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COMPETENCIAS E HABILIDADES AULA 03

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COMPETENCIAS E HABILIDADES
 AULA 03
Era um momento de contestação, de renovação crítica do Serviço Social, e nesse contexto foi elaborado o Código de Ética de 1986, que representava um novo projeto ético-político comprometido com as demandas da classe trabalhadora.
Esse compromisso exigiu um novo posicionamento e novas competências dos assistentes sociais, não só no plano teórico, mas também no técnico e político. Isso significa não somente conhecer a realidade, possuir conhecimentos a respeito dela, mas é preciso saber intervir, no momento certo, e ter as ferramentas corretas.
Não foi por acaso que, em 1982, ocorreu o lançamento do livro Relações Sociais e Serviço Social no Brasil, de autoria de Marilda Villela Iamamoto e Raul de Carvalho, obra que serviu para reorientar a direção teórica e política do Serviço Social, de leitura obrigatória para os profissionais de Serviço Social.
Vamos encontrar, a partir da década de 90, um profissional mais afinado com os interesses da classe trabalhadora, que é a principal usuária dos serviços sociais e das políticas sociais.
Um profissional mais preparado para enfrentar os inúmeros desafios provocados pelas profundas mudanças no mundo do trabalho e seus impactos na vida das pessoas, em um momento em que o Estado, no que tange às suas responsabilidades sociais, inspirado pelo neoliberalismo, passa a sair de cena deixando pouco a pouco a prestação dos serviços sociais nas mãos da sociedade civil, fazendo surgir no cenário nacional a figura das organizações não governamentais, ou Terceiro Setor.
Você se lembra do liberalismo, que defendia a não intervenção do Estado na economia, na sociedade - e que estudamos na primeira aula?
Pois é, ele ressurge em final dos anos 80 e início dos anos 90, depois de mais ou menos 40 anos, com o nome de neoliberalismo. Embora o prefixo neo signifique novo, as suas ideias continuam as mesmas. Pretende que o setor privado retome as rédeas da economia, ou seja, que o Estado e a sociedade se subordinem às regras do Mercado. No contexto neoliberal, o Mercado volta a constituir-se o princípio regulador da vida social e isso significou, nos anos 90, privatizações, desemprego, flexibilização de direitos trabalhistas (disseminação do trabalho terceirizado, Reforma da Previdência), entre tantos outros problemas sociais.
Voltando ao profissional dos anos 90, para enfrentar os desafios que mencionamos, ele passa a contar com um conjunto de legislações sociais, que deveriam assegurar a efetividade dos Direitos Sociais universalizados na Constituição de 88, mas que, paradoxalmente, tem seu potencial limitado porque é nesse momento que o Estado reduz a sua função social.
Quais são elas?
Sistema Único de Saúde – SUS
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA
Lei Orgânica de Assistência - LOAS (implementada, em 2003, através do Sistema Único de Assistência Social – SUAS
Mais recentemente, conta com o Estatuto do Idoso e a Lei Maria da Penha, dentre outras. E é bom destacar que, embora possuam limites e não consigam reverter o quadro de desigualdades sociais do país, são trabalhadas na ótica do direito e não do favor.
Na década de 90, foi aprovado o novo Código de Ética Profissional:
“[...] instituído em 1993, a partir de um amplo debate no Serviço Social. O documento expressa o amadurecimento teórico-político conquistado pela categoria e reafirma o compromisso com a democracia, a liberdade e a justiça social. É um instrumento de trabalho fundamental no cotidiano do assistente social.”
(CRESS-RJ, 2011).
Na verdade, o Código de 1993 representou uma espécie de aperfeiçoamento em relação ao de 1986, a partir do momento que amplia e avança as conquistas em relação às deste.
Ele reafirma o compromisso do Serviço Social com os interesses das classes trabalhadoras e deixa claro o seu rompimento com uma trajetória histórica de atuação conservadora, baseada na tradição (nos costumes, nos valores comunitários, na solidariedade e na família como núcleo básico da sociedade), e na filosofia social humanista, que apesar de reconhecer as condições de exploração a que os trabalhadores estavam submetidos, não indicava os meios para enfrentar essa situação.
E nesse mesmo ano, em 1993, 
foi promulgada a Lei 8662/93, a Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social.
Mas, isso foi um processo. Como nos ensina IAMAMOTO (2001) 
o projeto ético-político vem sendo construído pelos assistentes sociais desde a década de 80.
Um projeto profissional [...] comprometido com a defesa dos direitos sociais, da cidadania, da esfera pública no horizonte da ampliação progressiva da democratização da política e da economia na sociedade. Projeto político profissional que se materializou no Código de Ética do Assistente Social, na Lei de Regulamentação da Profissão de Serviço Social (Lei 8662/93), ambas em 1993, assim como na nova proposta de Diretrizes para o Curso de Serviço Social da Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social - ABESS [hoje ABEPSS] - de 1996, que redimensiona a formação profissional para fazer frente a esse novo cenário histórico.
Destacamos, na íntegra, as competências extraídas do Artigo 4º dessa lei:
Art. 4º da Lei 8662/93: Constituem competências do Assistente Social:
I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto 
a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares;
II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;
III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população;
IV - (Vetado);
V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos;
VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;
VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais;
VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo;
IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;
X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social;
XI - realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins de 
benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades.
Preste atenção como “saltam” das competências o compromisso não só com a defesa dos direitos, mas com os movimentos sociais, e que também que a formação habilita para atuar em órgãos de natureza pública e privada.
A partir dessa legislação, se fortalece uma nova cultura entre os profissionais, o que significa dizer que a competência profissional não pode ficar vinculada às demandas institucionais, mas é preciso identificar novos espaços de atuação e novas possibilidades de intervenção para atender às novas demandas da classe trabalhadora.
Souza (2008), em seu texto A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e 
intervenção profissional cita que IAMAMOTO, ao analisar os desafios que são colocados ao Serviço Social nos 
tempos atuais, conclui que são 3 os aspectos, ou habilidades, que devem ser de domínio dos profissionais:
Competência ético-política Esta significa que, apesar da prática profissional ocorrer dentro das instituições e em meio ao “fogo cruzado” de tantos interesses, o profissional deve ter clareza quanto ao seu posicionamento político ao se deparar com a realidade com a qual trabalha.
O que “[...] implica em assumir valores éticos-morais 
que sustentam a sua prática [...] expressos no Código de Ética Profissional dos AssistentesSociais, e que assumem claramente uma postura profissional de articular sua intervenção aos interesses dos setores majoritários da sociedade.” (SOUZA, 2008, P. 121)
Competência teórico-metodológica Esta diz respeito à capacidade de interpretar a realidade com a qual trabalhamos, e isso implica em entender o funcionamento e a lógica das instituições, como vimos na aula passada, e não apenas aceitar e obedecer às exigências burocráticas e administrativas que elas impõem. Isso seria reduzir o entendimento de competência ao discurso institucional e à observação de regras pré-estabelecidas.
Competência técnico-operativa Esta se refere ao “como fazer” e parece ser o “grande nó” da profissão, pela reduzida produção bibliográfica quando comparada às outras competências (ético-política e teórico-metodológica).
São priorizados os debates que privilegiam o conhecimento da realidade social, a garantia dos direitos, o posicionamento profissional articulado às classes subalternas, dentre outros. Nós sabemos que nossa atuação passa pela garantia dos direitos.
Mas, quais os instrumentos que temos à disposição para fazer isso?
 E mais: Como devemos documentar a nossa atuação?
Não será tarefa fácil, mas, vamos nos aventurar no decorrer do curso, principalmente nas aulas destinadas aos instrumentos.
Resumindo, um assistente social competente e qualificado deve ser capaz de reconhecer a realidade onde atua, 
decifrar a lógica do discurso institucional, ultrapassando o conhecimento prático das rotinas e da burocracia e, sempre atento ao projeto ético-político da profissão, identificar as possibilidades de ação profissional e documentá-las corretamente. Assim, estará contribuindo para o aperfeiçoamento do projeto político da profissão.

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