e Consuelo F. Santiago. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário. São Paulo: Contexto, 2014. ______. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2012. FAZENDA, Ivani (Org.) Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez, 2010. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2017. LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber. Adaptação: Lana Mara Siman. Tradução: Heloisa Monteiro e Francisco Settineri. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. YIN, Robert. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução: Cristhian Matheus Her- rera. Porto Alegre: Bookman, 2015. 231 IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO NOS TEXTOS LITERÁRIOS Tayse da Silva Serrão 18.1 Introdução A língua como instrumento de expressão humana vai além do ato comu- nicativo. Ela constitui o homem, pois ao mesmo tempo em que seu uso é singular em cada indivíduo, tem sua constituição coletiva, social e cultural. É por essas tantas situações que pela língua também se faz arte. Dessa forma, a literatura se apresenta como uma das possibilidades de observação da língua e das relações de linguagem, identidade e memória que constituem uma sociedade em toda sua carga histórica e cultural. Den- tre esses temas, elege-se a identidade para pensar suas marcas nos textos li- terários, mas também aquilo que está além das linhas de leitura e significam em outros espaços. A ideia de identificação/pertencimento persegue-nos nas mais distintas e até simples circunstâncias das quais nos passam despercebidas. Escolher um grupo social, como torcer por um time de futebol, por exemplo, traz marcas históricas, ideológicas e de memória afetiva com as quais nos identificamos, por isso mesmo justificam a predileção de uma em detrimento da outra. Trabalhar a questão da identidade é compreender que o conceito, bem como sua representação está em contínuo processo de construção. Mas saber compreendê-la em seus campos de disputa social – gênero, nação, etnia, e classe – é fundamental, pois no processo de transformação social as formas tradicionais de identificação vêm sendo postas em xeque o que ocasiona novas perspectivas nessa abordagem. 18 232 Assim, algumas maneiras de pensar a identidade vieram a partir do olhar social, linguista e psicanalítico. Autores como Kathryn Woodward, Tomaz Tadeu da Silva e Stuart Hall analisaram, cada qual no seu viés, a imbricação da identidade e diferença relativas aos estudos culturais. Para todos eles, a identidade é marcada pelas diferenças, uma vez que, afirmando-se algo, automaticamente nega-se outro. Essas diferenças são da- das pelos símbolos, emblemas ou signos que, na perspectiva da identidade nacional, decorrem do objeto de maior representação para um povo – o totem, a bandeira; o signo que distingue um dos outros, uma marca visível de personalidade e daquilo que faz parte do clã: homens, animais ou coi- sas (OLIVEN, 2016, p. 126). Entende-se, num processo metonímico, que a bandeira é a pátria. Portanto, em qualquer lugar do mundo, se um brasileiro vir a bandeira do Brasil a reconhecerá como representação do seu lugar de origem, a sua casa. Ao pensar identidade como uma afirmação do ser, tem-se a impressão de que ela é autônoma e autossuficiente. Todavia, a nacionalidade só pode ser afirmada porque outra é negada. Somos brasileiros porque existem outras nações com outros costumes, mitos e culturas. Logo, somos o que somos pela diferença. A correlação simbólica de identidade e diferença é produzida pela lin- guagem. Em Saussure (ano?), um signo não pode ser reconhecido isolado do seu sistema linguístico, ou seja, um signo não tem valor absoluto. Ele depende dos demais signos para ter um significado, logo, o valor significa- tivo de casa só pode sê-lo porque não é um carro. Aquilo que os designa é a diferença entre si. Há de se pensar também nas constantes mudanças de significado que os signos vão adquirindo. Não existe valor absoluto dentro do sistema lin- guístico, tampouco fora dele. Em outras palavras, a língua é um sistema de diferenças. Essa característica da linguagem é relevante para entender o fun- cionamento das identidades, ambas são instáveis, pois, mudam de acordo com a necessidade de forma natural ou motivada. A terceira perspectiva em relação à identidade é a psicanalítica. Hall (2006) descreve a identidade através da falta freudiana e o desejo lacaniano. Nesse aspecto, a identidade é calcada sempre naquilo que lhe falta. Para esse 233 autor, o assujeitamento à identidade acontece pela submissão inconsciente aos processos culturais. Dadas as condições de pensar a identidade e as diferenças, aproximamos essas questões do texto literário, afim de verificar nos sujeitos representados nas obras, o valor identitário propondo pensar que o sujeito se constitui de micro identidades. A exemplo desta abordagem, consideraremos os valores identitários em Macunaíma como afirmação ou negação de uma identidade que pode refletir o processo social para além da obra. Não obstante, este trabalho objetiva o aproveitamento universitário por meio de teóricos, obras e diálogos em análise. Àqueles que, de alguma for- ma, buscam conhecimento e interesses na abordagem sobre identidade em interface com a literatura, façam deste trabalho o início de suas reflexões. 18.2 Propostas Teóricas 18.2.1 O herói sem nenhum caráter Andrade (2015) em seu primeiro prefácio confessa a sua preocupação com o caráter brasileiro. Não entendendo caráter como princípio de mo- ralidade, mas uma entidade psíquica permanente manifesta na língua, na história, nos costumes, tanto no bem quanto no mal. “O brasileiro não tem caráter porque não possui nem civilização própria nem consciência tradi- cional.” (ANDRADE, 2015, p. 191). Vê-se, desde então, uma preocupação com reconhecimentos de afirmação nacionalista, a busca da identidade como meio para consolidar uma nação fragmentada. Na perspectiva do autor e do contexto em que vivia, a necessidade de consolidar uma identidade centralizada, autônoma e unificada auxiliaria no reconhecimento da nação por outras consideradas desenvolvidas, por isso aparentar uma identidade definida e imutável era sinônimo de progresso social e econômico. Contudo, as noções de identidade que se desenvolviam revelaram nesse ideal apenas uma ilusória herança iluminista referente à 234 identidade: uma noção individualista do sujeito nascido com um núcleo es- sencial do qual jamais poderia modificar. Por meio da sátira, a rapsódia de Andrade demonstra que o caráter na- cional não está posto de maneira permanente, antes, desvela na narrativa o conjunto de costumes e símbolos representantes da identidade nacional composta por sua diversidade, uma vez que uma identidade só pode ser construída em relação contínua com a diferença. Sobre o aperfeiçoamento do conceito de identidade dado por Hall (2006, p. 11-12): O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o eu real, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais exteriores e as identidades que esses mundos oferecem. A identidade, nessa concepção sociológica, preenche o espaço entre o interior e o exterior– entre o mundo pessoal e o mundo público. [...] A identidade, então, costura (ou, para usar uma metáfora médica, sutura) o sujeito à es- trutura. Hall (2006) também considera a identidade à luz da psicanálise, quan- do desenvolve ideias sobre os processos de identificação a partir das ações subjetivas do sujeito que o identificam como uma pessoa e não outra. As reflexões do autor acerca da identificação dão-se pela teoria freudiana no contexto do complexo de Édipo concernente à figura do pai e da mãe tanto como representações do amor, quanto da competição. Em