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A importância do controle interno no Poder Legislativo: processos licitatórios Orientando: Ângela Maria Borges Vargas Orientadora: Magda Rosane Peres Brazil, Mestra RESUMO O presente estudo aborda a importância do controle interno na Administração Municipal, com ênfase na atuação deste no âmbito do Legislativo de Porto Alegre, tendo a finalidade de auxiliar na avaliação do cumprimento das metas orçamentárias, na comprovação da legalidade, na avaliação dos resultados, bem como na movimentação de bens, direitos e obrigações. Desta forma, o objetivo geral deste trabalho é analisar a atuação do controle interno no âmbito da Câmara Municipal de Porto Alegre sobre os procedimentos relacionados a licitações. Para tanto, faz-se uma fundamentação legal, com base na Constituição Federal de 1988 e legislação infraconstitucional, além de enunciar as principais inconsistências encontradas. A estratégia metodológica utilizada para se alcançar o objetivo proposto consiste de um estudo descritivo qualitativo por apenas descrever as irregularidades ou inconsistências observadas nos processos licitatórios. A abordagem do problema é qualitativa, pois se busca identificar e avaliar os problemas apresentados. A coleta de dados tem por base os principais apontamentos efetuados pela pesquisadora em planilhas sem interferência e ou manipulação, assumindo a forma de estudo de caso. Ao final do trabalho conclui-se que é dever do controle interno prevenir a ocorrência de erros e possibilitar a detecção tempestiva destes, quando ocorrem. Assim como, as irregularidades apontadas não decorrem de fraudes ou má fé do servidor público, mas estão relacionadas, sobretudo, com a falta de informação e orientação técnica, ou seja, ocorrem em função de despreparo do funcionário por desconhecimento da legislação, de vícios incrustados no dia a dia de suas atividades. Palavras-chave: Administração Municipal – Câmara Municipal- Controle Interno 1. INTRODUÇÃO A administração pública, nas últimas décadas do século XX, tem passado por sérias e relevantes mudanças. Essas alterações estão diretamente relacionadas a uma série de fatores, como por exemplo: a instituição de novas legislações, o avanço da tecnologia, a facilidade de acesso à informação e o crescimento em todos os setores da administração gerencial, tornando-a mais complexa e exigindo cada vez mais dos seus gestores. 2 Nesse contexto, a importância do controle interno na gestão pública, avança significativamente com a Constituição de 1988, denominada de “Constituição Cidadã” e, posteriormente, com a aprovação, em 04 de maio de 2000, da Lei Complementar nº 101, também conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), a qual reafirmou e determinou novas medidas de controle, transparência e publicidade da administração pública. Desta forma, pode-se afirmar que na administração pública, a função controle é exercida em decorrência de exigências legais. A implantação de um sistema de controle interno, mais do que uma obrigação para as administrações públicas, é de extrema importância para os gestores, pois os auxilia como controle imediato na avaliação do cumprimento das metas orçamentárias, na comprovação da legalidade, na avaliação dos resultados e na movimentação de bens, direitos e obrigações. Convém, ainda, registrar que o controle interno é aquele que o Poder Público exerce sobre seus próprios atos, com o objetivo de assegurar a execução desses atos dentro dos princípios básicos da administração pública, definidos no artigo 37 da Constituição Federal: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Esse controle deriva do poder de autotutela que a Administração exerce sobre seus próprios atos e agentes. O controle interno, segundo Cavalheiro e Flores (2007, p.17), é orientado para realizar a auto avaliação da administração (com suas limitações usuais); abrange preocupações de ordem gerencial (eficiência e contributividade), programática (eficácia e convergência) e administrativo-legal (conformidade). Relativamente aos Municípios, a Constituição Federal, trouxe uma inovação, ao determinar em seu artigo 31 que a fiscalização do Município, abrangendo o Poder Legislativo será exercida pelo Poder Executivo através dos sistemas de controle interno. Entendimento adotado pelo Tribunal de Contas do Estado/RS, por meio da Resolução n.º 936/2012, artigo 3.º. Traz-se à baila esse entendimento constitucional sobre a fiscalização do Poder Executivo aos atos administrativos da Câmara de Vereadores, face a dificuldade do entendimento de duas premissas: o Executivo atua sobre as funções atípicas exercidas pelo Legislativo, as que são de ordem administrativas, jamais sobre as legislativas que 3 lhe são típicas. A segunda premissa relaciona-se com o denominado “Sistema de Freios e Contrapesos”, isto é, “só o poder freia o poder” Por fim, justifica-se este trabalho, considerando que a Câmara de Vereadores não possui arrecadação própria, ela é uma unidade orçamentária do Poder Executivo, então está sujeita ao controle interno deste. Nesse sentido, de acordo com Cruz e Glock (2006, p.47): “na qualidade de órgão setorial do Sistema de Controle Interno do Município, a Câmara subordina-se à observância de normas e procedimentos de controle, a serem por e orientação técnica do órgão central do Sistema, objetivando a integração contábil com o Poder Executivo. ” O objetivo geral deste trabalho é analisar a atuação do controle interno no âmbito da Câmara Municipal de Porto Alegre quanto aos processos licitatórios. Constituindo-se como objetivos específicos deste trabalho mostrar a importância do controle interno na gestão pública; mapear/identificar os principais problemas apresentados nos processos licitatórios sob o aspecto legal e identificar os erros mais comuns no correto preenchimento das Notas de Empenho e de Liquidação da despesa. Face ao exposto, o presente trabalho tem o papel de esclarecer à seguinte questão: quais são as principais inconsistências identificadas pelo Setor de Controle Interno no âmbito da Câmara Municipal de Porto Alegre quanto aos processos licitatórios? 2 REFERENCIAL TEÓRICO Nesta seção são apresentadas a fundamentação legal do controle interno, os conceitos gerais de acordo com a literatura existente relacionada à temática controle na Administração Pública, que contribuirão para a compreensão do tema em estudo. 2.1 Fundamentação Legal do Controle Interno na Administração Pública A legalidade e a legitimidade dos atos administrativos são um imperativo constitucional, como consequência há uma legislação infraconstitucional que exige e regulamenta a atividade de controle interno. 4 2.1.1 Constituição Federal A Constituição Federal de 1988 trouxe novas exigências à Administração Pública, inclusive no que se refere ao controle, como se observa por meio dos artigos a seguir reproduzidos: Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. (…) Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncias de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, epelo sistema de controle interno de cada Poder. (destacou-se) Pelo texto constitucional, depreende-se que o artigo 31 refere-se somente aos Municípios, enquanto que o artigo 70 a todas as esferas de Governo, em especial à União, aos Estados e ao Distrito Federal. De acordo com os ensinamentos de Cavalheiro e Flores (2007, p.24), apesar de, aparentemente, o final do artigo 70 induzir que cada Poder terá o seu sistema de controle interno; não há conflito em sua interpretação. Uma vez que para os Municípios há a regra específica do artigo 31. E entre a regra específica e geral, prevalece a primeira, por disciplinar em regime especial sobre o assunto. Para eles, enquanto não houver medida judicial impedindo a aplicação do artigo 31 da CF/88, a organização do sistema de controle interno é de competência do Poder Executivo. 2.2.2 Lei Federal n.º 4320/1964 A Lei Federal n.º 4320, de 17 de março de 1964, que estatui normas de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, suas Autarquias e Fundações, marca o início do controle na administração pública brasileira. Antes da Lei n.º 4320/64 nenhum instrumento legal tinha abordado a adoção do controle interno em estruturas de entidades governamentais. Contudo, em função de estabelecer novas medidas para a administração pública, a referida lei contemplou a obrigatoriedade de adequação do controle interno, tendo no primeiro momento dado 5 ênfase ao controle da execução orçamentária. Nos artigos 75 a 79, dispõe sobre controle interno: Art. 75. O controle da execução orçamentária compreenderá: I - a legalidade dos atos de que resultem a arrecadação da receita ou a realização da despesa, o nascimento ou a extinção de direitos e obrigações; II - a fidelidade funcional dos agentes da administração, responsáveis por bens e valores públicos; III - o cumprimento do programa de trabalho expresso em termos monetários e em termos de realização de obras e prestação de serviços. Art. 76. O Poder Executivo exercerá os três tipos de controle a que se refere o artigo 75, sem prejuízo das atribuições do Tribunal de Contas ou órgão equivalente. Art. 77. A verificação da legalidade dos atos de execução orçamentária será prévia, concomitante e subsequente. Art. 78. Além da prestação ou tomada de contas anual, quando instituída em lei, ou por fim de gestão, poderá haver, a qualquer tempo, levantamento, prestação ou tomada de contas de todos os responsáveis por bens ou valores públicos. Art. 79. Ao órgão incumbido da elaboração da proposta orçamentária ou a outro indicado na legislação, caberá o controle estabelecido no inciso III do artigo 75. Parágrafo único. Esse controle far-se-á, quando for o caso, em termos de unidades de medida, previamente estabelecidos para cada atividade. A Lei nº 4320/64, além de tratar do conceito de controle no seu sentido mais amplo, definindo sua universalidade, ou seja, incluindo o controle em todos os atos da administração pública, merece ser destacada por enfatizar que o controle interno compete ao Poder Executivo. Ainda hoje, no Brasil, as atividades de planejamento e orçamento, controle e prestação de contas do setor público são orientadas por esta lei. Em resumo, a Lei n.º 4320/64 ordena a existência de controle durante a execução orçamentária, assim como cita os tipos, a forma e os meios e ressalta a importância da Contabilidade e dos setores de planejamento para o controle interno. 2.2.3 Lei Federal n.º 101/2000 A Lei n.º 101, de 04 de maio de 2000, popularmente conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. A instituição do sistema de controle interno se tornou uma necessidade de toda a administração para cumprir com suas atribuições referentes ao controle e fiscalização da gestão fiscal, nos termos do artigo 59: Art. 59. O Poder Legislativo, diretamente ou com o auxílio dos Tribunais de Contas, e o sistema de controle interno de cada Poder e do Ministério Público, fiscalizarão o cumprimento das normas desta Lei Complementar, com ênfase no que se refere a: I - atingimento das metas estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias; 6 II - limites e condições para realização de operações de crédito e inscrição em Restos a Pagar; III - medidas adotadas para o retorno da despesa total com pessoal ao respectivo limite, nos termos dos arts. 22 e 23; IV - providências tomadas, conforme o disposto no art. 31, para recondução dos montantes das dívidas consolidada e mobiliária aos respectivos limites; V - destinação de recursos obtidos com a alienação de ativos, tendo em vista as restrições constitucionais e as desta Lei Complementar; VI - cumprimento do limite de gastos totais dos legislativos municipais, quando houver. (...) A Lei de Responsabilidade Fiscal constitui um divisor de águas na Administração Pública brasileira, pela introdução de novas práticas de gestão pública. Apresenta regras claras e precisas no que concerne ao controle de gastos e do endividamento público, reforça o aspecto da transparência com a exigência de publicações de relatórios resumidos de execução orçamentária e dos relatórios de gestão fiscal, quadrimestral (Araújo e Loureiro, 2005). Neste contexto, é importante frisar que o parágrafo único do artigo 54 da LRF determina que o Relatório de Gestão Fiscal obrigatoriamente deverá ser assinado pelo controle interno. 2.2.4 Lei Federal n.º 8.666/1993 A Lei n.º 8.666, de 21 de junho de 1993, que estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos no âmbito da administração pública brasileira, também faz referência ao sistema de controle interno, conforme exposto a seguir: Art.113.O controle das despesas decorrentes dos contratos e demais instrumentos regidos por esta Lei será feito pelo Tribunal de Contas competente, na forma da legislação pertinente, ficando os órgãos interessados da Administração responsáveis pela demonstração da legalidade e regularidade da despesa e execução, nos termos da Constituição e sem prejuízo do sistema de controle interno nela previsto. §1oQualquer licitante, contratado ou pessoa física ou jurídica poderá representar ao Tribunal de Contas ou aos órgãos integrantes do sistema de controle interno contra irregularidades na aplicação desta Lei, para os fins do disposto neste artigo. §2o Os Tribunais de Contas e os órgãos integrantes do sistema de controle interno poderão solicitar para exame, até o dia útil imediatamente anterior à data de recebimento das propostas, cópia de edital de licitação já publicado, obrigando-se os órgãos ou entidades da Administração interessada à adoção de medidas corretivas pertinentes que, em função desse exame, lhes forem determinadas. (destacou-se) 7 Além da Constituição de 1988, os dispositivos infraconstitucionais acima elencados, também corroboram a obrigatoriedade, assim como a importância da existência do sistema de controle interno na administração pública. 2.2 Controle Interno 2.2.1 Definições de Controle Interno e suas Perspectivas A palavra “controle” originou-se do idioma francês (controler) e significa o ato de dirigir qualquer serviço, fiscalizando-o e orientando-o do modo mais conveniente (Ferreira, 2002). Já Chiavenato (2003, p.635) define controle como a função administrativa que consiste em medir o desempenho a fim de assegurarque os objetivos organizacionais e os planos estabelecidos sejam realizados. Na visão de Meirelles (apud Cavalheiro e Flores, 2007, p.27): o controle, em tema de Administração, é a faculdade de vigilância, orientação e correção que um Poder, Órgão ou Autoridade exerce sobre a conduta funcional do outro. Numa perspectiva jurídica, Di Pietro (2003, p.599), define o controle da administração pública como: “...o poder de fiscalização e correição que sobre ela exercem os órgãos dos Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, com o objetivo de garantir a conformidade de sua atuação com os princípios que lhe são impostos pelo ordenamento jurídico. ” Cabe destacar, aqui, a definição de controle interno emitido em 1949 pelo Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados – AICPA, ainda hoje é a mais difundida (apud Castro, 2013, p.358): “O controle interno compreende o plano de organização e todos os métodos e medidas, adotados numa empresa para proteger seu ativo, verificar a exatidão e a fidedignidade de seus dados contábeis, incrementar a eficiência operacional e promover a obediência às diretrizes administrativas estabelecidas. ” 2.2.2 Objetivos do Controle Interno As atividades de controle interno, sempre que possível, deverão ser exercidas de forma simultânea aos atos controlados, haja vista que, o Controle Interno deve contribuir para que sejam atingidos os objetivos da organização referentes à: 8 a) Eficiência e efetividade operacional, relacionada aos objetivos básicos da organização; b) Confiabilidade nos registros contábeis e financeiros, devendo todas as operações ser registradas e refletirem transações reais, consignadas pelos valores e enquadramentos corretos; c) Conformidade com leis e normativos aplicáveis à organização e sua área de atuação. Especificamente os objetivos do controle interno consistem em: 1) Salvaguarda dos ativos da organização; 2) Confiabilidade dos registros contábeis e outros; 3) Eficiência e eficácia das operações inerentes à entidade; 4) Aderências políticas e planos da instituição; 5) Cumprimento de leis, normas e regulamentos; 6) Avaliação por meio do atingimento de objetivos e metas; 7) Cultura organizacional. 2.2.3 Princípios que Norteiam o Controle Interno Antes de discorrer sobre os princípios, convém salientar o ensinamento de Agra (2002, p.106), citado por Silva (2005) no Guia de Orientação aos Novos Gestores – TCE/PE: Os princípios possuem força normativa das regras jurídicas, como quaisquer outras normas contidas na Constituição, e as cominações que lhes forem contrárias devem ser declaradas inconstitucionais. Esta ressalva é importante para asseverar que seu papel não é apenas instrumental – possuem autonomia própria, sem necessitar para a sua incidência da aplicação de uma regra. Os princípios básicos de controle interno na visão de Castro (2008, p.65) são os seguintes: fixação de responsabilidade, segregação de funções, ciclo de uma transação, pessoal de controle criteriosamente selecionado, rodízio de pessoal, tarefas previstas em manuais operacionais e utilização de processamento eletrônico. Fixação de responsabilidade: numa estrutura de controles internos, deve haver clara delimitação de responsabilidade, para evitar o comprometimento de sua eficiência; Segregação de funções: consiste no fato de que, numa estrutura de controles internos, a pessoa que realiza uma operação não pode ser a mesma envolvida na função de registro; 9 Ciclo de uma transação: preconiza que uma só pessoa não deve realizar todas as fases de uma transação, quer seja funcionário ou administrador; Pessoal de controle criteriosamente selecionado: para contratação de funcionários, para cargos de controle, torna-se necessário que seu passado seja investigado e as referências, conferidas; Rodízio de pessoal: a entidade deve promover, periodicamente, o rodízio de servidores, visando, inclusive, permitir que cada um possa ser capaz de desenvolver novas tarefas. Isso impede a existência de servidores imprescindíveis, traz motivação ao pessoal e aumenta a segurança do sistema de controles; Tarefas previstas em manuais operacionais: as instruções inerentes ao desempenho funcional da estrutura devem ser escritas em manual de organização, a fim de evitarem a ocorrência de erros e aumentar a eficiência operacional; Utilização de processamento eletrônico: sempre que possível, a entidade deve adotar processo eletrônico para registrar as operações. Este processo aumenta a eficiência operacional dos controles internos, evita erros e dificulta fraudes. 2.2.4 Classificação do Controle Interno Segundo Castro (2013, p.368) os controles atuam em tempos e formas diferentes, mas sempre visando resultados comuns, objetivando assegurar a conformidade da atividade a determinadas regras ou normas. Nesse sentido, os controles podem ser classificados como: a) Controle Prévio: é o que antecede a conclusão ou operatividade do ato. Tem como objetivo final dar segurança a quem pratica o ato ou por ele se responsabiliza. A técnica utilizada nesse caso é a contabilidade; b) Controle Concomitante: é aquele que acompanha a realização do ato, para verificar a regularidade de sua formação. É o controle feito no decorrer das ações praticadas. Tem como objetivo final garantir a execução da ação. A técnica utilizada nesse caso é a fiscalização. c) Controle Subsequente (Posterior): é o que se efetiva após a conclusão do ato praticado, visando corrigir os eventuais defeitos, declarar a sua nulidade ou dar-lhe eficácia. Tem como objetivo final avaliar a eficiência e a eficácia das ações administrativas, certificar a veracidade dos números e comprovar o cumprimento das normas. A técnica utilizada nesse caso é a auditoria. 10 2.2.5 A Atuação do Controle Interno no Poder Legislativo – motivação legal Como percebe-se inicialmente, o artigo 31 da Constituição da República prevê que o controle interno de preferência deve ser situado no âmbito do Poder Executivo. Nesse sentido, a Lei Orgânica do Município de Porto Alegre dispõe em seus artigos 61 e 64: Art. 61. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional do Município, quanto à legalidade, moralidade, publicidade, impessoalidade e economicidade, será exercida pela Câmara Municipal, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder, observado o disposto da legislação federal e estadual, bem como pelos conselhos populares. Art. 64. Os Poderes Legislativo e Executivo manterão, de forma integrada, sistema de controle interno, com as atribuições estabelecidas no artigo 74 da Constituição Federal, adaptadas ao Município. Disciplinando esses mandamentos da Lei Orgânica, o Município de Porto Alegre editou a Lei Complementar n.º 625, de 03 de julho de 2009, a qual institui o Sistema de Controle Interno nos Poderes Executivo e Legislativo Municipais e cria a Controladoria Geral do Município de Porto Alegre (CGM). O TCE/RS, pela Resolução n.º 976, de 12 de março de 2012, artigo 3.º, inciso I, estabelece que a instituição do sistema de controle interno será por meio de lei, incluindo o Poder Legislativo. Para atender a determinação do TCE, o Município, então, edita a Lei Complementar Municipal n.º 700, de 03 de julho de 2012, alterando a LCM n.º 625/2009, para integrar o Poder Legislativo no Sistema de Controle Interno do Município de Porto Alegre e dá outras providências. 3. METODOLOGIA DA PESQUISANesta seção são apresentados os métodos e técnicas utilizadas para o levantamento das informações julgadas importantes para atender o objetivo geral deste trabalho que consiste em analisar a atuação do Controle Interno no âmbito da Câmara Municipal de Porto Alegre quanto aos processos licitatórios, assim como a forma em que os dados foram coletados e tratados e as delimitações do estudo. 11 3.1 Classificação da Pesquisa A presente pesquisa pode ser classificada quanto a sua natureza como sendo aplicada, pois objetiva gerar conhecimento para aplicação prática dirigida à solução de problemas específicos como a identificação dos principais problemas de ordem legal encontrados nos processos administrativos licitatórios assim como os erros mais comuns cometidos durante a elaboração das Notas de Empenho e Liquidação da despesa. Em relação à abordagem do problema, prevalece o caráter qualitativo, visto que a fonte dos dados foi a consulta documental e o registro em planilhas das principais inconsistências que foram sendo identificadas. Os dados não foram verificados com base em técnicas estatísticas. Também se classifica como sendo descritiva, quanto à abordagem dos objetivos, uma vez que apenas se descreve os fatos observados sem que haja a interferência/manipulação por parte do pesquisador. Destaque-se, ainda, que a principal finalidade do trabalho está em fazer um levantamento dos principais “erros” encontrados pelo controle interno, na parte formal e legal dos certames licitatórios e registro da despesa, pelo Legislativo de Porto Alegre, assumindo a forma de estudo de caso. Por fim quanto aos procedimentos técnicos, foram adotados os seguintes: pesquisa bibliográfica e pesquisa documental. A pesquisa bibliográfica ocorreu pela análise de livros, teses, dissertações, artigos de revistas científicas e sites especializados contribuindo desta forma para a construção de um referencial teórico sobre o tema abordado. A pesquisa documental parte das próprias anotações de trabalhado da pesquisadora, as quais ainda não foram submetidas a um tratamento analítico, com vistas a Estudo de Caso, ao envolver o estudo profundo e exaustivo de poucos objetos de modo que seja permitido amplo e detalhado conhecimento. 12 3.2 Delimitações do Estudo O início deste estudo coincide com a instalação no Legislativo, no período compreendido entre 09 de julho de 2012 a 30 de outubro de 2014, da Seccional da Despesa, pertencente à Unidade da Despesa Pública, a qual tem por objetivo: coordenar, orientar e controlar as atividades de execução orçamentária e extra orçamentaria da Administração Direta, das autarquias e da fundação e do Poder Legislativo. Legalmente, amparada na Lei Complementar Municipal n.º 700, de 03 de julho de 2012, que determina a integração do Poder Legislativo ao Sistema de Controle Interno do Município de Porto Alegre, denominado Controladoria Geral do Município. 3.3 Técnicas e Instrumentos de Coleta de Dados Para a coleta de dados utilizou-se a técnica observação direta intensiva, pois como já mencionado, os dados analisados foram retirados dos registros efetuados pela própria autora do trabalho, por meio da observação não participante, pois apesar de estar fisicamente na Câmara Municipal, não é parte integrante do seu quadro. Isto é, presencia o fato, sem participar dele. Não se envolve, é mero espectador. Os dados são obtidos diariamente pela análise dos processos in loco. A seguir lista-se os principais itens analisados, incluindo-se comentários sobre o tipo de análise e registro efetuado para cada item. a) Licitações, Dispensas e Inexigibilidades. Neste item são analisados os processos licitatórios, os processos de dispensas de licitação e os processos de inexigibilidade, para aquisição de materiais e contratações de obras e serviços, onde basicamente verifica-se se estão de acordo com os procedimentos definidos pela Lei Federal n.º 8.666/93 (Lei de Licitações e Contratos Administrativos), pela legislação municipal, assim como se estão de acordo com os princípios constitucionais aplicáveis à Administração Pública. 13 b) Despesa Pública Este item refere-se a todo procedimento realizado após a contratação, para o empenho, liquidação e pagamento da despesa pública. Nele são analisados os procedimentos a partir da execução dos serviços e obras e das aquisições de material até o recebimento destes, bem como dos procedimentos fiscais de empenho da despesa e retenções contratuais (da garantia exigida e dos impostos e de contribuições, conforme legislação específica federal, estadual e municipal), com a verificação da documentação necessária à liquidação e ao pagamento da despesa. A seguir relaciona-se alguns exemplos dos principais problemas/irregularidades identificados, não em todos os processos: a) Licitações, Dispensas e Inexigibilidades. Não apresentação da Declaração de Cumprimento ao Disposto no inciso XXXIII do artigo 7.º da Constituição Federal para contratação, principalmente dispensas e inexigibilidades Não apresentação da Declaração de Idoneidade, idem Declaração de Exclusividade nas inexigibilidades Não anexação da documentação obrigatória para dispensa de licitação Não apresentação da Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas até a Controladoria ser instalada Falta de ratificação da autoridade superior nas inexigibilidades Falta publicação do aviso de inexigibilidade ou fora do prazo Orçamentos sem assinatura e não original Falta de autenticação da documentação fiscal e trabalhista Homologação do aditamento do contrato posterior a contratação Falta de parecer jurídico nas dispensas e inexigibilidades Excesso de compras de material por dispensa por valor, levando ao fracionamento da despesa na aquisição de material de consumo Contratos prorrogados após o vencimento 14 b) Despesa Pública Documentação dos prestadores de serviços incompleta ou vencida para liquidação da despesa Enquadramento da despesa incorreto Realização de despesa sem prévio empenho Rubrica da despesa equivocada Registro de despesa de capital como despesa de consumo Falta de confirmação da autenticidade das notas fiscais eletrônicas (serviço e compras) Nos casos de mão de obra, apresentação da documentação SEFIP/GFIP incompleta 3.4 Técnicas de Tratamento e Análise de Dados A técnica de tratamento dos dados adotado pelo Controle interno consiste em anotar diariamente em uma planilha de Excel os dados coletados, ao todo onze itens a seguir listados: número do processo administrativo, número do empenho, data do empenho, modalidade da contratação, nome da empresa contratada, CNPJ, objeto da contratação, valor em reais, parecer da equipe de controle interno, informar se pagamento: sim ou não, data da análise. A análise dos dados consiste, especialmente, na análise documental, no caso os relatórios da auditoria interna do Município na Câmara Municipal e também das planilhas acima citadas, a qual permite observar quais são os problemas mais recorrentes, confrontando com aqueles relatados pela Auditoria. Desde a implantação da Seccional da Despesa na Câmara Municipal de Porto Alegre, passadas as resistências iniciais, têm-se observado progressos na condução dos processos licitatórios. Os erros decresceram em alguns setores, e os servidores envolvidos com as licitações e afins tem ido à busca de treinamento na área, qualificando-se.15 4 Análise dos Resultados - Licitações, Dispensas e Inexigibilidades e a Lei de Licitações Neste item faz-se análise dos processos licitatórios, dos processos de dispensa de licitação e dos processos de inexigibilidade de licitação, para aquisição de materiais e contratações de obras e de serviços. Cujo principal objetivo, consiste em verificar se os procedimentos adotados estão de acordo com aqueles estabelecidos pela Lei Federal n.º 8.666 de 21 de junho de 1993, também denominada de Lei de Licitações e Contratos Administrativos (LLCA). Assim como, se está sendo respeitada a legislação municipal e observado os princípios constitucionais aplicáveis à Administração Pública. As irregularidades mais recorrentes ocorrem nos processos de dispensa de licitação e nos de inexigibilidades. Nos certames licitatórios até ocorrem incongruências, mas em frequência infinitamente menor e de forma esporádica, motivo pelo qual, por ora, deixa-se de mencionar, neste trabalho, as análises efetuadas pela Controladoria. Nas dispensas de licitação por valor, também conhecida como “compra direta”, formalizadas com fulcro nos incisos I e II do artigo 24 da Lei Federal n.º 8.666/93, a qual faculta à Administração Pública, as contratações de compras e serviços cujos valores estejam estimados até o limite de R$ 8.000.00 (oito mil reais), e de obras e serviços de engenharia que não ultrapassem o valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), verificou-se, que apesar da aparente singeleza dos procedimentos, não foram cumpridos alguns quesitos. Principalmente, com respeito a apresentação de no mínimo 03 (três) orçamentos (pesquisa de preços), documentação de natureza fiscal e trabalhista e enquadramento legal. Ainda para o artigo 24, são elencadas as hipóteses em que a licitação é dispensável, a partir do inciso III e seguintes. Neste caso, o administrador deve valer-se dessas prerrogativas somente quando os fatos se enquadrarem às disposições previstas em lei, ante a apresentação de justificativa. Muito utilizado no caso de prestação de 16 serviços, por exemplo, correios, energia elétrica, de informática, e de contratações em decorrência de licitações desertas ou fracassadas. A licitação inexigível prevista no artigo 25 do mesmo diploma legal, muito utilizada na aquisição de periódicos e de cursos para os servidores. Casos em que há inviabilidade de competição, impossibilidade de concorrência, por se tratar de contratação de serviços ofertados por empresa exclusiva. Para estas duas últimas situações, há um rito próprio a ser seguido, cujo ato deverá ser devidamente autorizado e ratificado pela autoridade superior e publicado na imprensa oficial, sob pena de nulidade, condição para eficácia dos atos, conforme estabelecido no artigo 26 da Lei em comento, principalmente o caput. Estas regras sequer eram observadas pelos servidores do Legislativo, no momento da formalização da inexigibilidade e das contratações embasadas a partir do inciso III do artigo 24. Tão pouco as dispensas como as inexigibilidades, eram submetidas a apreciação da Assessoria Jurídica, como determinado no artigo 38, inciso VI, da Lei de Licitações. Além do mais, em julho de 2012, quando foi instalada a Seccional da Despesa na Câmara, verificou-se que nos procedimentos licitatórios acima nominados, não estava sendo exigido das empresas a comprovação da regularidade trabalhista. Instituída pela Lei n.º 12.440, de 07 de julho de 2011, portanto vigendo há um ano. Fato gravíssimo, uma vez que uma empresa com débitos trabalhistas não poderia ser contratada pela Administração Pública. Um fator importante, nas licitações inexigíveis, pouco observado pela Administração diz respeito à Declaração de Exclusividade, cuja base é o artigo 25 da Lei nº 8.666/93, o qual preceitua que a Declaração poderá ser feita por intermédio de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio, do local em que se realizará a licitação, ou, ainda, pelas entidades equivalentes. Não raras vezes, eram anexadas aos autos, Declarações em desacordo com os quesitos mencionados, portanto ilegal. 17 Ainda com relação às Declarações, para todas as situações em análise, no caso Declaração de Idoneidade e Declaração de Cumprimento ao Disposto no inciso XXXIII do artigo 7.º da Constituição Federal, as vezes estavam com data de emissão superior 01(um) ano, as vezes sem assinatura, etc. Ressaltamos que, consoante entendimento da doutrina majoritária, as Declarações possuem validade de um ano. Outro fator que merece destaque diz respeito à fase de Habilitação, na qual a Administração verifica se os interessados ou a empresa adjudicada, está com a documentação com relação à regularidade fiscal e trabalhista em dia, quais sejam: certidões negativas de débitos tributários: municipais, estaduais e federais, FGTS, Previdência Social e Débitos Trabalhistas, segundo o artigo 27, inciso IV, da Lei de Licitações. Ainda, com relação às documentações supramencionadas, havia resistência quanto à apresentação dos documentos fotocopiados, não originais. De acordo, com caput do artigo 32, in verbis: “os documentos necessários à habilitação poderão ser apresentados em original, por qualquer processo de cópia autenticada por cartório competente ou por servidor da Administração ou publicação em órgão da Imprensa Oficial” Registre-se que há uma predileção para aquisição de materiais de consumo por meio de compra direta, cujo total das compras ao longo do ano, pode ultrapassar o limite de R$ 8.000,00 (oito mil reais) previsto para dispensas, caracterizando fracionamento da despesa, se atingido o limite. Neste caso, burlando o inciso XXI, artigo 37 da Constituição Federal, que assegura igualdade de condições entre todos os concorrentes: “...as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes...”. - Despesa Pública Este item refere-se a todo procedimento realizado após a contratação, isto é, o empenho, a liquidação e o pagamento da despesa pública. São examinados os procedimentos a partir da execução dos serviços e obras e das aquisições de material até 18 o recebimento destes. Assim como, os procedimentos fiscais de empenhamento da despesa e retenções contratuais (da garantia exigida e dos impostos e de contribuições, consoante legislação específica na área federal, estadual e municipal), com verificação da documentação necessária à liquidação e pagamento da despesa, tendo, preliminarmente, por base a Lei Federal n.º 4320/64. É dever do controle interno, ter como sistemática de rotina, examinar todos os processos de realização da despesa, nas fases de empenhamento, liquidação e pagamento. O empenho é uma das fases mais importantes por que passa a despesa pública. O empenho não cria obrigação e, sim, ratifica a garantia do pagamento assegurada na relação contratual existente entre o Estado e seus fornecedores e prestadores de serviços, no ensinamento de Machado Jr e Reis (2002/2003, p. 140). A administração utiliza o empenho como instrumento para controlar a execução orçamentária, logo, é instrumento de programação. Então, é de fundamental importância que seja analisada a correta classificação das despesas orçamentárias, pois a finalidade básica desta consiste em demonstrar as realizações do governo. Além do mais, a despesa normalmente está relacionada a um projeto ou uma atividade, cuja diferença básica está que o primeiro é limitado no tempo e o segundoé contínuo e permanente. No entanto, tem-se constatado, no Legislativo, divergência quanto à classificação da natureza e/ou rubrica da despesa orçamentária, assim como no enquadramento da despesa, quando do preenchimento do documento de empenho da despesa. Comumente, é utilizado o número do processo de liquidação como se fosse o de contratação. Sendo que muitas vezes no contrato, consta uma rubrica, e, no momento do empenhamento é alterada, sem a devida justificativa e alteração no contrato. Cabe ressaltar que, deve ser observada a classificação orçamentária da despesa, com o correto enquadramento nos programas de trabalhos constantes do Plano de 19 Contas da Despesa, também denominado de Ementário, o qual encontra-se disponível para download em: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smpeo/default.php?p_secao=47. Outro fator recorrente, é a emissão de empenhos posteriores às despesas realizadas, contrariando ao disposto no artigo 60 da Lei Federal n.º 4320/64. Principalmente, para pagamento de despesas com energia e telefonia. Desde a implantação do Sistema MOX, do Almoxarifado, em 2013, as aquisições de bens, materiais e equipamentos, são registrados no Sistema de Despesa Orçamentária (SDO) como “Tipo Serviço” e não como “Tipo Material”. Esse “equivoco”, acarreta erro no preenchimento da nota de empenho, bem como nos relatórios gerados por tipo de empenho. A liquidação é o segundo estágio da despesa, consiste na verificação do direito adquirido pelo credor tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito. Essa verificação tem por finalidade apurar o quê, quanto e a quem pagar. A liquidação das despesas com fornecimento ou com prestação de serviços prestados terá por base: o contrato, ajuste ou acordo respectivo, a nota de empenho e os respectivos comprovantes de entrega de material ou da prestação do serviço. Nesta fase, as principais irregularidades constatadas referem-se, tanto na liquidação das compras como de prestação de serviços, a comprovação da regularidade fiscal e trabalhista da contratada. Em que pese, o artigo 55, inciso III, da Lei n.º 8.666/93, determinar que é obrigação da empresa manter a documentação de habilitação atualizada, durante todo o período de que mantiver contrato com a Administração, tem-se verificado, que essa máxima não é levada a sério pelos fornecedores, que apostam na não cobrança da Administração após efetivada a contratação. Então, tem-se cobrado sistematicamente a apresentação dos documentos de regularidade perante o fisco, onde verifica-se a data de validade das certidões, isto é, com o INSS, FGTS e Débitos Trabalhistas, bem como a inexistência de débitos fiscais junto aos órgãos federais, estaduais e municipais. 20 Nesse sentido, o § 3.º do artigo 195 da Constituição Federal dispõe: “a pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios” Desta forma, a Administração Pública, por extensão, não pode celebrar contrato com quem esteja em situação irregular perante o fisco, a seguridade social, o FGTS e a Justiça do Trabalho (CNDT). O FGTS, com respaldo no artigo 2.º da Lei n.º 9.012/95 e os Débitos Trabalhistas, na Lei n.º 12.440/11. No caso da documentação necessária à liquidação e pagamento de serviços contínuos com alocação de mão de obra, tem-se observado, que não havia a prática no Legislativo de requerer também, junto com a nota fiscal, ainda que previsto no Contrato: relação atualizada, folha de frequência, folha de pagamento, pagamento dos vales transportes e vale alimentação dos empregados vinculados à execução do contrato. Assim como, cópia do protocolo de envio de arquivo emitido pela Conectividade Social (GFIP/SEFIP), cópia da relação dos trabalhadores constantes do arquivo Sefip no mês da última fatura vencida, comprovante de declaração à previdência social, cópia das guias quitadas do INSS e do FGTS correspondente ao mês anterior ao pedido de pagamento. Em se tratando de obras públicas e serviços de engenharia, na liquidação da despesa, verificou-se que não era habitual requerer a matrícula CEI (Cadastro específico do INSS), na primeira medição, bem como a Folha de Medição (com dados do contrato) assinada pelo engenheiro responsável pela obra e o fiscal da contratante. Assim como, não era solicitado a Guia de Recolhimento do FGTS e Informação à Previdência Social – GFIP, correspondente à mão de obra envolvida na execução do contrato e da Guia da Previdência Social – GPS, correspondente à GFIP dos empregados vinculados a matrícula da obra – matrícula CEI fiscal, ambas referente ao mês anterior, conforme IN RFB N.º 971 de 13/11/2009. E, na última medição, não é exigido da contratada uma Certidão Negativa de Débito (CND) da Previdência referente ao encerramento da obra e ou serviço. 21 Hoje, pode-se registrar que houveram avanços no Legislativo, após a atuação do Controle Interno, onde muitas das irregularidades apontadas já foram sanadas, mas ainda há muito por fazer. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A implantação do controle interno é de suma importância no âmbito da administração municipal, pois fornece aos seus usuários conhecimento da gestão em seus vários aspectos, possibilitando avaliação permanente dos atos por ela realizados e maximizando os resultados almejados. O controle interno não é um meio de fiscalização da administração e do administrador público e, sim, um instrumento a ser utilizado para o melhoramento dos resultados, ajudando a prevenir os erros da gestão pública. Vale, ainda, ressaltar que a importância do controle interno não deve limitar-se somente ao respeito à lei, mas também no controle das ações governamentais em seus aspectos contábil, político e administrativo, propiciando a melhoria da gestão pública. Um dos papéis do controle interno consiste em detectar as falhas na execução das rotinas de trabalho e evitar os gargalos, fazendo com que haja uma economia de tempo e de dinheiro na execução dos processos administrativos. Cabe ressaltar que os apontamentos/incongruências apontadas não decorrem de fraudes, resultam, muito mais, de procedimentos administrativos realizados erroneamente, ou falta de conhecimento por parte de alguns servidores na elaboração de alguns procedimentos licitatórios. Boa parte das irregularidades constatadas não tem relação com a intenção de desviar recursos ou descumprir a lei, mas está relacionada, com a falta de informação e orientação técnica. É importante o desenvolvimento de atividades de educação presencial, produção de materiais didáticos, para passar informações aos funcionários despreparados. 22 É importante frisar que o controle interno atua no dia-a-dia, no monitoramento contínuo e na autoavaliação do controle interno propriamente dito. Sendo que, neste primeiro momento, a meta do controle interno consiste numa análise de conformidade, ou seja, de cumprimento das obrigações legais. Por fim, registre-se que o controle interno atua, no Legislativo, entre outras questões, analisando se a modalidade licitatória utilizada foi adequada, sob aspectos qualitativo e quantitativo. Assim como, se ocorreu fracionamento da despesa, se as regras relativas à publicidade e prazos foram observadas, se no caso de contratação direta, as hipóteses de dispensa ou de inexigibilidade foram respeitadas, e acompanhadas da devida justificativa e os demais requisitos previstosna lei, se o contrato está sendo adequadamente cumprido e se o edital foi submetido à análise jurídica. Nesse sentido, o Legislativo tem buscado aprimorar a eficiência das compras, contratação de obras e serviços pela perfeita caracterização do objeto licitado. Para tanto, implantou um modelo de Projeto Básico por meio da Ordem de Serviço N.º 21, de 14 de novembro de 2013, consoante ao estabelecido no artigo 7º, inciso I, da Lei n.º 8.666/93. Em 2014, ocorreu a publicação do Decreto Municipal n.º 18.753, de 20 de agosto de 2014, incluindo a Câmara Municipal de Porto Alegre no Sistema de Registro de Preços da Prefeitura de Porto Alegre, com objetivo primordial de contribuir com a redução do uso da dispensa por valor para aquisição de materiais de consumo, portanto, evitando o fracionamento da despesa. Ainda, em 2014, os servidores participaram de muitos cursos de capacitação na área de licitações e contratos, contribuindo para o aprimoramento destes, além de proporcionar maior “entrosamento” e conhecimento da Lei de Licitações. Desta forma, melhorando em muito a rotina e os procedimentos licitatórios. Nesse 2014, a fiscalização dos contratos, exigência do artigo 67 da Lei n.º 8.666/93, passou a vigorar de forma formal, com publicação de Portaria, com o nome dos servidores indicados. 23 Também, em 2014, avançou as tratativas para criação da Central de Licitações do Legislativo, englobando os Setores de Compra, de Contratos e de Licitações, visando o aprimoramento das aquisições de bens, materiais, serviços, obras e serviços de engenharia. A Central de Licitações é importante por uniformizar os procedimentos licitatórios, com vistas a regularidade, segurança, transparência, controle, eficiência e eficácia nas aquisições e contratações públicas. Diante da significância dessas constatações, conclui-se que boa parte das irregularidades ou incongruências constatadas pela Controladoria no Legislativo, reitera-se que não tem relação com a intenção de desviar recursos ou mesmo descumprir a lei, todavia está relacionada, sobretudo, com a falta de informação, orientação técnica e despreparo do servidor. Cabe salientar que o servidor do Legislativo deve se conscientizar que a atuação do controle interno não é passageira, é perene. É uma determinação constitucional, regulamentada em lei – Lei de Responsabilidade Fiscal e apoiada pelo TCE/RS, por meio da Resolução n.º 976 de 12/03/2012. Corroborando com a premissa acima, cabe destacar mais uma vez o ensinamento de Cruz e Glock (2006, p.47): - “...não restam dúvidas de que a fiscalização do Município, incluindo a Câmara de Vereadores, é uma atividade, em termos de controle interno, de competência do Poder Executivo. Fica claro que não há que se falar em Sistema de Controle Interno do Poder Legislativo Municipal, atuando de forma isolada, já que a Câmara de Vereadores, como unidade orçamentária, integra o Sistema de Controle Interno do Município, cujo órgão central está vinculado ao Chefe do Poder Executivo, o qual responde por toda gestão orçamentária, financeira e patrimonial. ” Por fim, espera-se ter contribuído para a verificação e conhecimento do cotidiano dentro dos procedimentos licitatórios demonstrando suas falhas, irregularidades e inconformidades. Assim como, espera-se ter contribuído de algum modo para redução das ilicitudes que acontecem nas licitações, aumentando a eficiência, eficácia e efetividade da gestão pública. 24 Ainda, a título de sugestão, a Controladoria Geral do Município deveria criar um Manual de Normas e Procedimentos de Controle Interno, tomando como exemplo o já criado pela Controladoria Municipal do Rio de Janeiro, objetivando a padronização e racionalização das rotinas executada pela Administração Pública Municipal, contribuindo e facilitando a fiscalização do Controle Interno. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ARAUJO, F. C,; LOUREIRO, M. R. Por uma Metodologia Pluridimensional de Avaliação da LRF. Revista de Administração Pública – RAP. Rio de Janeiro: FGV, Nov./dez 2005. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso: 20/05/2014 BRASIL. Lei n.º 4320/64 – Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro. 1964. Disponível em: http://www.planalto.gov.br. 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