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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA RELATÓRIO FINAL PIBIC Edital nº 02/2014/POSGRAP/COPES/UFS-PIBIC/PICVOL-2014 Pesquisa: PVF2564-2014 Persigas e brigadas: Arqueologia das práticas bélicas do cangaço Plano de Trabalho: Arqueologia e Literatura: cultura Material na representação do Cangaço. Orientador: Prof. Dr. Leandro Domingues Duran Bolsista voluntário: José Luciano da Costa Júnior Período abordado pelo presente relatório: 01/08/2016 a 17/07/2017 INTRODUÇÃO Embora se tenha nos últimos anos uma produção científica considerável sobre temáticas como o Cangaço e a Literatura Oral, ainda existe certo tabu entre as ciências humanas com relação à utilização da Literatura “não-oficial” como um viés na construção dos saberes históricos, arqueológicos e sociológicos. É pretendido, neste sentido, agregar à metodologia de pesquisa da Arqueologia Histórica (em especial sobre o tema cangaço), a análises de folhetos produzidos e difundidos pela cultura nordestina desde fins do século XIX (LUNA E SILVA, 2010); refiro-me ao fascinante universo da Literatura de Cordel, provavelmente iniciados pelo saudoso Cordelista Leandro Gomes de Barros. Desse modo, é imprescindível aqui uma abordagem com base em trabalhos interdisciplinares, como no caso das análises literárias e históricas encontradas nas obras de: Antônio Candido, Luís Camara Cascudo, entre outros. Essa pesquisa tem então, por objetivo, relacionar e identificar informações da fase final do cangaço (modalidade independente) intrínsecas na tradição da literatura oral, buscando assim discutir a inserção dessa literatura não-oficial no âmbito da produção científica da Arqueologia Histórica. Além disso, é procurado aqui, contribuir para o conhecimento da área, no que tange o incentivo ao surgimento de pesquisas referentes ao fenômeno do banditismo cangaceiro e da relevância sociológica da Literatura de Cordel para as ciências humanas de modo geral, visto toda importância que ambos possuem para a cultura brasileira. Na primeira etapa de trabalho, buscou-se através de levantamentos bibliográficos, leitura, fichamento de textos e as reuniões de orientação, a obtenção de um aporte teórico de caráter amplo sobre as diversas temáticas que perpassam o fenômeno cangaceiro e a Literatura Oral. Além disso, é válido comentar que anteriormente ao início da iniciação científica, o Orientador Leandro Domingues Duran SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA lecionou a disciplina de Arqueologia na ficção, à qual foi discutido em sala de aula: as influências do meio “real” que se estruturam sobre uma obra ficcional. Também foi realizado atividades complementares indicados pelo Orientador da pesquisa, sendo n total duas atividades, o lançamento do livro Cordel e Cinema, da pesquisadora francesa, Sylvie Debs, além da participação de palestras realizadas durante a semana cultura de laranjeiras, cujo o tema foi Cordel e cantoria. Ambas as atividades complementares foram importantes para um contato inicial com o universo da literatura de cordel. Foi realizado neste relatório, a delimitação e a conceituação de termos essenciais para essa discursão. Entre os quais estão inseridos o próprio cangaço, o regionalismo, a literatura oral e a literatura de cordel. Procurou-se de forma interdisciplinar, (principalmente através da Arqueologia, Análise literária e da História) compreender de forma introdutória as diversas relações presentes na tradição regionalista. Não somente, o presente trabalho também contou com a análise documental de cordéis que abordam a temática do movimento cangaceiro, sendo esta a principal contribuição desta pesquisa. A análise dos cordéis citados anteriormente, foi realizada de dois modos; o primeiro de forma manual, e o segundo, de caráter avaliativo, com a utilização do software IRAMUTEQ, programa utilizado para processamento de bases textuais. Cronograma de atividades planejadas para os 12 meses de pesquisa: Mês/ ano Atividades Agosto/ 2016 Discursão com o Prof. Orientador sobre a metodologia de pesquisa Setembro e Outubro/ 2016 Levantamento das fontes primárias de pesquisa e seleção das obras a serem analisadas. Novembro, e Dezembro/ 2016 Leitura, seleção e fichamento das obras literárias selecionadas. Janeiro/ 2017 Produção de Relatório de Pesquisa. Fevereiro a Junho/ 2017 Leitura, seleção e fichamento das obras literárias selecionadas. Julho/ 2017 Produção de Relatório final de Pesquisa. SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA O cronograma foi seguido de forma sistemática, sendo realizadas até o presente momento, todas as atividades requisitas pelo Professor Orientador, Leandro Domingues Duran. Além disso, outras atividades (a exemplo da participação de palestras na semana cultural de Laranjeiras- SE), foram realizadas visando complementar e inserir o pesquisador na produção e realização dos trabalhos da atualidade que circundam o universo da Literatura de cordel e do Regionalismo, em um aspecto geral. 1) LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO O levantamento bibliográfico ocorreu em duas etapas: a primeira, de forma presencial na biblioteca da Universidade Federal de Sergipe, e a segunda, mediante a utilização do banco de dados virtual da biblioteca da USP (Universidade de São Paulo). Os caminhos para os sites das bibliotecas da USP e da Universidade Federal de Sergipe, são respectivamente: Universidade de São Paulo – DEDALUS Banco de dados bibliográficos da USP Link: http://dedalus.usp.br/ ; Link: http://www.teses.usp.br Universidade Federal de Sergipe – Pergamum Bibliotecas UFS Link: http://pergamum.bibliotecas.ufs.br/ As palavras chave utilizadas nesse processo foram: I. Literatura Oral II. Literatura de Cordel III. Cordel IV. Leandro Gomes de Barros V. Francisco Chagas de Batista VI. Literatura Regional SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Foram levantados no total 23 obras das quais 14 delas se encontram na UFS e 9 na USP. Além dessas, também houve mais 16 obras recolhidas por fontes secundárias. Status: Concluído 2) LEITURA E FICHAMENTO DE OBRAS SELECIONADAS As obras escolhidas para leitura e fichamento foram selecionadas nessa primeira etapa de pesquisa (como mencionado anteriormente), visando sanar deficiências conceituais; priorizando dados e informações dentro de uma cronologia pré-estabelecida entre as décadas de 20 e 30, buscando, dessa forma, delimitar temporalmente o objeto de pesquisa. Essa decisão foi tomada durante a primeira reunião de orientação com o Prof. Leandro Domingues Duran, ainda na fase inicial de discursão metodológica realizada no mês de agosto de 2016. Além disso, também foi levado em consideração a acessibilidade a estas obras. Os textos selecionados para a leitura e fichamento nessa primeira fase de pesquisa, foram: ALCOFORADO, D. F. X. Problemas e questões da pesquisa em Literatura Oral. A Cor das Letras, Feira de Santana, v. I, n.2, p. 67-72, 1998. ALÉSSIO. R. L. S. A Representação Social da Violência na Literatura de Cordel Sobre Cangaço. Universidade federal de Pernambuco. Recife. 2004ARAÚJO, H. H. de. A tradição do regionalismo na literatura brasileira. Revista Letras. Curitiba, n.74, p. 119-132, 2008. ARAÚJO, Adriana de Fátima Barbosa. O regionalismo como outro. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, v. 28, p. 113-124, 2006. BARBOSA. S. C. S. As representações dos cangaceiros Antônio Silvino e Lampião em versos da Literatura de Cordel. Universidade Federal do Rio de SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Janeiro. 2013 CASCUDO, Luís da Camara. Literatura Oral no Brasil. São Paulo, 2012. CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. Ouro sobre azul, Rio de Janeiro. 2006. CHIAPPINI, Lygia. Do beco ao belo: dez teses sobre o regionalismo na literatura oral. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 8, p.153-159, 1995. D.M. ANTONIO ALAN. O cangaço em Fogo Morto e em Os desvalidos. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Pará. Instituto de letras e comunicação, programa de pós graduação em letras, Belém. 2012. LEITÃO, Júnior, A. M.. As imagens do Sertão na literatura nacional: o projeto da modernização na formação territorial brasileira. Terra Brasilis (Nova Série). 2012. LUNA E SILVA, Vera Lúcia de. Primórdios da Literatura de Cordel no Brasil: um folheto de 1865. Graphos v. 12, Joao Pessoa. 2010 MENEZES. M. I. O. O CANGAÇO REPRESENTADO ATRAVÉS DO CORDEL. Faculdade Sete de Setembro. Paulo Afonso. Bahia. 2009 TOLEDO, M. P. M e F. O Cangaço na Literatura Oral. Revista Leitura, São Paulo, 1991. Status: Concluído 3) RESULTADOS SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Os resultados obtidos baseiam-se nas discursões geradas através das reuniões, leituras e fichamentos, buscando-se a construção de uma visão geral no que tange a relação entre os temas do Cangaço, literatura oral, cordel e regionalismo. Ao mesmo tempo, é de fundamental importância neste tópico, salientar de que forma as expressões literárias (em especial a Literatura de Cordel) relacionam-se com a sociedade, consolidando valores tradicionais em alguns momentos, porém em outros reconstruindo seus ideários. Status: Completo. ANEXOS 1. RESULTADOS PARCIAIS O cangaço foi um fenômeno social de extrema relevância no nordeste brasileiro, caracterizado pela ação de bandos armados na região conhecida como Zona da Mata nordestina, ao qual, promoviam-se: assaltos, roubos, estupros entre outros crimes violentos, desde meados do século XVII até o final da década de 30. Os bandos de cangaceiros eram constituídos de forma bastante variada, aportando “negros fugidos, bandeirantes desgarrados de suas missões e holandeses remanescentes das tropas desse país, que lutaram contra os portugueses pela posse da próspera costa nordestina” (DANTAS, 2012, apud PERICAS, 2010, p. 17). Para melhor compreensão do fenômeno cangaço, é de suma importância fundamentar-se nos aspectos físicos do nordeste semiárido, tanto quanto nas características culturais e sociais dos seus habitantes (MARCONDES e TOLEDO, 1991). Para Hobsbawm (2010), por exemplo, a proliferação desse tipo de banditismo é um reflexo da falta de controle de um poder central do Estado nas áreas geograficamente afastadas. Com a falta de instrumentos de coerção e justiça publica, essas regiões tendiam a originar formas de banditismo como o cangaço, instigadas por SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA um sentimento de “justiça com as próprias mãos” (DANTAS, 2012, p. 19). Marcondes e Toledo também agregam o mesmo sentimento de injustiça ao nordestino em seu fabuloso texto, O cangaço na Literatura Oral: “Outro dado importante a considerar na composição do retrato do homem da região nordestina são a credulidade e a desconfiança. ao mesmo tempo. Foram o coronelismo e o mandonismo que propiciaram basicamente a ascensão do cangaço. O cangaceiro procurava vingar a humilhação dos humildes; outras vezes, paradoxalmente, tripudiava sobre a humildade. (MARCONDES e TOLEDO, 1991, p. 2)”. Tudo indica que os cangaceiros eram os roceiros e vaqueiros da comunidade sertaneja. Estes eram geralmente muito ligados ao vigor físico, concebendo-o como um atributo fundamental do seu cotidiano. Isso, provavelmente, se dá por conta de uma dura e pré-matura transição para a vida adulta. Marcondes e Toledo (1991), explicam em seu texto O cangaço na Literatura Oral, que essa correlação entre vigor físico e a honra do sertanejo, pode estar associado à ruptura de alguns padrões adotados como: “a mulher, através da honra; e o menino, na escolha da profissão.” Já no âmbito fisiográfico, um fator peculiar do nordeste em relação ao mundo (e que o torna mais uma vez especial) é a existência de um polígono com oito a treze por cento de aridez (MARCONDES e TOLEDO, 1991), o que faz com que parte da região seja constituída do bioma catinguense. Existe, então, na mesma região uma fachada litorânea e úmida, conhecida como zona da mata; o sertão (ambiente dominante em mais noventa por cento do nordeste semiárido) caracterizado por conter uma vegetação basicamente xerófita e de clima quente e seco; além de uma faixa de transição conhecida pelos nordestinos como agreste (MARCONDES e TOLEDO, 1991). Em relação à posição geoclimática do nordeste, temos outra particularidade; ela é azonal, isto é, possui um clima atípico para sua região, já que o clima semiárido ocorre geralmente nas zona tropicais, enquanto que o nordeste se encontra numa faixa subequatorial. O único rio constante do nordeste é o Rio São Francisco, ocorrendo a predominância de rios intermitentes, o que praticamente delimita toda produção agrícola as áreas de brejo (os oásis do sertão nordestino) (MARCONDES e TOLEDO, 1991). SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Ainda segundo Marcondes e Toledo (1991), apesar dos ataques cangaceiros se concentrarem nessa porção do país chamada Polígono das secas, ou essencialmente; como aponta Dantas (2012), nos estados de Pernambuco e Bahia (devido a suas altas concentrações humanas nesse período), não se pode dizer que esses grupos tiveram atuação somente nessa parte do Brasil. Existiram atuações do cangaço possivelmente em todo território brasileiro, isso a depender apenas do tipo de cangaço de cada lugar. No verbete Cangaceiros, da enciclopédia Mirador, Queirós e Sousa (MARCONDES e TOLEDO, 1991), delimitam três variações “cronológicas” do cangaço: “ a) defensivo, de ação ocasional na guarda de propriedades rurais; b) Político, expressão de poder dos grandes fazendeiros; c) Independente, de caracterização do próprio banditismo.” O terceiro tipo, iniciado na porção final do século XIX e perdurando até o começo do século XX, (MARCONDES e TOLEDO, 1991), estará sendo o em enfoque deste trabalho. Este tipo de banditismo, operou entre os anos de 1890 a 1940, período onde surgiram figuras como Manoel Batista de Alencar, popularmente chamado de Antônio Silvino e Virgulino Ferreira, o lampião, morto na chacina de 1938 em Angicos, no estado de Sergipe. Tanto Antonio Silvino, quanto Lampião, foram intitulados Reis do Cangaço, cada qual em sua época (DANTAS, 2012, p.22). Além deles, Cristiano Gomes da Silva Cleto, conhecido como Corisco (“braçodireito” de lampião), e que não estava na chacina de 38, foi importante personagem na continuidade do cangaço após a morte de Virgulino Ferreira, pelo menos, até a sua morte em 1940, que marca historicamente o fim do movimento cangaceiro, que inclusive, já estava em retrocesso por conta da abertura das fazendas de café no norte do Paraná e em São Paulo, somadas a forte industrialização do sul e sudeste, que propiciavam ao nordestino uma fuga de suas condições (muitas vezes subumanas) trilhando um caminho que não fosse o banditismo (MARCONDES e TOLEDO, 1991). A modernização também é outro fator importante para o fim do movimento cangaço segundo o historiador britânico Eric Hobsbawn: “Num sentido mais lato, a 'modernização’ priva qualquer banditismo, inclusive o social, das condições nas quais floresce” (HOBSBAWM, 2009, p. 38). Isso estaria evidenciado nos ataques de bandos SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA cangaceiros, efetuados contra funcionários de empresas construtoras de estradas e ferrovias que uniam o sertão a Zona da Mata nordestina, fato que aproximaria o Estado das regiões anteriormente afastadas de seu poder coercivo. Um exemplo desses ataques é apontado por Péricas (2010, p. 37-8): “[...] um episódio ocorrido em 18 de outubro de 1929, quando Lampião e seu bando massacraram nove trabalhadores que construíam a rodovia que ligava Juazeiro a Santo Antônio da Glória, temerosos de que a rodovia, que passaria pelo Raso da Catarina, região inóspita da Bahia que servia de esconderijo para os bandidos, facilitasse o acesso das tropas volantes” (DANTAS, 2012, p. 24). Para Facó (DANTAS, 2012, apud 1983), o Cangaço e os movimentos messiânicos seriam resultado de questões socioeconômicas, como a má distribuição de terras e os salários miseráveis pagos aos sertanejos trabalhadores de suas fazendas. Já Péricas (2010), concorda com Hobsbawn (2009), quando aponta a modernização como um fator importante para o fim do cangaço, porém informa que a morte de Lampião na chacina em 1938 também contribuiu para a queda do banditismo. Isso poderia ser explicado pelo alto numero de cangaceiros que se entregaram a volante após o cerco do Angico. A imagem de Lampião como Rei do Cangaço era referencial para o seu movimento e como não havia outro para assumir o seu posto, sua morte ocasionou no definhamento do cangaço (DANTAS, 2012, p. 24). Outra característica encontrada na terceira fase desse movimento, é que, diferentemente das anteriores, as atuações dos cangaceiros já não eram realizadas em prol dos períodos de seca e pobreza, o banditismo nesse período acontecia em tempos chuvosos e de prosperidade. Esta diferença é apontada por Dantas no trecho: “No período do cangaço independente, as secas deixaram de ser uma das principais motivações para a formação dos bandos. Com efeito, os agrupamentos de cangaceiros não se desfaziam no período de chuvas ou quando sobrevinham períodos de prosperidade económica. Aliás, para os bandos de cangaceiros, que viviam de furtos e extorsões, quanto maior a riqueza e prosperidade de um local, melhores eram as possibilidades de lucro. Assim, o cangaço transformou-se em uma profissão, um oficio, que oferecia, inclusive, ganhos maiores que a maior parte das ocupações do Sertão, fato inclusive gabado por cangaceiros.” (DANTAS, 2012, p.22) SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA De certo, ao tempo em que o movimento cangaceiro alastrava-se pelo sertão nordestino trazendo de forma paradoxal, tormento e refúgio para a desprezada população sertaneja da época, também acontecia em fins do XIX, o surgimento de um movimento de suma importância para a expressão da literatura oral no Brasil, a impressão de folhetos e livrinhos conhecidos popularmente como literatura de cordel, (LUNA E SILVA, 2010), retratando e projetando no imaginário do cidadão nordestino concepções culturais e sociais de seus valores e condutas, tal qual para o próprio ideário sobre o cangaço. Em outras palavras, Antônio Candido (2006), explica como a arte se faz social para o sociólogo moderno em pelo menos dois aspectos: a dependência da atuação dos “fatos reais” do meio por onde são abordados de forma ficcional pela obra literária; a concessão ao indivíduo de um sentido prático ou de sua familiarização com a obra, sendo reforçados, através dela, os valores sociais que alteram a percepção e a conduta do mesmo perante suas ações cotidianas. Isso, independente do grau de consciência do autor ou do receptor da informação. A arte seria então, um sistema simbólico de comunicação inter-humana, e justamente por este caráter sociológico, torna-se importante para o sociólogo (CANDIDO, 2006, p. 30). A respeito dessas interações entre a literatura e o meio, Antônio Candido (2006) faz uma análise histórica sobre a aceitação dessas contribuições em seu livro Literatura e sociedade: "Talvez tenha sido Madame de Staél, na França, quem primeiro formulou e esboçou sistematicamente a verdade que a literatura é também um produto social, exprimindo condições de cada civilização em que ocorre. Durante o século XIX não se foi muito além desta verificação de ordem geral, adequada mais aos panoramas do que aos casos concretos, mesmo quando Taine introduziu o conceito mais flexível e rico de momento, para completar o meio e a raça dos tratadistas anteriores. Na prática, chegou-se à posição criticamente pouco fecunda de avaliarem que medida certa forma de arte ou certa obra correspondem à realidade. E pulularam análises superficiais, que tentavam explicar a arte na medida em que ela descreve os modos de vida e interesses de tal classe ou grupo, verdade epidérmica, pouco satisfatória como interpretação. (CANDIDO, 2006, p. 29). SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Contudo, para se entender as relações sociais intrínsecas em dada literatura, e de fato, utilizá-la na produção de conhecimento, é necessário abordar primeiramente, quais as expressões artísticas e literárias vão ao encontro do movimento cangaceiro, cujo principal cenário foram as paisagens semiáridas do nordeste. Devido essa carência, buscou-se conceituar e discutir a literatura através de aspectos do regionalismo (nordestino), definido por Araujo (2006) como: “[...] a expressão literária que valoriza a força que se dá a peculiaridades locais, tanto em suas formas particulares de dizer quanto na exploração descritiva de seu lugar geográfico” (ARAUJO, 2006, p.113). Lygia Chiappini (1995), em seu texto Do beco ao belo, onde reúne 10 teses sobre o regionalismo na literatura oral, conceitua este movimento da seguinte maneira: “[...] qualquer livro que, intencionalmente ou não, traduza peculiaridades locais", definição que alguns tentam explicitar enumerando tais peculiaridades ("costumes, crendices, superstições, modismo") e vinculando-as a uma área do país: regionalismo gaúcho", regionalismo nordestino", "regionalismo paulista"...Tomado assim, amplamente, pode-se falar tanto de um regionalismo rural quanto de um regionalismo urbano. No limite, toda obra literária seria regionalista, enquanto, com maiores ou menores mediações, de modo mais ou explicito ou mais ou menos mascarado, expressa seu momento e lugar. Historicamente, porém, à tendência a que se denominou regionalista em literatura vincula-sea obras que expressa regiões rurais e neles situam suas ações e personagens, procurando expressar suas particularidades linguísticas” (CHIAPPINI, 1995, p.153). Chiappini, observa que a literatura regionalista é muitas vezes vinculada ao Romance Idílio ou a pastoral, porém salienta que apenas em meados do XIX, com George Sand na França, Waher Scott na Inglarerra e Berthold Auerbach na Alemanha, é que se retoma o regionalismo literário na procura progressiva de dar mais espaço ao homem do campo; num esforço pouco contemplado, de ser visualizado pelo individuo da cidade, para o qual é destinado essa literatura. Atualmente, com os avanços das técnicas agrícolas, o êxodo rural, o crescimento de cidades e de uma literatura urbana, o regionalismo é tido como algo retrógado e ultrapassado, conservador de aspectos estéticos e ideológicos, porém, ao mesmo tempo, continua a ser um tema bastante delicado por se compor de inúmeras variáveis históricas e culturais. Além SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA disso, à medida que se aprofunda o assunto, é perceptível o caráter universal do regionalismo em tratar de reações anteriormente; contrárias ao iluminismo e a centralização do poder do estado nação, ou ainda como no presente, como uma reação a chamada globalização. O regionalismo é então um fenômeno de resistência cultural mediante os nivelamentos globais disseminados pelo ocidente (CHIAPPINI, 1995, p.154). Voltando a Araújo, em seu texto O regionalismo como o outro, o pesquisador aponta as possíveis motivações políticas por trás do discurso crítico do regionalismo, motivações estas, que foram construídas ainda no período de transição do Império para a República. Derivadas de uma série de tentativas do sistema republicano em implementar na população brasileira, um sentimento de pertencimento nacional com base na atipicidade das regiões, buscando assim neutralizar as influencias do personalismo monárquico e paternalistas advindos desde o período de colonização (ARAÙJO, 2006, p.113). Nessa ideia, os termos nação e região são conceituados como forças opositoras, estando “nação” relacionada à centralização do poder, ao tempo que “região”, indicaria o outro em relação a este centro de poder; ou simplesmente, as marginalizadas porções do país afastadas do Sul e do Sudeste. Desta forma, lidar com o regionalismo é lidar como uma palavra carregada de pré-conceitos, geralmente exprimida como um nacionalismo barato e raso. O Regionalismo tem contribuição fundamental para discursão ao que Candido (1975), refere-se como um movimento literário que se inicia no romance brasileiro contendo uma preocupação com a expressão dos elementos regionais, geralmente sob circunstâncias que apontavam as dificuldades cotidianas, isto é, em torno de um problema humano. No entanto, o mesmo explica que a paisagem, quando trabalhada nas obras “destinadas aos leitores da cidade”, tendia muitas vezes a sobressair à narrativa humana, tornando os aspectos humanos, menos relevante que o do meio: “[...] tende a anular o aspecto humano, em benefício de um pitoresco que se estende também à fala e ao gesto, tratando o homem como peça da paisagem, SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA envolvendo ambos no mesmo tom de exotismo. É uma verdadeira alienação do homem dentro da literatura, uma reificação da sua substância espiritual, até pô-la no mesmo pé que as árvores e os cavalos, para deleite estético do homem da cidade” (CANDIDO, 1975, p. 212-213). O crítico Afrânio Coutinho delimita duas entradas para o termo regionalismo. O primeiro compreende toda obra artística como regional, já que a mesma pertence originalmente a uma região específica. A segunda, é referida pelo autor como “regionalismo autentico”, e é caracterizada por toda obra essencialmente construída sob uma particularidade; substancia real da região. Ainda sobre essa “substancia real” encontrada no regionalismo autentico, o autor explica que estes elementos são “confeccionados” “[...] primeiramente, do fundo natural – clima, topografia, flora, fauna, etc. – como elementos que afetam a vida humana na região; e em segundo lugar, das maneiras peculiares da sociedade humana estabelecida naquela região e que a fizeram distinta de qualquer outra.” (ARAUJO apud COUTINHO, 2006, p. 114). Ainda sobre Coutinho, Araújo (2006) comenta sobre a divisão do regionalismo no Brasil realizado pelo crítico. São elas: o regionalismo nortista; nordestino, baiano, central, paulista e gaúcho. O mesmo, ainda salienta que é através das particularidades locais de um autor, que encontramos uma “humanidade profunda” (ARAUJO, 2006, p.115). Segundo Lucia Miguel-Pereira (ARAUJO, 2006) o regionalismo é definido como a produção literária que tem por finalidade difundir costumes, tradições e linguagens locais, sendo estes elementos, diferentes em relação à civilização niveladora. Nota-se no texto que a utilização do termo “civilização niveladora” representa uma concepção tendenciosa e favorável a visão do colonizador, à medida em que situa o outro, notadamente o regionalismo, na condição de desnivelado (ARAUJO, 2006, p.115). Isso contribui para a desvalorização e barateamento das expressões regionais. Campo minado de preconceitos, o regionalismo é, conforme Chiappini (1995) uma tendência temática da literatura que se coloca à margem da “literatura oficial”, muitas vezes ainda confundida com o folclore, a etnografia e a pedagogia. E justamente por estes fatores anda a ser impregnada de críticas equivocadas. Entretanto, Lygia SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Chiappini também coloca esse esforço em desvalorizar o regionalismo como algo “compreensível” partindo da discrepância no alto número de obras produzidas com baixa qualidade em relação a obras como as de Guimarães Rosa e Euclides da Cunha, estas por sua vez consideradas obras universais. O problema então passa a não ser necessariamente o que é a literatura regionalista, mas como diferenciar esteticamente uma obra regional “boa”, de uma “má”. Desta forma, a única maneira de colocar estes escritores considerados pela crítica como portadores de uma qualidade estética igualitária a literatura oficial, é se considerarmos o regionalismo como um produto histórico sujeito a alterações e melhorias, onde cada autor está sujeito por sua vez às limitações de seu tempo e espaço. Ainda segundo Chiappini, o regionalismo visto como uma estética fechada, movimento delimitado geograficamente e cronologicamente, não se faz interessante no tocante ao ponto de que se torna apenas mais um “ismo” entre muitos, no entanto, quando verificado a sua dinamicidade, seus processos e modificações ao longo do tempo, onde o foco se dá na mensagem que o pobre trabalhador rural cria através da arte para um público conservador e urbano, numa tentativa de ser enxergado pelo mesmo como um outro ser humano”, é notoriamente mais interessante. Logo, a qualidade de pitoresco, de atipicidade local, e da descrição realista, ambas tomadas como um ponto desfavorável pela crítica, é a seu tempo, uma grande conquista. (CHIAPPINI, 1995, p.157). Miguel-Pereira (ARAÙJO, 2006), propõe um regionalismo difundido em cinco surtos, o primeiro abarcando o decênio de 1870 a 1880, que seria um regionalismo exótico e pitoresco marcado pelapreferencia pelo conto. Valoriza em primeiro lugar os “três-jeitos” dos personagens, fortemente atrelados aos costumes locais, o que torna a figura humana o segundo plano da narrativa e delibera um artificialismo quase teatral. O Segundo surto teria acontecido no fim do século XIX após a abolição da escravatura. Essa fase seria caracterizada por uma tentativa entre os autores da fase, de construir algo puramente brasileiro e livre das influencias externas; o que contribuiu para um regionalismo mais “verdadeiro” em relação aos demais, e o que tornava o regionalismo SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA em: “um laboratório para concepções mais universais da vida e do homem” (ARAUJO, 2006, p. 116) . A fase conseguinte, possuiu menor rigidez quanto as demais anteriores, sendo mais flexível e aberta as diferentes perspectivas da região. Enquanto que o quarto surto é fortemente marcado pelo filão Euclidiano, sendo o romance Os Sertões o seu grande marco. Finalizando, com o quinto surto, tem-se na quebra do foco descritivo com um enfoque maior sobre a denúncia das condições sertanejas, a sua maior alteração (ARAUJO, 2006, p. 116). Araújo, ainda observa que a concepção de “avanço”; no que se (re)fere a literatura regionalista pela crítica de Miguel-Pereira, se dá sob uma visão de cosmopolita, o que condiciona a crítica a um favorecimento de elitismos. Já para Antonio Candido, o regionalismo surge da necessidade de expressar nacionalismos, onde escritoras e escritores passaram a descobrir um brasil encoberto pelo contínuo colonialismo português. Resumidamente, Candido constrói sua análise observando que foi o nacionalismo que estimulou o regionalismo, nota-se então, um rompimento na ideia de uma divisão entre nação e região, sendo considerado nesse momento pelo crítico, o nacionalismo como “escrever coisas locais”. O regionalismo teria sido iniciado então após o surgimento do Indianismo no romantismo brasileiro, em 1850, quando os romancistas pretendiam recuperar os traços nacionais mais originais e diferenciados em relação ao padrão português. Isso acarretou, segundo Candido, em uma independência literária que criasse a necessidade de utilizar as formas importadas dentro de temáticas locais, gerando por sua vez, a necessidade de novas formas que satisfizessem essa proposta (ARAUJO, 2006, p. 117). Ainda sobre Candido, o crítico observa que de 1880 a 1920, se produz uma literatura regional “pobre e romantizada”: tratou o homem rural do ângulo pitoresco, sentimental e jocoso, favorecendo a seu respeito ideias feitas perigosas tanto do ponto de vista social quanto, sobretudo, estético.” (ARAUJO apud CANDIDO, 2006, p. 118). Segundo ele, apenas no decênio de 1930 é que passa-se a produzir um regionalismo sem o pitoresco, caracterizada por escritores “explicadores do Brasil”, onde o homem pobre era problematizado (ARAUJO, 2006, p. 118). SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Bosi (2006), caracteriza as obras regionalistas como se fossem o produto bruto, “quase sempre uma prosa híbrida onde não alcançam o ponto de fusão artístico o espelhamento da vida agreste e os modelos ideológicos e estéticos do prosador” (ARAUJO apud BOSI, 2006, p. 119). Para Sodré, o regionalismo é originado diante da insuficiência da figura do índio para a identidade do país, pois somente o homem do interior seria apto a externar o ser brasileiro. Bosi, utilizando-se desse argumento, tenta justificar porque a literatura regional é menor; explicando que este tipo de produção, nada acrescentaria aos anseios de um leitor médio (ARAUJO, 2006, p. 120). Bosi também relaciona a oralidade com o regionalismo colocando em discursão a inserção do sujeito excluído como objeto da escrita e o individuo iletrado como pertencente ao processo simbólico. A oralidade então possui suas raízes no romantismo, caracterizando-se por conter na obra um narrador culto e personagens com elementos locais que possuem um posicionamento subalterno ao narrador, dada a abordagem com pouca expressividade do homem do campo (ARAUJO, 2006, p. 121) Roberto Schwarz aproxima-se do que aponta Bosi, em seu trabalho Nacional por subtração, fazendo uma brilhante reflexão que associa a criação do estado nacional mediante a imagem do escravo, a segregação de uma grande parcela cultural da população durante o processo de reiteração do trabalho forçado ou semi forçado da parcela pobre do país (ARAUJO, 2006, p. 121). Dentre todas as questões apresentadas sobre o regionalismo, uma delas, especificamente, é de interesse neste trabalho: A literatura oral. A primeira denominação para a literatura oral foi elaborada em 1881 pelo francês Paul Sébillot, no seu trabalho Littérature Oral De la Haute-bretagne onde o autor a conceitua da seguinte maneira: "La littérature orale comprend ce qui, pour le peuple qui ne lit pas, remplace les productions littéraires." (CASCUDO, 2012, p. 12) São atribuídas a este tipo de literatura: provérbios, cantos, adivinhações, frases feitas entre outras estruturas textuais que se caracterizam pela persistência na oralidade. Cascudo, em seu livro Literatura Oral, aponta duas fontes contínuas para a sobrevivência dessa tradição: SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA "[...] Uma exclusivamente oral, resume-se na estória, no canto popular e tradicional, nas danças de roda, danças cantadas, danças de divertimento coletivo, ronda e jogos infantis, cantigas de embalar (acalantos), nas estrofes das velhas xácaras e romances portugueses com solfas, nas músicas anônimas, nos aboios, anedotas, adivinhações, lendas, etc. A outra fonte é reimpressão dos antigos livrinhos, vindos de Espanha ou de Portugal e que são convergências de motivos literários dos séculos XIII, XIV, XV, XVI, Donzela Teodora, Imperatriz Porcina, Princesa Magalona, João de Calais, Carlos Magno e os Doze Pares de França, além da produção contemporânea pelos antigos processos de versificação popularizada, fixando assuntos da época, guerras, política, sátira, estórias de animais, fábulas, ciclo do gado, caça, amores, incluindo a poetização de trechos de romances famosos tornados conhecidos, Escrava Isaura, Romeu e Julieta, ou mesmo criações no gênero sentimental, com o aproveitamento de cenas ou períodos de outros folhetos esquecidos em seu conjunto." (CASCUDO, 2012, p. 13) São produções realizadas por cantadores de rua, fazedores de improviso, desafiantes de versos que se popularizam pelos sertões do Brasil. É uma literatura folclórica e popular, salientando que todo folclore é popular, mas nem toda produção popular representa um folclore. Pensando nessa ambiguidade, Cascudo delimita o folclore em quatro características elementares: Antiguidade; Persistência; Anonimato e Oralidade." (CASCUDO, 2012, p. 13). O folclore é regido então pela memória coletiva, indistinta e contínua, e sob essa visão, os contos populares tornam-se folclóricos apenas quando perdem as tonalidades da sua época de feitura, provocando uma falta de exatidão na sua cronologia (CASCUDO, 2012, p. 13). Augusto Raul Cortazar, explica esse processo de descaracterização da seguinte forma: “Una generación acoge con simpatía una obra de un autor dado, que puede ser famoso o desconocido para la mayoría. Encuentra en esa obra de arte ecos de lo que canta, siente e cree su propiaalma, y la transmite a la generación siguiente como cosa conquistada y propia. En ese tranvasar de la materia artística se ha evaporado el nombre del autor. Y más aún. Si algún rastro de cultismo o artificio denunciara su origen, el legado va purificándose en esas sucesivas transmisiones. Ya omitiendo, para concentrar su poder emocional y sugestivo, como en el romance del conde Arnaldos, ya sustituyendo versos, expresiones o pasajes rebuscados y obscuros, o ya, finalmente, con glosas y añadidos. A la fe que si a veces se desfigura y afea la obra original, otras muchas veces, a fuerza de ser llevada en la corriente, adquiere, como las piedras del arroyo, tersura y suavidad. Ha entrado entonces de lleno en los dominios del Folklore”" (CASCUDO, 2012, p. 14) SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Candido, em seu livro Literatura e Sociedade, explica que a atuação dos fatores sociais, isto é, a carga social, contida dentro de um obra de literária, depende do tipo da arte e da sua orientação geral, podendo dividir-se, entre a arte de agregação e a de segregação. Entende-se por arte de agregação, aquelas inspiradas por uma memória coletiva e que são disponibilizadas de forma acessível à população. Utiliza-se nessa primeira situação um sistema de símbolos vigente em dada sociedade, criando uma expressão artística de identidade. Já a segunda, de segregação, caracteriza-se pela elaboração de novos sistemas simbólicos, que inicialmente serão destinados a uma parcela de indivíduos menor, os tornando privilegiados (CANDIDO, 2006, p. 31). Um exemplo desse segundo tipo de produção segregativa, pode ser representada de forma metafórica pelo presente trabalho. O crítico literário Luís Camara Cascudo, faz um paralelo entre a literatura oral e a literatura “oficial” observando que este mesmo, folclore, quando enfocado para fins da etnologia, torna-se uma constante cultural, à qual o próprio, se utiliza desse argumento para expor a diferença entre, literatura oficial e literatura oral, no trecho: A literatura que chamamos oficial, pela sua obediência aos ritos modernos ou antigos de escolas ou de predileções individuais, expressa uma ação refletida e puramente intelectual. A sua irmã mais velha, a outra, bem velha e popular, age falando, cantando, representando, dançando no meio do povo, nos terreiros das fazendas, nos pátios das igrejas nas noites de “novena”, nas festas tradicionais do ciclo do gado, nos bailes do fim das safras de açúcar, nas salinas, festa dos “padroeiros”, potirum, ajudas, bebidas nos barracões amazônicos, espera de “Missa do Galo”; ao ar livre, solta, álacre, sacudida, ao alcance de todas as críticas de uma assistência que entende, letra e música, todas as gradações e mudanças do folguedo." (CASCUDO, 2012, p. 17) O limite para essa transmissão cultural, está atrelado a força de sua tradição dentro de uma comunidade. Nesse sentido, a tradição, traditio, tradere, é fundamental SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA para a persistência dessa literatura, sendo repassada de geração para geração e significando segundo Morais (1831): “[...] notícia que passa sucessivamente de uns em outros, conservada em memória, ou por escrito”. (CASCUDO, 2012, p. 20). O limite para essa transmissão cultural, está atrelado a força de sua tradição dentro de uma comunidade. Nesse sentido, a tradição, traditio, tradere, é fundamental para a persistência dessa literatura, sendo repassada de geração para geração e significando segundo Morais (1831): “[...] notícia que passa sucessivamente de uns em outros, conservada em memória, ou por escrito”. (CASCUDO, 2012, p. 20). Segundo Luna e Silva, a literatura de cordel teria surgido através do poeta, Leandro Gomes de barros, após a publicação do seu primeiro folheto no ano de 1893. No entanto, ainda à cerca do momento de origem do cordel, é observado a publicação do que seria um primeiro livreto sem autor declarado, no ano de 1865. Ainda a respeito do começo da literatura de cordel, Luna e Silva descrevem com clareza este processo: Sabe-se que a origem dessa literatura está vinculada às cantorias nordestinas, especialmente ao grupo de Teixeira, na Paraíba, e que ela surge a partir de modificações introduzidas nas cantorias. Segundo Sebastião Nunes Batista (1977, p. 23), os primeiros poemas escritos, principalmente histórias de bois como O Rabicho da Geralda, O Boi Espácio, Boi Surubim, Vaca do Burel, circulavam em cópias manuscritas. Igualmente em cópias manuscritas, foram registrados os poemas de cantadores famosos como Agostinho Nunes da Costa, Nicandro Nunes, Ugolino Nunes da Costa, Francisco Romano entre outros. Átila Almeida (1978) atribui a Silvino Pirauá as mudanças na cantoria que consistiam em substituir a quadra pela sextilha e aideia de rimar histórias tradicionais. Já Câmara Cascudo (1979) afirma que Silvino Pirauá foio iniciador do romance em verso com A História de Zezinho e Mariquinha e A Históriado Capitão do Navio. Por tudo isso, Silvino Pirauá de Lima assume também um papel relevante no início da literatura de cordel, embora ainda existam muitas dúvidas sobre a autoria da História do Capitão do Navio. São, portanto, Leandro Gomes de Barros e Silvino Pirauá de Lima os nomes mais citados quando se trata das origens da literatura popular impressa no Brasil (LUNA E SILVA, 2010, p.74). Os elementos e temas são geralmente possuidores de enredos que partilham: paisagens, frases feitas, ditos populares e modismos verbais, elementos comuns com o SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA leitor nordestino. Cascudo afirma que os contos de rir e de obscenidades são uma conquista dos “civilizados”(ui). Enquanto a literatura oral permeiam temas através de anedotas, cantigas, adivinhas e rondas infantis (CASCUDO,2012, p. 26). Cascudo ainda observa que a impressão desses folhetos é uma forma de literatura que abrange o nordeste de tão vasta maneira que “[...] Compreende um público como não sonha a vaidade dos nossos escritores”, ao tempo em que é passado até mesmo numa espécie de leitura tradicional para o público não alfabetizado. Além disso, um fato curioso, é que, geralmente este público não recorda o nome do autor, mas apenas o assunto, enredo, ou resumidamente “os causos”, num aspecto geral. (CASCUDO, 2012, p. 16) O objetivo dessas histórias não era mero entretenimento ou forma de provocar sono nas crianças, afirma Cascudo, mas sim uma ferramenta de doutrinação que alcançava tanto o público infantil quanto o público adulto, através de: “apólogos, estorietas rápidas, o corpo de ensinamentos religiosos e sociais que preside a organização do grupo”, Desta forma, pode-se argumentar uma forte influência social exercida pela literatura de cordel (CASCUDO,2012, p. 27) Conforme aponta Almeida (2014), o processo de formação da sociedade brasileira se deu através de uma miscigenação étnica-racial bastante variada, possibilitando um Brasil de grande diversidade cultural. Contudo, essa pluralidade tão rica e fascinante, é marcada por um histórico de desigualdade e discriminação contra descendentes africanos, indígenas e até mesmo, para as populações nordestinas, dificultando o desenvolvimento econômicoe social destes grupos. Tratando especificamente do Nordeste, esta região tão repleta de belezas típicas, Almeida (2014) ainda salienta que a mesma “desenvolveu hábitos próprios com relação ao mundo e as manifestações culturais herdadas de geração em geração. Seus costumes perpassam por cultos africanos, culinária peculiar, frevo, capoeira, artesanatos...”. Seguindo este pensamento, a literatura de cordel, como um produto cultural herdado durante a colonização, é capaz de representar as particularidades socioculturais do seu local e período de origem. O cordel, conforme informa Almeida (2014), tem seu surgimento em Portugal e SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA a sua primeira entrada no Brasil, na cidade de Salvador, na Bahia, onde teria de lá se espalhado para os demais estados do Nordeste. Presente na península Ibérica desde meados do século XVI, foi chamada na Espanha pela alcunha de “pliegos suetos”, assim como em Portugal, era apelidadas de “folhas soltas” ou “volantes”. Esta forma de literatura, possui uma construção geralmente em versos de sextilhas, septilhas ou décimas, retratando diversos temas através de sua linguagem característica (gírias e “português incorreto”), seguindo uma escrita fiel aos moldes de sua região. O cordel pode ser ainda encarado como sendo, fundamentalmente, o jornal nordestino, relatando acontecimentos como: as secas, enchentes, invasões cangaceira, reviravoltas políticas entre outros assuntos, que geram nesse universo literário a impressão de centenas de títulos anuais até os dias de hoje. Para fazer menção ao poder informativo deste gênero, um cordelista que ouviu rapidamente a notícia da morte de Getúlio Vargas na rádio, publicou naquela mesma manhã um livreto intitulado "A lamentável morte de Getúlio Vargas", folheto esse que vendeu mais 70.000 copias em apenas 48 horas. (ALMEIDA, 2014, p. 3) O poeta Leandro Gomes de Barros é apontado como o primeiro a fazer a publicação de um cordel, em 1893. No entanto, acredita-se que outros poetas como Silvino Piraúa de Lima tenham feito algumas publicações anteriores. As primeiras editoras para esse tipo de trabalho tiveram origem em Recife, e logo surgiram outras na Paraíba, em sua capital. O cordelista João Melquíades da Silva, foi um dos primeiros a publicar uma tipografia Popular Editor, em João Pessoa. (ALMEIDA, 2014, p. 3). Apesar do grande índice de analfabetismo no nordeste brasileiro, os autores de cordel conseguiam disseminar suas ideias declamando seus versos nas feiras e praças das cidades, muitas vezes acompanhados por músicos. Os folhetos eram presos em cordas de barbantes (daí a origem do termo cordel), e ficavam expostos aos transeuntes que passavam. Vale a pena mencionar, que as feiras nordestinas não somente era um lugar para a comercialização de produtos, mas local aproveitado para o divertimento e entretenimento da população. (ALMEIDA, 2014, p. 4). Segundo Menezes, “Os livrinhos vindos de Portugal impressos em folhetos rústicos ou de outra qualidade de papel e expostos a venda pendurados em cordas ou SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA cordéis, constituíram-se em um meio de comunicação e um instrumento de interligação entre as sociedades que se formavam assim como é uma forma artística, uma manifestação cultural” (MENEZES, 2009, p.16). Esses folhetos, como assegura Almeida (2014), eram em sua maioria confeccionados no tamanho 11x15 ou 11x17, e impressos geralmente em papel de baixa qualidade. Na década de 20, adotou-se a produção de capas feitas em xilogravura, sendo substituída décadas depois por fotografias de estrelas do cinema americano. Relativo à sua impressão em tipografias, nos dias atuais, ouve a substituição desse método, para a adesão de trabalhos gerados a partir de fotocópias. Julgando por estes parâmetros, o cordel pode ser definido como uma “poesia narrativa, popular e impressa”. (ALMEIDA, 2014, p. 5) Para Sandra Pesavento, “este tipo de literatura é a memória de uma realidade representada em versos que pode ser usada como fonte de pesquisa histórica. Entretanto, a ficção criada por ele – o cordel - não é um retrato fidedigno da realidade, mas uma representação do que ficou a partir desta realidade” (SILVA, 2013, p.129). Seguindo esse pensamento, percebe-se que o tema cangaço é um dos assuntos mais abordados nos livretos de cordel. Para os poetas cordelistas, era impossível não registrar um movimento com as dimensões do banditismo cangaceiro, isso, devido a sua forte influência no cotidiano , assim como no próprio cenário político do nordeste. É importante observar que diversos cordelistas como Leandro Gomes de Barros, Francisco das Chagas Batista, entre outros, se dedicaram a relatar os feitos dos principais nomes do cangaço: Antônio Silvino e, principalmente, Lampião, revelando “uma relação na qual o cordelista realiza a função de biógrafo e os folhetos de cordel se constituem como um instrumento de memória”. (SILVA, 2013, p.129). À cerca da construção de figuras como Antônio Silvino e Lampião, Oliveira (2003) analisa que: A literatura de cordel consagrada pelos folcloristas como mito, símbolo da cultura popular nordestina também é responsável por consagrar personagens SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA históricos. Entendo o sentido de mito como propõe Roland Barthes, que em linhas gerais aponta ser um enunciado, um mecanismo de comunicação, um modo de significação. Independente da linguagem, um mito transforma o real num discurso, alocado na história. Ou seja, os mitos são históricos, pois são atrelados às formas de pensamento, posturas políticas, culturais e sociais. Ferreira (2009), informa que a partir da segunda metade do século XIX, a escola francesa buscava padronizar sua metodologia, almejando assim alcançar uma verdade histórica. Nesse contexto, apenas documentos considerados oficiais poderiam comprovar a veracidade como fonte. Literatura, assim como outras expressões artísticas eram desprezadas nesse processo. (GAFFO, 2013, p. 2) No entanto, com o surgimento da revista de Annales de Lucien Febvre e Marc Bloch no século XX, ocorreram mudanças significativas nos moldes da pesquisa histórica, repertoriando novas fontes e possibilitando um conflito de verdades multidisciplinares ao seu método cientifico. Esse movimento, conhecido como Nova história iniciou-se na França em 1929 com a criação da Revista de Annales d’Histoire Économique et Sociale, se posicionando contrariamente à Escola Metódica pondo em pauta uma história “problema”. (GAFFO, 2013, p. 4). Com um tempo, a Annales passou a ser vista como escola, isso após unir-se com a Sexta Seção da Ecole Pratique des Hautes Etudes, presidida por Braudel, nas décadas de 1950 e 1960. Nesse período ocorrem a “ampliação no repertório das fontes históricas e a metamorfose do próprio conceito de fonte”. (GAFFO apud FERREIRA, 2009, p. 63). Desta forma, a história passaria a estudar a sociedade em seu aspectos sociais, políticos, econômicos e sociais, tratando de enfocar a humanidade em sua complexidade, partindo para o estudo não apenas dos vencedores, mas também das pessoas que estavam à margem. Somados a isso, ao fim da década de 50 um grupo de historiadores Marxistascomeçaram a exercer a publicação de livros e artigos que discutiam “a história vinda de baixo” (GAFFO, 2013, p. 4). Em 1970, a nova geração de historiadores franceses ampliam ainda mais o SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA repertório de fontes. Sendo de suma importância a publicação da obra Nova História, de Jaques Le Goff e Pierre Nora, onde, nas palavras de Ferreira (2009): Ao proporem a dilatação do território temático do historiador – que passou a abranger objetos tais como o inconsciente, o cotidiano, a língua, a literatura, o mito, a infância, a juventude, a festa, os meios de comunicação, entre outros- os novos historiadores também estimularam a pesquisa de novos documentos – escritos, sonoros, visuais. (GAFFO apud FERREIRA, 2009, p. 64) Já no Brasil de oitocentos, diversos pesquisadores buscaram através de obras literárias uma escrita que distinguisse e valorizasse o pais, em seus aspectos culturais e sociais, tentando assim criar uma identidade nacional. (GAFFO, 2013, p. 5) Deste modo, fundamento aqui a utilização da “literatura não oficial” (o cordel), como principal fonte de pesquisa para este trabalho. Concluo então, esta primeira fase do relatório, após ter sido feito um apanhado histórico geral sobre o movimento cangaceiro, ser trabalhado os conceitos de literatura regionalista e literatura oral, além de discutida a importância e relevância da literatura de cordel, evidenciando através dos textos discutidos um potencial considerável para a Arqueologia Histórica. Fragmentos textuais de cultura material: Triagem e Análise efetiva dos cordéis: Para esta etapa da pesquisa, foram selecionados ao todo, 13 cordéis; sendo estes pertencentes a 5 autores que foram para melhor avaliação dos resultados, divididos em SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA dois grupos. O primeiro, referente aos cordelistas da primeira geração, definidos assim como os pioneiros do movimento, pertencentes ao período de 1880 a 1930. Foram estes que além de constituírem o primeiro público, também estabeleceram as formas de produção e de distribuição dos cordéis. O segundo grupo (consequentemente a segunda geração de cordelistas), os que se apropriando das narrativas dos poetas da primeira geração, decidiram então reescreve-las. Estes compreendem o período de 1930 a 1980. Em comum, ambos os grupos tratam do movimento cangaceiro conforme a perspectiva do seu tempo, abordando diferentes histórias, porém como frisado no começo deste trabalho, reforçando os valores e tradições que simbolizam até hoje a cultura nordestina. Todos os cordéis utilizados, foram cordéis digitalizados disponíveis no acervo digital da Fundação casa Rui Barbosa, e podem ser acessados através do site: http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/poeta.html#. Foram realizados dois tipos de análise, sendo uma efetiva e de procedimento manual (leitura e desfragmentação de texto) abarcando os 13 cordeis selecionados, e outra, tendo um caráter avaliativo, sendo processado apenas 1 cordel mediante a utilização do software IRAMUTEQ. . SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Grupo 1: Cordelistas do período de 1880-1930. Leandro Gomes de Barros, nasceu na Paraíba em 19/11/1865, na Fazenda da Melancia, no Município de Pombal, é considerado o pioneiro entre os poetas populares do seu tempo. Foi educado pela família do Padre Vicente Xavier de Farias, (1823-1907), proprietários da fazenda, e dos quais era sobrinho por parte de mãe. Juntamente com sua família "adotiva" mudou-se para a Vila do Teixeira, onde ajudaria a fundar o berço da Literatura de cordel, lá permaneceu até os 15 anos de idade conhecendo diversos cantadores e poetas. Mudou-se para Pernambuco, onde tem sua primeira residência em Jaboatão, onde ficou até 1906, partindo depois para Vitória de Santo Antão e a partir de 1907 no Recife onde viveu em vários endereços, imprimindo a maior parte de sua obra poética no próprio prelo ou em diversas tipografias. (Fundação casa Rui Barbosa1) Cordel n°1 Todas as lutas de Antônio Silvino Autor: LEANDRO GOMES DE BARROS (1865-1918) Especificações: Assinatura de Rachel Aleixo confirmando a data de 1912, que corresponde ao período de residência do poeta à Rua do Alecrim 38-E, Recife. Data de publicação: 14/11/1912 Pág. 2 Partindo gente á facão fazendo do povo bife. [...] Antes de fechar a boca vi a sombra do facão. Pág. 3 [...] Arrebatei-lhe a espada marquei-lhe o pé da orelha. [...] Nem irei mais ao hotel irei tomar um café fora. [...] Depois da missa eu já tinha mandado o café fazer. [...] 1 Fonte: http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/leandro.html. Acesso em Junho de 2017. SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Fiz eles pagarem vinho pra tudo ali beber. Pág. 6 [...] Aos meus pés chiava cobra A onça rosnava adiante. [...] Escapo dos inimigos Porém a onça me come. Pág. 7 [...] Disse comigo é onça que veio ali me emboscar. [...] A onça estava escondida Era uma onça pintada. Pág. 8 [...] Deu-me um tapa no rifle que não pude sustentar [...] Saltou o rifle da mão Ahi eu disse: Estou frito. [...] Ali puxei o facão Ela me olhou e rugiu. [...] O facão em dois pedaços não sei onde caiu. [...] Nesse tapa do facão cravei-a com meu punhal. Pág. 9 Eu trazia dois punhais mas o grande ela levou. [...] Cravei-lhe o punhal no olho até onde pude entrar. [...] SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Perdi a ultima arma como podia brigar? [...] Fui ver o rifle onde estava Achei-o mas estava torto. ______________________________________________________________________ Cordel n°2 Como Antônio Silvino fez o diabo chocar Autor: LEANDRO GOMES DE BARROS (1865-1918) Especificações: ---- Data de publicação: ---- Pág. 2 [...] Tenho boa munição mais de seiscentos cartuchos Rifle, punhal e facão. Pág. 3 [...] E uma pistola mauser não sahe do meu cinturão. pág. 4 [...] Puchou por uma pistola atirou bem no meu peito [...] Nós lutamos nos punhaes os tiros de nossas armas descarregaram-se iguaes. Pág. 5 [...] Nos encontramos à noite Fomos ambos à facão. Pág. 7 SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA [...] Dos punhaes que eles traziam a bainha era meu bucho. Pulei, disse comigo fiquem queimando cartucho. Pág. 8 [...] Levei o punhal nos dentes o rifle na outra mão, A mauser embaixo do braço. Pág.11 [...] Que é que tens na mão? Ahi apontei-lhe o rifle e lhe mostrei o facão. [...] Eu hoje também preciso de descarregar meu rifle. [...] Com esse punhal o sangro com o facão faço bife. [...] Ahi abaixei o rifle botei o portão abaixo. [...] Isto é, não deixo o rifle que é quem me rende dinheiro. ______________________________________________________________________ Cordel n°3 O nascimento de Antônio Silvino Autor: LEANDRO GOMES DE BARROS (1865-1918) Especificações: ---- Data de publicação: A data do folheto pode ser fixada entre 1910 e 1912 tomando-se o local de residência, Rua do Alecrim 38-E, Recife, como referência. Pág. 2 SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA [...] Que tinha em minha cintura a marca de cartucheira. Pág. 3 [...] Em meu lado esquerdo um rifle se divulgou afinal Na palma da mão direita visivelmente um punhal. [...] Olhei para o rifle e disse você seria meu juiz. disse ao punhal. Com você eu represento o meu país. Pág. 5 Estava até limpando um rifle que estava enferrujado. [...] Eu ahi larguei o rifle Lancei mão do bacamarte. Pág. 6 [...] Eu nunca gostei de gaita. Nem carrinhos ou byrimbáu. Meus brinquedos eram espetos ou espingarda de páo. [...] Cada um com um badogue ia um no outro atirar. Pág. 7 [...] Plantei, estava o milho grande O feijão todo vajado. [...] De arma só tinha um tacho. [...] Meu rifle não tinha bala SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA o punhal tinha o perdido. ______________________________________________________________________ Cordel n° 4 Antônio Silvino, o rei dos cangaceiros. Autor: LEANDRO GOMES DE BARROS (1865-1918) Especificações: É interessante se notar que o endereço da tipografia é o mesmo do local de residência de Leandro, o que reforça a afirmação de Ruth Brito Lemos Terra de que o poeta imprimia ele mesmo seus folhetos, pelos menos nessa época (Acervo digital Casa Rui Barbosa). Data de publicação: Entre 1910-1912 levando-se em conta o local de residência que está na contracapa: Rua do Alecrim, 38-E. Recife. Pág. 2 [...] Porém conhece meu rifle e sabe como eu me bato pucha uma onça da furna mas não me tira do mato. Pág. 4 [...] Eu não vou criar galinhas pra dar capões a ninguém. Pág. 6 [...] Porque meu facão é forte meu braço é muito pesado [...] Em mim só tinha uma coroa você fez outra à facão. Pág. 7 SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA [...] Lancei mão do cavador. Pág. 9 [...] Eu juro pelo meu rifle. [...] Viaja sem o missal mas leva o rifle encostado. [...] Armar rifle e atirar Lá onde ele ordenou-se. Pág. 10 Uma piaba no mar um veado em mata virgem. [...] Mato 5 ou 6 calangos boto no sol pra secar. 4 ou 5 lagartixas dão muito bem um jantar. [...] Um rapaz meu companheiro foi pela onça comido. Pág. 11 [...] Havia muitos mocós Eu não podia os caçar. [...] Eu matava algum calango que por perto aparecia. [...] Quando apertava a sede pegava croa de frade. [...] Viram que um grande tigre estava em frente os emboscando. SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Pág. 12 [...] O tigre soltou um urro que o tenente estremeceu até a borracha d’água um dos praças perdeu. [...] Fui, apanhei a mochila Achei carne e rapadura farinha, queijo e café. [...] Achei a borracha d’água matei a sede que tinha. [...] A carne já estava assada fiz um pirão com farinha. Pág. 13 [...] Só levo lá um dos rifles e um saco de munição [...] A onça chega na boca mas dentro não põe o pé. [...] A onça conhece a furna desde a entrada à sahida. Uma onça parte assim. se vendo quase perdida. Pág. 14 Se não tiver natureza de comer calangro cru. Passe um mês sem beber água chupando mandacaru. Dormir em furna de pedra onde só veja tatu. [...] Se exercitar bem nas armas pular muito e comer bem. SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Pág. 15 [...] Pegar cobra como eu pego quando ela quer me morder. Cascavel com 7 palmos só se Deus o proteger. Tabela 1 Tipo Bélica N° de citações Fauna N° de citações Alimentos N° de citações Outros N° de citações A Rifle 19 Onça 10 Calangro 3 Cinturão 1 B Facão 11 Calangro 3 Café 2 Borracha d’água 1 C Punhal 10 Tigre 2 Vinho 1 Bainha 1 D Arma 4 Cobra 2 Queijo 1 Tacho 1 E Bacamart e 2 Tatu 1 Mandacaru 1 Badogue 1 F Mauser 2 Cascavel 1 Pirão c/ farinha 1 Cavador 1 G Pistola 2 Veado 1 Carne 1 Espingard a d/ pau 1 H Cartucho 2 Mocó 1 Galinha 1 Espeto 1 I Munição 2 Lagartixa 1 Piaba 1 Carrinho 1 J Espada 1 - Croa de Frade 1 Gaita 1 L Bala 1 - Capões 1 Berimbáo 1 M Cartuchei ra 1 - Feijão 1 - N Espingar da 1 - Milho 1 - Total 13 58 9 22 13 15 11 11 SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA ______________________________________________________________________ 54% 21% 15% 10% Gráfico 1 Bélico Faúna Alimentos Outros 33% 19% 17% 7% 4% 3% 3% 3% 3% 2% 2% 2% 2% Gráfico 2 Rifle Facão Punhal Arma Bacamarte Mauser Pistola Cartucho Muniçao Espada Bala Cartucheira SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Franciscodas Chagas Batista: “Seu primeiro folheto, "Saudades do Sertão", foi publicado em 1902, em Campina Grande, na Paraíba. Estabeleceu a livraria Popular Editora, em João Pessoa, também na Paraíba, em 1911. "A vida de Antônio Silvino", "História Completa de Lampião", "As Manhas de um Feiticeiro" e "A Escrava Isaura" são alguns de suas obras”. (ALMEIDA, 2014) Cordel °5 A morte de Cocada e a prisão de suas orelhas. Autor: FRANCISCO DAS CHAGAS BATISTA (1882-1930) Especificações: ---- Data de publicação: ---- Pág. 2 [...] Um severo defensor Quis com um tiro de seu rifle. Pág. 4 [...] Com o rifle, que ali cahiu Victalino com o punhal. a garganta lhe partiu. [...] A Cocada eles mataram com punhaes ensanguentados. Pág. 5 Meteu-os n’uma prisão encarcerados num frasco. ______________________________________________________________________ SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Cordel n°6 O tiroteio de Maceió: Zé povo e os Maltinos Autor: FRANCISCO DAS CHAGAS BATISTA (1882-1930) Especificações: ---- Data de publicação: ---- Pág. 4 [...] Dizendo contra o Zé povo Não disparo a espingarda Pág. 5 [...] Com inteira demasia Balas entrava no povo [...] De toda parte se ouvia os ecos da carabina. Pág. 7 [...] Bastam meus prejuízos Não posso mais me conter Perder a vacca Tourina [...] O certo é que no coffre eu usei dos mandamentos [...] Palavras não eram ditas estrondou o bacamarte. [...] Isso de pegar em armas É trilha que não navego. Pág. 8 [...] Tragam cá a garrafinha Preciso tomar um emprego. Pág. 9 SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA [...] Meteu-se num capotão uma rajada de frio. Pág. 10 [...] Mesmo zerada de chumbo é negócio muito feio. [...] Zé povo se prevenindo com o rifle abandonado. [...] Tire a farda, seu safado pegue este uniforme novo. [...] Aqui, ali, acolá Chiava um na pistola. Pág. 12 [...] Um negro da Costa da Africa tocando num berimbáo. Pág. 13 [...] Logo ao sair de canôa deu entrada no azar. Pág. 14 [...] Zé povo ia atraz do Fute com a vassoura na mão. Pág. 15 [...] Alguém com uma pistola sendo bico de tucano. Pág. 16 [...] SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA O que desobedecer-me provará do meu cinturão. [...] Pensam que bala é folguedo? bala não é cassuada. ______________________________________________________________________ Cordel n°7 O interrogatório de Antônio Silvino Autor: FRANCISCO DAS CHAGAS BATISTA (1882-1930) Especificações: ---- Data de publicação: ---- Pág. 3 [...] Um vaqueiro, um cantador um amansador de poldro. [...] Um homem que mata onças eu então um cangaceiro. Pág. 5 [...] Murmurei com meus botões também eu ei de arrumar-te. Não quero código melhor do que seja o bacamarte. [...] Está não quis me escutar me vali do bacamarte. [...] No bacamarte encontrei leis que decidem questão. SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA [...] As bala eram soldados com que eu fazia prisão. Pág. 10 [...] Passou em frente ao meu rifle que feriu a inocentemente. [...] Só não matei o Angelim por fata de munição. [...] Dois sargentos da polícia derribei de um tiro só. Pág. 11 [...] E por isso eu resolvi passa-lo pelo fuzil. Pág. 12 [...] Com um tiro e oito facadas pra outro mundo o mandei. Pág. 13 [...] Tomei as malas e abri-as e depois que violei. [...] As cartas que ela trazia a todas incendiei. [...] Mandei que 1 velho arrancasse uma botija e a mim. Pág. 15 [...] As malas de um correio perto de Patos tomei. SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA [...] E toda correspondência que ela trazia queimei. ______________________________________________________________________ Cordel n°8 A História de Antônio Silvino – Novos crimes Autor: FRANCISCO DAS CHAGAS BATISTA (1882-1930) Especificações: Recife-PE Data de publicação: Junho de 1908. Pág. 3 [...] Que bem perto de campinas duzentos fogos soltei. [...] Eu respondi-lhe o tiro na mesma ocasião. Pág. 4 [...] O tiro dele errou-me porque fiz uma negaça. [...] Mandei logo outra bala de presente ao inspetor. Pág. 5 [...] Ao ouvirem estes tiros logo se aproximaram. [...] Depois dos tiros a rua SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA estava toda fechada. [...] Zé de Couto, te prepara para brigarmos na bala. [...] Mas tem cuidado na vida se não arasta a mala. Pág. 6 [...] Porém dei-lhe sempre um tiro apenas pra avisar. [...] O tiro varou-lhe um braço E o fez ficar alertado. Pág. 7 [...] Morreu também uma burra que estava perto amarrada. Pág. 8 [...] Logo nos primeiros tiros eu, que não perco trabalho. Porque eu não estando veixado não dou um só tiro falho. [...] Eu queria com o sargento trocar bala testa a testa. [...] Logo ao chegar a estação do telegrafo tranquei. Pág. 9 [...] Tomem de Antonio Manoel a farda de capitão. [...] Dei onze tiros de rifle SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA e desessete facadas. Pág. 11 [...] Eis a razão porque eu matei a rifle e punhal. [...] Deram-me um “fogo”, porém seus tiros foram perdidos. [...] Meus cabras ouvindo os tiros se espalharam no terreiro. [...] Cair varado de balas o Sebastião bicheiro. Pág. 12 E então sobre os inimigos alguns tiros disparei. [...] Disparei uns quinze tiros caindo e me levantando. [...] Meus tiros foram perdidos porque atirei na carreira. ______________________________________________________________________ SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA Tabela 2 Tipo Bélica N° de citações Fauna N° de citações Alimentos N° de citações Outros N° de citações A Rifle 5 Onça
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