
Síndrome Nefrótica PD
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A síndrome nefrótica (SN) caracteriza-se essencialmente pela presença de proteinúria maciça de caráter nefrótico e hipoalbuminemia (\u2264 2,5 g/dL), enquanto o quadro completo inclui edema, hiperlipidemia e lipidúria. A proteinúria nefrótica classicamente se caracteriza por valores \u2265 50 mg/kg/dia ou \u2265 40 mg/ m2/hora. Pela dificuldade de coleta de urina na faixa pediátrica, a tendência atual é a de utilizar a relação proteína/creatinina em amostra isolada, sendo definida como proteinúria nefrótica quando essa relação é > 2 em mg/mg. Na infância, 80 a 90% dos casos correspondem a SN primária ou idiopática (SNI), e o restante, a causas secundárias, como associação com doenças sistêmicas, metabólicas, infecciosas, doenças autoimunes, drogas. A maioria dos casos ocorre entre 2 e 7 anos de idade, sendo 2 vezes mais frequente no sexo masculino nos primeiros anos de vida. As principais variantes histopatológicas de SNI na criança são a lesão histológica mínima (LHM) e a glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF), observando-se o aumento desta variante nos últimos anos. A maioria dos pacientes com SNI (80 a 90%) responde à corticoterapia inicial, obtendo-se remissão completa. Nesses pacientes, portadores de síndrome nefrótica corticossensível (SNCS), o prognóstico é bastante favorável quando comparado com aqueles que não respondem, ou seja, corticorresistentes (SNCR). Entretanto, a maioria das crianças com SNCS apresenta uma ou mais recidivas durante o curso do tratamento, podendo tornar-se corticorresistentes. Etiofisiopatogenia A grande maioria dos casos de SN apresenta mecanismos etiofisiopatogênicos relacionados com fatores genéticos, disfunção dos podócitos, disfunção imunológica ou a presença de fatores circulantes. A filtração glomerular proporciona, seletivamente, a eliminação de água e escórias e a retenção de proteínas, células sanguíneas e outros elementos da circulação. A excreção de grandes quantidades de proteína através da barreira de ultrafiltração glomerular (BUFG) seria decorrente de agravos diversos sobre seus componentes, determinando aumento da permeabilidade às proteínas plasmáticas, (de modo que se elas passam por essa barreira com facilidade, haverá, além de uma proteinúria, uma hipoalbuminemia, isto é, uma diminuição de albumina no sangue, visto que ela é a principal proteína plasmática que nós temos). Mutações nos genes que codificam as proteínas ou os canais iônicos e vias enzimáticas do podócito, da fenda diafragmática e da MBG resultam em desorganização dessas estruturas e consequente proteinúria. Além da passagem anormal de proteínas em razão do aumento da permeabilidade da MBG, outro fator importante que contribui para determinar a proteinúria é a redução da reabsorção proteica pelas células epiteliais do túbulo proximal e uma disfunção da endocitose e da ligação das proteínas com receptores da membrana apical tubular. As evidências sugerem que os pacientes com SNI, particularmente por LHM, apresentem uma disfunção imunológica com a presença de fatores circulantes durante a recidiva da doença com alteração da permeabilidade da BUFG. Classicamente, observa-se participação de citoquinas na patogênese da LHM e do provável papel das células T helper (TH tipo 2) com associação de atopia e alergia, aumento de IgE. SÍNDROME NEFRÓTICA Quadro clínico A principal manifestação clínica da SN, embora sua presença não seja essencial para o diagnóstico, é o edema, que, em LHM, geralmente é intenso, mole, frio, depressível, sujeito à ação da gravidade, em geral insidioso, podendo evoluir para anasarca e apresentando diversos mecanismos em sua patogênese. A criança não tratada ou que não responde bem à terapia apresenta-se adinâmica, evoluindo com ascite e hepatomegalia. Pode decorrer taquipneia pela compressão torácica. Há derrame pleural e aumento de volume dos genitais, principalmente no sexo masculino. Os cabelos são escassos, finos e quebradiços por causa da desnutrição. A pele é seca e friável com tendência de formação de estrias. A pressão arterial na LHM geralmente é normal, mas, em alguns casos, ocorre hipertensão transitória. No caso de outras glomerulopatias, como a GESF, a hipertensão arterial pode estar presente, sendo necessário o uso de anti-hipertensivos. A presença de distúrbios eletrolíticos (hipocalcemia, hipopotassemia, hiponatremia) pode se manifestar por alterações clínicas como cãibras, parestesias, síndrome convulsiva. A dor abdominal também se manifesta nas grandes descompensações e em situações de hipovolemia ou associadas à peritonite primária ou celulites de parede abdominal. É possível observar sinais de descalcificação óssea relacionada às alterações do metabolismo de vitamina D, cálcio e fósforo, particularmente naqueles casos de longa duração e/ou resistência à terapia imunossupressora. Os pacientes nefróticos apresentam risco elevado de deficiência de vitamina D. A atopia é frequente, com prevalência de processos alérgicos das vias aéreas ou de pele. Essas crianças são propensas à aquisição de processos infecciosos, geralmente infecções de vias aéreas superiores (rinofaringites, sinusites e broncopneumonias), infecções de pele (celulite), peritonites, gastroenterites, infecção do trato urinário e sepse. Os agentes virais frequentemente estão associados às descompensações, podendo favorecer infecções bacterianas secundárias. Os principais agentes bacterianos são o Streptococcus pneumoniae e as bactérias Gram- negativas (Escherichia coli, Klebsiella sp, Proteus sp e Haemophilus influenzae). Os Staphylococcus aureus e coagulase negativos, assim como os fungos, também devem ser lembrados, em virtude da imunossupressão. Exames laboratoriais Sedimento urinário Além de proteinúria, pode haver hematúria, geralmente microscópica. Observa-se cilindrúria relacionada às perdas proteicas e lipidúria. Eletroforese de proteínas plasmáticas São observados hipoalbuminemia e aumento da fração alfa-2. A IgG apresenta-se muito baixa, e a IgA e a IgM, elevadas. A IgE também pode estar aumentada e observa-se hipogamaglobulinemia na SNI. A presença de hipergamaglobulinemia pode ser indicativa de patologia secundária subjacente. Colesterol Os níveis séricos do colesterol total, triglicérides e lipoproteínas acham-se elevados. A hiperlipidemia é consequência do aumento da síntese hepática de colesterol, triglicérides e lipoproteínas; da redução no catabolismo das lipoproteínas decorrente do aumento da atividade das lipases lipoproteicas; da perda urinária de HDL; e da redução da atividade do receptor de LDL. Complemento Apresenta-se normal na LHM e na GESF. Ureia e creatinina Podem estar elevadas na instalação do edema ou em situações de hipovolemia. Indicações de biópsia renal (BR) As crianças que não obtiverem remissão clínica e laboratorial após 8 semanas de corticoterapia seguidas ou não de 3 doses de pulsoterapia com metilprednisolona, desde que não estejam infectadas, devem ser biopsiadas, pois provavelmente apresentam outros padrões histológicos. ELA DISSE QUE PRECISA SABER ESSES VALORES Tratamento Tratamento inespecífico Durante as fases de edema ou quando houver hipertensão, deve ser recomendada uma dieta hipossódica ou assódica. Na ausência de hipervolemia, a ingestão hídrica é livre. O repouso não deve ser imposto e não há evidência de que traga benefícios para o paciente.
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