Buscar

Alienação Parental na Prática Forense

Prévia do material em texto

www.cers.com.br 
 
CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES 
Direito Civil 
Roberto Figueiredo 
1 
ALIENAÇÃO PARENTAL NA PRÁTICA FORENSE. 
 
1. Conceito. 
 
Conforme o conceito de seu pesquisador, o 
psiquiatra estadunidense Richard A. Gardner 
(1985 e ss): “A síndrome de alienação parental 
(SAP) é uma disfunção que surge primeiro no 
contexto das disputas de guarda. Sua primeira 
manifestação é a campanha que se faz para 
denegrir um dos pais, uma campanha sem 
nenhuma justificativa. É resultante da 
combinação de doutrinações programadas de 
um dos pais (lavagem cerebral) e as próprias 
contribuições da criança para a verificação do 
pai alvo”. 
 
A Lei Federal nº 12.318/2010 conceitua o ato 
de alienação: 
 
Art. 2º Considera-se ato de alienação parental 
a interferência na formação psicológica da 
criança ou do adolescente promovida ou 
induzida por um dos genitores, pelos avós ou 
pelos que tenham a criança ou adolescente 
sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para 
que repudie genitor ou que cause prejuízo ao 
estabelecimento ou à manutenção de vínculos 
com este. 
 
Parágrafo único. São formas exemplificativas 
de alienação parental, além dos atos assim 
declarados pelo juiz ou constatados por perícia, 
praticados diretamente ou com auxílio de 
terceiros: 
 
I - realizar campanha de desqualificação da 
conduta do genitor no exercício da paternidade 
ou maternidade; 
 
II - dificultar o exercício da autoridade parental; 
 
III - dificultar contato de criança ou adolescente 
com genitor; 
 
IV - dificultar o exercício do direito 
regulamentado de convivência familiar; 
 
V - omitir deliberadamente a genitor 
informações pessoais relevantes sobre a 
criança ou adolescente, inclusive escolares, 
médicas e alterações de endereço; 
 
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, 
contra familiares deste ou contra avós, para 
obstar ou dificultar a convivência deles com a 
criança ou adolescente; 
 
VII - mudar o domicílio para local distante, sem 
justificativa, visando a dificultar a convivência 
da criança ou adolescente com o outro genitor, 
com familiares deste ou com avós. 
 
 
Aplicação prática: critérios prático-
profissionais para identificar a possível 
alienação à luz dos especialistas: 
 
 
Segundo TRINCA (1984, p.37)1 “se o leigo já 
vem com uma definição acerca de quem é o 
indivíduo-problema, o profissional não pode 
aceitar acriticamente essa colocação, sob pena 
de adotar uma posição ingênua”. (grifamos) 
 
Segundo CALÇADA2 et al. (2001)3, quando 
uma criança é entrevistada, é necessário que a 
entrevista seja conduzida de maneira que a 
criança conte a sua história, ou em outros 
casos, deixando a criança livre o suficiente 
para relatar o que desejar, ou seja, não há uma 
história a ser contada. 
 
O avaliador, quando defronta a criança com 
perguntas diretivas corre o risco de 
sugestioná-la e talvez prejudicá-la 
permanentemente. É importante acessar sua 
memória e não aquilo que foi instruído ou 
ouvido repetidamente. 
 
 
 
1
 TRINCA, W. (org.) Diagnóstico Psicológico – a prática 
clínica. São Paulo: EPU, p.37, 1984. 
 
2
 Andreia CALÇADA: psicóloga formada pela Universidade do 
Estado do Rio de Janeiro; professora de cursos sobre Avaliação 
Psicológica; experiência de 10 anos em Psicologia Jurídica; pós-
graduação em Psicopedagogia pela UERJ. 
 
3
 CALÇADA, A.; NERI, L.; CAVAGGIONI, A. Falsas acusações 
de abuso sexual – o outro lado da história. Rio de Janeiro: 
Produtor Editorial Independente, 2001. 
 
 
 
 
 
 
 
 
www.cers.com.br 
 
CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES 
Direito Civil 
Roberto Figueiredo 
2 
Quais os procedimentos corretos ou incorretos 
em uma entrevista de criança sobre abuso 
sexual (verdadeiro ou falso) a saber (p.130)4: 
 
 
 
 
A criança “utilizada” para as falsas alegações 
de abuso sexual apresenta comportamentos e 
verbalizações exageradas, respostas afetivas 
inapropriadas e relatos inconsistentes. Assim, a 
criança passa a sofrer uma experiência de real 
abuso nas perícias psicológicas e físicas, e os 
tratamentos a que são submetidas são os 
mesmos empregados pelas vítimas 
verdadeiras. Por essa razão, assumem um 
estado de “falsa memória” que como um 
estigma vai acompanhá-la pelo resto da vida. 
Ou seja, uma criança falsamente ou 
supostamente abusada, ao ser tratada como 
uma criança verdadeiramente abusada passa a 
comportar-se e a reagir emocionalmente como 
se fosse realmente abusada, porque ela 
mesma passa a acreditar que “ocorreram” os 
“fatos” que “narrou”. 
 
Aplicação prática: argumentos doutrinários 
para além do direito de família: 
 
 
O entendimento da Psiquiatria Clínica da USP 
(2006, p.209)5: 
 
4
 CALÇADA, A. Falsas acusações de abuso sexual: parâmetros 
iniciais para uma avaliação. In: APASE (org.) Guarda 
Compartilhada – aspectos psicológicos e jurídicos. Porto 
Alegre: Equilíbrio, 2007, p.130. 
5
 ADED, N.L.O.; DALCIN, B.L.G.; MORAES, T.M.; 
CAVALCANTI, M.T. Abuso sexual em crianças e 
adolescentes: revisão de 100 anos de literatura. 
 
A veracidade ou a 
falsidade do abuso 
sexual deverá ser 
investigada. 
Interpretações ou 
memórias equivocadas 
por parte da criança e 
submissão ao adulto 
que levem o menor a 
mentir deliberadamente 
sobre o suposto abuso 
sexual e a formular 
falsas denúncias não 
são raras (Lipian et al., 
2004), cabendo aos 
profissionais envolvidos 
manter o 
distanciamento 
necessário à apuração 
dos fatos – daí a 
necessidade de um 
trabalho multidisciplinar 
(Pillai, 2005; Calçada et 
al., 2002). 
 
O referido artigo também descreve que (2006, 
p.207)6: 
 
A dificuldade em fixar 
memórias relativas ao 
abuso pode estar 
presente em crianças 
menores, entre 3 e 10 
anos de idade 
(Goodman et al., 2001). 
 
MIRANDA JR. (1999)7 afirma, ainda, que é 
possível conseguir-se um envolvimento das 
pessoas atendidas a ponto delas mesmas 
fornecerem os elementos mínimos para a 
 
Revista de psiquiatria clínica da USP. 33(4), 
p.204-213, 2006. Disponível em: 
<http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol33/n4/204.ht
ml em 17/05/2007>. 
 
6
 Ibidem. 
 
7
 MIRANDA JR., H.C. Uma leitura psicanalítica do 
abuso sexual de crianças: estudo de caso. III 
Congresso Ibero-Americano de Psicologia 
Jurídica. São Paulo, 1999. 
 
 
 
 
 
 
 
 
www.cers.com.br 
 
CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES 
Direito Civil 
Roberto Figueiredo 
3 
compreensão do caso. Isso é pautado em uma 
atitude cautelosa de esperar que o dado surja e 
faça sentido. 
 
Conforme afirma BRAZIL (2010)8: 
 
Há muito tempo, a 
experiência com 
crianças revela que o 
mito de que criança 
não mente está 
ultrapassado, em que 
pese a resistência dos 
adultos em crer no que 
acabamos de afirmar. 
Os pais que alienam 
seus filhos também se 
utilizam desse 
argumento, insistindo 
que seus filhos não são 
capazes de mentir e se 
indignando com os 
técnicos que avaliam a 
criança e informam o 
fato: A senhora está 
dizendo que meu filho 
é um mentiroso? 
Crianças mentem, 
inventam, fantasiam, 
criam estórias - para se 
defender de pressões 
psicológicas e/ou 
porque estão doentes 
psicologicamente. A 
doutrina especializada 
indica que quando se 
trata de avaliar uma 
criança, não se deve 
levá-la tão a sério. Isso 
significa que não se 
deve tomar como 
realidade, num primeiro 
momento, as suas 
declarações literais. O 
avaliador tem de ter o 
cuidado de buscar o 
contexto em que adeclaração é emitida. E 
 
8
 BRAZIL, Glícia B.M. A reconstrução dos vínculos afetivos pelo 
Judiciário. Revista Brasileira do Direito das Famílias e das 
Sucessões (IBDFAM). BH: IBDFAM, p.47-59, 2010. ISBN: 1982-
2219. 
 
isso só é possível se o 
profissional que avalia 
a criança tem a 
possibilidade de 
entender a dinâmica 
familiar, incluindo toda 
a família na avaliação. 
Não é crível que um 
profissional que avalie 
apenas a criança, sem 
incluir sua família, se 
valha do seu discurso 
literal para concluir pelo 
afastamento de quem 
quer que seja, pois se 
assim fosse, inócuo 
seria o instrumento da 
interpretação. 
 
Conforme salienta DOLTO (1989, p.143)9: 
 
A criança precisa, 
principalmente, de um 
interlocutor que não a 
leve imediatamente a 
sério e que 
compreenda o clima 
afetivo do qual 
emanam suas 
afirmações e sua 
“ação”. O que a criança 
diz nem sempre deve 
ser tomado à primeira 
vista. Cabe decodificar 
o desejo por trás de 
seus ditos (...) Existe 
uma lógica dos 
discursos da criança na 
qual é preciso iniciar-se 
para compreender o 
que ela quer dizer no 
curso daquilo a que 
chamamos ‘perícias’. 
 
2. A Resolução do Conselho Federal de 
Psicologia. 
 
Além disto, devem ser entrevistadas TODAS as 
pessoas envolvidas na situação na forma da 
 
9
 DOLTO, F. Quando os pais se separam. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar , 1989. 
 
 
 
 
 
 
 
 
www.cers.com.br 
 
CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES 
Direito Civil 
Roberto Figueiredo 
4 
Resolução nº 10/2010 do Conselho Federal 
de Psicologia (In: LAPLANCHE, 1988, p.65)10: 
 
O psicanalista só 
trabalha na realidade 
psíquica. Postula, 
portanto, a igualdade 
da fantasia e da 
realidade, no que se 
encontra, 
evidentemente, 
desqualificado para 
legislar fora, dar 
conselhos fora do seu 
consultório. (…) Tanto 
assim que, no 
momento em que se 
passa à realidade 
efetiva, o 
psicanalista só 
pode emitir opiniões pa
rciais, 
opiniões completament
e conjecturais sobre as 
articulações do seu 
domínio e o da justiça. 
 
3. A Perícia Judicial e a Mudança 
Paradigmática da Perspectiva. 
 
Para SHINE (In: GROENINGA e PEREIRA, 
2003, pp.239-240)11, o psicanalista, mesmo no 
lugar de perito, não tem como afirmar a 
ocorrência da transgressão pelo simples fato 
de que o periciando tenha as condições para 
tal, pois isto seria incorrer no raciocínio que 
pretende afirmar um fato baseado em 
evidências circunstanciais. Além disso, a 
própria perícia tornaria problemática uma 
afirmação quanto a uma questão legal final. 
“Ora, o perito (seja de qual área for) é chamado 
a contribuir no deslinde da causa com o 
conhecimento técnico que subsidiará o 
magistrado em sua função. Portanto, é 
vedado a ele, por princípio, definir uma 
matéria (fulano é ‘culpado’ de ter cometido 
 
10
 LAPLANCHE, J. (org.) Teoria da sedução generalizada e 
outros ensaios. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988, pp.60-71. 
 
11
 SHINE, S.K. Abuso sexual de criança. In: GROENINGA, G.C.; 
PEREIRA, R.C. (orgs.) Direito de Família e Psicanálise – rumo 
a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, p.229-251, 
2003. 
 
abuso sexual) que caberia ao juiz ou ao 
júri”.12 Segundo o autor (2003, p.240), mesmo 
que a acusação de abuso sexual em contexto 
de Vara de Família seja demonstrada, a 
incerteza quanto à autoria do suposto abusador 
pode deixar o caso sem definição. Por isso, 
certos autores defendem uma abordagem 
terapêutica desse tipo de caso, ao invés da 
abordagem tradicional de se confirmar ou não 
o abuso. 
 
MOURA et al (2008)13 criticam os profissionais 
despreparados, que redigem seus relatórios de 
maneira inadequada, com interpretações 
subjetivas que “forçam” à condução da 
conclusão conforme os interesses mais 
convenientes, a saber: 
 
Uma atitude acolhedora por 
parte do profissional é 
fundamental para que possa 
ocorrer a aproximação da 
criança ou do adolescente. Esse 
comportamento facilitador 
possibilitará que ele fale de seus 
problemas. Não cabe ao 
profissional, no entanto, tentar 
“descobrir coisas”. Os limites da 
criança ou do adolescente 
devem ser sempre respeitados. 
O importante é que fique claro 
que as mudanças em seu 
comportamento não passaram 
despercebidas e que o educador 
estará disponível para o que ele 
queira confidenciar. 
(sublinhamos). 
 
 
3. Uma Grave Consequência Processual. 
 
 
12
 Negritos e itálicos meus, para enfatizar o excerto. 
 
13
 MOURA, A.C.A.M.; SCODELARIO, A.S.; 
CAMARGO, C.N.M.F.; FERRARI, D.C.A.; MATTOS, 
G.O.; MIYAHARA, R.P. Reconstrução de vidas. 
Como prevenir e enfrentar a violência doméstica, o 
abuso e a exploração sexual de crianças e 
adolescentes. Sedes Sapientiae – CNRVV. São 
Paulo, 2008. Disponível em: 
<http://www.sedes.org.br>. Acesso em 15 nov. 
2008. 
 
 
 
 
 
 
 
 
www.cers.com.br 
 
CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES 
Direito Civil 
Roberto Figueiredo 
5 
Cabe então refletir sobre teor do Acórdão nº 
280.982-4/9, da Comarca de SÃO PAULO14: 
 
APELAÇÃO CÍVEL n° 
280.982-4/9. TJ/SP: 
(...)Fundar tão grave 
acusação no abalo 
emocional da criança 
(que outras causas 
poderia ter) e nas 
escoteiras declarações 
da mãe é agir com 
imprudência; é ser 
imperito do ponto de 
vista da especialidade; 
é agir de modo 
leviano. Graças a tal 
parecer, O. [o pai] ficou 
quase um ano sem 
poder visitar o filho de 
seis anos. 
 
 
 
 
 
4. As Peças Processuais. 
 
a) Alegação da alienação parental em petição 
inicial e seus pedidos específicos. 
 
Sugestões para a causa petendi e para as 
teses da inicial 
 
Com base no artigo 24 do Estatuto da Criança 
e do Adolescente “A perda e a suspensão do 
Poder Familiar serão decretadas judicialmente, 
em procedimento contraditório, nos casos 
previstos na legislação civil, bem como na 
hipótese de descumprimento injustificado dos 
deveres e obrigações a que alude o artigo 22”, 
do que também não destoa o artigo 157 do 
mesmo Diploma, afinal de contas: 
 
Havendo motivo grave, 
poderá a autoridade 
judiciária, ouvido o 
Ministério Público, 
 
14
 Disponível em: 
<https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do>. 
Acesso em out. 2010. 
 
decretar a suspensão do 
Poder Familiar, liminar ou 
incidentalmente, até o 
julgamento definitivo da 
causa, ficando a criança 
ou adolescente confiado 
a pessoa idônea, 
mediante termo de 
responsabilidade. 
 
Com fundamento no princípio do melhor 
interesse da criança e do adolescente, previsto 
no artigo 227 da Constituição Federal, o 
Superior Tribunal de Justiça admite a perda ou 
suspensão do poder familiar para casos que 
exponham a criança ao risco, como ocorre na 
alienação parental: 
 
Direito Civil. Família. 
Estatuto da Criança e do 
Adolescente. Ação de 
Destituição/Suspensão 
do Poder Familiar e/ou 
aplicação de medidas 
pertinentes aos pais, 
guarda, regulamentação 
de visitas e contribuição 
para garantir a criação e 
o sustento do menor. 
Situação de risco pessoal 
e social. Suspensão do 
Poder Familiar [...] 
aplicação de medidas de 
proteção à criança. 
Visitas paternas 
condicionadas ao 
tratamento psiquiátrico do 
genitor. É certo que pela 
perspectiva de proteção 
integral conferida pelo 
ECA, a criança tem 
direito a convivência 
familiar, aí incluído o 
genitor, desde que tal 
convívio não provoque 
em seu íntimo 
perturbações de ordem 
ordem emocional, que 
obstem oseu pleno e 
normal desenvolvimento 
(STJ, 3ª Turma. DJ 
02/10/2006, Recurso 
Especial 776977/RS, 
 
 
 
 
 
 
 
www.cers.com.br 
 
CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES 
Direito Civil 
Roberto Figueiredo 
6 
2005/0142155-8, RT 856-
162). 
 
 
Portanto, a ação de perda ou destituição do 
poder familiar, como já entendeu o Superior 
Tribunal de Justiça, deve ser... 
 
 
b) Alegação da alienação parental quando da 
contestação. 
 
Sugestões para o texto da resposta do réu. 
 
 
Na verdade Excelência, a parte autora age com 
abuso de direito pois os fatos efetivamente 
ocorreram de outra forma. A hipótese, ao 
contrário do quanto sustenta a inicial, é de 
evidente tentativa de alienação parental. 
 
Por conta disto, a parte ré estará 
simultaneamente com a presente medida 
apresentando reconvenção.... 
 
 
c) Alegação da alienação parental por petição 
avulsa. 
 
O artigo 4º da Lei da Alienação Federal 
autoriza o magistrado à declarar em qualquer 
momento processual, em ação autônoma ou 
incidentalmente, dando-se tramitação prioritária 
ao processo, ouvido o Ministério Público, as 
medidas provisórias necessárias para 
preservação da integridade psicológica da 
criança ou do adolescente, inclusive para 
assegurar sua convivência com genitor ou 
viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, 
se for o caso. 
 
 
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos 
Jurídicos 
LEI Nº 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010. 
Mensagem de veto 
Dispõe 
sobre a alienação 
parental e altera o art. 
236 da Lei no 8.069, de 
13 de julho de 1990. 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço 
saber que o Congresso Nacional decreta e eu 
sanciono a seguinte Lei: 
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a alienação 
parental. 
Art. 2o Considera-se ato de alienação 
parental a interferência na formação 
psicológica da criança ou do adolescente 
promovida ou induzida por um dos genitores, 
pelos avós ou pelos que tenham a criança ou 
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou 
vigilância para que repudie genitor ou que 
cause prejuízo ao estabelecimento ou à 
manutenção de vínculos com este. 
Parágrafo único. São formas 
exemplificativas de alienação parental, além 
dos atos assim declarados pelo juiz ou 
constatados por perícia, praticados diretamente 
ou com auxílio de terceiros: 
I - realizar campanha de desqualificação 
da conduta do genitor no exercício da 
paternidade ou maternidade; 
II - dificultar o exercício da autoridade 
parental; 
III - dificultar contato de criança ou 
adolescente com genitor; 
IV - dificultar o exercício do direito 
regulamentado de convivência familiar; 
V - omitir deliberadamente a genitor 
informações pessoais relevantes sobre a 
criança ou adolescente, inclusive escolares, 
médicas e alterações de endereço; 
VI - apresentar falsa denúncia contra 
genitor, contra familiares deste ou contra avós, 
para obstar ou dificultar a convivência deles 
com a criança ou adolescente; 
VII - mudar o domicílio para local distante, 
sem justificativa, visando a dificultar a 
convivência da criança ou adolescente com o 
outro genitor, com familiares deste ou com 
avós. 
Art. 3o A prática de ato de alienação 
parental fere direito fundamental da criança ou 
do adolescente de convivência familiar 
saudável, prejudica a realização de afeto nas 
relações com genitor e com o grupo familiar, 
constitui abuso moral contra a criança ou o 
adolescente e descumprimento dos deveres 
inerentes à autoridade parental ou decorrentes 
de tutela ou guarda. 
Art. 4o Declarado indício de ato de 
alienação parental, a requerimento ou de ofício, 
em qualquer momento processual, em ação 
 
 
 
 
 
 
 
www.cers.com.br 
 
CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES 
Direito Civil 
Roberto Figueiredo 
7 
autônoma ou incidentalmente, o processo terá 
tramitação prioritária, e o juiz determinará, com 
urgência, ouvido o Ministério Público, as 
medidas provisórias necessárias para 
preservação da integridade psicológica da 
criança ou do adolescente, inclusive para 
assegurar sua convivência com genitor ou 
viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, 
se for o caso. 
Parágrafo único. Assegurar-se-á à 
criança ou adolescente e ao genitor garantia 
mínima de visitação assistida, ressalvados os 
casos em que há iminente risco de prejuízo à 
integridade física ou psicológica da criança ou 
do adolescente, atestado por profissional 
eventualmente designado pelo juiz para 
acompanhamento das visitas. 
Art. 5o Havendo indício da prática de ato 
de alienação parental, em ação autônoma ou 
incidental, o juiz, se necessário, determinará 
perícia psicológica ou biopsicossocial. 
§ 1o O laudo pericial terá base em ampla 
avaliação psicológica ou biopsicossocial, 
conforme o caso, compreendendo, inclusive, 
entrevista pessoal com as partes, exame de 
documentos dos autos, histórico do 
relacionamento do casal e da separação, 
cronologia de incidentes, avaliação da 
personalidade dos envolvidos e exame da 
forma como a criança ou adolescente se 
manifesta acerca de eventual acusação contra 
genitor. 
§ 2o A perícia será realizada por 
profissional ou equipe multidisciplinar 
habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão 
comprovada por histórico profissional ou 
acadêmico para diagnosticar atos de alienação 
parental. 
§ 3o O perito ou equipe multidisciplinar 
designada para verificar a ocorrência de 
alienação parental terá prazo de 90 (noventa) 
dias para apresentação do laudo, prorrogável 
exclusivamente por autorização judicial 
baseada em justificativa circunstanciada. 
Art. 6o Caracterizados atos típicos de 
alienação parental ou qualquer conduta que 
dificulte a convivência de criança ou 
adolescente com genitor, em ação autônoma 
ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente 
ou não, sem prejuízo da decorrente 
responsabilidade civil ou criminal e da ampla 
utilização de instrumentos processuais aptos a 
inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a 
gravidade do caso: 
I - declarar a ocorrência de alienação 
parental e advertir o alienador; 
II - ampliar o regime de convivência 
familiar em favor do genitor alienado; 
III - estipular multa ao alienador; 
IV - determinar acompanhamento 
psicológico e/ou biopsicossocial; 
V - determinar a alteração da guarda para 
guarda compartilhada ou sua inversão; 
VI - determinar a fixação cautelar do 
domicílio da criança ou adolescente; 
VII - declarar a suspensão da autoridade 
parental. 
Parágrafo único. Caracterizado mudança 
abusiva de endereço, inviabilização ou 
obstrução à convivência familiar, o juiz também 
poderá inverter a obrigação de levar para ou 
retirar a criança ou adolescente da residência 
do genitor, por ocasião das alternâncias dos 
períodos de convivência familiar. 
Art. 7o A atribuição ou alteração da 
guarda dar-se-á por preferência ao genitor que 
viabiliza a efetiva convivência da criança ou 
adolescente com o outro genitor nas hipóteses 
em que seja inviável a guarda compartilhada. 
Art. 8o A alteração de domicílio da criança 
ou adolescente é irrelevante para a 
determinação da competência relacionada às 
ações fundadas em direito de convivência 
familiar, salvo se decorrente de consenso entre 
os genitores ou de decisão judicial. 
 Art. 9o (VETADO) 
Art. 10. (VETADO) 
Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data 
de sua publicação. 
Brasília, 26 de agosto de 2010; 189o 
da Independência e 122o da República.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes