Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Direito Civil Roberto Figueiredo 1 ALIENAÇÃO PARENTAL NA PRÁTICA FORENSE. 1. Conceito. Conforme o conceito de seu pesquisador, o psiquiatra estadunidense Richard A. Gardner (1985 e ss): “A síndrome de alienação parental (SAP) é uma disfunção que surge primeiro no contexto das disputas de guarda. Sua primeira manifestação é a campanha que se faz para denegrir um dos pais, uma campanha sem nenhuma justificativa. É resultante da combinação de doutrinações programadas de um dos pais (lavagem cerebral) e as próprias contribuições da criança para a verificação do pai alvo”. A Lei Federal nº 12.318/2010 conceitua o ato de alienação: Art. 2º Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. Aplicação prática: critérios prático- profissionais para identificar a possível alienação à luz dos especialistas: Segundo TRINCA (1984, p.37)1 “se o leigo já vem com uma definição acerca de quem é o indivíduo-problema, o profissional não pode aceitar acriticamente essa colocação, sob pena de adotar uma posição ingênua”. (grifamos) Segundo CALÇADA2 et al. (2001)3, quando uma criança é entrevistada, é necessário que a entrevista seja conduzida de maneira que a criança conte a sua história, ou em outros casos, deixando a criança livre o suficiente para relatar o que desejar, ou seja, não há uma história a ser contada. O avaliador, quando defronta a criança com perguntas diretivas corre o risco de sugestioná-la e talvez prejudicá-la permanentemente. É importante acessar sua memória e não aquilo que foi instruído ou ouvido repetidamente. 1 TRINCA, W. (org.) Diagnóstico Psicológico – a prática clínica. São Paulo: EPU, p.37, 1984. 2 Andreia CALÇADA: psicóloga formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro; professora de cursos sobre Avaliação Psicológica; experiência de 10 anos em Psicologia Jurídica; pós- graduação em Psicopedagogia pela UERJ. 3 CALÇADA, A.; NERI, L.; CAVAGGIONI, A. Falsas acusações de abuso sexual – o outro lado da história. Rio de Janeiro: Produtor Editorial Independente, 2001. www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Direito Civil Roberto Figueiredo 2 Quais os procedimentos corretos ou incorretos em uma entrevista de criança sobre abuso sexual (verdadeiro ou falso) a saber (p.130)4: A criança “utilizada” para as falsas alegações de abuso sexual apresenta comportamentos e verbalizações exageradas, respostas afetivas inapropriadas e relatos inconsistentes. Assim, a criança passa a sofrer uma experiência de real abuso nas perícias psicológicas e físicas, e os tratamentos a que são submetidas são os mesmos empregados pelas vítimas verdadeiras. Por essa razão, assumem um estado de “falsa memória” que como um estigma vai acompanhá-la pelo resto da vida. Ou seja, uma criança falsamente ou supostamente abusada, ao ser tratada como uma criança verdadeiramente abusada passa a comportar-se e a reagir emocionalmente como se fosse realmente abusada, porque ela mesma passa a acreditar que “ocorreram” os “fatos” que “narrou”. Aplicação prática: argumentos doutrinários para além do direito de família: O entendimento da Psiquiatria Clínica da USP (2006, p.209)5: 4 CALÇADA, A. Falsas acusações de abuso sexual: parâmetros iniciais para uma avaliação. In: APASE (org.) Guarda Compartilhada – aspectos psicológicos e jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007, p.130. 5 ADED, N.L.O.; DALCIN, B.L.G.; MORAES, T.M.; CAVALCANTI, M.T. Abuso sexual em crianças e adolescentes: revisão de 100 anos de literatura. A veracidade ou a falsidade do abuso sexual deverá ser investigada. Interpretações ou memórias equivocadas por parte da criança e submissão ao adulto que levem o menor a mentir deliberadamente sobre o suposto abuso sexual e a formular falsas denúncias não são raras (Lipian et al., 2004), cabendo aos profissionais envolvidos manter o distanciamento necessário à apuração dos fatos – daí a necessidade de um trabalho multidisciplinar (Pillai, 2005; Calçada et al., 2002). O referido artigo também descreve que (2006, p.207)6: A dificuldade em fixar memórias relativas ao abuso pode estar presente em crianças menores, entre 3 e 10 anos de idade (Goodman et al., 2001). MIRANDA JR. (1999)7 afirma, ainda, que é possível conseguir-se um envolvimento das pessoas atendidas a ponto delas mesmas fornecerem os elementos mínimos para a Revista de psiquiatria clínica da USP. 33(4), p.204-213, 2006. Disponível em: <http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol33/n4/204.ht ml em 17/05/2007>. 6 Ibidem. 7 MIRANDA JR., H.C. Uma leitura psicanalítica do abuso sexual de crianças: estudo de caso. III Congresso Ibero-Americano de Psicologia Jurídica. São Paulo, 1999. www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Direito Civil Roberto Figueiredo 3 compreensão do caso. Isso é pautado em uma atitude cautelosa de esperar que o dado surja e faça sentido. Conforme afirma BRAZIL (2010)8: Há muito tempo, a experiência com crianças revela que o mito de que criança não mente está ultrapassado, em que pese a resistência dos adultos em crer no que acabamos de afirmar. Os pais que alienam seus filhos também se utilizam desse argumento, insistindo que seus filhos não são capazes de mentir e se indignando com os técnicos que avaliam a criança e informam o fato: A senhora está dizendo que meu filho é um mentiroso? Crianças mentem, inventam, fantasiam, criam estórias - para se defender de pressões psicológicas e/ou porque estão doentes psicologicamente. A doutrina especializada indica que quando se trata de avaliar uma criança, não se deve levá-la tão a sério. Isso significa que não se deve tomar como realidade, num primeiro momento, as suas declarações literais. O avaliador tem de ter o cuidado de buscar o contexto em que adeclaração é emitida. E 8 BRAZIL, Glícia B.M. A reconstrução dos vínculos afetivos pelo Judiciário. Revista Brasileira do Direito das Famílias e das Sucessões (IBDFAM). BH: IBDFAM, p.47-59, 2010. ISBN: 1982- 2219. isso só é possível se o profissional que avalia a criança tem a possibilidade de entender a dinâmica familiar, incluindo toda a família na avaliação. Não é crível que um profissional que avalie apenas a criança, sem incluir sua família, se valha do seu discurso literal para concluir pelo afastamento de quem quer que seja, pois se assim fosse, inócuo seria o instrumento da interpretação. Conforme salienta DOLTO (1989, p.143)9: A criança precisa, principalmente, de um interlocutor que não a leve imediatamente a sério e que compreenda o clima afetivo do qual emanam suas afirmações e sua “ação”. O que a criança diz nem sempre deve ser tomado à primeira vista. Cabe decodificar o desejo por trás de seus ditos (...) Existe uma lógica dos discursos da criança na qual é preciso iniciar-se para compreender o que ela quer dizer no curso daquilo a que chamamos ‘perícias’. 2. A Resolução do Conselho Federal de Psicologia. Além disto, devem ser entrevistadas TODAS as pessoas envolvidas na situação na forma da 9 DOLTO, F. Quando os pais se separam. Rio de Janeiro: Jorge Zahar , 1989. www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Direito Civil Roberto Figueiredo 4 Resolução nº 10/2010 do Conselho Federal de Psicologia (In: LAPLANCHE, 1988, p.65)10: O psicanalista só trabalha na realidade psíquica. Postula, portanto, a igualdade da fantasia e da realidade, no que se encontra, evidentemente, desqualificado para legislar fora, dar conselhos fora do seu consultório. (…) Tanto assim que, no momento em que se passa à realidade efetiva, o psicanalista só pode emitir opiniões pa rciais, opiniões completament e conjecturais sobre as articulações do seu domínio e o da justiça. 3. A Perícia Judicial e a Mudança Paradigmática da Perspectiva. Para SHINE (In: GROENINGA e PEREIRA, 2003, pp.239-240)11, o psicanalista, mesmo no lugar de perito, não tem como afirmar a ocorrência da transgressão pelo simples fato de que o periciando tenha as condições para tal, pois isto seria incorrer no raciocínio que pretende afirmar um fato baseado em evidências circunstanciais. Além disso, a própria perícia tornaria problemática uma afirmação quanto a uma questão legal final. “Ora, o perito (seja de qual área for) é chamado a contribuir no deslinde da causa com o conhecimento técnico que subsidiará o magistrado em sua função. Portanto, é vedado a ele, por princípio, definir uma matéria (fulano é ‘culpado’ de ter cometido 10 LAPLANCHE, J. (org.) Teoria da sedução generalizada e outros ensaios. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988, pp.60-71. 11 SHINE, S.K. Abuso sexual de criança. In: GROENINGA, G.C.; PEREIRA, R.C. (orgs.) Direito de Família e Psicanálise – rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, p.229-251, 2003. abuso sexual) que caberia ao juiz ou ao júri”.12 Segundo o autor (2003, p.240), mesmo que a acusação de abuso sexual em contexto de Vara de Família seja demonstrada, a incerteza quanto à autoria do suposto abusador pode deixar o caso sem definição. Por isso, certos autores defendem uma abordagem terapêutica desse tipo de caso, ao invés da abordagem tradicional de se confirmar ou não o abuso. MOURA et al (2008)13 criticam os profissionais despreparados, que redigem seus relatórios de maneira inadequada, com interpretações subjetivas que “forçam” à condução da conclusão conforme os interesses mais convenientes, a saber: Uma atitude acolhedora por parte do profissional é fundamental para que possa ocorrer a aproximação da criança ou do adolescente. Esse comportamento facilitador possibilitará que ele fale de seus problemas. Não cabe ao profissional, no entanto, tentar “descobrir coisas”. Os limites da criança ou do adolescente devem ser sempre respeitados. O importante é que fique claro que as mudanças em seu comportamento não passaram despercebidas e que o educador estará disponível para o que ele queira confidenciar. (sublinhamos). 3. Uma Grave Consequência Processual. 12 Negritos e itálicos meus, para enfatizar o excerto. 13 MOURA, A.C.A.M.; SCODELARIO, A.S.; CAMARGO, C.N.M.F.; FERRARI, D.C.A.; MATTOS, G.O.; MIYAHARA, R.P. Reconstrução de vidas. Como prevenir e enfrentar a violência doméstica, o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes. Sedes Sapientiae – CNRVV. São Paulo, 2008. Disponível em: <http://www.sedes.org.br>. Acesso em 15 nov. 2008. www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Direito Civil Roberto Figueiredo 5 Cabe então refletir sobre teor do Acórdão nº 280.982-4/9, da Comarca de SÃO PAULO14: APELAÇÃO CÍVEL n° 280.982-4/9. TJ/SP: (...)Fundar tão grave acusação no abalo emocional da criança (que outras causas poderia ter) e nas escoteiras declarações da mãe é agir com imprudência; é ser imperito do ponto de vista da especialidade; é agir de modo leviano. Graças a tal parecer, O. [o pai] ficou quase um ano sem poder visitar o filho de seis anos. 4. As Peças Processuais. a) Alegação da alienação parental em petição inicial e seus pedidos específicos. Sugestões para a causa petendi e para as teses da inicial Com base no artigo 24 do Estatuto da Criança e do Adolescente “A perda e a suspensão do Poder Familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o artigo 22”, do que também não destoa o artigo 157 do mesmo Diploma, afinal de contas: Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, 14 Disponível em: <https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do>. Acesso em out. 2010. decretar a suspensão do Poder Familiar, liminar ou incidentalmente, até o julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade. Com fundamento no princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, previsto no artigo 227 da Constituição Federal, o Superior Tribunal de Justiça admite a perda ou suspensão do poder familiar para casos que exponham a criança ao risco, como ocorre na alienação parental: Direito Civil. Família. Estatuto da Criança e do Adolescente. Ação de Destituição/Suspensão do Poder Familiar e/ou aplicação de medidas pertinentes aos pais, guarda, regulamentação de visitas e contribuição para garantir a criação e o sustento do menor. Situação de risco pessoal e social. Suspensão do Poder Familiar [...] aplicação de medidas de proteção à criança. Visitas paternas condicionadas ao tratamento psiquiátrico do genitor. É certo que pela perspectiva de proteção integral conferida pelo ECA, a criança tem direito a convivência familiar, aí incluído o genitor, desde que tal convívio não provoque em seu íntimo perturbações de ordem ordem emocional, que obstem oseu pleno e normal desenvolvimento (STJ, 3ª Turma. DJ 02/10/2006, Recurso Especial 776977/RS, www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Direito Civil Roberto Figueiredo 6 2005/0142155-8, RT 856- 162). Portanto, a ação de perda ou destituição do poder familiar, como já entendeu o Superior Tribunal de Justiça, deve ser... b) Alegação da alienação parental quando da contestação. Sugestões para o texto da resposta do réu. Na verdade Excelência, a parte autora age com abuso de direito pois os fatos efetivamente ocorreram de outra forma. A hipótese, ao contrário do quanto sustenta a inicial, é de evidente tentativa de alienação parental. Por conta disto, a parte ré estará simultaneamente com a presente medida apresentando reconvenção.... c) Alegação da alienação parental por petição avulsa. O artigo 4º da Lei da Alienação Federal autoriza o magistrado à declarar em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, dando-se tramitação prioritária ao processo, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso. Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010. Mensagem de veto Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a alienação parental. Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. Art. 3o A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda. Art. 4o Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Direito Civil Roberto Figueiredo 7 autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso. Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor garantia mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em que há iminente risco de prejuízo à integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado por profissional eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das visitas. Art. 5o Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial. § 1o O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor. § 2o A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental. § 3o O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada. Art. 6o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador; IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental. Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar. Art. 7o A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada. Art. 8o A alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a determinação da competência relacionada às ações fundadas em direito de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores ou de decisão judicial. Art. 9o (VETADO) Art. 10. (VETADO) Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 26 de agosto de 2010; 189o da Independência e 122o da República.
Compartilhar