADOS19 1.11 Teorema (Multiplicadores de Lagrange). Sejam f : R2 → R e g : R2 → R func¸o˜es de classe C∞. Suponha que f , quando restrita a` curva de n´ıvel g−1(k), tem ma´ximo local (ou mı´nimo local) no ponto (a, b) e que g′(a, b) 6= 0. Neste caso, existe um nu´mero real λ tal que f ′(a, b) = λg′(a, b). Demonstrac¸a˜o. Como (a, b) ∈ g−1(k), a func¸a˜o i(x, y) = g(x, y) − k e´ tal que i(a, b) = 0. Temos que g′(a, b) 6= 0, portanto, podemos assumir sem perda de generalidade que D2g(a, b) 6= 0. Assim, D2i(x, y) = D2f(a, b) 6= 0 e, pelo teorema da func¸a˜o impl´ıcita, existe uma func¸a˜o h : (a− �, a+ �)→ R, de classe C∞, tal que i(x, h(x)) = 0. A func¸a˜o γ : (a − �, a + �) → R2, definida por γ(x) = (x, h(x)), e´ de classe C∞. Pela regra da cadeia temos que 0 = (g ◦ γ)′(a) = g′(a, b) · γ′(a). Por outro lado, como (a, b) e´ um ponto de ma´ximo local (ou ponto de mı´nimo local) para a func¸a˜o f restrita a` curva de n´ıvel g−1(k), conclu´ımos que f ◦ γ : (a − �, a + �) → R tem ponto de ma´ximo local (ou ponto de mı´nimo local) em a, isto e´, 0 = (f ◦ γ)′(a) = f ′(a, b) · γ′(a). As duas u´ltima relac¸o˜es implicam que os vetores gradientes de f e de g sa˜o ortogonais ao vetor γ′(a), logo devem ser paralelos. Isto significa que existe um nu´mero real λ tal que f ′(a, b) = λg′(a, b). Observe que o teorema acima nos da´ treˆs equac¸o˜es D1f(a, b) = λD1g(a, b) D2f(a, b) = λD2g(a, b) g(a, b) = k, (1.13) com as quais podemos determinar os treˆs nu´meros a, b e λ. Os pontos (a, b) sera˜o os candidatos a pontos de mı´nimo e ma´ximo de f sobre g−1(c). Vejamos um exemplo Exemplo. Determine os pontos que esta˜o mais pro´ximos e mais distantes da origem na curva C = {(x, y) ∈ R2 : x6 + y6 = 1}. Devemos determinar os pontos de ma´ximo e mı´nimo da func¸a˜o distaˆncia d(x, y) = √ x2 + y2 restrita a` curva C. Para isso, basta analisar a func¸a˜o f(x, y) = d2(x, y) = x2 + y2 restrita a` curva de n´ıvel g−1(1), onde g(x, y) = x6 + y6. Note que g′(x, y) = ( 6x5 6y5 ) , isto e´, g′(x, y) = 0 apenas se x = y = 0. Como o ponto (0, 0) na˜o pertence a` curva C, temos que g′(x, y) 6= 0 para todo ponto de g−1(1). 20 CAPI´TULO 1. DIFERENCIAC¸A˜O Agora passamos ao sistema (1.13), neste caso dado por 2x = 6λx5 2y = 6λy5 x6 + y6 = 1 , ou seja, 2x(1− 3λx4) = 0 2y(1− 3λy4) = 0 x6 + y6 = 1 . Da primeira equac¸a˜o vem que x = 0 ou 1− 3λx4 = 0. Da segunda obtemos que y = 0 ou 1 − 3λy4 = 0. E´ claro que na˜o podemos ter x = y = 0, pois nesse caso, a terceira equac¸a˜o na˜o se verifica. Por outro lado, se x = 0, usando a terceira equac¸a˜o temos que y = ±1. Analogamente se y = 0 temos x = ±1. Nos dois casos λ = 13 . Agora suponha que 1 − 3λx4 = 0 = 1 − 3λy4. Como λ 6= 0 (caso contra´rio ter´ıamos x = y = 0) conclu´ımos que x4 = 13λ = y 4, de onde vem que y = ±x. Substituindo na terceira equac¸a˜o encontramos x = ± 6√1/2. Assim, encontra- mos mais quatro soluc¸o˜es, a saber, ( 6 √ 1 2 , 6 √ 1 2 ), ( 6 √ 1 2 ,− 6 √ 1 2 ), (− 6 √ 1 2 , 6 √ 1 2 ), (− 6 √ 1 2 ,− 6 √ 1 2 ). (1.14) Devemos ainda considerar os casos onde x = 0, 1 − 3λy4 = 0 e y = 0, x = 1−3λx4, entretanto, nessas situac¸o˜es obtemos novamente as soluc¸o˜es (1, 0), (−1, 0), (0, 1) e (0,−1). Como f(±1, 0) = f(0,±1) = 1 e f(± 6 √ 1 2 ,± 6 √ 1 2 ) = 3 √ 22 > 1, conclu´ımos que (1, 0), (−1, 0), (0, 1) e (0,−1) sa˜o pontos de mı´nimo e (1.14) sa˜o os pontos de ma´ximo de f . Informamos ao leitor que o teorema de Lagrange tambe´m e´ va´lido para func¸o˜es com mais de duas varia´veis. Por exemplo, no caso de func¸o˜es de treˆs varia´veis nosso sistema tem quatro equac¸o˜es D1f(a, b, c) = λD1g(x, y, z) D2f(a, b, c) = λD2g(x, y, z) D3f(a, b, c) = λD3g(x, y, z) g(a, b, c) = k , (1.15) a partir das quais podemos determinar x, y, z e λ. Ale´m disso, em algumas situac¸o˜es pra´ticas, a func¸a˜o f pode estar restrita a um conjunto que e´ dado pela intersecc¸a˜o de dois (ou mais!) conjuntos de n´ıvel de outras func¸o˜es. Alguns desses casos sera˜o abordados nos exerc´ıcios.
Compartilhar