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METODOLOGIA DA PESQUISA EM ESTUDOS LITERÁRIOS
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intertextualidade; vale ressaltar aqui a relevância do tema inter- textualidade, com base nas autoras citadas: Por fim, também acreditamos que o tema da intertextualidade, abordados nos termos de um diálogo, como o que foi propos- to neste livro, é extremamente frutífero porque radicalmente intertextual, ao mesmo tempo em que explicita as diferenças, revela as semelhanças de pontos de vista, de trajetórias e, no dizer de Bakhtin, de personalidades (KOCH; BENTES; CA- VALCANTE, 2012, p. 147). 3.3 Considerações finais Os estudos literários mostram-se uma fonte de associação diversificada e infinita quando se relaciona a literatura com outras interfaces do conhe- cimento, igualmente ricas, que servem de transporte às relações humanas; a importância da análise literária no campo da intertextualidade faz-se pre- sente desde os postulados de Bakhtin, de onde vemos a linguística textual nascer, até os textos divulgados na internet, onde a intertextualidade acon- tece tão espontaneamente. Evidenciando a necessidade de se estudar a li- teratura comparada e a intertextualidade, que nasceu dentro dessa, temos inúmeras publicações com este tema. Da noção de “diálogo” estudada por Bakthin, Kristeva chegou à noção de “intertextualidade” com a finalidade de designar o processo de produtivida- de do texto literário. Segundo Kristeva (1979 apud CARVALHAL, 2006), a intertextualidade designa, sobretudo, o trabalho de transformação e assimi- lação de vários textos. Carvalhal (2006) encerra a questão sobre o “diálogo” afirmando a dificul- dade de relação entre os textos, a qual compete o comparatista investigá-los numa perspectiva sistemática de leitura intertextual. A autora apresenta, 50 como exemplo de intertextualidade, a obra poética de Drummond na qual observa a atualização de uma obra em outra. No mais: Todo texto é um intertexto; outros textos estão presentes nele, níveis variáveis, sob formas mais ou menos reconhecíveis; os textos da cultura anterior e os da cultura circundante, todo texto é um tecido novo de citações acabadas. Passam no tex- to, redistribuídos nele, pedaços de códigos, fórmulas, modelos rítmicos, fragmentados de linguagens sociais etc., pois, sempre há linguagens antes do texto e ao redor dele (BARTHES, 1985, p. 312 apud NITRINI, 2015, p. 165). Notamos assim, com base nos estudos acerca da intertextualidade, que todo texto permite que se verifique a presença de outros textos nele (inter- textos), pois a literatura é um rasgar-se e emendar-se, um sistema cíclico de infinitas possibilidades de leitura, pesquisa e ensino-aprendizagem. Referências CARVALHAL, Tania Franco. Literatura comparada. São Paulo: ática. Série Princípios, 2006. ______. Literatura comparada no mundo: questões e métodos. Porto Alegre: L&PM, 1997. COUTINHO, Eduardo F. Literatura Comparada na América Latina: ensaios. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2003. ______; CARVALHAL, Tania Franco. Literatura comparada: textos fundadores. 2. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2011. GAIMAN, Neil; VESS, C. Sandman 75: a tempestade. Tradução de Estúdio Arcádia. São Paulo: Globo, 1998. 51 KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Introdução à Linguística Textual: trajetória e grandes temas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2015. ______; BENTES, Anna Christina; CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Intertextualidade: diálogos possíveis. São Paulo: Cortez, 2012. ______; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2015. NITRINI, Sandra. Literatura comparada: história, teoria e crítica. 3. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015. ______. Teoria literária e literatura comparada. Estudos Avançados, v. 8, n. 22, 1994. Dispo- nível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v8n22/68.pdf>. Acesso em: 1 maio 2017. PEREIRA, Maurício Gomes. Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. Rio de Ja- neiro: Guanabara-Koogan, 2011. SHAKESPEARE, William. Obras escolhidas (a tempestade). Tradução de Beatriz Viégas- Faria. São Paulo: L&PM, 2016. SILVA, Vítor Manuel de Aguiar. Teoria da Literatura. 8 ed. Coimbra: Almedina, 2011. 53 LITERATURA COMPARADA: TEORIA E MÉTODO Ana Fabíola Silva dos Santos Monike Rabelo da Silva Lira 4.1 Considerações iniciais Neste texto, nos propusemos a tratar sobre os estudos de literatura com- parada, no que se refere a três aspectos: panorama histórico, teoria e mé- todo, mediante os pressupostos teóricos de Carvalhal (2006) em Literatu- ra comparada, Coutinho e Carvalhal (2011) na obra Literatura comparada: textos fundadores, Nitrini (2015) em Literatura comparada: história, teoria e crítica e Silva (2011) em Teoria da Literatura, com o intuito de analisar as contribuições que os estudos comparatistas trazem para a pesquisa científica literária, sobretudo como método de pesquisa. Quando pensamos num primeiro momento sobre o que consiste e estuda a literatura comparada, remetemo-nos à ideia de comparação. E esta respos- ta que nos damos é coerente, porém não é satisfatória, na medida em que esta perspectiva teórica e metodológica vai muito além de uma atividade mental de comparação de semelhanças e diferenças, de autores e obras, sem qualquer organização. Ao longo deste texto, intentamos responder a tais questionamentos e apresentar a literatura comparada como uma afirmação para se estudar literatura. 4.2 Literatura comparada: um estudo de afirmação e necessidade da pes- quisa literária A expressão “literatura comparada” surge no século XIX com o intuito de comparar estruturas, de modo a extrair delas leis gerais da literatura. No 4 54 entanto, é somente no começo do século XX que ela passa a ser reconhecida como disciplina, tornando-se assim, objeto de estudo na Europa e na Amé- rica do Norte. No Brasil, a partir dos anos 70, a pesquisa em literatura com- parada teve um relevante impulso, devido à introdução dos cursos regulares de pós-graduação e, desde então, a área vem despertando o interesse cres- cente entre professores e alunos, sobretudo pelo rico potencial investigatório que oferece, por sua natureza interdisciplinar. A literatura comparada é uma perspectiva teórico-literária que estuda a literatura por meio da comparação, no que concerne às diferentes perspec- tivas literárias, de forma multidisciplinar, dialogando com a história, socio- logia, psicologia, filosofia, bem como outras disciplinas afins. Além disso, o comparatismo consiste na confrontação literária de duas ou mais obras, em uma visão ampla, a qual investiga a construção de duas ou mais persona- gens, a biografia de seus autores, suas ressonâncias estéticas, suas referências para a produção de suas obras, o contexto histórico-social em que se encon- tram inseridas, o valor que possuem para a crítica literária, e outros aspectos estudados minuciosamente pela literatura comparada: É a arte metódica pela busca de laços de analogia, de parentesco e de influência, de aproximar a literatura dos outros domínios da expressão ou do conhecimento, ou então os fatos e os textos literários entre si, distantes ou não do tempo ou no espaço, desde que pertençam a várias línguas ou culturas, que façam parte de uma mesma tradição, para melhor descrevê-los, compreendê-los e saboreá-los (PICHOIS; ROUSSEAU, 1967, p. 173-185 apud COUTINHO; CARVALHAL, 2011, p. 233). Vale esclarecer que, conforme Carvalhal (2006, p. 7), a literatura com- parada não é apenas sinônimo de “comparação”, pois o que a caracteriza é o emprego sistemático da comparação, e não uma mera tentativa de estudo que utiliza da comparação como pretexto para fins diversos. Para os estudos comparatistas, a comparação converte-se em operação fundamental da aná- lise, tornando-se um método. 55 Ilustramos o entendimento a respeito das definições de literatura compa- rada, baseando-nos em Coutinho