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1 TEXTO 10 NOÇÕES SOBRE A SENTENÇA Bruna Barbieri Dias Estudante de Direito da Universidade Federal do Maranhão INTRODUÇÃO O termo “Sentença” vem do latim sententia, gerúndio do verbo sentire, que por si só quer dizer ”opinião”, “sentir”. Tecnicamente, indica o ato final do processo, onde o juiz “declara o que sente”, ou seja, formula o seu juízo (OLIVEIRA). Além de ato racional, envolve também a atitude emocional de estimativa do juiz diante das provas. Por isso que se dá um especial relevo à figura do juiz, quando da declaração da sentença, pois ele representa a materialidade do princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição. Diante dessa realidade, Eduardo Couture chega a declarar que da dignidade do juiz depende a própria dignidade do Direito (in OLIVEIRA). Por ser o ato mais importante do processo, onde se define o resultado e as implicações da lide, o estudo da Sentença é de suma importância para todo estudante de Direito, e o domínio dos seus requisitos, formas, vícios e limites é vital para o profissional da área. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O CONCEITO DE SENTENÇA Segundo Arruda Alvim, a sentença é o ato no qual o juiz, na qualidade de representante do Estado, dá, com base em fatos, na lei e no direito, uma resposta imperativa ao pedido formulado pelo autor, bem como à resistência oposta a esse pedido, pelo réu, na defesa, e tendo sido o réu revel, não fica liberado o Estado-Juiz do dever de resolver a pretensão, o que é feito essencialmente pela sentença. (in Oliveira) Assim, podemos definir a Sentença em dois aspectos: No aspecto interno, onde ela é definida, nas palavras do artigo 162, § 1º do CPC, como “o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa”. A partir do seu pronunciamento, “o juiz esgota seu ofício jurisdicional, vedando-se a prática ulterior de qualquer ato processual” (PAULA:2000,301), salvo nos casos de correção material, erros de cálculo ou em virtude de provimento de recurso de embargos de declaração, que visem suprir obscuridade, contradição ou omissão na sentença, conforme os artigos 463 do CPC, 382 do CPP e 833 do CLT. No aspecto externo, sentença é vista como um ato político, que representa a atividade que o Estado assume de pronunciar-se sobre o litígio que foi posto diante dele, sendo seu dever observar os fins prescritos no artigo 3º da CF (PAULA). Como Alfredo Rocco conceitua, “é o ato pelo qual o Estado, por meio do órgão da jurisdição a isso destinado (juiz), aplicando a norma ao caso concreto, decide qual a tutela jurídica, o direito objetivo concernente a um determinado interesse” (in OLIVEIRA). Mas a Sentença nem sempre significa a solução do conflito. Como o próprio artigo 162 do CPC esclarece, o mérito da causa por ser decidido ou não quando da sentença. Às vezes, a parte não atende a todos os requisitos legais para obter do Estado a solução do mérito, o que obriga o juiz a encerrar o processo sem adentrar na questão básica que causou a controvérsia (COSTA). 2 Quando a sentença extingue o processo sem o julgamento do mérito, é denominada sentença terminativa; quando extingue com o julgamento do mérito, de definitiva (PAULA). Nas sentenças terminativas (artigo 459 do CPC), costuma-se dizer que o direito de ação permanece latente, pois, obedecidos certos requisitos, a parte pode novamente aforar seu pedido. Deve-se lembrar que uma relação processual não se encerra com a simples prolação de uma sentença, e sim quando se dá a coisa julgada formal, ou seja, quando o pronunciamento judicial se torna irrecorrível. O artigo 267 do CPC prevê os casos de extinção do processo sem julgamento do mérito, a saber: Inciso I: quando o juiz indeferir a petição inicial; Inciso II: quando o processo passar mais de um ano parado por negligência das partes; Inciso III: quando o autor abandonar a causa por mais de 30 dias, pó não promover os atos e diligências que lhe competir; Inciso IV: quando for verificado a ausência de pressupostos para a constituição e desenvolvimento válido e regular do processo; Inciso V: quando o juiz acolher alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada; Inciso VI: quando não concorrer qualquer das condições de ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual; Inciso VII: pela convenção de arbitragem; Inciso VIII: quando da desistência do autor da ação; Inciso IX: quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal; Inciso X: quando ocorrer confusão entre autor e réu; Inciso XI: nos demais casos previstos no CPC. É interessante notar que, no Processo Penal, não existe propriamente as Sentenças terminativas, mas as Sentenças interlocutórias, previstas pelo artigo 593 do CPP, e divididas em (FÜHRER): Sentenças interlocutórias simples, que decidem as questões de forma parcial, em aborda o mérito da questão e sem encerrar o processo, p. ex., como na decretação de prisão preventiva; Sentenças interlocutórias mistas, que também não abordam o mérito da questão, mas encerram o processo ou uma fase do mesmo, p.ex., como no despacho de rejeição da denúncia ou a sentença de pronúncia; Sentenças interlocutórias com força de definitiva, ou terminativas de mérito, que encerram o processo, porém, não o resolve, mas prejudica o mérito da causa, p.ex., quando o juiz decreta a extinção da punibilidade, a perempção ou a ilegitimidade de parte. Para o Processo Civil, a nível de doutrina, as interlocutórias seriam meramente decisões proferidas no curso do processo sobre questões incidentes. E, por fim, há as sentenças definitivas, tanto no Processo Civil quanto no Penal, que são as sentenças em sentido estrito, onde se exaure a instância ou o primeiro grau de Jurisdição através da definição do juízo de acolher ou rejeitar (total ou parcialmente) o pedido formulado pelo autor, conforme o artigo 459 do CPC (COSTA). Pelo artigo 269 do mesmo Código, pode-se apreender os casos de extinção do processo com o julgamento do mérito, a saber: Inciso I: quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor; Inciso II: quando o réu reconhecer a procedência do pedido; Inciso III: quando as partes transigirem; Inciso IV: quando juiz pronunciar a decadência ou a prescrição; Inciso V: quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação. 3 A partir dessas noções iniciais, passaremos agora a tratar dos principais tópicos ligados ao estudo da Sentença. FORMAS DAS SENTENÇAS A sentença é um ato processual. Como Ada Pellegrini escreve, é o “objeto do processo de conhecimento” (CINTRA:2005,310). Por sê-lo, necessita obedecer certos requisitos, limites e, como veremos agora, certas formas, para que seja efetivamente considerada parte do processo e um ato válido e eficaz. É a questão do Princípio da Instrumentalidade das formas. Segundo o ensinamento de Cintra, Grinover e Dinamarco, “as formas dos atos processuais são determinadas por circunstâncias de três ordens: a) de lugar; b) de tempo; c) de modo” (CINTRA:2005,310). Assim, temos que: Quanto ao lugar: geralmente a sentença é realizada na sede do juízo, a menos que por alguma disposição legal tenha de ser realizada em outro local (artigo 176 CPC); Quanto ao tempo: relativo ao respeito aos prazos (legais e convencionais) estabelecidos e as épocas em que se devem exercer os atos processuais; Quanto ao modo da sentença, sua linguagem e ritos: a sentença deve ser documentada, de forma oral, escrita ou mista, na língua prevista pelo ordenamento (no nosso caso, a língua portuguesa), seguindo os ritos estabelecidos na legislação e tradição. CLASSIFICAÇÃO DAS SENTENÇAS Em primeiro lugar é interessante distinguir Sentença, que é a sentença do juiz singular,de Acórdão, que é o julgamento proferido por órgão colegiado (Tribunal). Além da classificação primária entre sentenças definitivas, interlocutórias e terminativas (que o Código inclusive não faz distinção, rotulando todas como “sentença”), podemos classificar as Sentenças de mérito a partir de critérios de conteúdo. Assim, temos: Sentenças declaratórias: que visam apenas à declaração da existência (sentença declaratória positiva) ou inexistência (negativa) da relação jurídica, ou da autenticidade ou falsidade de documento, conforme o artigo 4º do CPC (CINTRA), p. ex., as proferidas em processo de usucapião (para declarar a quem pertence a propriedade), as concessivas de hábeas corpus e as de nulidade de ato jurídico; Sentenças homologatórias: que visam apenas a mera verificação de legitimidade de ato das p.artes para a composição do litígio, principalmente em casos onde há auto- composição, onde o juiz se limita a comprovar a capacidade das partes para o ato e a regularidade formal do negócio jurídico para dar-lhe validade e força de ato judicial (COSTA), p. ex., nas hipóteses de reconhecimento de pedido, transação e renúncia ao direito subjetivo em que funda a ação; Sentenças constitutivas: quando o pedido procede e a sentença deve especificar qual relação jurídica está criando, bem como nominar seus participantes (PAULA), p. ex., as que decretam separação dos cônjuges, anulação do ato jurídico por incapacidade relativa do agente e rescisão de contrato. Elas podem ainda ser divididas em necessárias – quando o procedimento deve ser judicial – e não-necessárias – quando o procedimento pode ser extra- judicial (CINTRA); Sentenças desconstitutivas: quando o pedido é acolhido e se pormenoriza a relação jurídica ou o ato jurídico desconstituído, sendo a pretensão satisfeita apenas com o registro ou averbação da sentença, sem necessidade de execução judicial (PAULA); Sentenças condenatórias: afirma a existência do direito do autor e a sua violação, aplicando a sanção (não no sentido do direito material, mas no sentido da possibilidade de se admitir a execução forçada) correspondente à não observância da norma reguladora (CINTRA), p. ex., as sentenças de prestação de dar, fazer ou não-fazer, e as sentenças criminais que impõem ao réu a pena cominada pela lei em virtude do ilícito penal cometido; 4 Sentenças absolutórias: quando a pretensão do autor for improcedente e, conseqüentemente, o réu for absolvido – a sentença, então, deve declarar a e apontar as causas da absolvição (PAULA); os incisos I ao VI do artigo 386 do CPP apresentam várias hipóteses de absolvição do réu; Sentenças mandamentais: quando, uma vez acolhido o pedido, a sentença vem com uma ordem judicial específica para que se cumpra ou se deixe de cumprir algum ato em benefício de determinada pessoa (PAULA), p. ex., no mandado de segurança e no habeas corpus; Sentenças executivas latu sensu : acolhe a pretensão do autor e costuma gerar contra o adversário e contra o Estado uma obrigação de fazer ou não fazer (PAULA); na primeira hipótese, temos como exemplo o despejo, e na segunda, o interdito proibitório; Sentenças executivas strictu sensu : sua finalidade é encerrar o processo de execução, conforme os artigos 794-5 do CPC; no processo Penal, deve também elencar os deveres a serem cumpridos pelo condenado; Sentenças acautelatórias: quando a sentença, ao acolher o pedido, deve determinar a medida pleiteada; geralmente confirmam a medida concedida no início ou no curso da lide, e são típicas dos provimentos cautelares (PAULA). E além das diferenças no conteúdo, as sentenças também são diferenciadas quanto aos efeitos que produzem, que veremos a seguir. EFEITOS DAS SENTENÇAS O efeito principal de uma sentença é o de pôr fim ao processo, segundo o artigo 463 do CPC, mas, como vimos, existem particularidades: se for uma sentença condenatória, o fim será a geração de um título executivo que possibilita a execução forçada da decisão; se for uma sentença constitutiva, o fim é a extinção da relação litigiosa que levou ao processo, com a criação de uma nova situação para as partes; e se for uma sentença declaratória, o fim é a obtenção da certeza jurídica sobre a relação deduzida em juízo (COSTA). Quanto aos efeitos relativos ao tempo, as sentenças podem produzir efeitos jurídicos para o futuro (ex nunc) ou podem se reportar ao passado (ex tunc), como permite o artigo 158 do CC, mas esse alcance de situações anteriores à própria sentença não significa que ela seja retroativa, mas que ela “tem efeitos retardados em relação à possibilidade de auto-tutela imediata e é para corrigir esse retardamento que pode ter efeitos ex tunc” (CINTRA:2005, 314). As sentenças declaratórias e condenatórias produzem efeitos ex tunc; nas primeiras, o efeito retroage à época em que se formou a relação jurídica, e nas segundas, se faz apenas até a data em que o devedor foi constituído em mora. Já as sentenças constitutivas são normalmente ex nunc, produzindo efeitos a partir do trânsito em julgado (PAULA). As sentenças podem ainda ter um efeito mediato e imediato. Nas de efeito mediato, o pronunciamento estatal sobre a lide extingue o processo e esgota o ofício jurisdicional (PAULA). Nas de efeito imediato, ocorre ou não o acolhimento da tutela jurisdicional atendida. O efeito imediato principal é onde se encontra o comando da sentença, onde estão os efeitos provenientes da declaração, condenação, absolvição, anulação, constituição, mandamento, execução ou acautelamento da relação jurídica em questão. No efeito imediato secundário trata-se da inscrição da hipoteca judiciária (artigo 466 do CPC e 91-2 do CP) e da condenação da parte derrotada ao pagamento das custas processuais e honorários dos advogados (artigo 20 do CPC). REQUISITOS DAS SENTENÇAS A sentença decorre de um procedimento lógico em que o juiz, toma conhecimento dos fatos alegados pelo autor, pela defesa do réu e pelas provas e, segundo sua interpretação da norma ligada a este caso concreto, formula a solução final à controvérsia. 5 Para que esse procedimento lógico tenha validade e eficácia, deve obedecer a certos requisitos, mesmo quando for permitido ao juiz decidir de forma concisa. O artigo 243 do CPC determina que a inobservância dos requisitos essenciais pode levar à nulidade da sentença por desobediência formal, e o artigo 485, inciso V, complementa que em grau de apelação ou de ação rescisória (COSTA). Como Evanna Soares fala, a sentença “submete-se a requisitos estruturais e internos para que ganhe vida no mundo jurídico” (SOARES). Quanto aos requisitos internos deve-se entender que “as sentenças devem ser claras, certas, exaustivas e adequadas” (SOARES) e por requisitos estruturais, ou essenciais, devem se entender os requisitos para a validade desse procedimento jurídico que é a Sentença. Os requisitos internos, ou formais, da sentença, não são mencionados expressamente. São dois os requisitos formais mais importantes: a clareza e a precisão. Quanto à clareza, é necessário que a sentença seja clara para evitar obscuridades, incertezas e contradições; do contrário, dará lugar a embargos (artigo 535 do CPC). Quanto à precisão, a sentença não pode conter dúvidas, deve se conter nos limites do pedido, e não deve ser proferida sentença ilíquida se o pedido formulado foi certo (arts. 128 e 460 do CPC). Já os requisitos essenciais da sentença, dispostos nos artigos 458 do CPC e 381 do CPP, são: Relatório: que deve conter, de forma sintética, clara e precisa, todo o histórico da relação processual, com o nome das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, e o registro de todas as ocorrências de relevo que aconteceram durante o processo (COSTA); Fundamentos/motivos: que dão sustentação lógica à decisão, através da análise dasquestões de fato e de direito pelo juiz, possibilitando a construção de possíveis recursos futuros e provando que a sentença não foi um mero ato de vontade, mas um juízo lógico e imbuído dos princípios do Estado social de Direito (ALVIM); Dispositivo: que contém a decisão da causa, a conclusão sintética dos fundamentos da decisão da lide, expedindo o juiz um comando a ser respeitado pelos litigantes e terceiros (PAULA); o dispositivo pode ainda ser direto, quando o juiz especifica a prestação imposta ao vencido, ou indireto, quando o juiz se reporta ao pedido do autor para julgá-lo procedente ou improcedente (COSTA); Assinatura do juiz: que só é previsto pelo CPP, mas é condição de validade formal de qualquer ato processual praticado até. PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA A sentença pode ser proferida em diversos momentos processuais. Em audiências de instrução e julgamento, geralmente, conforme o artigo 456-7 do CPC, a sentença é proferida logo no final da audiência ou dentro de dez dias contados da realização (ALVIM). Quando é proferida na audiência, o escrivão lavrará, sob ditado do juiz, o termo que contém o resumo da audiência, os despachos e a sentença; quando é proferida dez dias depois da audiência de instrução e julgamento, foi dado um tempo para as partes oferecerem suas alegações finais e memoriais (COSTA). A sentença também pode ser proferida nos dez dias seguintes à conclusão, nos casos em que o julgamento se der independentemente da audiência, como nos casos dos artigos 330, 319 e 189 do CPC (COSTA). A partir da publicação da sentença, dois fatos importantes ocorrem: um é a produção dos efeitos das sentenças, que só se dá quando ela é publicada, e o outro é o fim do ofício jurisdicional do juiz, que esgota seu trabalho quando do proferimento da sentença. Mas, como lembra Maximilianus Führer, ao juiz é permitido corrigir eventuais erros na denúncia ou classificação do delito no processo penal. Em casos de emendatio libelli, quando é erro da denúncia ou queixa na classificação do delito (art. 383 do CPP), o juiz faz a correção independentemente de qualquer diligência, mesmo se for aplicando uma pena mais grave. 6 Em casos de mutatio libelli, que é quando surge uma circunstância elementar nova, pode haver dois caminhos: a nova classificação da pena é mais grave ou é igual ou menor. Quando a pena for igual ou menor (art. 384, caput), o juiz baixa o processo pra defesa falar; quando a pena for maior (art. 384, parágrafo único), o juiz baixa o processo para aditamento da denúncia ou queixa subsidiária, e para a conseqüente defesa (FUHRER). LIMITES DAS SENTENÇAS O limite básico de toda sentença é se ater ao pedido do caso que julga, o que é estabelecido pelos artigos. Mas há hipóteses em que a sentença não se conforma ao pedido, o que gera nulidade total ou parcial. Entre estas hipóteses, estão: Sentença infra petita ou citra petita: quando o pedido é acolhido mas a sentença concede abaixo dele (como p. ex. a sentença que decreta o despejo do inquilino mas permite que sua esposa e filhos permaneçam no imóvel), e também quando se deixa de examinar uma questão suscitada e de vital importância para a parte (PAULA). Mas não se deve confundi-la com a sentença que dá pela procedência parcial do pedido, pois, “nesta, apesar do autor não se ver totalmente satisfeito no objeto pretendido, todas as questões controversas são analisadas” (PEREIRA). Sobre sentenças citra petita, TJSP, 6ªa CCiv. Rel. Des. Macedo Bitterncourt, RT 606/70; TA Crim.-SP – Ac. unân. da 11ª Câm. Julg. em 20-7-93 – Ap. 796.801/2-Capital – Rel. Juiz Haroldo Luz; Sentença extra petita: quando o pedido é julgado procedente, mas ao invés de ser concedido o pretendido pelo autor, a sentença concede objeto diverso do requerido (p. ex., quando uma sentença condena um réu pela prática de um crime mas, ao invés de especificar e dosar a pena, impõe a ele medida de segurança sem que tivesse sido constatada sua insanidade mental), ou seja, o juiz decide fora do pedido (PAULA). Nesse sentido, STJ Resp. 59.151-1/RS, RS, Rel. Min. César Asfor Rocha, ac. de 15.03.95 in RSTJ 79/100; Sentença ultra petita: quando, além de julgar procedente o pedido, o juiz concede mais do que foi pleiteado, favorecendo o autor mais do que ele havia requerido. A nulidade dessa sentença, porém, é parcial, alcançando apenas o excesso indevido (PAULA). Sobre sentenças ultra petita, STJ, Resp. 36.866/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, ac. de 02.04.96, in DJU de 06.05.96, p. 144.19; STJ, Resp. 62.680/SP, Rel. Min. José Dantas, ac. de 10.03.97, in RSTJ 96/381; São ainda considerados, como limites das sentenças, as vedações de sentença incerta / indeterminada / ilíquida quando o pedido do autor tiver sido formulado de forma certa / determinada / líquida, e mesmo quando for decidindo relação condicional. VÍCIOS DAS SENTENÇAS Segundo Teresa Arruda, “às sentenças não se aplica a regra geral de que os atos processuais, ainda que não preencham a forma prescrita em lei, se alcançarem seus objetivos, não serão nulos - regra essa consagrada no art. 244 do CPC. Aliás, como salienta Arruda Alvim, o art. 458, que reza como deve ser a sentença, na verdade, diz respeito muito mais à sua essência, do que à sua forma, elencando seus três elementos essenciais: relatório, fundamentos e decisório; ausente um deles, qualquer que seja, a sentença será viciada.” (in SOARES) O artigo 243 do CPC reza que a inobservância destes requisitos essenciais pode levar à nulidade da sentença por desobediência formal (os chamados vícios). Como Evanna Soares elucida, “há sentenças nulas, que rendem ensejo, em especial, à ação rescisória - sentenças rescindíveis, portanto -, e sentenças inexistentes” (SOARES). 7 Além dos vícios quando à falta de um de seus requisitos, como foi possível perceber no tópico anterior, a não congruência da sentença do pedido, ou seja, a fuga da sentença a seus limites, também é um vício, logo, também incorre em nulidade. Podemos perceber a obrigatoriedade desses requisitos também na Jurisprudência, principalmente relacionados à Nulidade quando da ausência de algum deles, como nos exemplos a seguir: NULIDADE. Da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do pedido e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da decisão e a respectiva conclusão. Revista conhecida e provida. (TST, Ac. 2a. T-2963/92, RR-28175/91.0, Rel. Min. Francisco Leocádio, DJU 27-11-1992, p. 22450). NULIDADE; INOCORRÊNCIA. I - Não configura nulidade o fato de o julgador, ao apreciar vários processos tratando de casos rigorosamente idênticos, proferir sentença padrão para todos os casos, contendo no preâmbulo a referência ao número de cada feito e o nome das partes, para posterior juntada de cópia, por ele autenticada, em cada um deles. Conquanto não recomendável, essa forma de proceder não contraria a ratio essendi do preceituado no inciso I do CPC, que reside na necessidade de identificação das partes sobre as quais recairá a eficácia da decisão. II - Não padece de nulidade, por violação ao art. 458, II e III do CPC, a decisão que contém a necessária fundamentação, embora de maneira sucinta, a qual guarda correspondência com a parte dispositiva. Recurso não conhecido. (STJ, RESP 80540 / SC; RE 1995/0061863-0 DJ 31.03.2003 p. 242) NULIDADE. Bem diversa da sentença com motivação sucinta é a sentença sem fundamentação, que agride o devido processo legal e mostra a face da arbitrariedade, incompatível com o Judiciário democrático. (STJ-4a. Turma, REsp 18.731-PR, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 25.2.92, deram provimento, v.u., DJU 30.3.92, em.) NULIDADE. APELAÇÃO. LIMITES. TANTUM DEVOLUTUM QUANTUM APPELLATUM. DECISÃO CITRA PETITA. A apelação devolve ao Tribunal o conhecimento total ou parcial da matéria decididae, em qualquer dos casos, pode a Corte manter ou reformar a decisão recorrida. Quando se tratar de decisão proferida pelo Tribunal do Júri, a amplitude do conhecimento é mitigada, posto que os veredictos são soberanos e, assim, a delimitação do âmbito do apelo ocorre na petição de interposição do recurso. Se as razões recursais reduzem o objeto do apelo, para deduzir argumentos tendentes a demonstrar apenas que a decisão do Conselho de Sentença contrariara a prova dos autos, tem-se que tal arrazoado estabelece o limite a ser observado no julgamento do recurso, em observância ao princípio tantum devolutum quantum appelattum. Decidida a causa nos limites arrazoados pelo apelante, ora impetrante, inexiste a nulidade argüida. Precedentes do STJ e do STF. Ordem parcialmente conhecida e denegada (HC 26980/RS; HABEAS CORPUS 2003/0021184-6, Ministro PAULO MEDINA, DJ 01.07.2004 p. 279 LEXSTJ vol. 182 p. 280) VIOLAÇÃO AOS ARTS. 128, 460 E 245, PARÁGRAFO ÚNICO DO CPC. MATÉRIA PREQUESTIONADA NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. NULIDADE DA SENTENÇA. DECISÃO EXTRA PETITA. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO. 1. Encontra-se assente o entendimento nesta Corte no sentido de que o prequestionamento consiste no debate e na solução da quaestio iuris que envolva a norma positiva tida por violada, prescindindo de sua expressa menção no corpo do acórdão. Precedentes. 2. Consoante o disposto nos arts. 128 e 460 do Código Processo Civil, o juiz, ao decidir, deve restringir-se aos limites da causa, fixados pelo Autor na petição inicial, sob pena de nulidade, por ser citra, ultra ou 8 extra petita. 3. Na hipótese vertente, verifica-se que a r. sentença, ao condenar o Réu, ora Agravante, ao pagamento dos expurgos inflacionários, apartou-se do objeto da demanda, visto que a prestação concedida foi diversa da pleiteada, distanciando-se do exposto e requerido na inicial. 4. Agravo regimental provido.( AgRg no RESP 100677 / SC ; AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 1996/0043028-4, Ministra LAURITA VAZ, 04/06/2002, DJ 14.04.2003 p. 207) 9 CONCLUSÃO Como foi visto, a Sentença é o objetivo de todo processo; como escreve Cintra, Dinamarco e Grinover, coroando o processo de conhecimento, formula positiva ou negativamente a regra jurídica especial do caso concreto: concluirá pela procedência, quando acolher a pretensão do autor; pela improcedência, quando a rejeitar. (CINTRA:2005,310) Assim, é obrigação de todo estudante e profissional de Direito compreender seus institutos e ser capaz de formular uma sentença válida e eficaz, e de identificar os erros que porventura cheguem em suas mãos. Por este trabalho, intentou-se aprofundar conhecimentos pessoais sobre o tema e permitir que outros, através desse estudo breve, porém bem fundamentado, possam também alcancar o devido conhecimento sobre o ato mais importante de um processo. 10 REFERÊNCIAS ALVIM, Eduardo Arruda. Curso de Direito Processual Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. COSTA, H. C. Sentença. Disponível em http://hc.costa.sites.uol.com.br/ Acesso em 15 de Junho de 2005 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo et. al. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Malheiros, 2005 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto. Resumo de Processo Penal. São Paulo: Malheiros, 2002 OLIVEIRA, Suzana J. de. Sentença: último pronunciamento de sua excelência, o Juiz. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/x/14/86/1486/. Acesso em 15 de Junho de 2005 PAULA, Jônatas Luiz Moreira de. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Editora de Direito, 2000 PEREIRA, Váldsen da Silva Alves. Da elaboração da Sentença. Disponível em http://www.geocities.com/imagice/doc0511.htm. Acesso em: 21 de Junho de 2005 SANTOS, Carmen Roberta dos. A sentença ultra, citra e extra petita no Direito Processual do Trabalho: cabíveis ou ilegais?. Jus Navigandi, Teresina, 11 nov. 2004. Disponível em: http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=5870. Acesso em: 20 de Junho de 2005. SOARES, Evanna. Os nomes das partes como um dos elementos essenciais da sentença. Disponível em http://www.prt22.mpt.gov.br/trabevan14.htm Acesso em 19 de Junho de 2005
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