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MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO – BIOQUÍMICA I – PROF. GUSTAVO – 20 13 A M I N O Á C I D O S: Métodos de separação I. Introdução Os 20 aminoácidos “primários” são os constituintes fundamentais de proteínas. As ligações peptídicas (amidas) entre alfa-aminoácidos constituem todas as estruturas de proteínas achadas na natureza, e os aminoácidos isola- dos de proteínas têm todos características estruturais comuns. A fórmula ge- ral de um aminoácido é: onde reconhecemos um grupo α-amina e um α-carboxila, ambos ligados a um carbono, denominado carbono alfa. Os demais substituintes são um hidrogênio e um grupo “R”, denominado “cadeia lateral”. Essa estrutura se aplica a 19 dos 20 aminoácidos, com exceção da Prolina, que é um Iminoácido. As diferenças observadas entre os aminoácidos são resultado do grupo R, a cadeia lateral. Os 20 aminoácidos que constituem proteínas diferem na cadeia lateral, que pode ser hidrofóbica ou polar, aromática ou alifática, car- regada ou não carregada. A variabilidade de grupos R confere aos aminoáci- dos diferentes polaridades, solubilidades e comportamento cromatográfico. A estrutura e função biológica de uma proteína depende da sua composi- ção de aminoácidos. É essencial entendermos os métodos práticos usados para a separação e identificação dos 20 aminoácidos. II. Propriedades ácido-básicas dos aminoácidos Os aminoácidos são ANFÓLITOS, ANFIPRÓTICOS ou ANFIPÁTICOS, porque contêm (pelo menos) um grupo ácido e um básico. O grupo COOH é ácido, com um pKa em torno de 2,3. Assim, em valores de pH mais ácidos do que o pKa, o grupo se encontra protonado (COOH), e acima desprotonado (COO-). Já o grupo amino (NH2) é básico, com pKa entre 9 e 10, de forma tal que em pH abaixo do pKa se encontra protonado (NH3+) e acima desprotona- do, como NH2. Lembre, ainda, que algumas cadeias laterais têm grupos ionizá- veis, e seu pK é denominado pKR ou pK3. De uma forma geral, reforçando o que vimos acima: pH < pKa: a maioria das moléculas possui o grupo protonado pH = pKa: apenas 50% das moléculas têm o grupo protonado pH > pKa: a maioria das moléculas possui o grupo desprotonado Em pH neutro ambos os grupos ligados ao carbono alfa (carboxila e ami- na) se encontram ionizados e o aminoácido existe em uma forma dipolar sem carga líquida (se não tiver grupos ionizáveis na cadeia lateral), forma denomi- Versão 9/3/2013 Pág. 1 de 10 MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO – BIOQUÍMICA I – PROF. GUSTAVO – 20 13 nada ZWITTERION1 (ÍON HÍBRIDO). O pH no qual os aminoácidos se encon- tram nessa forma é chamado de ponto ou pH isoelétrico ou isoiônico (pI). Para aminoácidos sem cadeia lateral ionizável: pI= ½ (pK1+pK2) Para aminoácidos ácidos (Asp, Glu): pI = ½ (pK1 + pKR) Para aminoácidos básicos (Lys, Arg, His): pI = ½ (pK2 + pKR) Lembrete: pK1, pK2 e pKR são os valores de pKa dos grupos α-carboxílico, α-amina e cadeia lateral, respectivamente. A relação entre o pH e o pI do aminoácido dita a condição na qual ele se encontra, em termos de carga elétrica (veja a figura abaixo): Ou seja, se o pH>pI, a carga líquida será negativa: Aá (-), se o pH=pI a carga líquida será nula: Aá (0), e se o pH<pI, a carga líquida será positiva: Aá (+). Isso é importante para você entender os procedimentos de isolamento de aminoácidos baseados na carga: cromatografia de troca iônica e eletroforese. 1 Pronuncia-se “tsvitaion”. Versão 9/3/2013 Pág. 2 de 10 MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO – BIOQUÍMICA I – PROF. GUSTAVO – 20 13 III.CROMATOGRAFIA DE TROCA IÔNICA de aminoácidos: separa pela carga Existem diferentes tipos de resinas de troca iônica: (a) trocadoras de cátions (b) trocadoras de ânions Os grupos mostrados acima são ligados covalentemente a um polímero (em geral denominado resina), e oferecidos na forma de minúsculos grãos es- féricos. A resina é misturada a um tampão que será usado também para dis- solver os aminoácidos a serem separados. Lembre: o pH do tampão vai ditar o comportamento dos aminoácidos, ou seja, terem carga líquida (- ou +) ou ne- nhuma. A mistura da resina e o tampão é colocada em uma coluna cromato- gráfica, um cilindro de vidro com duas extremidades ajustáveis. Agora vamos supor que temos uma mistura de três aminoácidos: um áci- Versão 9/3/2013 Pág. 3 de 10 MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO – BIOQUÍMICA I – PROF. GUSTAVO – 20 13 do (Aspartato), um polar (Serina) e um básico (Lisina), e aplicamos a solução à coluna antes citada, em pH neutro. Veja a seguir o que aconteceria, na figura abaixo. Observe que é representado um grão da resina, com os grupos fixos carregados negativamente (SO3-), neste exemplo. Ou seja, temos uma resina “trocadora de cátions”. Observe, na figura, que de fato existe um “contra-íon” sódio interagindo eletrostaticamente com a resina. Ao adicionarmos a mistura, a Lys, com carga positiva, desloca o Na+. Ou seja, há uma “troca de íons”, daí o nome da metodologia. Figura: Operação de uma coluna de troca iônica para a separação dos aminoácidos Asp, Ser e Lys (aspartato, serina e lisina): A carga líquida negativa do Asp faz com que aconteça repulsão eletros- tática com a carga fixa SO3- da resina, por isso esse aminoácido sai primeiro da coluna. A Ser não sofre repulsão nem interage favoravelmente, daí termos ela em segundo lugar na eluição (saída) da coluna. Por último vai sair a Lys, Versão 9/3/2013 Pág. 4 de 10 MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO – BIOQUÍMICA I – PROF. GUSTAVO – 20 13 que tem carga favorável para ser adsorvida à resina. Figura: Separação de aminoácidos em uma coluna de troca iônica Para eluir as espécies químicas adsorvidas à resina, podemos aumentar a concentração de sal, técnica que funciona para qualquer tipo de resina. Se optarmos por variar o pH, no caso das resinas de troca aniônica devemos di- minuir o pH, e no caso das resinas de troca catiônica, aumentar o pH. Sempre Versão 9/3/2013 Pág. 5 de 10 MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO – BIOQUÍMICA I – PROF. GUSTAVO – 20 13 a variação do pH deve procurar enfraquecer a carga do aminoácido retido, de tal maneira que ele possa ser eluído. IV.ELETROFORESE de aminoácidos: separa pela carga A eletroforese é um método de separação baseado no movimento de íons sob influência de um campo elétrico. Essa metodologia é usada principalmen- te para a separação de aminoácidos, peptídios e proteínas de acordo com sua carga. Todos os aminoácidos têm grupos ionizáveis que os tornam polieletróli- tos, capazes de migrar em um campo elétrico. Os aminoácidos com carga lí- quida positiva migrarão para o polo negativo (cátodo), os que têm carga nega- tiva para o polo positivo (ânodo). Um suporte inerte, tal como papel, acetato de celulose ou um gel, é usa- do como suporte para o líquido (tampão). Figura: separação de Lisina, Alanina e Aspartato por eletroforese, em pH 6,0. Para entender o que acontece acima, calcule o pI de cada aminoácido: pILys=1/2 (8,95+10,53)=9,74 ~9,7 pIAla=1/2 (2,36+9,69)=6,03 ~6,0 pIAsp=1/2(2,09+3,86)=2,98 ~3,0 Versão 9/3/2013 Pág. 6 de 10 MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO – BIOQUÍMICA I – PROF. GUSTAVO – 20 13 Ou seja, em pH 6,0 a Lisina terá carga líquida positiva, a Alanina estará no seu pI e o Aspartato terá carga líquida negativa.Isso fará com que a Lisina migre para o cátodo (pólo -), a Alanina permaneça no local de aplicação, e o Aspartato migre para o ânodo (pólo +). Em adição aos métodos de separação por carga vistos acima, vamos dar uma olhada em uma metodologia antiga, que se baseia na polaridade do ami- noácido: V. CROMATOGRAFIA EM PAPEL de aminoácidos: separa pela polaridade A cromatografia em papel pode separar diferentes aminoácidos com base nas suas solubilidades em dois solventes diferentes. Neste método, uma amostra de aminoácidos (puros e/ou em mistura) é aplicada em um pequeno ponto próximo à margem inferior de um papel cromatográfico. O extremo infe- rior é então colocado em contato com um pequeno volume de uma mistura de solventes em uma “cuba cromatográfica”. Figura: Cuba cromatográfica usada para a cromatografia em papel Versão 9/3/2013 Pág. 7 de 10 MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO – BIOQUÍMICA I – PROF. GUSTAVO – 20 13 A fase móvel contém vários componentes, um dos quais é usualmente a água, e outros, entre os quais um é um solvente apolar. Na medida em que a fase móvel ascende pelo papel por capilaridade, a água na mistura se liga ao papel (celulose) e cria uma fase estacionária. O solvente não polar continua a se movimentar, formando uma fase móvel. Na medida em que os aminoácidos têm diferentes cadeias laterais, tam- bém têm diferentes graus de solubilidade na água em relação ao solvente apo- lar. Um aminoácido com um R polar será mais solúvel na água do que no sol- vente apolar, se dissolvendo na fase estacionária. Dessa forma, terá uma me- nor migração ao longo do papel. O contrário acontece com um aminoácido com R apolar, migrando mais. Dependendo da sua solubilidade relativa na água e no solvente apolar, cada aminoácido migra de forma diferente, permitindo a separação de uma mistura. O movimento dos aminoácidos pode ser definido por um valor conhecido como valor Rf, que mede o deslocamento de um aminoácido em relação ao sol- vente. No início da cromatografia, o aminoácido é aplicado em um ponto cha- mado de origem. A cromatografia é feita a seguir, e é detida antes do solvente atingir o extremo superior do papel. O nível atingido pelo solvente é chamado de frente do solvente. O valor Rf de um aminoácido é a relação entre a distân- cia percorrida por ele desde a origem, em relação à distância percorrida pelo solvente desde a origem. Uma vez que o valor Rf de um aminoácido é constante para uma dada condição cromatográfica, um aminoácido desconhecido pode ser identificado pela comparação do seu Rf com o de aminoácidos conhecidos (padrões). Alguns aspectos técnicos são importantes em relação à cromatografia em papel: 1. Primeiro, é necessário fazer a aplicação do aminoácido em um ponto bem pequeno. A banda tende a se espalhar quando sobe pelo papel, em razão do que se não tiver cuidado, vai produzir um borrão que tornará difícil de esti- mar o Rf. 2. Segundo: o papel cromatográfico deve se manter limpo; impressões digitais e outros tipos de contaminação interferem com a cromatografia e produzem resultados ruins. 3. Por último, uma vez que os aminoácidos não têm cor, deve ser feita a reve- lação por algum método que permita obter uma coloração. O método mais comum é fazer a reação da ninidrina, o que é feito aplicando um “spray” de uma solução do reagente sobre o papel. Quando aquecida, a ninidrina pro- duz uma cor roxa de Ruherman (amarela no caso da Prolina e hidróxi-Proli- na), tornando os aminoácidos visíveis para análise. (veja as reações na próxima página): Versão 9/3/2013 Pág. 8 de 10 MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO – BIOQUÍMICA I – PROF. GUSTAVO – 20 13 Figura abaixo: reações da Ninidrina com um aminoácido (produto de cor roxa) Versão 9/3/2013 Pág. 9 de 10 MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO – BIOQUÍMICA I – PROF. GUSTAVO – 20 13 Figura a cima : reações da Ninidrina com a Prolina (produto de cor amarela) Versão 9/3/2013 Pág. 10 de 10
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