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Cancado, Soares Cirino (2005) Behaviorismo Uma proposta de estudo do comportamento (1)


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Nos Estados Unidos do final do século XIX, dois pontos de vista 
se mostravam fortes na psicologia: o funcionalismo de William James (cf. 
capítulo 7) e o estruturalismo de Edward Titchener (cf. capítulo 5). As 
principais universidades de psicologia dos Estados Unidos nessa época eram 
Cornell e Harvard, onde ensinavam, respectivamente, Titchener e James. 
Apesar de as propostas de ambos serem conceitualmente diferentes, elas se 
aproximavam em um aspecto: consideravam a consciência como o objeto de 
estudo da psicologia. 
Nesse período, os estudos de psicologia nos Estados Unidos se conso-­
lidavam cada vez mais. JAMES MARK BALDWIN e William James publicaram 
diversos artigos importantes. E os avanços não se restringiram apenas a 
publicações. Em 1888, James McKeen Cattell, da Universidade da Pensilvânia, 
tornou-­se o primeiro professor a lecionar 
formalmente a disciplina de psicologia 
em território estadunidense. Em 1892, 
foi criada a American Psychological 
Association (APA) e dois anos mais 
tarde, foi fundado o Psychological Review, 
um dos principais periódicos sobre 
psicologia do mundo, que continua 
sendo publicado até os dias atuais. 
Um dos estudiosos mais desta-­
cados da época era EDWARD LEE 
THORNDIKE, da Escola Funcionalista 
de Columbia (cf. capítulo 7), um dos 
JAMES MARK BALDWIN (1861-­1934). Seus principais 
estudos sobre psicologia foram realizados a partir da 
última década do século XIX. Baldwin foi uma figura 
importante no estudo do desenvolvimento mental de 
crianças, tendo realizado ele mesmo, pela primeira 
vez na história da psicologia, experimentos utilizando 
crianças como sujeitos. Também foi um dos primeiros 
psicólogos a aplicar a teoria da evolução de Darwin às 
suas teorias do desenvolvimento. 
EDWARD LEE THORNDIKE (1874-­1949) trabalhou, 
inicialmente, com galinhas, no porão da casa de 
William James. Após um período em Boston, Thorndike 
se dirige, com o auxílio de James Cattell (1860-­1944), 
para a Universidade de Columbia (Nova York), onde 
realiza seu doutoramento em 1899, com a famosa 
dissertação Inteligência animal: um estudo experimental dos 
processos associativos nos animais.
��� ���
primeiros psicólogos a ter sua formação inteira realizada nos Estados Unidos. 
Ele foi um dos pioneiros na realização de experimentos controlados com 
descrição detalhada das atividades dos animais sem se deter na introspecção 
como abordagem. Por meio desses experimentos, Thorndike formula a “Lei 
do Efeito”. Tal proposição afirma que
das várias respostas emitidas para a mesma situação, aquelas que forem 
concomitantes ou acompanhadas por satisfação para o animal irão, 
mantidas as mesmas condições, se tornar mais firmemente conectadas a 
esta situação, dessa forma, quando essa ocorrer novamente, [as respostas] 
terão mais chance de ocorrer novamente; aquelas que são concomitantes 
ou acompanhadas por desconforto para o animal irão, mantidas as mesmas 
condições, ter as suas conexões com esta situação enfraquecida, dessa forma, 
quando ela ocorrer novamente, [as respostas] terão menos chances de 
ocorrer novamente (Thorndike, 1911: 244).
Os estudos de Thorndike foram de grande influência para os pensadores 
da psicologia, principalmente os estadunidenses, na área de educação. Segundo 
o autor, “assim como a ciência e a agricultura dependem da química e da 
botânica, a educação depende da psicologia e da filosofia” (Thorndike, 1910: 
6). Dessa forma, a psicologia buscaria auxiliar os processos educacionais 
atuando em quatro tópicos principais: objetivos, materiais, meios e métodos. 
Para investigar tais tópicos, seriam propostas duas linhas de trabalho: descobrir 
e implementar maneiras de se mensurar as funções intelectuais; e estudar 
diversas etnias, ambos os sexos, idade, diferenças individuais e outros elementos 
que facilitassem a compreensão do indivíduo.
Apesar de fazer uso de experimentos controlados e de trabalhar 
com dados empíricos, Thorndike foi criticado, posteriormente, por utilizar 
termos ainda mentalistas como “satisfação” e “desconforto” em suas 
explicações. Tais explicações, contudo, eram cada vez menos aceitas por 
um determinado grupo de autores que buscavam alternativas aos modelos 
mentalistas e introspeccionistas na psicologia. Essa busca crescente culminou 
no surgimento de uma nova maneira de se pensar e se trabalhar a psicologia: 
o BEHAVIORISMO.
BEHAVIORISM, em inglês, gerou o termo BEHAVIORISMO, 
consagrado na língua portuguesa, aparecendo nos dicionários 
mais recentes publicados no Brasil. Optou-­se, no presente capítulo, pela utilização 
do termo behaviorismo. Em português encontram-­se também os termos 
comportamentalismo e comportamentismo.
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2�oPDQLIHVWR�EHKDYLRULVWDp�H�RV�SULPÍUGLRV�GH�XPD�FLÄQFLD�GR�FRPSRUWDPHQWR
O que precisamos fazer é começar a trabalhar na psicologia fazendo do 
comportamento, e não da consciência, o ponto objetivo do nosso ataque. 
Watson, 1913
A frase acima, proferida pelo psicólogo estadunidense JOHN BROADUS 
WATSON em seu manifesto de 1913, “A psicologia como o behaviorista a vê” 
(Psychology as the behaviorist views it), exemplifica a forma 
como esse autor pensa a psicologia. O interesse de 
Watson era o estudo do comportamento. Ele 
propõe que a psicologia seja uma ciência 
empírica e que leve a generalizações 
amplas sobre o comportamento huma-­
no, mantendo-­se a uniformidade do 
procedimento experimental, para que 
os experimentos dos psicólogos possam, 
assim como os dos físicos e químicos, ser 
replicados em qualquer laboratório. Os 
experimentos desenvolvidos nos tradicionais 
laboratórios de psicologia tinham como função 
detectar processos e conteúdos mentais que estivessem 
envolvidos na percepção, na memória etc., e não verificar o modo como o 
ser humano responde a situações em um ambiente complexo. Para Watson, 
conceitos como imaginação, julgamento e raciocínio não deveriam ser tomados 
como objetos de estudo pela ciência da psicologia. Da mesma forma, tais 
conceitos já vinham servindo de base explicativa por cientistas das tradicionais 
abordagens de psicologia até então.
A primeira fase do trabalho de Watson é marcadapor um grande interesse 
na psicologia animal. Defendendo o uso de sujeitos 
animais no estudo do comportamento, ele enfatizava 
as vantagens de sua utilização em detrimento do uso 
de sujeitos humanos. O trabalho com animais visa 
responder a perguntas (hipóteses) que poderiam 
ser GENERALIZADAS ao comportamento humano. 
Neste aspecto, a psicologia animal (cf. capítulo 6) se 
torna o modelo para os estudos do comportamento. 
Porém, preocupado em dar ao behaviorismo um valor 
J O H N 
BROADUS WATSON 
(1878-­1958) matriculou-­se, em 
1894, na Universidade de Furman. Em 
1903, Watson se torna a mais jovem pessoa 
a se doutorar na Universidade de Chicago. 
Em 1913, publica o artigo “A psicologia como 
o behaviorista a vê”, que ficou conhecido como o 
“manifesto behaviorista” e no qual delimitava o campo 
onde a psicologia deveria focar seus estudos. Dois 
anos mais tarde, é eleito presidente da Associação 
Americana de Psicologia (APA). Após alguns 
desentendimentos com a Universidade Johns 
Hopkins, onde lecionava, Watson é afastado 
e passa a concentrar sua atenção nos 
estudos de publicidade e propagan-­
da. 
O conceito de GENERALIZAÇÃO 
implica a realização do mesmo 
procedimento empírico com outros 
sujeitos da espécie em questão ou com 
sujeitos de outras espécies. Só quando 
da replicação dos resultados – pela 
realização do mesmo procedimento 
metodológico-­experimental ou de 
procedimento análogo – com sujeitos 
da mesma espécie (replicação direta) 
ou com sujeitos de outras espécies 
(replicação sistemática) pode-­se falar 
em generalização dos resultados.
��� ���
prático, que ultrapassasse as barreiras dos laboratórios acadêmicos, Watson 
estende seus estudos aos sujeitos humanos, apresentando no livro A psicologia 
do ponto de vista de um behaviorista, talvez o mais importante de sua carreira, sua 
proposta de psicologia como uma ciência natural independente. 
Mais tarde, na década de 1920, o interesse do autor muda para o estudo 
de crianças. Watson propôs que, ao nascer, a criança conta com apenas três 
reações básicas: amor, raiva e medo. Por meio dessas reações, o ambiente 
seria responsável pela formação dos hábitos. Segundo o autor, as pessoas, 
ao entrarem em contato com o ambiente que as cerca – tanto o ambiente 
interno (músculos, glândulas etc.) quanto o externo (os objetos do mundo 
exterior) –, aprendem a responder aos estímulos particulares do mesmo. 
Quando exposta à mesma situação novamente, a pessoa realiza as mesmas 
ações de forma mais rápida e com a necessidade de menos movimentos diz-­se 
que a pessoa formou um hábito para lidar com essa situação (Watson, 1924: 
200). Em Os cuidados psicológicos com a criança, de 1928 – um livro de estrondoso 
sucesso –, Watson apresentava um sistema para a criação de filhos baseado no 
comportamentalismo. Ele aconselha os pais a incentivarem os filhos desde cedo 
a superarem as pequenas dificuldades do ambiente sem a ajuda de adultos. De 
acordo com o método de criação apresentado por Watson, os pais deveriam 
dispensar aos filhos apenas poucas demonstrações de afeto, no sentido de 
controlar o comportamento da criança. Essa postura, segundo Skinner (1959), 
levou a que Watson se arrependesse publicamente do livro, pois “ele alertava 
os pais sobre a demonstração incondicional de afeto”.
Durante a realização de suas pesquisas com bebês, envolveu-­se com sua 
assistente, Rosalie Rayner, o que causou um grande escândalo, pois Watson, 
casado, teve que se divorciar de sua esposa. Pela grande repercussão do caso, 
foi afastado da Johns Hopkins University, onde então lecionava.
Watson destacou-­se também na área de publicidade. Após seu 
afastamento da universidade, foi contratado por uma grande empresa de 
propaganda, e seus estudos na área de predição e controle do comportamento 
foram bem recebidos no mundo dos negócios. Para ele, o trabalho da 
propaganda era simplesmente atingir o medo, a raiva ou o amor e influenciar, 
dessa forma, uma necessidade psicológica. Valendo-­se disso, o autor iniciou 
os processos de pesquisa na área da publicidade, afirmando que a melhor 
maneira de alcançar um comprador é conhecê-­lo, e a única maneira de fazer 
isso é pesquisando. Watson torna-­se, mais tarde, vice-­presidente da empresa 
que o contratou, trabalhando na área até sua aposentadoria.
��� ���
Mesmo dedicando a maior parte de seu tempo ao estudo da propagan-­
da, Watson não deixou de escrever sobre psicologia. Em seu livro de 1924, 
Behaviorismo, o autor contextualiza e define o behaviorismo não como um sistema 
de psicologia, mas como uma aproximação metodológica aos problemas da 
mesma. Watson considerava o comportamento como um campo de estudo 
muito novo, e que concepções como “mente” e “consciência” ainda não haviam 
sido abolidas de outros campos do saber, como a filosofia, por exemplo. 
Além disso, apresenta conceitos como “estímulo” e “resposta”, 
mostrando como uma resposta pode ser condicionada a um estímulo específico, 
que tipos de resposta podemos apresentar, e dedica algumas páginas para tratar 
dos reflexos condicionados, estudados por Ivan P. Pavlov (cf. capítulo 10), que 
foi um dos maiores influenciadores de seu trabalho a partir de 1916.
Em 1957, foi homenageado pela Associação Americana de Psicologia 
(APA) como um dos autores mais importantes da história da psicologia 
moderna. No ano seguinte Watson falece, aos 80 anos.
8PD�DERUGDJHP�IXQFLRQDO�GR�FRPSRUWDPHQWR��R�FRQFHLWR�GH�RSHUDQWH
Os homens agem sobre o mundo, modificam-­no e, por sua 
vez, são modificados pelas conseqüências de suas ações.
Skinner, 1957: 15
A presente citação, retirada do livro O comportamento verbal, de BURRHUS 
FREDERIC SKINNER, faz referência a um ponto central no sistema de pensamento 
proposto por esse autor: o comportamento operante.
Até o início da década de 1930, em parte da psicologia estadunidense, 
a ênfase explicativa dada ao comportamento dos organismos ora era feita com 
base na concepção mentalista da psicologia – ou seja, fazendo-­se referência 
àquilo que estaria ocorrendo em sua mente –, ora utilizando-­se a noção 
de reflexos, esta última proposta por Pavlov e apropriada pela psicologia 
B. F. SKINNER (1904-­1990) graduou-­se em inglês no Hamilton College e decidiu seguir a carreira de escritor. 
Após algumas tentativas frustradas, a escrita, como atividade profissional, foi deixada de lado. Skinner 
ingressou no curso de psicologia da Universidade de Harvard em 1928 e doutorou-­se em 1931. Permaneceu nessa 
instituição como pesquisador até 1936, ano em que começou a lecionar psicologia na Universidade de Minnesota. 
Em 1947, retornou à Harvard como professor. Permaneceu nessa instituição como professor-­pesquisador até 
sua aposentadoria, em 1974. Publicou vários livros, sendo os mais importantes: O comportamento dos organismos 
(1938), Walden II (1948), Ciência e comportamento humano (1953), O comportamento verbal (1957), Para além da liberdade e 
da dignidade (1971) e Sobre o behaviorismo (1974). Essas obras revelam a posição teórica do autor, bem como as 
mudanças pelas quais passou seu pensamento.
��� ���
behaviorista de Watson. Da mesma forma, a Lei do Efeito elaborada por 
Thorndike influía na compreensão dos atos do indivíduo, embora tal proposta 
teórica tenha sido criticada por Watson por referir-­se a sentimentos e estados 
mentais quando da explicação do comportamento.
O contexto acadêmico da época foi marcado por uma fase conhecida 
como a “crise da física clássica”, que alterou a maneira de pensar a ciência em 
todas as suas formas. O sistema determinista, que atribuía relações estritas entre 
as causas e os efeitos nos fenômenos naturais, sofria várias críticas desde muito 
antes da crise. Ernst Mach (1838-­1916), físico austríaco, defendia o abandono 
das explicações de causalidade mecânica utilizadas pela física newtoniana, 
em favor da adoçãode RELAÇÕES FUNCIONAIS entre os fatos. Dessa forma, 
atribuições mecanicistas de causa 
e efeito foram gradativamente 
perdendo espaço para as 
descrições funcionais entre 
fatos. Um exemplo disso é a 
teoria da relatividade geral de 
Albert Einstein (1879-­1955), 
que, em 1915, formula uma 
teoria da gravitação mais 
abrangente que a de Newton.
Influenciado por essa 
concepção funcional de Mach, Skinner propõe um sistema no qual as explicações 
dadas para o comportamento do organismo em termos de causa e efeito são 
substituídas por descrições de relações funcionais entre as alterações ambientais 
e o comportamento. Esse sistema englobava dois tipos de condicionamento: 
o que chamou tipo S, ou condicionamento reflexo já estudado por Pavlov e 
Watson, e o que chamou tipo R, no qual se torna uma conseqüência contingente 
a uma resposta, o que já havia sido trabalhado por Thorndike, como vimos 
acima. Os resultados de Skinner em suas pesquisas sobre o comportamento 
reordenavam as considerações feitas sobre esse objeto de estudo até então. 
O comportamento dos organismos não seria influenciado apenas por 
alterações ambientais antecedentes, como proposto pela psicologia estímulo-­
resposta, baseada no paradigma reflexo. Grande parte do comportamento 
seria influenciada por suas conseqüências. Um organismo, ao comportar-­se, 
produz modificações no ambiente que, por sua vez, alteram a forma como o 
indivíduo se comporta. É neste sentido que, na perspectiva skinneriana, pode-­
se dizer que o organismo produz o meio que o determina. 
RELAÇÕES FUNCIONAIS, no caso do comportamento, são 
descrições de relações (seja entre aspectos do ambiente 
ou entre o ambiente e o organismo) nas quais um dos eventos (ou 
variáveis) altera-­se em função de modificações no outro. Não se 
trata mais de explicações substanciais ou deterministas. A partir de 
uma análise dos fatos relacionados, busca-­se a descrição da relação 
através de uma função matemática. Chamam-­se variável dependente 
aqueles aspectos da relação sobre os quais observa-­se um efeito 
de manipulação prévia ou alteração em outra variável – a variável 
independente – a ela relacionada. A Análise do Comportamento 
tem como variável dependente o próprio comportamento e 
como variáveis independentes quaisquer condições que afetem 
o comportamento de um organismo (Skinner, 2000 [1953]; 
Catania, 1999).
��� ���
Proposto formalmente no ano de 1937, quando Skinner publica o artigo 
“Dois tipos de reflexo condicionado: uma resposta a Konorski e Miller”, o 
conceito de OPERANTE marca a distinção em face de uma psicologia proponente 
de teorias estímulo-­resposta diretamente ligadas à 
noção de causalidade mecanicista. Considerando 
o significado dado às ações do organismo pelo 
operante, sobretudo ao fazer do organismo huma-­
no, esse conceito proporciona uma ampliação 
do comportamento como objeto de estudo até 
então não atingida no âmbito da análise do 
comportamento reflexo.
A noção de comportamento operante descreve 
a ação do organismo sobre o meio do qual emergem as conseqüências últimas 
de seu comportamento. No entanto, quando se trata de sujeitos humanos, 
deve-­se considerar uma forma de comportamento operante distintiva, que age 
indiretamente sobre o meio, ou seja, que age inicialmente sobre outros seres 
humanos. Denomina-­se esse tipo de operante COMPORTAMENTO VERBAL.
 O organismo humano, portanto, quando se 
comporta verbalmente, tem as conseqüências de 
suas ações providas por outros seres humanos, e 
não imediatamente pelo ambiente físico que o 
cerca. À medida que o comportamento verbal 
começa a ser estudado, aproximadamente a 
partir de 1934, abre-­se a possibilidade de uma 
análise funcional dos diversos níveis da ação 
humana: a linguagem, o pensamento, a moral, 
a alienação, os propósitos, dentre outros. A 
complexidade característica a esse tipo de 
comportamento não justifica uma nova forma de 
análise, ou seja, os operantes verbais são analisados em termos de sua relação 
com o ambiente, sobretudo sua relação com o ambiente humano, social.
Desde a proposta watsoniana, que relacionava a linguagem a complexas 
cadeias de respondentes, os psicólogos behavioristas vêm tentando abordar 
o fenômeno lingüístico, cada qual baseando-­se em concepções específicas 
do que seria o comportamento e, portanto, a linguagem e outros fenômenos 
relacionados (como o pensamento). Ressalta-­se que, para Skinner, a linguagem 
é um comportamento operante e, portanto, é selecionada e mantida pelo 
contato do organismo com contingências de reforçamento específicas.
COMPORTAMENTO VERBAL é o 
comportamento operante que 
possui reforço mediacional. Segundo 
Catania (1999: 392), comportamento verbal 
“é qualquer comportamento que envolva 
palavras, independente da modalidade 
(falada, escrita, gestual); que é adquirido e 
mantido pelas práticas de reforçamento de uma 
comunidade verbal, isto é, uma comunidade 
de falantes e ouvintes”. Linguagem, segundo 
o mesmo autor, seriam as práticas de 
reforçamento partilhadas pelos membros 
de uma comunidade verbal, levando-­se em 
conta as “consistências de vocabulário e 
de gramática” (1999: 409).
“O termo OPERANTE designa uma classe 
de respostas. A característica comum 
a estas respostas é que elas possuem a 
propriedade à qual a conseqüência é 
contingente. Um operante é, portanto, 
uma categoria cujas instâncias concretas 
são respostas do organismo, ou seja, 
ocorrências discretas de comportamento. 
Essas respostas não são definidas por 
sua forma, mas por sua relação com a 
conseqüência” (de Rose, 1982: 73).
��� ���
Durante a década de 1970 e início dos anos 1980, Skinner esboça 
mais claramente seu interesse nas influências biológicas que atuam sobre o 
comportamento. A obra Origem das espécies, de Charles Darwin (cf. capítulo 6), é 
utilizada por ele para traçar um paralelo entre os princípios da seleção natural 
e o comportamento dos organismos. Skinner amplia, assim, a visão de Mach 
sobre as relações funcionais entre fatos tomando como modelo de causalidade 
a proposta darwiniana de seleção por conseqüências. O fenômeno da seleção 
natural, desenvolvido por Darwin para a explicação da evolução das espécies, 
aplica-­se também à análise do comportamento do indivíduo, bem como ao 
estudo do processo de evolução das culturas. 
Assim como características genéticas levam a mutações fisiológicas 
que podem ser selecionadas conforme suas conseqüências, isto é, segundo 
proporcionem maior adaptação do organismo a determinado ambiente, os 
comportamentos são selecionados pelo processo de REFORÇAMENTO, ou seja, 
são determinados pelas conseqüências que forem 
contingentes às respostas dadas pelo organismo. 
Segundo Skinner, o comportamento humano é 
selecionado não apenas para atender a necessidades 
de sobrevivência imediata – sendo esta apenas um 
tipo de conseqüência seletiva – como também para se 
adaptar a situações futuras. Os diversos tipos de ambientes com os quais nos 
deparamos ao longo da vida exigiriam que nosso comportamento 
também esteja em constante mutação, fazendo com que 
cada pessoa, entrando em contato com CONTINGÊNCIAS 
específicas, se torne única, comportando-­se de forma 
distinta das outras pessoas. Duas pessoas, mesmo que 
possuam idêntico dote genético, não teriam a mesma história 
de relação com o ambiente, simplesmente pelo fato de ocuparem locais 
diferentes no ESPAÇO. 
Skinner define, dessa forma, três níveis 
de atuação das contingências: o filogenético, 
o ontogenético e o cultural. O comportamento 
humano é fruto da ação integrada e inseparável 
destes três níveis. O primeiro refere-­se à seleção 
de comportamentos característicos da espécie 
ao longo do processo evolutivo da mesma. 
O segundo diz respeito à história de reforçamento, ou seja, é relativo aos 
comportamentos selecionados ao longo da vida deum indivíduo, considerando-­
O termo “REFORÇAMENTO” designa 
a operação comportamental de conse-­
qüenciação às respostas emitidas 
por um organismo e que tem, como 
resultado, um aumento da freqüência 
de respostas da mesma classe.
CONTINGÊNCIAS 
DE REFORÇAMENTO são as 
condições nas quais uma resposta 
produz uma conseqüência 
(Catania, 1999: 394).
“Uma pessoa […] é um LÓCUS, 
um ponto no qual muitas condições 
genéticas e ambientais se agrupam em um 
efeito conjunto. Como tal, ela permanece 
inquestionavelmente única. Ninguém (a 
menos que ela tenha um gêmeo idêntico) tem 
seu dote genético e, sem exceção, ninguém 
tem sua história pessoal” (Skinner, 1974: 
168).
��� ���
se a interação deste com seu ambiente. O terceiro, o nível cultural, é relativo 
aos comportamentos selecionados pela interação do organismo humano 
com seu ambiente social específico, caracterizado por determinadas práticas 
sociais (Skinner, 1981). Algo de extrema importância a ser ressaltado é que a 
susceptibilidade do organismo às conseqüências do comportamento – ou seja, 
a capacidade de ser influenciado pelas conseqüências de suas ações –, é uma 
característica que foi selecionada filogeneticamente. 
Segundo Skinner, a humanidade deu um grande passo em termos 
sociais quando a musculatura vocal passou a ficar sob controle operante, 
isto é, quando as emissões vocais passaram a ser influenciadas por suas 
conseqüências. A emergência do comportamento verbal teria permitido que 
a cooperação entre os seres humanos fosse mais bem-­sucedida. Da mesma 
forma, as pessoas passaram a aprender a partir daquilo que outros haviam 
aprendido, por exemplo, seguindo REGRAS 
socialmente estabelecidas e conselhos dados por 
outrem. O alfabeto e a escrita desempenham um 
papel preponderante nesse aspecto, uma vez que 
possibilitam a disseminação de determinados 
avanços obtidos por uma comunidade humana 
por diversos locais e, sobretudo, ao longo do 
tempo.
Para o behaviorismo de Skinner, comportar-­se verbalmente, por sua vez, 
permite outro passo importante, que é o processo de evolução cultural. Uma 
maneira diferente de resolver determinado problema, como, por exemplo, 
cultivar grãos, desenvolver um novo método de navegação ou mesmo escrever 
um poema, é selecionada por suas conseqüências: o cultivo de determinado tipo 
de grãos, um melhor barco e um poema escrito. Tais processos surgiriam em 
níveis individuais e poderiam ser passados a outros seres humanos. Contribuirão 
para a evolução da cultura aqueles desenvolvimentos de determinado grupo 
que se mostrarem úteis na solução de QUESTÕES SOCIAIS.
A análise do comportamento, denominação dada 
à forma de ciência proposta por Skinner, considera o 
comportamento dos organismos como sendo fruto 
desses três níveis de atuação das contingências que, 
por sua vez, são indissociáveis. Os seres humanos são 
parte de uma espécie e possuem uma relação única com seu 
ambiente, que é social e também histórica. Filogeneticamente 
REGRAS são descrições de contingências de 
reforçamento, i.e., são enunciados acerca de 
condições nas quais determinadas respostas 
produzem conseqüências. Neste sentido, num 
esporte como, por exemplo, o futebol, há uma 
regra que especifica que se o jogador de um 
time deixar que a bola ultrapasse a linha de 
de marcação do campo, a posse de bola passa 
a ser do time adversário.
QUESTÕES 
SOCIAIS. “É o 
efeito no grupo e não 
as conseqüências reforça-­
doras em relação aos indivíduos, 
que é responsável pela evolução 
cultural” (Skinner, B. F. 
Selection by Consequences. 
1981).
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seria selecionado um organismo da espécie humana enquanto a ontogenia e a 
cultura selecionariam, respectivamente, uma pessoa e um eu. 
Os conceitos de “pessoa” e “eu” não descrevem o indivíduo como 
portador ou possuidor de uma personalidade, enquanto conceito explicativo ou 
estrutura determinante de seus comportamentos. Um organismo, uma pessoa 
ou um eu são denominações que descrevem os comportamentos do organismo 
procurando fazer referência, respectivamente, às contingências filogenéticas, 
ontogenéticas ou culturais nas quais a explicação deve ser buscada.
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O behaviorismo, segundo Skinner, não é a ciência do comportamento 
humano, mas sua filosofia. Diferentemente do behaviorismo watsoniano, 
o BEHAVIORISMO RADICAL rejeita o critério 
de consenso público – isto é, consenso 
entre dois ou mais observadores acerca 
de um fenômeno – como central na 
definição de um objeto de estudo. Da 
mesma forma, não ignora a capacidade 
de auto-­observação, mas questiona a natureza 
daquilo que é observado, em suma, daquilo que é conhecido. Segundo 
Skinner, a introspecção proposta pelas tradicionais escolas de pensamento 
psicológico enfatiza apenas o interno, o mental. Ao contrário, o behaviorismo 
metodológico, rejeitando o estudo dos eventos mentais – pois não haveria sobre 
eles consenso entre observadores –, enfatiza a análise dos eventos externos 
determinantes do comportamento. 
O behaviorismo radical estabeleceria um 
equilíbrio, na medida em que admite a CAPACIDADE 
DE AUTO-­OBSERVAÇÃO e que foca também os 
determinantes ambientais do comportamento. 
Aqueles comportamentos emitidos de maneira 
inobservável não são tomados como especiais 
apenas porque ocorrem no interior do 
organismo.
Assim como comportamentos diretamente 
observáveis, os eventos privados são também comportamentos, são frutos da 
interação de um organismo com seu ambiente. O fato de ocorrerem no interior 
A designação BEHAVIORISMO RADICAL foi 
cunhada por Skinner para se referir à filosofia 
da análise experimental do comportamento. O termo 
“radical” vem de raiz, no sentido em que designaria 
uma proposta que se atém ao estudo do comportamento 
a partir do próprio comportamento, sem o recurso 
explicativo a qualquer outra entidade.
“O behaviorismo radical não nega 
a possibilidade da AUTO-­OBSERVAÇÃO 
ou do autoconhecimento ou sua possível 
utilidade, mas questiona a natureza daquilo 
que é sentido e observado. Restaura a 
introspecção, mas não aquilo que os filósofos 
e os psicólogos introspectivos acreditavam 
‘esperar’ (spect), e suscita o problema de 
quanto de nosso corpo podemos realmente 
observar” (Skinner, 2000 [1974]: 19).
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do organismo não lhes atribui uma natureza especial (seja uma natureza não 
física, seja uma natureza explicativa de comportamentos públicos). Como 
ressaltado por Skinner, o que observamos é nosso próprio organismo, 
nosso comportamento. A proposta behaviorista radical parte do estudo do 
comportamento tomando-­se como objeto o próprio comportamento, isto é, 
sem buscar referências explicativas de outra natureza, sejam elas mentais ou 
fisiológicas. 
As conseqüências da aplicação dos princípios da análise do comporta-­
mento aos assuntos humanos aproximaram Skinner de reflexões morais e 
filosóficas. O critério de cientificidade adotado pelo behaviorismo radical passa 
a ser o de utilidade do conhecimento produzido. Dessa maneira, proposições 
acerca do comportamento humano seriam relevantes na medida em que se 
mostrassem úteis na solução de problemas enfrentados pela comunidade 
humana. 
Nas obras do final de sua carreira, Skinner enfatiza a discussão de 
aspectos filosóficos de sua posição. PARA ALÉM DA LIBERDADE E DA DIGNIDADE, de 
1971, e Sobre o behaviorismo, de 1974, são exemplos 
de livros que buscam esclarecer dúvidas sobre 
as questões filosóficas apresentadas pelo 
behaviorista. Em relação ao primeiro, o autor 
elabora uma discussão sobre os avanços do 
estudo do comportamento humano, desde a 
época da Grécia Antiga, e faz uma reflexão comportamental sobre temas 
como dignidade, liberdade e responsabilidade, aproximando seu ponto de vista 
de temas cotidianos. De acordo com sua visão, a liberdade seria“uma questão 
de contingências de reforço, e não de sentimentos que as contingências geram” (Skinner, 
1977: 34). Em Sobre o behaviorismo, trata de elucidar as principais dúvidas e 
erros teóricos oriundos da má interpretação de suas idéias, mostrando as 
interpretações behavioristas radicais sobre diversos temas, em oposição a 
explicações mentalistas acerca desses temas.
Contingências especiais de reforçamento proporcionaram a evolução 
dessa forma específica de conhecimento, assim como de vários tipos de 
conhecimentos existentes sobre o comportamento humano. Deve-­se procurar 
entender o behaviorismo, bem como qualquer outra forma de saber, como 
um processo que evoluiu em um meio histórico-­cultural específico e que está 
sujeito a ser selecionado pela cultura, na medida em que se mostre útil para 
a compreensão dos seres humanos. 
Optou-­se pelo presente título, dado à 
tradução portuguesa da obra de 1971, 
Beyond Freedom and Dignity, em detrimento 
do da tradução brasileira, O mito da liberdade. 
Acreditamos que PARA ALÉM DA LIBERDADE E 
DA DIGNIDADE expressa mais fidedignamente 
a idéia contida no título original.
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 O surgimento dos primeiros cursos de psicologia no Brasil, nos 
anos 1950, aponta para a necessidade de atualização exigida por parte de 
profissionais de instituições de ensino, sobretudo de ensino superior, o que levou 
os docentes desses novos cursos a entrar em contato com tendências recentes 
do pensamento psicológico, bem como a buscar, com outros profissionais da 
área, seja em contexto brasileiro ou internacional, apoio para o ensino e para 
o desenvolvimento da psicologia em âmbito nacional.
Assim, no início da década de 1960, mais precisamente no primeiro 
semestre de 1961, a convite do diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências 
e Letras da USP, professor Paulo Sawaya, chega ao Brasil, como professor 
visitante, o psicólogo estadunidense FRED SIMMONS KELLER. Dar-­se ia, nesse 
contexto, o primeiro contato efetivo de profissionais e estudantes em uma 
instituição de ensino brasileira com a análise do comportamento. Antes de 
realizar sua primeira viagem ao Brasil, Keller trabalhava como professor na 
Universidade de Columbia, nos EUA. Suas pesquisas, bem como sua atuação 
profissional, colaboraram para o estabelecimento e para a divulgação da análise 
do comportamento.
Inicialmente, as contingências de ensino estabelecidas por Keller – duas 
disciplinas optativas – atraíram alguns poucos alunos e também professores. 
Dentre esses destacam-­se Carolina Martuscelli Bori, Rodolpho Azzi, ambos 
docentes da USP, e Maria Amélia Matos, nessa época estudante de graduação 
do curso de psicologia. As aulas teóricas e os exercícios práticos, esses últimos 
realizados num laboratório recém-­construído por Keller e Rodolpho Azzi, 
procuravam instruir os alunos acerca das bases conceituais da análise 
comportamental para que, em curso posterior, fossem tratados autores como 
Pavlov, Watson e Skinner.
Em 1962, Keller retorna aos EUA. Seus alunos da Universidade de São 
Paulo estabeleceriam novas contingências a partir daquelas anteriormente 
FRED SIMMONS KELLER (1899-­1996). Graduou-­se no Tufts College e estudou Psicologia em Harvard, universidade 
na qual permaneceu até 1931. Tornou-­se professor de Psicologia da Universidade de Columbia, instituição na 
qual permaneceu até sua aposentadoria, em 1964. Foi também professor visitante em duas universidades brasileiras 
– Universidade de São Paulo e Universidade de Brasília – respectivamente nos anos de 1961 e 1964. Idealizou o Sistema 
Personalizado de Instrução (PSI), método de ensino criado a partir de estudos em análise experimental do comportamento. 
É autor do livro Princípios de Psicologia (1950, co-­autoria de W. N. Shoenfeld) e de vários outros artigos científicos.
Keller esteve no Brasil como professor visitante no período de 1961-­1962. Retorna ao país em 1964, como professor 
da Universidade de Brasília, onde permanece por apenas dois meses. Nos anos de 1972 e 1978 e também nas décadas 
de 1980 e 1990, volta ao país para participar de congressos científicos.
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propostas, direcionadas ao ensino e à pesquisa em solo brasileiro. Novos 
projetos de pesquisa e propostas de ensino baseados nos preceitos e metodologia 
comportamentais começaram a ser elaborados nesse período. A falta de uma 
sólida preparação teórica, bem como de materiais necessários ao andamento 
dos projetos propostos foram barreiras difíceis de serem transpostas, mas não 
impossíveis.
Em relação a esse aspecto, é muito cara a contribuição não só à analise 
do comportamento, mas à psicologia como um todo da professora CAROLINA 
M. BORI. Ao elaborar projetos para 
o financiamento de pesquisa junto 
a órgãos governamentais ligados 
à educação, para a construção de 
materiais para o ensino e também 
para a pesquisa em laboratórios, e 
para o estabelecimento de um acervo 
bibliográfico consistente, ela dá 
subsídios para o estabelecimento desse 
campo de saber específico, assim como 
para a psicologia de uma forma geral. 
Posteriormente, à frente de importantes 
instituições científicas como a CAPES 
(Coordenação de Aperfeiçoamento de 
Pessoal de Nível Superior) e a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso 
da Ciência), Carolina Bori colabora para a fundação de diversos cursos de 
graduação em psicologia e também cursos de pós-­graduação relacionados à 
análise do comportamento.
A partir da década de 1970, passam a ser estabelecidos diversos cursos 
de pós-­graduação no país, com forte ênfase em análise do comportamento, 
por exemplo, na USP, na Universidade de Brasília, na Universidade Federal 
do Pará, na Universidade Federal de São Carlos e, mais recentemente, na 
PUC-­SP. Analistas do comportamento passam a se organizar em sociedades 
científicas e a produzir publicações dirigidas tanto à área quanto ao público 
em geral.
Temas de pesquisa inicialmente tratados, como esquemas de 
reforçamento e controle aversivo, abrem caminho para estudos acerca 
de toxicologia, bem como a respeito de educação, tema desenvolvido por 
Skinner em Tecnologia do ensino. O SISTEMA PERSONALIZADO DE ENSINO (PSI, 
da sigla original em inglês) idealizado por Keller toma no Brasil uma nova 
CAROLINA MARTUSCELLI BORI (1924-­2004). Em 1947, 
formou-­se em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia 
Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. No 
ano seguinte é contratada como professora assistente de 
Psicologia na USP, universidade na qual permaneceu como 
docente até sua aposentadoria, em 1994. Seu contato com a 
análise do comportamento deu-­se, efetivamente, em 1961, 
quando foi aluna de F. S. Keller. Carolina M. Bori, em mais 
de 50 anos de trabalho, dedicou-­se à ciência como um todo, 
na busca de sua divulgação e de seu progresso. Orientou 
aproximadamente 100 teses de mestrado e doutorado e 
destacou-­se como presidente de importantes sociedades 
científicas brasileiras como a Sociedade Brasileira para o 
Progresso da Ciência (1986-­1989) e a Sociedade Brasileira 
de Psicologia (1992-­1993). Carolina Bori propôs uma 
ampliação do Sistema Personalizado de Instrução, 
elaborado por F. S. Keller: A Análise de Contingências 
em Programação de Ensino.
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direção, proposta por Carolina M. Bori: A Análise 
de Contingências em Programação de Ensino. 
Segundo essa visão, deveriam ser analisados 
os conhecimentos e habilidades necessários 
para o exercício de determinada atividade e 
o conseqüente planejamento de contingências 
de ensino que proporcionassem a aquisição dos 
mesmos. Tal vertente de pesquisa influenciou diversos 
analistas do comportamento, bem como profissionais voltados para o ensino de 
diversas áreas, como a matemática, a química, a engenharia e a arquitetura, 
em várias capitais do país.
Ao longo do tempo, áreas como o comportamentoverbal, a variabilidade 
comportamental, a equivalência de estímulos, dentre outras, passaram a ser 
estudadas no Brasil. As atividades de ensino e de atuação clínica também 
cresceram entre os analistas do comportamento. Atualmente, grande parte dos 
analistas do comportamento brasileiros reúne-­se todo ano nos encontros da 
ABPMC (Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental) 
e nas reuniões da SPB (Sociedade Brasileira de Psicologia). Artigos sobre a 
análise do comportamento são publicados nas mais diversas revistas científicas 
do país e profissionais brasileiros vêm colaborando para revistas internacionais 
especializadas em análise do comportamento.
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Drawing hands, litogravura (28,5 x 34 cm) de M. C. Escher, 1948.
Raciocinar sobre a relação organismo-­ambiente, tomando um 
desses pontos em separado consiste, de maneira geral, em uma abstração. 
Essa interação ocorre como num fluxo, e a abstração é feita no sentido de 
simplificar uma situação, com o intuito de descrevê-­la. Uma alteração feita 
por um organismo em seu ambiente leva a uma modificação dessa ação, 
processo que é contínuo e apenas interrompido com a morte do organismo 
que se comporta. 
A litogravura de Escher apresenta duas mãos que se desenham 
simultaneamente em uma folha de papel, presa a uma prancheta por quatro 
tachas. O produto da ação de uma das mãos – isto é, o desenho da outra mão 
– pode vir a repercutir nessa ação, uma vez que a mão alterada desenhará 
aquela que a produziu. É interessante também notar que os desenhos estão, de 
O 
SISTEMA PERSONALIZADO 
DE ENSINO propõe uma aplicação de 
preceitos da análise do comportamento ao 
campo da educação. A proposta de Keller 
foca a análise dos temas e dos textos a serem 
ensinados, bem como a maneira pela qual 
esse processo seria avaliado.
��� ���
certa maneira, inacabados. Seguindo por este caminho, poder-­se-­ia pensar que 
essas duas mãos continuariam a se desenhar infinitamente ou que, subitamente 
parariam, como quando o resultado se mostrasse ideal.
Em uma analogia, o comportar-­se de um organismo dá-­se infinitamente 
no curso de uma vida. O comportamento é matéria não acabada, estando 
sempre por ser trabalhada – no sentido de que se modifica, evolui, nessa 
interação organismo-­ambiente. O desenho pronto, acabado, coincidiria com 
a situação na qual o organismo já não mais se comportaria, situação esta em 
que deixaria de viver.
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