CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html ISSN 1678-6343 Instituto de Geografia ufu Programa de Pós-graduação em Geografia Caminhos de Geografia Uberlândia v. 7, n. 20 Fev/2007 p. 1 - 21 Página 1 EVOLUÇÃO MORFOESTRUTURAL DO RELEVO DA MARGEM CONTINENTAL DO ESTADO DO CEARÁ, NORDESTE DO BRASIL1 Vanda de Claudino-Sales Depto Geografia, Universidade Federal do Ceará vcs@ufc.br Jean-Pierre Peulvast UFR de Géographie, Université Paris-Sorbonne jean.pierre.peulvast@wanadoo.fr RESUMO A formação da margem continental do Ceará iniciou no final do Jurássico. Entre o Jurássico e o Barremiano, ocorreram esforços distensivos que preparavam a ruptura entre a América do Sul e a África, criando a série de rifts do sistema Cariri/Potiguar. Ao final do Neocomiano as deformações associadas à abertura oceânica saltaram do segmento leste do Atlântico Sul em direção ao Altântico Equatorial, e os rifts abortaram. Mas a deformação se prolongou ao curso do Aptiano e Albiano a norte e nordeste, tendo sido responsáveis pela gênese da margem continental transformante do Nordeste. Entre o Aptiano e Campaniano, a região foi marcada por epsódios de subsidênica térmica que afetaram os rifts abortados. A partir do Eocampaniano, a evolução da margem foi marcada por soerguimentos do embasamento e das bacias sedimentares. O relevo dessa região representa um vasto anfiteatro aberto em direção ao mar, comportando um conjunto complexo de formas estruturais trabalhadas. Tal disposição morfoestrutrural foi diretamente herdada do Cretáceo. Tal contexto demonstra que a diferenciação dos grandes volumes de relevo da margem continental do Ceará e do Nordeste, bem como a modelagem das baixas superficies, são bem mais antigas do que o que vem sendo normalmente admitido pela Geomorfologia clássica. Palavras chave: margens continentais, Geomorfologia Estrutural, Megageomorfologia do Ceará, relevo do Nordeste brasileiro EVOLUTION MORFOESTRUTURAL OF THE RELIEF OF THE CONTINENTAL EDGE OF THE CEARÁ STATE, NORTHEAST OF BRAZIL ABSTRACT The formation of the continental margin of Ceará State initiated in the end of the Jurassic. Between the Jurassic and the Barremian, extensional forces prepared the rupture between South America and Africa, creating the rifts of the Cariri/Potiguar system. In the end of the Neocomian, deformations associated with the oceanic opening moved from the segment east of the South Atlantic toward the Equatorial Atlantic, and the rifts had aborted. But the deformation continued in the course of the Aptian and Albian, being responsible for the genesis of the northeast transforming continental margin. Between the Aptian and the Campanian, the region was marked by thermal subsidence. From the Campanian until the end of the Cretaceous, the evolution of the continal marge was marked by uplifting of the basement and of the sedimentary basins. The relief of this area represents a vast amphitheater opened toward the sea, holding a complex set of structural forms. Such morphostructural disposition was directly inherited from the Cretaceous. Such context demonstrates that the differentiation of the larger volumes of relief in the area, as well as the modeling of pediplains, are older then it is normally thought for classic Geomorphology. 1 Recebido em 25/10/2006 Aprovado para publicação em 11/01/2007 Evolu contin Camin As m contin coste (HEE É nes pesqu interp Estad mais morfo Figura sobre No B à lito indiv e os de a (e.g. desa A pr conti Atlân de fi ução morfoestr nental do esta nhos de Geog Key wo Ceará St margens con nentais. Ela eiras e area EZEN e MEN sse sentido a uisa bibliog pretação de i do do Ceará de 1200 k otectônica e a 1 - Localiz evoadas. Ama Brasil, o conju osfera oceâ idualização r registros est glutinação e Almeida et aparecerem o rimeira aglut nentais indiv ntida (BRITO issão dividir rutural do rele do do Ceará, grafia rds: continen tate, Brazilian ntinentais re s represent as continenta ARD, 1966). amplo que ut ráfica, anál magens de s e áreas adja km (cf. Figu morfoestrutu zação da áre arelo - áreas v unto da marg ânica se faz remonta ao C truturais da p e dispersão c t al, 2000), ou se recons inação conti viduais cujo O NEVES, 19 am o super evo da margem nordeste do B Uberlândia ntal margins, north-east rel epresentam tam as part ais adjacent . tilizamos o te lise de ma satélite e rad acentes da P ura. 1), na ural do relevo ea de pesqui visitadas dive gem continen zendo no s Cretáceo (Al plataforma s continentais ao curso do stituiram dura inental foi m resultado fo 999). Por vol rcontinente A m Brasil v. 7, n. 2 Structural G lief áreas de tr tes emersas tes, que se ermo no pres apas temáti dar e trabalh Paraíba e R perspecttiva o da margem sa com indic ersas vezes. V ntal é do tipo seio da pla meida, 1967 ul-americana que tiveram os quais as ante eventos marcada por i a formação ta de 1,8-1,6 Atlântida em 2 Fev/20 eomorphology ransição ent s das borda e acham co sente trabalh icos em e os de campo io Grande do de reconst m continental cação dos sí Verde, áreas v o passiva, a aca sul-ame 7; Almeida et a apresentam lugar entre margens d s de abertura um process o, entre 2,2 G 6 Ga (BRITO m vários frag V 007 p. 7 - 2 y, Megageom tre crostas as continen onectadas ao ho, o qual re scalas e id o na zona co o Norte, perf tituir a histó do Estado d ítios visitados visitadas pelo passagem d ericana, enti t al., 2000). m as marcas o Pré-camb e antigos c a e/ou fecham so de colisã Ga e 1,8 Ga O NEVES et gmentos ind anda de Claud Jean-Pierr 21 morphology of oceânicas tais, incluind os fundos o sulta da real dades difer osteira e no i fazendo dist órica da org do Ceará. s. Em verme o menos uma a litosfera co dade tectôn A estrutura g s dos quatro briano e o Pa rátons se c mento oceân ão de várias , do super-c al., 1995), p dividuais. O dino-Sales re Peulvast Página 2 f e crostas do zonas oceânicos lização de renciadas, interior do tâncias de ganização elho, áreas vez. ontinental nica cuja geológica epsódios aleozóico hocarem, nico. s massas ontinente processos segundo Evolução morfoestrutural do relevo da margem continental do estado do Ceará, nordeste do Brasil Vanda de Claudino-Sales Jean-Pierre Peulvast Caminhos de Geografia Uberlândia v. 7, n. 2 Fev/2007 p. 7 - 21 Página 3 processo de aglutinação continental parece ter se produzido no período compreendido entre ca 1,45 e 0,97 Ga (Paleo e Meso-Proterozóico: BRITO NEVES, 1999; ALMEIDA et al., 2000). Essa aglutinação ocorreu ao longo de suturas desenvolvidas sobre uma extensão total da ordem de 20.000 km, representadas em todos os continentes atuais, e seu resultado foi a formação do super-continente Rodínia (MURPHY e NANCE, 1995). Entre ca 1,0 Ga e 750 Ma, um novo ciclo de Wilson dispersou essa massa continental (e.g. BRITO NEVES, 1999). Um terceiro epsódio de aglutinação continental ocorreu no Neoproterozóico, entre 880 e 550 Ma, dando origem ao supercontinente Panotia, formado pela Laurásia e Gondwana (e.g. Murphy e NANCE, 1995; BRITO NEVES, 1999). Na América do Sul, esse processo de colagem recebeu o nome de “Orogênese Brasiliana”