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Processo Civil - Os Efeitos da Coisa Julgada nas Ações Coletivas

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OS EFEITOS DA COISA JULGADA NAS AÇÕES COLETIVAS� 
 
 Camila Dozza Zandonai� 
 
 
 
RESUMO: A importância conferida à tutela coletiva na contemporaneidade, em razão do 
aumento da massificação da sociedade, exige, por conseqüência, uma mudança na concepção 
estritamente individualista do direito. O ordenamento jurídico brasileiro, diante dessa nova 
realidade, vem se preocupando, cada vez mais, em aperfeiçoar os instrumentos de proteção dos 
direitos coletivos, chegando-se a falar sobre a existência de um microssistema processual 
coletivo. Nesse contexto de processo coletivo, o presente trabalho buscará compreender a 
formação da coisa julgada nas ações coletivas, estabelecendo uma diferenciação em relação ao 
processo individual e identificando suas particularidades. Para a pesquisa serão estudados alguns 
princípios e institutos necessários para entender o alcance da coisa julgada no cenário jurídico e 
analisadas doutrinas, jurisprudências e legislações pertinentes. 
A partir da reunião de um amplo material doutrinário e jurisprudencial, verifica-se que a coisa 
julgada atribui autoridade e eficácia à decisão judicial final visando evitar a incerteza, buscar 
estabilidade e segurança às relações sociais. E no que diz respeito à coisa julgada nas ações 
coletivas, muito importante é identificar seus limites e a natureza dos bens jurídicos protegidos, 
pois são aspectos que influenciarão no regime jurídico adotado pelo ordenamento jurídico pátrio. 
 
Palavras-chave: coisa julgada – ações coletivas – regime jurídico 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O presente artigo científico tem como principal objetivo analisar a relevância da coisa 
julgada nas ações coletivas, demonstrando aspectos gerais e particularidades capazes de torná-la 
um dos maiores diferenciadores do processo coletivo em relação ao individual. 
Serão utilizadas doutrinas tradicionais e autores modernos que buscam, através de lições 
clássicas e jurisprudência recente, escrever uma doutrina aprofundada sobre diversos temas. 
Importante ressaltar a importância de ser realizado um breve estudo sobre a jurisdição no âmbito 
da tutela coletiva, bem como de serem analisados alguns princípios do Processo Civil, tais como 
o devido processo legal, acesso à justiça e segurança jurídica, uma vez importarem no correto 
desenvolvimento processual e na estabilidade das relações jurídicas. 
 
� Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau 
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e aprovado, em 
grau máximo, pela banca examinadora composta pelo Orientador Luis Gustavo Andrade Madeira, Professora Letícia 
Correa e Professor Alvaro Paranhos Severo, em 16 de junho de 2009. 
� Bacharel em Ciências Jurídicas e Socias pela PUCRS. E-mail: camiladozza@hotmail.com. 
A coisa julgada, como meio de garantir a estabilidade das decisões judiciais que põem 
fim à relação processual, será relacionada ao processo coletivo, estabelecendo-se a sua forma de 
produção, bem como seus limites objetivos e subjetivos. Ainda serão traçadas algumas 
características acerca do regime da coisa julgada nas class actions norte-americanas, ações essas 
que influenciaram muito a tutela coletiva no Brasil, observada a forma pela qual o instituto é 
apresentado nos atuais Projetos de Código de Processo Coletivo e qual o seu alcance sobre cada 
espécie de direito coletivo: direitos difusos, direitos coletivos stricto sensu e direitos individuais 
homogêneos. 
 
1. A FUNÇÃO JURISDICIONAL NO ÂMBITO DA TUTELA COLETIVA 
 
A jurisdição, historicamente, foi concebida no pressuposto da ocorrência de litígio, isto 
é, de conflito entre interessados que disputam o mesmo bem da vida. Sem tal disputa, 
necessariamente individual, a atividade jurisdicional não era admitida. Entretanto, 
modernamente, a jurisdição assume dimensões muito mais amplas, e a sua tarefa de manter a paz 
social passa a compreender, também, os fenômenos coletivos, em que os interesses transcendem 
a esfera do indivíduo e, de maneira difusa, alcançam toda a comunidade ou grandes porções 
dela.1 
Bens coletivos como o meio ambiente, patrimônios histórico e cultural, e as relações 
consumeristas tornaram-se objeto de tutela jurisdicional, surgindo um sistema de direito 
processual coletivo, cujo início ocorreu com a edição da lei da ação popular (lei 4.717/1965) 
seguida da lei da ação civil pública (lei 7.347/1985), Constituição Federal de 1988, que instituiu o 
mandado de segurança coletivo, do estatuto da criança e do adolescente (lei 8.069/1990), do 
Código de Defesa do Consumidor (lei 8.078/1990) e da lei que regula a ação de improbidade 
administrativa (lei 8.429/1992). As ações coletivas visam à tutela da coletividade, categorias ou 
grupos de pessoas acima da proteção individual de cada um de seus componentes. 
O desenvolvimento dessa legislação, de acordo com Cândido Dinamarco, é um reflexo 
brasileiro de uma das ondas renovatórias2 que na segunda metade do século XX atingiram o 
 
1 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do Direito Processual Civil e 
Processo de Conhecimento. 47ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 45. 
2 A expressão “ondas renovatórias” foi criada pelo processualista italiano Mauro Cappelletti ao explicar o 
movimento para o acesso à justiça ocorrido na criação do Estado Social. O autor refere que o acesso à justiça evoluiu 
em ondas: a primeira procurou superar os obstáculos apresentados pela pobreza; a segunda tratou de fazer acessível à 
Processo Civil de origem romano-germânica, tradicionalmente apegado a certas premissas 
individualistas, como a da legitimidade individual para demandar em juízo e da rigorosa 
limitação subjetiva da coisa julgada, que jamais poderia aproveitar nem prejudicar quem não 
houvesse sido parte no processo3. Com base no modelo americano das class action, o legislador 
brasileiro percebeu que para alcançar uma tutela jurisdicional completa seria necessário criar 
institutos jurídicos novos e instrumentos processuais próprios de realização dos direitos coletivos 
advindos da sociedade moderna. 
Os direitos relacionados ao meio ambiente, patrimônios histórico e cultural, saúde 
pública, segurança coletiva, relações de consumo e ordem urbanística, embora digam respeito a 
todos os indivíduos, não são suscetíveis de divisão para defesa individual. Por essas 
características de transindividualidade e indivisibilidade, são chamados direitos difusos ou, 
conforme a situação, coletivos stricto sensu. Existem, ainda, aqueles direitos que podem ser 
individualizados e os seus titulares determinados, mas em razão de muitas pessoas encontrarem-
se na mesma situação fática-jurídica, torna-se mais rápido e efetivo serem defendidos em juízo 
por órgãos ou entidades. Esses últimos são chamados direitos individuais homogêneos. 
Cabe neste momento referir que processo coletivo, segundo Fredie Didier JR.4, é aquele 
instaurado por ou em face de um legitimado autônomo, em que se postula um direito coletivo lato 
sensu ou se postula um direito em face de um titular de um direito coletivo lato sensu, com o fito 
de obter um provimento jurisdicional que atingirá uma coletividade, um grupo ou um 
determinado número de pessoas. 
Hoje, a atividade jurisdicional focada na tutela de direitos transindividuais mostra-se 
firme e dedicada no Brasil. Tanto os doutrinadores quanto os operadores do direito tratam o 
assunto com a importância devida, de modo que muitos são os resultados práticos que vêm sendo 
obtidos. Instituições encarregadasde defender os interesses da sociedade, como o Ministério 
Público, não podem deixar de ter seu trabalho mencionado, pois através delas a tutela coletiva 
deixou de estar apenas prevista em leis ou discutida na doutrina para efetivar-se na realidade 
social. Também é necessário dizer, apesar de ser analisado mais detalhadamente no capítulo 
quatro, que as leis disciplinadoras das ações coletivas delinearam a essência do sistema de 
 
tutela jurisdicional aqueles direitos e interesses difusos, garantindo o acesso aos seus representantes; e a terceira diz 
respeito à necessidade de adaptar o Processo Civil ao tipo de litígio. 
3 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 5ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 
2005, p. 174. 
4DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. V.4. Salvador: Editora JusPodivm, 2007, p. 44. 
processo coletivo e, em razão disso, já existem Modelos de Código de Processo Coletivo que 
dispõem acerca de regras processuais específicas. 
 
2. PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL 
 
2.1 Princípio da inevitabilidade da jurisdição 
 
A jurisdição se impõe por poder próprio, independentemente da vontade das partes. Este 
princípio existe como conseqüência da prevalência da natureza publicística do processo5. As 
partes estão em situação de sujeição inevitável frente ao poder jurisdicional do Estado. 
O princípio da inevitabilidade significa que a autoridade dos órgãos jurisdicionais, 
sendo uma emanação do próprio poder estatal soberano, impõe-se por si mesma, 
independentemente da vontade das partes ou de eventual pacto para aceitarem os resultados do 
processo; é impossível evitar que sobre a esfera de direitos das partes seja exercida a autoridade 
estatal6. 
Nas palavras de Cândido Dinamarco7, a inevitabilidade da jurisdição manifesta-se pela 
dispensa de qualquer ato de anuência do demandado para figurar no processo: a citação basta 
para fazê-lo parte neste e, com isso, pô-lo em estado de sujeição – o mesmo estado em que, mercê 
da propositura da demanda, também o demandante se coloca. Os resultados do processo e os 
efeitos do exercício da jurisdição serão impostos, através do poder de império do Estado, para 
ambos os litigantes. Contudo, o doutrinador citado coloca em sua obra Instituições de Direito 
Processual Civil duas exceções à inevitabilidade da jurisdição. A primeira diz respeito ao terceiro 
que, citado na nomeação à autoria (espécie de intervenção de terceiros) feita pelo réu, só 
prosseguirá na causa se assim preferir; e a segunda trata das imunidades à jurisdição, em que 
determinadas pessoas consideradas imunes por questões diplomáticas não serão suscetíveis de 
serem demandadas na Justiça brasileira contra a sua vontade. 
 
5 PORTANOVA, Rui. Princípios do Processo Civil. 6ª ed. Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado, 2005, p. 
95. 
6 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral 
do Processo. 22ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2006, p. 153. 
7 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 5ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 
2005, p. 332. 
Além disso, cumpre ressaltar que a inevitabilidade da jurisdição não obriga ao 
demandante o seu ingresso ao Judiciário, pois, como já visto anteriormente, a atividade 
jurisdicional só é realizada mediante provocação (princípio da inércia da jurisdição). 
 
2.2 Princípio do acesso à justiça 
 
A expressão acesso à justiça não diz respeito apenas ao acesso à justiça na figura da 
instituição Poder Judiciário, mas ao que a doutrina denominou acesso à ordem jurídica justa. A 
mera admissão ao processo, ou a possibilidade de ingresso em juízo, não identifica o acesso à 
justiça, pois é indispensável que o maior número possível de pessoas seja admitido a demandar e 
a defender-se adequadamente, sendo também condenáveis as restrições quanto a determinadas 
causas (pequeno valor, interesses difusos) 8. 
O acesso à justiça significa o ingresso a um sistema de garantias capaz de atender as 
pretensões do autor sem lesionar a esfera jurídica do demandado. Mesmo quando a pretensão de 
direito material não existir, ainda assim existe o direito de ação (direito público subjetivo que o 
particular tem contra o Estado). Além disso, para a plenitude do acesso à justiça importa remover 
os males existentes à universalização da tutela jurisdicional e aperfeiçoar internamente o sistema, 
a fim de ser mais rápido e mais capaz de oferecer soluções justas e efetivas.9 Portanto, a correta 
aplicação do princípio em análise ocorre com a concretização de dois outros princípios estudados 
logo a seguir: devido processo legal e efetividade. 
 
2.3 Princípio do devido processo legal 
 
Está expresso no artigo 5º, inciso LIV da Constituição Federal: “ninguém será privado da 
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”10, mas tem seu desdobramento em outros 
incisos do mesmo artigo em comento, os quais tratam do direito de petição aos poderes públicos, 
da não-exclusão da apreciação do Poder Judiciário de lesão ou ameaça a direito, do juiz natural, 
da igualdade de tratamento das partes, do contraditório, da ampla defesa e, recentemente 
 
8
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral 
do Processo. 22ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2006, p. 39. 
9 Ibid, p. 133. 
10 BRASIL. Constituição (1988). 8ª ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007. 
acrescentado pela Emenda Constitucional n.º 45/2004, da razoável duração do processo e 
celeridade de sua tramitação. Também outras garantias previstas na Constituição levam ao 
cumprimento do devido processo legal: a obrigatoriedade das decisões judiciais serem 
fundamentadas, a assistência judiciária gratuita, publicidade, entre outras. 
O devido processo legal não é somente uma garantia às partes envolvidas no litígio. A 
partir de uma perspectiva não tão individual e, considerando o escopo social da jurisdição, nota-
se que a obediência a um processo ordenado e cercado de garantias resulta em mais justiça nas 
decisões e confiança no Poder Judiciário como órgão protetor dos interesses dos cidadãos. 
 
2.4 Princípio da efetividade 
 
Assegurado o acesso à jurisdição, em caso de lesão ou ameaça de lesão a direito, 
constituiria evidente incongruência não ser exercitado o direito de invocar e obter tutela 
jurisdicional adequada e efetiva. 
Para o professor Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, a efetividade constitui-se de várias 
formas. A primeira delas diz respeito ao direito da parte de obter do juiz uma decisão de mérito, 
de modo a satisfazer a necessidade de tutela11. Em segundo lugar, a efetividade deve ser 
alcançada com a preservação de outros direitos fundamentais, a exemplo do direito ao processo 
justo. Também é necessário que sejam elásticas e diferenciadas as formas de tutela, abarcando 
todas as formas de direito material e as crises por ele sofridas (direito individual ou coletivo, 
condenação, constituição, declaração, mandamento e execução). Por fim, é indispensável que a 
tutela possa se refletir efetivamente no mundo social, realizando o direito faticamente, quando 
necessário. 
A tutela jurisdicional coletiva possui sua principiologia própria, na qual encontra-se o 
princípio da máxima efetividade ou acesso eficaz à justiça12. Está expressamente previsto no art. 
 
11 Tutela significa o resultado jurídico-substancial do processo, representandoo impacto do processo no plano de 
direito material. (MARINONI, Luiz Guilherme (coord). Estudos de Direito Processual Civil. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2005, p. 60). 
12 Esta é a expressão adotada por Fredie Didier JR. ao referir-se sobre o princípio da efetividade como subprincípio 
do acesso à justiça. E segue explicando a fórmula clássica de Chiovenda: o acesso à justiça só pode ser satisfatório 
quando for entregue ao autor tudo aquilo e exatamente aquilo a que tenha direito. (DIDIER JR., Fredie. Curso de 
Direito Processual Civil. V.4. Salvador: Editora JusPodivm, 2007, p. 113). 
83 do Código de Defesa do Consumidor13, o qual dispõe: “para a defesa dos direitos e interesses 
protegidos por este Código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua 
adequada e efetiva tutela”. O Poder Judiciário deve, através do sistema integrado de processo 
coletivo (interação existente entre a lei da ação civil pública e o Código de Defesa do 
Consumidor), se valer de todos os instrumentos necessários e eficazes para alcançar a verdade 
real e propiciar a tutela adequada e efetiva dos direitos transindividuais. 
 
3. CONCEITO E FINALIDADE DA COISA JULGADA 
 
O Código de Processo Civil contém, em seu artigo 467, a definição de coisa julgada 
como sendo a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso 
ordinário ou extraordinário. Vencido o termo legal, ou depois de decididos todos os recursos 
interpostos, sem possibilidade de novas impugnações, a sentença torna-se definitiva e imutável. 
Nesse momento, ocorre o trânsito em julgado da decisão. Assim, diz-se que uma decisão transita 
em julgado e produz coisa julgada quando não pode mais ser modificada pelos meios recursais de 
impugnação, o que ocorre através da técnica da preclusão14. 
No caso de sentenças terminativas, a imutabilidade fica adstrita ao próprio processo, 
caracterizando a coisa julgada formal, ao passo que quando a sentença for definitiva, essa 
imutabilidade se projetará para fora do processo e impedirá o rejulgamento da causa, 
denominando-se coisa julgada material. 
A finalidade presente na coisa julgada é a mesma objetivada pelo Estado: estabilidade e 
segurança social. A imutabilidade da norma jurídica concreta é fator de equilíbrio social, na 
medida em que os litigantes obtêm a última e decisiva palavra do Judiciário acerca do conflito 
posto em causa. Mas a coisa julgada ainda possui outras finalidades, embora todas ligadas ao 
objetivo principal de promover segurança jurídica. Uma primeira delas reside na busca da 
harmonia dos julgados. A indiscutibilidade do conteúdo da decisão judicial, em razão da coisa 
julgada, impede que sejam proferidas decisões contraditórias sobre o mesmo pedido. Esse fato 
gera segurança, na medida em que promove a certeza jurídica, pois as decisões contraditórias 
colocam em descrédito a atividade jurisdicional, trazendo insegurança aos jurisdicionados. E por 
 
13 BRASIL, Lei 8.078/1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. 5ª ed. Porto Alegre: 
Verbo Jurídico, 2006. 
14 FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. 3ª ed. V. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 821. 
fim, tornado o conteúdo da decisão judicial indiscutível, a coisa julgada enseja a economia de 
processos, pois impede que a mesma pretensão seja veiculada em processos posteriores15. 
 
3.1 Limites objetivos e subjetivos da coisa julgada 
 
A questão dos limites objetivos da coisa julgada relaciona-se com as partes da sentença 
que ficarão acobertadas pela coisa julgada material. A matéria está disciplinada nos artigos 468, 
469, 470 e 471 do Código de Processo Civil. A sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, 
tem força de lei nos limites da lide e das questões decididas. Nesse sentido, observa-se que os 
limites objetivos da coisa julgada correspondem ao objeto da demanda e ao objeto da sentença. O 
que individualiza a lide é o pedido e a causa de pedir. Assim, é o objeto do processo, formado 
pelo pedido e sua causa de pedir, que estabelece os limites objetivos da coisa julgada material. 
O Código de Processo Civil, em seu artigo 469, exclui do âmbito da imutabilidade os 
motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva; a verdade dos 
fatos e a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentalmente no processo. Apenas o 
comando concreto pronunciado pelo juiz torna-se imutável por força da coisa julgada. 
No que tange aos limites subjetivos da coisa julgada, refere-se a “quem” é atingido pela 
imutabilidade do comando sentencial. O artigo 472 do Código de Processo Civil diz que a 
sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando nem prejudicando 
terceiros. Essa regra que estabelece a coisa julgada inter partes faz parte de uma tradição 
romano-germânica herdada pelo nosso sistema. 
Mas não há mais, sob o aspecto dos limites subjetivos, uma única concepção do 
instituto da coisa julgada, mas tantas quantas reclamar a natureza do direito posto em causa. 
Assim, a coisa julgada está diretamente relacionada ao direito afirmado, na medida em que, se 
este for individual heterogêneo, aquela se limitará às partes; se este for individual homogêneo nas 
relações de consumo, erga omnes, nos casos de procedência (secundum eventum litis); se o 
direito for coletivo propriamente dito nas relações de consumo, ultra partes, se for difuso, nas 
demandas públicas, populares e de consumo, erga omnes16. 
 
 
15 MOURÃO, Luiz Eduardo Ribeiro.Coisa Julgada. Belo Horizonte: Fórum, 2008, p. 117. 
16 PORTO, Sérgio Gilberto. Coisa Julgada Civil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora AIDE, 1998, p. 72. 
4. O REGRAMENTO DA COISA JULGADA NA TUTELA COLETIVA 
 
Como dito em tópicos anteriores, a evolução da sociedade, com o aparecimento de 
novos interesses e questões complexas, influenciou fortemente a ciência do direito, em especial o 
direito processual civil, que teve seus institutos adaptados a essa nova realidade social e jurídica. 
Aos poucos, instrumentos legais isolados passaram a formar um sistema, tendo em vista suas 
mesmas características e objetivos. Houve o surgimento de um direito processual coletivo, com 
princípios, regras e institutos próprios, podendo-se destacar, entre esses últimos, os institutos da 
legitimidade, competência, litispendência, liquidação e execução de sentença e coisa julgada. A 
proteção aos direitos coletivos lato sensu, constitucionalmente afirmados desde 1988, integra a 
função jurisdicional do Estado, de forma a aproximar o poder público da sociedade como um 
todo titular de direitos reivindicáveis. 
Mas é a formação e os efeitos da coisa julgada nesse microssistema processual coletivo 
que interessa analisar nesse trabalho. Trata-se de instituto que, diversamente do que ocorre no 
processo individual, quando relacionado ao processo coletivo assume diversos atributos 
especiais, como a extensão de sua eficácia e seu modo de produção, os quais variam conforme a 
espécie de direito coletivo posto em causa. O regramento diferenciado da coisa julgada nas ações 
coletivas rompe com a idéia individualista presente do Código de Processo Civil, na medida em 
que seus efeitos atingem pessoas que não participaram diretamente do processo, mas que são as 
principais interessadas pela decisão judicial. 
Os artigos 103 e 104 do Código de Defesa do Consumidor estabelecem regras 
específicas sobre a coisa julgada, indicando o caput do artigo 103 que as regras ali disciplinadas 
referem-se às ações coletivas previstas para defesa do consumidor em juízo. Porém, como explica 
o autor Pedro Lenza, o artigo 117 daquelemesmo Código acrescentou o artigo 21 à lei 
7.347/1985, estabelecendo aplicar-se o Título III do Código de Defesa do Consumidor, que 
dispõe sobre a defesa do consumidor em juízo, à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos 
e individuais homogêneos de que trata a lei da ação civil pública. E o artigo 90 do CDC permite a 
aplicação, no que couber, das normas previstas no Código de Processo Civil e na lei da ação civil 
pública às ações coletivas do Código de Defesa do Consumidor. Portanto, as regras a respeito da 
coisa julgada e seus limites previstas no Código de Defesa do Consumidor, na lei da ação civil 
pública e nas demais leis que formam esse microssistema processual coletivo servem para todas 
as ações coletivas que busquem a proteção de direitos difusos, coletivos e individuais 
homogêneos17. 
O Código de Defesa do Consumidor, com aplicação, cumpre ressaltar, em qualquer 
ação civil pública ou coletiva que trate de direito metaindividual, disciplinou de forma coerente e 
integrada a formação e os efeitos da coisa julgada nas ações coletivas, assim expondo em seu 
artigo 103, “caput”18: 
 
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este Código, a sentença fará coisa julgada: 
 
I – erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de 
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico 
fundamento, valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do 
art. 81; 
II – ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência 
por insuficiência de provas, nos temos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese 
prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81; 
III – erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as 
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81. 
 
 
O parágrafo primeiro do artigo em questão ainda menciona que no caso de ação em 
defesa de direitos difusos e coletivos stricto sensu, a coisa julgada não prejudicará os direitos 
individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe. E o parágrafo segundo 
do mesmo dispositivo diz que quando se tratar de direitos individuais homogêneos e houver 
improcedência da demanda, só não serão atingidos pela coisa julgada aqueles que não 
participaram do processo como litisconsortes. 
Outro dispositivo legal acerca da matéria é o artigo 16 da lei da ação civil pública – lei 
7.347/1985, cuja redação será referida mais adiante em estudo próprio, tendo em vista tratar-se de 
dispositivo que traz norma irrazoável e inconstitucional ao estabelecer limite territorial à coisa 
julgada formada no processo coletivo. 
 
5. OS LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA NAS AÇÕES COLETIVAS 
 
 
17 LENZA, Pedro. Teoria Geral da Ação Civil Pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 225. 
18 BRASIL, Lei 8.078/1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. 5ª ed. Porto Alegre: 
Verbo Jurídico, 2006. 
 
Quando falamos em limites subjetivos da coisa julgada referimo-nos, na verdade, a 
quais as pessoas ficarão submetidas à imutabilidade do comando jurisdicional. Esse vem a ser um 
dos aspectos mais importantes do regime da coisa julgada nas ações coletivas, visto não haver 
limitação às partes da relação processual, estendendo-se àqueles substituídos que tiveram seus 
direitos defendidos por outra pessoa. 
Cumpre lembrar que o artigo 472 do Código de Processo Civil dispõe que a coisa 
julgada atinge apenas quem foi parte no processo, não beneficiando nem prejudicando terceiros. 
Trata-se de coisa julgada inter partes, pois apenas quem participou da relação processual sofrerá 
os efeitos da coisa julgada, a qual será formada apenas quando houver decisão de mérito. Assim, 
como já estudado no segundo capítulo desse trabalho, a regra geral do Código é puramente 
individualista, não havendo extensão da coisa julgada para terceiros, exceto nas situações em que 
figurem no processo substitutos e sucessores processuais, existindo, contudo, discussão na 
doutrina a respeito dessas hipóteses. 
O Código de Defesa do Consumidor consagrou a eficácia erga omnes para as decisões 
que contemplem a procedência ou improcedência, salvo por insuficiência de provas, das 
demandas envolvendo interesses ou direitos difusos e eficácia ultra partes para as demandas que 
versem sobre interesses ou direitos stricto sensu. Em relação aos interesses ou direitos individuais 
homogêneos, o Código também contemplou a coisa julgada erga omnes. No que tange à 
expressão erga omnes, cumpre mencionar a observação feita pelo professor Antônio Gidi acerca 
da distinção entre eficácia de sentença e imutabilidade dos efeitos da sentença. A sentença, como 
ato de império do Estado, estende a força de seu comando perante toda a sociedade, produzindo, 
dessa forma, sempre efeito erga omnes. Mas o Código, quando utiliza a expressão erga omnes, se 
refere à extensão da imutabilidade dos efeitos da decisão judicial, pois a eficácia da própria 
sentença atinge a todos indistintamente, seja a ação coletiva, seja a ação individual19. 
Apesar de erga omnes e ultra partes serem expressões que, isoladamente consideradas, 
não se distinguiriam, tendo em vista que ambas transmitem a idéia de que a imutabilidade da 
sentença ultrapassa as partes do processo, a realidade é que o legislador tratou de forma diversa 
seus efeitos. Explica o autor e promotor de justiça Hugo Nigro Mazilli que, ao estipular as regras 
informantes de uma e outra das hipóteses (art. 103, incisos I a III do CDC), o legislador mostrou 
que quis efetivamente diferenciá-las: com coisa julgada erga omnes, quis alcançar a 
 
19 GIDI, Antonio. Coisa julgada e litispendência em ações coletivas. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 107. 
imutabilidade da decisão em relação a todo o grupo social, e com a coisa julgada ultra partes quis 
alcançar mais do que as meras partes da ação coletiva, mas menos do que todo o grupo social, 
porque limitou a imutabilidade ao grupo, categoria ou classe de pessoas atingidas20. 
Imperioso se faz expor a crítica realizada por Antônio Gidi a respeito da terminologia 
adotada pelo Código de Defesa do Consumidor. Diz o autor que a expressão erga omnes não 
significa exatamente ‘contra todos’, como poderia parecer, porque limitada à comunidade titular 
do direito supraindividual e, na eventualidade de procedência, aos titulares dos correspondentes 
direitos individuais homogêneos. Para o autor, o CDC poderia ter utilizado a expressão ultra 
partes nas três hipóteses previstas em seu artigo 103, pois a coisa julgada nas ações coletivas não 
atinge todos os seres humanos existentes no planeta, mas tão só e exclusivamente a comunidade 
lesada, o grupo, categoria ou classe lesados e as vítimas e seus sucessores21. 
Mas não concordamos, em parte, com a crítica supramencionada realizada por Antônio 
Gidi, pois os direitos difusos possuem como titulares pessoas indeterminadas e indetermináveis, 
cuja esfera jurídica individual poderá ser modificada pela ocorrência de um dano muito 
abrangente. Assim, diferente do que ocorre com os direitos coletivos stricto sensu, os direitos 
difusos não podem, devido a sua natureza, ser restritos a um grupo, categoria ou classe, sendo 
acertada a terminologia coisa julgada erga omnes utilizada pelo CDC. No entanto, no que tange 
aos direitos individuais homogêneos, mais adequada seria, realmente, a expressão ultra partes, ao 
invés de erga omnes, pois a defesa desses interesses ou direitos abrange apenas os integrantes do 
grupo, categoria ou classe de pessoas lesadas, da mesma forma que acontece com osdireitos 
coletivos stricto sensu. Ainda que o grupo seja indeterminável, a imutabilidade da decisão não 
ultrapassará as pessoas lesadas ou seus sucessores. 
Em sede de direitos individuais homogêneos, a norma contida no inciso III do artigo 
103 do CDC garante a eficácia da coisa julgada apenas na hipótese de procedência da demanda, 
fugindo à regra do esquema tradicional, em que a decisão, não importa o seu conteúdo, se estende 
ao substituído no caso de substituição processual. Por conseguinte, a decisão desfavorável não 
prejudicará os substituídos em seus direitos individuais (ao menos que tenham ingressado na 
 
20 MAZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: maio ambiente, consumidor, patrimônio 
cultural, patrimônio público e outros interesses. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 423. 
21 GIDI, Antonio. Coisa julgada e litispendência em ações coletivas. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 111. 
demanda coletiva como litisconsortes, nos termos do artigo 94 do CDC), restringindo seus efeitos 
entre as partes do processo22. 
Interessante lembrar que as normas referentes aos limites subjetivos da coisa julgada nas 
ações coletivas existiam antes mesmo da entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, 
com a regência da lei da ação popular e da lei da ação civil pública. A inovação trazida pelo CDC 
foi a coisa julgada ultra partes no caso de ação cujo objeto seja interesse ou direito coletivo 
stricto sensu. 
Como será falado posteriormente, quando tratado sobre os efeitos da coisa julgada sobre 
cada espécie de direito coletivo, o sistema processual coletivo brasileiro inseriu a coisa julgada 
secundum eventum probationis para a defesa de direitos difusos e coletivos stricto sensu. Assim, 
se o pedido for julgado improcedente com insuficiência de provas, não ocorrerá extensão da coisa 
julgada aos substituídos na relação processual. A ação, conforme visto linhas atrás, poderá ser 
reproposta, inclusive pelo mesmo autor da demanda julgada improcedente, desde que amparado 
em novas provas. Contudo, se o direito controvertido for individual homogêneo, o julgamento 
com insuficiência de provas não autorizará a repropositura da ação coletiva, tanto para seus 
legitimados, quanto para os titulares desses direitos que ingressaram como litisconsortes. 
Ainda, conforme explica o autor Roberto Carlos Batista, a doutrina, partindo de uma 
interpretação sistemática, constata que a extensão subjetiva do julgado em estudo se opera não 
apenas quando a sentença for condenatória, mas quando contemplar obrigações de fazer ou não 
fazer. Isso acontece pelos seguintes motivos: por natureza, a ação civil pública se destina à 
recomposição do bem lesado (obrigação de fazer ou não fazer) e somente na inviabilidade real 
dessa medida impõe-se a condenação em dinheiro. O artigo 3º da lei 7.347/1985 contempla a 
possibilidade de que o objeto da ação seja a condenação em dinheiro ou a obrigação de fazer ou 
não fazer23. 
Por fim, a eficácia da coisa julgada opera-se secundum eventum litis, ou seja, os titulares 
dos direitos coletivos serão atingidos pela imutabilidade do julgado somente quando a ação for 
procedente. A coisa julgada em si é formada independentemente do resultado do processo, no 
entanto, os substituídos não serão atingidos por uma decisão desfavorável aos seus interesses. 
 
22 BATISTA, Roberto Carlos. Coisa Julgada nas Ações Civis Públicas: direitos humanos e garantismo. Rio de 
Janeiro: Editora Lumen Juris, 2005, p. 158. 
23 BATISTA, Roberto Carlos. Coisa Julgada nas Ações Civis Públicas: direitos humanos e garantismo. Rio de 
Janeiro: Editora Lumen Juris, 2005, p. 162. 
 
6. REFERÊNCIAS ÀS ALTERAÇÕES DS NORMAS PREVISTAS NO ART. 16 DA LEI 
7.347/1985 E ARTIGO 2º-A DA LEI 9.494/1997 
 
A norma consubstanciada no caput do artigo 16 da lei da ação civil pública, com sua 
redação alterada pela medida provisória n. 1.570, de 26 de março de 1997, posteriormente 
transformada na lei n. 9.494, de 10 de setembro do 1997, é causa de perplexidade em grande 
parte da doutrina e dos operadores do direito que o consideram, como abaixo será visto, 
inoperante, irrazoável e inconstitucional, na medida em que impõe um limite territorial à coisa 
julgada formada nas ações coletivas, rompendo com a finalidade do microssistema processual 
coletivo e confundindo os institutos da competência e jurisdição com a imutabilidade dos efeitos 
oriundos de sentenças proferidas em ações coletivas. 
Para a melhor compreensão das conseqüências que a atual redação do artigo 16 da lei da 
ação civil pública ocasiona na abrangência e autoridade das sentenças coletivas, utilizaremos o 
esquema formulado pelo autor Pedro Lenza para apresentar as etapas de alteração da referida 
norma. A redação original do artigo em comento reproduzia a regra do artigo 18 da lei da Ação 
Popular (lei 4.347/1985), fixando o alcance erga omnes da autoridade da coisa julgada, exceto se 
a ação fosse julgada improcedente por deficiência de provas, hipótese em que qualquer 
legitimado poderia intentar outra ação com idêntico fundamento, desde que se valesse de nova 
prova. Mas aos poucos, especialmente com o advento do Código de Defesa do Consumidor, a 
jurisprudência começou a assegurar o caráter regional e nacional das decisões proferidas em 
ações coletivas, o que levou o Chefe do Executivo, pelo intermédio da medida provisória n. 
1.570, a alterar o artigo 16 da lei 7.347/1985 que, após cinco reedições, foi convertida na lei 
9.494/1997, objetivando limitar a autoridade da coisa julgada coletiva24. 
O artigo 16 da lei 7.347/198525, visando restringir a eficácia subjetiva da coisa julgada 
nas ações coletivas, assim dispõe: 
 
A sentença civil fará coisa julgada erga omnes nos limites da competência territorial do 
órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por deficiência de provas, 
 
24 LENZA, Pedro. Teoria Geral da Ação Civil Pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 262. 
25 BRASIL, Lei 7.347/1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e dá outras providências. 5ª 
ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2006. 
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico 
fundamento, valendo de nova prova. 
 
Como dito no decorrer desse estudo, a lei da ação civil pública e o Código de Defesa do 
Consumidor interagem entre si, bem como com outras normas relativas à tutela coletiva, 
formando um conjunto de regras aplicáveis às relações coletivas, sendo, portanto, a norma 
contida no artigo supracitado aplicável não apenas às sentenças pronunciadas em ação civil 
pública, mas àquelas referentes a todas as demais ações coletivas. 
 Existem poucos argumentos favoráveis à mudança legislativa ora em questão. Mas 
entre eles, o exposto pelo Ministro do STF Marco Aurélio, em sede do julgamento da ADI n. 
1.576-1, refere ser a mudança pedagógica, a revelar o surgimento de efeitos erga omnes na área 
de atuação do Juízo e, portanto, o respeito à competência geográfica delimitada pelas leis de 
regência. Ainda o autor José dos Santos Carvalho Filho não vislumbra inconstitucionalidade no 
dispositivo, explicando que o limite da territorialidade apenas pretende demarcar a área em que 
poderão ser produzidos os efeitos da sentença, tomando em consideração o território dentro do 
qual o juiz de primeiro grau tem competência para processamento e julgamento dos feitos26. 
Mas a maioria da doutrina é contrária à nova redação do artigo 16 da lei 7.347/1985. O 
maior fundamentodessa insurgência diz respeito à multiplicação de demandas com o mesmo 
pedido em diversas partes do território nacional, o que vai de encontro com a finalidade dos 
processos coletivos destinados, principalmente, a resolver molecularmente os conflitos com 
celeridade, evitar decisões contraditórias e desafogar o poder judiciário de ações que versam 
sobre objeto idêntico. 
Ada Pellegrini Grinover, expondo o autoritarismo presente nessa alteração legislativa, 
expõe duas questões que levam à ineficácia do artigo 16 da lei da Ação Civil Pública. Para tanto, 
a autora analisa o dispositivo em conjunto com os incisos I, II e III do artigo 103 e do artigo 93 
do CDC. A nova redação só poderia ser aplicada ao tratamento da coisa julgada nos processos em 
defesa de direitos difusos e coletivos, sem nenhuma relevância ao regime da coisa julgada nas 
ações em defesa de direitos individuais homogêneos, pois para essas últimas o legislador não 
adotou a técnica da inexistência de coisa julgada para a sentença de improcedência por 
insuficiência de provas, como se infere artigo 103, inciso III do CDC, que se mantém inalterado. 
Além disso, a competência territorial nas ações coletivas é regulada expressamente pelo artigo 93 
 
26 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública: em defesa do meio ambiente do patrimônio cultural e 
dos consumidores . 9ª ed. São Paulo: Revista do Tribunais, 2004, p. 397. 
do CDC, o qual elege como competente a capital do Estado ou do Distrito Federal nas causas em 
que o dano ou perigo de dano for de âmbito regional ou nacional. A regra de competência contida 
no mencionado artigo, embora inserido no capítulo atinente às ações coletivas em defesa de 
interesses individuais homogêneos, rege todo e qualquer processo coletivo, inclusive aqueles cujo 
objeto são direitos difusos ou coletivos stricto sensu27. 
Através de exemplos, Pedro Lenza demonstra o conflito prático que a norma em 
discussão pode causar28: 
 
Em ação coletiva movida em face de empresa prestadora de serviços de saúde, 
questionando eventuais aumentos abusivos nas prestações devidas pelos associados. 
Imaginemos ter a empresa-ré escritórios em diversos Estados, a sentença proferida em 
São Pulo, por exemplo, caracterizando o ‘sobre-reajuste’ não autorizado por lei e nos 
contratos, atingiria somente os consumidores que assinaram os contratos de adesão no 
Estado de São Paulo? E os consumidores que assinaram os mesmos contratos no Estado 
do Rio de janeiro? Não seriam eles também atingidos? 
 
Outra decisão esdrúxula decorre, por exemplo, de decisão determinando a proibição da 
fabricação, venda e distribuição de determinada bebida alcoólica, comprovadamente 
nociva à saúde (interesse difuso). Essa decisão se restringiria ao órgão prolator; ou seja, 
em outro Estado, por exemplo, poderia a mesma bebida, já tida por nociva, ser 
comercializada? 
 
 
Os direitos perseguidos nas ações coletivas não podem ser divididos, por isso é que, 
justamente, são chamados meta ou transindividuais, não havendo como determinar a abrangência 
do dano. Por isso, a amplitude de uma sentença coletiva, bem como da qualidade agregada a seus 
efeitos, qual seja a coisa julgada, não pode ser restringida ao território de seu órgão prolator. 
Ademais, a competência territorial serve apenas para definir qual juízo processará a causa, e não 
para fixar o âmbito territorial em que os efeitos da sentença serão imutáveis. A competência será 
definida pelo local do dano. Mas a questão não é referente à jurisdição nem à competência, essa 
nada mais sendo do que a medida da jurisdição, e sim aos limites subjetivos da coisa julgada, que 
serão definidos a partir da espécie de direito coletivo discutido. 
Nesse contexto, são importantes as lições de Rodolfo de Camargo Mancuso. Para o 
autor, no atual estágio evolutivo da jurisdição coletiva, impende compreender que o comando 
judicial daí derivado precisa atuar de modo uniforme e unitário por toda a extensão do interesse 
metaindividual objetivado na ação, porque de outro modo esse regime processual não se 
 
27 GRINOVER, Ada Pellegrini. O Processo: Estudos e Pareceres. São Paulo: Editora Perfil, 2006, p. 243-244. 
28 LENZA, Pedro. Teoria Geral da Ação Civil Pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 267-268. 
justificaria. A imutabilidade não será maior ou menor em decorrência da regra de competência: 
será mais ampla ou mais restrita de acordo com a natureza do direito controvertido e com o grupo 
social cujas relações se destina regular29. 
A inconstitucionalidade do artigo 16 da lei 7.347/195 aparece na transgressão aos 
princípios da razoabilidade, proporcionalidade e, de acordo o processualista Nelson Nery Junior, 
no fato de o Presidente da República ter editado a medida provisória sem que houvesse 
autorização constitucional para tanto, ou seja, sem a existência dos requisitos de urgência e 
relevância exigidos pelo artigo 62 da Constituição Federal30. A matéria deveria ter sido tratada 
em processo legislativo ordinário, pois estava regulada desde 1985, com a lei da Ação Civil 
Pública, vindo a ser aperfeiçoada com a edição do Código de Defesa do Consumidor, do que se 
conclui não ter ocorrido a condição de urgência própria das medidas provisórias. Além disso, é 
vedada a edição de medida provisória sobre direito processual civil (artigo 62, §1º, I, b da 
Constituição Federal). 
Mas o STJ tem se manifestado pela eficácia e aplicabilidade da norma31: 
 
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SUS. CONVERSÃO DE VALORES 
EM CRUZEIROS REAIS PELO FATOR 2.750. PORTARIA MS Nº 86/94. 
IMPLANTAÇÃO DO PLANO REAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.LEGITIMIDADE 
DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. RECONHECIMENTO. PRESCRIÇÃO. 
INOCORRÊNCIA. 
(...) 
III. A decisão proferida no âmbito da ação civil pública tem seus limites de eficácia 
adstritos à competência territorial do órgão prolator, conforme o artigo 16 da Lei nº 
7.347/85, alterado pela Lei nº 9.494/97. Precedente: REsp nº 253.589 /SP, Rel. Min. 
RUY ROSADO DE AGUIAR, DJ de 18.03.2002. 
 
No Tribunal Regional Federal da Quarta Região, duas recentes decisões exprimem 
entendimentos contrários. Assim32: 
 
 
29 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública: em defesa do meio ambiente do patrimônio cultural e 
dos consumidores . 9ª ed. São Paulo: Revista do Tribunais, 2004, p. 404. 
30 NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil Comentado: e legislação extravagante. 10ª ed. Rev. Ampl. 
Atual. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2008, p. 1557. 
31 Recurso Especial n. 2002/0033314-3, do Superior Tribunal de Justiça, julgado em 19/09/2006. In: 
http://www.stj.jus.br, acessado em 03/03/2009. 
32 Agravo de Instrumento. Processo n. 2008.04.00.019149-7, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, julgado em 
22/10/2008. In: http://www.trf4.jus.br, acessado em 03/03/2008 e Apelação/Reexame Necessário. Processo n. 
2005.72.00.003846-9, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, julgada em 03/12/2008. In: http://www.trf4.jus.br, 
acessado em 03/03/2008. 
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONTRATAÇÃO DE 
SEGURADORA EM MÚTUO PELO SFH. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. 
LOCAL DA OCORRÊNCIA DO DANO. ABRANGÊNCIA DA DECISÃO. 
Nas ações civis públicas, a teor do que dispõe o art. 2º da Lei nº 7.347/85, a 
competência firma-se pelo local da ocorrência do dano, regra especial que vai ao 
encontro da norma constitucional. A decisão proferida no âmbito da ação civil pública 
tem seus limites de eficácia adstritos à competência territorial do órgão prolator, 
conforme o artigo 16 da Lei nº 7.347/85, alterado pela Lei nº 9.494/97. Precedente do 
STJ. 
 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE. 
IMPOSSIBILIDADEJURÍDICA. FISCALIZAÇÃO DA ATIVIDADE DE MÚSICO. 
EFEITOS. LIMITE. ART. 16 DA LEI N.º 7.347/85 
(...) 
A atividade do músico possui uma amplitude que impossibilita restrição normativa à 
sua manifestação profissional. Em sendo o alegado dano de âmbito estadual, 
estendendo-se por expressiva parcela do território catarinense (senão toda), os efeitos da 
decisão proferida em ação civil pública não podem ficar contidos apenas na 
circunscrição territorial do órgão prolator da decisão. 
 
Outra inconstitucionalidade inserida no ordenamento jurídico está relacionada ao artigo 
2º-A e seu parágrafo único da lei 9.494/1997, acrescentados pela medida provisória n. 1.798-1, de 
11 de fevereiro de 1999 e, posteriormente, inovados pela medida provisória n. 2.180-35, de 24 de 
agosto de 2001. Assim: 
 
Art. 2º-A: A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade 
associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os 
substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da 
competência territorial do órgão prolator. 
Parágrafo único: Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito 
Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição inicial deverá 
obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembléia da entidade associativa que a 
autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos 
respectivos endereços. 
 
A norma em questão só poderia ter aplicação nas ações destinadas à defesa de direitos 
coletivos stricto sensu e individuais homogêneos, tendo em vista que os titulares de direitos 
difusos, nos termos do inciso I do parágrafo único do artigo 81 do CDC, estão interligados por 
circunstâncias fáticas, sem que possam ser determinados e identificados seus domicílios. Tudo 
que foi dito quanto ao artigo 16 da lei 7.347/1985 pode ser levado em conta na análise do art. 2º-
A e seu parágrafo único da lei 9.494/1997. Dessa forma, a referida norma pode ser caracterizada 
como ineficáz e inconstitucional, segundo os motivos abaixo delineados. 
O artigo 82, inciso IV do CDC, que arrola entre os legitimados para a propositura de 
ações coletivas as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre 
seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código, não impõe a 
necessidade de autorização assemblear. A doutrinadora Ada Pellegrini Grinover explica que tal 
exigência, acompanhada da relação nominal dos associados e da indicação dos respectivos 
endereços, representa um obstáculo para as associações ao acesso à justiça. Não se trata de 
prerrogativa em face da complexa organização dos órgãos estatais ou paraestatais, pois nenhuma 
atividade defensiva surgirá para o Estado com essa exigência33. Trata-se, dessa forma, de afronta 
aos princípios constitucionais do acesso à justiça (artigo 5º, inciso XXXV) e da igualdade 
processual (artigo 5º, caput). 
Também podem ser realizadas referências à falta de urgência e relevância na edição das 
medidas provisórias, desrespeito aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, bem 
como falta de entendimento quanto aos institutos da competência e jurisdição, na medida em que, 
novamente, há uma limitação à eficácia subjetiva da coisa julgada. O direito, mesmo sendo 
coletivo stricto sensu, pertence a todas as pessoas que fazem parte da associação, sendo a 
sentença e a coisa julgada formada estendidas para associados domiciliados em qualquer área do 
território nacional, pois devem ser tratados com homogeneidade. 
A Constituição Federal, no artigo 5º, inciso XXI, faz menção à expressa autorização que 
as entidades associativas precisam para a representação de seus filiados judicial ou 
extrajucialmente. Contudo, convém aqui ressaltar diferença realizada por Hugo Nigro Mazzilli 
entre representação processual e legitimação extraordinária. A Constituição se refere ao 
fenômeno da representação processual, quando alguém, em nome alheio, defende interesse 
alheio. Diferente é o que ocorre na tutela coletiva em que o autor coletivo possui legitimação 
extraordinária, defendendo interesse alheio, no caso, de toda a coletividade, em nome próprio34. 
Por essas razões, deve ser dispensada a autorização assemblear e a indicação de todos os 
associados com seus respectivos endereços para que seja intentada a ação coletiva. 
Mas apesar de todos os motivos expostos para embasar a inconstitucionalidade do artigo 
2º-A e seu parágrafo único da Lei 9.494/1997, o STJ mantém a aplicação do dispositivo, o que 
pode ser inferido através da ementa de acórdão relatado pelo Ministro José Delgado35: 
 
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. APADECO. EMPRÉSTIMO 
COMPULSÓRIO DE COMBUSTÍVEIS (DL 2.288/86). EXECUÇÃO DE 
 
33 GRINOVER, Ada Pellegrini. O Processo: Estudos e Pareceres. São Paulo: Editora Perfil, 2006, p. 246. 
34 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: maio ambiente, consumidor, patrimônio 
cultural, patrimônio público e outros interesses. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 54. 
35 Embargos de Declaração no Recurso Especial n. 2004/0055010-6, do Superior Tribunal de Justiça, julgado em 
05/05/2005. In: http://www.stj.jus.br, acessado em 03/03/2009. 
 
SENTENÇA. EFICÁCIA DA SENTENÇA DELIMITADA AO ESTADO DO 
PARANÁ. VIOLAÇÃO DO ART. 2º-A DA LEI Nº 9.494/97. ILEGITIMIDADE DAS 
PARTES EXEQÜENTES. 
1. Impossibilidade de ajuizamento de ação de execução em outros estados da Federação 
com base na sentença prolatada pelo Juízo Federal do Paraná nos autos da Ação Civil 
Pública nº 93.0013933-9 pleiteando a restituição de valores recolhidos a título de 
empréstimo compulsório cobrado sobre a aquisição de álcool e gasolina no período de 
jul/87 a out/88, em razão de que em seu dispositivo se encontra expressa a delimitação 
territorial adrede mencionada. 
2. A abrangência da ação de execução se restringe a pessoas domiciliadas no Estado do 
Paraná, caso contrário geraria violação do art. 2º-A da Lei nº 9.494/97, litteris: “A 
sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, 
na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos 
que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência 
territorial do órgão prolator”. 
3. Embargos de declaração acolhidos. 
 
Tudo que foi exposto sobre as alterações das normas contidas no artigo 16 da lei da 
Ação Civil Pública e no artigo 2ª-A e seu parágrafo único da lei 9.494/1997, referentes, inclusive, 
a sua ineficácia e inconstitucionalidade, tem amplo respaldo doutrinário e certa divergência 
jurisprudencial, na medida em que muitos tribunais vêm aplicando as mencionadas normas. 
Contudo, a conseqüência futura advinda da aplicação na prática dessas normas será o desvio da 
finalidade das ações coletivas e o desrespeito à natureza do objeto litigioso. As demandas 
coletivas, criadas para resolver de uma única vez problemas de vários indivíduos integrantes de 
uma coletividade, deixam de ter esse propósito e os direitos coletivos, naturalmente indivisíveis, 
por obra da lei passam a ser divididos. Não podemos esquecer que, apesar dessas incoerências 
presentes nos sistema normativo, a jurisdição é atividade una da qual resulta um comando 
decisório com força de lei para todo o território nacional. 
 
 
7. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A COISA JULGADA NAS CLASS ACTIONS 
NORTE-AMERICANAS: UMA COMPARAÇÃO COM O ORDENAMENTO JURÍDICO 
BRASILEIRO 
 
As ações coletivas dos Estados Unidos influenciaram muito as ações coletivas previstas 
no ordenamento jurídico brasileiro. Desde 1833, naquele país, com a Equaty Rule 48, é admitida 
a propositura de ação por representantequando o número de partes é muito extenso, a ponto de 
dificultar o andamento processual. Mas foi com a adoção da Federal Rules of Civil Procedure e a 
edição da Regra 23 que as class actions ganharam relevo e se distinguiram em três modalidades, 
de acordo com a natureza do direito defendido. Posteriormente, em 1966, a Regra 23 sofreu 
modificações, extinguindo a tripartição das class actions e alterando a eficácia subjetiva da coisa 
julgada36. 
Existem as class actions obrigatórias, chamadas mandatory class actions, equivalentes 
às ações coletivas brasileiras para defesa de direitos difusos e coletivos stricto sensu e as class 
actions for damage not madatory, correspondentes às ações coletivas brasileiras para defesa de 
direitos individuais homogêneos. Esses dois tipos de ações coletivas americanas possuem 
distinção significativa no que tange ao seu regramento e à eficácia da sentença que, para as class 
actions obrigatórias será sempre erga omnes, atingindo todos os integrantes do grupo, 
independentemente da procedência ou improcedência da demanda coletiva. 
Nas class actions for damage, após uma adequada notificação sobre a existência da ação 
coletiva, os membros do grupo poderão, dentro do prazo fixado pelo tribunal, requerer a sua 
exclusão da classe, com o objetivo de não se verem atingidos pelos efeitos da decisão a ser fixada 
pelo juiz, na medida em que a sentença, favorável ou contrária, será vinculante para todos os 
componentes do grupo que não exercerem o direito de auto-exclusão. Trata-se de aplicação do 
direito do opt out, de modo que o integrante do grupo será considerado terceiro não sujeito à 
coisa julgada. É necessária ampla divulgação acerca da demanda por todos os meios de 
comunicação, podendo, caso necessário, ser realizada a notificação pessoalmente37. 
Existem duas espécies de pressupostos das ações coletivas americanas: os pressupostos 
de admissibilidade e os pressupostos de desenvolvimento das ações coletivas. Sobre os primeiros, 
cabem algumas considerações a respeito da “representatividade adequada”. Esse pré-requisito 
para a propositura de uma class action diz significa a seriedade, credibilidade, capacidade técnica 
e até econômica que o legitimado à ação coletiva deve possuir. Será verificado, caso a caso pelo 
juiz, se o representante possui as condições necessárias à elaboração de uma adequada defesa dos 
representados ausentes do processo38. O devido processo legal, o contraditório e as demais 
garantias processuais e constitucionais dos integrantes do grupo, alheios ao desenvolvimento da 
relação processual, somente estarão preservadas através de uma adequada representação do 
legitimado à ação coletiva. 
 
36 BATISTA, Roberto Carlos. Coisa Julgada nas Ações Civis Públicas: direitos humanos e garantismo. Rio de 
Janeiro: Editora Lumen Juris, 2005, p. 135. 
37 LENZA, Pedro. Teoria Geral da Ação Civil Pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 167. 
38 GRINOVER, Ada Pellegrini. Novas tendências em matéria de ações coletivas nos países de civil law. Revista 
de Processo, ano 33, n. 157, p. 149-164, mar., 2008, p. 154. 
Quanto aos pressupostos de desenvolvimento das ações coletivas, logo após o 
ajuizamento de uma class action, o tribunal deverá decidir se a demanda pode desenvolver-se 
como class action (certification), suscetível, essa decisão, de modificação antes da sentença de 
mérito. É permitida, ainda, a intervenção de qualquer membro da classe por seu advogado. Como 
menciona o autor Pedro Lenza, essa fase procedimental adquire grande importância uma vez que, 
ao contrário do direito brasileiro, o sistema norte-americano não admite a formação da coisa 
julgada secundum eventum litis, nem in utilibus. Assim, todos os membros do grupo, de acordo 
com a extensão fixada pelo tribunal, serão atingidos pela autoridade da coisa julgada, pro et 
contra, desde que, nas hipóteses permitidas, não tenham exercido o direito do opt out (LENZA, 
p. 218). 
É importante, também, dizer que a norma da “representatividade adequada” prevista 
para as ações coletivas também é utilizada no Brasil, mas aqui as condições não são analisadas 
pelo juiz, mas impostas pela própria lei. É o caso das associações, entidades legitimadas a propor 
ações para defesa de seus associados, que somente poderão atuar em juízo se preencherem os 
seguintes requisitos: constituição legal há pelo menos um ano e inclusão, entre suas finalidades 
institucionais, da defesa dos interesses e direitos coletivos. Isso não impede, por óbvio, que o 
juiz, analisando o caso concreto, dispense algum requisito quando parecer mais razoável ou 
indefira o processamento da lide quando verificar que a representatividade é inadequada. Desse 
modo, pode-se dizer que no Brasil o juiz também exerce controle sobre a representatividade 
exercida pelo autor coletivo, não tão forte como no direito americano, mas significativa. 
 O professor Antonio Gidi, fazendo uma comparação entre a solução brasileira e a 
americana em relação à coisa julgada nas ações coletivas, explica ser acertada a decisão do 
legislador brasileiro em estender a coisa julgada formada nas ações coletivas aos integrantes da 
coletividade apenas para beneficiá-los, nunca para prejudicá-los. Menciona, ainda, tratar-se de 
decisão política, pois a realidade brasileira demonstra que os titulares dos direitos discutidos, 
ausentes que estarão no processo, não poderão ser ouvidos, nem sequer notificados da ação 
coletiva e, constatada essa falta de participação, prejudicá-los com uma decisão improcedente 
poderia significar a violação do devido processo legal39. 
 
39 GIDI, Antônio. A class action como instrumento de tutela coletiva de direitos: as ações coletivas em uma 
perspectiva comparada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 288. 
A coisa julgada no ordenamento americano é mais inflexível do que no brasileiro, pois 
se todos os requisitos impostos pela lei durante a condução do processo coletivo forem 
respeitados, principalmente o requisito da representatividade adequada, a coisa julgada coletiva 
se formará em face de todos os membros do grupo, independentemente do resultado da demanda, 
ou seja, erga omnes e pro et contra. No Brasil a flexibilidade é maior, pois até mesmo a 
apresentação de uma nova prova faz presumir que a ação coletiva foi julgada com insuficiência 
de provas e, portanto, sem aptidão para ser acobertada pela coisa julgada. 
Assim, cada país deve adotar um regime para a coisa julgada conveniente com a sua 
realidade política e social, especialmente quando estiverem em jogo direitos pertencentes a um 
número de pessoas capaz de formar uma categoria ou, até mesmo, uma coletividade. Nesses 
casos, o regime da coisa julgada dependerá da efetividade de todo o sistema processual. No caso 
do direito americano, como abordado nesse momento, talvez a adoção de um regime da coisa 
julgada secundum eventum litis e in utilibus evitasse tantas exigência formais. Contudo, naquele 
ordenamento jurídico os atos processuais desenvolvem-se de maneira diferente. Muitas ações 
americanas não encerram com sentenças, mas através de acordos, o que poderia deixar o réu em 
uma posição desfavorável, caso fosse esse o regime da coisa julgada adotado. 
No Brasil, como foi visto, o regramento da coisa julgada nas ações coletivas tem 
funcionado, mostrando-se capaz de atender as garantias das principais pessoas envolvidas no 
processo, mas que, em razão dificuldade de uma ampla comunicação, não conseguem participar 
efetivamente da discussão processual. As entidades encarregadas da defesa dos direitos coletivos 
têm suas condições de representatividade avaliadas tanto pelalei quanto pelo juiz, de modo a 
provar sua seriedade, credibilidade e adequação para sustentar em juízo, através de técnicas 
objetivas, a defesa dos cidadãos. 
 
8. O TRATAMENTO DO INSTITUTO NOS PROJETOS DE CÓDIGO DE PROCESSO 
COLETIVO ATUAISO 
 
Muitos países, além do Brasil, têm adotado novas técnicas processuais e contemplado 
em seu ordenamento jurídico nacional normas relativas à tutela coletiva, de forma a demonstrar 
uma real preocupação com os conflitos que fogem da esfera individual. Mas a experiência tem 
demonstrado que normas esparsas no sistema não são suficientes nem adequadas para a resolução 
de todos os conflitos abrangidos pela jurisdição coletiva. Diante disso, surgiu a necessidade de 
pensar a elaboração de Códigos específicos para a regulação do processo coletivo, com institutos 
e regras adaptadas à propositura de ações coletivas. 
Será analisado, nesse momento, como foi tratado o instituto da coisa julgada nas ações 
coletivas no Código Modelo de Processos Coletivos para Ibero-América e no Anteprojeto de 
Código Brasileiro de Processos Coletivos. Os dois utilizaram como base a legislação brasileira, 
em especial o Código de Defesa do Consumidor, para a sua estruturação, tendo em vista ser o 
conjunto de normas atinentes à tutela coletiva considerado mais moderno do mundo. Mas antes 
de verificar a formação da coisa julgada, passemos a analisar alguns principais aspectos desses 
dois modelos de Código de Processo Coletivo. 
Em razão da inconsistência e, em muitos casos, da omissão dos legisladores de países 
ibero-americanos, foi instituída, em 2002, uma comissão de juristas para a elaboração do Código 
Modelo de Processos Coletivos para Ibero-América. Contando com a participação dos 
professores brasileiros Ada Pellegrini Grinover, Aluisio G. de Castro Mendes, Antônio Gidi e 
Kazuo Watanabe, o Anteprojeto recebeu a chancela da Assembléia Geral do Instituto Ibero-
Americano de Direito Processual Civil em Caracas em outubro de 2004, transformando-se em 
Código Modelo. Como acentuado pela professora Ada Pellegrini, a própria denominação diz que 
o Código deve ser apenas um modelo, a ser adaptado às peculiaridades de cada país, sem 
presença de coerção. O seu objetivo é alcançar harmonização entre os sistemas processuais de 
países de cultura jurídica comum40. 
Nesse contexto e com o intuito de avançar no desenvolvimento da legislação referente à 
tutela coletiva, o Brasil resolveu criar o seu próprio Código de Processo Coletivo. Elaborado sob 
a coordenação da professora Ada Pellegrini Grinover, no âmbito do Programa de Pós-Graduação 
da Faculdade de São Paulo (USP), o Anteprojeto contou com a participação de acadêmicos 
ligados, profissionalmente, aos processos coletivos e do professor Aluisio G. de Castro Mendes, 
de modo que, após muitos debates, foi encaminhado ao Instituto Brasileiro de Direito Processual 
e, em outubro de 2005, ao Ministério da Justiça. Atualmente, é aguardada a sua aprovação pelo 
Congresso Nacional. 
A finalidade de um Código de Processo Coletivo Brasileiro consiste, entre outras, na 
unificação em um mesmo diploma de todas as regras processuais pertencentes às ações coletivas. 
 
40 GRINOVER, Ada Pellegrini. O Processo: Estudos e Pareceres. São Paulo: Editora Perfil, 2006, p. 207. 
Dessa maneira, não existirá mais dúvidas acerca da aplicação de determinadas normas, como a 
que restringe, por exemplo, a eficácia subjetiva da coisa julgada ao território do órgão prolator da 
sentença. Além disso, utilizando o Código de Defesa do Consumidor como referência, bem como 
atentando às falhas ainda presentes no cotidiano forense, é possível criar um sistema concentrado 
na efetividade da tutela coletiva. 
Feitas algumas referências gerais sobre o Código Modelo de Processos Coletivos para 
Ibero-América e o Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos, cumpre verificar 
como aparece a coisa julgada nesses dois diplomas processuais. 
No Código Modelo de Processos Coletivos para Ibero-América a coisa julgada é 
regulada no Capítulo V junto com a litispendência e a conexão. A coisa julgada será erga omnes, 
exceto se pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas ou com base nas provas 
produzidas. Nesses casos, qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico 
fundamento, quando surgir prova nova, superveniente, que não poderia ter sido produzida no 
processo. Quando houver improcedência de ação cujo objeto seja interesse ou direito individual 
homogêneo, os interessados poderão propor ação de indenização a título individual. Os efeitos da 
coisa julgada nas ações em defesa de interesses ou direitos difusos não prejudicarão as ações 
individuais, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores. Por fim, os 
efeitos da coisa julgada não beneficiarão os autores das ações individuais se não for requerida sua 
suspensão no prazo de 30 dias, a contar da ciência efetiva da ação coletiva41. 
Em relação ao Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos, o regime 
previsto para a coisa julgada traz várias inovações. Mantém a regra da não formação de coisa 
julgada quando houver improcedência da ação coletiva por insuficiência de provas e impossibilita 
o ajuizamento de ação individual quando houver improcedência da demanda para defesa de 
direitos individuais homogêneos ajuizada por sindicato, como substituto processual da categoria. 
Permanece a regra de que os efeitos da coisa julgada nas ações em defesa de interesses ou direitos 
difusos ou coletivos não prejudicarão as ações individuais, mas, se procedente o pedido, 
beneficiarão as vítimas e seus sucessores42. 
Uma das maiores novidades inseridas pelo Anteprojeto de Código Brasileiro de 
Processos Coletivos é o prazo de dois anos, contados da descoberta de prova nova superveniente, 
 
41 GRINOVER, Ada Pellegrini. O Processo: Estudos e Pareceres. São Paulo: Editora Perfil, 2006, p. 210. 
42 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. V.4. Salvador: Editora JusPodivm, 2007, p. 428. 
para a propositura de outra ação por qualquer legitimado, baseada em idêntico fundamento, 
quando houver sentença de improcedência fundada nas provas produzidas. E tem mais, a lei se 
preocupa com o réu, pois a ele também é possibilitado o ajuizamento de outra ação, fundada em 
nova prova superveniente, quando a demanda coletiva tiver sido julgada procedente nas mesmas 
condições43. 
Tanto o Código Modelo de Processos Coletivos para Ibero-América quanto o 
Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos dispõem, expressamente, que a 
competência territorial do órgão prolator não representará limitação para a coisa julgada erga 
omnes. Essa regra visa combater a incompetência legislativa materializada no artigo 16 da lei da 
Ação Civil Pública, a qual limita a eficácia da coisa julgada nas sentenças proferidas em 
demandas que tratam de direitos indivisíveis, algo incompatível com o processo coletivo. 
A criação de Códigos de Processo Coletivo indica a conscientização dos doutrinadores e 
operadores do direito acerca da importância de um sistema legal (pois trata de direito material e 
processual) próprio para as ações coletivas, em busca de mais efetividade ao processo coletivo. A 
coisa julgada, em termos gerais, possui regência semelhante à prevista no Código de Defesa do 
Consumidor e na lei da ação civil pública, com algumas alterações necessárias e benéficas até 
mesmo ao réu, figura não muito tratada nos atuais instrumentos de tutela coletiva. 
 
9. COISA JULGADA E SEUS EFEITOS NOS DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS 
STRICTO SENSU E INDIVIDUIAS HOMOGÊNEOS 
 
Tendo sidoanalisado quais os dispositivos legais que amparam o fenômeno da coisa 
julgada em sede de processo coletivo, criticado alguns deles e realizado um breve estudo sobre o 
seu tratamento nas ações coletivas americanas e nos Modelos de Códigos de Processo Coletivo 
atuais, resta, por fim descrever a ocorrência desse instituto processual conforme cada espécie de 
direito coletivo posto em juízo. 
Ainda que estejamos falando em direitos metaindividuais que podem atingir, de acordo 
com o interesse social presente na demanda, milhares de pessoas, é imprescindível a formação da 
coisa julgada como imperativo da segurança jurídica e instrumento contra a perpetuidade das 
controvérsias. Exatamente por serem tratados direitos coletivos, o julgado produz uma eficácia 
 
43 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. V.4. Salvador: Editora JusPodivm, 2007, p. 429. 
social maior, na medida em que estende seus efeitos pra muito além das partes envolvidas na 
relação processual. 
Grande entendimento sobre a amplitude da coisa julgada nas ações em comento nos traz 
Rodolfo de Camargo Mancuso44: 
 
Existe uma íntima correlação entre três pontos nevrálgicos do processo civil: o pedido, 
que, por sua vez fixa os limites da sentença (arts. 2º, 128 e 460 do CPC), os quais, na 
seqüência, irão circunscrever a extensão e a compreensão da coisa julgada (arts. 468 e 
472 do CPC). Vista dessa forma, a coisa julgada nas ações coletivas apresenta-se como 
um posterius, em relação ao binômio formado pela natureza do interesse e pelo 
contingente de sujeitos aí subjacente. É dizer, a coisa julgada não é uma realidade 
autônoma, mas apenas ganha concreção à medida que se agrega, como qualidade 
(imutabilidade), aos efeitos de uma decisão de mérito; logo, para se compreender até 
onde vai a coisa julgada coletiva, deve-se começar indagando qual a projeção espacial 
por onde se estende o interesse metaindividual em lide e quais sujeitos lhe são 
concernentes. 
 
Sobre a amplitude e projeção espacial que cada espécie de direito coletivo possui, bem 
como a que sujeitos pertencem, tivemos a oportunidade de dedicar algumas linhas desse trabalho 
a esse assunto quando, no terceiro capítulo, definimos os direitos coletivos traçando algumas de 
suas principais características. Vejamos, dessa forma, como a lei cuidou do assunto. 
O regramento da coisa julgada na tutela coletiva foi inovador em vários sentidos, 
propiciando várias observações a serem realizadas. Podemos falar, em um primeiro momento, 
que as decisões proferidas em ações coletivas atingem um número indeterminado de pessoas, 
beneficiando todos os lesados. Isso ocorre porque os fatos que ensejam a propositura de 
demandas coletivas violam bens ou direitos metaindividuais, cuja maior característica é a própria 
indivisibilidade. Ainda que seja uma defesa coletiva de direitos individuais homogêneos, a 
decisão final abrangerá todos aqueles que foram substituídos no processo45. Embora o artigo 16 
da lei 7.347/1985 imponha limites territoriais à coisa julgada, questão anteriormente abordada 
nesse capítulo, a autoridade da coisa julgada se dá em todo o território nacional, havendo que se 
 
44 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública: em defesa do meio ambiente do patrimônio cultural e 
dos consumidores . 9ª ed. São Paulo: Revista do Tribunais, 2004, p. 415. 
45 A maioria da doutrina considera que a legitimidade para propor ações coletivas é extraordinária, pois existe 
substituição processual pelo autor coletivo, na medida em que está defendendo direito alheio (pertencente a uma 
coletividade) por expressa autorização legal. (MAZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: 
maio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 16ª ed. São Paulo: 
Saraiva, 2003, p. 55). 
falar somente em limites objetivos (o que exatamente transitou em julgado) e limites subjetivos 
(quem está sujeito à autoridade), nunca em limites territoriais46. 
Outra observação importante a ser feita diz respeito à coisa julgada secundum eventum 
litis. A maioria dos autores concorda em dizer que a coisa julgada nas ações coletivas é, assim 
como no processo coletivo, pro et contra, ou seja, tem sua formação independentemente da 
demanda ser procedente ou improcedente47. É a sua extensão aos substituídos no processo 
coletivo que ocorrerá segundo a procedência ou improcedência da ação (secundum eventum litis) 
e não a formação da própria imutabilidade do conteúdo da sentença. Sobre o assunto, trazemos à 
colação uma explicação presente na obra do professor Fredie Didier JR.48: 
 
O CDC determinou a ocorrência da coisa julgada material entre os co-legitimados e a 
contraparte, ou seja, a impossibilidade de repropor a demanda coletiva caso haja 
sentença de mérito (pro et contra), atendendo, assim, aos fins do Estado na obtenção da 
segurança jurídica e respeitando o devido processo legal com relação ao réu que não se 
expõe indeterminadamente à ação coletiva, ficando, dessa forma, respeitada a regra 
tantas vezes defendida pela doutrina: ‘A coisa julgada, como resultado da definição da 
relação processual, é obrigatória para os sujeitos desta’. Nos processos coletivos ocorre 
sempre coisa julgada. A extensão subjetiva desta é que se dará ‘segundo o resultado do 
litígio’, atingindo os titulares do direito individual (de certa forma denominados 
substituídos) apenas para seu benefício. 
 
 
Existem fortes argumentos contrários a essa extensão subjetiva da coisa julgada 
segundo o resultado do processo. O principal deles tem respaldo no cumprimento do princípio do 
devido processo legal ao réu, tendo como seu maior defensor o processualista Mauro Cappelletti. 
Para o autor, se a parte representa adequadamente os membros de um grupo, então não se poderia 
distinguir entre efeitos favoráveis ou contrários, devendo a coisa julgada estender-se a todos os 
representados. Não se deve pensar exclusivamente no lado coletivo, pois o indivíduo-réu não 
pode estar eternamente sujeito à angústia, aos riscos e ao elevado custo decorrente de um sem-
número de processos, apesar de já ter saído vencedor em uma demanda coletiva49. A crítica é 
relacionada à proteção dos direitos individuais, pois o réu, como parte no processo, não pode ter 
suas garantias desrespeitadas. Além disso, se uma primeira demanda coletiva for julgada 
 
46 BRAGA, Renato Rocha. A Coisa Julgada nas Demandas Coletivas. Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 2000, 
p. 115. 
47 Assim pensam os autores Luiz Guilherme Marinoni, Renato Rocha Braga e Antonio Gidi. (GIDI, Antonio. Coisa 
julgada e litispendência em ações coletivas. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 140). 
48 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. V.4. Salvador: Editora JusPodivm, 2007, p. 340. 
49 ALVIM, Eduardo Arruda. Coisa julgada e litispendência no Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos 
Coletivos, in GRINOVER, Ada Pellegrini. MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. WATANABE, Kazuo (coord). 
Direito Processual Coletivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 177. 
improcedente, tendo em vista que no processo coletivo existem instrumentos e profissionais 
técnicos que proporcionam uma adequada discussão, será muito pouco provável atingir a 
procedência em uma segunda demanda. 
O Código de Defesa do Consumidor introduziu uma nova forma de produção da coisa 
julgada nas demandas que discutirem sobre direitos difusos ou coletivos stricto sensu, conforme 
os incisos I e II do seu artigo 103. Trata-se de situação em que somente haverá a formação da 
coisa julgada quando a procedência ou improcedência da ação se der com suficiência de provas.

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