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Relatorio Parcial (2)

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL 
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE 
CAMPUS DE LARANJEIRAS 
DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA 
 
 
RELATÓRIO FINAL PIBIC 
 
Edital nº 02/2014/POSGRAP/COPES/UFS-PIBIC/PICVOL-2014 
 
Pesquisa: PVF2564-2014 Persigas e brigadas: Arqueologia das práticas 
bélicas do cangaço 
 
Plano de Trabalho: Arqueologia e Literatura: cultura Material na 
representação do Cangaço. 
 
Orientador: Prof. Dr. Leandro Domingues Duran 
 
Bolsista voluntário: José Luciano da Costa Júnior 
 
Período abordado pelo presente relatório: 01/08/2016 a 17/07/2017 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Embora se tenha nos últimos anos uma produção científica considerável sobre 
temáticas como o Cangaço e a Literatura Oral, ainda existe certo tabu entre as ciências 
humanas com relação à utilização da Literatura “não-oficial” como um viés na 
construção dos saberes históricos, arqueológicos e sociológicos. É pretendido, neste 
sentido, agregar à metodologia de pesquisa da Arqueologia Histórica (em especial sobre 
o tema cangaço), a análises de folhetos produzidos e difundidos pela cultura nordestina 
desde fins do século XIX (LUNA E SILVA, 2010); refiro-me ao fascinante universo da 
Literatura de Cordel, provavelmente iniciados pelo saudoso Cordelista Leandro Gomes 
de Barros. Desse modo, é imprescindível aqui uma abordagem com base em trabalhos 
interdisciplinares, como no caso das análises literárias e históricas encontradas nas obras 
de: Antônio Candido, Luís Camara Cascudo, entre outros. 
 Essa pesquisa tem então, por objetivo, relacionar e identificar informações da 
fase final do cangaço (modalidade independente) intrínsecas na tradição da literatura 
oral, buscando assim discutir a inserção dessa literatura não-oficial no âmbito da 
produção científica da Arqueologia Histórica. Além disso, é procurado aqui, contribuir 
para o conhecimento da área, no que tange o incentivo ao surgimento de pesquisas 
referentes ao fenômeno do banditismo cangaceiro e da relevância sociológica da 
Literatura de Cordel para as ciências humanas de modo geral, visto toda importância 
que ambos possuem para a cultura brasileira. 
 Na primeira etapa de trabalho, buscou-se através de levantamentos 
bibliográficos, leitura, fichamento de textos e as reuniões de orientação, a obtenção de 
um aporte teórico de caráter amplo sobre as diversas temáticas que perpassam o 
fenômeno cangaceiro e a Literatura Oral. Além disso, é válido comentar que 
anteriormente ao início da iniciação científica, o Orientador Leandro Domingues Duran 
 
 
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CAMPUS DE LARANJEIRAS 
DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA 
 
 
lecionou a disciplina de Arqueologia na ficção, à qual foi discutido em sala de aula: as 
influências do meio “real” que se estruturam sobre uma obra ficcional. 
Também foi realizado atividades complementares indicados pelo Orientador da 
pesquisa, sendo n total duas atividades, o lançamento do livro Cordel e Cinema, da 
pesquisadora francesa, Sylvie Debs, além da participação de palestras realizadas durante 
a semana cultura de laranjeiras, cujo o tema foi Cordel e cantoria. Ambas as atividades 
complementares foram importantes para um contato inicial com o universo da literatura 
de cordel. 
 Foi realizado neste relatório, a delimitação e a conceituação de termos essenciais 
para essa discursão. Entre os quais estão inseridos o próprio cangaço, o regionalismo, a 
literatura oral e a literatura de cordel. Procurou-se de forma interdisciplinar, 
(principalmente através da Arqueologia, Análise literária e da História) compreender de 
forma introdutória as diversas relações presentes na tradição regionalista. Não somente, 
o presente trabalho também contou com a análise documental de cordéis que abordam a 
temática do movimento cangaceiro, sendo esta a principal contribuição desta pesquisa. 
A análise dos cordéis citados anteriormente, foi realizada de dois modos; o primeiro de 
forma manual, e o segundo, de caráter avaliativo, com a utilização do software 
IRAMUTEQ, programa utilizado para processamento de bases textuais. 
 
 
Cronograma de atividades planejadas para os 12 meses de pesquisa: 
Mês/ ano Atividades 
Agosto/ 2016 Discursão com o Prof. Orientador sobre a 
metodologia de pesquisa 
Setembro e Outubro/ 2016 Levantamento das fontes primárias de 
pesquisa e seleção das obras a serem 
analisadas. 
Novembro, e Dezembro/ 2016 Leitura, seleção e fichamento das obras 
literárias selecionadas. 
Janeiro/ 2017 Produção de Relatório de Pesquisa. 
Fevereiro a Junho/ 2017 Leitura, seleção e fichamento das obras 
literárias selecionadas. 
Julho/ 2017 Produção de Relatório final de Pesquisa. 
 
 
 
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O cronograma foi seguido de forma sistemática, sendo realizadas até o presente 
momento, todas as atividades requisitas pelo Professor Orientador, Leandro Domingues 
Duran. Além disso, outras atividades (a exemplo da participação de palestras na semana 
cultural de Laranjeiras- SE), foram realizadas visando complementar e inserir o 
pesquisador na produção e realização dos trabalhos da atualidade que circundam o 
universo da Literatura de cordel e do Regionalismo, em um aspecto geral. 
 
1) LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO 
 
O levantamento bibliográfico ocorreu em duas etapas: a primeira, de forma presencial 
na biblioteca da Universidade Federal de Sergipe, e a segunda, mediante a utilização do 
banco de dados virtual da biblioteca da USP (Universidade de São Paulo). Os caminhos 
para os sites das bibliotecas da USP e da Universidade Federal de Sergipe, são 
respectivamente: 
 
 Universidade de São Paulo – DEDALUS Banco de dados bibliográficos da USP 
 Link: http://dedalus.usp.br/ ; Link: http://www.teses.usp.br 
 
 Universidade Federal de Sergipe – Pergamum Bibliotecas UFS 
 Link: http://pergamum.bibliotecas.ufs.br/ 
 
As palavras chave utilizadas nesse processo foram: 
 
I. Literatura Oral 
II. Literatura de Cordel 
III. Cordel 
IV. Leandro Gomes de Barros 
V. Francisco Chagas de Batista 
VI. Literatura Regional 
 
 
 
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Foram levantados no total 23 obras das quais 14 delas se encontram na UFS e 9 na 
USP. Além dessas, também houve mais 16 obras recolhidas por fontes secundárias. 
 
Status: Concluído 
 
2) LEITURA E FICHAMENTO DE OBRAS SELECIONADAS 
 
 As obras escolhidas para leitura e fichamento foram selecionadas nessa primeira 
etapa de pesquisa (como mencionado anteriormente), visando sanar deficiências 
conceituais; priorizando dados e informações dentro de uma cronologia pré-estabelecida 
entre as décadas de 20 e 30, buscando, dessa forma, delimitar temporalmente o objeto 
de pesquisa. Essa decisão foi tomada durante a primeira reunião de orientação com o 
Prof. Leandro Domingues Duran, ainda na fase inicial de discursão metodológica 
realizada no mês de agosto de 2016. Além disso, também foi levado em consideração a 
acessibilidade a estas obras. Os textos selecionados para a leitura e fichamento nessa 
primeira fase de pesquisa, foram: 
 
ALCOFORADO, D. F. X. Problemas e questões da pesquisa em Literatura Oral. 
A Cor das Letras, Feira de Santana, v. I, n.2, p. 67-72, 1998. 
 
ALÉSSIO. R. L. S. A Representação Social da Violência na Literatura de Cordel 
Sobre Cangaço. Universidade federal de Pernambuco. Recife. 2004ARAÚJO, H. H. de. A tradição do regionalismo na literatura brasileira. Revista 
Letras. Curitiba, n.74, p. 119-132, 2008. 
 
ARAÚJO, Adriana de Fátima Barbosa. O regionalismo como outro. Estudos de 
Literatura Brasileira Contemporânea, v. 28, p. 113-124, 2006. 
BARBOSA. S. C. S. As representações dos cangaceiros Antônio Silvino e 
Lampião em versos da Literatura de Cordel. Universidade Federal do Rio de 
 
 
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Janeiro. 2013 
 
CASCUDO, Luís da Camara. Literatura Oral no Brasil. São Paulo, 2012. 
 
CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. Ouro sobre azul, Rio de Janeiro. 
2006. 
 
CHIAPPINI, Lygia. Do beco ao belo: dez teses sobre o regionalismo na literatura 
oral. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 8, p.153-159, 1995. 
 
D.M. ANTONIO ALAN. O cangaço em Fogo Morto e em Os desvalidos. 
Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Pará. Instituto de letras e 
comunicação, programa de pós graduação em letras, Belém. 2012. 
 
LEITÃO, Júnior, A. M.. As imagens do Sertão na literatura nacional: o projeto 
da modernização na formação territorial brasileira. Terra Brasilis (Nova Série). 
2012. 
 
LUNA E SILVA, Vera Lúcia de. Primórdios da Literatura de Cordel no Brasil: 
um folheto de 1865. Graphos v. 12, Joao Pessoa. 2010 
 
MENEZES. M. I. O. O CANGAÇO REPRESENTADO ATRAVÉS DO 
CORDEL. Faculdade Sete de Setembro. Paulo Afonso. Bahia. 2009 
 
TOLEDO, M. P. M e F. O Cangaço na Literatura Oral. Revista Leitura, São 
Paulo, 1991. 
 
Status: Concluído 
 
3) RESULTADOS 
 
 
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Os resultados obtidos baseiam-se nas discursões geradas através das reuniões, 
leituras e fichamentos, buscando-se a construção de uma visão geral no que tange a 
relação entre os temas do Cangaço, literatura oral, cordel e regionalismo. Ao mesmo 
tempo, é de fundamental importância neste tópico, salientar de que forma as expressões 
literárias (em especial a Literatura de Cordel) relacionam-se com a sociedade, 
consolidando valores tradicionais em alguns momentos, porém em outros reconstruindo 
seus ideários. 
 
Status: Completo. 
 
ANEXOS 
 
1. RESULTADOS PARCIAIS 
 
 O cangaço foi um fenômeno social de extrema relevância no nordeste brasileiro, 
caracterizado pela ação de bandos armados na região conhecida como Zona da Mata 
nordestina, ao qual, promoviam-se: assaltos, roubos, estupros entre outros crimes 
violentos, desde meados do século XVII até o final da década de 30. Os bandos de 
cangaceiros eram constituídos de forma bastante variada, aportando “negros fugidos, 
bandeirantes desgarrados de suas missões e holandeses remanescentes das tropas desse 
país, que lutaram contra os portugueses pela posse da próspera costa nordestina” 
(DANTAS, 2012, apud PERICAS, 2010, p. 17). 
 Para melhor compreensão do fenômeno cangaço, é de suma importância 
fundamentar-se nos aspectos físicos do nordeste semiárido, tanto quanto nas 
características culturais e sociais dos seus habitantes (MARCONDES e TOLEDO, 
1991). Para Hobsbawm (2010), por exemplo, a proliferação desse tipo de banditismo é 
um reflexo da falta de controle de um poder central do Estado nas áreas 
geograficamente afastadas. Com a falta de instrumentos de coerção e justiça publica, 
essas regiões tendiam a originar formas de banditismo como o cangaço, instigadas por 
 
 
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um sentimento de “justiça com as próprias mãos” (DANTAS, 2012, p. 19).
 Marcondes e Toledo também agregam o mesmo sentimento de injustiça ao 
nordestino em seu fabuloso texto, O cangaço na Literatura Oral: 
 
“Outro dado importante a considerar na composição do retrato do homem da 
região nordestina são a credulidade e a desconfiança. ao mesmo tempo. 
Foram o coronelismo e o mandonismo que propiciaram basicamente a 
ascensão do cangaço. O cangaceiro procurava vingar a humilhação dos 
humildes; outras vezes, paradoxalmente, tripudiava sobre a humildade. 
(MARCONDES e TOLEDO, 1991, p. 2)”. 
 
 Tudo indica que os cangaceiros eram os roceiros e vaqueiros da comunidade 
sertaneja. Estes eram geralmente muito ligados ao vigor físico, concebendo-o como um 
atributo fundamental do seu cotidiano. Isso, provavelmente, se dá por conta de uma 
dura e pré-matura transição para a vida adulta. Marcondes e Toledo (1991), explicam 
em seu texto O cangaço na Literatura Oral, que essa correlação entre vigor físico e a 
honra do sertanejo, pode estar associado à ruptura de alguns padrões adotados como: “a 
mulher, através da honra; e o menino, na escolha da profissão.” 
 Já no âmbito fisiográfico, um fator peculiar do nordeste em relação ao mundo (e 
que o torna mais uma vez especial) é a existência de um polígono com oito a treze por 
cento de aridez (MARCONDES e TOLEDO, 1991), o que faz com que parte da região 
seja constituída do bioma catinguense. Existe, então, na mesma região uma fachada 
litorânea e úmida, conhecida como zona da mata; o sertão (ambiente dominante em 
mais noventa por cento do nordeste semiárido) caracterizado por conter uma vegetação 
basicamente xerófita e de clima quente e seco; além de uma faixa de transição 
conhecida pelos nordestinos como agreste (MARCONDES e TOLEDO, 1991). 
 Em relação à posição geoclimática do nordeste, temos outra particularidade; ela 
é azonal, isto é, possui um clima atípico para sua região, já que o clima semiárido ocorre 
geralmente nas zona tropicais, enquanto que o nordeste se encontra numa faixa 
subequatorial. O único rio constante do nordeste é o Rio São Francisco, ocorrendo a 
predominância de rios intermitentes, o que praticamente delimita toda produção agrícola 
as áreas de brejo (os oásis do sertão nordestino) (MARCONDES e TOLEDO, 1991). 
 
 
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 Ainda segundo Marcondes e Toledo (1991), apesar dos ataques cangaceiros se 
concentrarem nessa porção do país chamada Polígono das secas, ou essencialmente; 
como aponta Dantas (2012), nos estados de Pernambuco e Bahia (devido a suas altas 
concentrações humanas nesse período), não se pode dizer que esses grupos tiveram 
atuação somente nessa parte do Brasil. Existiram atuações do cangaço possivelmente 
em todo território brasileiro, isso a depender apenas do tipo de cangaço de cada lugar. 
No verbete Cangaceiros, da enciclopédia Mirador, Queirós e Sousa (MARCONDES e 
TOLEDO, 1991), delimitam três variações “cronológicas” do cangaço: “ a) defensivo, 
de ação ocasional na guarda de propriedades rurais; b) Político, expressão de poder dos 
grandes fazendeiros; c) Independente, de caracterização do próprio banditismo.” O 
terceiro tipo, iniciado na porção final do século XIX e perdurando até o começo do 
século XX, (MARCONDES e TOLEDO, 1991), estará sendo o em enfoque deste 
trabalho. 
 Este tipo de banditismo, operou entre os anos de 1890 a 1940, período onde 
surgiram figuras como Manoel Batista de Alencar, popularmente chamado de Antônio 
Silvino e Virgulino Ferreira, o lampião, morto na chacina de 1938 em Angicos, no 
estado de Sergipe. Tanto Antonio Silvino, quanto Lampião, foram intitulados Reis do 
Cangaço, cada qual em sua época (DANTAS, 2012, p.22). 
 Além deles, Cristiano Gomes da Silva Cleto, conhecido como Corisco (“braçodireito” de lampião), e que não estava na chacina de 38, foi importante personagem na 
continuidade do cangaço após a morte de Virgulino Ferreira, pelo menos, até a sua 
morte em 1940, que marca historicamente o fim do movimento cangaceiro, que 
inclusive, já estava em retrocesso por conta da abertura das fazendas de café no norte do 
Paraná e em São Paulo, somadas a forte industrialização do sul e sudeste, que 
propiciavam ao nordestino uma fuga de suas condições (muitas vezes subumanas) 
trilhando um caminho que não fosse o banditismo (MARCONDES e TOLEDO, 1991). 
 A modernização também é outro fator importante para o fim do movimento 
cangaço segundo o historiador britânico Eric Hobsbawn: “Num sentido mais lato, a 
'modernização’ priva qualquer banditismo, inclusive o social, das condições nas quais 
floresce” (HOBSBAWM, 2009, p. 38). Isso estaria evidenciado nos ataques de bandos 
 
 
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cangaceiros, efetuados contra funcionários de empresas construtoras de estradas e 
ferrovias que uniam o sertão a Zona da Mata nordestina, fato que aproximaria o Estado 
das regiões anteriormente afastadas de seu poder coercivo. Um exemplo desses ataques 
é apontado por Péricas (2010, p. 37-8): “[...] um episódio ocorrido em 18 de outubro de 
1929, quando Lampião e seu bando massacraram nove trabalhadores que construíam a 
rodovia que ligava Juazeiro a Santo Antônio da Glória, temerosos de que a rodovia, que 
passaria pelo Raso da Catarina, região inóspita da Bahia que servia de esconderijo para 
os bandidos, facilitasse o acesso das tropas volantes” (DANTAS, 2012, p. 24). 
 Para Facó (DANTAS, 2012, apud 1983), o Cangaço e os movimentos 
messiânicos seriam resultado de questões socioeconômicas, como a má distribuição de 
terras e os salários miseráveis pagos aos sertanejos trabalhadores de suas fazendas. 
 Já Péricas (2010), concorda com Hobsbawn (2009), quando aponta a 
modernização como um fator importante para o fim do cangaço, porém informa que a 
morte de Lampião na chacina em 1938 também contribuiu para a queda do banditismo. 
Isso poderia ser explicado pelo alto numero de cangaceiros que se entregaram a volante 
após o cerco do Angico. A imagem de Lampião como Rei do Cangaço era referencial 
para o seu movimento e como não havia outro para assumir o seu posto, sua morte 
ocasionou no definhamento do cangaço (DANTAS, 2012, p. 24). 
 Outra característica encontrada na terceira fase desse movimento, é que, 
diferentemente das anteriores, as atuações dos cangaceiros já não eram realizadas em 
prol dos períodos de seca e pobreza, o banditismo nesse período acontecia em tempos 
chuvosos e de prosperidade. Esta diferença é apontada por Dantas no trecho: 
 
“No período do cangaço independente, as secas deixaram de ser uma das 
principais motivações para a formação dos bandos. Com efeito, os 
agrupamentos de cangaceiros não se desfaziam no período de chuvas ou 
quando sobrevinham períodos de prosperidade económica. Aliás, para os 
bandos de cangaceiros, que viviam de furtos e extorsões, quanto maior a 
riqueza e prosperidade de um local, melhores eram as possibilidades de lucro. 
Assim, o cangaço transformou-se em uma profissão, um oficio, que oferecia, 
inclusive, ganhos maiores que a maior parte das ocupações do Sertão, fato 
inclusive gabado por cangaceiros.” (DANTAS, 2012, p.22) 
 
 
 
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 De certo, ao tempo em que o movimento cangaceiro alastrava-se pelo sertão 
nordestino trazendo de forma paradoxal, tormento e refúgio para a desprezada 
população sertaneja da época, também acontecia em fins do XIX, o surgimento de um 
movimento de suma importância para a expressão da literatura oral no Brasil, a 
impressão de folhetos e livrinhos conhecidos popularmente como literatura de cordel, 
(LUNA E SILVA, 2010), retratando e projetando no imaginário do cidadão nordestino 
concepções culturais e sociais de seus valores e condutas, tal qual para o próprio ideário 
sobre o cangaço. Em outras palavras, Antônio Candido (2006), explica como a arte se 
faz social para o sociólogo moderno em pelo menos dois aspectos: a dependência da 
atuação dos “fatos reais” do meio por onde são abordados de forma ficcional pela obra 
literária; a concessão ao indivíduo de um sentido prático ou de sua familiarização com a 
obra, sendo reforçados, através dela, os valores sociais que alteram a percepção e a 
conduta do mesmo perante suas ações cotidianas. Isso, independente do grau de 
consciência do autor ou do receptor da informação. A arte seria então, um sistema 
simbólico de comunicação inter-humana, e justamente por este caráter sociológico, 
torna-se importante para o sociólogo (CANDIDO, 2006, p. 30). 
 A respeito dessas interações entre a literatura e o meio, Antônio Candido (2006) 
faz uma análise histórica sobre a aceitação dessas contribuições em seu livro Literatura 
e sociedade: 
 
"Talvez tenha sido Madame de Staél, na França, quem primeiro formulou e 
esboçou sistematicamente a verdade que a literatura é também um produto 
social, exprimindo condições de cada civilização em que ocorre. Durante o 
século XIX não se foi muito além desta verificação de ordem geral, adequada 
mais aos panoramas do que aos casos concretos, mesmo quando Taine 
introduziu o conceito mais flexível e rico de momento, para completar o meio 
e a raça dos tratadistas anteriores. Na prática, chegou-se à posição 
criticamente pouco fecunda de avaliarem que medida certa forma de arte ou 
certa obra correspondem à realidade. E pulularam análises superficiais, que 
tentavam explicar a arte na medida em que ela descreve os modos de vida e 
interesses de tal classe ou grupo, verdade epidérmica, pouco satisfatória 
como interpretação. (CANDIDO, 2006, p. 29). 
 
 
 
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 Contudo, para se entender as relações sociais intrínsecas em dada literatura, e de 
fato, utilizá-la na produção de conhecimento, é necessário abordar primeiramente, quais 
as expressões artísticas e literárias vão ao encontro do movimento cangaceiro, cujo 
principal cenário foram as paisagens semiáridas do nordeste. Devido essa carência, 
buscou-se conceituar e discutir a literatura através de aspectos do regionalismo 
(nordestino), definido por Araujo (2006) como: “[...] a expressão literária que valoriza a 
força que se dá a peculiaridades locais, tanto em suas formas particulares de dizer 
quanto na exploração descritiva de seu lugar geográfico” (ARAUJO, 2006, p.113). 
Lygia Chiappini (1995), em seu texto Do beco ao belo, onde reúne 10 teses sobre o 
regionalismo na literatura oral, conceitua este movimento da seguinte maneira: 
 
“[...] qualquer livro que, intencionalmente ou não, traduza peculiaridades 
locais", definição que alguns tentam explicitar enumerando tais 
peculiaridades ("costumes, crendices, superstições, modismo") e 
vinculando-as a uma área do país: regionalismo gaúcho", regionalismo 
nordestino", "regionalismo paulista"...Tomado assim, amplamente, pode-se 
falar tanto de um regionalismo rural quanto de um regionalismo urbano. No 
limite, toda obra literária seria regionalista, enquanto, com maiores ou 
menores mediações, de modo mais ou explicito ou mais ou menos 
mascarado, expressa seu momento e lugar. Historicamente, porém, à 
tendência a que se denominou regionalista em literatura vincula-sea 
obras que expressa regiões rurais e neles situam suas ações e personagens, 
procurando expressar suas particularidades linguísticas” (CHIAPPINI, 1995, 
p.153). 
 
 Chiappini, observa que a literatura regionalista é muitas vezes vinculada ao 
Romance Idílio ou a pastoral, porém salienta que apenas em meados do XIX, com 
George Sand na França, Waher Scott na Inglarerra e Berthold Auerbach na 
Alemanha, é que se retoma o regionalismo literário na procura progressiva de dar mais 
espaço ao homem do campo; num esforço pouco contemplado, de ser visualizado pelo 
individuo da cidade, para o qual é destinado essa literatura. Atualmente, com os avanços 
das técnicas agrícolas, o êxodo rural, o crescimento de cidades e de uma literatura 
urbana, o regionalismo é tido como algo retrógado e ultrapassado, conservador de 
aspectos estéticos e ideológicos, porém, ao mesmo tempo, continua a ser um tema 
bastante delicado por se compor de inúmeras variáveis históricas e culturais. Além 
 
 
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disso, à medida que se aprofunda o assunto, é perceptível o caráter universal do 
regionalismo em tratar de reações anteriormente; contrárias ao iluminismo e a 
centralização do poder do estado nação, ou ainda como no presente, como uma reação a 
chamada globalização. O regionalismo é então um fenômeno de resistência cultural 
mediante os nivelamentos globais disseminados pelo ocidente (CHIAPPINI, 1995, 
p.154). 
 Voltando a Araújo, em seu texto O regionalismo como o outro, o pesquisador 
aponta as possíveis motivações políticas por trás do discurso crítico do regionalismo, 
motivações estas, que foram construídas ainda no período de transição do Império para 
a República. Derivadas de uma série de tentativas do sistema republicano em 
implementar na população brasileira, um sentimento de pertencimento nacional com 
base na atipicidade das regiões, buscando assim neutralizar as influencias do 
personalismo monárquico e paternalistas advindos desde o período de colonização 
(ARAÙJO, 2006, p.113). Nessa ideia, os termos nação e região são conceituados como 
forças opositoras, estando “nação” relacionada à centralização do poder, ao tempo que 
“região”, indicaria o outro em relação a este centro de poder; ou simplesmente, as 
marginalizadas porções do país afastadas do Sul e do Sudeste. Desta forma, lidar com o 
regionalismo é lidar como uma palavra carregada de pré-conceitos, geralmente 
exprimida como um nacionalismo barato e raso. 
 O Regionalismo tem contribuição fundamental para discursão ao que Candido 
(1975), refere-se como um movimento literário que se inicia no romance brasileiro 
contendo uma preocupação com a expressão dos elementos regionais, geralmente sob 
circunstâncias que apontavam as dificuldades cotidianas, isto é, em torno de um 
problema humano. No entanto, o mesmo explica que a paisagem, quando trabalhada nas 
obras “destinadas aos leitores da cidade”, tendia muitas vezes a sobressair à narrativa 
humana, tornando os aspectos humanos, menos relevante que o do meio: 
 
“[...] tende a anular o aspecto humano, em benefício de um pitoresco que se 
estende também à fala e ao gesto, tratando o homem como peça da paisagem, 
 
 
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envolvendo ambos no mesmo tom de exotismo. É uma verdadeira alienação 
do homem dentro da literatura, uma reificação da sua substância espiritual, 
até pô-la no mesmo pé que as árvores e os cavalos, para deleite estético do 
homem da cidade” (CANDIDO, 1975, p. 212-213). 
 
 O crítico Afrânio Coutinho delimita duas entradas para o termo regionalismo. O 
primeiro compreende toda obra artística como regional, já que a mesma pertence 
originalmente a uma região específica. A segunda, é referida pelo autor como 
“regionalismo autentico”, e é caracterizada por toda obra essencialmente construída sob 
uma particularidade; substancia real da região. Ainda sobre essa “substancia real” 
encontrada no regionalismo autentico, o autor explica que estes elementos são 
“confeccionados” “[...] primeiramente, do fundo natural – clima, topografia, flora, 
fauna, etc. – como elementos que afetam a vida humana na região; e em segundo lugar, 
das maneiras peculiares da sociedade humana estabelecida naquela região e que a 
fizeram distinta de qualquer outra.” (ARAUJO apud COUTINHO, 2006, p. 114). 
 Ainda sobre Coutinho, Araújo (2006) comenta sobre a divisão do regionalismo 
no Brasil realizado pelo crítico. São elas: o regionalismo nortista; nordestino, baiano, 
central, paulista e gaúcho. O mesmo, ainda salienta que é através das particularidades 
locais de um autor, que encontramos uma “humanidade profunda” (ARAUJO, 2006, 
p.115). 
 Segundo Lucia Miguel-Pereira (ARAUJO, 2006) o regionalismo é definido 
como a produção literária que tem por finalidade difundir costumes, tradições e 
linguagens locais, sendo estes elementos, diferentes em relação à civilização niveladora. 
Nota-se no texto que a utilização do termo “civilização niveladora” representa uma 
concepção tendenciosa e favorável a visão do colonizador, à medida em que situa o 
outro, notadamente o regionalismo, na condição de desnivelado (ARAUJO, 2006, 
p.115). Isso contribui para a desvalorização e barateamento das expressões regionais. 
 Campo minado de preconceitos, o regionalismo é, conforme Chiappini (1995) 
uma tendência temática da literatura que se coloca à margem da “literatura oficial”, 
muitas vezes ainda confundida com o folclore, a etnografia e a pedagogia. E justamente 
por estes fatores anda a ser impregnada de críticas equivocadas. Entretanto, Lygia 
 
 
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Chiappini também coloca esse esforço em desvalorizar o regionalismo como algo 
“compreensível” partindo da discrepância no alto número de obras produzidas com 
baixa qualidade em relação a obras como as de Guimarães Rosa e Euclides da Cunha, 
estas por sua vez consideradas obras universais. O problema então passa a não ser 
necessariamente o que é a literatura regionalista, mas como diferenciar esteticamente 
uma obra regional “boa”, de uma “má”. Desta forma, a única maneira de colocar estes 
escritores considerados pela crítica como portadores de uma qualidade estética 
igualitária a literatura oficial, é se considerarmos o regionalismo como um produto 
histórico sujeito a alterações e melhorias, onde cada autor está sujeito por sua vez às 
limitações de seu tempo e espaço. 
 Ainda segundo Chiappini, o regionalismo visto como uma estética fechada, 
movimento delimitado geograficamente e cronologicamente, não se faz interessante no 
tocante ao ponto de que se torna apenas mais um “ismo” entre muitos, no entanto, 
quando verificado a sua dinamicidade, seus processos e modificações ao longo do 
tempo, onde o foco se dá na mensagem que o pobre trabalhador rural cria através da arte 
para um público conservador e urbano, numa tentativa de ser enxergado pelo mesmo 
como um outro ser humano”, é notoriamente mais interessante. Logo, a qualidade de 
pitoresco, de atipicidade local, e da descrição realista, ambas tomadas como um ponto 
desfavorável pela crítica, é a seu tempo, uma grande conquista. (CHIAPPINI, 1995, 
p.157). 
 Miguel-Pereira (ARAÙJO, 2006), propõe um regionalismo difundido em cinco 
surtos, o primeiro abarcando o decênio de 1870 a 1880, que seria um regionalismo 
exótico e pitoresco marcado pelapreferencia pelo conto. Valoriza em primeiro lugar os 
“três-jeitos” dos personagens, fortemente atrelados aos costumes locais, o que torna a 
figura humana o segundo plano da narrativa e delibera um artificialismo quase teatral. O 
Segundo surto teria acontecido no fim do século XIX após a abolição da escravatura. 
Essa fase seria caracterizada por uma tentativa entre os autores da fase, de construir algo 
puramente brasileiro e livre das influencias externas; o que contribuiu para um 
regionalismo mais “verdadeiro” em relação aos demais, e o que tornava o regionalismo 
 
 
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em: “um laboratório para concepções mais universais da vida e do homem” (ARAUJO, 
2006, p. 116) 
. A fase conseguinte, possuiu menor rigidez quanto as demais anteriores, sendo 
mais flexível e aberta as diferentes perspectivas da região. Enquanto que o quarto surto 
é fortemente marcado pelo filão Euclidiano, sendo o romance Os Sertões o seu grande 
marco. Finalizando, com o quinto surto, tem-se na quebra do foco descritivo com um 
enfoque maior sobre a denúncia das condições sertanejas, a sua maior alteração 
(ARAUJO, 2006, p. 116). 
 Araújo, ainda observa que a concepção de “avanço”; no que se (re)fere a 
literatura regionalista pela crítica de Miguel-Pereira, se dá sob uma visão de 
cosmopolita, o que condiciona a crítica a um favorecimento de elitismos. 
 Já para Antonio Candido, o regionalismo surge da necessidade de expressar 
nacionalismos, onde escritoras e escritores passaram a descobrir um brasil encoberto 
pelo contínuo colonialismo português. Resumidamente, Candido constrói sua análise 
observando que foi o nacionalismo que estimulou o regionalismo, nota-se então, um 
rompimento na ideia de uma divisão entre nação e região, sendo considerado nesse 
momento pelo crítico, o nacionalismo como “escrever coisas locais”. O regionalismo 
teria sido iniciado então após o surgimento do Indianismo no romantismo brasileiro, em 
1850, quando os romancistas pretendiam recuperar os traços nacionais mais originais e 
diferenciados em relação ao padrão português. Isso acarretou, segundo Candido, em 
uma independência literária que criasse a necessidade de utilizar as formas importadas 
dentro de temáticas locais, gerando por sua vez, a necessidade de novas formas que 
satisfizessem essa proposta (ARAUJO, 2006, p. 117). 
 Ainda sobre Candido, o crítico observa que de 1880 a 1920, se produz uma 
literatura regional “pobre e romantizada”: tratou o homem rural do ângulo pitoresco, 
sentimental e jocoso, favorecendo a seu respeito ideias feitas perigosas tanto do ponto 
de vista social quanto, sobretudo, estético.” (ARAUJO apud CANDIDO, 2006, p. 118). 
Segundo ele, apenas no decênio de 1930 é que passa-se a produzir um regionalismo sem 
o pitoresco, caracterizada por escritores “explicadores do Brasil”, onde o homem pobre 
era problematizado (ARAUJO, 2006, p. 118). 
 
 
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 Bosi (2006), caracteriza as obras regionalistas como se fossem o produto bruto, 
“quase sempre uma prosa híbrida onde não alcançam o ponto de fusão artístico o 
espelhamento da vida agreste e os modelos ideológicos e estéticos do prosador” 
(ARAUJO apud BOSI, 2006, p. 119). Para Sodré, o regionalismo é originado diante da 
insuficiência da figura do índio para a identidade do país, pois somente o homem do 
interior seria apto a externar o ser brasileiro. Bosi, utilizando-se desse argumento, tenta 
justificar porque a literatura regional é menor; explicando que este tipo de produção, 
nada acrescentaria aos anseios de um leitor médio (ARAUJO, 2006, p. 120). Bosi 
também relaciona a oralidade com o regionalismo colocando em discursão a inserção do 
sujeito excluído como objeto da escrita e o individuo iletrado como pertencente ao 
processo simbólico. A oralidade então possui suas raízes no romantismo, 
caracterizando-se por conter na obra um narrador culto e personagens com elementos 
locais que possuem um posicionamento subalterno ao narrador, dada a abordagem com 
pouca expressividade do homem do campo (ARAUJO, 2006, p. 121) 
 Roberto Schwarz aproxima-se do que aponta Bosi, em seu trabalho Nacional por 
subtração, fazendo uma brilhante reflexão que associa a criação do estado nacional 
mediante a imagem do escravo, a segregação de uma grande parcela cultural da 
população durante o processo de reiteração do trabalho forçado ou semi forçado da 
parcela pobre do país (ARAUJO, 2006, p. 121). 
 Dentre todas as questões apresentadas sobre o regionalismo, uma delas, 
especificamente, é de interesse neste trabalho: A literatura oral. A primeira 
denominação para a literatura oral foi elaborada em 1881 pelo francês Paul Sébillot, no 
seu trabalho Littérature Oral De la Haute-bretagne onde o autor a conceitua da seguinte 
maneira: "La littérature orale comprend ce qui, pour le peuple qui ne lit pas, remplace 
les productions littéraires." (CASCUDO, 2012, p. 12) 
 São atribuídas a este tipo de literatura: provérbios, cantos, adivinhações, frases 
feitas entre outras estruturas textuais que se caracterizam pela persistência na oralidade. 
Cascudo, em seu livro Literatura Oral, aponta duas fontes contínuas para a 
sobrevivência dessa tradição: 
 
 
 
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"[...] Uma exclusivamente oral, resume-se na estória, no canto popular e 
tradicional, nas danças de roda, danças cantadas, danças de divertimento 
coletivo, ronda e jogos infantis, cantigas de embalar (acalantos), nas estrofes 
das velhas xácaras e romances portugueses com solfas, nas músicas 
anônimas, nos aboios, anedotas, adivinhações, lendas, etc. A outra fonte é 
reimpressão dos antigos livrinhos, vindos de Espanha ou de Portugal e que 
são convergências de motivos literários dos séculos XIII, XIV, XV, XVI, 
Donzela Teodora, Imperatriz Porcina, Princesa Magalona, João de Calais, 
Carlos Magno e os Doze Pares de França, além da produção contemporânea 
pelos antigos processos de versificação popularizada, fixando assuntos da 
época, guerras, política, sátira, estórias de animais, fábulas, ciclo do gado, 
caça, amores, incluindo a poetização de trechos de romances famosos 
tornados conhecidos, Escrava Isaura, Romeu e Julieta, ou mesmo criações no 
gênero sentimental, com o aproveitamento de cenas ou períodos de outros 
folhetos esquecidos em seu conjunto." (CASCUDO, 2012, p. 13) 
 
 São produções realizadas por cantadores de rua, fazedores de improviso, 
desafiantes de versos que se popularizam pelos sertões do Brasil. É uma literatura 
folclórica e popular, salientando que todo folclore é popular, mas nem toda produção 
popular representa um folclore. Pensando nessa ambiguidade, Cascudo delimita o 
folclore em quatro características elementares: Antiguidade; Persistência; Anonimato e 
Oralidade." (CASCUDO, 2012, p. 13). 
 O folclore é regido então pela memória coletiva, indistinta e contínua, e sob essa 
visão, os contos populares tornam-se folclóricos apenas quando perdem as tonalidades 
da sua época de feitura, provocando uma falta de exatidão na sua cronologia 
(CASCUDO, 2012, p. 13). 
Augusto Raul Cortazar, explica esse processo de descaracterização da seguinte forma: 
 
“Una generación acoge con simpatía una obra de un autor dado, que puede 
ser famoso o desconocido para la mayoría. Encuentra en esa obra de arte ecos 
de lo que canta, siente e cree su propiaalma, y la transmite a la generación 
siguiente como cosa conquistada y propia. En ese tranvasar de la materia 
artística se ha evaporado el nombre del autor. Y más aún. Si algún rastro de 
cultismo o artificio denunciara su origen, el legado va purificándose en esas 
sucesivas transmisiones. Ya omitiendo, para concentrar su poder emocional y 
sugestivo, como en el romance del conde Arnaldos, ya sustituyendo versos, 
expresiones o pasajes rebuscados y obscuros, o ya, finalmente, con glosas y 
añadidos. A la fe que si a veces se desfigura y afea la obra original, otras 
muchas veces, a fuerza de ser llevada en la corriente, adquiere, como las 
piedras del arroyo, tersura y suavidad. Ha entrado entonces de lleno en los 
dominios del Folklore”" (CASCUDO, 2012, p. 14) 
 
 
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Candido, em seu livro Literatura e Sociedade, explica que a atuação dos fatores sociais, 
isto é, a carga social, contida dentro de um obra de literária, depende do tipo da arte e da 
sua orientação geral, podendo dividir-se, entre a arte de agregação e a de segregação. 
Entende-se por arte de agregação, aquelas inspiradas por uma memória coletiva e que 
são disponibilizadas de forma acessível à população. Utiliza-se nessa primeira situação 
um sistema de símbolos vigente em dada sociedade, criando uma expressão artística de 
identidade. Já a segunda, de segregação, caracteriza-se pela elaboração de novos 
sistemas simbólicos, que inicialmente serão destinados a uma parcela de indivíduos 
menor, os tornando privilegiados (CANDIDO, 2006, p. 31). Um exemplo desse 
segundo tipo de produção segregativa, pode ser representada de forma metafórica pelo 
presente trabalho. 
 O crítico literário Luís Camara Cascudo, faz um paralelo entre a literatura oral e 
a literatura “oficial” observando que este mesmo, folclore, quando enfocado para fins da 
etnologia, torna-se uma constante cultural, à qual o próprio, se utiliza desse argumento 
para expor a diferença entre, literatura oficial e literatura oral, no trecho: 
 
A literatura que chamamos oficial, pela sua obediência aos ritos modernos ou 
antigos de escolas ou de predileções individuais, expressa uma ação refletida 
e puramente intelectual. A sua irmã mais velha, a outra, bem velha e popular, 
age falando, cantando, representando, dançando no meio do povo, nos 
terreiros das fazendas, nos pátios das igrejas nas noites de “novena”, nas 
festas tradicionais do ciclo do gado, nos bailes do fim das safras de açúcar, 
nas salinas, festa dos “padroeiros”, potirum, ajudas, bebidas nos barracões 
amazônicos, espera de “Missa do Galo”; ao ar livre, solta, álacre, sacudida, 
ao alcance de todas as críticas de uma assistência que entende, letra e música, 
todas as gradações e mudanças do folguedo." (CASCUDO, 2012, p. 17) 
 
 O limite para essa transmissão cultural, está atrelado a força de sua tradição 
dentro de uma comunidade. Nesse sentido, a tradição, traditio, tradere, é fundamental 
 
 
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para a persistência dessa literatura, sendo repassada de geração para geração e 
significando segundo Morais (1831): “[...] notícia que passa sucessivamente de uns em 
outros, conservada em memória, ou por escrito”. (CASCUDO, 2012, p. 20). 
 O limite para essa transmissão cultural, está atrelado a força de sua tradição 
dentro de uma comunidade. Nesse sentido, a tradição, traditio, tradere, é fundamental 
para a persistência dessa literatura, sendo repassada de geração para geração e 
significando segundo Morais (1831): “[...] notícia que passa sucessivamente de uns em 
outros, conservada em memória, ou por escrito”. (CASCUDO, 2012, p. 20). 
 Segundo Luna e Silva, a literatura de cordel teria surgido através do poeta, 
Leandro Gomes de barros, após a publicação do seu primeiro folheto no ano de 1893. 
No entanto, ainda à cerca do momento de origem do cordel, é observado a publicação 
do que seria um primeiro livreto sem autor declarado, no ano de 1865. 
 Ainda a respeito do começo da literatura de cordel, Luna e Silva descrevem com 
clareza este processo: 
 
Sabe-se que a origem dessa literatura está vinculada às cantorias 
nordestinas, especialmente ao grupo de Teixeira, na Paraíba, e que ela surge a 
partir de modificações introduzidas nas cantorias. Segundo Sebastião 
Nunes Batista (1977, p. 23), os primeiros poemas escritos, principalmente 
histórias de bois como O Rabicho da Geralda, O Boi Espácio, Boi 
Surubim, Vaca do Burel, circulavam em cópias manuscritas. Igualmente em 
cópias manuscritas, foram registrados os poemas de cantadores famosos 
como Agostinho Nunes da Costa, Nicandro Nunes, Ugolino Nunes da 
Costa, Francisco Romano entre outros. Átila Almeida (1978) atribui a 
Silvino Pirauá as mudanças na cantoria que consistiam em substituir a 
quadra pela sextilha e aideia de rimar histórias tradicionais. Já Câmara 
Cascudo (1979) afirma que Silvino Pirauá foio iniciador do romance em 
verso com A História de Zezinho e Mariquinha e A Históriado Capitão do 
Navio. Por tudo isso, Silvino Pirauá de Lima assume também um papel 
relevante no início da literatura de cordel, embora ainda existam muitas 
dúvidas sobre a autoria da História do Capitão do Navio. São, portanto, 
Leandro Gomes de Barros e Silvino Pirauá de Lima os nomes mais citados 
quando se trata das origens da literatura popular impressa no Brasil (LUNA E 
SILVA, 2010, p.74). 
 
 Os elementos e temas são geralmente possuidores de enredos que partilham: 
paisagens, frases feitas, ditos populares e modismos verbais, elementos comuns com o 
 
 
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leitor nordestino. Cascudo afirma que os contos de rir e de obscenidades são uma 
conquista dos “civilizados”(ui). Enquanto a literatura oral permeiam temas através de 
anedotas, cantigas, adivinhas e rondas infantis (CASCUDO,2012, p. 26). 
 Cascudo ainda observa que a impressão desses folhetos é uma forma de 
literatura que abrange o nordeste de tão vasta maneira que “[...] Compreende um 
público como não sonha a vaidade dos nossos escritores”, ao tempo em que é passado 
até mesmo numa espécie de leitura tradicional para o público não alfabetizado. Além 
disso, um fato curioso, é que, geralmente este público não recorda o nome do autor, mas 
apenas o assunto, enredo, ou resumidamente “os causos”, num aspecto geral. 
(CASCUDO, 2012, p. 16) 
 O objetivo dessas histórias não era mero entretenimento ou forma de provocar 
sono nas crianças, afirma Cascudo, mas sim uma ferramenta de doutrinação que 
alcançava tanto o público infantil quanto o público adulto, através de: “apólogos, 
estorietas rápidas, o corpo de ensinamentos religiosos e sociais que preside a 
organização do grupo”, Desta forma, pode-se argumentar uma forte influência social 
exercida pela literatura de cordel (CASCUDO,2012, p. 27) 
 Conforme aponta Almeida (2014), o processo de formação da sociedade 
brasileira se deu através de uma miscigenação étnica-racial bastante variada, 
possibilitando um Brasil de grande diversidade cultural. Contudo, essa pluralidade tão 
rica e fascinante, é marcada por um histórico de desigualdade e discriminação contra 
descendentes africanos, indígenas e até mesmo, para as populações nordestinas, 
dificultando o desenvolvimento econômicoe social destes grupos. 
Tratando especificamente do Nordeste, esta região tão repleta de belezas típicas, 
Almeida (2014) ainda salienta que a mesma “desenvolveu hábitos próprios com relação 
ao mundo e as manifestações culturais herdadas de geração em geração. Seus costumes 
perpassam por cultos africanos, culinária peculiar, frevo, capoeira, artesanatos...”. 
Seguindo este pensamento, a literatura de cordel, como um produto cultural herdado 
durante a colonização, é capaz de representar as particularidades socioculturais do seu 
local e período de origem. 
 O cordel, conforme informa Almeida (2014), tem seu surgimento em Portugal e 
 
 
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a sua primeira entrada no Brasil, na cidade de Salvador, na Bahia, onde teria de lá se 
espalhado para os demais estados do Nordeste. Presente na península Ibérica desde 
meados do século XVI, foi chamada na Espanha pela alcunha de “pliegos suetos”, assim 
como em Portugal, era apelidadas de “folhas soltas” ou “volantes”. 
 Esta forma de literatura, possui uma construção geralmente em versos de 
sextilhas, septilhas ou décimas, retratando diversos temas através de sua linguagem 
característica (gírias e “português incorreto”), seguindo uma escrita fiel aos moldes de 
sua região. O cordel pode ser ainda encarado como sendo, fundamentalmente, o jornal 
nordestino, relatando acontecimentos como: as secas, enchentes, invasões cangaceira, 
reviravoltas políticas entre outros assuntos, que geram nesse universo literário a 
impressão de centenas de títulos anuais até os dias de hoje. Para fazer menção ao poder 
informativo deste gênero, um cordelista que ouviu rapidamente a notícia da morte de 
Getúlio Vargas na rádio, publicou naquela mesma manhã um livreto intitulado "A 
lamentável morte de Getúlio Vargas", folheto esse que vendeu mais 70.000 copias em 
apenas 48 horas. (ALMEIDA, 2014, p. 3) 
 O poeta Leandro Gomes de Barros é apontado como o primeiro a fazer a 
publicação de um cordel, em 1893. No entanto, acredita-se que outros poetas como 
Silvino Piraúa de Lima tenham feito algumas publicações anteriores. As primeiras 
editoras para esse tipo de trabalho tiveram origem em Recife, e logo surgiram outras na 
Paraíba, em sua capital. O cordelista João Melquíades da Silva, foi um dos primeiros a 
publicar uma tipografia Popular Editor, em João Pessoa. (ALMEIDA, 2014, p. 3). 
 Apesar do grande índice de analfabetismo no nordeste brasileiro, os autores de 
cordel conseguiam disseminar suas ideias declamando seus versos nas feiras e praças 
das cidades, muitas vezes acompanhados por músicos. Os folhetos eram presos em 
cordas de barbantes (daí a origem do termo cordel), e ficavam expostos aos transeuntes 
que passavam. Vale a pena mencionar, que as feiras nordestinas não somente era um 
lugar para a comercialização de produtos, mas local aproveitado para o divertimento e 
entretenimento da população. (ALMEIDA, 2014, p. 4). 
 Segundo Menezes, “Os livrinhos vindos de Portugal impressos em folhetos 
rústicos ou de outra qualidade de papel e expostos a venda pendurados em cordas ou 
 
 
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cordéis, constituíram-se em um meio de comunicação e um instrumento de interligação 
entre as sociedades que se formavam assim como é uma forma artística, uma 
manifestação cultural” (MENEZES, 2009, p.16). 
 Esses folhetos, como assegura Almeida (2014), eram em sua maioria 
confeccionados no tamanho 11x15 ou 11x17, e impressos geralmente em papel de baixa 
qualidade. Na década de 20, adotou-se a produção de capas feitas em xilogravura, sendo 
substituída décadas depois por fotografias de estrelas do cinema americano. Relativo à 
sua impressão em tipografias, nos dias atuais, ouve a substituição desse método, para a 
adesão de trabalhos gerados a partir de fotocópias. 
 Julgando por estes parâmetros, o cordel pode ser definido como uma “poesia 
narrativa, popular e impressa”. (ALMEIDA, 2014, p. 5) 
 Para Sandra Pesavento, “este tipo de literatura é a memória de uma realidade 
representada em versos que pode ser usada como fonte de pesquisa histórica. Entretanto, 
a ficção criada por ele – o cordel - não é um retrato fidedigno da realidade, mas uma 
representação do que ficou a partir desta realidade” (SILVA, 2013, p.129). 
 Seguindo esse pensamento, percebe-se que o tema cangaço é um dos assuntos 
mais abordados nos livretos de cordel. Para os poetas cordelistas, era impossível não 
registrar um movimento com as dimensões do banditismo cangaceiro, isso, devido a sua 
forte influência no cotidiano , assim como no próprio cenário político do nordeste. É 
importante observar que diversos cordelistas como Leandro Gomes de Barros, 
Francisco das Chagas Batista, entre outros, se dedicaram a relatar os feitos dos 
principais nomes do cangaço: Antônio Silvino e, principalmente, Lampião, revelando 
“uma relação na qual o cordelista realiza a função de biógrafo e os folhetos de cordel se 
constituem como um instrumento de memória”. (SILVA, 2013, p.129). 
À cerca da construção de figuras como Antônio Silvino e Lampião, Oliveira (2003) 
analisa que: 
 
A literatura de cordel consagrada pelos folcloristas como mito, símbolo da 
cultura popular nordestina também é responsável por consagrar personagens 
 
 
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históricos. Entendo o sentido de mito como propõe Roland Barthes, que em 
linhas gerais aponta ser um enunciado, um mecanismo de comunicação, um 
modo de significação. Independente da linguagem, um mito transforma o real 
num discurso, alocado na história. Ou seja, os mitos são históricos, pois são 
atrelados às formas de pensamento, posturas políticas, culturais e sociais. 
 
 
 Ferreira (2009), informa que a partir da segunda metade do século XIX, a escola 
francesa buscava padronizar sua metodologia, almejando assim alcançar uma verdade 
histórica. Nesse contexto, apenas documentos considerados oficiais poderiam 
comprovar a veracidade como fonte. Literatura, assim como outras expressões artísticas 
eram desprezadas nesse processo. (GAFFO, 2013, p. 2) 
 No entanto, com o surgimento da revista de Annales de Lucien Febvre e Marc 
Bloch no século XX, ocorreram mudanças significativas nos moldes da pesquisa 
histórica, repertoriando novas fontes e possibilitando um conflito de verdades 
multidisciplinares ao seu método cientifico. Esse movimento, conhecido como Nova 
história iniciou-se na França em 1929 com a criação da Revista de Annales d’Histoire 
Économique et Sociale, se posicionando contrariamente à Escola Metódica pondo em 
pauta uma história “problema”. (GAFFO, 2013, p. 4). 
 Com um tempo, a Annales passou a ser vista como escola, isso após unir-se 
com a Sexta Seção da Ecole Pratique des Hautes Etudes, presidida por Braudel, nas 
décadas de 1950 e 1960. Nesse período ocorrem a “ampliação no repertório das fontes 
históricas e a metamorfose do próprio conceito de fonte”. (GAFFO apud FERREIRA, 
2009, p. 63). 
 Desta forma, a história passaria a estudar a sociedade em seu aspectos sociais, 
políticos, econômicos e sociais, tratando de enfocar a humanidade em sua 
complexidade, partindo para o estudo não apenas dos vencedores, mas também das 
pessoas que estavam à margem. Somados a isso, ao fim da década de 50 um grupo de 
historiadores Marxistascomeçaram a exercer a publicação de livros e artigos que 
discutiam “a história vinda de baixo” (GAFFO, 2013, p. 4). 
 Em 1970, a nova geração de historiadores franceses ampliam ainda mais o 
 
 
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repertório de fontes. Sendo de suma importância a publicação da obra Nova História, de 
Jaques Le Goff e Pierre Nora, onde, nas palavras de Ferreira (2009): 
 
 
Ao proporem a dilatação do território temático do historiador – que passou a 
abranger objetos tais como o inconsciente, o cotidiano, a língua, a literatura, 
o mito, a infância, a juventude, a festa, os meios de comunicação, entre 
outros- os novos historiadores também estimularam a pesquisa de novos 
documentos – escritos, sonoros, visuais. (GAFFO apud FERREIRA, 2009, p. 
64) 
 
 
 
Já no Brasil de oitocentos, diversos pesquisadores buscaram através de obras literárias 
uma escrita que distinguisse e valorizasse o pais, em seus aspectos culturais e sociais, 
tentando assim criar uma identidade nacional. (GAFFO, 2013, p. 5) 
 Deste modo, fundamento aqui a utilização da “literatura não oficial” (o cordel), 
como principal fonte de pesquisa para este trabalho. Concluo então, esta primeira fase 
do relatório, após ter sido feito um apanhado histórico geral sobre o movimento 
cangaceiro, ser trabalhado os conceitos de literatura regionalista e literatura oral, além 
de discutida a importância e relevância da literatura de cordel, evidenciando através dos 
textos discutidos um potencial considerável para a Arqueologia Histórica. 
 
 
 
 
 
 
Fragmentos textuais de cultura material: Triagem e Análise efetiva dos cordéis: 
 
Para esta etapa da pesquisa, foram selecionados ao todo, 13 cordéis; sendo estes 
pertencentes a 5 autores que foram para melhor avaliação dos resultados, divididos em 
 
 
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dois grupos. O primeiro, referente aos cordelistas da primeira geração, definidos assim 
como os pioneiros do movimento, pertencentes ao período de 1880 a 1930. Foram estes 
que além de constituírem o primeiro público, também estabeleceram as formas de 
produção e de distribuição dos cordéis. O segundo grupo (consequentemente a segunda 
geração de cordelistas), os que se apropriando das narrativas dos poetas da primeira 
geração, decidiram então reescreve-las. Estes compreendem o período de 1930 a 1980. 
Em comum, ambos os grupos tratam do movimento cangaceiro conforme a perspectiva 
do seu tempo, abordando diferentes histórias, porém como frisado no começo deste 
trabalho, reforçando os valores e tradições que simbolizam até hoje a cultura nordestina. 
Todos os cordéis utilizados, foram cordéis digitalizados disponíveis no acervo digital da 
Fundação casa Rui Barbosa, e podem ser acessados através do site: 
http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/poeta.html#. 
Foram realizados dois tipos de análise, sendo uma efetiva e de procedimento manual 
(leitura e desfragmentação de texto) abarcando os 13 cordeis selecionados, e outra, 
tendo um caráter avaliativo, sendo processado apenas 1 cordel mediante a utilização do 
software IRAMUTEQ. 
 
 
 
 
 
 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Grupo 1: Cordelistas do período de 1880-1930. 
 
Leandro Gomes de Barros, nasceu na Paraíba em 19/11/1865, na Fazenda da Melancia, 
no Município de Pombal, é considerado o pioneiro entre os poetas populares do seu 
tempo. Foi educado pela família do Padre Vicente Xavier de Farias, (1823-1907), 
proprietários da fazenda, e dos quais era sobrinho por parte de mãe. Juntamente com sua 
família "adotiva" mudou-se para a Vila do Teixeira, onde ajudaria a fundar o berço da 
Literatura de cordel, lá permaneceu até os 15 anos de idade conhecendo diversos 
cantadores e poetas. 
Mudou-se para Pernambuco, onde tem sua primeira residência em Jaboatão, onde ficou 
até 1906, partindo depois para Vitória de Santo Antão e a partir de 1907 no Recife onde 
viveu em vários endereços, imprimindo a maior parte de sua obra poética no próprio 
prelo ou em diversas tipografias. 
(Fundação casa Rui Barbosa1) 
 
Cordel n°1 
 
Todas as lutas de Antônio Silvino 
Autor: LEANDRO GOMES DE BARROS (1865-1918) 
Especificações: Assinatura de Rachel Aleixo confirmando a data de 1912, que 
corresponde ao período de residência do poeta à Rua do Alecrim 38-E, Recife. 
Data de publicação: 14/11/1912 
 
Pág. 2 
 
Partindo gente á facão 
fazendo do povo bife. 
[...] 
Antes de fechar a boca 
vi a sombra do facão. 
 
Pág. 3 
 
[...] 
Arrebatei-lhe a espada 
marquei-lhe o pé da orelha. 
[...] 
Nem irei mais ao hotel 
irei tomar um café fora. 
[...] 
Depois da missa eu já tinha 
mandado o café fazer. 
[...] 
 
1 Fonte: http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/leandro.html. Acesso em Junho de 2017. 
 
 
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Fiz eles pagarem vinho 
pra tudo ali beber. 
Pág. 6 
 
[...] 
Aos meus pés chiava cobra 
A onça rosnava adiante. 
[...] 
Escapo dos inimigos 
Porém a onça me come. 
 
Pág. 7 
 
[...] 
Disse comigo é onça 
que veio ali me emboscar. 
[...] 
A onça estava escondida 
Era uma onça pintada. 
Pág. 8 
 
[...] 
Deu-me um tapa no rifle 
que não pude sustentar 
[...] 
Saltou o rifle da mão 
Ahi eu disse: Estou frito. 
[...] 
Ali puxei o facão 
Ela me olhou e rugiu. 
[...] 
O facão em dois pedaços 
não sei onde caiu. 
[...] 
Nesse tapa do facão 
cravei-a com meu punhal. 
 
Pág. 9 
 
Eu trazia dois punhais 
mas o grande ela levou. 
[...] 
Cravei-lhe o punhal no olho 
até onde pude entrar. 
[...] 
 
 
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Perdi a ultima arma 
como podia brigar? 
[...] 
Fui ver o rifle onde estava 
Achei-o mas estava torto. 
______________________________________________________________________ 
 
Cordel n°2 
 
Como Antônio Silvino fez o diabo chocar 
Autor: LEANDRO GOMES DE BARROS (1865-1918) 
Especificações: ---- 
Data de publicação: ---- 
 
Pág. 2 
 
[...] 
Tenho boa munição 
mais de seiscentos cartuchos 
Rifle, punhal e facão. 
 
Pág. 3 
 
[...] 
E uma pistola mauser 
não sahe do meu cinturão. 
 
pág. 4 
 
[...] 
Puchou por uma pistola 
atirou bem no meu peito 
[...] 
Nós lutamos nos punhaes 
os tiros de nossas armas 
descarregaram-se iguaes. 
 
Pág. 5 
 
[...] 
Nos encontramos à noite 
Fomos ambos à facão. 
 
Pág. 7 
 
 
 
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[...] 
Dos punhaes que eles traziam 
a bainha era meu bucho. 
Pulei, disse comigo 
fiquem queimando cartucho. 
 
Pág. 8 
 
[...] 
Levei o punhal nos dentes 
o rifle na outra mão, 
A mauser embaixo do braço. 
Pág.11 
 
[...] 
Que é que tens na mão? 
Ahi apontei-lhe o rifle 
e lhe mostrei o facão. 
[...] 
Eu hoje também preciso 
de descarregar meu rifle. 
[...] 
Com esse punhal o sangro 
com o facão faço bife. 
 
[...] 
Ahi abaixei o rifle 
botei o portão abaixo. 
[...] 
Isto é, não deixo o rifle 
que é quem me rende dinheiro. 
______________________________________________________________________ 
 
 
Cordel n°3 
 
O nascimento de Antônio Silvino 
Autor: LEANDRO GOMES DE BARROS (1865-1918) 
Especificações: ---- 
Data de publicação: A data do folheto pode ser fixada entre 1910 e 1912 tomando-se o 
local de residência, Rua do Alecrim 38-E, Recife, como referência. 
 
 
Pág. 2 
 
 
 
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[...] 
Que tinha em minha cintura 
a marca de cartucheira. 
 
Pág. 3 
 
[...] 
Em meu lado esquerdo um rifle 
se divulgou afinal 
Na palma da mão direita 
visivelmente um punhal. 
[...] 
Olhei para o rifle e disse 
você seria meu juiz. 
disse ao punhal. Com você 
eu represento o meu país. 
 
Pág. 5 
 
Estava até limpando um rifle 
que estava enferrujado. 
[...] 
Eu ahi larguei o rifle 
Lancei mão do bacamarte. 
 
Pág. 6 
 
[...] 
Eu nunca gostei de gaita. 
Nem carrinhos ou byrimbáu. 
Meus brinquedos eram espetos 
ou espingarda de páo. 
[...] 
Cada um com um badogue 
ia um no outro atirar. 
 
Pág. 7 
 
[...] 
Plantei, estava o milho grande 
O feijão todo vajado. 
[...] 
De arma só tinha um tacho. 
[...] 
Meu rifle não tinha bala 
 
 
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o punhal tinha o perdido. 
______________________________________________________________________ 
 
 
 
 
Cordel n° 4 
 
Antônio Silvino, o rei dos cangaceiros. 
Autor: LEANDRO GOMES DE BARROS (1865-1918) 
Especificações: É interessante se notar que o endereço da tipografia é o mesmo do local 
de residência de Leandro, o que reforça a afirmação de Ruth Brito Lemos Terra de que 
o poeta imprimia ele mesmo seus folhetos, pelos menos nessa época (Acervo digital 
Casa Rui Barbosa). 
Data de publicação: Entre 1910-1912 levando-se em conta o local de residência que está 
na contracapa: Rua do Alecrim, 38-E. Recife. 
 
 
Pág. 2 
 
[...] 
Porém conhece meu rifle 
e sabe como eu me bato 
pucha uma onça da furna 
mas não me tira do mato. 
 
Pág. 4 
 
[...] 
Eu não vou criar galinhas 
pra dar capões a ninguém. 
 
Pág. 6 
 
[...] 
Porque meu facão é forte 
meu braço é muito pesado 
[...] 
Em mim só tinha uma coroa 
você fez outra à facão. 
 
 
 
Pág. 7 
 
 
 
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[...] 
Lancei mão do cavador. 
 
Pág. 9 
 
[...] 
Eu juro pelo meu rifle. 
 
[...] 
Viaja sem o missal 
mas leva o rifle encostado. 
[...] 
Armar rifle e atirar 
Lá onde ele ordenou-se. 
 
Pág. 10 
 
Uma piaba no mar 
um veado em mata virgem. 
[...] 
Mato 5 ou 6 calangos 
boto no sol pra secar. 
4 ou 5 lagartixas 
dão muito bem um jantar. 
[...] 
Um rapaz meu companheiro 
foi pela onça comido. 
 
Pág. 11 
 
[...] 
Havia muitos mocós 
Eu não podia os caçar. 
[...] 
Eu matava algum calango 
que por perto aparecia. 
[...] 
Quando apertava a sede 
pegava croa de frade. 
[...] 
Viram que um grande tigre 
estava em frente os emboscando. 
 
 
 
 
 
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Pág. 12 
 
[...] 
O tigre soltou um urro 
que o tenente estremeceu 
até a borracha d’água 
um dos praças perdeu. 
[...] 
Fui, apanhei a mochila 
Achei carne e rapadura 
farinha, queijo e café. 
[...] 
Achei a borracha d’água 
matei a sede que tinha. 
 
[...] 
A carne já estava assada 
fiz um pirão com farinha. 
 
Pág. 13 
 
[...] 
Só levo lá um dos rifles 
e um saco de munição 
[...] 
A onça chega na boca 
mas dentro não põe o pé. 
[...] 
A onça conhece a furna 
desde a entrada à sahida. 
Uma onça parte assim. 
se vendo quase perdida. 
 
Pág. 14 
 
Se não tiver natureza 
de comer calangro cru. 
Passe um mês sem beber água 
chupando mandacaru. 
Dormir em furna de pedra 
onde só veja tatu. 
[...] 
Se exercitar bem nas armas 
pular muito e comer bem. 
 
 
 
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Pág. 15 
 
[...] 
Pegar cobra como eu pego 
quando ela quer me morder. 
Cascavel com 7 palmos 
só se Deus o proteger. 
 
 
 Tabela 1 
 
Tipo Bélica N° de 
citações 
Fauna N° de 
citações 
Alimentos N° de 
citações 
Outros N° de 
citações 
A Rifle 19 Onça 10 Calangro 3 Cinturão 1 
B Facão 11 Calangro 3 Café 2 Borracha 
d’água 
 1 
C Punhal 10 Tigre 2 Vinho 1 Bainha 1 
D Arma 4 Cobra 2 Queijo 1 Tacho 1 
E Bacamart
e 
 2 Tatu 1 Mandacaru 1 Badogue 1 
F Mauser 2 Cascavel 1 Pirão c/ 
farinha 
 1 Cavador 1 
G Pistola 2 Veado 1 Carne 1 Espingard
a d/ pau 
 1 
H Cartucho 2 Mocó 1 Galinha 1 Espeto 1 
I Munição 2 Lagartixa 1 Piaba 1 Carrinho 1 
J Espada 1 - Croa de Frade 1 Gaita 1 
L Bala 1 - Capões 1 Berimbáo 1 
M Cartuchei
ra 
 1 - Feijão 1 - 
N Espingar
da 
 1 - Milho 1 - 
Total 13 58 9 22 13 15 11 11 
 
 
 
 
 
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______________________________________________________________________ 
 
54%
21%
15%
10%
Gráfico 1
Bélico Faúna Alimentos Outros
33%
19%
17%
7%
4%
3%
3%
3% 3%
2% 2% 2% 2%
Gráfico 2
Rifle
Facão
Punhal
Arma
Bacamarte
Mauser
Pistola
Cartucho
Muniçao
Espada
Bala
Cartucheira
 
 
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Franciscodas Chagas Batista: “Seu primeiro folheto, "Saudades do Sertão", foi 
publicado em 1902, em Campina Grande, na Paraíba. Estabeleceu a livraria Popular 
Editora, em João Pessoa, também na Paraíba, em 1911. "A vida de Antônio Silvino", 
"História Completa de Lampião", "As Manhas de um Feiticeiro" e "A Escrava Isaura" 
são alguns de suas obras”. (ALMEIDA, 2014) 
 
 
Cordel °5 
 
A morte de Cocada e a prisão de suas orelhas. 
Autor: FRANCISCO DAS CHAGAS BATISTA (1882-1930) 
Especificações: ---- 
Data de publicação: ---- 
 
Pág. 2 
 
[...] 
Um severo defensor 
Quis com um tiro de seu rifle. 
 
Pág. 4 
[...] 
Com o rifle, que ali cahiu 
Victalino com o punhal. 
a garganta lhe partiu. 
[...] 
A Cocada eles mataram 
com punhaes ensanguentados. 
 
Pág. 5 
Meteu-os n’uma prisão 
encarcerados num frasco. 
______________________________________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Cordel n°6 
 
O tiroteio de Maceió: Zé povo e os Maltinos 
Autor: FRANCISCO DAS CHAGAS BATISTA (1882-1930) 
Especificações: ---- 
Data de publicação: ---- 
 
Pág. 4 
 
[...] 
Dizendo contra o Zé povo 
Não disparo a espingarda 
 
Pág. 5 
 
[...] 
Com inteira demasia 
Balas entrava no povo 
[...] 
De toda parte se ouvia 
os ecos da carabina. 
 
Pág. 7 
 
[...] 
Bastam meus prejuízos 
Não posso mais me conter 
Perder a vacca Tourina 
[...] 
O certo é que no coffre 
eu usei dos mandamentos 
[...] 
Palavras não eram ditas 
estrondou o bacamarte. 
[...] 
Isso de pegar em armas 
É trilha que não navego. 
 
Pág. 8 
 
[...] 
Tragam cá a garrafinha 
Preciso tomar um emprego. 
 
Pág. 9 
 
 
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[...] 
Meteu-se num capotão 
uma rajada de frio. 
 
Pág. 10 
 
[...] 
Mesmo zerada de chumbo 
é negócio muito feio. 
[...] 
Zé povo se prevenindo 
com o rifle abandonado. 
[...] 
Tire a farda, seu safado 
pegue este uniforme novo. 
[...] 
Aqui, ali, acolá 
Chiava um na pistola. 
 
Pág. 12 
[...] 
Um negro da Costa da Africa 
tocando num berimbáo. 
 
Pág. 13 
 
[...] 
Logo ao sair de canôa 
deu entrada no azar. 
Pág. 14 
 
[...] 
Zé povo ia atraz do Fute 
com a vassoura na mão. 
 
Pág. 15 
 
[...] 
Alguém com uma pistola 
sendo bico de tucano. 
 
Pág. 16 
 
[...] 
 
 
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O que desobedecer-me 
provará do meu cinturão. 
 
[...] 
Pensam que bala é folguedo? 
bala não é cassuada. 
______________________________________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
Cordel n°7 
 
O interrogatório de Antônio Silvino 
Autor: FRANCISCO DAS CHAGAS BATISTA (1882-1930) 
Especificações: ---- 
Data de publicação: ---- 
 
Pág. 3 
 
[...] 
Um vaqueiro, um cantador 
um amansador de poldro. 
[...] 
Um homem que mata onças 
eu então um cangaceiro. 
 
Pág. 5 
 
[...] 
Murmurei com meus botões 
também eu ei de arrumar-te. 
Não quero código melhor 
do que seja o bacamarte. 
 
 
[...] 
Está não quis me escutar 
me vali do bacamarte. 
[...] 
No bacamarte encontrei 
leis que decidem questão. 
 
 
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[...] 
As bala eram soldados 
com que eu fazia prisão. 
 
Pág. 10 
 
[...] 
Passou em frente ao meu rifle 
que feriu a inocentemente. 
[...] 
Só não matei o Angelim 
por fata de munição. 
[...] 
Dois sargentos da polícia 
derribei de um tiro só. 
 
Pág. 11 
 
[...] 
E por isso eu resolvi 
passa-lo pelo fuzil. 
 
Pág. 12 
 
[...] 
Com um tiro e oito facadas 
pra outro mundo o mandei. 
 
Pág. 13 
 
[...] 
Tomei as malas e abri-as 
e depois que violei. 
[...] 
As cartas que ela trazia 
a todas incendiei. 
[...] 
Mandei que 1 velho arrancasse 
uma botija e a mim. 
 
Pág. 15 
 
[...] 
As malas de um correio 
perto de Patos tomei. 
 
 
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[...] 
E toda correspondência 
que ela trazia queimei. 
______________________________________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cordel n°8 
 
A História de Antônio Silvino – Novos crimes 
Autor: FRANCISCO DAS CHAGAS BATISTA (1882-1930) 
Especificações: Recife-PE 
Data de publicação: Junho de 1908. 
 
Pág. 3 
 
[...] 
Que bem perto de campinas 
duzentos fogos soltei. 
[...] 
Eu respondi-lhe o tiro 
na mesma ocasião. 
 
Pág. 4 
 
[...] 
O tiro dele errou-me 
porque fiz uma negaça. 
[...] 
Mandei logo outra bala 
de presente ao inspetor. 
 
Pág. 5 
 
[...] 
Ao ouvirem estes tiros 
logo se aproximaram. 
[...] 
Depois dos tiros a rua 
 
 
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estava toda fechada. 
[...] 
Zé de Couto, te prepara 
para brigarmos na bala. 
[...] 
Mas tem cuidado na vida 
se não arasta a mala. 
 
Pág. 6 
 
[...] 
Porém dei-lhe sempre um tiro 
apenas pra avisar. 
[...] 
O tiro varou-lhe um braço 
E o fez ficar alertado. 
 
 
Pág. 7 
 
[...] 
Morreu também uma burra 
que estava perto amarrada. 
 
Pág. 8 
 
[...] 
Logo nos primeiros tiros 
eu, que não perco trabalho. 
Porque eu não estando veixado 
não dou um só tiro falho. 
[...] 
Eu queria com o sargento 
trocar bala testa a testa. 
[...] 
Logo ao chegar a estação 
do telegrafo tranquei. 
 
Pág. 9 
 
[...] 
Tomem de Antonio Manoel 
a farda de capitão. 
[...] 
Dei onze tiros de rifle 
 
 
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e desessete facadas. 
 
Pág. 11 
 
[...] 
Eis a razão porque eu 
matei a rifle e punhal. 
[...] 
Deram-me um “fogo”, porém 
seus tiros foram perdidos. 
[...] 
Meus cabras ouvindo os tiros 
se espalharam no terreiro. 
[...] 
Cair varado de balas 
o Sebastião bicheiro. 
 
Pág. 12 
 
E então sobre os inimigos 
alguns tiros disparei. 
[...] 
Disparei uns quinze tiros 
caindo e me levantando. 
[...] 
Meus tiros foram perdidos 
porque atirei na carreira. 
______________________________________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 Tabela 2 
 
Tipo Bélica N° de 
citações 
Fauna N° de 
citações 
Alimentos N° de 
citações 
Outros N° de 
citações 
A Rifle 5 Onça

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