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Luria e as Unidades Funcionais

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Luria e as Unidades Funcionais
 Aleksandr Romanovick Luria é um nome inevitável no estudo da neuropsicologia. Ele possibilitou uma organização dos construtos acerca da atividade mental de maneira a facilitar seu estudo e entendimento. A partir do estudo psicológico de pacientes com lesões cerebrais locais, Luria descreveu o cérebro como um sistema complexo formado por unidades funcionais.
Os processos mentais humanos não estão localizados em restritas áreas do cérebro, mas ocorrem pela participação de grupos de estruturas cerebrais operando em concerto. Há bases sólidas para se distinguir três unidades funcionais básicas cuja participação se torna necessária para qualquer tipo de atividade mental. Uma unidade para regular o tono e a vigília, uma unidade para obter, processar e armazenar as informações que chegam do mundo exterior e uma unidade para programar, regular e verificar a atividade mental.
 Cada unidade apresenta sua própria estrutura hierarquizada e consiste em pelo menos três zonas corticais construídas uma acima da outra: as áreas primárias(de projeção) recebem impulsos da periferia e o enviam para ela; as secundárias(de projeção- associação), onde chegam e são processadas as informações e as terciárias (zonas de superposição) que são responsáveis pelas formas mais complexas de atividade mental. 
A primeira unidade destina-se a manter um nível ótimo de tono cortical, manter o cérebro vigil. Os processos de excitação que ocorrem no córtex desperto obedecem a uma lei de intensidade, segundo a qual, todo estímulo forte evoca uma resposta forte, e tampouco o estímulo fraco acarreta uma resposta fraca. As estruturas que regulam o tono cortical estão localizadas no subcórtex e no tronco cerebral. Lesões nessas áreas do cérebro geram diminuição pronunciada do tono cortical, fadiga, sono, estados acinéticos, por vezes, estado de coma. Essa unidade é de suma importância visto que qualquer processamento adequado de informações no cérebro, é necessário que o indivíduo esteja vigíl.
A formação reticular, que é uma estrutura constituída por uma rede nervosa de neurônios interconectados situada no tronco cerebral que gera impulsos gradativos que modulam a atividade cortical. A formação reticular forma dois sistemas um ascendente e outro descendente. O ascendente manda estímulos da periferia para o sistema nervoso central e o descendente faz o caminho oposto. Suas ações ativadoras e inibitórias são ditas como não específicas, isso é, afetam todas as funções sensoriais e motoras de maneira igual. Regula os estados de sono e vigília, essa é sua principal função.
A segunda unidade funcional é a unidade destinada a receber, analisar e armazenar informações. Essa unidade localiza-se nas regiões laterais do neocórtex sobre a superfície convexa dos hemisférios, regiões posteriores do córtex ocpital (visual), temporal (auditiva) e parietal (sensorial geral).
Essa estrutura é formada por neurônios isolados  que se situam nas partes determinadas do córtex. Não atuam de acordo com o princípio de alterações graduais, e sim obedecendo à regra do "tudo ou nada", recebendo impulsos individualizados e transmitindo-os a outros grupos de neurônios. Os neurônios dessa unidade possuem grande especifidade modal, ou seja, recebem informações por modalidades: visuais, auditivas, vestibulares ou sensoriais. 
Como foi dito anteriormente, as unidades possuem uma hierarquia interna em áreas primárias, secundárias e terciárias. Os neurônios visuais da área primária da segunda unidade funcional, por exemplo, são muito específicos e respondem tão somente à estímulos visuais (gradações de cor, caráter de linhas, direção de movimento). Acima da área primária há uma superestrutura de áreas visuais secundárias (associação) que convertem a projeção e as áreas terciárias (superposição), localizadas na fronteira entre os córtices occipital, temporal e pós central, que são responsáveis por possibilitar que grupos de vários analisadores funcionem em conserto.  
Assim, a atividade gnóstica humana, nunca ocorre vinculada à uma única modalidade (visual, auditiva ou tátil) o que é resultado de uma atividade polimodal, que resulta do funcionamento combinado de um sistema completo de zonas corticais. 
A partir disso, Luria distinguiu três leis básicas do funcionamento das regiões corticais. A primeira diz respeito à sua estrutura hierárquica ilustrada pela zonas corticais primárias, secundárias e terciárias que se diferenciam progressivamente pela síntese mais complexa da informação.
A lei da especificidade decrescente, diz respeito ao fato das zonas primárias terem especificidade modal máxima, as áreas secundárias, com seus neurônios associativos possuem especificidade em grau menor e essa especificidade modal se torna ainda menor nas áreas terciárias ditas "zonas de superposição".
A terceira lei diz respeito à lateralização progressiva(crescente), segundo a qual, as áreas primárias de ambos os hemisférios têm o papel de projetoras contralaterais dos estímulos recebidos, não havendo dominância de um hemisfério sobre o outro. A situação é diferente em relação às áreas secundárias e terciárias onde vemos, por exemplo, uma maior especialização dos movimentos da mão direita, tornando o hemisfério direito do cérebro dominante em pessoas destras e esse hemisfério passa a ser responsável por funções de fala enquanto o hemisfério direito, não vinculado à atividade da mão direita ou à fala, permaneceu subdominante.
O hemisfério esquerdo passa a desempenhar um papel fundamental em todas as formas superiores de atividade cognitiva ligadas à fala, tais como a percepção organizada em esquemas lógicos e memória verbal, enquanto o hemisfério direito passa a desempenhar papéis subalternos, ou nenhum papel nessas atividades. Ou seja, as funções das zonas secundárias e terciárias no hemisfério dominante passam a se diferir drasticamente das funções das mesmas zonas no outro hemisfério. Essa diferenciação dos hemisférios ligada à fala distingue radicalmente a organização do cérebro dos humanos e dos outros animais que não têm o comportamento organizado pela fala.
Porém, isso não é uma regra absoluta, visto que é possível haver pessoas com a dominância dos hemisférios compartilhada e até pessoas em que a dominância do hemisfério esquerdo é ausente.
A terceira unidade funcional programa, regula e verifica as atividades conscientes. O homem não apenas recebe estímulos do mundo exterior, ele cria intenções, formula planos e programa suas ações, inspeciona sua realização e regula seu comportamento, verifica sua atividade comparando as ações com o plano original e corrigindo os erros cometidos. Essas atividades são oriundas na parte anterior do cérebro, antes do giro pré-central. Sua via de saída é o córtex motor. 
A terceira unidade também se divide em áreas primárias, secundárias e terciárias e segue as mesmas leis da segunda unidade. A grande diferença é que enquanto na segunda unidade, aferente, os processos vão das zonas primárias às terciárias, agora eles seguem um ritmo descendente, indo do nível mais alto(terciário) onde os planos motores são formados, à estrutura motora primária que envia os impulsos preparados para a periferia. Outra diferença é que essa unidade não é mais formada por zonas modalmente específicas, mas é formanda inteiramente por sistemas do tipo eferente motor e está constantemente sob a influência de estruturas da unidade aferente.
Bibliografia: Luria, A. R., Fundamentos de Neuropsicologia. Ed. da Universidade de São Paulo.

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