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O processo de aquisição e aprendizagem de línguas e o bilinguismo

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0 
UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO 
RIO GRANDE DO SUL 
 
DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO 
 
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS – LÍNGUA INGLESA 
E RESPECTIVAS LITERATURAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O PROCESSO DE AQUISIÇÃO E APRENDIZAGEM 
DE LÍNGUAS E O BILINGUISMO” 
 
 
 
 
CELINA ELIANE FRIZZO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ijuí – RS 
2013 
 
1 
CELINA ELIANE FRIZZO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O PROCESSO DE AQUISIÇÃO E APRENDIZAGEM 
DE LÍNGUAS E O BILINGUISMO” 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Universidade 
Regional do Noroeste do Estado do Rio 
Grande do Sul, como requisito parcial 
para obtenção do Grau de Licenciatura 
em Letras – Língua Inglesa e Respectivas 
Literaturas. 
 
Orientadora: Taíse Neves Possani 
 
 
 
 
Ijuí – RS 
2013 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
Agradeço a ajuda da minha querida professora e 
orientadora Taíse, pela dedicação ao meu trabalho, 
pela paciência e por sempre ter me incentivado a 
fazer um bom trabalho. 
Agradeço aos demais professore, a meus familiares 
pela compreensão que tiveram durante o período ao 
qual me dediquei a este trabalho e o apoio que me 
deram durante os anos da faculdade. Aos meus 
colegas que foram um apoio e motivação para todas 
as horas; e a Deus por ter me dado forças para 
nunca desistir. Dedico a todos esta conquista com 
muita gratidão. 
 
3 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
A busca pelo domínio de uma segunda língua por parte de adultos e crianças vem 
aumentando cada vez mais. O domínio de uma segunda língua leva o indivíduo a se 
tornar um indivíduo bilíngue. Com base nisso, o objetivo deste estudo é apresentar 
as principais teorias de aquisição de língua e conceituar o termo bilíngue, bem como 
esclarecer outros aspectos que englobem o tema como educação bilíngue e o 
possível desenvolvimento cognitivo e cerebral de uma pessoa que se comunica e 
domina mais de uma língua. Para tanto será feito um estudo bibliográfico com os 
principais autores sobre o tema. Assim, ao explanarmos as teorias de aquisição de 
língua constatamos que a teoria de Stephen Krashen e suas cinco hipóteses é a 
teoria que melhor nos explica o processo de aquisição e aprendizagem de línguas, 
processos esses que são conceituadas e diferenciadas pelo autor. Já no que diz 
respeito ao bilinguismo, relatamos sua origem e expomos seus vários conceitos, 
chegando à conclusão de que um indivíduo bilíngue é aquele que consegue 
comunicar-se em mais de uma língua, dentro ou fora de sua comunidade linguística. 
E finalizando, encontramos pesquisas e evidencias que nos mostram que existem de 
fato vantagens cognitivas e cerebrais em indivíduos que são bilíngues. Desta forma, 
contribuímos para o estudo sobre segunda língua e o recente estudo sobre 
bilinguismo. 
 
Palavras-chave: aquisição; aprendizagem; bilinguismo; cognição; segunda língua. 
 
 
4 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The search by dominance of a second language by adults and children has 
increasing more and more. The dominance of a second language carries the 
individual to become bilingual individual. Basing on this, the goal of this study is to 
present the main theories of language acquisition and to conceptualize the bilingual 
term, as well as clarify the other aspects that encompass the theme as bilingual 
teaching and the possible cognitive and cerebral development of a person that 
communicates and domains more than one language. For both it will be done a 
bibliographic study with the main authors of the theme. Thus, explaining the theories 
of language acquisition we find that the theory of Stephen Krashen and his five 
hypotheses is the theory that better explains the language learning and acquisition 
process, which are reputable and differentiated by the author. Yet what talks about 
bilingualism, we relate its origin and shows its several concepts, drawing conclusion 
that a bilingual individual is the one who can communicate in more than one 
language, inside or outside his/her linguistic community. And ending, we find 
researches and evidence which show us that there are in fact cerebral and cognitive 
advantages in bilingual individuals. So we contribute for the study about second 
language and the recent study about bilingualism. 
 
Keywords: acquisition, learning, bilingualism, cognition; second language. 
 
 
5 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6 
1 AQUISIÇÃO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: 
CONCEPÇÕES TEÓRICAS ....................................................................................... 9 
1.1 CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES A RESPEITO DA SEGUNDA LÍNGUA ...... 10 
1.2 BEHAVIORISMO ................................................................................................ 12 
1.3 INATISMO ........................................................................................................... 13 
1.4 INTERACIONISMO ............................................................................................. 14 
1.5 TEORIA STEPHEN KRASHEN ........................................................................... 17 
1.5.1 A Distinção entre Aquisição e Aprendizagem .............................................. 18 
1.5.2 Da Ordem Natural ........................................................................................... 20 
1.5.3 Do Input .......................................................................................................... 21 
1.5.3.1 Características de um Ótimo Input ................................................................ 22 
1.5.4 Do Monitor ...................................................................................................... 23 
1.5.5 Do Filtro Afetivo ............................................................................................. 24 
1.5.6 Demais Aspectos Importantes da Teoria de Krashen ................................. 25 
2 O BILINGUISMO ................................................................................................... 27 
2.1 ORIGEM DO BILINGUISMO ............................................................................... 27 
2.2 DEFINIÇÃO DO TERMO BILÍNGUE ................................................................... 31 
2.3 EDUCAÇÃO BILÍNGUE ...................................................................................... 37 
3 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E CEREBRAL DE UM INDIVÍDUO 
BILÍNGUE ................................................................................................................. 41 
3.1 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO.................................................................... 41 
3.2 DESENVOLVIMENTO CEREBRAL .................................................................... 44 
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 50 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 52 
 
 
6 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O ser humano nasce depois de aproximadamente 36 semanas de gestação. 
Este recém-nascido necessita de muitos cuidados por parte de um indivíduo adulto, 
pois diferentemente dos animais, que nascem de forma acabada, o ser humano 
nasce de forma a ser desenvolvida. Muitas são as necessidades deste novo “ser”, 
muitos são os aspectos a serem desenvolvidos, como aprender a gatinhar, caminhar 
e desenvolver uma linguagem. Para o desenvolvimentodesta linguagem, que se 
realizará ao longo de sua vida, é necessário aprender a usar os signos linguísticos1 
da sociedade a qual pertence, podendo assim comunicar-se com os demais 
indivíduos. 
De acordo com Vygotsky (2009, p. 63) “... a função primordial da linguagem 
é comunicar, relacionar socialmente, influenciar os circundantes tanto do lado dos 
adultos quanto do lado da criança”. Assim, a linguagem nos dá o poder de trocar 
ideias, histórias, fatos e relatar nossos acontecimentos sem ter a necessidade da 
presença do objeto ou pessoa da qual estamos falando. Para este autor a função 
que a linguagem exerce é que nos distancia da forma animal e o que nos torna 
superiores em relação às demais espécies do reino, embora saibamos que existam 
formas de comunicação entre alguns animais, como, por exemplo, as abelhas, as 
formigas e podemos até dizer que um deles, o macaco2, se parece muito conosco, 
porém nenhum deles desenvolve o signo linguístico como a espécie humana, ou 
seja, a linguagem é aquilo que nos torna humano, uma atividade só do homem, que 
o auxilia na organização de seu mundo. 
 
1
O signo linguístico é a união do significado a um significante. 
2
Na obra A construção do pensamento e da linguagem (2009) de Vygotsky, podemos encontrar 
pesquisas feitas com chimpanzés em relação ao desenvolvimento da linguagem. 
 
7 
A linguagem nos faz interagir, é utilizada para comparar, lembrar-se de algo. 
Segundo Cagliari (2006), a função comunicativa da linguagem nem sempre será 
comunicar, podemos apenas informar. Ainda, segundo este autor, a linguagem pode 
ser usada como maneira de omitir uma verdade, ela pode dar informações errôneas, 
e pode ofender uma pessoa. Assim, é seu usuário que retêm poder sobre seu uso e 
fazendo dela ferramenta para determinados fins. A linguagem pode inclusive, 
estabelecer relações de poder. 
Segundo Cagliari (2006), a linguística “está voltada para a explicação de 
como a linguagem humana funciona e de como são as línguas em particular...”. Ela 
pode, segundo ele, realizar um trabalho descritivo ou pode contribuir com outras 
áreas, como ciências e artes. A Linguística se volta mais ao uso da língua pelo 
falante e seus demais aspectos. 
Desta maneira percebemos que a linguagem é algo extremamente 
importante na vida humana, uma necessidade sem a qual não saberíamos dizer 
como seria nossa vida, nossa sociedade. De acordo com Vygotsky (2009), pensando 
em fatores de necessidade, do que parte da linguagem e pensando nos dias atuais, 
o que percebemos acerca da linguagem é a questão do domínio de uma segunda 
língua. Atualmente a busca pelo domínio de uma segunda língua vem apresentando 
um grande crescimento. Mas qual seria o motivo disso? Como vimos a função da 
linguagem é a comunicação, assim se ao dominarmos nossa língua materna nos 
comunicamos com que a sociedade a qual pertencemos, uma segunda língua fará 
com nossa comunicação se amplie para sociedades além da qual estamos inseridos. 
Podemos também afirmar, que outro motivo que influencia a busca por uma 
língua estrangeira é a globalização. Com certeza, a comunicação mundial através da 
internet, as novas tecnologias, a facilidade de acesso a outras nações, tem causado 
essa necessidade. A população tem percebido que o domínio de uma língua franca, 
estreita relações, sejam elas de amizade com o intuito de conhecer novas pessoas, 
seja para ter relações comerciais internacionais, do que, como percebemos através 
de notícias e situações diárias, veem crescendo muito. 
A pessoa que domina uma segunda língua vem sendo muito mais valorizada 
e requisitada quando falamos em empregos. Ter no currículo o domínio de uma 
segunda língua já não é algo a mais e sim uma exigência. Devido a tudo que 
falamos até agora, a língua estrangeira é oferta obrigatória nas escolas, em todo o 
território brasileiro, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
8 
(LDB), ou seja, está presente em praticamente todas as salas de aula, pois é 
evidente que preparar o aluno para atuar na sociedade, é, além de ensinar-lhe 
conteúdos como matemática, português, é ensinar lhe uma segunda língua. 
Quando falamos em ensino de língua estrangeiras remetemos nossos 
pensamentos ao que fora dito até então. Porém o que nos instiga são outros 
aspectos, aspectos mais profundos, com vistas no processo de aprendizagem de 
uma segunda língua e o que este desencadeia no indivíduo bilíngue. 
Nosso principal objetivo é verificar qual é o processo de 
aquisição/aprendizagem de uma segunda língua e quais os principais aspectos 
referentes ao bilinguismo (processo consequente da aprendizagem de mais de uma 
língua), como expor sua origem, seu conceito, e se existem benefícios cognitivos e 
cerebrais. Para isso, faremos uso de uma pesquisa bibliográfica, buscando trazer os 
principais autores relacionados ao tema deste trabalho. 
 
9 
1 AQUISIÇÃO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: CONCEPÇÕES 
TEÓRICAS 
 
Como já fora dito, a linguagem possui um papel importante em nossas vidas. 
Muitos estudos já foram realizados nesta área, e o que trataremos neste capítulo, 
são as teorias sobre o aprendizado de línguas que foram elaboradas e propostas ao 
longo do tempo, influenciadas pela linguística, ciência que como já sabemos se 
ocupa de estudar a linguagem, e pela psicologia. De acordo com Schütz (2007) “as 
abordagens ao ensino de línguas se sucedem ao sabor das tendências de cada 
época.” Nosso olhar se dará com mais ênfase no que tange ao ensino de uma 
segunda língua, visto que, nosso objetivo maior é entender como que aprendemos 
uma segunda língua. 
Segundo Ligthbown & Spada (1999, p. 13) “in fact, one of the significant 
findings of second language acquisition research has been that there are important 
similarities between first and second language acquisition3.” (grifos nossos) 
Dessa maneira não teríamos como falar em aquisição de segunda língua, sem falar 
desse processo em primeira língua, visto que são muito parecidos. 
Em relação às diversas abordagens4 elaboradas até então, Chomsky (1998, 
p. 20) nos diz que “essas abordagens não se conflitam, elas se beneficiam 
mutuamente”. Cada abordagem define seu objeto de estudo e suas necessidades de 
pesquisa, e acrescenta-se do estudo de outras abordagens. 
Nosso estudo se deterá a falar sobre algumas abordagens: Behaviorismo, 
Inatismo e Interacionismo. Complementando o que já fora dito, 
 
Há diversas perspectivas sob as quais o aprendizado de uma língua seja 
ela a língua nativa ou a estrangeira, tem sido observada. As investigações 
de cunho linguístico tendem a escudar os mecanismos genéticos para a 
aquisição da linguagem (denominados “Gramática Universal”). As teorias 
comportamentais argumentam que a associação, a repetição e a imitação 
são fatores que viabilizam a aquisição da língua, e, portanto, se voltam para 
observações que deem conta da implementação de tais fatores como forma 
de provar suas crenças. As teorias cognitivistas, por sua vez, ressaltam a 
aquisição de esquemas, regras estruturais e significados são as 
características que definem o aprendizado de uma língua. (GALEFFI, 2003, 
p. 37). 
 
3
As traduções serão feitas pela autora ao longo do texto (TP): "Na verdade, um das significativas 
descobertas da pesquisa em aquisição de segunda língua tem sido de que há semelhanças 
importantes entre aquisição da primeira e de segunda”. 
4
O termo teoria é aqui substituído pelo termo abordagem, podendo usar hora um, hora outro. 
 
 
10 
Ainda, para além das teorias já referidas, trabalharemos com a teoria de 
Krashen, para a qualdaremos maior ênfase, pois, acreditamos que esta nos explica 
mais detalhadamente esse processo, e por estar mais voltado à aquisição de 
segunda língua. Este estudo será baseado principalmente na perspectiva da obra 
How Languages are Larned de Ligthbown & Spada (1999). 
 
1.1 CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES A RESPEITO DA SEGUNDA LÍNGUA 
 
Existem muitos casos de pessoas que, já na infância, aprenderam duas 
línguas, algumas inclusive, aprendem duas línguas ao mesmo tempo. Muitas 
pessoas acreditavam que isso não seria bom para as crianças, pois isso faria com 
que a criança confundisse as línguas, ou que não conseguiria aprofundar seus 
conhecimentos em nenhuma delas. Até hoje, existem pessoas que pensam assim. 
Devido a isso achamos importante esclarecer alguns desses equívocos, e baseados 
no estudo e na própria colocação de Ligthbown & Spada (1999). 
Em relação ao fato de se aprender duas línguas em um mesmo tempo as 
autoras defendem a ideia de que: 
 
The evidence suggests that, when simultaneous bilinguals are in contact 
with both languages in a variety of settings, there is every reason to expect 
that they will progress in their development of both languages at a rate and 
in a manner which are not different from those of monolingual children
5
. 
(LIGTHBOWN & SPADA, 1999, p. 03). 
 
Assim, não há motivos para não desafiar e não encorajar uma criança a falar 
duas línguas. As autoras ainda expõem questões que afirmam isso ainda mais. Para 
elas quando uma criança aprende uma língua em seu ambiente familiar, e é por 
meio desta que sabe se comunicar, ao frequentar uma escola onde se fala outra 
língua, a criança recebe um “corte” em sua primeira língua. Isso fará com que ela 
perca a linguagem da família sem tê-la dominado. Desta forma, ela não estará 
dominando a segunda língua e não continuará a desenvolver a primeira. 
 
 
5
TP: A evidência sugere que, quando bilingues simultâneos estão em contacto com ambos os idiomas 
em uma variedade de configurações, existe muitas razões para esperar que eles irão avançar no 
desenvolvimento de ambas as línguas, a um ritmo e de um modo que não são diferentes das crianças 
monilingues. 
11 
Por parte da escola, ainda será pedido que os pais parem de falar a língua 
que falam em casa e se concentrem na “nova língua” desta criança, que é a 
majoritária. Nestes casos, porém, é importante que a família continue falando entre 
si a língua materna6, para pelo menos a criança manter a compreensão da mesma. 
Não há evidências de que o cérebro infantil tenha capacidades ilimitadas, de 
forma que o conhecimento de uma língua não diminuiria a aprendizagem de uma 
nova língua, ou seja, nem a criança, nem o adulto, esqueceriam os conhecimentos 
que já adquiriu em uma língua ao aprender outra. Crianças que têm oportunidades 
de aprender múltiplas línguas e mantê-las em suas vidas devem ser encorajadas a 
aprendê-las, sendo o mesmo caso para adultos. 
A aprendizagem entre crianças e adultos difere em alguns pontos, pois 
crianças normalmente aprendem sem objetivos, sem benefícios e sem os 
conhecimentos sobre a língua que um adulto já possui. Além disso, crianças não 
apresentam nervosismo ao tentarem usar a nova língua e não se preocupam com os 
erros ocorridos. Já adultos e adolescentes consideram a tentativa de fala, muitas 
vezes, uma ação estressante quando não conseguem proferir sentenças claras e 
corretas. Crianças tendem a se “arriscar” mais na nova língua, enquanto aprendizes 
mais velhos tendem a permanecer por um tempo em silêncio até terem de ser 
forçados a falar. (Ligthbown & Spada, 1999). 
As autoras alertam que para se desenvolver uma nova língua, é necessário 
já ter pelo menos adquirido uma língua. Este prévio conhecimento pode ser 
vantajoso em matéria de que o aprendiz já sabe como uma língua funciona. Por 
outro lado, deve-se perceber que o conhecimento de outra língua pode conduzir os 
aprendizes a fazer suposições incorretas sobre como a segunda língua funciona. 
Contudo, de acordo com Ligthbown & Spada (1999, p. 03) “there seems to 
be little support for the myth that learning more one language in early childhood 
slows down the child’s linguistic or cognitive development.7” Estas informações foram 
aqui colocadas para situar o leitor sobre o que o acontece com indivíduos que 
aprendem duas línguas e, já de antemão, esclarecer que a aprendizagem de mais 
de uma língua não é de forma alguma prejudicial a este ser. 
 
6
Também chamada língua familiar. 
7
"Parece haver pouco apoio para o mito de que aprender mais um idioma na primeira infância retarda 
o desenvolvimento linguístico e cognitivo da criança." 
12 
A seguir serão abordadas as três principais teorias de aquisição da 
linguagem. Segundo Schütz (2007), “muitas teorias sobre aprendizado de línguas já 
foram propostas, sempre diretamente influenciadas por duas ciências: a da 
linguística e a psicologia.” Essas abordagens atendem as especificidades da época 
em que foram elaboradas. Serão descritas as seguintes teorias: o Behaviorismo, o 
Inatismo e o Interacionismo. 
 
1.2 BEHAVIORISMO 
 
Em meados da década de 40 e 50 surge principalmente nos Estados 
Unidos, o behaviorismo, tendo como seu maior representante Skinner. Essa teoria 
afirmava que a aprendizagem de uma língua é o resultado de imitação (Ligthbown & 
Spada, 1999). Para os behavioristas qualquer aprendizagem é resultado da 
formação de hábitos, e isso acorre através de estímulo – resposta – reforço (ou a 
equação E  R  R). Para eles, o indivíduo recebe um estímulo do meio (de outro 
falante, por exemplo). Este estímulo faz com que haja uma resposta, se esta 
resposta estiver correta o indivíduo é encorajado a repeti-la até que a domine. Caso 
o indivíduo produza um erro ao invés do acerto, este será corrigido. Segundo a obra 
Abordagens, Métodos e Perspectivas Sócio Interacionistas do curso de 
Especialização para o quadro do Magistério da SEESP de São Paulo, o aprendizado 
linguístico, para essa teoria, é análogo a qualquer outro aprendizagem que o 
indivíduo necessite. 
Assim, pela paráfrase do exemplo da obra Abordagens, Métodos e 
Perspectivas, podemos entender que se uma criança em processo de aprendizagem 
de uma língua dizer “mamam” e o adulto lhe trouxer um prato com comida ela 
aprenderá que toda vez que quiser comer terá que dizer “mamam”. A isto se 
compara então, ao estímulo, resposta e reforço. Já se ela ao se referir ao “dvd”, no 
caso ao disco de vídeo, e ela falar “cvd” será corrigida, por dar como resposta um 
erro, não recebendo o reforço. De acordo com Ligthbown & Spada “... when parents 
do correct errors, children often ignore the correction, continuing to use their own 
ways of saying things8.” 
 
8
TP: “... quando os pais corrigem os erros, as crianças frequentemente ignoram a correção, 
continuando a usar sua própria maneira de falar as coisas”. 
13 
Para essa teoria segundo as mesmas autoras, Ligthbown & Spada, é mais 
fácil de aprender uma segunda língua que seja semelhante à língua materna. Do 
mesmo modo quando uma língua apresenta muitas diferenças, o aprendiz 
encontrará maior dificuldade em aprendê-la. 
Segundo Figueiredo (1995, p. 48) esta abordagem pode usar de técnicas de 
repetição exaustivas e intensivas de estruturas e exercícios de substituição, que 
promovem o estabelecimento de novos hábitos necessários para se aprender uma 
segunda língua. É através dessas incansáveis repetições que o aprendiz deixa de 
produzir erros. Esse tipo de exercício aparece até hoje em livros de aprendizagem 
de línguas,acreditando-se ainda que é a repetição que fará o indivíduo a aprender 
uma nova língua. 
Contudo, essa abordagem é uma explicação incompleta da aquisição da 
segunda língua e mesmo da aquisição da língua materna. (Lightbown & Spada, 
1994, p. 25 apud Figueiredo, 1995, p.48). O aluno, segundo Figueiredo (1995, p. 48) 
“aprende com a experiência, mas não somente da experiência, como comprovam 
tantas outras teorias” as quais veremos mais adiante. Além do que fora citado, o que 
mais deixa a desejar nesta abordagem é o fato de que, como um indivíduo é capaz 
de elaborar ou produzir, sentenças que nunca ouviu antes. Se um aprendiz falasse 
somente o que é repetido, a aprendizagem de uma nova língua seria um processo 
muito mais longo que o habitual. 
Ainda, nesta abordagem, o professor é o centro da aprendizagem, não 
interessa a história, a cultura, os hábitos e os conhecimentos que o aprendiz já 
adquiriu anteriormente. Tudo que o professor diz está correto, e não há possibilidade 
de críticas ou reflexões. 
 
1.3 INATISMO 
 
Noam Chomsky afirma, segundo Ligthbown & Spada, (1999, p. 15) “... that 
children are biologically programmed for language develops in the child in just the 
same way that other biological functions developed9.” O ato de desenvolver uma 
língua é para ele como o ato de aprender a caminhar, tendo para isso um período10 
 
9
“... que as crianças são biologicamente programadas para desenvolver uma língua na infância da 
mesma maneira que o desenvolvimento de outra função biológica...”. 
10
Período que Chomsky nomeia como “critical period”. 
14 
determinado para acontecer. Para Chomsky, a aquisição de uma língua é inato ao 
aprendiz, o qual nasce pré-disposto a adquirir uma língua. Porém é necessário que o 
ambiente em que este aprendiz está situado lhe dê base e condições, ai sim este 
desenvolverá uma língua. (Ligthbown & Spada, 1999, p. 16) 
O linguista em sua abordagem concebe a Gramática Universal (G.U), que 
seria uma pré-programação presente em um lugar no cérebro, com princípios que 
são comuns à linguagem. De acordo com Galeffi (2003, p. 43) é graças a G.U que 
“as crianças são capazes de criar representações mentais que ultrapassam o 
discurso que ouvem, e se assemelham muito às representações dos falantes da 
mesma língua.” É devido a isso, que as crianças produzem enunciados que nunca 
ouviram. 
Chomsky (1998) considera a linguagem como um “órgão da linguagem”, ou 
seja, assim como o ser humano nasce com demais órgãos que são fundamentais 
para sua existência, assim ocorra com a linguagem. Este órgão para ele, não 
poderia ser removido de um corpo. 
De acordo com Ligthbown & Spada, (1999) a teoria inatista não faz 
especificações claras a cerca da aprendizagem de uma segunda língua. Contudo, 
muitos linguistas explicam que a G.U é a melhor perspectiva para a aquisição de 
uma segunda língua. Já outros, afirmam que a G.U não guiaria a aquisição em 
indivíduos que passaram do período crítico para esta aquisição. 
Os inatistas, não veem o erro como um benefício. Para eles, na 
aprendizagem de uma segunda língua, a correção dos erros e informações 
metalinguísticas não mudariam e não afetariam profundamente o conhecimento 
sistemático da língua. 
 
1.4 INTERACIONISMO 
 
A terceira teoria é representada pelo filósofo e psicólogo suíço Jean Piaget 
(1896 - 1980). Ele procurou observar crianças e lactentes11 em suas brincadeiras e 
interações com adultos. Ele traçou o desenvolvimento cognitivo compreendendo as 
coisas como permanência do objeto. Os interacionistas se preocupam mais com o 
 
11
Crianças que já não são recém-nascidos, com até dois anos de idade. Fonte: 
http://www.dicionarioinformal.com.br/lactente/ 
15 
ambiente do que os inatistas, ambiente que forneça amostras da língua que se vai 
aprender. 
Para os interacionistas “... language acquisition focusses on the role of the 
linguistic environment in interaction with the child’s innate capacities in determining 
language development.12” (Ligthbown & Spada, 1999, p. 22). Assim, o que esta 
teoria nos diz é que o desenvolvimento da linguagem está voltado ao ambiente. Em 
suma, a linguagem é o resultado de uma ação complexa entre exclusivamente as 
características humanas e o ambiente em que ela se desenvolve. 
Piaget, de acordo com Ligthbown & Spada (1999), não via a língua como 
base num módulo na mente como Chomsky. Para ele a linguagem se desenvolve na 
infância e pode ser usada para representar o conhecimento que a criança tem 
adquirido com a interação física no seu ambiente. Constatamos isso na afirmação 
“the developing cognitive understanding is built on the interaction between the child 
and the things which can observed, touched and manipulated13” feita por Ligthbown 
& Spada (1999, p. 23). 
Essa teoria anos mais tarde, ganha a contribuição de Lew Vygotsky (1896-
1934), intelectual russo, que trabalhou na União Soviética, o qual possuía um amplo 
e diversificado conhecimento, atuando em áreas da psicologia, educação, medicina, 
direito, filosofia entre outras. Sua teoria também pode ser encontrada como teoria 
socioconstrutivista, sociointeracionismo entre outros. 
Segundo Ligthbown & Spada (1999, p. 23), “... Vygostky’s view differs from 
Piaget.”14 Piaget admitiu a hipótese do desenvolvimento da língua como um sistema 
de símbolos para expressar o conhecimento adquirido através da interação com o 
mundo do físico. Já para Vygotsky o pensamento era essencialmente o discurso 
internalizado, e esse discurso emerge com a interação social. Devido a isso, 
podemos dizer que Vygotsky conclui que, o desenvolvimento da linguagem dá-se na 
interação social. Em outras palavras, ele estruturou um sistema de pensamento 
tendo como base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo 
sócio histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse 
desenvolvimento. 
 
12
TP: "... aquisição da linguagem enfoca o papel do ambiente linguístico em interação com 
capacidades inatas da criança para determinar o desenvolvimento da linguagem”. 
13
“a compreensão cognitiva do desenvolvimento baseia-se na interação entre a criança e as coisas 
que pode ser observado, tocado e manipulado.” 
14
TP: “... a visão de Vygotsky difere de Piaget”. 
16 
 
Vygotsky referred to what the child could do in a supportive interactive 
environment, the child is able to advance to a higher level of knowledge and 
performance than he or she would be capable of independently. Vygotsky 
referred to what the child could do in interaction with another, but not alone, 
as the child’s zone of proximal development. He observed the importance of 
conversations which children have with adults and with other children and 
saw in these conversations the origins of both language and thought
15
 
(Ligthbown & Spada, 1999, p. 23) 
 
O que fora dito acima reforça o que vinha sendo mostrado e nos fala ainda 
sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal que como fora dito é o intervalo entre o 
que a criança consegue fazer sozinha e o que ela faz com a ajuda de outro 
indivíduo. É nesse espaço que o professor atua, criando situações para que a 
criança avance em seus conhecimentos permitindo que ela faça sozinha, o que 
antes só conseguiria fazer com a ajuda de um adulto. 
Um fato interessante é citado na obra Abordagens, Métodos e 
Perspectivas16: 
 
Piaget e Vygotsky convergem em vários aspectos de seus estudos. Como 
Vygotsky teve uma morte prematura e sua obra foi traduzida para o mundo 
ocidental tardiamente, Piaget somente leu os estudosde Vygotsky muito 
depois da morte desse estudioso. Tal fato não ocorreu com Vygotsky, que 
conheceu e leu a obra de Piaget. 
 
Por isso que, o que fora dito por Vygotsky em relação ao Piaget era uma 
correção do que este último havia postulado. Desta forma, resumidamente, a teoria 
sociocultural de Vygotsky assume que a aquisição ocorre na interação do aprendiz e 
do interlocutor, ao passo que outros modelos interacionistas assumem que a entrada 
(input) modificada, fornece ao aprendiz materiais linguísticos que são processados 
internamente e invisivelmente (Ligthbown & Spada, 1999, p. 44). 
 
 
 
 
15
TP: "Vygotsky se refere ao que a criança poderia fazer em um ambiente interativo de apoio, a 
criança é capaz de avançar para um nível mais elevado de conhecimento e desempenho do que ele 
ou ela seria capaz de forma independente. Vygotsky se refere ao que a criança pode fazer na 
interação com o outro, mas não só, como zona de desenvolvimento proximal da criança. Ele observou 
a importância das conversas que as crianças têm com os adultos e com outras crianças e viu nessas 
conversas as origens da língua e pensamento”. 
16
Livro do curso de Especialização para o quadro do Magistério da SEESP de São Paulo. 
17 
1.5 TEORIA STEPHEN KRASHEN 
 
Por volta da década de 80, o norte americano Stephen Krashen traz ao 
ensino de línguas, contribuições muito significativas e que mostram uma nova forma 
de pensar como um indivíduo aprende ou adquire uma língua. Como já fora dito, 
este estudo buscará detalhar esta teoria, visto que, nos dias atuais é ela que melhor 
define e elabora o estudo de aquisição e aprendizagem de uma segunda língua. 
Antes de iniciarmos a explanação desta teoria, gostaríamos de relatar duas histórias 
que Schütz (2007) nos conta sobre a aprendizagem de línguas e que nos mostrará a 
linha de pensamento de Krashen. 
A primeira delas17 nos conta a história de François Gouin, homem de meia 
idade que resolve aprender a falar alemão. Ele vai passar um período em 
Hamburgo, onde reside por um ano. Para aprender a nova língua, François se 
aprofunda numa série de tentativas de dominar o idioma através do estudo de 
gramáticas e decoreba. 
Chegando a Hamburgo, para sua decepção, François não entendia uma 
palavra que lhe era dirigida. De volta aos estudos, ele decora ainda mais listas de 
verbos e palavras, faz inúmeras traduções, porém, em nova tentativa, o resultado 
fora o mesmo. Assim, ele aceita o fracasso de um ano de estudo e retorna para 
casa. Contudo, ao retornar, ele descobre que seu sobrinho de três anos, durante o 
período que esteve fora, havia aprendido a falar, deixando de ser um neném sem 
expressão verbal. François questiona-se então: como seria isso possível? 
O segundo relato, muitos leitores que pesquisam sobre o tema de aquisição 
de língua já devem ter ouvido. Duas pessoas com as mesmas características 
(mesma idade, motivação, prévio conhecimento de língua...) resolvem aprender um 
novo idioma, o inglês. Uma delas se matriculou em um renomado cursinho de 
idiomas, e a outra foi morar com uma família para lá se envolver com alguma 
atividade. Passado algum tempo, as pessoas são questionadas a respeito de como 
anda o novo idioma. A resposta que temos do primeiro é de que o curso é bom, já 
avançou alguns níveis, aprendeu palavras e regras, mas na hora de produzir 
enunciados, sente-se trancado e limitado. 
 
17
História que o autor traduz da Obra The Art of Learning and Studying Foregn Languages, de Brown, 
1880, p. 43). 
18 
Já a segunda pessoa, depois de cerca de seis a doze meses de convívio, dá 
a seguinte resposta a mesma pergunta: de que desenvolveu uma boa fluência, 
pensa em inglês e se sente a vontade na presença de estrangeiros. Não reconhece, 
contudo, as regras do Perfect Tense, mas consegue usá-lo em suas conversas. 
Essas histórias como essas, é que embasam os estudos de Krashen. A bibliografia 
deste linguista compreende cerca de 350 trabalhos e livros publicados. Tornou-se 
mundialmente conhecido por formular a teoria de Aquisição de Segunda Língua, a 
qual de acordo com Ligthbown & Spada (1999), tem tido uma boa influência na 
prática de ensino de língua estrangeira. Segundo este mesmo autor, Krashen 
reivindica que sua pesquisa encontra um número diferente de domínios que 
constituem suas hipóteses, que são as seguintes; a primeira “a distinção entre 
aquisição e aprendizagem”, a segunda, “da ordem natural”, a terceira, “do 
input”, a quarta hipótese, “do monitor”, e a última hipótese, “do filtro afetivo”. A 
popularidade de seu trabalho faz com que muitos teóricos tomem o seu modelo 
como base para suas teorias e a criação de métodos e abordagens mais eficazes. 
(Oliveira, 2011, p. 336) 
A seguir iremos apresentar cada uma delas. Para esta apresentação, nos 
guiaremos, novamente, pela obra How Languages are Larned de Ligthbown & 
Spada (1999), além do trabalho de tradução do livro Principles and Practice in 
Second Language Acquisition? de Stephen D. Krashen, feito por Dr. José Carlos 
Paes de Almeida Filho18; obra de José Quaresma de Figueiredo19, e do trabalho de 
Marília Oliveira Varques Calegari20, além de outros trabalhos realizados nesta área. 
 
1.5.1 A Distinção entre Aquisição e Aprendizagem 
 
Para Krashen há duas maneiras para o aprendiz desenvolver o 
conhecimento em língua estrangeira: a aquisição e a aprendizagem (Ligthbown & 
Spada, 1999). Essa hipótese baseia-se na ideia de que aquisição e aprendizagem 
são dois fenômenos diferentes de origem e com finalidades diferentes, podendo 
 
18
Livre docente – IEL – Unicamp – Campinas – SP. Texto disponível em: 
http://www.doneforyou.com.br/padrao.aspx?texto.aspx?idcontent=240&idContentSection=1836 
19
Mestre em linguística pela Universidade Federal de Goiás. Professor assistente do departamento de 
letras da UFG. Texto disponível em: www.revistas.ufg.br/index.php/sig/article/viewFile/7380/5246. 
20
Texto disponível em: http://www.iel.unicamp.br/revista/index.php/tla/article/view/1962/1536 
19 
ocorrer simultaneamente (Almeida Filho, 2011), porém a aprendizagem não gera 
aquisição. A aquisição segundo Almeida Filho, 
 
... É um processo que ocorre a nível do subconsciente, funcionando pôr 
força de necessidade de comunicação enquanto impulso vital, uma função 
que o cérebro não pode evitar de cumprir ao ser exposto aos impulsos 
auditivos identificados como mensagem codificada em língua. 
 
A aquisição da segunda língua para Ligthbown & Spada (1999) dá-se da 
mesma maneira que adquirimos a primeira língua, e para isso é necessário amostras 
da língua que entendemos. Já aprendizagem, de acordo com Almeida Filho, 
“significa saber as regras, ter consciência delas, poder falar sobre elas, exigindo, 
portanto, um esforço consciente.” Desta forma, a aquisição tem haver em “saber” 
usar a língua enquanto a aprendizagem fala “sobre” a língua. Krashen considera a 
aquisição como um processo mais importante, pois para ele somente adquirindo 
uma língua é que teremos fluência nela. (Ligthbown & Spada, 1999) 
Assim, a aquisição se daria em um ambiente de imersão do sujeito que 
deseja desenvolver uma nova língua. Seria o caso de pessoas que buscam por 
experiências fora do seu país de origem. A aprendizagem, por sua vez, é o processo 
que se dá dentro de uma sala de aula, onde se tem pequenas amostras da língua e 
mais ênfase em regras gramaticais. 
Por isso que existem indivíduos que dominam uma segunda língua sem 
conhecerem nenhuma regra gramatical, enquanto existem outros que conhecem e 
dominam essas regras, masnão conseguem expressar-se, pois se preocupam muito 
em usar corretamente as regras que aprenderam. 
Existem teorias que propõe que somente crianças seriam capazes de 
adquirir uma nova língua, mas para a hipótese em questão, um indivíduo adulto é 
capaz de adquirir uma língua assim como uma criança, e são capazes de se 
tornarem fluentes como nativos, sem nenhum conhecimento sobre regras. Para isso, 
seria então o caso de imersão. Contudo, para Krashen é possível que mesmo dentro 
da sala de aula o professor proporcione e trabalhe de maneira que o aluno adquira a 
língua. 
Desta maneira, a distinção entre aquisição e aprendizagem faz-nos 
compreender as demais hipóteses, que se relacionam com estes dois importantes 
20 
processos, os completam e tornam seu entendimento mais claro. (Oliveira, 2011, p. 
338) 
 
1.5.2 Da Ordem Natural 
 
Está hipótese está ligada de forma mais direta à aquisição e não à 
aprendizagem. Vários estudos antecedem, corroboram e apoiam esta hipótese. 
Segundo Krashen citado por Almeida Filho, “a ordem natural, previsível, em que 
adquirimos as regras da língua materna também é seguida na aquisição da segunda 
língua”. Esta ordem parece não ter haver com o grau de complexidade das 
estruturas. 
Todavia, Krashen (1982, p. 13 apud Figueiredo 1995, p. 49-50) observa que 
a ordem de aquisição para uma segunda língua não segue a mesma ordem que a 
aquisição para a língua materna, deste modo, segundo Figueiredo (1995, p. 50) na 
aquisição de segunda língua, a ordem natural é diferente da observada na aquisição 
da mesma língua por falantes nativos. 
Tomamos o exemplo dado por Almeida Filho (2011), para melhor 
entendimento do que fora dito acima: 
 
... estudos da aquisição de inglês como Segunda língua revelaram que as 
regras tais como o do auxiliar (be) no progressivo (He is going ) e a cópula 
(be) são adquiridos mais cedo em inglês como Segunda língua 
enquanto que são mais tardios na aquisição de inglês como primeira 
língua. Mas em ambos os casos, o passado dos verbos irregulares 
(contrariando a ordem de ensino) precede o dos verbos regulares e os 
morfemas de 3ª pessoa singular e do possessivo são bem mais tardios. 
(grifos nossos). 
 
Ainda, é importante lembrar o que diz Callegari (2006, p. 92): “a ordem de 
aquisição de morfemas pode variar de acordo com a língua materna de cada 
aprendiz, dependendo do grau de diferenças entre a língua materna e a língua 
estrangeira que está sendo aprendida”. Ou seja, muito vai influenciar o grau de 
semelhança entre a língua que o aprendiz já sabe, para a que ele vai adquirir. 
 
 
 
 
21 
1.5.3 Do Input 
 
Esta hipótese baseia-se principalmente em observações do processo de 
aquisição. De acordo com Krashen em Figueiredo (1995) só adquirimos uma língua 
se tivermos amostras desta língua (Callegari, 2006) e se entendermos estruturas 
que estejam em um nível um pouco além do que já sabemos. Ou seja, a aquisição 
da língua ocorre, segundo esta hipótese, de forma gradual. Desta forma, para que a 
aquisição se processe é preciso que o input esteja um pouco além de estágio atual 
em que o indivíduo se encontra, quando adquire uma língua (Almeida Filho). 
Desta forma se a competência atual na língua é i, o input deverá conter 
informações linguísticas que estejam um pouco acima ou além do estágio em que se 
encontra o indivíduo, i + l. Será a compreensão destas mensagens novas, ainda não 
adquiridas que permitirão o crescimento linguístico do aprendiz (Almeida Filho). Por 
outro lado, essas informações serão compreendidas graças ao conhecimento de 
mundo, o conhecimento linguístico e ao contexto de situação que o aprendiz está 
inserido. 
Almeida Filho, afirma que: 
 
A força da hipótese do input está em que o foco deve ser na mensagem, na 
comunicação que se quer obter. O indivíduo que está adquirindo uma língua 
não está preocupado ou atento a forma ou estrutura da língua, o que quer 
dizer e sim, no uso que está fazendo dela o “o que” dizer. 
 
Para este mesmo autor, está é a explicação para a grande falha no ensino 
de línguas, uma vez que está centrado apenas na forma consciente de aprender 
uma língua, e em exercícios gramaticais exaustivos. Para ele, está forma errônea de 
ensinar, não levará o indivíduo à comunicação ou ao uso da língua em situações 
reais. 
Está hipótese do input postula que a fluência na fala não pode ser ensinada. 
O indivíduo deve estar apto, preparado para falar, se não estiver ele repetirá frases 
mecanicamente sem se comunicar. De acordo com Almeida Filho, “a incorreção na 
produção linguística é característica dos primeiros estágios”. Quanto maior e melhor 
for o input, e quanto mais exposição e mais correto for este input recebido, melhor 
será a produção linguística, o que consequentemente irá gerar a correção por parte 
22 
do indivíduo. Assim a melhor maneira de se adquirir uma língua é recebendo um 
input suficiente (Almeida Filho). 
 
1.5.3.1 Características de um Ótimo Input 
 
Almeida Filho em seu trabalho, fala a respeito das características de um bom 
input, onde este nos coloca que primeiramente o input deve ser compreensível, pois 
se não tivermos compreensão do input, não haverá aquisição. Algo muito 
interessante que Almeida Filho nos fala em relação à compreensibilidade do input 
diz respeito à conversação livre, aonde mesmo que seja sobre assuntos conhecidos 
do ouvinte, não proporciona a aquisição. 
Krashen nos explica isto melhor com o caso de crianças que não adquirem 
uma língua falada em família, como foi o caso do próprio linguista. Seus pais 
falavam o yiddish entre si e com seus avós, mas não lhe endereçavam nesta língua. 
O resultado foi que ele aprendeu apenas umas palavras e expressões, isso sim, 
porque a língua não foi facilitada nem tornada relevante. Por isso, que se faz 
necessário tornar a mensagem acessível, auxiliando a compreensibilidade do input. 
(Almeida Filho, 2011). 
Já vimos que a qualidade fundamental do bom professor de língua é a 
capacidade de este fornecer input em boa quantidade e compreensibilidade. 
Almeida Filho coloca alguns recursos que podem ajudar o professor a incrementar o 
input. Seriam elas: 
 
1) falar mais devagar, articulando melhor cada palavra, o que ajuda quem 
está aprendendo a identificar os limites das palavras e permite mais tempo 
para que o adquirente processo as informações transmitidas; 
2) usar palavras mais comuns, mais frequentes, evitar usar expressões 
idiomáticas ou gíria, visando a quantidade de input compreensível ; 
3) usar estruturas sintáticas mais simples, sentenças mais curtas. Na 
aquisição de língua materna, foi observado que à medida que o adquirente 
revela maior competência na língua, o input fornecido vai se tornando mais 
complexo e fluente. 
 
Almeida Filho ainda nos coloca que para auxiliar ainda mais a 
compreensibilidade do input, o professor pode contar com o auxílio de materiais de 
apoio durante as aulas. Apresentar aos alunos, jornais, revistas, vídeos, músicas 
torna as situações linguísticas mais reais, o que desperta o interesse no aluno. 
23 
O input deve ser inclusive, interessante. De acordo com Krashen citado por 
Almeida Filho, o input ideal é aquele que faz com que o adquirente esqueça que 
está recebendo uma mensagem em outra língua. Krashen deixa claro que dadas às 
situações de grande número de alunos em sala de aula, será muito difícil o professor 
agradar a todos quando proporcionar materiais de apoio, devido a isso, o professor 
deve procurar utilizar um bom material e evitar causar o desinteresse no aluno. 
O input deve ser suficiente. O que se percebe até então, no resultado de 
pesquisas, é de que a quantidade de inputvem sendo subestimada. O input não 
deve ser dosado ou sequenciado, assim consegue-se alcançar todos os alunos de 
uma turma heterogênea, pois em algum momento o input chegará até o aluno. 
Para finalizar, um ótimo input não é sequenciado gramaticalmente. Para 
Krashen a tentativa de sequenciamento gramatical falhará, pois pensar que em uma 
turma todos conhecem e sabem as mesmas regras gramaticais, e que adquirem as 
estruturas ao mesmo tempo é ilusão. Inicialmente Krashen era favorável ao 
sequenciamento gramatical desde que a ordem natural fosse seguida. Porém, 
atualmente ele é contra a essa tentativa. Essas implicações decorrem, inclusive, 
dessa realidade que temos salas de aula heterogêneas, ou seja, é difícil seguir uma 
sequência ou sequenciar os conteúdos, uma vez que pode acontecer de alguns 
alunos já dominarem determinado assunto e que, o tempo de aprender não é o 
mesmo para cada aluno21. 
 
1.5.4 Do Monitor 
 
A capacidade ou habilidade em produzir sentenças em língua estrangeira é 
resultado da competência adquirida. Por outro lado, o conhecimento consciente das 
regras gramaticais (a aprendizagem), tem uma e única função: atuar na produção de 
enunciados como um monitor, modificando-as caso não estejam de acordo com as 
regras aprendidas (Callegari, 2006, p. 90). 
Corroborando a isto, Ligthbown & Spada (1999) afirmam que o sistema de 
aquisição atua na iniciação da dicção do falante e é responsável pela fluência e 
julgamentos intuitivos sobre correção. O sistema de aprendizagem, por outro lado, 
 
21
O que fora dito neste subtema baseia-se na obra de Almeida Filho. 
24 
atua como um editor ou “monitor” fazendo pequenas mudanças e policiamento que o 
sistema adquirido tem produzido. 
Segundo Krashen em Ligthbown & Spada (1999) os aprendizes usam o 
modelo somente quando estão focados em ser corretos, o que contribuiria para a 
escrita e não para a fala. Desta forma, saber as regras só ajudaria a melhorar o que 
foi adquirido. 
Krashen (1982) citado por Figueiredo (1995, p. 51) aponta que o monitor só 
é posto em prática, se três formas forem cumpridas: tempo, para que o indivíduo 
possa pensar sobre as regras conscientemente e usá-las de maneira efetiva; foco na 
forma, para que o monitor seja usado de melhor maneira possível o tempo por si só 
não é suficiente, é necessário concentrar-se na forma ou correção e por terceiro, 
conhecimento de regras, que de acordo com Krashen citado em Figueiredo (1995, p. 
51), “esta pode ser uma exigência terrível”, pois os alunos nem sempre aprendem 
todas as regras gramaticais existentes na segunda língua. 
 
1.5.5 Do Filtro Afetivo 
 
Já vimos que para adquirir uma língua é necessário receber um input 
compreensível. Porém, para adquirir uma língua, mais um fator é necessário. É o 
que Krashen chama de filtro afetivo. Filtro afetivo “é um bloqueio mental que impede 
os indivíduos de utilizarem totalmente o input compreensível que eles recebem para 
a aquisição da língua” (KRASHEN, 1985, p. 3 apud FIGUEIREDO, 1995, p. 52). 
 
Nesta hipótese Krashen leva em consideração fatores externos ao 
dispositivo de aquisição, mas que possuem grande importância para esse 
processo. São fatores emocionais e atitudinais como motivação intrínseca, 
ansiedade e autoconfiança que podem contribuir para a aquisição. 
(OLIVEIRA, 2011, p. 340). 
 
Desta forma, quando um indivíduo encontra-se desmotivado, irritado, tenso 
ou chateado, ele apresentará um filtro afetivo alto22 e consequentemente a aquisição 
será ineficaz. Por outro lado quando a situação é contrária e o aprendiz encontra-se 
 
22
O que Ligthbown & Spada (1999) chamam de filtro up. 
25 
motivado, relaxado e autoconfiante, o filtro afetivo estará baixo23 e a aquisição será 
eficaz. (Ligthbown & Spada, 1999, p. 39/40). 
É por esta hipótese que o professor pode compreender como que alunos 
que recebem o mesmo input, com as mesmas oportunidades, não adquirem a língua 
da mesma maneira. Ou seja, as condições ideias para que ocorra aquisição seria 
diminuir barreiras psicológicas como ansiedade, preocupação, falta de confiança. 
Desta forma, o aprendiz motivado e autoconfiante recebe e busca maior input. 
Segundo Almeida Filho, 
 
Krashen conclui que, tanto em Segunda língua, como em língua materna, 
aquisição é mais importante que aprendizagem, e que as duas condições 
essenciais para aquisição são: 1ª) Exposição suficiente a input 
compreensível, contendo i + 1, isto é, estruturas um grau além do nível 
atual; 2ª) uma situação psicológica favorável, um baixo filtro afetivo que 
permita a assimilação do input compreendido. 
 
Existem ainda os fatores que eram julgados fundamentais e que passam a 
partir desta hipótese a assumir um papel secundário. São eles, condições de 
exposição à segunda língua, idade e aculturação. Muitos tabus, inclusive, são 
quebrados ao reduzir-se toda a força destas variáveis, unicamente à sua maior ou 
menor contribuição para obtenção de input compreensível com baixo filtro afetivo. 
(Almeida Filho, 2011). 
 
1.5.6 Demais Aspectos Importantes da Teoria de Krashen 
 
Faz-se necessário a exposição de alguns pontos importantes na teoria de 
Krashen. O primeiro é a cerca do papel da gramática. Apesar da ênfase dada à 
aquisição o estudo sistemático tem lugar na teoria de Krashen. Apesar de ser 
limitado, afinal nem todos os aprendizes empregam a hipótese monitor, e quando o 
fazem, fazem por tempo determinado. De acordo com Almeida Filho, 
 
A objeção de Krashen contra o ensino de gramática é a ênfase dada ao 
ensino de itens não essenciais a comunicação (itens que são adquiridos 
mais tardiamente) a estudantes em fase inicial de aprendizagem, os quais 
são incapazes de entender a mais simples mensagem transmitida na 
 
23
O que Ligthbown & Spada (1999) chamam de filtro down. 
26 
Segunda língua. É um total desperdício de esforço e tempo de ambas as 
partes, professor e aluno. 
 
Assim, já é cabível falar a respeito do sequenciamento de regras inclusive. 
Quando o objetivo é a aquisição, o sequenciamento é indesejado, porém quando 
falamos em aprendizagem, faz-se necessário trabalhar com uma regra cada vez. O 
estudo do sequenciamento é algo novo e acredita-se que muitas pesquisas deverão 
ser feitas nesta área para maiores descobertas. 
Algo também muito importante é o que Krashen fala sobre a correção dos 
erros. Para ele “a correção de erros é uma forma de ajudar o aluno a reformular a 
sua apresentação mental de uma regra que ainda não foi aprendida ou que foi 
aprendida de forma errada” (Almeida Filho, 2011). A correção é importante quando 
se trata da aprendizagem, pois é inútil na aquisição. Ou seja, os erros devem ser 
corrigidos quando o foco está na estrutura e não quando o foco é na mensagem. É 
importante salientar que para Krashen, o importante é corrigir erros que já foram 
ensinados, mas que foram aprendidos de forma errada. Em relação aos erros ainda, 
durante exercícios de conversação não é indicado que se corrija o aprendiz. A 
correção, nestes casos, deve ser feita por meio de exercícios gramaticais, feitos 
como tema de casa. (Almeida Filho, 2011). 
Desta forma, percebemos que de fato a teoria de Krashen, que inicialmente 
define o que é aprendizagem e o que é aquisição, está mais esmiuçada em relação 
às outras teorias de aprendizagem/aquisição de línguas. Estes detalhes que 
Krashen propõe torna o assunto de segunda língua mais claro, e nos faz 
compreender melhor este assunto. 
Após concluirmos e identificarmos algumas teorias de aquisição de línguas, 
partimospara o resultado delas, que é o bilinguismo. No próximo capítulo veremos 
como o bilinguismo surgiu no mundo (principais motivos); a definição do termo, ou 
seja, o que é ser bilíngue; ainda, aspectos referentes à educação bilíngue e 
finalizando, trataremos das vantagens e desvantagens em ser bilíngue. 
 
27 
2 O BILINGUISMO 
 
Falar em bilinguismo é arriscar-se em algo muito novo e um tanto 
desconhecido, de muita importância, devido à busca, nos últimos anos, pela 
sociedade em geral, em dominar uma segunda língua. Os estudos sobre este tema 
tem principalmente origem em países como Canadá e Estados Unidos. No Brasil é 
algo muito recente e tentaremos aqui contribuir para o desenvolvimento deste tema. 
 
2.1 ORIGEM DO BILINGUISMO 
 
Muitos grupos tornaram-se bilíngues por algumas razões: o movimento de 
pessoas, o nacionalismo e federalismo político, educação e cultura e algumas outras 
razões. (Mackey 1967, 1976 apud Grosjean, 1982). Iremos discutir e descrever 
esses fatores que vem sendo descoberta por linguistas como Mackey (1967, 1976 
apud Grosjean, 1982). Assim baseados na obra de Grosjean (1982) encontramos e 
descrevemos os seguintes fatores: 
Movimento de Pessoas: mesmo sendo numerosos os motivos para a 
migração24 (como militares, educacionais, religiosos, catástrofes mundiais) 
geralmente o bilinguismo desenvolve-se quando um grupo tem contato com pessoas 
que vivem em áreas de migração. Desta forma, muitas maneiras de bilinguismo 
podem se desenvolver, uma delas seria cada grupo aprender a língua do outro 
grupo. Servem aqui de exemplo os colonizadores e os índios Guaranis no Paraguai, 
onde espanhóis aprenderam o guarani e os guaranis aprenderam o espanhol. 
(Grosjean, 1982, p.31) Assim, a comunicação ocorreria em duas línguas, sendo 
tanto de um dos grupos, como do outro. 
Também, outro modo de surgimento de uma nova língua, seria quando um 
grupo passa a desenvolver a língua da nova área em que se estabelece, é o caso 
dos imigrantes25 dos Estados Unidos que tem de aprender o inglês. Neste caso, ao 
encontrar uma nova localização para se estabelecer, e já tendo neste local um 
idioma, os indivíduos se submetem a aprender o idioma que já existente neste local. 
 
24
Definição de migração: deslocação de populações de uma região para outra ou de um país para 
outro. Disponível na http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/migra%C3%A7%C3%A3o;jsessionid=L 
4UaWivd1c1dzkj1xOLrPw__ 
25
Definição de imigrante para fins de evitar mal entendimento: visitante permanente ou temporário a 
outro país que não é sua nação. Disponível em: http://www.dicionarioinformal.com.br/imigrante 
 
28 
Neste caso, a língua nativa pode com o passar das gerações, se perder e deixar de 
ser usada. Qualquer que seja a maneira, o fator mais importante para o 
estabelecimento do bilinguismo é a migração. (Grosjean, 1982) 
Um tipo de movimento que estava ligado de maneira importante no século 
passado era as invasões militares e a posterior colonização. Essas invasões fizeram 
com que as línguas se espalhassem pelos locais conquistados. No século XIX, por 
exemplo, tanto ingleses como franceses colonizaram uma extensa região na África e 
na Ásia (Grosjean, 1982). Segundo Brosnahan (1963) e Cooper (1978), citado em 
Grosjean (1982) a língua se espalharia e o bilinguismo aconteceria graças ao 
estabelecimento da língua dos invasores ou colonizadores nas novas terras, que 
propagavam estas línguas, que resultava no bilinguismo. Assim, 
 
The area of conquest should be multilingual so that the invader’s language 
will be used as a lingua franca, especially in urban areas; and the use of the 
invader’s language should be enhance the inhabitants’ social, political, 
educational or commercial opportunities
26
. (GROSJEAN, 1982, p. 31) 
 
Um fato da história interessante é o que Lewis (1976 apud Grosjean, 1982) 
relata que, quando os Romanos invadiram a Grã-Bretanha (que tinha como língua 
materna a língua celta) muitos bretões capturados foram para Roma, e passaram a 
usar o latim, que era usado na administração do país, no exército, nos negócios e 
comércio entre romanos e bretões, e inclusive, em outras partes do império. O uso 
do latim permitia que os bretões adquirissem várias vantagens na sociedade romana 
como escolas, mercados, banheiros públicos entre outros. O latim não era imposto 
às pessoas do reino, aprender era um privilégio que tornava os bretões nativos mais 
membros do império. 
Migrações por motivos sociais ou econômicos também levam ao bilinguismo. 
A história é repleta de casos de movimento de grupos que saíram de seus lares em 
busca de outras áreas, regiões ou países em busca de trabalho, comida, água e 
melhores condições de vida. Atualmente, um dos motivos que levam as pessoas a 
deixar seus países e irem para outros, são trabalhadores que vão para outro país em 
busca de empregos melhores (Grosjean, 1982, p. 32). 
 
26
TP: A área de conquista deve ser multilingue para que a língua do invasor seja utilizada como 
língua franca, especialmente em áreas urbanas, e o uso da linguagem do invasor deve ser aumentar 
as oportunidades sociais, políticas, educacionais ou comerciais dos habitantes. 
29 
O que acontece com essas pessoas, ou com esses trabalhadores, é que 
muitas vezes mudam-se levando junto de si suas famílias (Grosjean, 1982, p. 32). 
Este trabalhador continua usando a língua mãe em casa com esposa, filhos e 
amigos, mas no emprego precisa dominar a segunda língua que é exigida no local 
de trabalho. Esse é o tipo de razão que mais leva ao bilinguismo atualmente. Este é 
um caso que pode ser comparado aos brasileiros que vão, principalmente, para os 
Estados Unidos, em busca de melhores condições em suas profissões. Os Estados 
Unidos é um dos países que mais recebe migrantes em busca de vagas de trabalho, 
tanto que, atualmente, passa por uma reavaliação em seu modo de migração, pois 
estes trabalhadores acabam ficando de forma ilegal no país, o que está gerando 
problemas ao governo e população norte-americana. 
Outra razão para o bilinguismo abrange questões de negócios e comércio. 
Pessoas que lidam com esse tipo de atividade, necessitam viajar para lugares onde 
precisam dominar uma língua franca, assim como suas línguas nativas (Grosjean, 
1982, p.32). A maneira de negociar do século atual, permite que se faça negócios 
com pessoas de lugares distantes onde se fala outra língua. Devido a isso, 
empresários buscam aprender novas línguas, o inglês, por exemplo, para negociar 
com estrangeiros. Uma língua que vem ganhando destaque dentro do meio 
econômico é o mandarim27, devido à ascensão econômica da China nos últimos 
anos. 
Razões políticas e religiosas também levam ao bilinguismo, uma vez que 
muitas razões políticas fazem o povo à buscar novos locais de vida, é o caso da 
saída dos Cubanos para os Estado Unidos, depois que Fidel Castro assumiu o 
poder do país. No que diz respeito a motivos religiosos um bom exemplo são os 
judeus russos, que normalmente são monolíngues (falam russo), e acabam 
migrando para Israel e também Estados Unidos (Grosjean, 1982, p. 33). 
Nacionalismo e Federalismo Político: esta é outra razão para o bilinguismo. 
O Nacionalismo tem tido um grande impacto na propagação de línguas nacionais e 
consequentemente, no grau de bilinguismo em muitos países (Grosjean, 1982, p.33). 
Davies apud Grosjean (1982) diz que “a people without a language of its own is only 
 
27
Língua falada na China. 
30 
half a nation. A nation should guard its language more than its territories28.”Por isso 
que uma nação só é nação quando esta tem uma língua estabelecida. 
A consequência do nacionalismo, é que a língua regional desenvolve-se 
fazendo com que muitos habitantes falem a língua nativa, ou seja, a língua da 
região, assim como falem a língua nacional, forma esta que leva ao bilinguismo. 
Porém em alguns lugares a língua regional é proibida pela política do governo, em 
escolas e locais públicos. Contudo, se a mesma política é mais moderada, onde a 
língua regional é permitida, temos uma política federalista, onde o uso de duas 
línguas é aceito pela lei, podendo ser utilizado em todos os locais. Nações modernas 
da África são exemplos de política federalista onde o bilinguismo é norma, desta 
forma mantem-se a essência das línguas regionais. Há muitos locais (regiões 
geográficas) que estão divididos por muitos países e que os grupos destes locais 
possuem uma língua regional ou nativa e uma língua nacional, ocorrendo assim o 
bilinguismo (Grosjean, 1982, p. 33 e 34). 
Educação e Cultura: outra causa do bilinguismo é educação e cultura. No 
império Romano o idioma grego era o idioma da educação e cultura. Quase toda a 
educação romana era bilíngue em latim e grego. Pessoas de classes mais elevadas 
davam este tipo de educação para seus filhos (Grosjean, 1982, p. 34). Esta é uma 
causa que se mantêm, pois em muitos países, como o Brasil, uma segunda língua 
só é aprendida por quem tem maiores condições financeiras. Condições estas que 
proporcionam uma busca por cursos de idiomas e escolas particulares de alto nível 
onde o idioma é ensinado. 
A busca por um novo idioma vem ganhando grandes proporções em nosso 
país. Com a criação do programa Ciências sem Fronteiras29 do governo federal 
brasileiro, que leva estudantes para outros países, muitos estudantes estão 
buscando aprender uma nova língua para poderem ser aprovados no programa. 
Porém este programa mostrou uma triste realidade, que é a falta de domínio dos 
alunos em outras línguas. Os alunos que possuem o domínio de segunda língua são 
aqueles que estudaram em escolas particulares e/ou buscaram um curso de idiomas 
para aprender uma nova língua. A escola pública brasileira não vem apresentando 
 
28
TP: um povo sem uma linguagem própria é apenas metade de uma nação. A nação deve proteger 
sua língua mais do que os seus territórios. 
29
Mais informações a respeito do programa ver: http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf 
31 
bons resultados em relação ao ensino de línguas, mas esta é uma questão que não 
detalharemos neste trabalho. 
Outras Razões: a industrialização e a urbanização são consideradas como 
outras causas do bilinguismo. Uma está ligada a outra, a industrialização, 
principalmente com as multinacionais, onde em muitos setores faz-se necessário 
que o trabalhador use muito uma língua franca, seja para manter contato com filiais 
em outros países, receber instruções entre outras (Grosjean, 1982, p 35). 
No Brasil existem várias multinacionais como a JBS, maior processadora de 
carnes do mundo; a Gerdau, uma empresa siderúrgica; Metalfrio, fabricante de 
refrigeradores; Tigre Tubos e conexões, fabricante de tubos para construções entre 
outras. Estas empresas estão presentes no mundo todo e se interligam, 
necessitando assim o domínio, de uma língua franca. 
Outra razão que Grosjean coloca é a religião, mas nós a vemos como um 
fator um pouco mais fraco, pois o que o autor nos coloca, já não é como ele 
descreve, pois, o cristianismo já não é mais proferido em latim, isso faz parte do 
passado. Então, em tempos passados foi uma causa de bilinguismo, mas hoje em 
dia já não poderia ser considerado. O autor também cita o Islã como forma de 
propagar a língua árabe. 
Grosjean (1982, p. 36) esclarece que todas as causas citadas acima não são 
raramente permanentes. Ou seja, podem variar dependendo do período histórico e 
das necessidades da humanidade. 
 
2.2 DEFINIÇÃO DO TERMO BILÍNGUE 
 
Na procura pelo conceito de bilíngue, o que encontramos a princípio são 
termos como complexidade, ampla, difícil, variação, relevante, entre outros. De fato, 
o que ocorre com o bilinguismo é que não existe uma definição única para o termo 
bilíngue, pois este processo sofre influências de fatores que o modificam. De acordo 
com Grosjean (1982, p. 230) “fluency in two languages has often been proposed as 
the main criterion30…” Assim, a fluência é um dos fatores que tem um peso muito 
maior do que outros fatores, como o uso regular de duas línguas, domínios de uso, 
 
30
TP: fluência em duas línguas tem sido frequentemente proposta como critério principal... 
32 
habilidades (ler e escrever, por exemplo) desenvolvidas em outra língua (Grosjean, 
1982). 
Quando falamos em bilíngue, com pessoas que não tem conhecimento a 
respeito disso, muitas entendem o bilíngue como uma pessoa que fala duas línguas. 
Para Bloomfiel (1933 apud Grosjean, 1982), “bilingualism, [the] native-like control of 
two languages31”. Thiery, (1978, p. 146) em Grosjean (1982, p. 232) por sua vez, 
afirma que, “a true bilingual is someone who is taken to be one of themselves by the 
members of two different linguistic communities, at roughly the same social and 
cultural level32”. Ou seja, para Thiery, o verdadeiro bilíngue é aquele que está 
inserido em duas comunidades linguísticas diferentes e é reconhecido participante 
delas pelos demais membros. 
Grosjean (1982, p. 232) expõe que Macnamara (1967a) considera um 
indivíduo bilíngue, aquele que possui ao menos uma habilidade linguística (ler, 
escrever, ouvir e falar) no menor grau que seja na segunda língua. O que 
Macnamara considera como bilíngue, envolve aquelas pessoas que muitas vezes 
sabem falar uma segunda língua, porém não tem a habilidade de escrever nesta 
língua. Por outro lado existem outros, que conseguem ler perfeitamente em uma 
segunda língua, mas não conseguem expressar-se na mesma. 
Grosjean (2010, apud Limberguer, 2012, p. 69), por sua vez, define que 
“bilíngues são aqueles que usam uma ou mais línguas (ou também dialetos) nas 
suas vidas”. Percebemos com essas várias definições que, algumas delas são mais 
inclusas, aceitam que o indivíduo consiga apenas se comunicar em outra língua que 
não a materna, como as definições citadas a cima, de Bloomfield e Grosjean. Já 
outras são mais exigentes, como a de Macnamara e Thiery, que levam em 
consideração as formas de uso, e uso de todas as habilidades linguísticas. 
Partindo da definição mais simples de que bilíngues são indivíduos que 
falam duas línguas, como podemos então classificar pessoas que apenas falam uma 
segunda língua, e que não possui a habilidade de ler ou escrever nesta mesma 
língua? Ou ainda, aquele que entende uma segunda língua perfeitamente, mas não 
sabe se expressar oralmente (Megale, 2005, p.2)? Para essas respostas, Li Wei 
(2010 apud Megale, 2005, p. 2), 
 
31
TP: Bilinguismo é o controle nativo de duas línguas. 
32
TP: um verdadeiro bilíngüe é alguém que é considerado um dos “seus”, pelos membros de duas 
comunidades lingüísticas diferentes, mais ou menos no mesmo nível social e cultural. 
33 
...argumenta que o termo bilíngue basicamente pode definir indivíduos que 
possuem duas línguas. Mas, deve-se incluir entre estes, indivíduos com 
diferentes graus de proficiência nessas línguas e que muitas vezes fazem 
uso de três, quatro ou mais línguas. 
 
Harmes e Blanc (2000 apud Megale, 2005) afirmam que o bilinguismo é um 
fenômeno multidimensional33 e que devemos considerar seis dimensões ao definir 
bilinguismo. Baseadosno trabalho de Megale (2005, p. 3), iremos descrevê-los. São 
as seguintes: 
- Competência Relativa, que enfatiza a relação entre duas competências. 
Temos a partir disto o bilinguismo balanceado, onde o indivíduo possui a mesma 
competência linguística em ambas as línguas. Salientamos que, dentro deste 
conceito, não importa o alto grau de competência nas duas línguas, mas sim se este 
alcançou um grau equivalente em ambas às línguas. E temos o bilinguismo 
dominante, que é aquele em que apresenta maior competência em uma das línguas, 
normalmente na língua nativa. 
- Organização Cognitiva, onde temos o conceito de bilíngue composto, que 
seria aquele que mostra uma única representação cognitiva para duas traduções 
iguais; e o conceito de bilíngue coordenado, seria aquele que mostra representações 
distintas para duas traduções iguais. Segundo Grosjean (1982) a distinção de 
bilíngue composto e coordenado é feita pelos psicolinguístas. Acrescenta ainda que 
para os psicolinguístas o bilíngue composto desenvolve-se através de experiências 
em contextos fundidos, e o bilíngue coordenado é desenvolvido através de 
experiências em contextos diferentes. 
- Idade da Aquisição, onde de acordo com a idade em que se dá a aquisição 
da língua temos o bilinguismo infantil, adolescente ou adulto. O bilinguismo infantil 
divide-se em bilinguismo simultâneo, onde desde o nascimento a criança é exposta 
a duas línguas e a adquire ao mesmo tempo; e bilinguismo consecutivo, onde após 
ter adquirido as bases linguísticas da língua materna, ela adquire, ainda na infância 
a segunda língua. Quando a aquisição da segunda língua ocorre na adolescência, 
denominamos este como bilinguismo adolescente, e quando o indivíduo adquire a 
língua em fase adulta, chamamos este de bilinguismo adulto. 
 
33
Algumas concepções são unidimensionais, que definem o indivíduo bilíngue apenas em termos de 
competência linguística, ignorando outras dimensões. (HARMES E BLANC, 2000 apud MEGALE, 
2005, p.6). 
34 
- Presença ou não de Indivíduos Falantes da L2, e acordo com esta, 
classificamos o bilinguismo endógeno ou exógeno. Por bilinguismo endógeno 
entendemos que ambas as línguas são utilizadas como nativas na comunidade, 
podendo ou não ser utilizados para fins institucionais. Já por bilinguismo exógeno, 
temos a ausência da segunda língua dentro da comunidade. 
- Status, atribuído à língua, pode desenvolver no indivíduo formas 
diferenciadas de bilinguismo. Temos então o bilinguismo aditivo, onde as duas 
línguas são valorizadas no desenvolvimento cognitivo da criança, e a aquisição da 
segunda língua dá-se sem perda ou prejuízo a língua materna; e o bilinguismo 
subtrativo, onde a primeira língua é desvalorizada, originando desvantagens 
cognitivas no desenvolvimento da criança e ocorrendo perda ou prejuízo na língua 
materna. 
- Identidade Cultural, onde temos bilíngues biculturais, monoculturais, 
aculturais e desculturais. Como bilinguismo bicultural, entende-se o indivíduo que se 
identifica de forma positiva com os dois grupos culturais e é reconhecido por cada 
um dos grupos. Os monoculturais são aqueles que se identificam e é reconhecido 
por apenas um dos grupos culturais. O bilíngue acultural é aquele que adota valores 
culturais ligados ao grupo de falantes da segunda língua e renuncia a identidade 
cultural relacionada à sua língua materna. E finalmente o bilinguismo descultural, 
identifica-se quando o indivíduo desiste de sua identidade cultural, mas não obtêm 
sucesso ao tentar adotar aspectos culturais do grupo de falantes da segunda língua. 
Assim, de forma esquemática temos a tabela: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
Tabela 1 – Dimensões do bilinguismo de Harmes (apud Megale)34 
Dimensões Denominação Definição 
Competência Relativa Bilinguismo Balanceado L1=L2 
Bilinguismo Dominante L1>L2 ou L1<L2 
Organização Cognitiva Bilinguismo Composto 1 representação para 2 traduções 
Bilinguismo Coordenado 2 representações para 2 traduções 
Idade de Aquisição Bilinguismo Infantil: L2 adquirida antes dos 10/11 anos 
Simultâneo L1e L2 adquiridas ao mesmo 
tempo 
Consecutivo L2 adquirida posteriormente a L1 
Bilinguismo Adolescente L2 adquirida entre 11 e 17 anos 
Bilinguismo Adulto L2 adquirida após 17 anos 
Presença da L2 Bilinguismo Endógeno Presença da L2 na comunidade 
Bilinguismo Exógeno Ausência da L2 na comunidade 
Status das línguas Bilinguismo Aditivo Não há perda ou prejuízo da L1 
Bilinguismo Subtrativo Perda ou prejuízo da L1 
Identidade Cultural Bilinguismo Bicultural Identificação positiva com os dois 
grupos 
Bilinguismo Monocultural Identidade cultural referente a L1 
ou a L2 
Bilinguismo Acultural Identidade cultural referente 
apenas a L2 
Bilinguismo Descultural Sem identidade cultural 
 
Assim, concepções multidimensionais levam em consideração noções 
oriundas de diversas disciplinas: psicologia, sociolinguística, sociologia e linguística 
(MEGALE, 2005, p.7). “Bilinguismo é um fenômeno complexo e deve ser estudado 
como tal, levando em consideração variados níveis de análises: individual, 
interpessoal, intergrupal e social” (HARMES & BLANC, 2000, apud MEGALE, 2005, 
p.7). 
Desta forma, a classificação de bilíngues em várias dimensões, facilita o 
entendimento do bilíngue de acordo com as peculiaridades. Ou seja, nenhum 
indivíduo terá as mesmas características quanto à forma como adquiriu a segunda 
língua, a forma como utiliza a língua, entre outras. Mesmo sendo o conceito de 
bilinguismo ou de bilíngue, muito amplo acreditamos que, as dimensões que 
descrevemos acima, clareiam o entendimento de cada caso de bilíngue que esteja 
em questão. 
Contribuindo ao que já fora dito até aqui, Grosjean em 1982 já considerava 
que para uma descrição do bilíngue em um tempo particular, podemos adicionar 
algumas informações acerca da linguagem história de uma pessoa. Considerava 
 
34
Disponível também no site: http://kauverdianu.blogspot.com.br/2011_04_01_archive.html Acessado 
dia: 27/10/2013. 
 
36 
ainda, que existiam fatores que conduziam para o bilinguismo, (fatores estes que 
enraízam a descrição das dimensões que citamos a cima) e a respeito disso nos diz 
que, algumas pessoas aprendem duas línguas em seu lar e podem falar ambas 
fluentemente, mas são capazes de ler e escrever em apenas uma delas; outras 
aprendem e usam a segunda língua na escola e se saem melhor ao ler e escrever 
do que ao falar. Trabalhadores imigrantes geralmente aprendem suas segundas 
línguas no trabalho e podem nunca aprender a ler e a escrever com elas, contudo, 
diplomatas e homens de negócios internacionais frequentemente necessitam ser 
altamente alfabetizados em duas línguas. 
Com o tempo, o nível de fluência em cada habilidade linguística reflete a 
necessidade do falante em determinada língua. Frequentemente, muitas pessoas 
deixam de falar uma de suas línguas (no caso do sujeito bilíngue), ou por que deseja 
ou por motivos que tornam o uso da língua desnecessária, como a mudança para 
longe de pais, parentes... Grosjean (1982) chama isso de esquecimento da língua, 
um acontecimento que exige atenção e ocorre principalmente em adultos. As 
principais características desse fenômeno é que mesmo entendo tudo que lhe é dito, 
o falante em esquecimento da língua, começa a procurar pela palavra certa, torna 
sua fala excitante, tem a pronúncia afetada e perde completamente a expressão da 
fala. 
Este é um processo que acontece de forma vagarosa, porém o falante 
percebe que está perdendo a forma falada da língua, quando usa essa língua 
esporadicamente. Muito

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