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2º TÓPICO - NATUREZA JURÃ-DICA DA R.C.

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Carlos Signor
c.signor@hotmail.com
DIREITO CIVIL III – RESPONSABILIDADE CIVIL PARTE II 
A responsabilidade pode ser:
Civil – é a patrimonial. Causado o dano ao patrimônio alheio, o causador deverá indenizar. Pode ser: material e imaterial. Os pedidos podem ser cumulativos.
Penal – é considerado um dano de ordem social, mesmo quando é possível definir o número de atingidos. Figura, portanto, no pólo ativo, a sociedade, representada pelo Estado, exigindo reparação contra o dano causado ao social.
Disciplinar – Atingem os funcionários públicos e tem como base os direitos e deveres destes para com o Estado.
Natureza jurídica da responsabilidade civil
	A responsabilidade, tanto civil como penal, decorre da prática de um ato ilícito, ou seja, da violação da ordem jurídica, gerando desequilíbrio social (ex.: motorista que pagará indenização à vítima que atropelou por imprudência). A responsabilidade poderá decorrer, também, da prática de um ato lícito, em função do risco da atividade exercida (Ex.: dano causado em acidente de trabalho), em estado de necessidade (art. 188, II, combinado com o art. 929 do CC), na passagem forçada (art. 1.285 CC), entrada em terreno alheio (art. 1.313, § 3º CC) e, mesmo quando o Estado deve intervir (desapropriação, alteração de via pública, desvalorizando o imóvel).
	A doutrina refere como base legal da responsabilidade pela prática de ato lícito, o parágrafo 6º do artigo 37 da CF: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos, responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurando o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.
	Ocorre que, na responsabilidade por ato lícito, nem o dolo e nem a culpa são pressupostos para indenização. Por outro lado, o direito de regresso está baseado na culpa ou dolo do agente que praticou o ato, que não é o caso quando se trata de ato lícito.
	Portanto, a natureza jurídica da responsabilidade civil é sancionadora.
Funções da reparação civil
	A reparação civil pode apresentar três funções distintas:
Compensatória do dano da vítima – retornar as coisas ao status quo ante. Se isso não for possível, impõe-se o pagamento de um quantum indenizatório, equivalente ao valor do bem atingido;
Punitiva do ofensor – efeito punitivo pela ausência de cautela na prática de seus atos, persuadindo-o a não mais lesionar;
Desmotivação social da conduta lesiva - é uma função socioeducativa que é de tornar público que condutas semelhantes não serão toleradas.
Modalidades de Responsabilidade civil
	A responsabilidade civil apresenta-se sob diversas formas, podendo ser assim classificada:
Quanto ao fato gerador:
 Responsabilidade contratual – quando entre as partes envolvidas já existia uma norma jurídica contratual (arts. 389 e ss e 395 e ss do CC). A vítima e o autor do dano já tinham se aproximado através do contrato existente entre eles. A culpa contratual é a violação de um dever de adimplir; a vítima, de regra, tem que provar apenas que a obrigação não foi cumprida. Se a obrigação assumida for de resultado, haverá culpa presumida; se for obrigação de meio, a responsabilidade, embora contratual, será baseada na culpa provada (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil, 2ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 198).
 Responsabilidade extracontratual ou aquiliana – é a violação direta de uma norma legal (arts. 186 a 188 e 927 e ss do CC). Viola um dever negativo, ou seja, a obrigação de não causar dano a ninguém. A culpa deve ser provada pela vítima;
Segundo Carlos Roberto Gonçalves, existem críticas quanto a essa divisão da responsabilidade civil. São os adeptos da teoria monista ou unitária, entendendo desnecessária a divisão, uma vez que os seus efeitos são uniformes. As condições para configurar a responsabilidade são as mesmas: o dano, o ato ilícito e a causalidade (nexo causal) ( Responsabilidade Civil, 7. Ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 26-27).
Menor de idade (púbere): artigo 180 do CC – assistido pelo seu representante legal.
Quanto ao seu fundamento:
 Responsabilidade subjetiva – decorrente de dano causado em função de ato doloso ou culposo. É quando o agente causador do dano agir com negligência ou imprudência (art. 186 do CC). Cada um responde pela sua própria culpa (unuscuique sua culpa nocet). Cabe ao autor provar a culpa do réu. O nosso sistema material civil adota a responsabilidade subjetiva (art. 159 do antigo CC/1916, correspondente ao artigo 186 do CC/2002).
 Responsabilidade objetiva – O dolo e a culpa, na conduta do agente, são irrelevantes, juridicamente. Só é necessária a existência do elo de causalidade entre o dano e o agente, para se configurar o dever de indenizar (art. 927, § único do CC). Temos leis esparsas com previsão de responsabilidade objetiva: DL 2.681/1912- estradas de ferro; Lei 6.367/1976-acidentes de trabalho; DL 32/1966- Código Brasileiro do Ar; lei 6.453/1977-danos nucleares.
Quanto ao agente:
 Responsabilidade direta ou simples – é a responsabilidade oriunda do próprio agente, o qual deverá responder por ato próprio.
 Responsabilidade indireta ou complexa – quando resultar de ato de terceiro, com o qual o agente tem vínculo legal de responsabilidade.
Pressupostos da responsabilidade civil
	Com relação aos pressupostos da responsabilidade civil existem divergências entre os doutrinadores:
	Silvio Venosa apresenta quatro pressupostos para que seja configurada a responsabilidade civil:
Ação ou omissão voluntária;
Nexo causal;
Dano e 
Culpa.
Maria Helena Diniz entende que são três os pressupostos:
Ação ou omissão;
Nexo causal e 
Dano.
Silvio Rodrigues, por sua vez, apresenta os seguintes pressupostos:
Ação ou omissão;
Nexo causal;
 Dano e 
Culpa.
 
Ação ou omissão voluntária – é a conduta humana - O artigo 186 do CC é claro ao referir que cometerá ato ilícito aquele que agir por ação ou omissão voluntária. A responsabilidade pode derivar de ato próprio ou de ato de terceiro que esteja sob a guarda do agente ou, ainda, de danos causados por animais ou coisas que lhes pertence.
Conduta positiva (ação): sujeito embriagado, arremessa o veículo contra o muro do vizinho.
Conduta negativa (omissão): a enfermeira deixa de ministrar o medicamento no paciente.
 
Atos próprios:	calúnia, difamação e injúria, demanda de dívida não vencida ou já paga, de abuso de direito.
RESPONSABILIDADE CIVIL. CADASTRAMENTO INDEVIDO. DÍVIDA PAGA. DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. Trata-se de ação de indenização por danos morais decorrentes de cadastramento indevido, tendo em vista que o débito foi pago na data de seu vencimento. Situação comprovada nos autos (comprovantes de pagamento), da qual resultam os chamados danos morais puros, que independem de comprovação. O valor fixado a título de danos morais deve ser reduzido para atender aos parâmetros balizados pela Câmara. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70025857509, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Ary Vessini de Lima, Julgado em 25/02/2009)
Atos de terceiro: danos causados pelos filhos, tutelados e curatelados, ficando responsáveis pela reparação os pais, tutores e curadores. O empregador responde pelos atos de seus empregados e o Estado pelos seus agentes (art. 932 CC):
APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. MORTE DE ALUNO EM PASSEIO REALIZADO POR ESCOLA ESTADUAL. RESPONSABILIDADE DO PARQUE. DANOS MORAIS CARACTERIZADOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO. PENSIONAMENTO. Responsabilidade objetiva do Estado do Rio Grande do Sul 1. O Estado do Rio Grande do Sul, ora apelante, é ente jurídico de direito público, portanto responde objetivamente pelos atos danosos causados a terceiros por seus agentes, independentemente de culpa ou dolo destes, a teor do que estabelecem os arts. 6º e 37 da Constituição Federal. 2. Possibilitando-sea discussão em torno de causas outras que excluam a responsabilidade objetiva do Estado, conforme haja culpa concorrente ou exclusiva do particular, ou nas hipóteses de caso fortuito ou força maior. Responsabilidade do Camping Pousada Mirassol Ltda. 3. Aplica-se a responsabilidade objetiva ao parque, na forma do art. 14, caput, do CDC, o que faz presumir a culpa do apelado e prescindir da produção de provas a esse respeito, em razão de decorrer aquela do risco do negócio. Responsabilidade pelo evento danoso 4. Mesmo que a conduta da vítima tenha sido determinante para o evento em questão, vislumbra-se que houve negligência por parte dos professores e da empresa ré, que não disponibilizou condições de segurança adequadas e nem mesmo vigiou os alunos, a fim de evitar qualquer incidente. 5. É responsabilidade do Estado zelar pelo bem estar e integridade física dos alunos do ensino público quando estes estiverem nas instituições de ensino ou sob a guarda dos professores responsáveis. Precedentes do STJ. Indenização por danos morais 6. Reconhecida a responsabilidade do ente público pelo evento danoso, bem como da empresa ré, exsurge o dever de ressarcir os danos daí decorrentes, como o prejuízo imaterial ocasionado, decorrente da dor e sofrimento da parte autora, em razão da perda de seu ente querido. 7. No que tange à prova do dano moral, por se tratar de lesão imaterial, desnecessária a demonstração do prejuízo, na medida em que possui natureza compensatória, minimizando de forma indireta as conseqüências da conduta do demandado, decorrendo aquele do próprio fato. Conduta ilícita do demandado que faz presumir os prejuízos alegados pela parte autora, é o denominado dano moral puro. 8. O valor da indenização a título de dano moral deve levar em conta questões fáticas, como as condições econômicas do ofendido e do ofensor, a extensão do prejuízo, além quantificação da culpa daquele, a fim de que não importe em ganho desmesurado. Fatores estes levados em conta para fixação proporcional da indenização. 9. É entendimento assentado nesta Colenda Câmara que no cálculo da dívida decorrente de ato ilícito os juros moratórios devem incidir a base de 6% ao ano até a vigência do novo Código Civil, e de 12% ao ano a partir deste termo, como corretamente definido na sentença. Consectários legais estes que incidem desde a data do evento danoso, de acordo com a Súmula n. 54 do Superior Tribunal de Justiça 10. Cabível a fixação do pensionamento mensal em favor da mãe da vítima, nos termos da Súmula nº. 491 STF, a partir da data do evento danoso, devendo ser fixado como termo final a data na qual aquela completaria 25 anos, idade em que provavelmente deixaria de prestar auxílio financeiro à sua genitora. 11. As rés devem arcar com as custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o montante da condenação, tendo em vista que a postulante decaiu em parte mínima de seu pedido, atendendo ao que estabelecem os artigos 20, § 3º e 21, parágrafo único, ambos do CPC. Negado provimento aos recursos das demandadas e dado parcial provimento ao apelo da autora. (Apelação Cível Nº 70024180440, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 26/11/2008)
Animais e coisas: em regra é responsabilidade objetiva, ou seja, independe de prova da culpa. Nos termos do artigo 936 do CC, o dono ou detentor do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar a culpa da vítima ou força maior (arts. 936 e 937 CC):
RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. ANIMAIS NA PISTA. Deixando o réu de provar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, no sentido de que o condutor do veículo de propriedade da parte-autora teria causado o acidente de trânsito, a manutenção da sentença é medida que se impõe. Apelação desprovida. (Apelação Cível Nº 70025039157, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Voltaire de Lima Moraes, Julgado em 05/11/2008).
RESPONSABILIDADE CIVIL. MUNICÍPIO. QUEDA DE GALHO DE ÁRVORE SOBRE VEÍCULO ESTACIONADO NA VIA PÚBLICA. O Município é responsável pela conservação das árvores existentes na via pública. Afastada a alegação de força maior e havendo prova do mau estado de conservação da árvore, bem como da omissão da Administração Pública, há o dever de reparar o dano. Apelo desprovido. (Apelação Cível Nº 70027213883, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leo Lima, Julgado em 18/02/2009)
Nexo causal – é a relação de causa e efeito entre a ação ou omissão do agente e o dano verificado. Vem expressa no verbo causar do artigo 186 CC. Sem a relação de causalidade, não existe obrigação de indenizar. Se houve o dano, mas sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade e também a obrigação de indenizar. 
Teorias explicativas do nexo causal:
Teoria da equivalência das condições (conditio sine qua non) – Elaborada pelo alemão Von Buri, na segunda metade do século XIX, essa teoria não diferencia os antecedentes do resultado danoso, de forma que tudo o que ocorreu para o evento, será considerado causa. É a teoria adotada por vários países; no Brasil houve influência no nosso Código Penal, em seu artigo 13: “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”.
Ex.: um bêbado arremessa uma garrafa contra um transeunte, causando-lhe a morte. Excluindo a conduta antecedente ( o arremesso da garrafa), a morte desaparecerá.
A teoria é muito ampla: alguém saca a arma, dispara e mata uma pessoa: seria considerada causa não só o disparo, mas também a compra da arma, sua fabricação, a aquisição do ferro e da pólvora pela indústria...... 
 Teoria da causalidade adequada – desenvolvida pelo filósofo alemão Von Kries é mais refinada que a anterior. Não é considerada causa toda e qualquer condição que haja contribuído para a efetivação do resultado, mas sim, segundo um juízo de probabilidade, apenas o antecedente abstratamente idôneo à produção do efeito danoso. Para Cavalieri, causa é o antecedente, não só necessário, mas, também adequado à produção do resultado. Logo, nem todas as condições serão causa, mas apenas aquela que for mais apropriada para produzir o evento (Sérgio Cavalieri Filho, Programa de Responsabilidade Civil, 2. Ed, São Paulo: Malheiros, 2000, p. 51).
Alguém for detido ilicitamente e perde um voo de avião e se obriga a pegar o segundo; este sofre um desastre, enquanto que o primeiro chegou ao destino sem incidente. Aquela detenção não pode ser considerada causa do acidente.
Teoria da causalidade direta ou imediata – desenvolvida no Brasil por Agostinho Alvim. Para essa teoria, causa seria apenas o antecedente fático que, ligado por um vínculo de necessidade ao resultado danoso, determinasse este último como uma conseqüência sua, direta e imediata. É indenizável todo dano que se filia a uma causa, desde que ela lhe seja causa necessária, por não existir outra que explique o mesmo dano. Ex.: Caio é ferido por Tício. Pedro socorre Caio, capota o veículo e Caio falece. Responderá apenas Pedro pela morte de Caio. O comportamento de Tício será visto apenas como efeito direto e imediato com relação à lesão corporal.
O Código Civil Brasileiro adota a teoria da causalidade direta ou imediata (art.403 do CC). A teoria da causalidade adequada também é acolhida pela nossa jurisprudência. 
Dano – sem a prova do dano, ninguém poderá ser responsabilizado civilmente. O dano pode ser material ou moral. Portanto, a inexistência do dano é óbice à pretensão de uma reparação, ou seja, lhe falta o objeto.
O CC de 2002 aperfeiçoou o conceito de ato ilícito ao dizer que o pratica quem “violar direito e causar dano a outrem” (art. 186), substituindo o ou que constava do artigo 159 do CC/1916: “violar direito ou causar dano a outrem.
De fato, o elemento subjetivo da culpa é o dever violado. No entanto,mesmo tendo havido a violação do dever, com culpa ou dolo, não é devida a violação se não for verificado o prejuízo, o dano. Ex.: motorista que viola a lei de trânsito, mas não atropela e nem colide com outro veículo: não deve nenhuma indenização.
Portanto, a violação da lei e a existência do dano, concomitantemente, dão origem à obrigação de indenizar.
Para que o dano seja reparável, é necessária a conjugação de três requisitos:
Violação de um interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial de uma pessoa física ou jurídica;
Certeza do dano – perda de uma chance: vestibular por causa do transporte que chegou atrasado; o advogado deixa de recorrer ou de ingressar com uma ação (verificação do nexo e do prejuízo);
Subsistência do dano – se o dano já foi reparado, perde-se o interesse da responsabilidade civil, a menos que a reparação tenha sido feita às expensas do lesionado. 
O dano pode ser patrimonial (dano emergente e lucros cessantes – art. 402 CC) e moral.
O dano pode ser, também, reflexo ou em ricochete – é o prejuízo que atinge reflexamente pessoa próxima, ligada à vítima direta da atuação ilícita. É o caso do pai de família que falece por descuido de um segurança de um banco, numa troca de tiros. Os filhos vão sentir os reflexos dessa perda, em face do sustendo paterno.
 
Temos, ainda, os danos coletivos,difusos e a interesses individuais homogêneos:
Veja o exemplo: um vazamento numa fábrica, poluindo um lago próximo. 
Essa conduta gera danos difusos (a toda sociedade). A sociedade tem o direito constitucional à defesa de um meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225 CF);
 Gera, também, danos coletivos (empregados da empresa: cumprimento das normas de segurança no trabalho; comunidade ribeirinha;
Por fim, os danos individuais homogêneos (pescadores da região, com perdas e danos em face da poluição). Inovação introduzida pelo CDC – lei 8.078/90, em seu artigo 81.
Culpa ou dolo - o dolo consiste na vontade de cometer uma violação de direito, é a violação deliberada, consciente, intencional do dever jurídico, enquanto que a culpa resume-se na falta de diligência. 
Segundo a nossa legislação, que adota a teoria subjetiva, a vítima, geralmente, tem de provar o dolo ou culpa do agente, para obter a reparação do dano. Em outros casos, existe a reparação sem necessidade de provar a culpa ou dolo: é a responsabilidade objetiva, com base na teoria do risco.
A culpa pode ser:
- Grave: é a falta imprópria ao comum dos homens; é a que mais se avizinha do dolo;
- Leve: é a falta evitável com atenção ordinária;
-Levíssima: é a falta só evitável com atenção extraordinária, com especial habilidade ou conhecimento singular. 
A culpa pode ser, ainda:
In eligendo: decorre da má escolha do representante ou do preposto;
In vigilando: decorre da ausência da fiscalização;
In committendo: decorre de uma ação, de um ato positivo; 
In ommittendo: decorre de uma omissão, quando havia o dever de não se omitir;
In custodiendo: decorre da falta de cuidados na guarda de animais ou coisas.
Culpa presumida 
	A concepção clássica é a de que a vítima tem de provar a culpa do agente para obter a reparação. Com o passar dos tempos, surgiu necessidade de soluções mais eficazes na busca da justa indenização do lesado.
	Um dos processos utilizadas foi o estabelecimento de casos de presunção de culpa. A lei estabelece, em certos casos, presunções juris tantum. Nestes casos, ocorre a inversão do ônus da prova. O CC nos traz os casos do artigo 936 (guarda do animal) e o artigo 937 (prédio em ruínas).
	A par disso, a jurisprudência também enfoca várias situações de presunções juris tantum: colisão na traseira do outro veículo, veículo que sobe na calçada e atropela o pedestre, entendendo que, neste caso, a culpa decorre do próprio fato (in re ipsa).
Culpa exclusiva e culpa concorrente
	Quando o evento danoso ocorrer por culpa exclusiva da vítima, desaparece a responsabilidade do agente.
	Nesse caso, desaparece a relação de causa e de efeito, entre o seu ato e o prejuízo experimentado pela vítima. O causador do dano não passa de mero instrumento do acidente (bêbado atravessando pista de alta velocidade, motorista dirigindo com as cautelas necessárias e alguém se lança na frente do veículo). Não há que se falar de nexo de causalidade.
	
	Em outros casos, o dano não decorre de uma só causa, mas da concorrência da atividade culposa da vítima e do autor. Nesse caso não se pode falar em compensação de culpas, pois a compensação é um modo de extinção da obrigação (art. 368 CC). A culpa de um não extingue a do outro, mas a conduta de ambos é valorada para se estabelecer a proporção do dano que cada um deverá suportar.
	
Formas de reparação do dano
	Segundo Orlando Gomes, existe reposição natural quando o bem é restituído ao estado em que se encontrava antes do fato danoso. É a forma mais adequada de reparação.
	Mas isso nem sempre é possível, cabendo, então, uma prestação pecuniária, de caráter compensatório. Se o autor do dano não consegue restabelecer o status quo ante da coisa danificada, paga a quantia correspondente ao seu valor.
	A reposição do bem, mesmo sendo natural, não pode ser imposta ao titular do direito, se este prefere receber em pecúnia.
	Também poderá ser exigida, concomitantemente, a reposição da coisa e a indenização pecuniária, se a coisa for insuficiente para ressarcir o dano.
	O devedor não pode ser compelido à restituição in natura, se isso só for possível mediante gasto desproporcional (Obrigações, 9. Ed. Rio de Janeiro:Forense, 1994, p. 51)
 
	Um critério prático para diferenciar o dano patrimonial do dano moral, além daquele referente à esfera jurídica atingida e às conseqüências geradas pelo evento danoso, é a forma de reparação.
	Isso porque no dano patrimonial, a reparação pode ocorrer na forma da reposição natural, enquanto que no dano moral é impossível a restituição à situação anterior, uma vez que a honra violada jamais poderá ser restituída.
	Portanto, em caso de dano moral, a reparação somente poderá ocorrer através de soma pecuniária, arbitrada judicialmente, com objetivo de possibilitar ao lesado uma satisfação compensatória pelo dano sofrido. 
	Novamente Orlando Gomes assim leciona com relação ao assunto:
“Esse dano não é propriamente indenizável, visto como indenização significa eliminação do prejuízo e das conseqüências, o que não é possível quando se trata de dano extrapatrimonial. Prefere-se dizer que é compensável. Trata-se de compensação e não de ressarcimento, uma vez que a dor é imensurável.
Titulares da ação de ressarcimento do dano material
	Compete à vítima da lesão pessoal ou patrimonial o direito de pleitear a indenização. Vítima é quem sofre o prejuízo.
	Num acidente automobilístico é aquele que arca com as despesas de conserto do veículo. Não precisa ser necessariamente, o proprietário do bem. Pode ser terceiro, mero detentor do veículo danificado. O artigo 186 do CC não faz essa distinção. O terceiro poderá arcar com as despesas de conserto do veículo que tomou emprestado, devolvendo-o ao proprietário em perfeitas condições. No entanto, poderá pleitear o ressarcimento junto ao causador do acidente.
	Assim já se manifestou o STJ: “Tem legítimo interesse para pleitear indenização a pessoa que detinha a posse do veículo sinistrado, independentemente de título de propriedade” (REsp. 5.130-SP, 3ª Turma).
	Igual direito possuem os herdeiros da vítima (art. 943 CC): “O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança”.
	No caso da morte do pai de família, a esposa e os filhos têm direito de pleitear indenização não na condição de herdeiros, mas na condição de vítimas (iure próprio = por direito próprio).
	No entanto, se o genitor era credor de indenização já reconhecida judicialmente, ou mesmo se tinha direito de pleiteá-la e veio a falecer, o direito de exigir reparação se transmite aosherdeiros.
	Quanto à pensão, só possuem direito aqueles que dependiam economicamente da vítima (menores); com relação aos ascendentes, filhos maiores e irmãos da vítima, exige-se a provas da dependência econômica. Não provada essa dependência, o ofensor será condenado a reparar apenas o dano moral.
 
Com relação aos companheiros, tem se decidido que a companheira que viveu more uxório (vida em comum de um homem e de uma mulher em estado de casados, sem que o sejam legalmente, sem que estejam vivendo sob o mesmo teto), caracterizando-se a união estável, tem o direito de receber a indenização (Art. 226, § 3º CF e art. 1.723 do CC).
Perdas e danos : dano emergente e o lucro cessante
	O critério para ressarcimento do dano material encontra-se no artigo 402 do CC: “Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”.
As perdas e danos compreendem o dano emergente e o lucro cessante.
Dano emergente – é o efetivo prejuízo, a diminuição patrimonial sofrida pela vítima.
Lucro cessante – é a frustração da expectativa de lucro. É a perda de um ganho esperado. 
	Através da liquidação apura-se o quantum da indenização. A estimativa do dano emergente se processa com mais facilidade, porque é possível estabelecer o desfalque no patrimônio. Com relação ao lucro cessante, atual ou potencial, é necessária a produção de provas e o uso do bom senso. O próprio código usa a expressão razoavelmente deixou de lucrar. No entanto, admitida a existência do prejuízo, a indenização se dará não pelo razoável mas sim pelo provado. Deve existir uma probabilidade objetiva que resulte do curso normal das coisas.
	O STJ já se manifestou nesse sentido, dizendo que a expressão o que razoavelmente deixou de lucrar, deve ser interpretada no sentido de que, até prova em contrário, se admite que o credor haveria de lucrar aquilo que o bom senso diz que lucraria, existindo a presunção de que os fatos se desenrolariam dentro do seu curso normal, tendo em vista os antecedentes. O simples fato de uma empresa rodoviária possuir frota de reserva não lhe tira o direito aos lucros cessantes, quando um dos veículos sair de circulação por culpa de outro, pois não se exige que os lucros cessantes sejam certos,, bastando que, nas circunstâncias razoáveis e potenciais (REsp 61.512-SP, Relator: Min. Sálvio de Figueiredo).

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